A FORÇA DO MAL – O TESTEMUNHO DOS LIVROS SAGRADOS

A FORÇA DO MAL – O TESTEMUNHO DOS LIVROS SAGRADOS

Contra os cínicos e teólogos avançados na confusão convém afirmar que em toda a Revelação e, em especial no Evangelho, ressalta claramente a existência de Satanás e das suas forças. Na Bíblia podem-se contar facilmente mais de cinquenta referências diretas e explícitas a esse ser. Verifica-se, por essa via, que ele é um espírito poderoso e que pode agir em toda a parte, porque não está condicionado pelo tempo ou pelo espaço. Verifica-se, além disso, que se encontra à cabeça de todas as forças do mal, que lhe estão submetidas, e que são muitas e cheias de recursos.

 

As forças do mal são, na realidade, puros espíritos, que têm Satanás à sua cabeça, orientando-as e comandando-as. Os Apóstolos referiram-se várias vezes às principais entidades como «principados, potestades e dominações», e avisaram repetidamente para o mal que elas podem fazer aos homens. São Paulo, na sua Carta aos Romanos, referindo-se à existência desses seres como inimigos, dá-nos grandes motivos de esperança: «estou certo que nem a morte, nem a vida, nem os Anjos, nem os Principados, nem o presente nem o futuro, nem as Potestades (…), nem qualquer outra criatura, poderá separar-nos do amor de Deus...». Ou seja, por muito que tentem, se permanecermos firmes, não teremos nada a temer, porque estamos na Mão direita de Deus, contra a qual qualquer grande poder não tem força suficiente para nos tocar num cabelo.

 

Efectivamente, dominações, tronos, principados e potestades, não são apenas um tipo de seres pessoais – ou seja, exemplares de um género de seres inteligentes e dotados de vontade própria, como nos explicou o grande teólogo Padre Erik Peterson. Mais que isso, eles são seres de potência. Não são algo ou alguém com ou possuindo principado, dominação e potestade. Em si mesmos estes seres são potências, dominações e potestades com uma vontade inteligente, livre e pessoal, em si próprios. Só que essa determinação está colocada no tabuleiro de xadrez do lado de Lúcifer.

 

Um estudioso da mais alta craveira como Heinrich Schlier afirma que, segundo a doutrina expressa no Novo Testamento, as Potestades malignas atuam sobre o homem em todas as circunstâncias e é comum apoderarem-se da natureza para, graças a ela, impor ao homem a sua vontade. É São Paulo quem nos diz isto mesmo, ao escrever na sua Primeira Carta aos Tessalonicenses: «Já por duas vezes quisemos ir ter convosco, ao menos eu, Paulo, mas Satanás impediu-nos disso». Vendo muito mais longe que os nosso contemporâneos, São Paulo sabia, pela sabedoria do Alto, que a reunião de circunstâncias adversas é um modo demoníaco de determinar o nosso comportamento. Nas circunstâncias, e através delas, agem também os demónios. É preciso estar atento a essas ciladas que são montadas mesmo pelas circunstâncias sociais, levando o visado a “ter de fazer” determinadas coisas ou a proceder de “determinado” modo. Mas ofendendo gravemente a Deus.

Os seres de potência, segundo nos indica o Evangelho, atuam sobre a história, sobre a política e até no domínio religioso. Os próprios ministros do Diabo se disfarçarão de apóstolos de Cristo, diz ainda São Paulo, na Segunda Carta aos Coríntios, que isto não é de estranhar, «porque o próprio Satanás se disfarça de Anjo de Luz».

 

Schlier, num estudo muito detalhado sobre o Evangelho, conclui: “Satanás e as suas tropas, os prolongamentos e sementes multiformes do espírito do mal, que é ao mesmo tempo inteligência e vontade de potestade, estão determinados no seu desígnio de se apoderarem do mundo e dos homens, em todos os recônditos e a todos os níveis. Não há nada no mundo que esteja livre da sua influência. O corpo humano, o espírito humano, o que chamamos «natureza», mas também as formas, os suportes e as situações da vida histórica, mesmo as religiões e a doutrina cristã, podem tornar-se o seu campo de ação e os instrumentos de afirmação do seu ser, os intermediários da manifestação da sua vontade.

 

Os professores de Teologia Karl Rahner e Herbert Vorgrimler declararam no seu dicionário de Teologia que a “existência de Forças e Potestades más, extra-humanas, e a sua ação no mundo é verdade de fé”. Acrescentam ainda que a ação do Diabo não se deve só admitir nos casos de fenómenos extraordinários, mas que também existe, “na natureza e na história, uma cadeia normal, natural, explicável, de acontecimentos, uma dinâmica de forças demoníacas, orientadas para o mal”.

 

A invisibilidade destes seres é uma fortíssima ajuda para a sua nefasta ação, tornando-se como um exercito secreto do mal. Para submeterem o mundo e a humanidade, as potestades e dominações escondem-se aos olhos do homem e aos seus sentidos. A decifração das coisas torna-se, assim, muito mais difícil. Mas se nós podemos ser enganados, há sempre quem veja o que está escondido. São João, o grande vidente do Apocalipse, esclarece bem o que está escondido. Ao escrever à Igreja de Pérgamo, onde se levantava o Templo de Augusto e de Roma, diz estas palavras claríssimas: “Eu sei onde tu habitas, que é onde está o trono de Satanás.” O vidente não vê apenas os templos pagãos, dedicados afinal a seres inexistentes – os «deuses»: ele vê sobretudo, escondido e no seu esconderijo, ativa, atuante, a potestade satânica, que por meio do Templo pagão executa a sua vontade e afirma a sua potência.

 

A dissimulação do Diabo só pode enganar aqueles que já estão cegos por ele e pelas suas teias. Georges Huber, dos cisterciences, escreveu em 1974 como que prevendo o futuro: acerca do Diabo há como que “uma conspiração do silêncio. Se um dia esta se romper será por obra de pessoas que se consideram “especialistas” e colocarão com temeridade a questão de saber se o Diabo existe. E isso já foi feito e está na consciência coletiva do ocidente cristão como uma questão que separa cegos de pessoas que vêem.

Mas tenhamos uma limpa consolação porque segundo o grande teólogo Peterson, no meio dos sofrimentos deste mundo, entre todas as vicissitudes e lutas demoníacas que se desenrolam dentro deste tempo, há lago eterno e imutável: o culto que os Anjos tributam ao Eterno e me que toma parte a Igreja terrestre. E isto é verdadeiramente sublime porque os anjos do Céu são verdadeiramente os nossos irmãos mais velhos já confirmados, fazendo parte integrante da família resplandecente e gloriosa de Deus Trino e Uno.