UMA ACÇÃO SUBTIL

 UMA ACÇÃO SUBTIL

O facto é que tais seres espirituais afirmam-se no nosso mundo terrestre, que têm como campo de ação, e apresentam-se determinados contra Deus, estendendo a este mundo o combate contra Aquele que os criou e lhes deu o poder de que eles desfrutam.

O modo de agir mais subtil e normal destes seres é levarem o homem a ver as coisas como eles as veem: de forma errada, anormal e blasfema. Os seres angélicos demoníacos, agindo através de múltiplos canais, acabam por explicar o mundo e a vida e impor à humanidade uma opinião perigosa sobre si mesma e o seu destino. E a humanidade cheia deste espírito, intoxicada, dominada pela subtileza e inteligência dos seres de potência, proclama-se livre e progressiva, afirmando a sua autonomia frente a Deus e negando a existência de espíritos muito mais fortes que ela mesma. É o triunfo do trabalho de intoxicação dos filhos das trevas. Mas como podem os demónios intoxicar?

 

Tal como os homens não podem viver sem uma atmosfera para respirar, também é certo que vivem mergulhados numa atmosfera espiritual, que não podem evitar. Têm que viver dentro dela e ela emana de todos os lados: das escolas, das igrejas, das famílias, dos meios de comunicação, das pessoas, enfim, de uma inumerável trama de instituições e locais.

Torna-se imediatamente evidente que as Potestades, Dominações e Tronos, têm poder sobre esta atmosfera, e para resistir com sucesso é preciso saber, como ensina São Paulo, na sua Carta aos Efésios, que «nós não temos que lutar contra a carne e o sangue, mas contra os Principados e Potestades, contra os dominadores deste mundo tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares». Espalhados pelos ares espirituais que nós respiramos sem desconfiança, e que estão contaminados pelos demónios.

 

Graças a esta atmosfera espiritual, que suscitam e mantêm, as Dominações e Potestades adquirem maior controlo sobre os homens, especialmente se os homens se abrem a elas e as aceitam, inspirando-se nelas para as suas ações e decisões.

O senhorio começa, a maior parte das vezes, de modo impercetível, no espírito corrente do mundo, no espírito de uma época, de um povo, de uma região, de uma cidade, de uma aldeia, de uma família, de um pensador, de uma pessoa. Por isso não fica mal advertir aqui: veja lá quem admira! É que o princípio costuma conduzir ao fim.

Este espírito criado no tempo como denominador, concretizado em ideias e sistemas de ideias, modas, novos hábitos, impõe-se despoticamente aos homens e quem o combate é tomado por insensato. Os homens respiram-no, acolhem-no, e exultam com ele, como se fosse um presente. Adaptam-se a ele, tomam os seus novos “valores ” e aceitam a explicação que ele dá do mundo e da vida. Os seus pensamentos mais íntimos estão cheios desse espírito e não há já lugar para o Altíssimo e as suas coisas. O Príncipe deste mundo, graças à atmosfera espiritual que ele governa, faz então aparecer como suas, e ver como ele as vê, a existência, as pessoas, as coisas, as circunstâncias, as situações e o próprio mundo.

 

É da sua essência, como mentiroso, dar aos homens uma visão mutilada e empobrecedora da realidade, apresentar-lhe só ilusões e explicar as coisas e a vida à luz do seu ódio fundamental ao Criador. Dá aos «deuses» a aparência de uma realidade, faz dos astros deuses, mostra o mundo terrestre como a única realidade, a riqueza e o sexo como último deleite, o poder como um meio para ambas as coisas, e revela a morte como o fim dos fins. É óbvio que engana em todos os momentos desta trama de argúcias.

 

As suas explicações visam levar o homem ao desespero e à perturbação e, finalmente, à morte, ao afastá-lo da água viva que é Cristo. De facto como o Senhor ensina, ele é homicida desde o princípio e quando mente fala do que lhe é próprio.

Ao apresentar o mundo como ele o vê, o maligno quer a anuência e a aceitação ativa por parte dos homens, que ele considera inferiores em inteligência e poder. As potências malignas pretendem que o homem viva segundo essa ilusão que lhe mostram, porque isso lhes convém.

 

No fundo, é o mundo como deleitação, fim em si mesmo, ou como morte eterna, que constituem os dois grandes modos de revelação diabólica. O primeiro, nega a caducidade do mundo e o facto de sermos peregrinos a caminho da Cidade Celeste. Faz esquecer a morte celebrando a “sua juventude”, dando a impressão que o mundo só está povoado por jovens que viverão para sempre. E aí esconde cuidadosamente a Morte. O segundo, nega a vida eterna e, por consequência, Deus e a História da Salvação. O ponto nevrálgico é a Revelação e volta a ser a aceitação da Morte como facto natural com significado transcendente para cada um de nós e para todo o Orbe.

 

O Cardeal Ratzinger, numa das suas obras bem conhecidas da Teologia Fundamental, escreveu: “A morte é o grande momento em que as portas do cárcere se abrem, indo a alma prisioneira para a liberdade e imortalidade que lhe cabem pela sua essência. A morte, sublinha, aparece pois como o verdadeiro amigo do homem, que o liberta do encadeamento antinatural à matéria”. Isto é a fé na imortalidade da alma que não se cessou de proclamar na Igreja, como um insulto a todos quantos prosseguem as ações de Lúcifer.

Nestes casos, tome-se atenção: a própria apresentação do mundo como o mundo verdadeiro, é uma Tentação.