A MINHA VIA SACRA COM CRISTO
ANTES DE FAZERES A VIA SACRA, PENSA...
"...Na Paixão de Cristo encontramos remédio contra todos os males em que incorremos por causa dos nossos pecados
Mas não é menor a utilidade que tem como exemplo.
Na verdade, a Paixão de Cristo é suficiente para orientar toda a nossa vida.
Quem quer viver em perfeição, basta que despreze o que Cristo desprezou na cruz e deseje o que Ele desejou.
Nenhum exemplo de virtude está ausente da cruz."
São Tomás de Aquino
ORAÇÃO PREPARATÓRIA
Senhor Jesus, muitas vezes tenho repetido, quando falo ou experimento aflições e dificuldades, esta expressão carregada de mentira: "É a via sacra da minha vida!"
O meu sofrimento, a minha dor, o carregar a cruz de todos os dias, normalmente, na minha vida, é tudo menos via sacra.
É a via do rancor, da inveja, da revolta e raras vezes a aceitação serena que pediste quando disseste: "Quem quiser seguir-me tome a sua cruz todos os dias..." (Mt 16,24)
Ainda não aprendi a caminhar contigo ou atrás de Ti, todos os dias...
Ainda não sou capaz de dar uma dimensão espiritual aos meus sofrimentos de cada dia.
Hoje vou tentar, ao fazer a tua Via Sacra aprender a fazer a minha via sacra contigo.
Ao recordar o teu doloroso caminho sagrado. quero aprender a fazer do meu caminho - sempre imensamente mais fácil que o teu! - um caminho que se vai tornando sagrado.
Quero colocar-me no teu lugar e no lugar daqueles que intervieram na dolorosa história da tua Paixão...
Ensina-me, Senhor, a fazer da minha vida que é, tantas vezes, uma Via não Sacra a minha Via Sacra contigo.
PRIMEIRA ESTAÇÃO
ACUSADO E CONDENADO
V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo.
R/ - Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Imagino-Te, Senhor, apresentado por Pilatos à multidão com uma pergunta provocatória: tendes alguma coisa contra este homem? (Jo 18,29) Vejo centenas de dedos e mãos acusadoras e gargantas tensas pelo ódio a gritar: se não fosse um malfeitor não to teríamos entregado...(Jo 18,30)
Quantas vezes também eu te acuso, Senhor! Não com as palavras mas com a minha vida. Não te chamo malfeitor mas não tenho a coragem de Te proclamar benfeitor. Acuso-Te também quando acuso os outros porque Tu estás presente no meu próximo, "no mais pequenino dos meus irmãos" (Mt 25,40)
Acuso-Te, julgo-Te, condeno-Te, quando digo: ele fez isto por maldade... disseram-me que ele falou contra mim... por isso, não quero mais nada com ele...
Às vezes, como Tu, também eu sou acusado, julgado e condenado... Mas que diferença imensa entre a minha postura e a tua! Quando sou acusado, revolto-me, barafusto, insulto, disparo impropérios em todas as direcções, porque não reconhecem a minha inocência e atrevem-se a duvidar da minha bondade.
Nesta primeira estação da tua e da minha Via Sacra, ajuda-me, Senhor, a não julgar ninguém ("não nos julguemos mais uns aos outros") (Rm 14,13) e a aceitar em silêncio os julgamentos injustos e errados que fazem de mim.
V/ - Tende compaixão de nós, Senhor!
R/ - Tende compaixão de nós!
Pai Nosso...
SEGUNDA ESTAÇÃO
CARREGAR A CRUZ
V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo.
R/ - Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Senhor Jesus, muitas vezes eu digo frases que são uma vaga recordação do teu evangelho ou da tua dolorosa Paixão, mas que não têm nada a ver com o ensino que nos deixaste. Quando a dor e os problemas graves me atingem, costumo repetir com indiferença ou até com revolta: É a cruz da minha vida. Não há nada a fazer senão levá-la.
Não foi assim que, um dia, disseste aos teus: quem quiser ser meu discípulo tome a sua cruz, todos os dias, e siga-me. (Mc 8, 34). Não foi assim que me ensinaste, ao sair do pretório de Pilatos. Tu não carregaste a cruz de uma maneira passiva, como um fardo a que não Te podias furtar.
Senhor, Tu queres que eu assuma a cruz, as muitas cruzes da minha vida, como Tu, de uma maneira activa pois poderias ter pedido ao Pai que mandasse em tua defesa mas de doze legiões de anjos. (Mt 26,53)
Estivesse eu em teu lugar, e jamais consentiria que me pusessem aos ombros uma cruz. Porque, para mim, a cruz ainda continua a ser instrumento de suplício e maldição e não altar de redenção.
Como o teu apóstolo André, eu deveria dizer; Ó cruz bendita! Aproximo-me de ti com alegria. Em vez de amaldiçoar as pessoas ou as circunstâncias que me acarretam o sofrimento.
Senhor, dá-me o amor da cruz, não das cruzes heróicas e vistosas que, por vezes, funcionam como uma espécie de condecoração porque são reconhecidas, aplaudidas, e até chegam a ser notícia nos jornais, mas das cruzes humildes e escondidas daquelas que ninguém dá conta: da tristeza que me acompanha quando vejo o triunfo do mal;
Do peso que sinto quando tento quebrar uma inimizade e não sou compreendido ou correspondido: Da pessoa que me tortura com palavras provocadoras, indiferença ou silêncio; Do trabalho de que não gosto ou não me sai bem; Das culpas que me lançam em rosto e são injustas...
De tudo isto... por tudo isto e muito mais, dá-me um profundo amor à cruz redentora.
V/ - Tende compaixão de nós, Senhor!
R/ - Tende compaixão de nós!
Pai Nosso...
TERCEIRA ESTAÇÃO
CAÍDO
V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo.
R/ - Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Cair é sempre uma humilhação porque todos nós fomos concebidos para andar direitos, de olhos levantados para o céu. Ao ver-Te caído na primeira queda da tua Via Sacra penso na humilhação da tua fraqueza física.
Tu que andaste sobre as ondas do mar agitado, que passaste, de cabeça erguida, em Nazaré, quando tinham planeado precipitar-Te no abismo, não quiseste agora livrar-Te de uma queda humilhante para nos ensinar o sentido da debilidade.
Cair é reconhecer a fraqueza, é chegar à conclusão de que sou frágil. (E custa-me tanto, Senhor, confessar que sou pó levantado!). Caíste, Senhor, porque estavas fraco, porque tinhas sido açoitado e perdido sangue. Eu, quando caio espiritualmente é também sempre pelas mesmas razões porque me deixo açoitar pelas tentações e pelos ditames do mundo que são contrários aos teus.
Vou perdendo aos poucos o vigor da tua graça, o entusiasmo por Ti e pelos teus ensinamentos. Deixo-me dominar por vozes que gritam alto mas que não têm nada a ver com a tua voz.
Uma primeira queda pode ser o começo de uma história dolorosa de quedas repetidas ou a experiência amarga mas salvadora de como é triste cair...
Peço-te, Senhor, para os que caem pela primeira vez a coragem decidida de se levantarem logo e a lembrança continua, para toda a vida, de como é triste morder o pó da terra a quem foi feito para olhar as estrelas.
Senhor Jesus, que a tua primeira queda me dê coragem (e a todos os que caem uma primeira vez!) de me levantar prontamente e de caminhar contigo até ao fim.
V/ - Tende compaixão de nós, Senhor!
R/ - Tende compaixão de nós!
Pai Nosso...
QUARTA ESTAÇÃO
ENCONTRADO
V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo.
R/ - Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Senhor Jesus, quantas vezes na minha vida procuro alguém, um coração amigo, que me compreenda e me diga uma palavra de conforto... Hoje, cada vez mais, parece que cada vez mais rareiam essas pessoas porque andamos todos sobrecarregados com problemas sem fim, que pesam sobre nós, e não nos deixam tempo para pensar nos outros.
Ao saber da tua condenação à morte houve alguém que jamais descansou, que jamais teve repouso e tudo tentou para se encontrar contigo, para Te consolar. Esse alguém foi a tua Mãe. Ela só o conseguiu quase a meio da tua caminhada de dor. Mas venceu todas as barreiras e obstáculos para Te olhar frente a frente e Te dizer, mais uma vez, com os olhos nublados pelo sofrimento e o rosto macerado pela tristeza, quanto Te amava e Te compreendia. Se Tu precisavas da sua presença, Ela precisava ainda mais da tua...
Senhor, quando digo que não tenho tempo, quando há demasiados obstáculos a transpor, que a minha situação é tão complicada, que não me permite estar com os outros, faz-me ver que o que realmente me falta é uma grande dose de amor.
Gosto tanto de receber e sou tão pouco amigo de dar!... Gosto tanto de encontrar um ombro amigo, onde possa repousar os meus problemas e tenho tão pouca paciência para escutar. os que têm maiores problemas que eu!
Virgem Santa do Caminho do Calvário, ensina-me o segredo da ousadia que não se torna notícia mas que jamais se apaga no coração de quem é encontrado, de quem é acolhido e compreendido. Já não Te peço sequer tempo ou disposição para ir ter com quem carrega uma cruz, maior ou mais pequena que a minha. Peço-Te sim, amor, muito amor, para saber acolher quem vem ter comigo porque quem ama nunca é capaz de encontrar qualquer desculpa para se omitir.
V/ - Tende compaixão de nós, Senhor!
R/ - Tende compaixão de nós!
Pai Nosso...
QUINTA ESTAÇÃO
CONTRARIADO
V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo.
R/ - Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
É bastante frequente na minha vida ver os meus planos contrariados ou até mesmo caídos por terra. Sonho, planeio e, quando menos o espero, lá vem o contratempo que me faz repetir uma frase já feita, carregada de desilusão: só me faltava mais esta!
Pareço-me muito com Simão de Cirene: ele regressava do campo casado do trabalho, sonhando com a merecida refeição e com o merecido descanso no seio da família ou na companhia dos amigos, quando o obrigaram a levar a cruz de um condenado.
Ele naturalmente terá pensado: que pena eu não ter vindo por outro caminho para me libertar deste incómodo. Mas, neste caso, como em muitos outros, se verifica, Senhor, esta verdade: os teus caminhos não são os nossos caminhos e os teus pensamentos não são os nossos pensamentos. (Is 55,8)
Senhor Jesus, por vezes chego ao fim do dia cansado de andar a trocar caminhos porque não me quero encontrar contigo porque vens transtornar os meus planos convidado-me a levar uma cruz que não é a minha: a cruz de escutar e animar um desalentado, de socorrer uma situação de pobreza, de visitar um doente que vive em solidão, de aconselhar um casal que está prestes a separar-se, de escutar uma pessoa idosa a quem ninguém dá ouvidos...
Faz-me, Senhor Jesus, Cireneu de todos aqueles que se cruzam comigo carregando uma cruz que julgo não ser a minha mas que realmente também é minha porque é tua porque Te identificas com todos os que sofrem.
V/ - Tende compaixão de nós, Senhor!
R/ - Tende compaixão de nós!
Pai Nosso...
SEXTA ESTAÇÃO
ROSTO ENXUGADO
V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo.
R/ - Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Senhor Jesus, no caminho do Calvário não encontraste só inimigos mas também amigos que se manifestaram. Alguns com certa timidez, outros com mais desassombro. Na história da tua sagrada Paixão ficará para sempre envolto em ternura, o gesto dessa mulherzinha do povo que Te enxugou o rosto ensanguentado.
Há palavras e atitudes que só as pessoas simples e amigas podem ter porque nascem de uma certa "irreflexão" que brota do coração que, no dizer de um famoso pensador, tem razões que a razão desconhece.
Se a Verónica tivesse pensado mais na possível reacção dos soldados, perante o atrevimento de se aproximar de Ti, Senhor, o condenado; na oportunidade desse gesto quase inútil, nas críticas que a sua exibição poderia provocar nos circunstantes... certamente ficaria retraída à beira do caminho, a lamentar com "ais" e suspiros a tua sorte mas jamais se aproximaria de Ti, Senhor Jesus.
Senhor, se é verdade que preciso de reflexão para tomar certas decisões na vida não é menos verdade que preciso mais, muito mais, de amor. Quem se entrega a Ti e à causa do Evangelho mais que de raciocínios precisa de um coração aderente. Pedro caminhou sobre as ondas porque desejava ir ter contigo mas quando raciocinou e olhou para baixo, começou a sentir-se inseguro e a afundar-se. O segredo de Verónica foi olhar só para Ti, ignorando os soldados e a multidão.
O segredo da minha vida de santidade será também esse, unicamente esse: olhar para Ti, só para Ti... Senhor, dá-me uma grande fé, concede-me um grande amor encandeia-me com o teu olhar, de maneira que eu não veja mais ninguém senão a Ti em todas as pessoas e em todas as circunstâncias.
V/ - Tende compaixão de nós, Senhor!
R/ - Tende compaixão de nós!
Pai Nosso...
SÉTIMA ESTAÇÃO
DE NOVO CAÍDO
V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo.
R/ - Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
A tua Via Sacra, Senhor Jesus, é uma fonte inesgotável de ensinamentos... Das tuas quedas, desta segunda queda, eu quero tirar a lição do silêncio. Talvez tenhas sido empurrado, talvez tenhas resvalado no caminho incerto mas não Te queixaste nem atribuíste a culpa desta queda a ninguém.
Eu sou exactamente o contrário de Ti, quando caio, física ou moralmente, há sempre alguém ou algo a que atribuo a culpa: o terreno, a má vontade dos que me têm inveja, o ambiente, o mau exemplo, ou a traição de um falso amigo... Quando caio, revolto-me, barafusto, chamo a atenção de todos para que vejam como um justo como eu é tratado pelos "maus".
Quantas vezes quero fazer das minhas quedas um trampolim de orgulho para que vejam a minha bondade e não uma ocasião para me firmar na humildade, para meditar a sério na advertência de São Paulo: quem está de pé tenha cuidado para não cair. (1 Cor 10, 12)
Senhor Jesus, caido segundo vez no caminho incerto do Calvário, afasta de mim a tentação de me julgar vítima da má vontade dos outros que não cessam de me preparar emboscadas para me fazer cair por terra... Mesmo que isso seja verdade, faz-me sentir como sou pobre e frágil.
Enche-me da força do teu Espírito para ser corajoso como os mártires que nunca vacilaram perante as promessas lisongeiras ou o anúncio de uma morte horrorosa... Da-me a graça de nunca ficar choroso por terra mas de me levantar prontamente como Tu Te levantaste desta segunda queda.
V/ - Tende compaixão de nós, Senhor!
R/ - Tende compaixão de nós!
Pai Nosso...
OITAVA ESTAÇÃO
CHORADO
V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo.
R/ - Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Senhor Jesus, cada vez admiro mais essas piedosas mulheres de Jerusalém que tiveram lágrimas para derramar por Ti quando Te viram no caminho do Calvário. A chamada de atenção que lhes dirigiste não foi uma repreensão mas uma paternal advertência para que desse o autêntico sentido à sua dor.
Elas fazem parte daquelas pessoas que Tu, um dia, na montanha, tinhas proclamado bem-aventuradas quando disseste: bem aventurados os que choram. (Mt 5,4) Tu não eras um seu familiar mas elas tiveram pena de Ti e do teu sofrimento. Foi através das suas lágrimas que lhes abriste uma nova prespectiva para a sua dor: não chorei por mim mas pelos vossos filhos. (Lc 23, 28) Disse alguém, com muito acerto, que há coisas que só os olhos que choraram são capazes de ver bem...
Quando vejo pessoas comovidas, a chorar, nas cerimónias litúrgicas ou perante uma situação aflitiva, vem-me à mente um pensamento de reprovação que poderia exprimir assim: sentimentais... corações colados à menina dos olhos... Eu também tenho a tentação de enfileirar atrás dessa gente culta e intelectual sempre muito racional em tudo o que vê ou diz.
Senhor Jesus, Tu que tiveste a experiência das lágrimas, diante de Jerusalém, da sepultura de Lázaro, da filha de Jairo e do jovem de Naim, dá-me um coração compassivo, perante a dor alheia e ensina-me o sentido da dor. Dirige-me, diante de cada situação, a pergunta que fizeste a Madalena: porque choras? (Jo 20,15) Preciso de entrar na tua escola para aprender a chorar... É relativamente fácil chorar por Ti, o Inocente, mas torna-se mais difícil chorar por mim, ou pelos meus irmãos, pecadores.
Em casa do fariseu Simão, o Leproso, em ambiente de festa, durante um banquete, Maria, lavou os teus pés com lágrimas e enxugou-os com os seus cabelos. Ao contrário das piedosas mulheres de Jerusalém, Tu não corrigiste o sentido dessas lágrimas, porque elas eram de agradecimento pela tua infinita misericórdia e expressão de um coração que amava muito.
Concede-me, Senhor, o dom das lágrimas que significam arrependimento das minhas recusas em responder ao amor que manifestas por mim e pelos meus irmãos que passam diante de mim com pesadas cruzes pela estrada sinuosa da vida.
V/ - Tende compaixão de nós, Senhor!
R/ - Tende compaixão de nós!
Pai Nosso...
NONA ESTAÇÃO
CAÍDO PELA TERCEIRA VEZ
V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo.
R/ - Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Senhor Jesus, se toda a meditação da Via Sacra se torna, para mim, uma constatação do teu amor infinito, esta nona estação confunde-me muito particularmente. Habituado a louvar-te como o Deus três vezes santo, encontro-me agora contigo como o Deus três vezes caído. Para manifestar de uma maneira palpável o teu amor por nós pareceu-Te que não era suficiente teres descido do céu à terra nem ter caído uma só vez no caminho do Calvário...
Quanto tenho a aprender contigo, Senhor, nesta estação da Via Sacra! Em primeiro lugar convidas-me a não confiar nas minhas pretensas seguranças porque, como diz a tua Palavra Sagrada, o justo cai sete vezes ao dia. (Prov. 24,16)
Como não ligar as tuas três quedas às três quedas de Pedro, daquele que seria o chefe da tua Igreja, e que, em curto espaço de tempo, Te negou vergonhosamente três vezes? Em
Em segundo lugar, a tua terceira queda convida-me a ser compreensivo com os que caem. Por vezes a minha atitude perante eles é semelhante à dos soldados que Te conduziam ao Calvário. No íntimo do meu coração regozijo-me, faço troça ou digo simplesmente: levanta-te, seu mandrião!
Mas há ainda uma terceira lição que quero tirar desta terceira queda: para me salvar e para salvar os outros preciso de me humilhar, de beijar o pó que sou, para ver as maravilhas que Deus fez por mim.
Senhor Jesus, três vezes caído, dá-me a graça de, quando cair, me levantar prontamente para prosseguir a caminhada até ao fim. Quero ser paciente com as minha debilidades e com as debilidades dos meus irmãos procurando ajudá-los na medida do possível. Que esta tua terceira queda não tenha sido inútil como demonstração do teu amor por mim e como exemplo do amor que eu devo aos meus irmãos.
V/ - Tende compaixão de nós, Senhor!
R/ - Tende compaixão de nós!
Pai Nosso...
DÉCIMA ESTAÇÃO
DESPOJADO
V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo.
R/ - Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
No alto do Calvário, Senhor Jesus, antes de crucificar o teu corpo. quiseram crucificar a tua dignidade despojando-Te publicamente das tuas vestes. A roupa é uma expressão do que somos e dos nossos sentimentos. Usamos uma roupa diferente conforme as circunstâncias: luto, alegria, trabalho ou festa...
A tua Mãe tinha-Te feito uma túnica inconsútil que amavas muito porque era, de certa maneira, a sua presença contínua junto de Ti. Quando a sortearam, entre risadas e, talvez, palavrões, estavam a ofender-Te a Ti e a Ela. Mesmo despojado da tua roupa, Senhor, Tu não perdeste a tua serena dignidade.
Hoje a roupa, Senhor Jesus, serve, muitas vezes, para esconder ou para demonstrar a indignidade de quem a usa. Há quem vista de maneira sedutora ou provocatória para arrastar para o mal e há quem esconda, por detrás de roupas finas e elegantes um coração depravado, cheio de malvadez. Nesta civilização de aparências em que vivemos prestamos uma atenção exagerada ao exterior preocupando-nos menos com interior, que é o que dá sentido ao exterior.
Um dia, Senhor Jesus, Colocaram-me uma veste branca e disseram-me: "Agora és nova criatura e estás revestido de Cristo. Esta veste branca seja para ti símbolo da dignidade cristã". (1) Tu bem sabes, Senhor, como é difícil conservar esta veste. São muitos os que me querem arrancá-la para a sortear no tabuleiro do prazer e dos interesses mundanos.
Faz, Senhor, que eu, por mais que tentem, nunca permita que me arranquem a minha dignidade cristã.
V/ - Tende compaixão de nós, Senhor!
R/ - Tende compaixão de nós!
Pai Nosso...
(1) (Ritual do Baptismo)
DÉCIMA PRIMEIRA ESTAÇÃO
PREGADO NA CRUZ
V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo.
R/ - Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Senhor Jesus, nas situações da minha vida a que chamo de via sacra, muitas vezes falo, em sentido figurado, de crucifixão. Estou preso por um doente que tenho a obrigação de tratar, por um familiar idoso que me foi confiado, por um horário laboral que me separa da normal convivência familiar, por um fracasso que me inibe de aparecer e de conviver à vontade com os outros... Ai como é difícil suportar os cravos das minhas limitações e do cumprimento do dever!...
Senhor Jesus, suponho que, no Calvário, se ouviam as pancadas nos cravos perante o regozijo indisfarçável dos inimigos e as contracções faciais de poucos amigos.
Quando sou crucificado por alguma contrariedade, sobretudo por aquelas que marcam o fim dos meus sonhos, - perdoai-me, Senhor, dizer "crucificado"! - também sinto ao meu redor esta dupla atitude: Alguns dizem: foi bem feito, quem o mandou andar a meter-se onde não era chamado, a armar-se em mestre e mentor! Outros, porém, mais compreensivos, dizem ou pensam: Coitado! Era bem intensionado. Queria trabalhar por um mundo melhor e afinal... nada conseguiu...
Senhor Jesus, mandaram-Te abrir as mãos para Te dar os cravos da nossa ingratidão. Mandaram-Te estender os pés para Te impedir de caminhar para nós. Essas mãos que tinham abençoado os pães e os peixes dando de comer, no deserto, aos famintos, que tinham aberto os olhos aos cegos, abençoado paralíticos e leprosos e perdoado os delitos aos pecadores estavam agora imóveis na cruz... Esses pés inquietos na difusão da boa nova, peregrinos de Jerusalém, consoladores dos aflitos, em Cafarnaúm, Betânia e às portas de Naim, que inauguraram uma nova maneira de pescar, nas margens do lago da Galileia, com o chamamento de Pedro, André, Tiago e João, que firmaram a sua fé andando sobre as ondas estavam agora presos para sempre a uma cruz...
Foi assim que os homens pagaram os teus favores!... E eu ainda continuo a pensar que devo ter as minhas mãos abertas só para receber agradecimentos que quando junto os meus pés é só para receber a unção e o perfume do louvor.
Dai-me, Senhor, mãos limpas e pés inquietos dignos de receber a ingratidão que se faz salvação para mim e para os meus irmãos.
V/ - Tende compaixão de nós, Senhor!
R/ - Tende compaixão de nós!
Pai Nosso...
DÉCIMA SEGUNDA ESTAÇÃO
PREGAÇÃO NA CRUZ
V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo.
R/ - Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Senhor Jesus, levantado na cruz, no monte Calvário, último púlpito do vosso amor, quero associar na minha meditação duas palavras classificadas como homógrafas, isto é: que se escrevem da mesma maneira mas têm proúncia e sentido diferente: pregar, igual a fixar com pregos e pregar, o mesmo que anunciar. Na cruz onde foste pregado não deixaste de pregar a todo o mundo com a palavra e o exemplo.
Na minha vida há situações iguais às de toda a gente mas que eu devo diferenciar. pela abertura e sentido que lhes dou: não posso estar pregado à tua cruz, Senhor, se não pregar como Tu, pelo testemunho e pela palavra.
Senhor, quando me vejo pregado à cruz, a minha atitude é totalmente diferente da tua: revolto-me, digo palavras insolentes, comparo-me com os meus "inimigos" a quem classifico de "maus", a quem tudo parece correr bem. Quase chego a insinuar que Tu não estás a ser justo comingo. Nestes momentos não me ocorrem palavras de perdão, de compaixão, de resignação, de abandono nas tuas mãos...
Pregado na minha pequena cruz, não tenho forças para pregar a lição de amor que, devia ter aprendido com Paulo, no evangelho da tua vida: não quero saber mais nada senão Jesus Cristo e Jesus Cristo crucificado. (1 Cor 2,2)
Senhor Jesus, ensina-me a eficácia da fraqueza que o teu Apóstolo definia com palavras desconsertantes: quando estou fraco, então é que sou forte. (2 Cor 12,10) Lembra-me que, em qualquer situação, vale mais o que sou que o que digo, sejam quais forem os cravos que me prendem.
O meu testemunho também não me dispensa de dizer a palavra oportuna, amassada no sofrimento, temperada com o teu amor. Paulo, prisioneiro por causa do Evangelho, tinha a coragem de proclamar que a Palavra de Deus não estava prisioneira. (2 Tim 2,9) Esta foi a liberdade com que me libertaste: as cadeias exteriores, a doença ou os cuidados da vida não me podem tirar a liberdade interior de anunciar Aquele que tem poder para fazer falar as próprias pedras da calçada. (Lc 19,40)
V/ - Tende compaixão de nós, Senhor!
R/ - Tende compaixão de nós!
Pai Nosso...
DÉCIMA TERCEIRA ESTAÇÃO
DESCIDO DA CRUZ
V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo.
R/ - Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Senhor Jesus, contemplo os olhos embaciados pela dor a ternura dos poucos amigos que desceram o teu cadáver da cruz. Veio José de Arimateia e Nicodemos arrancando os cravos, com a delicadeza de quem, embora sabendo que estavas morto, não Te queria magoar mais.
Vejo a tua Mãe recebendo-Te nos braços abraçando-Te e beijando-Te como só uma mãe é capaz de fazer; Vejo Maria Madalena chorando os seus pecados porque os via estampados nas tuas chagas; Vejo Maria de Clopás e outras mulheres que Te tinham acompanhado e servido com os seus haveres, de olhos atónitos, a meditar o evangelho de amor que tinhas anunciado e que agora estava ali patente no teu corpo macerado.
Quanto tenho a aprender, Senhor Jesus, com o pequenino grupo que Te acompanhou ao Calvário! Eles perderam o medo, na hora mais difícil, de proclamar que estavam ao teu lado resgatando a cobardia dos que Te tinham abandonado. Ser teu amigo, Jesus, é sempre correr um risco porque Tu vieste anunciar o amor e o perdão e o mundo não conhece essa linguagem mas outra diametralmente oposta que se traduz em vocábulos que fazem parte da nossa linguagem diária e que são: ódio, vingança, egoísmo, orgulho... Diante do teu corpo morto, compreendo melhor o convite de Paulo: "Considerai-vos mortos para o pecado". (Rom 6,11)
Algumas vezes, Senhor, tenho dito, talvez injustamente, que Nicodemos te procurou de noite para não ser visto... Agora o Calvário vem corrigir a minha maneira de pensar. Talvez ele Te tenha procurado de noite para, longe do barulho e da multidão, no silêncio, Te escutar melhor e mais longamente como André e João que passaram uma tarde contigo. (Jo 1,39) Há fortalezas e ousadias que só se aprendem na tua intimidade.
Senhor Jesus, quero aprender nesta estação, em que se contempla a descida da cruz, a reverência, o amor, com que Te devo tocar. Agora, na Eucaristia, eu não Te toco cadáver mas vivo e vivificante... De Ti pode sair a força (Jo 1, 39) que vai curar os meus males, e transformar a minha vida. Se ainda continuo apático e tibio é certamente porque me habituei a tocar-Te apenas como uma "coisa" e não como o Salvador do mundo.
Se outrora Te apresentavam os doentes para que ao menos os deixasses tocar na orla da tua veste (Lc 8, 46) eu Te peço, Senhor, que não seja em vão, a graça que me concedes de Te tocar frequentemente na Eucaristia.
V/ - Tende compaixão de nós, Senhor!
R/ - Tende compaixão de nós!
Pai Nosso...
DÉCIMA QUARTA ESTAÇÃO
SEPULTADO E RESSUSCITADO
V/ - Nós Vos adoramos e bendizemos, ó Cristo.
R/ - Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Levam-Te a sepultar, Senhor Jesus, num pequeno cortejo de amigos, Ali não havia indiferentes, nem os que não sabendo que dizer, apresentam condolências com esta exclamação feita: "é a vida!" dando-lhe um sentido de fatídica resignação. Embora em silêncio, alguns terão recordado aquele misteriosa comparação que fizeste, um dia, na tua pregação: "Se o grão de trigo, caído na terra, não morrer, fica só. Mas, se morrer, produz muito fruto". (Jo 12, 24)
De facto, quando sepultamos um justo, semeamos a sua vida nos sulcos do mundo porque o seu testemunho vai perdurar e atrair. Ou, como diria mais tarde, de outra maneira, em tempo de perseguição, em Roma, um dos teus discípulos: o sangue dos mártires é semente de cristãos.
O teu sangue, Senhor Jesus, começou logo a frutificar no alto do Calvário nas palavras do Centurião Romano e na atitude da multidão que regressava batendo no peito (Lc 23, 48) e depois na adesão de três mil pessoas no dia de Pentecostes, (Act 2, 41) no martírio de Estêvão e dos Apóstolos e de incontáveis milhões de seguidores ao longo dos séculos.
o teu sepulcro, Senhor, não foi o ponto final da existência mas uma explosão imparável de vida. O anúncio de dois anjos às desoladas mulheres é também para nós que Te seguimos: "Porque buscais entre os mortos Aquele que está vivo?"
Senhor Jesus, sepultado e ressuscitado, no primeiro dia da semana, houve um grande alvoroço por causa de Ti. Correu Madalena ainda manhãzinha ao sepulcro, correram Pedro e João, convocados por Madalena, correram as mulheres levando perfumes enquanto faziam um exame às suas próprias forças para puder retirar a pedra do sepulcro. Nessa mesma tarde dois discípulos teus, desalentados, deixavam Jerusalém a caminho de Emaús inaugurando, como disse alguém, a maior avenida do mundo: a avenida dos incrédulos, dos sem esperança, dos que não procuram, dos que não arriscam, dos que só sabem dizer, nós esperávamos... mas não dão um passo em frente.
A tua bondade, Senhor Jesus, foi ao encontro desses caminheiros como tantas vezes vem ao meu encontro... Sempre me acompanhas mas eu nem sempre descubro a tua reconfortante presença, embora sinta, por vezes, o meu coração inflamado com a tua palavra. Dá-me a graça de, na Via Sacra da minha vida, rezar, em cada dia e em cada circustância, a bela jaculatória dos dois de Emaús com quem, frequentemente, me identifico Fica connosco, Senhor, porque anoitece!
Pelas intenções do Santo Padre:
Pai-Nosso, Avé-Maria, Glória