"QUATRO RAZÕES ALICIANTES PARA SOFRER DEVIDAMENTE"

"QUATRO RAZÕES ALICIANTES PARA SOFRER DEVIDAMENTE"
55.11) Para ajudar-vos a sofrer bem, habituai-vos a contemplar as quatro razões que
passo a citar:
 
a) O olhar de Deus
 
Em primeiro lugar, contemplai o olhar de Deus que, qual rei soberano que do alto de
uma torre, observa os seus soldados que estão no centro do combate, tem compaixão deles e exalta a sua valentia. Onde é que Deus fixa o seu olhar na terra? Será, porventura, sobre reis e
imperadores sentados em seus tronos? Ah!... não, por vezes, observa-os com desprezo. Será que
contempla as grandes vitórias nacionais ou as pedras preciosas, em suma, as coisas que aos olhos do mundo são grandiosas? “O que os homens têm por muito elevado é abominável aos olhos de Deus”!, Que contemplará, então, Deus, com prazer e complacência, e que notícias pedirá aos anjos e aos próprios demônios? Eis aqui a resposta: Deus contemplará o homem que, pela sua causa, se bate contra a riqueza, contra o mundo, contra o inferno e contra si próprio; é o homem que carrega alegremente a sua cruz. Não reparaste, porventura, na terra, a grande maravilha que todo o céu contempla com admiração? — perguntou o Senhor a Satanás. “Reparaste no meu servo Jó”? — que sofre por mim?
 
b) A mão de Deus
 
56. Em segundo lugar, considerai a mão deste poderoso Senhor, que permite todo o mal
que da natureza nos vem, desde o maior até ao menor. 
 
A mesma mão que aniquilou um exército de cem mil homens', é a mesma que faz agora cair as folhas das árvores e os cabelos da vossa cabeça'; a mão que feriu duramente Jó, vos trata agora com doçura, enviando-vos pequenas contrariedades. A mão que formou o dia e a noite, o sol e as trevas, o bem e o mal, é a mesma que permite agora — ainda que não queira o mal — as ações pecaminosas, que vos inquietam.
 
Se vier, pois, a acontecer-vos, como sucedeu ao rei Davi, de terdes de enfrentar
um certo Semei que vos atire pedras e injúrias, direis a vós mesmos: “Não vou vingar-me; se
aconteceu é porque o Senhor o permitiu assim. Sei ter merecido toda a espécie de ultrajes, por isso Deus me castiga com justeza. Detenham-se, braços meus, e minha língua; não batais, não digais palavra! Esse homem ou mulher que me insultam e me injuriam, são embaixadores da misericórdia divina que se vinga de maneira amigável. 
 
Não irritemos a sua justiça, usurpando os direitos da sua vingança; não desprezemos a sua misericórdia, resistindo às suas amorosas chicotadas, não venha depois a acontecer que, para se vingar, tenha de nos remeter para a pura justiça da eternidade”. 
 
Reparai como Deus, com uma mão poderosa e cheia de atenção, vos sustenta, enquanto
que, com a outra, vos atinge; com uma mão vos mortifica e com a outra vos presta auxílio; vos
abate e vos eleva, e estende-vos seus braços com doçura e firmeza, do princípio ao fim da vossa
existência; com doçura'*, já que não permite que sejais tentados e atormentados acima das vossas
possibilidades; com força, porque vos concede uma graça eficaz adequada à violência e duração da tentação e provação; com força ainda, já que, como o afirma através do sentir de sua própria
Igreja, ele torna-se “vosso apoio à beira do precipício junto do qual vos encontrais; torna-se companheiro de viagem na estrada onde eventualmente vos poderíeis perder; torna-se sombra no calor asfixiante; proteção contra a chuva que vos molha e o frio que vos enregela; repouso no cansaço que vos oprime; socorro na adversidade que vos visita; vosso cajado nos caminhos escorregadios e porto seguro no meio das tempestades que vos ameaçam de ruína e naufrágio.
 
c) As chagas e as dores de Jesus Cristo crucificado
 
57. Contemplai, em terceiro lugar, as chagas e as dores de Jesus Cristo crucificado.
É ele mesmo que vos diz: “Ó vós todos que passais pelo caminho espinhoso e marcado pela cruz e que também eu já percorri, olhai e vede, com os próprios olhos do vosso corpo e com o olhar da
vossa contemplação, vede se a vossa pobreza, a vossa nudez, o vosso desprezo, as vossas
dores e o abandono a que sois votados são semelhantes aos meus; olhai-me, a mim que sou
inocente e queixai-vos vós que sois culpados!”
 
Pela boca dos Apóstolos, também o Espírito Santo nos ordena que contemplemos Jesus
Cristo crucificado”*!*; que nos armemos com este pensamento"*!*, que é a arma mais
penetrante e terrível contra todos os nossos inimigos. 
 
Quando fordes atacados pela pobreza, pelo aviltamento, pela dor, por tentações e cruzes, armai- vos e protegei-vos por um escudo, uma couraça, um capacete e uma espada de dois gumes!, ou seja, o recordar-se de Jesus Cristo crucificado. Está aqui a solução para qualquer dificuldade e a vitória contra todos os inimigos.
 
d) No alto, o céu; em baixo, o inferno
 
58. Em quarto lugar contemplai, lá no alto, a bela coroa que vos espera no céu, se
souberdes carregar bem a vossa cruz. O pensamento desta recompensa foi suporte na fé de
patriarcas e de profetas nas suas perseguições; deu ânimo aos Apóstolos e Mártires nas suas fadigas e tribulações. Com Moisés exclamavam os patriarcas: “Preferimos ser maltratados com o povo de Deus e vir a ser com ele eternamente felizes, a usufruir, por algum tempo, as delícias do prazer”. 
 
Diziam os profetas com Davi: “Enfrentamos grandes perseguições em vista da
recompensa”. Os Apóstolos e os Mártires afirmavam com São Paulo: “Parece-nos que Deus nos pôs a nós no último lugar, como condenados à morte, porquanto nos tornamos espetáculo para o mundo, para os anjos e para os homens; tornamo-nos como que a escória do mundo, a varredura de todos” pelo “peso imenso de glória eterna” que “o fugaz e leve peso da nossa tribulação nos procura”.
 
Do alto, escutai a exortação dos anjos, que vos dizem: “Tende cuidado em não perder a
coroa atribuída à vossa cruz carregada com paciência. Se vós não souberdes carregá-la como
se deve, virá outro a fazê-lo em vosso lugar, arrebatando-vos a vossa coroa”.
 
“Combatei valentemente, sofrendo com paciência — dizem-nos todos os santos — e
alcançareis um reino eterno”. Escutemos, enfim, a voz de Jesus Cristo: “Só darei a minha
recompensa a quem sofrer e vencer pela paciência”,
 
Em baixo, contemplemos o lugar que justamente mereceríamos no inferno, na companhia
do mau ladrão e outros condenados se, como eles, tivéssemos sofrido de má vontade, entre
imprecações e sede de vingança. Com Santo Agostinho exclamemos: “Queimai, Senhor, cortai, talhai e retalhai neste mundo, como punição dos meus pecados, contanto que fiquem perdoados para a eternidade”. 
55.11) Para ajudar-vos a sofrer bem, habituai-vos a contemplar as quatro razões que
passo a citar:
 
a) O olhar de Deus
 
Em primeiro lugar, contemplai o olhar de Deus que, qual rei soberano que do alto de
uma torre, observa os seus soldados que estão no centro do combate, tem compaixão deles e exalta a sua valentia. Onde é que Deus fixa o seu olhar na terra? Será, porventura, sobre reis e
imperadores sentados em seus tronos? Ah!... não, por vezes, observa-os com desprezo. Será que
contempla as grandes vitórias nacionais ou as pedras preciosas, em suma, as coisas que aos olhos do mundo são grandiosas? “O que os homens têm por muito elevado é abominável aos olhos de Deus”!, Que contemplará, então, Deus, com prazer e complacência, e que notícias pedirá aos anjos e aos próprios demônios? Eis aqui a resposta: Deus contemplará o homem que, pela sua causa, se bate contra a riqueza, contra o mundo, contra o inferno e contra si próprio; é o homem que carrega alegremente a sua cruz. Não reparaste, porventura, na terra, a grande maravilha que todo o céu contempla com admiração? — perguntou o Senhor a Satanás. “Reparaste no meu servo Jó”? — que sofre por mim?
 
b) A mão de Deus
 
56. Em segundo lugar, considerai a mão deste poderoso Senhor, que permite todo o mal
que da natureza nos vem, desde o maior até ao menor. 
 
A mesma mão que aniquilou um exército de cem mil homens', é a mesma que faz agora cair as folhas das árvores e os cabelos da vossa cabeça'; a mão que feriu duramente Jó, vos trata agora com doçura, enviando-vos pequenas contrariedades. A mão que formou o dia e a noite, o sol e as trevas, o bem e o mal, é a mesma que permite agora — ainda que não queira o mal — as ações pecaminosas, que vos inquietam.
 
Se vier, pois, a acontecer-vos, como sucedeu ao rei Davi, de terdes de enfrentar
um certo Semei que vos atire pedras e injúrias, direis a vós mesmos: “Não vou vingar-me; se
aconteceu é porque o Senhor o permitiu assim. Sei ter merecido toda a espécie de ultrajes, por isso Deus me castiga com justeza. Detenham-se, braços meus, e minha língua; não batais, não digais palavra! Esse homem ou mulher que me insultam e me injuriam, são embaixadores da misericórdia divina que se vinga de maneira amigável. 
 
Não irritemos a sua justiça, usurpando os direitos da sua vingança; não desprezemos a sua misericórdia, resistindo às suas amorosas chicotadas, não venha depois a acontecer que, para se vingar, tenha de nos remeter para a pura justiça da eternidade”. 
 
Reparai como Deus, com uma mão poderosa e cheia de atenção, vos sustenta, enquanto
que, com a outra, vos atinge; com uma mão vos mortifica e com a outra vos presta auxílio; vos
abate e vos eleva, e estende-vos seus braços com doçura e firmeza, do princípio ao fim da vossa
existência; com doçura'*, já que não permite que sejais tentados e atormentados acima das vossas
possibilidades; com força, porque vos concede uma graça eficaz adequada à violência e duração da tentação e provação; com força ainda, já que, como o afirma através do sentir de sua própria
Igreja, ele torna-se “vosso apoio à beira do precipício junto do qual vos encontrais; torna-se companheiro de viagem na estrada onde eventualmente vos poderíeis perder; torna-se sombra no calor asfixiante; proteção contra a chuva que vos molha e o frio que vos enregela; repouso no cansaço que vos oprime; socorro na adversidade que vos visita; vosso cajado nos caminhos escorregadios e porto seguro no meio das tempestades que vos ameaçam de ruína e naufrágio.
 
c) As chagas e as dores de Jesus Cristo crucificado
 
57. Contemplai, em terceiro lugar, as chagas e as dores de Jesus Cristo crucificado.
É ele mesmo que vos diz: “Ó vós todos que passais pelo caminho espinhoso e marcado pela cruz e que também eu já percorri, olhai e vede, com os próprios olhos do vosso corpo e com o olhar da
vossa contemplação, vede se a vossa pobreza, a vossa nudez, o vosso desprezo, as vossas
dores e o abandono a que sois votados são semelhantes aos meus; olhai-me, a mim que sou
inocente e queixai-vos vós que sois culpados!”
 
Pela boca dos Apóstolos, também o Espírito Santo nos ordena que contemplemos Jesus
Cristo crucificado”*!*; que nos armemos com este pensamento"*!*, que é a arma mais
penetrante e terrível contra todos os nossos inimigos. 
 
Quando fordes atacados pela pobreza, pelo aviltamento, pela dor, por tentações e cruzes, armai- vos e protegei-vos por um escudo, uma couraça, um capacete e uma espada de dois gumes!, ou seja, o recordar-se de Jesus Cristo crucificado. Está aqui a solução para qualquer dificuldade e a vitória contra todos os inimigos.
 
d) No alto, o céu; em baixo, o inferno
 
58. Em quarto lugar contemplai, lá no alto, a bela coroa que vos espera no céu, se
souberdes carregar bem a vossa cruz. O pensamento desta recompensa foi suporte na fé de
patriarcas e de profetas nas suas perseguições; deu ânimo aos Apóstolos e Mártires nas suas fadigas e tribulações. Com Moisés exclamavam os patriarcas: “Preferimos ser maltratados com o povo de Deus e vir a ser com ele eternamente felizes, a usufruir, por algum tempo, as delícias do prazer”. 
 
Diziam os profetas com Davi: “Enfrentamos grandes perseguições em vista da
recompensa”. Os Apóstolos e os Mártires afirmavam com São Paulo: “Parece-nos que Deus nos pôs a nós no último lugar, como condenados à morte, porquanto nos tornamos espetáculo para o mundo, para os anjos e para os homens; tornamo-nos como que a escória do mundo, a varredura de todos” pelo “peso imenso de glória eterna” que “o fugaz e leve peso da nossa tribulação nos procura”.
 
Do alto, escutai a exortação dos anjos, que vos dizem: “Tende cuidado em não perder a
coroa atribuída à vossa cruz carregada com paciência. Se vós não souberdes carregá-la como
se deve, virá outro a fazê-lo em vosso lugar, arrebatando-vos a vossa coroa”.
 
“Combatei valentemente, sofrendo com paciência — dizem-nos todos os santos — e
alcançareis um reino eterno”. Escutemos, enfim, a voz de Jesus Cristo: “Só darei a minha
recompensa a quem sofrer e vencer pela paciência”,
 
Em baixo, contemplemos o lugar que justamente mereceríamos no inferno, na companhia
do mau ladrão e outros condenados se, como eles, tivéssemos sofrido de má vontade, entre
imprecações e sede de vingança. Com Santo Agostinho exclamemos: “Queimai, Senhor, cortai, talhai e retalhai neste mundo, como punição dos meus pecados, contanto que fiquem perdoados para a eternidade”.