Para atravessar a ponte, chega-se a uma porta, que é o próprio Cristo; por ela todos os homens devem passar. Disse Jesus: "Eu sou o caminho, a verdade e a vida; quem vai por mim não caminha nas trevas, mas na luz" (Jo 8,12); e em outra passagem afirma que ninguém pode chegar a mim a não ser por meio dele (Jo 14,6).
Se ainda bem recordas, foi o que te disse uma vez e fiz ver. Se Jesus diz que ele é o caminho, profere uma verdade. Eu o mostrei a ti na figura de uma ponte; sua afirmação é verdadeira; ele está unido a mim, suma Verdade. Quem o segue caminha na Verdade. Ele é também a Vida; seus seguidores possuem a vida da graça, não padecem fome; ele é o alimento. Nem vivem na escuridão; Jesus é a Luz. Em Cristo não existe mentira. Pela verdade ele confundiu e destruiu a mentira do demônio, enganador de Eva. Aquela mentira destruíra a estrada (do céu); Jesus a reconstruiu no seu sangue. Quem vai por tal caminho é filho da Verdade, atravessa a ponte e chega até mim, Verdade eterna, oceano de paz.
Quem não trilha esse caminho, vai pela pedras, estrada inferior, no rio do pecado. É uma estrada sem feita somente de água, inconsistente; por sobre ela ninguém vai sem se afundar. É o caminho dos prazeres e das altas posições, daqueles cujo amor não repousa em mim e nas virtudes, mas no apego desordenado ao que é humano e passageiro. Tais pessoas são como a água, sempre a escorrer. À semelhança daquelas realidades, vão passando. Eles acham que são as coisas criadas, objeto de seu amor, que se vão; na realidade, também eles caminham continuamente em direção à morte. Bem que gostariam de deter-se, reter na vida, segurar as coisas que amam. Seriam felizes se as coisas não passassem. Perdem nas todavia, seja por causa da morte, seja pelos acontecimentos com que faço escapar-lhes das mãos os bens deste mundo. Tais pessoas vão pela mentira, por suas estradas; são filhos do demônio, pai da mentira. Entram por essa porta e vão para a condenação eterna.
Mostrei-te, assim, o meu caminho, o da Verdade, e o caminho do demônio, que é o da mentira. São duas estradas. Ambas exigem fadiga. Vê como é enorme a maldade, a cegueira humana. Sendo-lhe preparada a ponte, o homem prefere ir pela correnteza.
A estrada da ponte é muito agradável aos caminhantes. Toda amargura se torna doce; todo peso, leve. Embora na obscuridade dos sentidos, vão na luz; embora mortais, já possuem a vida sem fim. Pelo amor e pela fé, saboreiam meu Filho, Verdade eterna, que prometeu o prêmio para os que por mim se afadigam. Sou grato, reconhecido e justo; pagarei com equidade, segundo o merecimento. Toda ação boa será remunerada, assim como toda culpa será punida. Tua linguagem é insuficiente a descrever o gozo concedido a quem segue este caminho; nem teus ouvidos seriam aptos a escutar e os olhos a ver. Experimentam-se neste reservadas para a caminho outra coisas vida!
Como é louco aquele que despreza tão grandes bens, indo pelo rio, em baixo; prefere alimentar-se, já nesta vida, com aperitivos do inferno. Segue por entre muitos sofrimentos, sem satisfações, na carência de todo bem. Tudo isso, porque se privou de mim, sumo e eterno Bem, pelo pecado. Tens razão em lamentar-te! Quero que outros servidores sintam contínua tristeza porque sou ofendido; que sintam compaixão diante da maldade e ruína dos pecadores.
Tens desse modo a descrição da ponte. Disse todas essas coisas, para revelar-te que meu Filho unigênito é uma ponte, conforme afirmara antes. Agora sabes que de fato ele une as alturas com a pequenez!