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Às quatro primeiras Memórias da Irmã Lúcia, escritas por ordem
do Bispo de Leiria, José Alves Correia da Silva, e aos Apêndices I
e II relatos das aparições em Pontevedra e Tuy – em cumprimento
da promessa de 13 de Julho de 1917: « ...virei pedir a Consagração
da Rússia a Meu Imaculado...
Antes de entrar na matéria propriamente dita de uma introdução a toda a publicação de «Memórias», pareceu-nos oportuno
expor ao leitor, embora com muita brevidade, quais as nossas intenções, os limites que nos impusemos e o procedimento ou método seguidos.
A presente edição das Memórias da...
«Aos trinta dias do mês de Março de mil novecentos e sete,
nesta paroquial Igreja de Fátima, concelho de Vila Nova de Ourém, Patriarcado de Lisboa, baptizei solenemente um indivíduo do
sexo feminino, a quem dei o nome de Lúcia, nascida em Aljustrel,
desta freguesia, às sete horas da tarde...
De toda a historiografia sobre Fátima, deve dizer-se aquilo que,
entusiasmado com o seu livro, escrevia o escritor Antero de
Figueiredo: «Mas a luz deste livro, a grande luz, a luz bela, essa foi
recebida directa, da alma cândida e profunda, admiravelmente simples, da vidente Lúcia de...
Aos escritos que, felizmente, o leitor vai ter nas suas mãos,
chamamos «Memórias» porque, efectivamente, mais se parecem
a este género literário, não obstante a sua aparência de «Cartas»
ou, até, em certos momentos, de «autobiografia».
Evidentemente que a Irmã Lúcia não tinha qualquer...
Na introdução de cada Memória indicaremos o tema central
ao qual ela se refere.
No entanto, parece-nos importante sublinhar desde já o
objectivo principal das Memórias da Irmã Lúcia: revelar a vida
heróica dos dois Videntes já falecidos, hoje Bem-Aventurados
Francisco e Jacinta, em...
O diário O Século, publicado no dia 15 de Outubro de 1917, apresentava pela primeira vez a fotografia dos Pastorinhos e dava a conhecer a todo o país “coisas espantosas: como o Sol bailou ao meio-dia em Fátima”
Os três videntes, Francisco (9), Lúcia (10) e Jacinta (7) no local da pequena azinheira sobre a qual aparecera a Santíssima Virgem nos dias 13, de Maio a Outubro de 1917
A Capelinha, construída pelo povo em 1918, no lugar das aparições
Imagem que desde 13 de Junho de 1920 se venera na Capelinha das Aparições. Em 13 de Maio de 1946 foi coroada solenemente pelo Card. Masella e no interior da sua coroa encontra-se, actualmente, incrustada a bala que depois do atentado de 13 de Maio de 1981 foi retirada do jeep do Papa.
Os três Pastorinhos junto do arco erguido no local das aparições para o dia 13 de Outubro de 1917
Janela da cadeia de Vila Nova de Ourém para onde foram levados os Pastorinhos em 13 de Agosto 1917
Capela construída no local da aparição dos Valinhos
A Via-Sacra húngara no “caminho dos Pastorinhos” liga a Cova da Iria aos outros lugares de aparições e a Aljustrel, terra natal dos três videntes.
Casa dos pais de Lúcia
Casa onde nasceram Francisco e Jacinta e onde morreu o Francisco
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Não é certamente o primeiro escrito de Lúcia; mas sim o seu primeiro escrito extenso. Antes dele, temos cartas, muitas cartas, interrogatórios, relatos, etc. Mas, agora, encontramo-nos diante dum documento extenso e importante.
Se Lúcia nunca escreveu por vontade própria, como nasceu...
J. M. J.
Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo (1)
Depois de ter implorado a protecção dos Santíssimos Corações de Jesus e Maria, nossa Terna Mãe, de ter pedido luz e graça
aos pés do Sacrário, para não escrever nada que não seja única e
exclusivamente para a glória de Jesus e da Santíssima...
Apesar, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, da minha boa vontade
em obedecer, peço me concedais reservar algumas coisas que,
porque também me dizem respeito, desejaria fossem lidas somente nos limiares da eternidade. V. Ex.cia Rev.ma não estranhará que
pretenda guardar segredos e leituras para a...
Ó tu que a terra
Passaste voando,
Jacinta querida,
Numa dor intensa,
Jesus amando,
Não esqueças a prece
Que eu te pedia.
Sê minha amiga
Junto do trono
Da Virgem Maria.
Lírio de candura,
Pérola brilhante
Oh! lá no Céu
Onde vives triunfante,
Serafim de amor,
Com teu...
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Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo
Antes dos factos de 1917, exceptuando o laço de parentesco
que nos unia, nenhum outro afecto particular me fazia preferir a
companhia da Jacinta e Francisco, à de qualquer outra criança.
Lúcia, apesar da sua deficiente cultura escolar, tinha uma inclinação...
Um dia, um desses pequenos acusou outro de ter dito algumas palavras pouco decentes. Minha mãe repreendeu-o com toda
a severidade, dizendo que aquelas coisas feias não se diziam, que
era pecado e que o Menino Jesus se desgostava e mandava para
o inferno os que faziam pecados, se não se...
Minha mãe costumava, ao serão, contar contos. E entre os
contos de fadas encantadas, princesas douradas, pombinhas reais,
que nos contavam meu pai e minhas irmãs mais velhas, vinha minha
mãe com a história da Paixão, de S. João Baptista, etc., etc.
Eu conhecia, pois, a Paixão de Nosso...
A pequenita gostava também muito de ir, à noitinha, para uma
eira que tínhamos em frente da casa, ver o lindo pôr do sol e o céu
estrelado que se Ihe seguia. Entusiasmava-se com as lindas noites
de luar. Porfiávamos a ver quem era capaz de contar as estrelas
que dizíamos serem as candeias...
Como minha irmã era zeladora do Coração de Jesus, sempre
que havia comunhão solene de crianças, levava-me a renovar a
minha. Minha tia levou, uma vez, a sua filhinha a ver a festa. A
pequenita fixou-se nos anjos que deitavam flores. Desde esse dia,
de vez em quando afastava-se de nós,...
Entretanto, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, cheguei à idade em
que minha mãe mandava os seus filhos guardar o rebanho. Minha
irmã Carolina fez os seus 13 anos (9) e era preciso começar a
trabalhar. Minha mãe entregou-me, por isso, o cuidado do nosso
rebanho. Dei a notícia aos meus...
Eis aqui, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, um pouco mais ou
menos, como se passaram os sete anos, que tinha a Jacinta,
quando apareceu belo e risonho, como tantos outros, o dia 13 de
Maio de 1917. Escolhemos nesse dia, por acaso, se é que nos
desígnios da Providência há acasos, para pastagem...
Quando, nesse dia, chegámos à pastagem, a Jacinta sentou-
-se pensativa, em uma pedra.
– Jacinta! Anda brincar!
– Hoje não quero brincar.
– Por que não queres brincar?
– Porque estou a pensar. Aquela Senhora disse-nos para
rezarmos o Terço e fazermos sacrifícios pela conversão...
A Jacinta tomou tanto a peito os sacrifícios pela conversão
dos pecadores, que não deixava escapar ocasião alguma. Havia
umas crianças, filhos de duas famílias da Moita (10), que andavam
pelas portas a pedir. Encontrámo-las, um dia, quando íamos com o
nosso rebanho. A Jacinta, ao vê-los,...
Entretanto, a notícia do acontecimento tinha-se espalhado.
Minha mãe começava a afligir-se e queria, a todo o custo, que eu
me desdissesse. Um dia, antes que saísse com o rebanho, quis
obrigar-me a confessar que tinha mentido. Não poupou, para isso,
carinhos, ameaças, nem mesmo o cabo da...
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Foram interrogar-nos dois sacerdotes que nos recomendaram
que rezássemos pelo Santo Padre. A Jacinta perguntou quem era
o Santo Padre e os bons sacerdotes explicaram-nos quem era e
como precisava muito de orações. A Jacinta ficou com tanto amor
ao Santo Padre que, sempre que oferecia os...
Quando, passado algum tempo, estivemos presos, a Jacinta,
o que mais Ihe custava era o abandono dos pais; e dizia, com as
lágrimas a correrem-lhe pelas faces:
– Nem os teus pais nem os meus nos vieram ver. Não se importaram mais de nós!
– Não chores – Ihe disse o Francisco. – Oferecemos a...
Determinámos, então, rezar o nosso Terço. A Jacinta tira uma
medalha que tinha ao pescoço, pede a um preso que Ihe pendure
em um prego que havia na parede e, de joelhos diante dessa medalha, começamos a rezar. Os presos rezaram connosco, se é que
sabiam rezar; pelo menos estiveram de...
Havia entre os presos um que tocava harmónio (harmónica).
Começaram, então, para distrair-nos, a tocar e a cantar.
Perguntaram-nos se não sabíamos bailar. Dissemos que sabíamos o fandango e o vira. A Jacinta foi então o par dum pobre
ladrão que, vendo-a tão pequenina, terminou por bailar...
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Minha tia, cansada de ter que mandar continuamente buscar
os seus filhinhos, para satisfazer o desejo de pessoas que pediam
para Ihes falar, mandou pastorear o seu rebanho o seu filhinho
João. (16) À Jacinta custou muito esta ordem, por dois motivos: por
ter que falar a toda a gente que a...
Minha mãe, cansada de ver minha irmã perder tempo para ir
continuamente chamar-me e ficar no meu lugar com o rebanho,
resolveu vendê-lo; e, de acordo com minha tia, mandarem-nos à
(16) João Marto, irmão da Jacinta († 28-IV-2000)
(17) A gruta rochosa chama-se «Loca do Cabeço» e a colina...
Foi também um dia, por sua vez, o Senhor Dr. Cruz, de Lisboa
(19), a interrogar-nos. Depois do seu interrogatório, pediu-nos para
Ihe irmos mostrar o sítio onde Nossa Senhora nos tinha aparecido.
Pelo caminho ia uma de cada lado de sua Rev.cia, que ia montado
em um jumento tão pequeno que...
Havia no nosso lugar uma mulher que nos insultava sempre
que nos encontrava. Encontrámo-la, um dia, quando saía duma
taberna, e a pobre, como não estava em si, não se contentou, dessa vez, só com insultar-nos. Quando terminou o seu trabalho, a
Jacinta diz-me:
– Temos que pedir a Nossa...
Disseram um dia que vinha a interrogar-nos um Sacerdote que
era santo e que adivinhava o que se passava no íntimo de cada
um e que, por isso, ia a descobrir se sim ou não dizíamos a verdade. A Jacinta dizia, então, cheia de alegria:
– Quando virá esse Senhor Padre que adivinha? Se...
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Passavam assim os dias da Jacinta, quando Nosso Senhor
mandou a pneumónica, que a prostrou em cama, com seu Irmãozinho (20). Nas vésperas de adoecer dizia:
– Dói-me tanto a cabeça e tenho tanta sede! Mas não quero
beber, para sofrer pelos pecadores.
Todo o tempo que me ficava livre da...
Recuperou, no entanto, algumas melhoras. Pôde ainda levantar-se e passava, então, os dias sentada na cama do irmãozinho. Um dia mandou-me chamar: que fosse junto dela depressa.
Lá fui, correndo.
– Nossa Senhora veio-nos ver e diz que vem buscar o Francisco muito breve para o Céu. E a mim...
Chegou também o dia de ir para o hospital (22), onde, na verdade, teve muito que sofrer. Quando a mãe a foi visitar, perguntou-
-lhe se queria alguma coisa. Disse-lhe que queria ver-me. Minha
tia, ainda que com inúmeros sacrifícios, lá me levou, logo que pôde
voltar. Logo que me viu,...
Voltou ainda algum tempo para casa dos pais, com uma grande ferida aberta no peito, cujos curativos diários sofria sem uma
queixa, sem mostrar o menor sinal de enfado. O que mais Ihe custava eram as frequentes visitas e interrogatórios das pessoas que
a procuravam e às quais agora não podia...
De novo a Santíssima Virgem se dignou visitar a Jacinta, para
Ihe anunciar novas cruzes e sacrifícios. Deu-me a notícia e dizia-
-me:
– Disse-me que vou para Lisboa, para outro hospital; que não
te torno a ver, nem os meus pais; que, depois de sofrer muito,
morro sozinha, mas que não...
Chegou, por fim, o dia de partir para Lisboa (23). A despedida
cortava o coração. Permaneceu muito tempo abraçada ao meu
pescoço e dizia, chorando:
– Nunca mais nos tornamos a ver! Reza muito por mim, até
que eu vá para o Céu. Depois, lá, eu peço muito por ti. Não digas
nunca o segredo...
Acabo, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, de contar a V. Ex.cia Rev.ma
o que recordo da vida da Jacinta.
Peço a nosso bom Deus se digne aceitar este acto de obediência, para acender nas almas a chama do amor aos Corações
de Jesus (e) Maria.
Agora peço um favor: é que, se V. Ex.cia Rev.ma...
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A Primeira Memória tinha descoberto aos Superiores de Lúcia que
esta guardava, cuidadosamente, ainda muitas coisas que só revelaria
por obediência. Em Abril de 1937, 0 P.e
Fonseca, escrevendo ao Sr. Bispo, dizia-lhe: «A carta da Irmã Dores (Lúcia) sobre a Jacinta faz supor
que há...
J. M. J.
Vontade de Deus, tu és o meu Paraíso! (1)
Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo
Aqui estou, com a pena na mão, para fazer a vontade do meu
Deus; e porque não é outro o meu fim, começo com a máxima que
a minha santa Fundadora me deixou em herança e que eu, no
decorrer deste escrito, à...
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Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo
«O Senhor pôs os olhos na baixeza da Sua serva» (3) eis por
que os povos cantarão as grandezas da Sua misericórdia.
Parece-me, Ex.mo e Rev.mo Senhor, que o nosso bom Deus se
dignou favorecer-me com o uso da razão, muito criancinha ainda.
Lembro-me de ter...
Nos bailes, punham-me em cima duma arca ou duma outra
coisa alta, para não ser pisada pelos assistentes e onde devia entoar vários cantos ao som da guitarra ou do harmónio. Para isto,
minhas irmãs ensaiavam-me, assim como para bailar algumas valsas, quando faltasse algum par, o que eu...
Aproximava-se, pois, o dia em que o Senhor Prior tinha
destinado fizessem a sua primeira comunhão solene as crianças
da freguesia. Minha mãe pensou, pois, que em vistas da sua filhinha
saber a doutrina e de ter já completado os 6 anos, poderia talvez
fazer já a sua primeira comunhão. Com...
E quando chegou a minha vez, lá fui ajoelhar aos pés do nosso bom Deus, ali representado pelo Seu ministro, a implorar o perdão dos meus pecados. Quando terminei, vi que toda a gente se
ria. Minha mãe chama-me e diz:
– Minha filha, não sabes que a confissão se faz baixinho, que
é um...
Minhas irmãs ficaram essa noite trabalhando para me fazer o
vestido branco e a grinalda de flores. Eu, com a alegria, não podia
dormir; e as horas não havia maneira de passarem. Levantava-
-me, pois, constantemente, para ir junto delas perguntar-Ihes se
ainda não era dia, se me queriam...
Começou a Missa cantada e à maneira que o momento se aproximava, o coração batia mais apressado, na expectativa da visita
dum grande Deus que ia descer do Céu para Se unir à minha pobre
alma. O Senhor Prior desceu por entre as filas a distribuir o Pão
dos Anjos. Tive a sorte de ser a...
Este retiro conseguia-o poucas vezes, porque, além de ser
encarregada da guarda das crianças que as vizinhas nos confiavam, como já disse a V. Ex.cia Rev.ma, minha mãe costumava também
fazer por ali como que de enfermeira.
Vinham consultar o seu parecer, quando tinham alguma coisa
de...
Não sei se os factos que acabo há pouco de contar da minha
primeira comunhão foram uma realidade ou uma ilusão de criança.
O que eu sei é que eles tiveram sempre, e têm ainda hoje, uma
grande influência na união da minha alma com Deus. Nem sei também para que estou a contar a V. Ex.cia...
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Assim, pois, completei os meus 7 anos. Minha mãe determinou que começasse a guardar as nossas ovelhas. Meu pai não
era dessa opinião, nem minhas irmãs. Queriam, para mim, pelo
afecto particular que me tinham, uma excepção. Mas minha mãe
não cedeu.
– É como todas – dizia ela –. A Carolina...
Passado algum tempo, voltámos com os nossos rebanhos para
esse mesmo sítio e repetiu-se o mesmo, da mesma forma. As minhas companheiras contaram, de novo, o acontecido. E o mesmo,
passado outro espaço de tempo. Era a terceira vez que minha mãe
ouvia falar, por fora, destes acontecimentos,...
Eis-me chegada, Ex.mo e Rev.mo Senhor, ao fim dos meus três
anos de pastorinha – dos 7 aos 10. Durante estes três anos, a
nossa casa e, quase me atrevia a dizer, a nossa freguesia, tinha
mudado quase completamente de aspecto. O Rev.mo Senhor Padre
Pena tinha deixado de ser nosso Pároco e...
Não me detenho a descrever a aparição do dia 13 de Maio. É
de V. Ex.cia bem conhecida e, por isso, seria perdido o tempo que
nisto gastaria. É também bem conhecido de V. Ex.cia Rev.ma o modo
como minha mãe se informou do acontecimento e os esforços que
fez para me obrigar a dizer que...
Por este tempo, o Pároco da minha Freguesia soube do que
se passava e mandou dizer a minha (mãe) que me levasse a sua
casa. Esta sentia-se respirar, julgando que o Senhor Prior iria tomar a responsabilidade dos acontecimentos. Por isso, dizia-me:
– Amanhã vamos à Missa logo de manhãzinha....
Quanto esta reflexão me fez sofrer, só Nosso Senhor pode
saber, porque só Ele pode penetrar o nosso íntimo. Comecei, então, a duvidar se as manifestações seriam do Demónio que procurava, por esse meio, perder-me. E, como tinha ouvido dizer que o
Demónio trazia sempre a guerra e a desordem,...
Graças a nosso bom Deus, nesta aparição desvaneceram-se
as nuvens da minha alma e recuperei a paz. Minha pobre mãe
afligia-se cada vez mais, ao ver a quantidade de gente que ali vinha de todas as partes:
– Esta pobre gente – dizia ela – vem, com certeza, enganada
pelas vossas intrujices;...
Passados não muitos dias, meus tios e meus pais recebem
ordem das autoridades, para comparecer na Administração, no dia
seguinte, a tal hora marcada, com a Jacinta e o Francisco, meu tio
e, comigo, meu pai. A Administração é em Vila Nova de Ourém; e
por isso havia que andar umas três...
No seio da minha família havia ainda outro desgosto, de que
eu era a culpada, como diziam. A Cova de Iria era uma propriedade
pertencente a meus pais. No fundo, tinha um pouco de terreno
bastante fértil, no qual se cultivava bastante milho, legumes,
hortaliças, etc. Nas encostas, havia...
Parece-me que foi no decorrer deste mês (20) que aí apareceu o Senhor Dr. Formigão, pela primeira vez, para me fazer o seu
interrogatório. Interrogou-me séria e minuciosamente. Gostei muito dele, porque me falou muito da prática da virtude, ensinando-me
alguns modos de a praticar. Mostrou-me...
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Entretanto, amanhecia o dia 13 de Agosto. O povo chegava
de todos os sítios, desde a véspera. Todos queriam ver-nos,
interrogar-nos e fazer-nos os seus pedidos, para que os transmitissemos à Santíssima Virgem. Éramos, nas mãos daquela gente,
como uma bola nas mãos da rapaziada. Cada um nos...
Passados alguns dias, íamos com as nossas ovelhinhas por
um caminho, no qual encontrei um bocado duma corda dum carro.
Peguei nela e, brincando, atei-a a um braço. Não tardei a notar que
a corda me magoava. Disse, então, para meus primos:
– Olhem: isto faz doer. Podíamos atá-la à cinta e...
Assim se aproximou o dia 13 de Setembro. Em este dia, a
Santíssima Virgem, depois do que já tenho narrado, disse-nos:
– Deus está contente com os vossos sacrifícios, mas não quer
que durmais com a corda; trazei-a só durante o dia.
Escusado será dizer que obedecemos pontualmente às...
Uma vizinha lembrou-se um dia, não sei como, de dizer que
uns Senhores me tinham dado não me lembro que quantia de dinheiro. Minha mãe, sem mais, chamou-me e perguntou-me por
ele. Como eu Ihe dissesse que não (tinha) recebido, quis então
obrigar-me a entregar-lho e, para isso, serviu-se do...
Se me não engano, foi também no decurso deste mês que aí
apareceu um jovem (22) que, pela sua elevada estatura, me fez
tremer de medo. Quando vi entrar em casa, à minha procura, um
Senhor que teve que curvar-se para caber na entrada da porta,
julguei-me em presença dum alemão. E como, em...
Estamos, pois, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, em o dia 13 de
Outubro. Neste dia, já V. Ex.a
Rev.ma sabe tudo o que se passou
(23). Desta aparição, as palavras que mais se me gravaram no coração foi o pedido da Nossa Santíssima Mãe do Céu:
(23) Temos o precioso relatório do Pároco de...
Já disse a V. Ex.cia Rev.ma, no escrito sobre a minha prima,
como foram dois veneráveis Sacerdotes que nos falaram de Sua
Santidade e da necessidade que tinha de orações. Desde então,
não oferecemos a Deus oração ou sacrifício algum, em que não
dirigíssemos uma súplica por Sua Santidade....
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Que coisa, estou a escrever para aqui, sem rei nem roque,
como se costuma dizer; e já vou deixando para trás algumas coisas.
Mas estou fazendo como V. Ex.cia Rev.ma me disse: que escrevesse
à maneira que me fosse recordando, com toda a simplicidade.
Assim, pois, o quero fazer, sem me...
Por esta ocasião, o Senhor Prior começou também a preparar as crianças para uma comunhão solene. Como desde os 6 anos
que eu repetia a comunhão solene, minha mãe resolveu que este
ano não a faria. Por este motivo, não fui à explicação da doutrina.
Ao sair da escola, enquanto as demais...
A Jacinta e o Francisco poucas vezes tomavam parte em estes
mimos que o Céu nos enviava, porque seus pais não consentiam
que ninguém Ihes tocasse. Mas sofriam por me ver sofrer e não
poucas vezes as lágrimas Ihes banharam as faces, por me verem
aflita ou mortificada.
Um dia, a Jacinta...
Entretanto, o Governo não se conformava com os progressos dos acontecimentos. Tinham posto, no local das aparições,
uns paus, à maneira de arco, com umas lanternas que algumas
pessoas tinham o cuidado de conservar acesas. Mandaram, pois,
uma noite, alguns homens com um automóvel, para...
O Senhor devia comprazer-se em ver-me sofrer, pois me preparava agora um cálix bem mais amargo, que dentro em pouco me
dará a beber. Minha mãe cai gravemente enferma e a tal ponto
que, um dia, a julgámos agonizante. Foram, então, todos os seus
filhos junto da sua cama, para receber a sua...
Nosso bom Deus deu-me esta consolação, mas de novo me
batia à porta com outro sacrifício, nada mais pequeno. Meu pai era
um homem sadio, robusto, que dizia não saber que coisa era uma
dor de cabeça. E, em menos de 24 horas, quase de repente, uma
pneumonia dupla levava-o para a eternidade...
Por este tempo, a Jacinta e o Francisco começaram também
a piorar (33). A Jacinta dizia-me, às vezes:
– Sinto uma dor tão grande no peito! Mas não digo nada a
minha mãe; quero sofrer por Nosso Senhor, em reparação pelos
pecados cometidos contra o Imaculado Coração de Maria, pelo
Santo...
Várias pessoas que aí iam, de fora, ao verem-me com uma
cara amarelenta e meia anémica, pediam a minha mãe para me
deixar ir uns dias para suas casas, dizendo que a mudança de
ares me fazia bem. Com este intento, minha mãe dava o seu consentimento e lá me levavam, ora para umas partes, ora...
Por este tempo, V. Ex.cia Rev.ma entrava em Leiria (37) e o nosso
bom Deus confiava, aos seus cuidados, um pobre rebanho há largos anos sem Pastor. Não faltou quem julgasse assustar-me com
a chegada de V. Ex.cia Rev.ma, como já doutra vez tinham feito com
um venerável Sacerdote, dizendo que...
10. DESPEDIDA DE FÁTIMA
Marcou-se, por fim, o dia da partida. Na véspera, fui, pois, com
o coração esmagado de saudades, despedir-me de todos os nossos terrenos, bem certa de que era a última vez que os pisava: do
Cabeço, da Rocha, dos Valinhos, da Igreja Paroquial, onde o...
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Julgo, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, ter acabado de colher a
mais bela flor e o mais delicado fruto do meu pequenino jardim,
para agora o ir depor nas mãos misericordiosas do nosso bom
Deus, representado por V. Ex.cia Rev.ma, rogando-Lhe que o faça
frutificar numa abundante colheita de...
P.S. – Esqueci-me de dizer que a Jacinta, ao ir para os hospitais de Vila Nova de Ourém e Lisboa, sabia que não ia para se
curar, mas sim para sofrer. Muito antes de ninguém falar em ela
entrar no Hospital de Vila Nova de Ourém, ela disse, um dia:
– Nossa Senhora quer que eu vá para dois...
2. PODER ATRACTIVO DE LÚCIA
Poderá talvez parecer, neste escrito, que na minha terra não
encontrava amizade ou carinho em pessoa alguma. Não é assim.
Havia uma porçãozinha escolhida do redil do Senhor que mostrava por mim uma simpatia única: eram as criancinhas. Corriam...
Talvez que alguém queira perguntar: Como é que a Irmã se
lembra de tudo isto? Como é, não sei. O nosso bom Deus, que
reparte os Seus dons como Lhe apraz, repartiu comigo este bocadinho de memória; e, por isso, Ele só sabe como é. Ademais, entre
as coisas sobrenaturais e as naturais...
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As duas memórias anteriores, como vimos, tiveram, como motivo
ocasional, umas insinuações do Sr . Bispo de Leiria e do P. Fonseca.
Ainda desta vez, Lúcia não escreve por iniciativa própria. A ocasião
apresentou-se assim: O livro «Jacinta», de Maio a Outubro de 1938, tivera duas edições....
J. M. J.
Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Bispo
Em obediência à ordem que V. Ex.cia Rev.ma me dá, na carta de
26 de Julho (de) 1941, de pensar e apontar alguma coisa mais,
que da Jacinta me possa lembrar, pensei e pareceu-me que, por
essa ordem, Deus falava, e era chegado o...
O que é o segredo?
Parece-me que o posso dizer, pois que do Céu tenho já a licença. Os representantes de Deus na terra têm-me autorizado a
isso várias vezes e em várias cartas, uma das quais, julgo que
conserva V. Ex.cia Rev.ma, do Senhor Padre José Bernardo Gonçalves (2), na em que me...
Bem; o segredo consta de três coisas distintas, duas das quais
vou revelar (4).
A primeira foi, pois, a vista do inferno (5)!
Nossa Senhora mostrou-nos um grande mar de fogo que parecia estar debaixo da terra. Mergulhados em esse fogo, os demónios e as almas, como se fossem brasas...
Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Bispo: disse já a V.
Ex.cia Rev.ma, em os apontamentos que enviei depois de ler o livro
«Jacinta», que ela se impressionava muito com algumas coisas
reveladas no segredo. Realmente, assim era. A vista do inferno
tinha-a horrorizado a tal ponto, que...
Aqui, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, me vem à mente uma reflexão. Por vezes me têm perguntado se Nossa Senhora, em alguma
das aparições, nos indicou que classe de pecados ofendiam mais
a Deus, pois, segundo dizem, a Jacinta, em Lisboa, nomeou o da
carne (13). Talvez, penso eu agora, como era...
Bem, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, parece-me ter já manifestado a primeira parte do segredo.
A segunda refere-se à devoção do Imaculado Coração de Maria.
Já disse, no segundo escrito, que Nossa Senhora, a 13 de
Junho (de) 1917, me disse que nunca me deixaria e que Seu Imaculado Coração seria...
Um dia, fomos passar as horas da sesta para junto do poço de
meus pais. A Jacinta sentou-se nas lajes do poço; o Francisco,
comigo, foi procurar o mel silvestre nas silvas dum silvado duma
ribanceira que aí havia. Passado um pouco de tempo, a Jacinta
chama por mim:
– Não viste o Santo...
Um dia fui a sua casa, para estar um pouco com ela. Encontrei-a sentada na cama, muito pensativa.
– Jacinta, que estás a pensar?
– Na guerra que há-de vir. Há-de morrer tanta gente! E vai
quase toda para o inferno (16)! Hão-de ser arrasadas muitas casas
e mortos muitos Padres. Olha: eu...
Pode ser, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, que a alguém pareça
que eu devia ter manifestado todas estas coisas há mais tempo,
porque, a seu parecer, teriam, há alguns anos antes, dobrado valor
Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, que Deus quis apenas servir-se de mim
para recordar ao Mundo a...
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grande estímulo na sua vida.
Pouco tempo antes de ir para o hospital, dizia-me:
– Já me falta pouco para ir para o Céu. Tu ficas cá para dizeres que Deus quer estabelecer no Mundo a devoção do Imaculado
Coração de Maria. Quando for para dizeres isso, não te escondas.
Diz a toda a gente...
Eis, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, o mais que recordo da Jacinta
e que me parece ainda não disse. O sentido de tudo que digo é
exacto (23). Na maneira de me exprimir, não sei se trocarei alguma
palavra por outra, como, por exemplo: Quando falávamos de Nossa Senhora. Agora não recordo bem os...
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Também esta memória, a mais extensa de todas, tem origem ocasional, não por iniciativa da Lúcia, mas dos seus Superiores. No dia 7 de
Outubro de 1941 apresentam-se, em Valença do Minho, o Sr. Bispo e o
Dr. Galamba, bem apetrechados de interrogatórios. Ali se deslocou Lúcia. Recebem o escrito...
J. M. J.
Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo
Depois duma humilde prece aos pés do Sacrário e do Imaculado Coração de Maria, nossa tão querida Mãe do Céu, pedindo
a graça de não permitirem que escreva nem uma só letra que não
seja para a Sua glória, venho na paz e felicidade dos que têm...
Antes de começar, quis abrir o Novo Testamento, único livro
que quero ter aqui diante de mim, a um retirado canto do sótão, à
luz duma pobre telha de vidro, para onde me retiro, para escapar,
quanto me seja possível, às vistas humanas. De mesa, serve-me o
regaço; de cadeira, uma velha...
Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo
No dia 7-10-1941, perguntava-me, em Valença, Sua Rev.cia o
Senhor Dr. Galamba:
– A Irmã, quando disse que a penitência estava feita só em
parte, disse-o de si mesma ou foi-lhe revelado?
Parece-me, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, que, proveniente de
mim só, não...
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Vou, pois, começar, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, por escrever
o que o bom Deus me queira fazer lembrar do Francisco. Espero
que Nosso Senhor lhe faça conhecer, no Céu, o que a seu respeito
escrevo na terra, para que, junto de Jesus e Maria, interceda por
mim, em especial nestes dias.
A...
penedo, a tocar o seu pífaro ou
a cantar. Se a sua irmãzinha descia para comigo dar algumas corridas, ele lá ficava entretido com as suas músicas e cantos. O que
ele cantava com mais frequência era:
Coro
Amo a Deus no céu.
Amo (-O) também na terra.
Amo o campo, as flores.
Amo as...
Na aparição do Anjo, prostrou-se como sua irmã e eu, levado
por uma força sobrenatural que a isso nos movia; mas a oração
aprendeu-a ouvindo-nos repeti-la, pois, ao Anjo, dizia não ter ouvido nada.
Quando, depois, nos prostrávamos para rezar essa oração,
ele era o primeiro que se cansava...
4. INFLUÊNCIA DA PRIMEIRA APARIÇÃO DE NOSSA SENHORA
A aparição de Nossa Senhora veio de novo a concentrar-nos
no sobrenatural, mas mais suavemente: em vez daquele aniquilamento na Divina Presença, que prostrava, mesmo fisicamente,
deixou-nos uma paz e alegria expansiva que nos não...
Na segunda aparição, 13 de Junho (de) 1917, o Francisco
impressionou-se muito com a comunicação do reflexo que já disse
no segundo escrito que foi no momento em que Nossa Senhora
disse:
– O Meu Imaculado Coração será o teu refúgio e o caminho
que te conduzirá até Deus.
Ele parecia não...
No decorrer deste mês, aumentou consideravelmente a afluência de gente e, com ela, os contínuos interrogatórios e contradições.
O Francisco sofria bastante com isso e lamentava-se, dizendo para
a irmã:
– Que pena! Se tu te tivesses calado, ninguém o sabia. Se não
fosse por ser mentira,...
Na terceira aparição, o Francisco pareceu ser o que menos se
impressionou com a vista do inferno, embora Ihe causasse também uma sensação bastante grande.
O que mais o impressionava ou absorvia era Deus, a Santíssima Trindade, nessa luz imensa que nos penetrava no mais
íntimo da alma....
Já disse como ele passou o dia a chorar e a rezar, numa aflição talvez maior que a minha, quando meu pai foi intimado a
levar-me a Vila Nova de Ourém (6).
Na prisão, mostrou-se bastante animado e procurava animar
a Jacinta nas horas de mais saudade.
Quando rezámos o terço, na prisão, ele...
Quando, depois do dia 13 de Setembro, lhe disse que em
Outubro vinha também Nosso Senhor, ele mostrou grande alegria:
– Ai que bom! Só O vimos duas vezes ainda (7) e eu gosto
tanto d’Ele!
De vez em quando perguntava:
(7) Refere-se à aparição dos meses de Junho e Julho. Viram Nosso...
Entre minha casa e a de Francisco vivia meu padrinho Anastácio, casado com uma mulher de bastante idade, a quem o Senhor não tinha dado descendência. Lavradores bastante ricos, não
precisavam de trabalhar. Meu pai tomava-lhes conta da lavoura e
guiava-lhes por lá os jornaleiros. Agradecidos...
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Ao som do animado descante, foram-se juntando as vizinhas;
e, ao terminar, pediram uma nova repetição. Mas o Francisco
aproximou-se de mim e disse-me:
– Não cantemos mais isso. Nosso Senhor decerto agora não
gosta que cantemos essas coisas.
E lá nos escapámos como pudemos, por entre a...
O Francisco era de poucas palavras; e para fazer a sua oração e oferecer os seus sacrifícios, gostava de se ocultar até da
Jacinta e de mim. Não poucas vezes o íamos surpreender, de trás
duma parede ou dum silvado, para onde, dissimuladamente, se
tinha escapado, de joelhos, a rezar ou a...
Bem diferente é um facto que agora me está a lembrar. Andávamos, um dia, num sítio chamado a Pedreira e, enquanto as ovelhas pastavam, saltávamos de penedo em penedo, fazendo ecoar
a voz no fundo desses grandes barrancos. O Francisco, como era
seu costume, retirou-se lá para a concavidade dum...
Dos passarinhos gostava muito; não podia ver que lhes roubassem os ninhos. Migava sempre parte do pão que levava para a
merenda, no cimo das pedras, para que eles o comessem; e,
afastando-se, chamava por eles, como se o entendessem, e não
queria que ninguém se aproximasse, para não lhes...
Como já disse, minha tia vendeu o seu rebanho primeiro que
minha mãe. Desde aí, pela manhã, antes de sair, avisava a Jacinta
e o Francisco do lugar da pastagem para onde ia, e eles, logo que
se podiam escapar, lá iam ter.
Um dia, quando cheguei, já lá estavam à minha espera.
– Ah! Como...
Na doença, o Francisco mostrou-se sempre alegre e contente.
Às vezes, perguntava-lhe:
– Sofres muito, Francisco?
– Bastante; mas não importa. Sofro para consolar a Nosso
Senhor; e depois, daqui a pouco, vou para o Céu!
– Lá, não te esqueças de pedir a Nossa Senhora que me leve
para lá...
Já de noite, despedi-me dele.
– Francisco, adeus! Se fores para o Céu esta noite, não te
esqueças lá de mim, ouviste?
– Não te esqueço, não; fica descansada.
E agarrando-me a mão direita, apertou-ma com força, por um
bom bocado, olhando para mim com as lágrimas nos olhos.
– Queres...
Como o Senhor Dr. Galamba deseja os versos profanos, e já
escrevi alguns no decorrer da história do Francisco, antes de começar com outro assunto, vou pôr aqui mais alguns, para que Sua
Rev.cia possa escolher, se por acaso algum se puder aproveitar
para alguma coisa.
A Serrana
Serrana,...
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Agora, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, será a página mais custosa de quantas V. Ex.cia Rev.ma me tem mandado escrever. Depois
de V. Ex.cia Rev.ma, em particular, me ter mandado escrever as aparições do Anjo, com todos os seus detalhes e pormenores e, quanto me seja possível, até com os próprios...
Pelo que posso mais ou menos calcular, parece-me que foi
em 1915 que se deu essa primeira aparição do que julgo ser o
Anjo, que não ousou, por então, manifestar-se de todo. Pelo aspecto do tempo, penso que se deveram dar nos meses de Abril até
Outubro – 1915.
Na encosta do cabeço que fica...
Não sei porquê, as aparições de Nossa Senhora produziam
em nós efeitos bem diferentes. A mesma alegria íntima, a mesma
paz e felicidade, mas, em vez desse abatimento físico, uma certa
agilidade expansiva; em vez desse aniquilamento na Divina presença, um exultar de alegria; em vez dessa...
Dia 13 de Maio (de) 1917 – Andando a brincar com a Jacinta e
o Francisco, no cimo da encosta da Cova da Iria, a fazer uma
paredita em volta duma moita, vimos, de repente, como que um
relâmpago.
– É melhor irmos embora para casa, – disse a meus primos –
que estão a fazer relâmpagos; pode...
4. TREZE DE JUNHO
Dia 13 de Junho (de) 1917 – Depois de rezar o terço com a
Jacinta e o Francisco e mais pessoas que estavam presentes, vimos de novo o reflexo da luz que se aproximava (a que chamávamos relâmpago) e, em seguida, Nossa Senhora sobre a
carrasqueira, em tudo...
Dia 13 de Julho de 1917 – Momentos depois de termos
chegado à Cova de Iria, junto da carrasqueira, entre numerosa
multidão de povo, estando a rezar o terço, vimos o reflexo da
costumada luz e, em seguida, Nossa Senhora sobre a carrasqueira.
– Vossemecê que me quer? – perguntei.
– Quero...
Dia 13 de Agosto de 1917 – Como já está dito o que neste dia
se passou, não me detenho nisso e passo à aparição, a meu ver
no dia 15, ao cair da tarde (18). Como ainda então não sabia contar
os dias do mês, pode ser que seja eu a que esteja enganada; mas
conservo a ideia que foi no mesmo...
Dia 13 de Setembro de 1917 – Ao aproximar-se a hora, lá fui,
com a Jacinta e o Francisco, entre numerosas pessoas que a custo
nos deixavam andar. As estradas estavam apinhadas de gente.
Todos nos queriam ver e falar. Ali não havia respeito humano.
Numerosas pessoas, e até senhoras e...
Dia 13 de Outubro de 1917 – Saímos de casa bastante cedo,
contando com as demoras do caminho. O povo era em massa. A
chuva, torrencial. Minha mãe, temendo que fosse aquele o último
dia da minha vida, com o coração retalhado pela incerteza do que
iria acontecer, quis acompanhar-me. Pelo...
Eis, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, a história das aparições de
Nossa Senhora na Cova de Iria, em 1917. Sempre que por algum
motivo tinha que falar delas, procurava fazê-lo com as mínimas
palavras, na ambição de guardar, para mim só, essas partes mais
íntimas que tanto me custava...
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Pede-me ainda, o Senhor Dr. Galamba, para escrever alguma
graça mais que tenha sido alcançada por meio da Jacinta. Pensei
um pouco e lembro-me de duas apenas.
A primeira vez que a boa Senhora Emília, de quem falo no
segundo escrito sobre a Jacinta, me foi buscar, para me levar...
A outra era uma tia minha, casada na Fátima, de nome Vitória, que tinha um filho que era um verdadeiro pródigo. Não sei
porquê, havia tempo que tinha abandonado a casa paterna, sem
se saber que feito era dele. Aflita, minha tia veio um dia a Aljustrel,
para me pedir que pedisse a Nossa...
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É difFalta-me ainda responder a uma outra pergunta do Senhor Dr.
Galamba:
– Que sentiam as pessoas junto da Jacinta?
ícil a resposta, porque, de ordinário, eu não sei o que se
passa no interior dos outros; e por isso não conheço os seus sentimentos. Posso, pois, apenas dizer alguma coisa...
O que eu sentia era o que, de ordinário, se sente junto duma
pessoa santa que em tudo parece comunicar a Deus.
A Jacinta tinha um porte sempre sério, modesto e amável, que
parecia traduzir a presença de Deus em todos os seus actos, próprio de pessoas já avançadas em idade e de grande...
As pessoas grandes iam também visitá-la; mostravam admiração pelo seu porte, sempre igual, paciente, sem a menor queixa
ou exigência. Na posição em que a mãe a deixava, assim permanecia. Se Ihe perguntavam se estava melhor, respondia:
– Estou na mesma.
Ou,
– Parece que estou pior. Muito...
O Francisco era, também, neste ponto, um pouco diferente:
sempre a sorrir, sempre amável e condescendente, brincava com
todas as crianças indistintamente. Não repreendia a ninguém. Apenas, às vezes, se retirava, quando via alguma coisa que não estava bem. Se se Ihe perguntava por que se ia...
Parece-me, Ex.mo e Rev.mo Senhor Bispo, ter escrito tudo que,
por agora, V. Ex.cia Rev.ma me mandou. Até aqui, fiz quanto pude
para ocultar o que as aparições de Nossa Senhora, na Cova de
Iria, tinham de mais íntimo. Sempre que delas me vi obrigada a
falar, procurei tocar-lhe ao de leve,...
A parte mais bem guardada do «segredo» de Fátima, acompanhada
de um comentário adequado da Congregação para a Doutrina da Fé, foi
publicada em 26 de Junho de 2000. Com esta divulgação a Mensagem de
Fátima alcança uma actualidade e um valor extraordinários.
Transcrevemos aqui, na íntegra, o texto do referido documento
A parte mais bem guardada do «segredo» de Fátima, acompanhada
de um comentário adequado da Congregação para a Doutrina da Fé, foi
publicada em 26 de Junho de 2000. Com esta divulgação a Mensagem de
Fátima alcança uma actualidade e um valor extraordinários.
Transcrevemos aqui, na íntegra, o texto do referido documento
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Na passagem do segundo para o terceiro milénio, o Papa João
Paulo II decidiu tornar público o texto da terceira parte do «segredo
de Fátima».
Depois dos acontecimentos dramáticos e cruéis do século XX,
um dos mais tormentosos da história do homem, com o ponto culminante no cruento...
levar para o Céu (na primeira aparição) se assim não fosse, creio
que teríamos morrido de susto e pavor.
Em seguida, levantámos os olhos para Nossa Senhora quePrimeira e segunda parte do «Segredo» segundo a redacção feita pela
Irmã Lúcia na «Terceira Memória», de 31 de Agosto de 1941,...
«J.M.J.
A terceira parte do segredo revelado a 13 de Julho de 1917 na
Cova da Iria-Fátima.
Escrevo em acto de obediência a Vós Deus meu, que mo
mandais por meio de sua Ex.cia Rev.ma o Senhor Bispo de Leiria e
da Vossa e minha Santíssima Mãe.
Depois das duas partes que já expus, vimos...
CARTA DE JOÃO PAULO II
À IRMÃ LÚCIA
(texto original)
Reverenda Irmã
Maria Lúcia
Convento de Coimbra
Na exultância das festas pascais, apresento-lhe os votos de
Cristo Ressuscitado aos discípulos: “A paz esteja contigo!”
Terei a felicidade de poder encontrá-la no tão aguardado...
O encontro da Irmã Lúcia com Sua Ex.cia Rev.ma D. Tarcisio
Bertone, Secretário da Congregação para a Doutrina da Fé, por
encargo recebido do Santo Padre, e Sua Ex.cia Rev.ma D. Serafim
de Sousa Ferreira e Silva, Bispo de Leiria-Fátima, teve lugar a 27
de Abril passado (uma quinta-feira),...
No final da solene Concelebração Eucarística presidida por
João Paulo II em Fátima, o Cardeal Ângelo Sodano, Secretário de
Estado, pronunciou em português as palavras seguintes:
Irmãos e irmãs no Senhor!
No termo desta solene celebração, sinto o dever de apresentar
ao nosso amado Santo...
Quem lê com atenção o texto do chamado terceiro «segredo» de Fátima, que depois de longo tempo, por disposição do Santo
Padre, é aqui publicado integralmente, ficará presumivelmente
desiludido ou maravilhado depois de todas as especulações que
foram feitas. Não é revelado nenhum grande...
Tendo nós procurado, com estas reflexões, determinar o lugar
teológico das revelações privadas, devemos agora, ainda antes de
nos lançarmos numa interpretação da mensagem de Fátima,
esclarecer, embora brevemente, o seu carácter antropológico
(psicológico). A antropologia teológica...
A primeira e a segunda parte do «segredo» de Fátima foram
já discutidas tão amplamente por específicas publicações, que não
necessitam de ser ilustradas novamente aqui. Queria apenas
chamar brevemente a atenção para o ponto mais significativo. Os
pastorinhos experimentaram, durante um...