VIA SACRA DA MISERICÓRDIA

VIA SACRA DA MISERICÓRDIA
 
ORAÇÃO INICIAL 
Senhor Jesus, lemos no Evangelho de São Mateus que Vós, certo dia, questionado sobre o jejum dos fariseus e dos discípulos de João e a vossa decisão de não o impor aos vossos discípulos citastes Oseias para dizer:
Ide e aprendei o que significam estas palavras: Eu quero misericórdia e não o sacrifício (1).
Também eu quero aprender, o imenso particularmente neste ano, o imenso significado da misericórdia. Em nenhum livro ele está tão explicito como na meditação da vossa Via Sacra. 
Ajudai-me, Senhor, a abrir o coração às vossas palavras, atos e gestos para, cada vez mais, me parecer convosco que sois manso e humilde de coração (2).
 
1 (Os 6,6); 2 (Mt 11,29)
 
1.ª ESTAÇÃO
JESUS É JULGADO E CONDENADO À MORTE
V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 
R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Vejo-Vos sereno e imperturbável diante de uma multidão ululante que repente é réu de morte (1) enquanto Vos acusavam de crimes que não tínheis cometido.
Vejo uma multidão manipulada pelos vossos inimigos perante a débil autoridade de um fraco juiz que vacila entre a voz da consciência, os gritos da multidão e o medo de perder o cargo. 
Outrora também vos elegeram juiz e trouxeram à vossa presença uma mulher apanhada em flagrante delito de adultério para que Vós, fundamentado da lei de Moisés, a condenásseis. (2)
Mas o vosso julgamento foi desconsertante: quem estiver sem pecado atire a primeira pedra. 
E, quando já todos se tinham retirado quisestes que essa mulher experimentasse a alegria da misericórdia perguntando-lhe: ninguém te condenou?
E quando ela respondeu: "ninguém!" concluistes: também eu não te condeno. Vai e não voltes a pecar.
Senhor, nos julgamentos da minha vida ensinai-me a usar apenas a lei da misericórdia que é aquela que eu experimento todas as vezes que, arrependido, me aproximo do sacramento da reconciliação. 
Senhor Deus, misericórdia!
Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!
Pai-Nosso...
(1) (Mt 26, 66)    (2) (Jo 8, 1-11)
 
2.ª ESTAÇÃO
JESUS A CAMINHO DO CALVÁRIO 
V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 
R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Puseram-Vos, Senhor Jesus, uma Cruz às costas e indicaram-Vos um caminho de morte a que costumamos chamar caminho doloroso mas que é sobretudo um caminho de misericórdia.
Todos os vossos caminhos, após a encarnação, desde a visita à vossa tia Isabel até este momento, foram caminhos de misericórdia.
Quando pregastes, quando fizestes milagres, quando Vos sentastes fatigado pela viagem (1) andastes a manifestar a misericórdia e a tentar abrir os corações dos homens a essa mesma misericórdia. 
Poucos dias antes desta caminhada para o Calvário chorastes sobre a vossa cidade santa porque estendestes as asas da misericórdia para a acolher e ela não quis. (2)
Senhor Jesus, Deus de bondade e misericórdia, que eu esteja sempre atento aos vossos apelos de perdão e que, perdoando, aprenda convosco a fazer dos caminhos da minha vida caminhos de misericórdia e de perdão.
Senhor Deus, misericórdia!
Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!
Pai-Nosso...
(1) (Jo 4, 6)  (2) (Lc 19 41 ss. Mt 23, 37)
 
3.ª ESTAÇÃO
CAIDO NO CAMINHO
V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 
R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Senhor Jesus, há uma vossa parábola que é a maior lição de misericórdia. 
É aquela parábola do homem roubado e maltratado (1) e, como frisam algumas enunciações, colocado à margem do caminho, quase como lixo, para não incomodar os transeuntes
Homens religiosos, tidos como bons, passaram ao lado mas um samaritano socorreu-o generosamente
Vendo-Vos agora tombado no caminho do Calvário eu sinto que sofreis por todos os caidos e expoliados
Para mim que caio tantas vezes, para todos os caídos eu peço, Divino Samaritano, a vossa misericórdia.
Olhai para as minhas feridas, enfaixai-as com as ligaduras da vossa amizade, lançai sobre elas o azeite e o vinho da alegria do vosso perdão e levai-me para a estalagem do vosso infinito amor onde já pagaste superabundantemente o preço da minha cura com os sofrimentos da vossa Paixão particularmente nesta vossa primeira queda.
Senhor Deus, misericórdia!
Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!
Pai-Nosso...
 
4.ª ESTAÇÃO
O ENCONTRO DE MARIA COM JESUS
V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 
R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Normalmente os filhos parecem-se com as mães. 
Quando nos referimos a Maria, mãe de Jesus, acontece o contrário: é a mãe que se parece com o Filho.
O coração materno que adivinhou a falta de vinho em Caná tinha aprendido de Jesus a ver e a estar atenta como Ele estaria às lágrimas sofridas da viúva de Naim ou à falta de pão para a multidão no deserto.
Mais que a notícia que lhe podia ter chegado, foi este sexto sentido único, muito especial, que levou Maria, na manhã de sexta feira santa, a ser das primeiras a chegar junto do pretório de Pilatos.
Mas é sem razão que a Igreja nos ensina na Salvé Rainha a saudar Maria como Mãe de Misericórdia pedindo-lhe que ela volva para nós os seus olhos misericordiosos.
Este encontro da Mãe com o Filho condenado, logo no início da Via Sacra, vem recordar-nos o encontro que Ela teve no templo com o santo velho Simeão quando da apresentação do Menino ao Senhor. 
Ele é o claro cumprimento da profecia que esse santo ancião fez: uma espada de dor trespassará o teu coração. (1)
O povo cristão para significar a imensa dor de Maria não se contentou, no seu imaginário, com uma só espada mas representa-a com sete, a maior dor humana. 
Nalguma dessas espadas eu estou com a minha ingratidão, o meu desmazelo, a minha apatia, a minha tibieza ou omissão.
Senhora das dores, Senhora das sete espadas, Mãe de Misericórdia obrigado pela vossa dor redentora, esses olhos misericordiosos a nós volvei e, depois deste desterro, mostrai-nos Jesus.
Senhor Deus, misericórdia!
Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!
Pai-Nosso...
(1) (Lc 2, 35)
 
5.ª ESTAÇÃO
SIMÃO DE CIRENE AJUDA JESUS A LEVAR A CRUZ
V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 
R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Há dias não na nossa vida.
São os dias dos contratempos, dos negócios ruinosos, dos encontros com a dor. 
Naquela sexta feira Simão de Cirene regressava do campo.
Aparentemente vinha em dia não, com azar, em contramão, porque se encontrou com um cortejo de condenados. 
Teria até pensado, como nós pensamos tantas vezes, que estava no caminho errado... na hora errada... 
Obrigaram-no a levar  a cruz de um condenado, o mais débil e maltratado de três.
Ele, que vinha do campo, cansado, a pensar no repouso, foi confrontado com uma tarefa extra e não remunerada.
Contra a vontade, foi levando a cruz, talvez amaldiçoando a sorte até porque aquele homem, esgotado pelo sofrimento caminhava lentamente, como um ébrio, obrigando-o a suster o ritmo dos seus passos vigorosos.
Mas foi nessa passada lenta que ele encontrou ocasião para refletir e reparar na serenidade genuína daquele Condenado que, sem dizer palavra, abriu o seu coração à misericórdia:
porquê tanto ódio e violência contra um homem pacífico e indefeso levado como manso cordeiro ao matadouro? (1)
Simão aceitou contrariado  a cruz de Jesus mas ao chegar ao Calvário já era seu discípulo
Senhor, que sempre recompensais a pequena ação, mesmo um copo de água dado em vosso nome (2) dai-me a graça de ser vosso cireneu ao serviço de todos os que precisam. 
Senhor Deus, misericórdia!
Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!
Pai-Nosso...
(1) (At 8,32)    (2) (Mt 10,42)
 
6.ª ESTAÇÃO
VERÓNICA ENXUGA O ROSTO DE JESUS
V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 
R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Senhor Jesus, entre os que assistiam à Vossa caminhada para o Calvário diz a tradição que estava uma mulher, Verónica.
Não se diz se era solteira, casada ou viúva, sabemos, sim, que tinha um coração de mãe.
Ao contemplar-Vos ensanguentado e sujo pelo pó, ela não se conteve, rompeu a barreira, e, com um pano, limpou o sangue, o suor e o pó do vosso rosto.
Talvez o seu nome verdadeiro nem seja Verónica mas, desde aquele dia, adquiriu apelido a partir de Vós quando viu o vosso rosto impresso nesse pano porque Verónica quer dizer "imagem verdadeira".
Esta mulher representa o encontro da misericórdia humana com a misericórdia divina de Jesus Salvador.
Cuidar da pessoa humana, limpá-la daquilo que a desfeia ou deforma continua a ser uma obra de misericórdia de muitas Verónicas que ladeiam o caminho doloroso das nossas vidas.
Fazei, Senhor, que eu saiba apreciar e agradecer o coração maternal das muitas Verónicas que povoam os caminhos deste Calvário do mundo e que, fundamentado na vossa palavra e neste exemplo, acredite na verdade da bem aventurança que nos deixastes:
bem aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia (1)
Senhor Deus, misericórdia!
Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!
Pai-Nosso...
(1)  (Mt 5, 7)
 
7.ª ESTAÇÃO
JESUS CAI PELA SEGUNDA VEZ
V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 
R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Mais perto do Calvário e cada vez mais extenuado, Jesus caiu pela segunda vez.
Estou mesmo a escutar a voz de algum soldado, ali ao lado, a dizer:
Outra vez? Caido por terra novamente?!
Esta é a nossa reação espontânea diante da queda dos outros. Não entendemos a debilidade do próximo.
Pedro julgava-se generoso arriscando o perdão até sete vezes mas Vós ensinaste-lhe que era preciso perdoar até setenta vezes sete, isto é, sempre. (1)
Se o justo cai sete vezes ao dia, nós, que não somos justos, quantas vezes cairemos ao longo da caminhada da nossa vida?
Senhor Jesus, Vós que sois rico em misericórdia e perdão, e tendes sempre os braços abertos para acolher o filho pródigo que, após os desmandos, Vos procura com fome, e corrigis a frieza do filho mais velho que Vos serve sem amor dai-me um coração misericordioso semelhante ao vosso. 
Os evangelistas não dizem se nas vossas quedas, Senhor Jesus, alguém, com compaixão, Vos ajudou a levantar-Vos. O contexto da narração parece dizer que não.
O mesmo acontece ainda hoje: não falta quem empurre mas são tão poucos os que dão a mão ao seu semelhante para o ajudar a erguer-se após a primeira, segunda ou terceira queda. Em vez disso, talvez haja a vingançazita fácil do coração mesquinho a quizer: "foi bem feito", é "para aprender".
Senhor Jesus, nesta estação da via sacra quero lembra o vosso
Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e achareis repouso para as vossas almas (2)
Senhor Deus, misericórdia!
Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!
Pai-Nosso...
(1) (Mt 18, 21-22)  (2) (Mt 11,29)
 
8.ª ESTAÇÃO
PIEDOSAS MULHERES CHORAM POR JESUS
V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 
R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Não houve só inimigos e indiferentes, Senhor Jesus,  a ladear o vosso caminho quando subíeis para o Calvário. 
Houve também uma Verónica, houve piedosas mulheres que batiam no peito e lamentavam a vossa sorte, 
mostrando com a sua atitude que estavam do vosso lado
e praticavam, a seu modo, essa obra de misericórdia que é consolar os que sofrem.
Aceitando as suas lágrimas, Vós quisestes aprofundar o seu sentido de misericórdia
mais que lamentos e bater no peito é preciso procurar a razão que gera o sofrimento.
Quando Vós, Senhor Jesus, chorastes sobre Jerusalém, explicastes a razão das suas lágrimas:
a cidade não tinha conhecido o que lhe podia trazer a paz (1)
Agora também quisestes que essas piedosas mulheres descobrissem a verdadeira razão dessas lágrimas: chorai sobre vós mesmas e sobre os vossos filhos (2)
Este mundo está cheio de lágrimas e de lamentações estéreis.
Ajudai-nos, Senhor, a renová-lo com obras de misericórdia.
Senhor Deus, misericórdia!
Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!
Pai-Nosso...
(1) (Lc 19,42)  (2) (Lc 23,28)
 
9.ª ESTAÇÃO
TERCEIRA QUEDA DE JESUS
V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 
R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Senhor Jesus, quase sem querer, ligamos esta terceira queda no caminho do Calvário à tríplice negação de Pedro na casa de Caifás, aonde ele foi por coriosidade, seguindo-Vos de longe (1)
Há quedas na nossa vida que são provocadas pela dureza do caminho, 
pelos maus tratos que sofremos, pelos empurrões que nos dão...
Mas há outras que são provocadas pela vergonha, pelo receio de sermos conotados com certa ideologia, pela demasiada confiança que depomos em nós mesmos.
Vós, no caminho do Calvário, levantaste-Vos aos gritos dos soldados.
Pedro que tentou acompanhar-Vos na via sacra também caiu três vezes mas para se levantar não precisou de nenhuma palavra. Bastou o vosso olhar. (2)
Cada queda na minha vida pode ser uma chamada a despertar-me como a Samuel.
Que eu tenha a coragem de perguntar: estais a chamar por mim? (3) ou então: falai, Senhor que o vosso servo escuta. (4)
Às três quedas da negação de Pedro respondestes com um tríplice ato de misericórdia: Pedro amas-me? (5)
Como Pedro também eu sinto vontade de chorar perante a vossa teimosia em perdoar. 
Senhor Jesus, continuai a chamar-me e "a misericordiar-me" como diz o Papa Francisco.
Senhor Deus, misericórdia!
Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!
Pai-Nosso...
(1)  (Mc 14,54)   (2) (Lc 22,61)    (3) (1 Sam 3,5)    (4) (1 Sam 3,10)    (5) (Jo 21, 15 e ss)
 
10.ª ESTAÇÃO
JESUS É DESPOJADO DAS SUAS VESTES
V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 
R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Senhor Jesus, as vossas obras de misericórdia mandam vestir os nus.
As obras de vingança e do ódio mandam exatamente o contrário.
Foi o que fizeram convosco quando chegastes ao Calvário.
Tiraram-Vos as vestes e lançaram sortes sobre elas.
A roupa faz parte do jogo da importância que jogamos no "grande teatro do mundo."
Ela serve, por vezes, para tentar cobrir a nudez do coração e branquear as injustiças que se cometem.
No dizer de um grande santo a roupa que sobra nos nossos armários (a casa que habitamos ou o carro que utilizamos) é uma acusação contra nós. 
quando é fruto da exploração do suor do pobre.
No pretório, Pilatos apresento-Vos à multidão, depois de maltratado e coroado de espinhos, com estas palavras: Eis o homem!
Também aqui alguém Vos poderia apresentar com as mesmas palavras: eis o que é o homem...
eis o que o homem faz quando está nu e se esconde com medo de ouvir os passos de Deus... (1)
Senhor Jesus, Deus de perdão e de misericórdia, ensinai-me a dar o autêntico valor àquilo que é acidental na minha vida:
Não vos preocupeis pela vossa vida, pelo que comereis, nem pelo vosso corpo com o que vestireis (2)
Senhor Deus, misericórdia!
Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!
Pai-Nosso...
(1) (Gen 3, 11-12)   (2) (Mt 6,25)
 
11.ª ESTAÇÃO
JESUS É PREGADO NA CRUZ
V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 
R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Cravaram-Vos, Senhor, numa Cruz 
como quem Vos queria reduzir para sempre à inatividade.
Mas foi na cruz que Vós coroastes, em gestos e palavras, a vossa grande missão de misericórida.
Braços eternamente abertos a repetir aquele:
Eis-me, ó Pai, venho fazer a vossa vontade. (1)
Mãos abertas para derramar as vossas graças sobre os que estão com febre, os leprosos e os já mortos.
Lábios que se abrem para proclamar o perdão: 
Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem! (2)
e para realizar esse imenso gesto de amor
dando-nos em testamento a vossa própria mãe:
"Eis aí a tua Mãe!" (3)
Peito aberto pela lança do soldado para sentirmos que no vosso coração 
cabem todas as nossas angústias e insatisfações.
Sangue e água manando que me fazem rezar:
Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade
e conforme a imensidade da vossa misericórdia, apagai a minha iniquidade. (4)
Senhor Jesus, cravado por mim nessa cruz, 
que eu tantas vezes venero em imagens 
e até ostento nos meus objetos de adorno,
fazei que eu seja uma vida imagem vossa.
Que possa repetir, com toda a verdade, como o Apóstolo:
de nada me glorio a não ser na vossa cruz pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. (5)
Senhor Deus, misericórdia!
Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!
Pai-Nosso...
(1) (Heb 10,9)  (2) (Lc 23,34)   (3) (Jo 19,27)  (4) (Sl 50,3)   (5) (Gal 6,14)
 
12.ª ESTAÇÃO
JESUS MORRE NA CRUZ
V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 
R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Senhor Jesus, 
Depois de Vos terem crucificado, os soldados levantaram a cruz e, terminada a tarefa, 
sentaram-se lançando sortes sobre as vossas vestes, 
Indiferentes ao vosso sofrimento, às palavras que pronunciastes
e aos comentários de todos os que por ali passavam
e Vos injuriavam com provocações estultas.
Uma só coisa lhes interessava: o jogo das vossas vestes.
Que impressionante lição:
podemos estar perto de Jesus sofredor
e não atender às suas palavras nem às dos irmãos.
Mas alguém escutou a vossa queixa "Tenho sede" (1)
e molhou-Vos os lábios com uma esponja embebida em vinagre para Vos minorar o sofrimento.
Dar de beber a quem tem sede é uma obra de misericórdia. 
Mas a vossa sede, Jesus, não era apenas física.
Era aquela misteriosa sede manifestada à samaritana, 
junto ao poço de Jacob, quando lhe pedistes: dá-me de beber.
Convinha, Senhor, que as vossas últimas palavras
ficassem marcadas por este perpétuo "tenho sede"
para nos lembrarmos que devemos responder à vossa imensa misericórdia 
com as nossas pequeninas obras de misericórdia.
Por fim, destes um grande brado: Tudo está consumado. (2)
E, inclinando a cabeça, entregastes o espírito.
A obra da redenção que o Pai Vos tinha confiado 
estava completa. Perfeitamente completa.
Tinheis sido tentado como sonhos de ter, poder e exibição.
Até alguns dos vossos não concordavam 
com o caminho que lhes anunciáveis
dizendo "tal não há-de acontecer" (3)
Tudo rejeitastes porque a misericórdia 
foi imensamente maior que os cálculos humanos.
Que eu aprenda, Senhor, a levar com valentia a cruz da vida até ao "tudo está consumado"
sempre confiando na vossa misericórdia para as minhas faltas.
Senhor Deus, misericórdia!
Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!
Pai-Nosso...
(1) (Jo 19,28)    (2) (Jo 19,30)
 
13.ª ESTAÇÃO
JESUS DESCIDO DA CRUZ É DEPOSTO NOS BRAÇOS DE MARIA
V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 
R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Depois de ter sido confirmada a vossa morte, 
José de Arimateia, Nicodemos, João e mais algum amigo
desceram o vosso corpo da cruz e, diz a tradição, 
depuseram-no nos braços de Maria, vossa Mãe.
Voltastes, Senhor, a ser posto novamente no colo da Mãe 
como na noite de Natal
E foi de facto Natal porque no Calvário nasceu um mundo novo. 
A nossa redenção, Jesus, não se compreende sem Maria.
Por isso, lhe damos o título de corredentora
Vejo-a, cheia de ternura, contemplando o vosso rosto desfigurado,
beijando as vossas mãos trespassadas, 
acarinhando as chagas do vosso corpo, 
sem qualquer histerismo de dor ou palavra de vingança.
Ela que tudo tinha guardado no seu coração
relembrava, no silêncio do Calvário, 
que a professia do velho Simeão
se tinha cumprido inteiramente na sua vida:
na tragédia da matança dos inocentes de Belém,
na fuga para o Egipto, na perda do Menino no templo.
na incompreenção de parentes e conterrâneos 
no ódio de tantos a quem Ele incomodava
com a sua mensagem de amor, de verdade e de paz.
Virgem dolorosa, Mãe de misericórdia
ensinai-nos a atravessar o pântano deste vale de lágrimas
conferindo tudo com a mensagem do Evangelho...
E depois deste desterro, apresentai-nos a Jesus
ó clemente, ó piedosa, ó sempre Virgem Maria!
Senhor Deus, misericórdia!
Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!
Pai-Nosso...
 
14.ª ESTAÇÃO
A SEPULTURA DE JESUS
V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 
R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Todos aprendemos no Catecismo 
que sepultar os mortos é uma obra de misericórdia.
Aque sepultar não significa apenas o enterramento
mas tudo o que se refere ao acompanhamento na dor
das pessoas enlutadas pelo falecimento de um ente querido
ajudando-as a olhar para o alto e a dar sentido às suas lágrimas
como aqueles que têm esperança. (1)
Do servo de Deus Tobit se diz que
alimentava os famintos, vestia os nus e sepultava os mortos
e isso valeu-lhe, após um tempo de provação,
a presença do Arcanjo Rafael, a devolução do empréstimo,
o casamento do filho e a cura da cegueira.
No calvário, Senhor Jesus, no meio de tanto ódio, 
houve um homem que não só cuidou da vossa sepultura
mas até, num gesto de profunda amizade, 
Vos cedeu o próprio sepulcro.
Em Belém não houve lugar para Vós na estalagem.
No Calvário, no meio do desprezo a que Vos votaram
um home, José de Arimateia, ofereceu-Vos o sepulcro.
Já muito tinha mudado o mundo, Senhor Jesus,
com as vossas palavras e gestos de compaixão.
Um dia, quando iéis a entrar na cidade de Naím
encontraste-Vos com o funeral de um jovem, 
filho único de uma senhora viúva
e essa cena tocou o vosso coração misericordioso.
Agora o Filho Único de uma Senhora viúva éreis Vós
é só um reduzido grupo de amigos sentia a dor da vossa Mãe
enquanto Vos acompanhava ao sepulcro.
À distância, alguns olhavam indiferentes para esse enterro
enquanto outros exaltavam por terem consumado a vingança.
Nessa tarde de misericórdia e perdão,
o mundo do nosso tempo, o mundo de todos os tempos,
estava em miniatura no Calvário.
Senhor Deus, misericórdia!
Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!
Pai-Nosso...
(1) (1Tes 4,13)
 
15.ª ESTAÇÃO
A RESSURREIÇÃO DE JESUS
V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 
R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.
Senhor Jesus, 
quando afirmastes que ao terceiro dia ressuscitarieis 
os discipulos viram nas vossas palavras um enigma
que não podiam compreender (1)
e perguntavam-se que seria isso de ressuscitar dos mortos? (2)
Vós tinheis dito que éreis o Caminho, a Verdade e a Vida (3)
não podíeis ficar encerrado num túmulo
e permanecer entre nós como vaga lembrança
de personagem ilustre que pisou o palco do mundo.
Morto e ressuscitado, estais mais perto de nós que nunca
e demostrastes essa proximidade ao longo de quarenta dias
numa catequese viva de sinais e situações:
consolando as lágrimas choradas sobre o vosso túmulo,
entrando em casas fechadas com medo dos inimigos, 
fazendo-Vos companheiro de viagem de dicípulos sem esperança,
assumindo o papel de orientador de pesca e cozinheiro (4)
perdoando a auto-suficiência de Tomé,
alongando, através dos séculos, a vossa misericórdia
e sobretudo dando-nos a certeza da vossa presença
na solene afirmação: estarei convosco, todos os dias
até ao fim do mundo (5)
Ao fim desta Via Sacra, repito com S. Bernardo:
O meu mérito está na misericórdia do Senhor 
Nunca serei pobre de méritos
enquanto Ele for rico de misericórdia.
Se são abundantes as misericórdias do Senhor, 
também são muitos os meus méritos:
e se tenho consciência de muitos pecados,
onde abundou o pecado
superabundou a graça.
 
Bom Jesus de misericórdia: Obrigado! Muito Obrigado!
 
Pelas intenções do Santo Padre: Pai Nosso, Avé-Maria, Glória
 
(1) (Lc 18,34)   (2) (Mc 9,10)   (3) (Jo 14,6)    (4) (Jo 21, 1, 13)    (5) (Mt 28,209)

 

ORAÇÃO INICIAL 

Senhor Jesus, lemos no Evangelho de São Mateus que Vós, certo dia, questionado sobre o jejum dos fariseus e dos discípulos de João e a vossa decisão de não o impor aos vossos discípulos citastes Oseias para dizer:

Ide e aprendei o que significam estas palavras: Eu quero misericórdia e não o sacrifício (1).

Também eu quero aprender, o imenso particularmente neste ano, o imenso significado da misericórdia. Em nenhum livro ele está tão explicito como na meditação da vossa Via Sacra. 

Ajudai-me, Senhor, a abrir o coração às vossas palavras, atos e gestos para, cada vez mais, me parecer convosco que sois manso e humilde de coração (2).

 

1 (Os 6,6); 2 (Mt 11,29)

 

1.ª ESTAÇÃO

JESUS É JULGADO E CONDENADO À MORTE

V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 

R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Vejo-Vos sereno e imperturbável diante de uma multidão ululante que repente é réu de morte (1) enquanto Vos acusavam de crimes que não tínheis cometido.

Vejo uma multidão manipulada pelos vossos inimigos perante a débil autoridade de um fraco juiz que vacila entre a voz da consciência, os gritos da multidão e o medo de perder o cargo. 

Outrora também vos elegeram juiz e trouxeram à vossa presença uma mulher apanhada em flagrante delito de adultério para que Vós, fundamentado da lei de Moisés, a condenásseis. (2)

Mas o vosso julgamento foi desconsertante: quem estiver sem pecado atire a primeira pedra. 

E, quando já todos se tinham retirado quisestes que essa mulher experimentasse a alegria da misericórdia perguntando-lhe: ninguém te condenou?

E quando ela respondeu: "ninguém!" concluistes: também eu não te condeno. Vai e não voltes a pecar.

Senhor, nos julgamentos da minha vida ensinai-me a usar apenas a lei da misericórdia que é aquela que eu experimento todas as vezes que, arrependido, me aproximo do sacramento da reconciliação. 

Senhor Deus, misericórdia!

Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!

Pai-Nosso...

(1) (Mt 26, 66)    (2) (Jo 8, 1-11)

 

2.ª ESTAÇÃO

JESUS A CAMINHO DO CALVÁRIO 

V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 

R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Puseram-Vos, Senhor Jesus, uma Cruz às costas e indicaram-Vos um caminho de morte a que costumamos chamar caminho doloroso mas que é sobretudo um caminho de misericórdia.

Todos os vossos caminhos, após a encarnação, desde a visita à vossa tia Isabel até este momento, foram caminhos de misericórdia.

Quando pregastes, quando fizestes milagres, quando Vos sentastes fatigado pela viagem (1) andastes a manifestar a misericórdia e a tentar abrir os corações dos homens a essa mesma misericórdia. 

Poucos dias antes desta caminhada para o Calvário chorastes sobre a vossa cidade santa porque estendestes as asas da misericórdia para a acolher e ela não quis. (2)

Senhor Jesus, Deus de bondade e misericórdia, que eu esteja sempre atento aos vossos apelos de perdão e que, perdoando, aprenda convosco a fazer dos caminhos da minha vida caminhos de misericórdia e de perdão.

Senhor Deus, misericórdia!

Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!

Pai-Nosso...

(1) (Jo 4, 6)  (2) (Lc 19 41 ss. Mt 23, 37)

 

3.ª ESTAÇÃO

CAIDO NO CAMINHO

V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 

R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Senhor Jesus, há uma vossa parábola que é a maior lição de misericórdia. 

É aquela parábola do homem roubado e maltratado (1) e, como frisam algumas enunciações, colocado à margem do caminho, quase como lixo, para não incomodar os transeuntes

Homens religiosos, tidos como bons, passaram ao lado mas um samaritano socorreu-o generosamente

Vendo-Vos agora tombado no caminho do Calvário eu sinto que sofreis por todos os caidos e expoliados

Para mim que caio tantas vezes, para todos os caídos eu peço, Divino Samaritano, a vossa misericórdia.

Olhai para as minhas feridas, enfaixai-as com as ligaduras da vossa amizade, lançai sobre elas o azeite e o vinho da alegria do vosso perdão e levai-me para a estalagem do vosso infinito amor onde já pagaste superabundantemente o preço da minha cura com os sofrimentos da vossa Paixão particularmente nesta vossa primeira queda.

Senhor Deus, misericórdia!

Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!

Pai-Nosso...

 

4.ª ESTAÇÃO

O ENCONTRO DE MARIA COM JESUS

V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 

R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Normalmente os filhos parecem-se com as mães. 

Quando nos referimos a Maria, mãe de Jesus, acontece o contrário: é a mãe que se parece com o Filho.

O coração materno que adivinhou a falta de vinho em Caná tinha aprendido de Jesus a ver e a estar atenta como Ele estaria às lágrimas sofridas da viúva de Naim ou à falta de pão para a multidão no deserto.

Mais que a notícia que lhe podia ter chegado, foi este sexto sentido único, muito especial, que levou Maria, na manhã de sexta feira santa, a ser das primeiras a chegar junto do pretório de Pilatos.

Mas é sem razão que a Igreja nos ensina na Salvé Rainha a saudar Maria como Mãe de Misericórdia pedindo-lhe que ela volva para nós os seus olhos misericordiosos.

Este encontro da Mãe com o Filho condenado, logo no início da Via Sacra, vem recordar-nos o encontro que Ela teve no templo com o santo velho Simeão quando da apresentação do Menino ao Senhor. 

Ele é o claro cumprimento da profecia que esse santo ancião fez: uma espada de dor trespassará o teu coração. (1)

O povo cristão para significar a imensa dor de Maria não se contentou, no seu imaginário, com uma só espada mas representa-a com sete, a maior dor humana. 

Nalguma dessas espadas eu estou com a minha ingratidão, o meu desmazelo, a minha apatia, a minha tibieza ou omissão.

Senhora das dores, Senhora das sete espadas, Mãe de Misericórdia obrigado pela vossa dor redentora, esses olhos misericordiosos a nós volvei e, depois deste desterro, mostrai-nos Jesus.

Senhor Deus, misericórdia!

Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!

Pai-Nosso...

(1) (Lc 2, 35)

 

5.ª ESTAÇÃO

SIMÃO DE CIRENE AJUDA JESUS A LEVAR A CRUZ

V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 

R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Há dias não na nossa vida.

São os dias dos contratempos, dos negócios ruinosos, dos encontros com a dor. 

Naquela sexta feira Simão de Cirene regressava do campo.

Aparentemente vinha em dia não, com azar, em contramão, porque se encontrou com um cortejo de condenados. 

Teria até pensado, como nós pensamos tantas vezes, que estava no caminho errado... na hora errada... 

Obrigaram-no a levar  a cruz de um condenado, o mais débil e maltratado de três.

Ele, que vinha do campo, cansado, a pensar no repouso, foi confrontado com uma tarefa extra e não remunerada.

Contra a vontade, foi levando a cruz, talvez amaldiçoando a sorte até porque aquele homem, esgotado pelo sofrimento caminhava lentamente, como um ébrio, obrigando-o a suster o ritmo dos seus passos vigorosos.

Mas foi nessa passada lenta que ele encontrou ocasião para refletir e reparar na serenidade genuína daquele Condenado que, sem dizer palavra, abriu o seu coração à misericórdia:

porquê tanto ódio e violência contra um homem pacífico e indefeso levado como manso cordeiro ao matadouro? (1)

Simão aceitou contrariado  a cruz de Jesus mas ao chegar ao Calvário já era seu discípulo

Senhor, que sempre recompensais a pequena ação, mesmo um copo de água dado em vosso nome (2) dai-me a graça de ser vosso cireneu ao serviço de todos os que precisam. 

Senhor Deus, misericórdia!

Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!

Pai-Nosso...

(1) (At 8,32)    (2) (Mt 10,42)

 

6.ª ESTAÇÃO

VERÓNICA ENXUGA O ROSTO DE JESUS

 

V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 

R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Senhor Jesus, entre os que assistiam à Vossa caminhada para o Calvário diz a tradição que estava uma mulher, Verónica.

Não se diz se era solteira, casada ou viúva, sabemos, sim, que tinha um coração de mãe.

Ao contemplar-Vos ensanguentado e sujo pelo pó, ela não se conteve, rompeu a barreira, e, com um pano, limpou o sangue, o suor e o pó do vosso rosto.

Talvez o seu nome verdadeiro nem seja Verónica mas, desde aquele dia, adquiriu apelido a partir de Vós quando viu o vosso rosto impresso nesse pano porque Verónica quer dizer "imagem verdadeira".

Esta mulher representa o encontro da misericórdia humana com a misericórdia divina de Jesus Salvador.

Cuidar da pessoa humana, limpá-la daquilo que a desfeia ou deforma continua a ser uma obra de misericórdia de muitas Verónicas que ladeiam o caminho doloroso das nossas vidas.

Fazei, Senhor, que eu saiba apreciar e agradecer o coração maternal das muitas Verónicas que povoam os caminhos deste Calvário do mundo e que, fundamentado na vossa palavra e neste exemplo, acredite na verdade da bem aventurança que nos deixastes:

bem aventurados os misericordiosos porque alcançarão misericórdia (1)

Senhor Deus, misericórdia!

Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!

Pai-Nosso...

(1)  (Mt 5, 7)

 

7.ª ESTAÇÃO

JESUS CAI PELA SEGUNDA VEZ

V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 

R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Mais perto do Calvário e cada vez mais extenuado, Jesus caiu pela segunda vez.

Estou mesmo a escutar a voz de algum soldado, ali ao lado, a dizer:

Outra vez? Caido por terra novamente?!

Esta é a nossa reação espontânea diante da queda dos outros. Não entendemos a debilidade do próximo.

Pedro julgava-se generoso arriscando o perdão até sete vezes mas Vós ensinaste-lhe que era preciso perdoar até setenta vezes sete, isto é, sempre. (1)

Se o justo cai sete vezes ao dia, nós, que não somos justos, quantas vezes cairemos ao longo da caminhada da nossa vida?

Senhor Jesus, Vós que sois rico em misericórdia e perdão, e tendes sempre os braços abertos para acolher o filho pródigo que, após os desmandos, Vos procura com fome, e corrigis a frieza do filho mais velho que Vos serve sem amor dai-me um coração misericordioso semelhante ao vosso. 

Os evangelistas não dizem se nas vossas quedas, Senhor Jesus, alguém, com compaixão, Vos ajudou a levantar-Vos. O contexto da narração parece dizer que não.

O mesmo acontece ainda hoje: não falta quem empurre mas são tão poucos os que dão a mão ao seu semelhante para o ajudar a erguer-se após a primeira, segunda ou terceira queda. Em vez disso, talvez haja a vingançazita fácil do coração mesquinho a quizer: "foi bem feito", é "para aprender".

Senhor Jesus, nesta estação da via sacra quero lembra o vosso

Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração e achareis repouso para as vossas almas (2)

Senhor Deus, misericórdia!

Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!

Pai-Nosso...

(1) (Mt 18, 21-22)  (2) (Mt 11,29)

 

8.ª ESTAÇÃO

PIEDOSAS MULHERES CHORAM POR JESUS

S

V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 

R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Não houve só inimigos e indiferentes, Senhor Jesus,  a ladear o vosso caminho quando subíeis para o Calvário. 

Houve também uma Verónica, houve piedosas mulheres que batiam no peito e lamentavam a vossa sorte, 

mostrando com a sua atitude que estavam do vosso lado

e praticavam, a seu modo, essa obra de misericórdia que é consolar os que sofrem.

Aceitando as suas lágrimas, Vós quisestes aprofundar o seu sentido de misericórdia

mais que lamentos e bater no peito é preciso procurar a razão que gera o sofrimento.

Quando Vós, Senhor Jesus, chorastes sobre Jerusalém, explicastes a razão das suas lágrimas:

a cidade não tinha conhecido o que lhe podia trazer a paz (1)

Agora também quisestes que essas piedosas mulheres descobrissem a verdadeira razão dessas lágrimas: chorai sobre vós mesmas e sobre os vossos filhos (2)

Este mundo está cheio de lágrimas e de lamentações estéreis.

Ajudai-nos, Senhor, a renová-lo com obras de misericórdia.

Senhor Deus, misericórdia!

Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!

Pai-Nosso...

(1) (Lc 19,42)  (2) (Lc 23,28)

 

9.ª ESTAÇÃO

TERCEIRA QUEDA DE JESUS

V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 

R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Senhor Jesus, quase sem querer, ligamos esta terceira queda no caminho do Calvário à tríplice negação de Pedro na casa de Caifás, aonde ele foi por coriosidade, seguindo-Vos de longe (1)

Há quedas na nossa vida que são provocadas pela dureza do caminho, 

pelos maus tratos que sofremos, pelos empurrões que nos dão...

Mas há outras que são provocadas pela vergonha, pelo receio de sermos conotados com certa ideologia, pela demasiada confiança que depomos em nós mesmos.

Vós, no caminho do Calvário, levantaste-Vos aos gritos dos soldados.

Pedro que tentou acompanhar-Vos na via sacra também caiu três vezes mas para se levantar não precisou de nenhuma palavra. Bastou o vosso olhar. (2)

Cada queda na minha vida pode ser uma chamada a despertar-me como a Samuel.

Que eu tenha a coragem de perguntar: estais a chamar por mim? (3) ou então: falai, Senhor que o vosso servo escuta. (4)

Às três quedas da negação de Pedro respondestes com um tríplice ato de misericórdia: Pedro amas-me? (5)

Como Pedro também eu sinto vontade de chorar perante a vossa teimosia em perdoar. 

Senhor Jesus, continuai a chamar-me e "a misericordiar-me" como diz o Papa Francisco.

Senhor Deus, misericórdia!

Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!

Pai-Nosso...

(1)  (Mc 14,54)   (2) (Lc 22,61)    (3) (1 Sam 3,5)    (4) (1 Sam 3,10)    (5) (Jo 21, 15 e ss)

 

10.ª ESTAÇÃO

JESUS É DESPOJADO DAS SUAS VESTES

V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 

R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Senhor Jesus, as vossas obras de misericórdia mandam vestir os nus.

As obras de vingança e do ódio mandam exatamente o contrário.

Foi o que fizeram convosco quando chegastes ao Calvário.

Tiraram-Vos as vestes e lançaram sortes sobre elas.

A roupa faz parte do jogo da importância que jogamos no "grande teatro do mundo."

Ela serve, por vezes, para tentar cobrir a nudez do coração e branquear as injustiças que se cometem.

No dizer de um grande santo a roupa que sobra nos nossos armários (a casa que habitamos ou o carro que utilizamos) é uma acusação contra nós. 

quando é fruto da exploração do suor do pobre.

No pretório, Pilatos apresento-Vos à multidão, depois de maltratado e coroado de espinhos, com estas palavras: Eis o homem!

Também aqui alguém Vos poderia apresentar com as mesmas palavras: eis o que é o homem...

eis o que o homem faz quando está nu e se esconde com medo de ouvir os passos de Deus... (1)

Senhor Jesus, Deus de perdão e de misericórdia, ensinai-me a dar o autêntico valor àquilo que é acidental na minha vida:

Não vos preocupeis pela vossa vida, pelo que comereis, nem pelo vosso corpo com o que vestireis (2)

Senhor Deus, misericórdia!

Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!

Pai-Nosso...

(1) (Gen 3, 11-12)   (2) (Mt 6,25)

 

11.ª ESTAÇÃO

JESUS É PREGADO NA CRUZ

V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 

R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Cravaram-Vos, Senhor, numa Cruz 

como quem Vos queria reduzir para sempre à inatividade.

Mas foi na cruz que Vós coroastes, em gestos e palavras, a vossa grande missão de misericórida.

Braços eternamente abertos a repetir aquele:

Eis-me, ó Pai, venho fazer a vossa vontade. (1)

Mãos abertas para derramar as vossas graças sobre os que estão com febre, os leprosos e os já mortos.

Lábios que se abrem para proclamar o perdão: 

Pai, perdoa-lhes porque não sabem o que fazem! (2)

e para realizar esse imenso gesto de amor

dando-nos em testamento a vossa própria mãe:

"Eis aí a tua Mãe!" (3)

Peito aberto pela lança do soldado para sentirmos que no vosso coração 

cabem todas as nossas angústias e insatisfações.

Sangue e água manando que me fazem rezar:

Tende piedade de mim, Senhor, segundo a vossa bondade

e conforme a imensidade da vossa misericórdia, apagai a minha iniquidade. (4)

Senhor Jesus, cravado por mim nessa cruz, 

que eu tantas vezes venero em imagens 

e até ostento nos meus objetos de adorno,

fazei que eu seja uma vida imagem vossa.

Que possa repetir, com toda a verdade, como o Apóstolo:

de nada me glorio a não ser na vossa cruz pela qual o mundo está crucificado para mim e eu para o mundo. (5)

Senhor Deus, misericórdia!

Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!

Pai-Nosso...

(1) (Heb 10,9)  (2) (Lc 23,34)   (3) (Jo 19,27)  (4) (Sl 50,3)   (5) (Gal 6,14)

 

12.ª ESTAÇÃO

JESUS MORRE NA CRUZ

V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 

R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Senhor Jesus, 

Depois de Vos terem crucificado, os soldados levantaram a cruz e, terminada a tarefa, 

sentaram-se lançando sortes sobre as vossas vestes, 

Indiferentes ao vosso sofrimento, às palavras que pronunciastes

e aos comentários de todos os que por ali passavam

e Vos injuriavam com provocações estultas.

Uma só coisa lhes interessava: o jogo das vossas vestes.

Que impressionante lição:

podemos estar perto de Jesus sofredor

e não atender às suas palavras nem às dos irmãos.

Mas alguém escutou a vossa queixa "Tenho sede" (1)

e molhou-Vos os lábios com uma esponja embebida em vinagre para Vos minorar o sofrimento.

Dar de beber a quem tem sede é uma obra de misericórdia. 

Mas a vossa sede, Jesus, não era apenas física.

Era aquela misteriosa sede manifestada à samaritana, 

junto ao poço de Jacob, quando lhe pedistes: dá-me de beber.

Convinha, Senhor, que as vossas últimas palavras

ficassem marcadas por este perpétuo "tenho sede"

para nos lembrarmos que devemos responder à vossa imensa misericórdia 

com as nossas pequeninas obras de misericórdia.

Por fim, destes um grande brado: Tudo está consumado. (2)

E, inclinando a cabeça, entregastes o espírito.

A obra da redenção que o Pai Vos tinha confiado 

estava completa. Perfeitamente completa.

Tinheis sido tentado como sonhos de ter, poder e exibição.

Até alguns dos vossos não concordavam 

com o caminho que lhes anunciáveis

dizendo "tal não há-de acontecer" (3)

Tudo rejeitastes porque a misericórdia 

foi imensamente maior que os cálculos humanos.

Que eu aprenda, Senhor, a levar com valentia a cruz da vida até ao "tudo está consumado"

sempre confiando na vossa misericórdia para as minhas faltas.

Senhor Deus, misericórdia!

Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!

Pai-Nosso...

(1) (Jo 19,28)    (2) (Jo 19,30)

 

13.ª ESTAÇÃO

JESUS DESCIDO DA CRUZ É DEPOSTO NOS BRAÇOS DE MARIA

V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 

R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Depois de ter sido confirmada a vossa morte, 

José de Arimateia, Nicodemos, João e mais algum amigo

desceram o vosso corpo da cruz e, diz a tradição, 

depuseram-no nos braços de Maria, vossa Mãe.

Voltastes, Senhor, a ser posto novamente no colo da Mãe 

como na noite de Natal

E foi de facto Natal porque no Calvário nasceu um mundo novo. 

A nossa redenção, Jesus, não se compreende sem Maria.

Por isso, lhe damos o título de corredentora

Vejo-a, cheia de ternura, contemplando o vosso rosto desfigurado,

beijando as vossas mãos trespassadas, 

acarinhando as chagas do vosso corpo, 

sem qualquer histerismo de dor ou palavra de vingança.

Ela que tudo tinha guardado no seu coração

relembrava, no silêncio do Calvário, 

que a professia do velho Simeão

se tinha cumprido inteiramente na sua vida:

na tragédia da matança dos inocentes de Belém,

na fuga para o Egipto, na perda do Menino no templo.

na incompreenção de parentes e conterrâneos 

no ódio de tantos a quem Ele incomodava

com a sua mensagem de amor, de verdade e de paz.

Virgem dolorosa, Mãe de misericórdia

ensinai-nos a atravessar o pântano deste vale de lágrimas

conferindo tudo com a mensagem do Evangelho...

E depois deste desterro, apresentai-nos a Jesus

ó clemente, ó piedosa, ó sempre Virgem Maria!

Senhor Deus, misericórdia!

Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!

Pai-Nosso...

 

14.ª ESTAÇÃO

A SEPULTURA DE JESUS

V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 

R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Todos aprendemos no Catecismo 

que sepultar os mortos é uma obra de misericórdia.

Aque sepultar não significa apenas o enterramento

mas tudo o que se refere ao acompanhamento na dor

das pessoas enlutadas pelo falecimento de um ente querido

ajudando-as a olhar para o alto e a dar sentido às suas lágrimas

como aqueles que têm esperança. (1)

Do servo de Deus Tobit se diz que

alimentava os famintos, vestia os nus e sepultava os mortos

e isso valeu-lhe, após um tempo de provação,

a presença do Arcanjo Rafael, a devolução do empréstimo,

o casamento do filho e a cura da cegueira.

No calvário, Senhor Jesus, no meio de tanto ódio, 

houve um homem que não só cuidou da vossa sepultura

mas até, num gesto de profunda amizade, 

Vos cedeu o próprio sepulcro.

Em Belém não houve lugar para Vós na estalagem.

No Calvário, no meio do desprezo a que Vos votaram

um home, José de Arimateia, ofereceu-Vos o sepulcro.

Já muito tinha mudado o mundo, Senhor Jesus,

com as vossas palavras e gestos de compaixão.

Um dia, quando iéis a entrar na cidade de Naím

encontraste-Vos com o funeral de um jovem, 

filho único de uma senhora viúva

e essa cena tocou o vosso coração misericordioso.

Agora o Filho Único de uma Senhora viúva éreis Vós

é só um reduzido grupo de amigos sentia a dor da vossa Mãe

enquanto Vos acompanhava ao sepulcro.

À distância, alguns olhavam indiferentes para esse enterro

enquanto outros exaltavam por terem consumado a vingança.

Nessa tarde de misericórdia e perdão,

o mundo do nosso tempo, o mundo de todos os tempos,

estava em miniatura no Calvário.

Senhor Deus, misericórdia!

Mãe de Jesus e nossa mãe, misericórdia!

Pai-Nosso...

(1) (1Tes 4,13)

 

15.ª ESTAÇÃO

A RESSURREIÇÃO DE JESUS

V/ Nós Vos Adoramos e bendizemos ó Cristo, 

R/ Que pela vossa Santa Cruz remistes o mundo.

Senhor Jesus, 

quando afirmastes que ao terceiro dia ressuscitarieis 

os discipulos viram nas vossas palavras um enigma

que não podiam compreender (1)

e perguntavam-se que seria isso de ressuscitar dos mortos? (2)

Vós tinheis dito que éreis o Caminho, a Verdade e a Vida (3)

não podíeis ficar encerrado num túmulo

e permanecer entre nós como vaga lembrança

de personagem ilustre que pisou o palco do mundo.

Morto e ressuscitado, estais mais perto de nós que nunca

e demostrastes essa proximidade ao longo de quarenta dias

numa catequese viva de sinais e situações:

consolando as lágrimas choradas sobre o vosso túmulo,

entrando em casas fechadas com medo dos inimigos, 

fazendo-Vos companheiro de viagem de dicípulos sem esperança,

assumindo o papel de orientador de pesca e cozinheiro (4)

perdoando a auto-suficiência de Tomé,

alongando, através dos séculos, a vossa misericórdia

e sobretudo dando-nos a certeza da vossa presença

na solene afirmação: estarei convosco, todos os dias

até ao fim do mundo (5)

Ao fim desta Via Sacra, repito com S. Bernardo:

O meu mérito está na misericórdia do Senhor 

Nunca serei pobre de méritos

enquanto Ele for rico de misericórdia.

Se são abundantes as misericórdias do Senhor, 

também são muitos os meus méritos:

e se tenho consciência de muitos pecados,

onde abundou o pecado

superabundou a graça.

 

Bom Jesus de misericórdia: Obrigado! Muito Obrigado!

 

Pelas intenções do Santo Padre: Pai Nosso, Avé-Maria, Glória

 

(1) (Lc 18,34)   (2) (Mc 9,10)   (3) (Jo 14,6)    (4) (Jo 21, 1, 13)    (5) (Mt 28,209)