SUMA TEOLÓGICA DE SÃO TOMÁS DE AQUINO

EM CONSTRUÇÃO

Prólogo

Depois de termos tratado, em geral das virtudes e dos vícios, e do mais pertinente à matéria moral, devemos tratar, em especial desse mesmo objeto. Pois, os atos humanos, respeitando o particular, pouca utilidade têm os princípios morais universais. Ora, a matéria moral, podemos de dois modos considerá-la, em especial. Primeiro, em si mesma; p. ex., uma virtude ou um vício determinados. De outro modo, considerando os estados especiais dos homens. Como, quando tratamos dos superiores e dos súbitos, dos ativos e dos contemplativos ou de quaisquer outras diferenças entre os homens.
 
Por onde, havemos, primeiro, de tratar, em especial, do que respeita a todos os estados dos homens. Segundo, e também em especial, do que lhes respeita os determinados estados1.
 
Ora, quanto ao primeiro ponto, devemos considerar que, se tratássemos separadamente das virtudes, dos dons, dos vícios e dos preceitos, teríamos, de nos repetir muitas vezes. Assim, quem quiser versar suficientemente o preceito – Não fornicarás – há-de, por força, tratar do adultério, que é um determinado pecado, mas cujo conhecimento depende do conhecimento da virtude, do seu dom correspondente, dos vícios opostos e dos preceitos afirmativos ou negativos.
 
Pois, este modo de tratar conviverá também aos vícios opostos e dos preceitos afirmativos ou negativos. Pois, este modo de tratar convirá também aos vícios, especìficamente. Porque, como já demonstramos2, a matéria ou o objeto dos vícios e dos pecados se diversifica pela espécie e, não por outras diferenças, como, p. ex., por pecados de intenção, palavras e obras. Nem pela fraqueza, ignorância, malícia, ou diferenças semelhantes. Pois, é a mesma a matéria, relativamente à qual a virtude obra retamente, e de cuja retidão os vícios opostos se afastam.
 
Por onde, uma vez reduzida toda a matéria moral à consideração das virtudes, todas estas se reduzem, ulteriormente, a sete. Destas, três são teologais e delas devemos tratar em primeiro lugar. Das outras quatro, que são cardeais, trataremos em segundo lugar. Por outro lado, a prudência é uma das virtudes intelectuais, e está contida e enumerada entre as virtudes cardeais. Ao passo que a arte, dizendo respeito à razão reta das coisas factíveis, conforme já se estabeleceu3, não pertence à moral. Além disso, as três virtudes intelectuais, a saber, a sabedoria, a inteligência e a ciência são comuns, até pelo nome, com certos dons do Espírito Santo. Por onde, havemos de tratar delas simultaneamente com a consideração dos dons correspondentes às virtudes.
 
Por fim, todas as outras virtudes morais se reduzem, de certo modo, às virtudes cardeais, como de sobredito4 se colhe. Por isso, o tratado de cada uma das virtudes cardeais inclui também o de todas as virtudes que, de algum modo, a cada uma delas pertence, bem como o dos vícios opostos. E assim, nada do que respeita à moral será omitido.

 

QUESTÃO 1 DO QUE É E DO QUE ABRANGE A DOUTRINA SAGRADA

ART. 1 - SE, ALÉM DAS CIÊNCIAS FILOSÓFICAS, É NECESSÁRIA OUTRA DOUTRINA.

O primeiro discute-se assim — Parece desnecessária outra doutrina além das disciplinas filosóficas. 1. — Pois não se deve esforçar o homem por alcançar objetos que ultrapassem a razão, segundo a Escritura (Ecle. 3, 22): Não procures saber coisas mais dificultosas do que as que cabem na tua...

ART. 2 - SE A DOUTRINA SAGRADA É CIÊNCIA

O segundo discute-se assim — Parece não ser ciência a doutrina sagrada. 1. — Pois toda ciência provém de princípios por si evidentes, ao passo que procede a doutrina sagrada dos artigos da fé, inevidentes em si, por serem não universalmente aceitos; porque a fé não é de todos, diz a Escritura (2 Ts...

ART. 3 - SE A DOUTRINA SAGRADA É UMA SÓ CIÊNCIA

O terceiro discute-se assim — Não parece uma só ciência a doutrina sagrada. 1. — Pois, como diz o Filósofo1, cada ciência se ocupa com um só gênero de objetos. Ora, criador e criatura, objetos da doutrina sagrada, não pertencem ao mesmo gênero. Logo, não é uma só ciência a doutrina sagrada. 2. —...

ART. 4 - SE A DOUTRINA SAGRADA É CIÊNCIA PRÁTICA

O quarto discute-se assim — Parece que a doutrina sagrada é uma ciência prática. 1. — Pois, segundo o Filósofo, no livro II da Metafísica, o fim do saber prático é o operar; e a doutrina sagrada à operação se ordena, conforme a Escritura (Tg 1, 22): Sede, pois, fazedores da palavra, e não ouvintes...

ART. 5 - SE A DOUTRINA SAGRADA É MAIS DIGNA QUE AS OUTRAS CIÊNCIAS.

O quinto discute-se assim — Parece não ser a doutrina sagrada mais digna que as outras ciências. 1. — Pois é digno o saber enquanto certo; e as demais ciências, que partem de princípios indubitáveis, parecem mais certas que a doutrina sagrada, cujos princípios, ou artigos de fé, são sujeitos à...

ART. 6 - SE ESTA DOUTRINA É SABEDORIA

O sexto discute-se assim — Parece que esta doutrina não é sabedoria. 1. Pois nenhuma doutrina que receba de outra os seus princípios, merece o nome de sabedoria, cabendo ao sábio ordenar e não ser ordenado, como diz Aristóteles1. Ora, esta doutrina recebe de outra os seus princípios, como do...

ART. 7 - SE DEUS É O OBJETO DESTA CIÊNCIA.

O sétimo discute-se assim — Parece não ser Deus o objeto desta ciência. 1. — Pois é necessário, em qualquer ciência, supor a essência do objeto, segundo o Filósofo1. Ora, esta ciência não supõe a essência de Deus, pois, diz Damasceno: É impossível assinalar a essência divina2. Donde, não é Deus o...

ART. 8 - SE ESTA DOUTRINA É ARGUMENTATIVA

O oitavo discute-se assim — Parece que esta doutrina não é argumentativa. 1. — Pois, diz Ambrósio: Deixa os argumentos quando se procura a fé1. Ora, por esta doutrina procuramos principalmente a fé, pelo que diz a Escritura (Jo 20, 31): Foram escritos estes (prodígios) afim de que vós creais. Logo,...

ART. 9 - SE A DOUTRINA SAGRADA DEVE USAR DE METÁFORAS.

O nono discute-se assim — Parece não dever a doutrina sagrada usar de metáforas. 1. — Pois o que é próprio de doutrina ínfima não pode convir a esta ciência, que ocupa, entre todas, o lugar supremo, como já se disse (a. 5). Ora, proceder por comparações e representações é próprio da poética, ínfima...

ART. 10 - SE NA SAGRADA ESCRITURA UMA MESMA LETRA TEM VÁRIOS SENTIDOS: O HISTÓRICO OU LITERAL, O ALEGÓRIO, O TROPOLÓGICO OU MORAL E O ANAGÓGICO.

O décimo discute-se assim — Parece que na Sagrada Escritura, uma mesma letra não tem vários sentidos: o histórico ou literal, o alegórico, o tropológico ou moral e o anagógico. 1. — Pois a multiplicidade dos sentidos, num escrito, gera a confusão e o engano e obsta à segurança da argüição. Donde,...

O principal intento, pois, da doutrina sagrada é transmitir o conhecimento de Deus, não somente enquanto existente em si, mas ainda como princípio e fim dos seres, e, especialmente, da criatura racional, como é claro pelo que antes se disse. Ora, pretendendo fazer a exposição desta doutrina, 1o. trataremos de Deus; 2o. do movimento da criatura racional para Deus; 3o. de Cristo que, enquanto homem, é via para tendermos a Deus.

Mas a consideração sobre Deus será tripartida. Assim, 1o. trataremos do que pertence à essência divina; 2o. do que pertence à distinção das pessoas; 3o. do que pertence à processão, que de Deus têm as criaturas.

Sobre a essência divina, porém, devemos considerar: 1o. se Deus existe; 2o. como é, ou antes, como não é; 3o. devemos considerar o que pertence à operação de Deus, a saber, a ciência, a vontade e o poder.

Na primeira questão discutem-se três artigos:

QUESTÃO 2: DEUS EXISTE?

 

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ART. 1 - SE A EXISTÊNCIA DE DEUS É POR SI MESMA CONHECIDA.

O primeiro discute-se assim — Parece que a existência de Deus é conhecida por si mesma. 1. — Pois são assim conhecidas de nós as coisas cujo conhecimento temos naturalmente, como é claro quantos aos primeiros princípios. Ora, diz Damasceno: O conhecimento da existência de Deus é naturalmente ínsito...

ART. 2 - SE É DEMONSTRÁVEL A EXISTÊNCIA DE DEUS.

O segundo discute-se assim — Parece que não é demonstrável a existência de Deus. 1. Pois, tal existência é artigo de fé. Ora, as coisas da fé não são demonstráveis, porque a demonstração dá a ciência, e a fé é própria do que não é aparente, como se vê no Apóstolo (Heb 11,1). Logo, a existência de...

ART. 3 - SE DEUS EXISTE.

O terceiro discute-se assim — Parece que Deus não existe. 1. Pois, um dos contrários, sendo infinito, destrói o outro totalmente. E como, pelo nome de Deus, se intelige um bem infinito, se existisse Deus, o mal não existiria. O mal, porém, existe no mundo. Logo, Deus não existe. 2. Demais — O que...

QUESTÃO 3 DA SIMPLICIDADE DE DEUS

Conhecida a existência de uma coisa, resta inquirir como existe, para que se saiba o que é. Porém, como não podemos saber o que é Deus, mas o que não é, não podemos considerar como é, mas, como não é.

Logo, 1o. consideraremos como não é; 2o. como é de nós conhecido; 3o. como se nomeia.

Ora, podemos mostrar como Deus não é removendo o que lhe não convém, p. ex.: a composição, o movimento, e atributos semelhantes.

Portanto, 1o. devemos tratar da sua simplicidade, pela qual dele se remove a composição. E sendo os seres corpóreos simples, imperfeitos e partes, devemos tratar, 2 o. da perfeição de Deus; 3 o. da sua infinidade; 4 o. da sua imutabilidade; 5 o. da sua unidade.

Na primeira questão, discutem-se oito artigos:

 

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ART. 1 - SE DEUS É CORPO

O primeiro discute-se assim — Parece que Deus é corpo. 1. Pois, corpo é o que tem três dimensões. Ora, a Sagrada Escritura atribui a Deus dimensão tríplice, dizendo (Jó 11,8-9): Ele é mais elevado que o céu, e que farás tu? E mais profundo do que o inferno, e como o conhecerás? A sua medida é mais...

ART. 2 - SE EM DEUS HÁ COMPOSIÇÃO DE MATÉRIA E FORMA

O segundo discute-se assim. — Parece que há em Deus composição de forma e matéria. 1. — Pois, sendo a alma a forma do corpo, tudo o que tem alma é composto de matéria e forma. Ora, a Escritura atribui a alma a Deus, quando o Apóstolo, falando da pessoa divina, diz (Heb 10, 38): Mas o meu justo vive...

ART. 3 - SE DEUS É IDÊNTICO À SUA ESSÊNCIA OU NATUREZA.

O terceiro discute-se assim. — Parece que Deus não é idêntico à sua essência ou natureza. 1. — Pois, nada pode estar em si mesmo. Ora, diz-se que a essência ou a natureza de Deus, que é a divindade, está em Deus. Logo, Deus não é idêntico à sua essência ou natureza. 2. Demais. — O efeito...

ART. 4 - SE EM DEUS SE IDENTIFICAM A ESSÊNCIA E A EXISTÊNCIA.

O quarto discute-se assim. — Parece que em Deus não se identificam a essência e a existência. 1. — Pois, se assim não fosse, nada se poderia acrescentar ao ser divino. Ora, o ser que não é susceptível de nenhuma adição é o ser em geral, que se predica de todos; e, portanto, Deus seria tal ser de...

ART. 5 - SE DEUS PERTENCE A ALGUM GÊNERO.

O quinto discute-se assim. — Parece que Deus pertence a algum gênero. 1. — Pois, substância é o ser por si subsistente, o que é por excelência próprio de Deus. Logo, Deus pertence ao gênero da substância. 2. Demais. — Uma coisa mede-se pela sua congênere, como as longitudes, pela longitude e os...

ART. 6 - SE EM DEUS HÁ ACIDENTES.

O sexto discute-se assim. Parece que em Deus há acidentes. 1. — Pois, a substância em nenhum ser é acidente1. Ora, o que num é acidente não pode ser substância em outro. Assim, prova-se que o calor, sendo acidente em outros seres, não pode ser a forma substancial do fogo. Ora, a sabedoria, a...

ART. 7 - SE DEUS É ABSOLUTAMENTE SIMPLES.

O sétimo discute-se assim. — Parece que Deus não é absolutamente simples. 1. — Pois, como o que provém de Deus o imita, do ser primeiro procedem todos os outros e, do bem primeiro, todos os bens. Ora, dos seres provenientes de Deus nenhum é absolutamente simples. Logo, também não o é Deus. 2....

ART. 8 - SE DEUS ENTRA NA COMPOSIÇÃO DOS OUTROS SERES.

O oitavo discute-se assim. — Parece que Deus entra na composição dos outros seres. 1. — Pois, Dionísio diz: Ser de todas as coisas é o que, além de existir, é a divindade1. Ora, tal ser entra na composição do ser individual. Logo, Deus entra na composição dos outros seres. 2. Demais. — Deus é...

QUESTÃO 4: DA PERFEIÇÃO DE DEUS

Depois de termos tratado da simplicidade divina, devemos tratar da perfeição de Deus. E como um ser é bom na medida em que é perfeito, havemos de tratar, primeiro, da perfeição divina e, depois, da bondade divina. Na primeira questão, discutem-se três artigos:

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ART. 1 - SE DEUS É PERFEITO

O primeiro discute-se assim. — Parece que não é próprio de Deus ser perfeito. 1. — Pois, “perfeito” é como quem diz — totalmente feito. Ora, a Deus não pode convir o ser feito. Logo, nem ser perfeito. 2. Demais. — Deus é o princípio primeiro das coisas. Ora, este é imperfeito; assim, a semente é o...

ART. 2 - SE DEUS ENCERRA AS PERFEIÇÕES DE TODOS OS SERES.

O segundo discute-se assim. — Parece que Deus não encerra a perfeição de todos os seres. 1. — Pois, Deus é simples, como já se demonstrou1. Ora, muitas e diversas são as perfeições dos seres. Logo, Deus não encerra todas as perfeições deles. 2. Demais. — Os contrários não podem coexistir num mesmo...

ART. 3 - SE ALGUMA CRIATURA PODE SER SEMELHANTE A DEUS.

O terceiro discute-se assim. — Parece que nenhuma criatura pode ser semelhante a Deus.   1. — Pois, como diz a Escritura (Sl 85,8), não há semelhante a ti entre os deuses, Senhor. Ora, dentre todas as criaturas, são mais excelentes as que se chamam deuses, por participação. Com...

QUESTÃO 5: DO BEM EM GERAL

Em seguida, devemos tratar do bem. Primeiro, do bem em geral; segundo, da bondade de Deus; na primeira questão discutem-se seis artigos:

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ART. 1 - SE O BEM DIFERE REALMENTE DO SER.

O primeiro discute-se assim. — Parece que o bem difere realmente do ser. 1. — Pois diz Boécio: Vejo que, nas coisas, difere o ser do bem1. Logo, ser e bem diferem realmente. 2. Demais. — Nenhum ser se dá forma a si mesmo. Ora, o bem se concebe como informação do ser, como se vê no Comentador2....

ART. 2 - SE O BEM É LOGICAMENTE ANTERIOR AO SER.

O segundo discute-se assim. — Parece que o bem é logicamente anterior ao ser. 1. — Pois a ordem dos nomes é relativa ao que significam. Ora, entre os nomes de Deus, Dionísio coloca o bem, antes do ser1. Logo, aquele é logicamente anterior a este. 2. Demais. — Devemos considerar como primeira a...

ART. 3 - SE TODO O SER É BOM.

O terceiro discute-se assim. — Parece que nem todo ser é bom. 1. — Pois a idéia de bem acrescenta alguma coisa à de ser, conforme do sobredito resulta1; e, portanto a restringe, como o faz a substância, a quantidade, a qualidade e atributos semelhantes. Se, pois, a idéia de bem restringe a de ser,...

ART. 4 - SE O BEM TEM, ANTES, A NATUREZA DA CAUSA FINAL DO QUE AS DEMAIS CAUSAS.

O quarto discute-se assim. — Parece que o bem tem mais a natureza das outras causas do que a da final. 1. — Pois, como diz Dionísio, o bem é louvado como belo1. Ora, este implica a natureza da causa formal. Logo, o bem implica igualmente essa natureza. 2. Demais. — O bem é difusivo de si, como...

ART. 5 - SE A NOÇÃO DE BEM IMPLICA O MODO, A ESPÉCIE E A ORDEM.

O quinto discute-se assim. — Parece que a noção de bem não implica o modo, a espécie e a ordem. 1. — Pois o bem e o ser diferem racionalmente, como já se disse1. Ora, o modo, a espécie e a ordem parece pertencerem à noção de ente; pois, diz a Escritura (Sb 11, 21): Todas as coisas dispuseste com...

Art. 6 — Se o bem se divide adequadamente em honesto, útil e deleitável.

O sexto discute-se assim. — Parece que o bem não se divide adequadamente em honesto, útil e deleitável. 1. — Pois o bem, como diz o Filósofo, se reparte pelos dez predicamentos1. Ora, o honesto, o útil e o deleitável, podem-se encontrar num só. Logo, tal divisão não é adequada. 2. Demais. — Toda...

QUESTÃO 6: DA BONDADE DE DEUS

Em seguida devemos tratar da bondade de Deus. E, nesta questão, discutem-se quatro artigos:

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ART. 1 - SE FOR BOM CONVÉM A DEUS.

O primeiro discute-se assim. — Parece que ser bom não convém a Deus. 1. — Pois a noção de bem implica a de modo, espécie e ordem. Ora, sendo Deus imenso e não ordenado a nenhum outro ser, estas noções não lhe convém. Logo, também, não lhe convém o ser bom. 2. Demais. — Bem é o que todos os seres...

ART. 2 - SE DEUS É O SUMO BEM.

O segundo discute-se assim. — Parece que Deus não é o sumo bem. 1. — Pois o sumo bem diz algo mais que bem; do contrário, conviria a qualquer bem. Ora, tudo o que é constituído por adição é composto. Logo, o sumo bem o é. Mas, sendo Deus sumamente simples, como já se demonstrou1, não é o sumo...

ART. 3 - SE É PRÓPRIO DE DEUS SER BOM POR ESSÊNCIA.

O terceiro discute-se assim. — Parece que não é próprio de Deus ser bom por essência. 1. — Pois também como a unidade, o bem se converte no ser, conforme já se disse1. Ora, todo ser é essencialmente um, segundo claramente se vê no Filósofo2. Logo, todo ser é bom por essência. 2. Demais. — Se o bem...

ART. 4 - SE TODAS AS COISAS SÃO BOAS PELA BONDADE DIVINA.

O quarto discute-se assim. — Parece que todas as coisas são boas pela bondade divina. 1. — Pois, diz Agostinho: Considera tal bem e tal outro; elimina isto e aquilo e contempla o bem em si mesmo, se puderes; então, verás Deus, bem que não o é por outro, mas, bem de todos os bens1. Logo, as coisas...