18.5.3 - SÃO SOFREDORES E FELIZES

18.5.3 - SÃO SOFREDORES E FELIZES

 

Os perfeitíssimos sentem-me continuamente presente em seus espíritos; quanto mais desapegados forem da satisfação pessoal e quanto mais amarem o sofrimento, menos dor e mais contentamento receberão. Por que motivo? Porque, consumidos no meu amor, destruíram a vontade própria. O demônio teme sua força, ataca-os de longe, sem ousar aproximar-se. Os homens podem ferir-lhes o corpo; julgam prejudicá-los, mas terminam por prejudicarem se. As flechas, não encontrando por onde penetrar, retornam contra quem as desferiu. Isto acontece na sociedade humana, nas perseguições e maledicências; procura-se fazer o mal aos meus servidores, mas não se consegue. O interior de suas almas está protegido; os dardos, envenenados de culpa, voltam-se contra seus atiradores. Fere-se o corpo, não a alma, protegida por todos os lados, invulnerável.

 

O servidor perseguido sofre, mas é feliz. Sofre pela culpa do ofensor; é feliz pela união amorosa que mantém comigo. Ele imita o imaculado Cordeiro; ao ser crucificado, ele padecia e era feliz. Sofria ao carregar e suportar a cruz da dor e a cruz do desejo santo, querendo satisfazer pelos homens; era feliz, no sentido que a natureza divina não podia sofrer e tornava bem aventurada a alma de Cristo, que contemplava sem véus. Sofredor e feliz, porque o corpo sofria, mas a divindade e seu espírito, não. A mesma coisa acontece com estes meus diletos filhos, ao atingir o o terceiro e quarto estado. Padecem fisicamente e no espírito, por tolerar dificuldades corporais de um lado, e a cruz do desejo do outro. A cruz do desejo é a dor cruciante causadas pelas ofensas cometidas contra mim e pela condenação eterna dos homens. Mas são felizes por ser impossível arrebatar-lhes o dom da caridade, verdadeira fonte de alegria e felicidade. Sua dor não é aflitiva, mas nutritiva, no sentido que alimenta a alma no amor. É dor que produz aumento e fortalecimento das virtudes.

 

Disse que se trata de dor "nutritiva", não "aflitiva". Realmente, já mais nada consegue afastar o servidor da fornalha, como acontece com as brasas incandescentes. É coisa impossível tocar num braseiro vivo. Assim estes filhos! Atirados na fornalha do meu amor, deles nada fica de fora: nenhum desejo. Tudo se inflama. Ninguém os conseguirá tocar, sem distanciar-se de minha graça. Tornaram-se uma só coisa comigo. Eu mesmo, já não me afasto deles pela aridez; fico continuamente presente em seus espíritos. Nos imperfeitos, vou e volto, como já disse (18.1.2), retirando as consolações sensíveis. Faço isso para aperfeiçoá-los. Mas quando chegam à perfeição, paro com esse jogo de amor, esse ir e voltar. Chamo-o "jogo de amor", porque é por amor que retiro as consolações e as dou de novo. Na realidade, não que eu me retire e retorne, pois sou imutável; o que vai e volta é a percepção do prazer que meu amor causa na alma.

 

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