18.5.5 – O EXEMPLO DE PAULO

18.5.5 – O EXEMPLO DE PAULO

 

Quando elevei Paulo ao terceiro céu nas profundezas da Trindade (2Cor 12,2-4), ele teve a experiência do meu poder, recebeu a plenitude do Espírito Santo e apreendeu a mensagem do Verbo encarnado. Como acontece com os bem aventurados, sua alma uniu-se intimamente a mim. Mas continuava no corpo. Quis fazer dele um vaso de eleição no abismo da Trindade (At 9,15). Como não mais poderia padecer se fosse revestido da minha paternidade, despojei-o de mim mesmo e pus diante do seu espírito o meu Filho crucificado; infundi nele sua mensagem, acorrentei-o no fogo da caridade mediante a clemência do Espírito Santo. 

 

Qual vaso reformado, Paulo não opôs resistência ao ser ferido na estrada de Damasco. Apenas perguntou: "Senhor meu, que desejas que eu faça? Haverei de realizar teu desejo" (At 22,10). Respondi colocando Jesus crucificado diante dos seus olhos e revelando-lhe sua mensagem. Iluminado, arrependido e repleto de amor, ele desprezou seus pecados e assumiu a mensagem de Cristo crucificado. De tal forma a estreitou a si que, como ele mesmo diria mais tarde, dela ninguém o separaria: nem a tentação, nem os demônios, nem o aguilhão na carne, para que progredisse na graça e no merecimento. Como havia experimentado a profundeza da Trindade, ocorria humilha-lo. Assim dificuldade ou acontecimento algum o conseguiam demover de Cristo e sua mensagem; pelo contrário, mais o aproximavam.

 

E Paulo, de tal modo os abraçara, que lhes deu sua vida e, revestido de Cristo, retornou a mim, Pai eterno. Foi desse modo que Paulo fez sua experiência de união no amor, sem a separação da alma com o corpo. Ao voltar a si (do êxtase), revestido de Cristo crucificado, sentia-se imperfeito, comparando com a caridade que vislumbrava em mim e nos santos do céu. Parecia-lhe que o peso do corpo impedia a perfeição do amor e a realização dos desejos próprios do além-morte. 

 

Sua memória era débil e incapaz de acolher e recordar naquele grau que acontece aos santos. Vivendo no corpo, sentia a lei perversa que lutava contra o espírito; tal combate não o levava ao pecado, como expliquei naquelas palavras: "Paulo, basta-te a minha graça", mas impedia a suma perfeição de ver a minha essência. Por isso ele exclamava: "Infeliz de mim, quem me livrará deste corpo? Trago nos ombros uma lei perversa, que luta contra o espírito". E tinha razão! Devido à imperfeição do corpo, a memória fica diminuída, a inteligência não consegue ver minha essência, a vontade permanece retida sem experimentar-me - Deus eterno que sou - isenta de dor. Falava com exatidão Paulo ao afirmar que existe no corpo uma lei perversa a lutar contra o espírito. Aliás, essa é a mesma razão por que meus servidores do terceiro e quarto estado, perfeitamente unidos a mim, também clamam desejando libertar-se do corpo.

 

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