Acabas de ver como eu, a Verdade, revelei a ti os princípios pelos quais poderás atingir e conservar uma grande perfeição. Expus como dás reparações pela culpa e pelo reato em ti mesma e nos outros. A tal respeito eu ensinava que as mortificações suportadas pelo homem nesta vida mortal, por si mesmas são insuficientes a satisfazer pela culpa e pelo reato; hão de estar acompanhadas pelo amor caritativo, pela contrição verdadeira, pelo desapego do pecado. A penitência exterior possui valor satisfatório, quando enformada pela caridade. O valor não procede dos atos corporais, quaisquer sejam eles, mas unicamente do amor e dor sentida pela culpa cometida. Tal amor é adquirido sob a luz de uma inteligência e de um coração desinteressados e livres, inteiramente voltados para mim, que sou o Amor.
Expliquei tudo isto porque me pediste, desejosa de sofrer. Eu queria que tu e meus servidores conhecêsseis o modo de vos oferecerdes a mim em holocausto, num sacrifício ao mesmo tempo corporal e espiritual, à semelhança de um copo de água dado ao patrão; como o oferecimento da água seria impossível sem o copo, e como a apresentação do copo sem a água lhe seria desagradável, assim acontece convosco. O vaso que me dais são os inúmeros sofrimentos externos, preparados por mim sem que vós escolhais lugares, tempos ou tipos de dor. Tal vaso há de encontrar-se cheio, isto é, deveis sofrer com paciência e amor. Como? Suportando, tolerando os defeitos alheios, odiando e desprezando o pecado. Assim, tais mortificações, comparadas por mim a um vaso, estarão repletas da água da graça, que vivifica a alma. Então acolhe o presente das minhas amáveis esposas, ou seja, de todos aqueles que me servem. Aceito seus desejos, lágrimas, suspiros, suas orações humildes e contínuas. Em meu amor considero tudo isso como instrumento capaz de aplacar minha ira contra os iníquos pecadores, que tanto me ofendem.
Resisti virilmente até a morte! Tal será a prova de que realmente me amais. Não deveis por a mão no arado e olhar para trás por medo de pessoas ou dores. Antes, alegrai-vos nas tribulações! O mundo se rejubila, injuriando-me muito. Ao ver tais ofensas, ficareis entristecidos. Quando me ataca, ele vos ofende. E vice-versa, pois me tornei uma só coisa convosco. Eu vos dera a minha imagem e semelhança; vós a perdestes pelo pecado. Para conceder outra vez a vida da graça, uni minha natureza com a vossa (em Cristo), revestindo-a de vossa humanidade. Como éreis minha imagem, assumi a vossa, tomando forma humana. Sou, pois, uma coisa convosco, se não vos afastais pelo pecado. Quem me ama, encontra-se em mim e eu nele (1Jo 4,16).
O mundo me persegue porque não possui conformidade comigo. Perseguiu meu Filho até a terrível morte na cruz.. O mesmo fará convosco (Jo 15,18). O mundo vos persegue e o fará até à morte, porque não me ama. Se me amasse, também vos amaria. Alegrai-vos, porém! Vossa glória no céu será perfeita.
Digo-te ainda! Quanto maiores forem as dificuldades da hierarquia da santa Igreja, maior será sua felicidade e consolação. A "felicidade" consistirá na reforma dos pastores, os quais se tornarão bons e santos. Serão flores de glória, no sentido que exalarão o perfume das verdadeiras virtudes, dando-me glória e louvor. Tal será a reforma dos meus ministros e pastores: como flores perfumadas. Quanto aos frutos, a Igreja não precisa de reforma, dado que eles não diminuem, nem são prejudicados pelos defeitos dos ministros.
Alegrai-vos, portanto, nas dificuldades. Tu, o teu diretor espiritual e os outros servidores meus. Qual Verdade eterna eu prometi-vos dar vos consolação. Dá-la-ei depois da provação, pelo muito que suportardes pela reforma da santa Igreja.