Como minha irmã era zeladora do Coração de Jesus, sempre
	que havia comunhão solene de crianças, levava-me a renovar a
	minha. Minha tia levou, uma vez, a sua filhinha a ver a festa. A
	pequenita fixou-se nos anjos que deitavam flores. Desde esse dia,
	de vez em quando afastava-se de nós, quando jogávamos; colhia
	uma arregaçada de flores e vinha atirar-me com elas.
	– Jacinta, para que fazes isso?
	– Faço como os anjinhos, deito-te flores.
	Minha irmã costumava, ainda, em uma festa anual que devia
	ser, talvez, a de Corpus (Christi), vestir alguns anjinhos, para irem
	ao lado do pálio, na procissão, a deitar flores. Como eu era sempre
	uma das designadas, uma vez, quando minha irmã me provou o
	vestido, contei à Jacinta a festa que se aproximava e como eu ia a
	deitar flores a Jesus. A pequenita pediu-me, então, para eu pedir a
	minha irmã para a deixar ir também. Fomos as duas fazer o pedido;
	minha irmã disse-nos que sim. Provou-lhe também um vestido e,
	nos ensaios, disse-nos como devíamos deitar as flores ao Menino
	Jesus. A Jacinta perguntou:
	– E nós vêmo-Lo?
	– Sim – respondeu minha irmã –, leva-O o Senhor Prior.
	A Jacinta saltava de contente e perguntava continuamente se
	ainda faltava muito para a festa. Chegou, por fim, o desejado dia e
	a pequenita estava doida de contente. Lá nos colocaram as duas
	ao lado do altar; e, na procissão, ao lado do pálio, cada uma com o
	seu açafate de flores. Nos sítios marcados por minha irmã, atirava
	a Jesus as minhas flores. Mas, por mais sinais que fiz à Jacinta,
	não consegui que espalhasse nem uma. Olhava continuamente
	para o Senhor Prior e nada mais. Quando terminou a função, minha irmã trouxe-nos para fora da Igreja e perguntou:
	– Jacinta, por que não deitaste as flores a Jesus?
	– Porque não O vi.
	Depois, perguntou-me:
	– Então tu viste o Menino Jesus?
	– Não! Mas tu não sabes que o Menino Jesus da hóstia, que
	não se vê, está escondido?! É O que nós recebemos na comunhão.
	– E tu, quando comungas, falas com Ele?
	– Falo.
	– E por que não O vês?
	– Porque está escondido.
	– Vou pedir a minha mãe que me deixe ir também a comungar.
	– O Senhor Prior não ta dá sem teres 10 anos.
	– Mas tu ainda os não tens e já comungaste!
	– Porque sabia a doutrina toda e tu não a sabes.
	Pediram-me, então, para os ensinar. Constituí-me, então,
	catequista dos meus dois companheiros que aprendiam com um
	entusiasmo único. Mas eu que, quando me interrogavam, respondia a tudo, agora, para ensinar, poucas coisas me lembravam, o
	que fez com que a Jacinta me dissesse, um dia:
	– Ensina-nos mais coisas, que essas já as sabemos.
	Confessei que não me lembravam sem mas perguntarem, e
	acrescentei:
	– Pede a tua mãe que te deixe ir à Igreja aprender.
	Os dois pequenitos, que desejavam ardentemente receber a
	Jesus escondido, como eles diziam, foram fazer o pedido à mãe.
	Minha tia disse que sim, mas poucas vezes os deixava ir, por que,
	dizia ela, a Igreja é bastante longe, vocês são muito pequeninos e,
	de todos (os) modos, o Senhor Prior não vos dá a comunhão antes
	dos 10 anos (8).
	A Jacinta fazia-me continuamente perguntas a respeito de
	Jesus escondido e lembro-me que, um dia, perguntou-me:
	– Como é que tanta gente recebe ao mesmo tempo o Menino
	Jesus escondido? É um bocadito para cada um?
	– Não. Não vês que são muitas hóstias e que em cada uma
	está um Menino?!
	Quantos disparates Ihe terei dito!
		Como minha irmã era zeladora do Coração de Jesus, sempre
	
		que havia comunhão solene de crianças, levava-me a renovar a
	
		minha. Minha tia levou, uma vez, a sua filhinha a ver a festa. A
	
		pequenita fixou-se nos anjos que deitavam flores. Desde esse dia,
	
		de vez em quando afastava-se de nós, quando jogávamos; colhia
	
		uma arregaçada de flores e vinha atirar-me com elas.
	
		– Jacinta, para que fazes isso?
	
		– Faço como os anjinhos, deito-te flores.
	
		Minha irmã costumava, ainda, em uma festa anual que devia
	
		ser, talvez, a de Corpus (Christi), vestir alguns anjinhos, para irem
	
		ao lado do pálio, na procissão, a deitar flores. Como eu era sempre
	
		uma das designadas, uma vez, quando minha irmã me provou o
	
		vestido, contei à Jacinta a festa que se aproximava e como eu ia a
	
		deitar flores a Jesus. A pequenita pediu-me, então, para eu pedir a
	
		minha irmã para a deixar ir também. Fomos as duas fazer o pedido;
	
		minha irmã disse-nos que sim. Provou-lhe também um vestido e,
	
		nos ensaios, disse-nos como devíamos deitar as flores ao Menino
	
		Jesus. A Jacinta perguntou:
	
		– E nós vêmo-Lo?
	
		– Sim – respondeu minha irmã –, leva-O o Senhor Prior.
	
		A Jacinta saltava de contente e perguntava continuamente se
	
		ainda faltava muito para a festa. Chegou, por fim, o desejado dia e
	
		a pequenita estava doida de contente. Lá nos colocaram as duas
	
		ao lado do altar; e, na procissão, ao lado do pálio, cada uma com o
	
		seu açafate de flores. Nos sítios marcados por minha irmã, atirava
	
		a Jesus as minhas flores. Mas, por mais sinais que fiz à Jacinta,
	
		não consegui que espalhasse nem uma. Olhava continuamente
	
		para o Senhor Prior e nada mais. Quando terminou a função, minha irmã trouxe-nos para fora da Igreja e perguntou:
	
		– Jacinta, por que não deitaste as flores a Jesus?
	
		– Porque não O vi.
	
		Depois, perguntou-me:
	
		– Então tu viste o Menino Jesus?
	
		– Não! Mas tu não sabes que o Menino Jesus da hóstia, que
	
		não se vê, está escondido?! É O que nós recebemos na comunhão.
	
		– E tu, quando comungas, falas com Ele?
	
		– Falo.
	
		– E por que não O vês?
	
		– Porque está escondido.
	
		– Vou pedir a minha mãe que me deixe ir também a comungar.
	
		– O Senhor Prior não ta dá sem teres 10 anos.
	
		– Mas tu ainda os não tens e já comungaste!
	
		– Porque sabia a doutrina toda e tu não a sabes.
	
		Pediram-me, então, para os ensinar. Constituí-me, então,
	
		catequista dos meus dois companheiros que aprendiam com um
	
		entusiasmo único. Mas eu que, quando me interrogavam, respondia a tudo, agora, para ensinar, poucas coisas me lembravam, o
	
		que fez com que a Jacinta me dissesse, um dia:
	
		– Ensina-nos mais coisas, que essas já as sabemos.
	
		Confessei que não me lembravam sem mas perguntarem, e
	
		acrescentei:
	
		– Pede a tua mãe que te deixe ir à Igreja aprender.
	
		Os dois pequenitos, que desejavam ardentemente receber a
	
		Jesus escondido, como eles diziam, foram fazer o pedido à mãe.
	
		Minha tia disse que sim, mas poucas vezes os deixava ir, por que,
	
		dizia ela, a Igreja é bastante longe, vocês são muito pequeninos e,
	
		de todos (os) modos, o Senhor Prior não vos dá a comunhão antes
	
		dos 10 anos (8).
	
		A Jacinta fazia-me continuamente perguntas a respeito de
	
		Jesus escondido e lembro-me que, um dia, perguntou-me:
	
		– Como é que tanta gente recebe ao mesmo tempo o Menino
	
		Jesus escondido? É um bocadito para cada um?
	
		– Não. Não vês que são muitas hóstias e que em cada uma
	
		está um Menino?!
	
		Quantos disparates Ihe terei dito!
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