95. A IA apresenta diversas e promissoras aplicações para melhorar nosso relacionamento com a casa comum que nos acolhe, como a criação de modelos para previsão de eventos climáticos extremos, a proposição de soluções de engenharia para mitigar seus impactos, a gestão de operações de resgate e a previsão de deslocamentos populacionais [173]. Além disso, a IA pode apoiar práticas agrícolas sustentáveis, otimizar o consumo de energia e oferecer sistemas de alerta precoce para emergências de saúde pública. Esses avanços podem fortalecer a resiliência diante dos desafios climáticos e promover um desenvolvimento mais sustentável.
96. Contudo, os modelos atuais de IA e os sistemas de hardware que os suportam demandam grandes quantidades de energia e água, além de contribuir significativamente para as emissões de CO₂ e consumir recursos de maneira intensiva. Essa realidade muitas vezes é obscurecida pela forma como essa tecnologia é apresentada ao público, com termos como cloud (“nuvem”) [174], que sugerem que os dados são armazenados e processados em um domínio intangível, separado do mundo físico. Na verdade, o cloud não é um espaço etéreo, mas, assim como qualquer dispositivo informático, requer máquinas, cabos e energia. O mesmo se aplica à tecnologia subjacente à IA. À medida que esses sistemas se tornam mais complexos, especialmente os modelos de linguagem de grande porte (Large Language Models, LLM), aumenta a necessidade de conjuntos de dados maiores, maior potência computacional e infraestruturas massivas de armazenamento de dados. Considerando o alto impacto ambiental dessas tecnologias, é essencial desenvolver soluções sustentáveis para reduzir seus efeitos sobre a “casa comum”.
97. Conforme ensina o Papa Francisco, é crucial «buscar soluções não apenas na técnica, mas também em uma mudança no ser humano» [175]. Uma visão correta da criação reconhece que o valor de todas as coisas criadas não pode ser reduzido à mera utilidade. Assim, uma gestão verdadeiramente humana da terra rejeita o antropocentrismo distorcido do paradigma tecnocrático, que busca «extrair tudo o que for possível» da natureza [176], e o «mito do progresso», segundo o qual «os problemas ecológicos serão resolvidos simplesmente com novas aplicações técnicas, sem considerações éticas nem mudanças fundamentais» [177]. Essa mentalidade deve dar lugar a uma visão mais holística, que respeite a ordem da criação e promova o bem integral da pessoa humana, sem negligenciar a salvaguarda de nossa «casa comum» [178].