AFETOS E SÚPLICAS PELA CONTRIÇÃO, POR SANTO AFONSO DE LIGÓRIO

AFETOS E SÚPLICAS PELA CONTRIÇÃO, POR SANTO AFONSO DE LIGÓRIO

I

 

Ó meu Deus! Destes-me a razão, a luz da fé e, contudo, portei-me como um irracional, preterindo Vossa divina graça aos vis prazeres mundanos, que se dissiparam como o fumo, deixando apenas remorsos de consciência e dívidas para com Vossa justiça. Ah, Senhor, não me julgueis pelo que mereço (Sl 142, 2), mas tratai-me segundo Vossa misericórdia! Iluminai-me, meu Deus; dai-me dor sobre meus pecados, e perdoai-me. Sou a ovelha tresmalhada; se não me procurardes, perdido continuarei (Sl 118, 176). Tende piedade de mim, pelo sangue precioso que por mim derramastes. Arrependo-me, meu Sumo Bem, de Vos ter abandonado e de ter renunciado voluntariamente à Vossa graça.

 

Quisera morrer de dor; aumentai em mim essa contrição profunda e fazei que chegue ao céu para exaltar ali Vossa infinita misericórdia…

 

Nossa Mãe Maria, meu refúgio e minha esperança, rogai por mim a Jesus; intercedei para que me perdoe e me conceda a santa perseverança.

 

 

II

 

Que me resta, meu Deus, das ofensas que Vos fiz, senão amarguras e penas e méritos para o inferno? Não me acabrunha a dor que sinto, antes me consola e alivia, porque é um dom de Vossa graça que se une à esperança de que me quereis perdoar. O que me aflige é o muito que Vos hei injuriado, meu Redentor, que tanto me amastes. Merecia então, Senhor, que me abandonásseis; em vez disso, vejo que me ofereceis o perdão e que Sois o primeiro a procurar a paz. Sim, meu Jesus, desejo a paz conVosco, e mais que todas as coisas, desejo a Vossa graça. Arrependo-me, Bondade infinita, de Vos ter ofendido e quisera morrer de pura contrição. Pelo amor que tivestes comigo, morrendo por mim na cruz, perdoai-me e acolhei-me em Vosso coração; mudai o meu de tal modo que, se muito Vos ofendeu no passado, mais passe a Vos agradar no futuro. Renuncio, por Vosso amor, a todos os prazeres que o mundo possa oferecer-me e tomo a resolução de perder antes a vida do que Vossa graça. Dizei-me o que quereis que eu faça para servir-Vos, pois que desejo executá-lo. Nada de prazeres, nem de honras e riquezas; só amo a Vós, meu Deus, meu gozo, minha glória, meu tesouro, minha vida, meu amor e meu tudo. Socorrei-me, Senhor, para que Vos seja fiel; concedei-me o dom do Vosso amor e fazei de mim o que Vos aprouver.

 

Maria, Mãe e esperança nossa depois de Jesus Cristo, acolhei-me sob vossa proteção, e fazei que eu seja todo de Deus.

 

 

III

 

Dai-me luz, Senhor, a fim de reconhecer minha maldade em ofender-Vos e a pena eterna que por ela mereci. Sinto, meu Deus, grande dor de ter-Vos ofendido, mas essa dor me consola e alivia. Se me tivésseis precipitado no inferno, como mereci, o remorso seria ali o meu maior castigo ao considerar a miséria e a vileza das coisas que provocaram minha eterna desgraça. Agora, porém, a dor reanima, consola e me infunde esperança de alcançar perdão, que oferecestes ao que se arrepende.

 

Meu Deus e Senhor, arrependo-me de Vos ter ultrajado; aceito com alegria essa pena dulcíssima da dor de minhas culpas, e Vos rogo que a aumenteis e conserveis até à morte, a fim de que não deixe de deplorar um só instante os meus pecados… Perdoai-me, meu Jesus e Redentor, que, por terdes misericórdia de mim, não a tivestes de Vós mesmo, e vos condenastes a morrer de dor para livrar-me do inferno. Tende piedade de mim! Fazei, portanto, que meu coração se conserve sempre contrito e inflamado no Vosso amor, pois que tanto me tendes amado e aturado com tanta paciência, a ponto de, em vez de castigar-me, me cumulardes de luz e de graça… Agradeço-Vos, meu Jesus, e Vos amo de todo o coração.

 

Não sabeis desprezar a quem Vos ama; peço, pois, que não aparteis de mim o Vosso rosto divino. Acolhei-me na Vossa graça e não permitais que torne a perdê-la…

 

Maria, Mãe e Senhora nossa, recebei-me como vosso servo e uni-me a vosso Filho Jesus. Suplicai-lhe que me perdoe e que me conceda, juntamente com o dom do seu amor, a graça da perseverança final.

 

 

IV

 

Soberano Senhor do céu e da terra! Bem infinito e infinita Majestade, como é que os homens podem menosprezar-Vos, se tanto os tendes amado?… Entre eles, Senhor, a mim amastes particularmente, favorecendo-me com graças especialíssimas, que não concedestes a todos; e eu desprezei-as mais que os outros. A Vossos pés me prostro, ó Jesus, meu Salvador! Não me repilais da Vossa presença (Sl 50,13), ainda que bem o mereça por causa de minha ingratidão; mas dissestes que não sabeis desprezar um coração contrito que volta para Vós (Jo 6,37). Meu Jesus, pesa-me de Vos ter ofendido; e se na vida passada não Vos conheci, agora Vos reconheço por meu Senhor e Redentor, que morreu para salvar-me e para ser amado por mim… Quando, meu Jesus, acabará a minha ingratidão? Quando começarei a amar-Vos verdadeiramente?…

 

Hoje, Senhor, tomo a resolução de amar-Vos de todo o meu coração, e não amar a ninguém mais do que a Vós. Ó bondade infinita, adoro-Vos por todos os que Vos não amam. Creio em Vós, espero em Vós, amo-Vos e me ofereço inteiramente a Vós. Assisti-me com a Vossa graça… Se me favorecestes quando não Vos amava nem desejava amar-Vos, quanto mais deverei esperar de Vossa misericórdia agora que Vos amo e desejo Vos amar? Dai-me, Senhor, o Vosso amor… amor fervoroso, que me faça olvidar as criaturas todas; amor fortíssimo, que supere todos os obstáculos que se oponham ao que Vos agrada; amor perpétuo, que não possa cessar. Tudo espero dos Vossos merecimentos, ó meu Jesus, e da Vossa poderosa intercessão, ó Maria, Mãe e Senhora nossa!

 

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