IA E EDUCAÇÃO

IA E EDUCAÇÃO

77. As palavras do Concílio Vaticano II continuam plenamente atuais: «A verdadeira educação deve promover a formação da pessoa humana tanto em vista de seu fim último quanto para o bem dos diversos grupos dos quais o ser humano faz parte» [143]. Isso implica que a educação «não é um simples processo de transmissão de conhecimentos e habilidades intelectuais; ela visa contribuir para a formação integral da pessoa em suas diferentes dimensões (intelectual, cultural, espiritual...), incluindo, por exemplo, a vida comunitária e as relações vividas dentro da comunidade acadêmica» [144], sempre respeitando a natureza e a dignidade da pessoa humana.

 

78. Esse enfoque exige um compromisso com a formação da mente, mas como parte do desenvolvimento integral da pessoa: «Precisamos romper com a visão de que educar é encher a cabeça de ideias. Dessa forma, formamos autômatos, macrocefálicos, não pessoas. Educar é apostar na tensão entre a cabeça, o coração e as mãos» [145].

 

79. No centro desse trabalho de formação integral está a indispensável relação entre professor e aluno. Os professores não apenas transmitem conhecimento, mas também são modelos de qualidades humanas essenciais e inspiradores da alegria pela descoberta [146]. Sua presença motiva os estudantes tanto pelo conteúdo que ensinam quanto pela atenção que demonstram. Essa conexão fomenta confiança, compreensão mútua e o reconhecimento da dignidade única e do potencial de cada indivíduo. No estudante, isso pode despertar um genuíno desejo de crescer. A presença física do professor cria uma dinâmica relacional que a IA não pode replicar, aprofundando o engajamento e promovendo o desenvolvimento integral do aluno.

 

80. Nesse contexto, a IA apresenta tanto oportunidades quanto desafios. Quando usada de forma prudente, dentro de uma relação real entre professor e aluno e direcionada aos verdadeiros objetivos da educação, ela pode se tornar um recurso educacional valioso, ampliando o acesso à instrução, oferecendo suporte personalizado e feedbacks imediatos aos alunos. Esses benefícios podem melhorar a experiência de aprendizado, especialmente em situações que exigem atenção individualizada ou onde os recursos educacionais são limitados.

 

81. Por outro lado, um objetivo essencial da educação é formar «o intelecto para raciocinar bem em todas as disciplinas, buscar a verdade e compreendê-la» [147], ajudando «a linguagem da cabeça» a crescer em harmonia com «a linguagem do coração» e «a linguagem das mãos» [148]. Isso é ainda mais vital em uma era marcada pela tecnologia, onde «não se trata apenas de “usar” ferramentas de comunicação, mas de viver em uma cultura amplamente digitalizada que afeta profundamente a noção de tempo e espaço, a percepção de si mesmo, dos outros e do mundo, o modo de comunicar, de aprender, de informar-se e de se relacionar» [149]. Contudo, em vez de promover «um intelecto culto», que «traz consigo poder e graça em cada trabalho e ocupação que realiza» [150], o uso excessivo da IA na educação pode aumentar a dependência dos alunos da tecnologia, prejudicar sua autonomia em realizar tarefas e intensificar a dependência das telas [151].

 

82. Além disso, enquanto alguns sistemas de IA são projetados para ajudar as pessoas a desenvolver suas habilidades de pensamento crítico e resolução de problemas, muitos outros programas simplesmente fornecem respostas, em vez de incentivar os alunos a buscá-las ou produzir seus próprios textos [152]. Em vez de treinar os jovens para acumular informações e oferecer respostas rápidas, a educação deve «promover liberdades responsáveis, que saibam escolher com bom senso e inteligência diante de desafios complexos» [153]. Assim, «a educação para o uso de formas de inteligência artificial deve focar, sobretudo, em fomentar o pensamento crítico. É necessário que os usuários de todas as idades, especialmente os jovens, desenvolvam a capacidade de discernir no uso de dados e conteúdos encontrados na internet ou gerados por sistemas de IA. Escolas, universidades e sociedades científicas são chamadas a ajudar alunos e profissionais a assimilar os aspectos sociais e éticos do desenvolvimento e uso da tecnologia» [154].

 

83. Como lembrou São João Paulo II, «no mundo atual, caracterizado por desenvolvimentos tão

rápidos na ciência e na tecnologia, as tarefas da Universidade Católica assumem uma importância e urgência cada vez maiores» [155]. Em particular, as Universidades Católicas são convidadas a se tornarem grandes laboratórios de esperança neste momento histórico. Em uma abordagem interdisciplinar e transdisciplinar, devem exercer «sabedoria e criatividade» [156], realizando uma pesquisa cuidadosa sobre esse fenômeno, contribuindo para revelar as potencialidades benéficas nas diversas áreas da ciência e da realidade, guiando-as para aplicações eticamente responsáveis e orientadas ao bem comum, além de alcançar novas fronteiras no diálogo entre fé e razão.

 

84. Ademais, é sabido que os programas atuais de IA podem oferecer informações distorcidas ou fabricadas, levando os alunos a confiar em conteúdos imprecisos. «Dessa forma, corre-se o risco não apenas de legitimar notícias falsas e reforçar uma cultura dominante, mas também de enfraquecer o próprio processo educativo em sua essência» [157]. Com o tempo, a distinção entre usos apropriados e inadequados dessa tecnologia no ensino e na pesquisa pode se tornar mais clara. Um princípio orientador fundamental é que o uso da IA deve sempre ser transparente e jamais ambíguo.

 

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