Ir. Faustina
do Santíssimo Sacramento
Congregação das Irmãs
da Mãe de Deus da Misericórdia
JMJ
1322. Navega a barca da minha vida
Entre as escuridões e as sombras da noite,
E não vejo nenhum porto,
Estou à mercê do mar profundo.
A mais pequena tempestade poderia afundar-me,
Mergulhando a minha barca no torvelinho das ondas,
Se não vigiares sobre mim, Tu Mesmo, oh Deus,
Em cada momento da minha vida, em cada instante.
No meio do estrondo das ondas
Navego tranquilamente com confiança
E, como uma criança, olho adiante sem temor,
Porque Tu, oh Jesus, és a minha luz.
Tudo à minha volta é horror e espanto,
Mas a minha paz é mais profunda que as profundidades do mar
Porque quem está Contigo, Senhor, não perecerá
Me assegura o Teu amor divino.
Embora à volta haja muitos perigos,
Não os temo, porque olho o Céu estrelado.
E navego com coragem e alegria,
Como corresponde a um coração puro.
Mas principalmente, por uma única razão,
Por seres Tu o meu timoneiro, oh Deus,
A barca da minha vida navega tão serenamente
Reconheço-o na mais profunda humildade.
JMJ
1323. Meu Deus, amo-Te.
Ir. Faustina do Santíssimo Sacramento
1324. Cracóvia, 20 X 1937
Saúdo-Te, oh Pão dos Anjos,
Com profunda fé, esperança, amor,
E do profundo da alma Te adoro,
Embora seja uma nulidade.
Saúdo-Te, oh Deus oculto,
E amo-Te com todo o coração,
Não me impedem os véus do mistério,
Amo-Te como os eleitos no Céu.
Saúdo-Te, oh Cordeiro de Deus,
Que tiras as culpas da minha alma,
A quem acolho no meu coração cada manhã,
És Tu, que me ajudas na salvação.
JMJ
1325. Cracóvia, 20 X 1937
Quinto Diário
Oh meu Deus, que Te adore tudo o que existe em mim, oh Criador e
Senhor meu, e com cada batimento do meu coração desejo glorificar a Tua
Misericórdia insondável. Desejo falar às almas da Tua bondade e convidálas a confiar na Tua Misericórdia. Esta é a minha missão que Tu Mesmo me
confiaste nesta e na vida futura.
1326. Hoje começamos os exercícios espirituais de oito dias. Oh Jesus,
meu Mestre, ajuda-me que faça estes santos exercícios com o maior fervor.
Que o Teu Espírito, oh Deus, me guie no profundo conhecimento de Ti,
Senhor, e no total conhecimento de mim mesma, já que tanto mais Te amo
quanto mais Te conheço. Tanto mais me desprezarei a mim própria quanto
mais conhecer a minha miséria. Sei que Tu, Senhor, não me negarás a Tua
ajuda. Desejo sair santa destes exercícios espirituais, embora não o notem
os olhos dos homens nem tampouco o olhar das Superioras. Submeto-me
completamente à acção da Tua graça; que se cumpra completamente em
mim a Tua vontade, Senhor.
1327. Primeiro dia. Jesus: Minha filha, estes exercícios espirituais
serão uma contínua contemplação; introduzir-Te-ei nestes exercícios
como num banquete espiritual. Junto ao Meu Coração misericordioso
meditarás sobre todas as graças que o teu coração recebeu e uma
profunda paz reinará na tua alma.
Desejo que o olhar da tua alma esteja sempre cravado na Minha
santa vontade e com isto agradar-Me-ás muitíssimo. Nenhum sacrifício
é comparável com este. Durante todos os exercícios permanecerás junto
ao Meu Coração, não farás nenhumas mudanças, porque a tua vida é
segundo a Minha complacência. Não te perturbará nenhuma só
palavra do sacerdote que prega os exercícios.
1328. Oh meu Jesus, fiz já duas meditações e vejo que tudo o que me
disseste é verdade. Experimento uma profunda paz e esta paz vem do
testemunho da minha consciência, isto é, que sempre cumpro a Tua
vontade, oh Senhor.
1329. Na meditação sobre o fim do homem, compreendi que esta
verdade está profundamente enraizada na minha alma e por isso as minhas
obras são mais perfeitas. Sei para que fui criada; todas as criaturas juntas
não me podem substituir junto do Criador; sei que o meu fim último é Deus,
portanto, em tudo o que faço, Deus está presente.
1330. Oh, que belo é fazer os exercícios espirituais ao lado do
dulcíssimo Coração do meu Deus. Estou num deserto com o meu Esposo,
ninguém me incomoda no doce colóquio que tenho com Ele.
1331. Oh Jesus, Tu Mesmo Te dignaste pôr o fundamento no edifício da
minha santidade, já que a minha colaboração não foi grande. Na indiferença
na utilização das coisas e na escolha das mesmas, Tu me ajudaste, oh
Senhor, porque o meu coração é fraco por si mesmo e por isso Te pedi, meu
Mestre, que não olhasses a dor do meu coração mas que cortasses tudo o
que pudesse reter-me no caminho do amor. Não Te entendia, Senhor, nos
momentos do sofrimento, quando construias a obra na minha alma, mas
hoje compreendo-Te e alegro-me na liberdade do espírito. O próprio Jesus
vigiou para que nenhuma paixão envolvesse o meu coração. Conheci bem
de que perigos me tinha livrado, e por isso o meu agradecimento a Deus não
tem limites.
1332. Segundo dia. Quando meditava sobre o pecado dos Anjos e sobre
o seu castigo imediato, perguntei a Jesus: ¿Por que é que os Anjos foram
castigados imediatamente depois do pecado? Escutei uma voz: Pelo seu
profundo conhecimento de Deus. Nenhuma pessoa na Terra, embora
seja um grande santo, tem tal conhecimento de Deus como o de um
Anjo. Mas comigo, miserável, oh Deus, mostraste-Te misericordioso tantas
vezes. Levas-Me no seio da Tua Misericórdia e perdoas-me sempre quando,
com o coração contrito, Te suplico perdão.
1333. Um profundo silêncio inunda a minha alma; nem uma só
nuvenzinha me tapa o sol, exponho-me completamente aos raios deste Sol
para que o Seu amor realize em mim uma mudança total. Quero sair santa
destes exercícios espirituais, apesar de tudo, isto é, apesar da minha miséria.
Quero tornar-me santa e confio em que a Divina Misericórdia pode fazer
uma santa da miséria que sou, porque acima de tudo tenho boa vontade.
Apesar de todos os fracassos, quero lutar como uma alma santa e quero
comportar-me como uma alma santa. Não me desanimará nada como não se
desanima uma alma santa. Quero viver e morrer como uma alma santa,
contemplando-Te, Jesus pregado na cruz, como um modelo a seguir.
Procurei exemplos à minha volta e não encontrei suficientes e notei como
se a minha santidade não me satisfizesse; então fixei o meu olhar em Ti, oh
Cristo, que és o meu melhor guia. Confio que abençoarás os meus esforços.
1334. Durante a meditação sobre o pecado o Senhor deu-me a conhecer
toda a maldade do pecado e a ingratidão que nele se contém. Sinto na minha
alma uma grande repugnância até pelo mais pequeno pecado. No entanto,
estas verdades eternas que contemplo não despertam na minha alma
nenhuma sombra de perturbação ou de inquietação; apesar da minha
profunda preocupação por elas, a minha contemplação não se interrompe.
Nesta contemplação não experimento enlevos do coração mas uma
profunda paz e um singular recolhimento interior. Embora o amor seja
grande, há um misterioso equilíbrio: nem sequer receber a Eucaristia me
provoca emoção, mas introduz-me na mais profunda união onde o meu
amor, unido ao amor de Deus, são um único.
1335. Jesus ensinou-me que devo rezar pelas outras irmãs que fazem os
exercícios espirituais. Enquanto rezava conheci a luta de certas almas [e]
redobrei as minhas preces.
1336. Neste profundo recolhimento posso apreciar melhor o estado da
minha alma. A minha alma parece-se com a água límpida, na qual vejo
tudo, tanto a minha miséria como a grandeza das graças de Deus, e deste
verdadeiro conhecimento o meu espírito fortalece-se numa profunda
humildade. Exponho o meu coração à acção da Tua graça, como o cristal
aos raios do sol; que a Tua imagem divina se reflicta no meu coração tanto
quanto é possível reflectir-se numa criatura; Tu, que vives na minha alma,
[faz] que através de mim irradie a Tua Divindade.
1337. Quando rezava diante do Santíssimo Sacramento venerando as
cinco chagas de Jesus, enquanto invocava cada uma das chagas senti que
uma torrente de graça jorrava na minha alma, oferecendo-me o gosto
antecipado do Céu e uma confiança absoluta na Divina Misericórdia.
1338. No momento em que escrevo estas palavras ouvi Satanás a gritar:
«Escreves tudo, escreves tudo e por isso perdemos tanto. Não escrevas
sobre a bondade de Deus, Ele é justo». E dando uivos de raiva, desapareceu.
1339. Oh Deus misericordioso que não nos desprezas mas que
continuamente nos enches das Tuas graças, nos fazes dignos do Teu reino e,
na Tua bondade, ocupas com os homens os lugares abandonados pelos
Anjos ingratos. Oh Deus de grande Misericórdia que afastaste a Teu santo
olhar dos Anjos rebeldes dirigindo-o para o homem arrependido, seja dada
honra e glória à Tua Misericórdia insondável, oh Deus que não desprezas o
coração humilde.
1340. Oh meu Jesus, sinto que a minha natureza se enobrece, mas apesar
destas Tuas graças não morre de todo, portanto a minha vigilância é
contínua. Tenho que lutar contra muitos defeitos, sabendo bem que a luta
não abate ninguém, mas tão só a cobardia e a queda.
1341. Quando se é delicado de saúde deve suportar-se muito, já que
quando se está doente e não se está de cama, não se é considerado enfermo.
Por vários motivos tem-se continuamente a ocasião para fazer sacrifícios e,
às vezes, de sacrifícios muito grandes. Agora compreendo que só a
eternidade fará conhecer muitas coisas, mas compreendo também que se
Deus exige um sacrifício, não é avaro na Sua graça, mas antes a concede à
alma em abundância.
1342. Oh meu Jesus, que o meu sacrifício arda silenciosamente diante do
Teu trono; mas em toda a plenitude do amor, implorando-Te Misericórdia
para as almas.
1343. Terceiro dia. Durante a meditação sobre a morte, preparei-me
como se realmente fosse morrer; fiz o exame de consciência e examinei
minuciosamente todas as minhas acções frente à morte, e por mérito da
graça, os meus actos levavam em si o selo do fim último, o qual encheu o
meu coração de grande agradecimento a Deus e decidi servir no futuro o
meu Deus com mais fidelidade. Antes do mais, fazer morrer completamente
o homem velho e começar uma vida nova. De manhã preparei-me para
receber a Santa Comunhão como se fosse a última da minha vida; depois da
Santa Comunhão imaginei a morte real e rezei pelos agonizantes e depois o
De Profundis pela minha alma. O meu corpo foi deposto no sepulcro e disse
à minha alma: Olha, o que é o teu corpo, um montão de lama e uma grande
quantidade de vermes. Eis a tua herança.
1344. Oh Deus misericordioso que ainda me permites viver, dá-me força
para que possa viver uma vida nova, a vida do espírito sobre a qual a morte
não tem poder. E o meu coração renovou-se e iniciou uma vida nova já aqui
na Terra, a vida do amor de Deus. No entanto, não esqueço que sou a
fraqueza em pessoa, embora não duvide, nem por um momento, na ajuda da
Tua graça, oh Deus.
1345. Quarto dia. Oh Jesus, sinto-me singularmente bem junto ao Teu
Coração durante estes exercícios espirituais. Nada perturba a minha
profunda paz; com um olho vejo o abismo da minha miséria e com o outro
olho o abismo da Tua Misericórdia.
1346. Durante a Santa Missa, celebrada pelo Padre Andrasz, vi o
pequeno Menino Jesus sentado no cálice da Santa Missa, com as mãozinhas
estendidas para nós. Depois de me olhar profundamente, disse-me estas
palavras: Vivo no teu coração tal como Me vês neste cálice.
1347. Confissão. Depois de dar conta da minha consciência recebi as
autorizações pedidas: a de levar a correia meia hora todos os dias
durante a Santa Missa e, em momentos excepcionais, duas horas de cinto.
[O Padre disse-me:] «Conserve, irmã, a maior fidelidade ao Senhor
Jesus».
1348. Quinto dia. De manhã, ao entrar na capela, apercebi-me que a
Madre Superiora tinha tido certo desgosto por minha causa. Isto causou-me
muito dor. Depois da Santa Comunhão, inclinei a cabeça sobre o
Sacratíssimo Coração de Jesus e disse-lhe: Oh Senhor meu, rogo-Te, faz
que todo o consolo que tenho no meu coração pela Tua presença flua sobre
a alma da minha querida Superiora que teve um desgosto por minha causa,
sem que eu esteja consciente disso.
1349. Jesus consolou-me [dizendo] que ambas tinhamos tirado proveito
para a alma. Eu, no entanto, supliquei ao Senhor que se dignasse guardarme de que alguém sofra por minha causa, já que o meu coração não o
suportaria.
1350. Oh Hóstia branca, Tu conservas a alvura da minha alma; temo o
dia em que não Te receber. Tu és o Pão dos Anjos e, por conseguinte,
também o Pão das virgens.
1351. Oh Jesus, meu modelo perfeitíssimo, com o olhar cravado em Ti
irei pela vida seguindo os Teus passos, ajustando a natureza à graça
segundo a Tua santíssima vontade e a luz que ilumina a minha alma,
confiando plenamente na Tua ajuda.
JMJ
1352. Plano da minha direcção interior
Exame especial de consciência.
União com Cristo misericordioso. Quando estou unida a Jesus devo estar
sempre e em toda a parte fiel e unida interiormente ao Senhor e, no exterior,
fidelidade à Regra e especialmente ao silêncio.
1353. Novembro
vitórias 53 - quedas 2
Dezembro 104 -
Janeiro 78 - 1
Fevereiro 59 - 1
Março 50 -
Abril 61 -
Maio
Junho
Julho
Agosto
Setembro
Outubro
1354.
Quando tenho dúvidas sobre como comportar-me, sempre pergunto ao
amor, ele dá-me os melhores conselhos.
1355.
Exame geral de consciência
Ano 1937 – 25 X
Vitórias Quedas
XI XII I II III IV V VI VII VIII IX X
Mandamentos de Deus
Voto de pobreza 9
Voto de castidade 7
Voto de obediência 27 7
Regras 7
Amor ao próximo 38 17 73 35 30 20 1,1,1,
Humildade 7 39 23 34 56 25 2,3,1,1,6
Paciência 23 56 50 17 80 50
Benevolência 11 45 37 28 37 20
Bom nome do Próximo 15 25 3 1 1,
Santa Missa 6,2,1,12
e Santa Comunhão 17 12 13 7 10 Santa Comunhão 1,(12)
Meditação 6 5 10
Exame especial 7 5 11 1
Comportamento com Deus e com o confessor 5 5
- com as Superioras 7 1,1
- com as irmãs
E alunas 4 7
- com os leigos 20 2 2,1
1356. Sexto dia. Oh meu Deus, estou preparada para toda a Tua vontade.
Qualquer que seja o modo como me guies Te abençoarei. Qualquer coisa
que exijas, cumpri-la-ei com a ajuda da Tua graça. Qualquer que seja a Tua
santa vontade para comigo a aceitarei com todo o coração e com toda a
alma, sem reparar no que me diga a minha natureza corrompida.
1357. Uma vez, passando próximo de um grupo de pessoas perguntei ao
Senhor: ¿Estão todos no estado de graça, visto que não senti as Tuas dores?
O facto de não experimentares as Minhas dores não quer dizer que
todos estão no estado de graça. Às vezes faço-te sentir o estado de
certas almas e dou-te a graça de sofrer somente porque te uso como um
instrumento para a sua conversão.
1358. Onde há verdadeira virtude, ali deve haver também sacrifício; toda
a vida deve ser um sacrifício.
As almas podem ser úteis unicamente por meio do sacrifício. As minhas
relações com o próximo podem trazer glória a Deus através do sacrifício de
mim mesma; no entanto, neste sacrifício deve haver o amor de Deus, já que
n'Ele tudo se centra e adquire valor.
1359 Recorda que quando saíres de estes exercícios espirituais Me
comportarei contigo como com uma alma perfeita. Desejo ter-te nas
Minhas mãos como um instrumento idóneo para cumprir as Minhas
obras.
1360. Oh Senhor, que penetras todo o meu ser e os mais secretos rincões
da minha alma, Tu vês que Te desejo unicamente a Ti e nada mais desejo
que cumprir a Tua santa vontade sem fazer caso de nenhuma dificuldade,
nem sofrimento, nem humilhação, nem qualquer consideração humana.
1361. É sumamente agradável para Mim este decidido propósito teu
de fazer-te santa. Abençoo os teus esforços e dar-te-ei a oportunidade
de te santificares. Está atenta para que não se te escape nenhuma
oportunidade que a Minha providência te dará para te santificares. Se
não conseguires aproveitar uma dada oportunidade não percas a
serenidade, mas humilha-te profundamente perante Mim e submergete toda com grande confiança na Minha Misericórdia e assim ganharás
mais do que perdeste; porque a uma alma humilde dá-se com mais
generosidade, mais do que ela mesma peça…
1362. Sétimo dia. O conhecimento do meu destino, isto é, a segurança
interior de que alcançarei a santidade. Este profundo conhecimento encheu
a minha alma de agradecimento para Deus e atribuí toda a glória a Deus,
porque sei o que sou por mim própria.
1363. Destes exercícios espirituais saio totalmente transformada pelo
amor de Deus. A minha alma inicia seriamente e com coragem uma nova
vida, embora exteriormente esta vida não mude nada e ninguém o perceba;
no entanto, o amor puro é o guia da minha vida e o seu fruto exterior é a
Misericórdia. Sinto que estou toda penetrada por Deus e com este Deus
caminho pela vida quotidiana, cinzenta, monótona e penosa, confiando que
Aquele a quem sinto no meu coração transformará esta monotonia em
santidade pessoal.
1364. Num recolhimento profundo, junto ao Teu Coração
misericordioso, durante estes exercícios espirituais amadurece a minha
alma. Sob os raios puros do Teu amor a minha alma perdeu a sua acidez,
transformando-se num fruto doce e maduro; agora posso ser plenamente útil
à Igreja com a minha santidade pessoal que dará pulsações de vida em toda
a Igreja, posto que todos formamos um mesmo organismo em Jesus. Por
isso me empenho em que a Terra do meu coração produza bons frutos,
embora o olhar humano, talvez não os perceba; mas chegará um dia em que
se poderá ver que muitas almas se alimentaram e se alimentarão deste fruto.
1365. Oh Amor eterno que incendeias a minha nova vida, uma vida de
amor e de Misericórdia, apoia-me com a Tua graça para que responda
dignamente à Tua chamada, para que se cumpra nas almas, através de mim,
o que Tu próprio determinaste.
Meu Deus, vejo o resplendor das auroras eternas. Toda a minha alma se
lança para Ti, Senhor, já nada me detém nem me ata à Terra. Ajuda-me,
Senhor, a suportar com paciência o resto dos meus dias. A oferenda do meu
amor arde sem cessar perante a Tua Majestade, mas tão silenciosamente que
somente o Teu olhar, oh Deus, a vê, nenhum outro é capaz de a perceber.
1366. Oh Senhor meu, embora me ocupem tantas coisas, embora esta
Obra esteja no meu coração, embora deseje o triunfo da Igreja, embora
deseje a salvação das almas, embora me firam todas as perseguições dos
Teus fiéis, embora me faça sofrer cada queda das almas, no entanto, apesar
de tudo, tenho na alma uma profunda paz que nem os triunfos, nem os
desejos, nem as contrariedades são capazes de perturbar, porque Tu, meu
Senhor e meu Deus, estás para mim por cima de todas as coisas que
permites que sucedam.
1367. Oitavo dia. Oh Senhor meu, recordando todos os benefícios ao
lado do Teu Sacratíssimo Coração, senti a necessidade de expressar uma
gratidão especial por tantas graças e benefícios divinos. Desejo submergirme no agradecimento diante da divina Majestade, durante sete dias e sete
noites permanecer na oração de acção de graças. Embora exteriormente
cumpra todos as minhas obrigações, no entanto o meu espírito estará
incessantemente diante do Senhor e todas as práticas de piedade estarão
impregnadas do espírito de agradecimento. À noite, durante meia hora,
ajoelhada, a sós com o Senhor na minha cela; de noite, cada vez que
acordar, me submergirei na oração de acção de graças. Com isto desejo
compensar, ao menos em parte, pela grandeza dos benefícios de Deus.
1368. No entanto, para que tudo isto fosse mais agradável aos olhos de
Deus e para que não me ficasse nem uma sombra de dúvida, fui falar com o
meu director espiritual e manifestei-lhe o desejo que a minha alma sentiu de
se submergir neste agradecimento. Obtive licença para tudo, com excepção
de não me esforçar a orar de noite, quando acorde.
1369. Com quanta alegria regressei ao convento e no dia seguinte
comecei este grande agradecimento com o acto da renovação dos votos.
Toda a minha alma se submergiu em Deus e de todo o meu ser irrompia
para Deus uma só chama, de reconhecimento e de agradecimento. As
palavras não foram muitas, porque os benefícios de Deus como fogo
ardente inflamavam a minha alma e todos os sofrimentos e desgostos eram
como lenha atirada ao fogo sem a qual o fogo se teria apagado. Invoquei
todo o Céu e Terra a unir-se ao meu agradecimento.
1370. Terminaram os exercícios espirituais, esses belos dias de
permanecer a sós com o Senhor Jesus.
Fiz estes exercícios espirituais tal como Jesus o desejava e como me
tinha dito no primeiro dia dos exercícios, isto é, na máxima serenidade,
meditando os benefícios de Deus. Jamais na minha vida tinha feito uns
exercícios espirituais como estes. Com esta paz a minha alma foi reforçada
mais profundamente que com choques ou emoções. Nos raios do amor vi
tudo como é na realidade.
1371. Ao sair destes exercícios espirituais sinto-me totalmente
transformada pelo amor de Deus. Oh Senhor, diviniza as minhas acções
para que adquiram méritos para a eternidade e embora a minha debilidade
seja grande, confio no poder da Tua graça que me sustentará.
1372. Oh meu Jesus, Tu sabes que desde os mais tenros anos desejava
ser uma grande santa, isto é, desejava amar-Te com um amor tão grande
como nenhuma alma Te amou até agora. Ao princípio estes eram os meus
desejos secretos, dos quais sabia só Jesus. Hoje não os consigo conter no
coração, desejaria gritar ao mundo inteiro: Amai a Deus, porque é bom e a
Sua Misericórdia é grande.
1373. Oh dias quotidianos e cheios de monotonia, vejo-os com olhar
solene e festivo. Que grande e solene é o tempo que nos oferece a
possibilidade de recolher méritos para o Céu eterno; compreendo como o
utilizariam os santos.
1374. 30 X 1937. Hoje, durante a cerimónia religiosa, na Santa
Missa, no segundo dia de acção de graças, vi Jesus com aspecto de grande
beleza e disse-me: Minha filha, não te dispensei da acção. Respondi-Lhe:
Senhor, a minha mão é fraca para tais obras. Sim, Eu sei, mas unida à
Minha dextra, cumprirás tudo. No entanto, sê obediente, sê obediente
aos confessores. Eu lhes darei a luz para saberem como devem guiar-te.
Senhor, eu quis dar começo à obra em Teu nome, no entanto, o Padre S.
continua a adiá-la. Jesus respondeu-me: Eu sei, portanto faz o que
está ao teu alcance, mas não podes eximir-te.
1375. Novembro – 1 XI 1937
Hoje, depois das vésperas, a procissão foi ao cemitério; eu não pude ir
porque estava de guarda na portaria, mas isso não me impediu de rezar
pelas queridas almas. Quando a procissão voltou do cemitério à capela, a
minha alma sentiu a presença de muitas almas. Compreendi a grande justiça
de Deus e que cada um tem que pagar até ao último cêntimo.
1376. O Senhor deu-me a oportunidade de me exercitar na paciência por
meio de uma pessoa com a qual cumpro a mesma tarefa. É tão lenta que
ainda não vi uma pessoa tão vagarosa como ela; há que armar-se de grande
paciência para escutar as suas conversas maçadoras.
1377. 5 XI. Esta manhã chegaram à porta cinco desempregados, que
queriam entrar a todo o custo. A Ir. N. depois de discutir com eles e sem
poder despedi-los, veio à capela para falar com a Madre, que me
mandou ir. Estava ainda longe da porta quando ouvi as suas insistentes
pancadas nela. Num primeiro momento invadiram-me dúvidas e temor, não
sabia se devia abrir-lhes a porta ou responder pelo postigo, como tinha feito
a Ir. N. Mas, de repente, ouvi uma voz na alma: Vai e abre-lhes a porta e
conversa com eles com a mesma doçura com que falas Comigo. Abri
logo a porta aproximei-me do mais ameaçador e comecei a falar-lhe com
tanta doçura e serenidade que eles mesmos não sabiam que fazer e também
começaram a falar com gentileza e disseram: ¿Que havemos de fazer? Se o
convento não pode dar-nos trabalho. E foram-se embora em paz. Senti
claramente que Jesus, que tinha recebido na Santa Comunhão uma hora
antes, actuou nos seus corações através de mim. Oh, que belo é agir sob a
inspiração de Deus.
1378. Hoje senti-me pior e fui falar com a Madre Superiora, com a
intenção de lhe pedir licença para me deitar.
Mas antes de lhe pedir licença, a Madre Superiora disse-me: «irmã, deve
desembaraçar-se sozinha na porta, porque vou precisar da sua ajudante para
a cozinha, porque não há ninguém para esse trabalho».
Respondi que estava bem e saí do quarto. Ao chegar à porta senti-me
estranhamente forte e cumpri com o meu dever durante todo o dia e sentime bem. Experimentei o poder da santa obediência.
1379. 10 XI [1937]. Quando a querida Madre me mostou o livrinho
no qual estão a coroinha e as ladainhas junto com a novena, pedi à
Madre que me deixasse folhear. Enquanto o folheaava, Jesus fez-me saber
interiormente que: Já muitas almas foram atraídas para o Meu amor
por esta imagem. A Minha Misericórdia actua nas almas através desta
Obra. Soube que muitas almas experimentaram a graça de Deus.
1380. Soube que a Madre Superiora suportaria uma cruz bastante
pesada, unida a sofrimentos físicos, mas que não durará muito tempo.
1381. Ocorreu-me a ideia de não tomar o medicamento com a colher
cheia mas um pouco de cada vez, porque era caro. No mesmo momento
ouvi uma voz: Minha filha, não Me agrada tal comportamento; aceita
com agradecimento tudo o que te dou através das tuas Superioras e
deste modo agradar-Me-ás mais.
1382. Quando morreu a Ir. Doménica, cerca da uma da noite, veio
ver-me e avisou-me que tinha falecido. Rezei por ela com fervor. Na manhã
seguinte as irmãs disseram-me que já tinha falecido, respondi que já o sabia
porque tinha ido ver-me. A irmã enfermeira pediu-me que a ajudasse
a vesti-la. Num momento quando fiquei com ela, o Senhor revelou-me que
sofria ainda no Purgatório. Redobrei as minhas orações por ela, mas apesar
do fervor com o qual rezo sempre pelas irmãs defuntas, confundi os dias e
em vez de oferecer três dias de orações como prescreve a Regra, por erro
ofereci dois. Ao quarto dia recordou-me que ainda lhe devia umas orações,
e que necessitava delas. Imediatamente formulei a intenção de oferecer um
dia inteiro por ela, mas não somente esse dia, mas mais, segundo me
sugeria o amor ao próximo.
1383. Devido a que a Ir. Doménica depois de morrer tinha um aspecto
tão bonito que não dava a impressão de cadáver, algumas irmãs exprimiram
a dúvida: ¿Estará, por acaso, em letargia? E uma das irmãs disse-me para ir
com ela e pôr um espelho em frente da boca para ver se se embaciava, pois
se estivesse viva se embaciaria.
Disse que sim e fizemos o que tinhamos dito, mas o espelho não se
embaciou, embora nos parecesse que realmente se tinha embaciado. No
entanto, o Senhor fez-me saber quanto isso O tinha desgostado e fui
admoestada severamente a não proceder nunca contra a convicção interior.
Humilhei-me profundamente perante o Senhor e pedi-Lhe perdão.
1384. Vejo certo sacerdote que Deus ama muito, mas Satanás odeia-o
terrivelmente porque leva muitas almas a uma santidade elevada e tem em
conta unicamente a glória de Deus. Mas peço a Deus que não lhe falte
paciência com quem continuamente o contraria. Satanás, onde não pode
fazer dano por si próprio, serve-se dos homens.
1385. 19 XI. Hoje, depois da Santa Comunhão Jesus disse-me quanto
deseja vir aos corações humanos.
Desejo unir-Me às almas humanas. O Meu grande deleite é unir-Me
com as almas. Deves saber, Minha filha, que quando chego a um
coração humano na Santa Comunhão, tenho as mãos cheias de toda a
espécie de graças e desejo dá-las à alma, mas as almas nem sequer Me
prestam atenção, Deixam-Me só e ocupam-se de outras coisas. Oh, que
triste é para Mim que as almas não reconheçam o Amor. Tratam-Me
como uma coisa morta. Contestei a Jesus: Oh tesouro do meu coração,
único objecto do meu coração e todo o deleite da minha alma, desejo
adorar-Te no meu coração tal como és adorado no trono da Tua glória
eterna. O meu amor deseja compensar-Te, pelo menos em pequena parte,
pela frieza de um grande número de almas. Oh Jesus, toma o meu coração
que é Tua morada a que ninguém tem acesso. Tu Mesmo descansa nele
como num belo jardim. Oh meu Jesus, até já, tenho de ir trabalhar, mas
manifestar-Te-ei o meu amor com sacrifício, sem omitir nem deixar que se
me escape nenhuma ocasião para isso.
1386. Quando saí da capela a Madre Superiora disse-me: «a irmã não irá
à aula de catecismo, mas vai ficar de guarda». Está bem, Jesus, assim,
durante todo o dia, tive excepcionalmente muitas ocasiões para fazer
sacrifícios, não omiti nenhum, graças à força de ânimo que extraí da Santa
Comunhão.
1387. Há momentos na vida, quando a alma se encontra num estado em
que quase não compreende as palavras humanas, tudo a cansa e nada a
acalma, excepto uma prece fervorosa. Numa oração fervorosa a alma
encontra alívio e embora quisesse explicações das criaturas, estas mesmas
lhe proporcionariam somente maior inquietação.
1388. Durante uma oração aprendi quanto é agradável a Deus a alma do
Padre Andrasz. É um verdadeiro filho de Deus. Em poucas almas esta
filiação de Deus se evidencia tão claramente e é porque tem uma devoção
especialíssima à Mãe de Deus.
1389. Oh meu Jesus, embora sinta uma grande pressa, não posso deixarme levar por ela e isso para não estropear a Tua Obra com a minha pressa.
Oh meu Jesus, fazes-me conhecer os Teus mistérios e queres que os
trasmita a outras almas. Já dentro de pouco tempo se abrirá para mim a
possibilidade de actuar. A minha missão começará já sem obstáculos no
momento em que parecer completamente destruída. É esta a vontade de
Deus, que não mudará apesar de que muitas pessoas estarão contra, mas
nada consegue mudar a vontade de Deus.
1390. Vejo o Padre Sopocko, como a sua mente está ocupada e trabalha
pela causa de Deus perante os dignitários da Igreja para apresentar os
desejos divinos. Graças às suas diligências uma nova luz resplandecerá na
Igreja de Deus para consolo das almas. Embora, de momento, a sua alma
esteja cheia de amargura como recompensa pelos esforços que faz para
Deus, não será sempre assim. Vejo a sua alegria que não será prejudicada
por nada; Deus dar-lhe-á uma parte desta alegria já aqui na Terra. Não
encontrei tanta fidelidade a Deus como aquela que distingue esta alma.
1391. Hoje no refeitório, durante a ceia, senti o olhar de Deus no fundo
do meu coração. Uma presença tão viva penetrou a minha alma que,
durante um momento, não me dava conta de onde estava. A doce presença
de Deus inundava a minha alma e nalgums momentos não compreendia o
que me diziam as irmãs.
1392. Todo o bem que há em mim é graças à Santa Comunhão; devoLhe tudo. Sinto que este sagrado fogo me transformou totalmente. Oh,
quanto me alegro de ser Tua morada, oh Senhor; o meu coração é um
templo em que permaneces continuamente…
JMJ
1393. Oh Jesus, deleite da minha alma, Pão dos Anjos,
Todo o meu ser se submerge em Ti
E vivo da Tua vida divina, como os escolhidos no Céu,
E a autenticidade desta vida não cessará embora descanse no túmulo.
Oh Jesus, Eucaristia, Deus imortal,
Que permaneces continuamente no meu coração,
E quando estás comigo, nem sequer a morte pode maltratar-me.
O amor disse-me que Te verei no final da vida.
Abismada na Tua vida divina,
Olho tranquila para os Céus abertos para mim,
E a morte envergonhada irá com nada,
Porque a Tua vida divina está encerrada na minha alma.
E embora por Tua santa vontade, oh Senhor,
A morte há de tocar o meu corpo,
Desejo que esta separação suceda quanto antes,
Já que com ela entrarei na vida eterna.
Oh Jesus, Eucaristia, vida da minha alma,
Tu me elevaste às esferas eternas,
Pela Paixão e a Agonia entre atrozes tormentos.
1394. 26 [XI 1937]
Retiro espiritual mensal de um dia.
Durante estes exercícios espirituais o Senhor deu-me a luz de um mais
profundo conhecimento da sua vontade e ao mesmo tempo do total
abandono a esta santa vontade de Deus. Esta luz fortaleceu-me numa paz
profunda, dando-me a compreender que não devo ter medo de nada, menos
do pecado.
Qualquer coisa que Deus me envie, a aceitarei com uma total submissão
à Sua santa vontade. Onde quer que Ele me ponha, procurarei cumprir
fielmente a Sua santa vontade e tudo o que lhe agrade, sempre que esteja ao
meu alcance, embora esta vontade de Deus seja para mim dura e pesada
como foi a vontade do Pai celestial para com o Seu Filho, que rezava no
Horto das Oliveiras. Pois se a vontade do Pai celestial se cumpre deste
modo no Seu amadíssimo Filho, então precisamente deste mesmo modo se
cumprirá também em nós; sofrimentos, perseguições, ultrajes, desonra; com
tudo isto a minha alma assemelha-se a Jesus. E quanto maior é o
sofrimento, tanto melhor vejo que me assemelho a Jesus. Éste é o caminho
mais seguro. Se outro caminho fosse melhor, Jesus mo indicaria. Os
sofrimentos não me tiram a paz em absoluto; mas por outro lado, embora
goze de uma paz profunda, no entanto esta paz profunda não me tira a
sensação de sofrimento. Embora, às vezes, tenha a face inclinada para a
Terra e as lágrimas correrem em abundância, no entanto, nesse mesmo
momento a minha alma goza de uma paz profunda e de felicidade…
1395. Desejo esconder-me no Teu Misericordiosíssimo Coração como
uma gota de orvalho numa flor em botão. Encerra-me neste cálice para me
proteger do frio deste mundo. Ninguém compreenderá a felicidade na qual
se deleita o meu coração, oculto a sós com Deus.
1396. Hoje ouvi na alma uma voz: Oh, se os pecadores conhecessem a
Minha Misericórdia não se perderiam em tão grande número. Diz às
almas pecadoras que não tenham medo de se aproximar de Mim, fala
da Minha grande Misericórdia.
1397. O Senhor disse-me: A perda de cada alma mergulha-Me numa
tristeza mortal. Tu sempre Me consolas quando rezas pelos pecadores.
A oração que Me é mais agradável é a oração pela conversão dos
pecadores. Deves saber, Minha filha, que esta oração é sempre
escutada.
1398. Aproxima-se o Advento. Desejo preparar o meu coração para a
vinda do Senhor Jesus com docilidade e recolhimento do espírito, unindome à Santíssima Virgem e imitando fielmente a Sua virtude da docilidade,
pela qual encontrou complacência aos olhos do próprio Deus. Confio que a
Seu lado perseverarei neste propósito.
1399. À noite, ao entrar por um momento na capela, senti um tremendo
espinho na cabeça. Isto durou pouco tempo, mas a pontada foi tão dolorosa
que num momento a minha cabeça caíu sobre a balaustrada, parecia-me que
o espinho me penetrava no cérebro; mas isso é nada, tudo pelas almas, para
lhes obter a Misericórdia de Deus.
1400. Vivo de hora em hora, não sei proceder de outro modo. O
momento actual desejo aproveitá-lo da melhor maneira possível, cumprindo
fielmente tudo o que ele me oferece. Abandono-me a Deus em tudo com
inquebrantável confiança.
1401. Ontem recebi uma carta do Padre Sopocko. Soube que a Causa de
Deus avança, embora lentamente.
Alegro-me muitíssimo com isso e redobro as minhas preces por toda esta
Obra. Soube que no momento actual, no que respeita a esta Obra, Deus
exige de mim, oração e sacrifício; a minha acção poderia realmente destruir
os projectos de Deus, como me escreveu o Padre Sopocko na carta de
ontem. Oh meu Jesus, concede-me a graça de ser um instrumento cego nas
Tuas mãos. Reconheci, na carta, quanta luz Deus concede a este sacerdote;
isso confirma-me na convicção de que Deus levará a cabo esta Obra através
dele apesar das contrariedades que se multiplicam. Sei bem que quanto
mais bela e maior é a obra, tanto mais tremendas são as tempestades que se
desencadeiam contra ela.
1402. Nos Seus insondáveis desígnios, Deus permite às vezes que quem
emprende os maiores esforços por alguma obra, geralmente não goze dos
frutos desta obra aqui na Terra. Deus reserva todo o seu gozo para a
eternidade; mas, apesar de tudo, às vezes Deus dá a conhecer quanto lhe são
agradáveis os esforços de tais almas e aqueles momentos fortalecem as
almas para os novos combates e provações. Estas são as almas que mais se
parecem com o Salvador o qual, na Sua obra fundada na Terra, provou
somente amargura.
1403. Oh meu Jesus, que sejas bendito por tudo; alegro-me por que se
cumpra a Tua santíssima vontade, isso me basta absolutamente para ser
feliz.
1404. Oh Jesus oculto, em Ti [está] toda a minha força. Já nos mais
tenros anos Jesus, no Santíssimo Sacramento, me atraíu a Si. Aos sete anos,
quando estava nas vésperas e o Senhor Jesus estava exposto na custódia,
então, pela primeira vez se me comunicou o amor de Deus e encheu o meu
pequeno coração e o Senhor me fez compreender as coisas divinas; a partir
daquele dia até hoje, o meu amor ao Deus oculto cresceu até alcançar a
mais estreita intimidade. Todo o poder da minha alma procede do
Santíssimo Sacramento. Todos os momentos livres, passo-os conversando
com Ele; Ele é o meu Mestre.
1405. 30 XI [1937]. Uma noite, quando subia a escada, de repente
envolveu-me um estranho tédio de todo o divino. Então ouvi Satanás que
me dizia: «Não penses nada da Obra, Deus não é tão misericordioso como
tu dizes. Não rezes pelos pecadores, porque eles serão condenados apesar
de tudo e por esta Obra de Misericórdia tu mesma te expões a ser
condenada. Desta Misericórdia de Deus não fales nunca com o confessor e
especialmente com os Padres Sopocko e Andrasz». Nesse momento a voz
tomou o aspecto do Anjo da Guarda. Então respondi: Sei quem és, o pai da
mentira. Fiz a sinal da santa cruz e aquele Anjo desapareceu com
grande estrépido e raiva.
1406. Hoje, o Senhor deu-me a conhecer interiormente que não me
abandonará. Deu-me a conhecer a Sua Majestade e a Sua santidade, e ao
mesmo tempo o Seu amor e a Sua Misericórdia para comigo e um mais
profundo conhecimento da minha miséria; no entanto, esta minha grande
miséria não me priva da confiança, mas pelo contrário, na medida em que
conheço a minha miséria fortalece-se a minha confiança na Divina
Misericórdia.
Compreendi que tudo depende do Senhor, sei que ninguém me tocará,
nem sequer num dedo, contra a Sua vontade.
1407. Hoje, enquanto recebia a Santa Comunhão vi uma Hóstia viva no
cálice, que o sacerdote me deu. Ao voltar ao meu lugar, perguntei ao
Senhor: ¿Porquê uma [só] viva? Se estás igualmente vivo em todas as
Hóstias. O Senhor respondeu-me: Assim é, sou o Mesmo em todas as
Hóstias, mas nem todas as almas Me recebem com uma fé tão viva
como a tua, Minha filha, e por isso não posso agir nas suas almas como
na tua alma.
1408. Santa Missa celebrada pelo Padre Sopocko. Durante esta Missa, a
que assistia, vi o pequeno Jesus que tocou com um dedito a fronte daquele
sacerdote e me disse: O seu pensamento está estreitamente unido ao
Meu; assim, fica tranquila pela Minha Obra, não lhe permitirei
enganar-se e tu não faças nada sem a sua licença. Encheu, assim, a
minha alma de grande tranquilidade quanto a toda esta Obra.
1409. Hoje, o Senhor Jesus fez-me consciente de Si Mesmo e do Seu
mais terno amor e do cuidado que tem comigo, numa compreensão
profunda de que tudo depende de sua vontade e que permite algumas
dificuldades unicamente para nossos méritos, para que se manifeste
claramente a nossa fidelidade. Ao mesmo tempo recebi força para sofrer e
negar-me a mim própria.
1410. Hoje é a vigília da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem
Maria. Durante a refeição, num só momento, Deus fez-me saber a grandeza
do meu destino, isto é, fez-me saber a proximidade de Deus que não me
será tirada pelos séculos; [fez-me conhecer] de maneira tão viva e evidente
que, durante muito tempo, permaneci profundamente submergida na Sua
viva presença, humilhando-me diante da Sua grandeza.
1411. JMJ
Oh Espírito de Deus, Espírito de verdade e de luz,
Vive na minha alma constantemente com a Tua graça divina.
Que o Teu sopro dissipe as trevas,
E que as boas obras se multipliquem na Tua luz.
Espírito de Deus, Espírito de amor e de Misericórdia,
Que infundes no meu coração o bálsamo da confiança,
A Tua graça afirma a minha alma no bem,
Dando-lhe força irresistível e perseverança.
Oh Espírito de Deus, Espírito de paz e de alegria,
Que confortas o meu coração sedento
E vives nele a fonte viva do amor de Deus,
E o fazes intrépido para a batalha.
Oh Espírito de Deus, hóspede amabilíssimo da minha alma,
Pela minha parte desejo ser-Te fiel.
Tanto nos dias de alegria como nos tormentosos,
Desejo sempre viver na Tua presença, oh Espírito de Deus.
Oh Espírito de Deus que penetras o meu ser na sua totalidade,
E me dás a conhecer a Tua vida divina, trina,
E me confias os segredos da Tua essência divina,
E unida a Ti deste modo, viverei pela eternidade.
1412. Com grande zelo preparei-me para celebrar a festa da Imaculada
Conceição da Mãe de Deus. Prestei mais atenção ao recolhimento do
espírito e meditei sobre este privilégio exclusivo d'Ela; por isso o meu
coração estava todo mergulhado n'Ela, agradecendo a Deus por ter
concedido a Maria esta grande prerrogativa.
1413. Preparei-me não somente com a novena em comum, feita por toda
a Comunidade, mas também procurava saudá-La mil vezes ao dia, rezando
diariamente, em Sua honra, mil Avé-Marías durante nove dias.
Já é a terceira vez que faço esta novena à Virgem Maria, que consiste em
rezar mil Avé-Marias diárias, isto é, nove mil Avé-Marias constituem a
totalidade da novena. No entanto, embora tenha feito já três vezes na minha
vida, e duas vezes foram quando cumpria as minhas obrigações, não
prejudicando em nada as minhas tarefas, cumprindo-as o melhor possível, e
além dos exercícios de piedade habituais, ou seja nem durante a Santa
Missa, nem durante a bênção. Uma vez fiz esta novena quando estava no
hospital. Para quem realmente o quer, não é difícil. Excepto no recreio,
rezava e trabalhava; nesses dias não pronunciei uma só palavra que não
fosse absolutamente necessária, mas tenho que reconhecer que isto requer
muita atenção e esforço; mas para honrar a Imaculada não há nada que seja
excessivo.
1414. Solenidade da Imaculada Conceição. Antes da Santa Comunhão vi
a Santíssima Mãe de uma beleza inconcebível. Sorrindo-me disse: Minha
filha, por recomendação de Deus devo ser tua mãe de modo exclusivo e
especial, mas desejo que também tu sejas Minha filha de modo especial.
Desejo, amadíssima filha, que te exercites em três virtudes que são as
minhas preferidas e que são as mais agradáveis [a] Deus: a primeira é a
humildade, humildade e ainda uma vez mais humildade. A segunda virtude
é a pureza; a terceira é o amor a Deus. Sendo Minha filha tens que
resplandecer nestas virtudes de modo especial. Depois estreitou-me ao Seu
coração e desapareceu.
1416. Quando voltei a mim, o meu coração foi atraído maravilhosamente
para tais virtudes e exercito-me nelas fielmente, estão como esculpidas no
meu coração. Esse foi um grande dia para mim; nesse dia estive como em
contemplação contínua, e só recordar esta graça me introduzia numa
contemplação nova. E durante o dia inteiro permaneci dando graças, sem
nunca terminar, porque a recordação desta graça levava a minha alma a
submergir-se novamente em Deus…
1417. Oh Senhor meu, a minha alma é a mais miserável e Tu inclinas-Te
para ela tão bondosamente. Vejo claramente a Tua grandeza e a minha
pequenez e, por isso, alegro-me de que sejas tão poderoso e imenso e
alegro-me enormemente por eu ser tão pequena.
1418. Oh Cristo sofredor, saio ao Teu encontro; sendo Tua esposa tenho
que ser semelhante a Ti. O manto de ignomínia que Te cobriu tem que me
cobrir também a mim. Oh Cristo, tu sabes com que ardor desejo fazer-me
semelhante a Ti. Faz que toda a Tua Paixão seja também minha, que todo a
Tua dor se derrame no meu coração. Confio que farás isto em mim de modo
que Tu consideres oportuno.
1419. Hoje [é] a adoração nocturna. Não posso participar nela pela
minha fraca saúde, mas antes de adormecer uni-me às irmãs que estavam
em adoração. Entre as quatro e as cinco, de repente fui despertada, ouvi
uma voz dizendo que me juntasse [em oração] com as pessoas que estavam
em adoração. Soube que entre as pessoas que estavam na adoração havia
uma alma que rezava por mim.
1420. Ao submergir-me na oração, fui transferida em espírito à capela e
vi o Senhor Jesus exposto na custódia; em lugar da custódia vi o rosto
glorioso do Senhor, e o Senhor disse-me: O que tu vês [na]realidade, estas
almas vêm através da fé. Oh, que agradável é para Mim a sua grande
fé. Vês que aparentemente não há em Mim nenhum vestígio de vida, no
entanto, na realidade ela existe em toda a sua plenitude, contida em
cada Hóstia. Mas para que Eu possa agir numa alma, a alma deve ter
fé. Oh, quanto Me agrada a fé viva.
1421. Estiveram nesta adoração a Madre Superiora e também outras
irmãs. Mas conheci que a oração da Madre Superiora sacudiu o Céu.
Alegro-me de que haja almas tão agradáveis a Deus.
1422. No dia seguinte, durante o recreio, perguntei ¿que irmãs tinham
tido a adoração entre as quatro e as cinco?, uma das irmãs exclamou: «¿Por
que quer saber? ¿Seguramente terá tido alguma revelação?» Calei-me e não
disse nada mais e, embora tenha sido interrogada pela Madre Superiora não
pude responder, já que o momento não era oportuno.
1423. Uma vez, uma das irmãs confessou-me que pensava escolher certo
sacerdote para seu director espiritual. Muito contente, comunicou-me
pedindo que rezasse por essa intenção, coisa que prometi.
Enquanto rezava soube que essa alma não tiraria nenhum proveito
espiritual daquela direcção. E durante o seguinte encontro essa alma faloume da sua alegria por aquela direcção espiritual.
1424. Eu compartilhei a sua alegria, no entanto, quando ela se afastou,
fui admoestada severamente. Jesus disse-me que lhe dissesse o que Ele me
tinha feito conhecer na oração, o que fiz na primeira ocasião, apesar de que
me custou muito.
1425. Hoje senti a dor da coroa de espinhos durante um breve momento.
Foi quando rezava diante do Santíssimo Sacramento por certa alma. De
repente senti uma dor tão violenta que a minha cabeça caíu sobre a
balaustrada; esse momento foi breve, mas muito doloroso.
1426. Oh Cristo, dá-me almas. Envia sobre mim tudo o que queiras, mas
em troca, dá-me almas. Desejo a salvação das almas, desejo que as almas
conheçam a Tua Misericórdia. Não tenho nada de meu, porque entreguei
tudo às almas, de modo que no dia de juízo me apresentarei diante de Ti
sem nada, porque dei tudo às almas e por isso não terás de que me julgar.
Nesse dia encontrar-nos-emos: o amor com a Misericórdia……
1427. JMJ
Oh Jesus oculto, vida da minha alma,
Objecto do meu fervente desejo,
Nada apagará o Teu amor no meu coração,
Me assegura a força do nosso amor mútuo.
Oh Jesus oculto, glorioso penhor da minha ressurreição,
Em Ti se centra toda a minha vida,
Tu, Hóstia, fazes-me capaz de amar eternamente.
E sei que também Tu me amarás como Tua filha.
Oh Jesus oculto, meu puríssimo amor,
A minha vida Contigo iniciada já aqui na Terra,
Se manifestará em toda a sua plenitude na eternidade futura,
Porque o nosso amor recíproco nunca mudará.
Oh Jesus oculto, a minha alma deseja-Te só a Ti,
Tu és para mim mais que as delícias do Céu.
Mais que todos os dons e graças a minha alma te espera só a Ti,
Que vens até mim sob a aparência do pão.
Oh Jesus oculto, toma já o meu coração sedento de Ti,
Que arde por Ti como o puro fogo de um Serafim,
Caminha pela vida seguindo os Teus passos, invencível,
E com a fronte alta como um cavaleiro, apesar de que sou uma débil
criatura.
1428. Desde há um mês sinto-me pior, e em cada expectoração sinto a
decomposição dos pulmões. Às vezes sucede que sinto a decomposição
total do meu próprio cadáver; é difícil exprimir este grande sofrimento.
Embora com a vontade o aceite decididamente, no entanto para a natureza é
um grande sofrimento, maior do que levar o cilício e flagelar-se até ao
sangue. Aumentava quando ia ao refeitório; fazia grandes esforços para
comer alguma coisa, porque a comida me causava náuseas. Nessa época
começaram também dores nos intestinos, todos os pratos mais picantes me
causavam dores tremendas; mais de uma noite me retorcia com terríveis
dores e lágrimas a favor dos pecadores.
1429. No entanto, perguntei ao confessor que devia fazer: ¿continuar a
sofrer pelos pecadores ou pedir à Madre Superiora uma excepção para
tomar alimentos mais leves? O confessor decidiu que devia pedir às
Superioras uma comida mais leve; e assim fiz segundo as indicações do
confessor, vendo que essa humilhação era mais agradável a Deus.
1430. Um dia surgiu-me a dúvida se era possível sentir continuamente a
decomposição do organismo e ao mesmo tempo andar e até trabalhar, ¿não
seria, porventura, uma ilusão? Mas, por outro lado, não podia ser uma
ilusão porque me causava um tremendo sofrimento. Enquanto pensava
nisso, veio uma das irmãs para conversar um momento. Depois de alguns
minutos fez uma careta horrível e disse-me: «irmã, eu sinto aqui o cheiro a
cadáver». Surpreendeu-se muito, mas disse que não podia suportar mais.
Quando se afastou compreendi que Deus tinha dado essa sensação àquela
irmã para que eu não tivesse dúvidas e que de modo simplesmente
milagroso ocultava esse meu sofrimento a toda a Comunidade. Oh meu
Jesus, somente Tu conheces a profundidade do meu sacrifício.
1431. No entanto, no refeitório, tive que suportar mais de uma suspeita
de ser caprichosa. Então, como sempre, vou rapidamente ao tabernáculo,
inclino-me diante do cibório e tiro forças para me conformar com a vontade
de Deus. O que escrevi ainda não é tudo.
1432. Hoje, durante a confissão, [o Padre] partindo comigo
espiritualmente o “oplatek”, recomendou o seguinte: «Seja fidelíssima à
graça de Deus; peça a Misericórdia de Deus para si e para o mundo inteiro,
porque todos necessitamos muito, muito, da Divina Misericórdia».
1433. Dois dias antes das festas, foram lidas as seguintes palavras no
refeitório: “Amanhã [é] o nascimento de Jesus Cristo segundo a carne”.
A estas palavras a minha alma foi trespassada pela luz e amor de
Deus; conheci mais profundamente o mistério da Encarnação. Que grande é
a Misericórdia de Deus que se encerra no mistério da Encarnação do Filho
de Deus.
1434. Hoje o Senhor fez-me conhecer a Sua ira contra a humanidade que
pelos seus pecados merece que os seus dias sejam abreviados, mas também
aprendi que a existência do mundo é sustentada pelas almas eleitas, isto é,
pelas ordens religiosas. Ai do mundo se faltam as ordens religiosas.
1435. JMJ
Cumpro cada acção na presença da morte,
Realizo-a agora como desejo vê-la na minha última hora.
Embora a vida passe rápida como o vento
Nenhuma acção empreendida por Deus se perderá.
Sinto a decomposição total do meu organismo,
Embora ainda continue vivendo e trabalhando.
A morte não será para mim uma tragédia,
Porque a sinto desde há muito tempo.
Embora para a natureza é muito penoso
Sentir continuamente o seu próprio cadáver,
Mas não é tão temível se a luz de Deus penetrou a alma,
Porque se despertam nela fé, esperança, amor e arrependimento.
Todos os dias faço grandes esforços
Para participar na vida comunitária,
E com isso impetrar graças para a salvação das almas,
Protegendo-as com os meus sacrifícios contra o fogo do Inferno.
É que para a salvação, embora de uma só alma,
Merece a pena sacrificar-se toda a vida
E suportar os maiores sacrifícios e tormentos
Vendo o grande que é a glória que Deus recebe por isso.
1436. Senhor, embora me dês a conhecer muitas vezes os raios da Tua
indignação, no entanto a Tua ira desvanece-se diante de uma alma que se
humilha. Embora sejas grande, Senhor, no entanto deixas-Te vencer por
uma alma submissa e profundamente humilde. Oh humildade, virtude
preciosíssima, que poucas são as almas que te possuem. Em todo o lado
vejo somente a aparência desta virtude, mas não vejo a virtude mesma.
Aniquila-me, oh Senhor, aos meus próprios olhos, para que possa
encontrar graça aos Teus santos olhos.
1437. Vigília (1937). Depois da Santa Comunhão a Mãe de Deus fez-me
saber a preocupação que tinha no coração pelo Filho de Deus. Mas essa
preocupação estava cheíssima de tal aroma de submissão à vontade de Deus
que eu melhor a chamaria deleite e não preocupação. Compreendi como a
minha alma deve aceitar qualquer vontade de Deus. É pena que não saiba
descrevê-lo tal como experimentei.
Durante o dia inteiro a minha alma permaneceu num recolhimento mais
profundo do qual nada a pôde tirar, nem as obrigações nem a convivência
que tive com as pessoas.
1438. Antes da ceia entrei um momento na capela para compartilhar
espiritualmente o “oplatek” com as pessoas que me amam e são queridas ao
meu coração, mas que estavam longe. Primeiro mergulhei numa oração
profunda e pedi ao Senhor graças para elas e depois para cada uma
individualmente. Jesus fez-me saber quanto lhe agradava isso, e uma alegria
ainda maior encheu a minha alma por ver que Deus ama especialmente os
que nós amamos.
1439. Quando entrei no refeitório, durante a leitura toda a minha alma
ficou submergida em Deus. Vi interiormente o olhar de Deus [dirigido] a
nós com grande agrado. Fiquei a sós com o Pai celestial. Naquele mesmo
instante conheci mais profundamente as três Pessoas Divinas que
contemplaremos durante toda a eternidade e depois de milhões de anos nos
daremos conta de ter apenas começado a nossa contemplação. Oh que
grande é a Misericórdia de Deus que admite o homem a uma participação
tão grande na Sua divina felicidade; mas ao mesmo tempo uma grande dor
trespassa o meu coração pelo facto de que muitas almas desprezam esta
felicidade.
1440. Quando começámos a compartilhar o “oplatek”, reinou entre nós
um amor sincero e recíproco. A Madre Superiora felicitou-me com estas
palavras: «irmã, as obras de Deus vão devagar, não tenha pressa». Em geral,
todas as irmãs me desejaram com sinceridade as coisas que eu mais anseio.
Vi que as felicitações vinham verdadeiramente do coração, excepto uma
irmã que sob as suas palavras escondia malícia, mas isso não me fez sofrer
muito porque a minha alma estava plena de Deus; no entanto iluminou-me
sobre o motivo porque Deus se comunica tão pouco àquela alma e soube
que ela sempre se procura a si própria, até nas coisas santas. Oh que bom é
o Senhor que não me permite extraviar-me e sei que me guardará
zelosamente, mas só enquanto permanecer pequena, porque Ele, Soberano
Excelso, gosta de tratar com os pequenos, mas aos grandes observa-os de
longe e opõe-se-lhes.
1441. Bem quis velar um pouco antes da Missa de Meia-Noite, mas não
pude, e adormeci imediatamente porque me sentia muito fraca; mas quando
tocou o sino para a Missa da Meia-Noite levantei-me imediatamente
embora me vestisse com grande esforço, pois a cada momento me sentia a
desfalecer.
1442. Quando cheguei à Missa da Meia-Noite, uma vez iniciada
submergi-me toda num profundo recolhimento, no qual vi o presépio de
Belém cheio de grande claridade. A Virgem Santíssima envolvia Jesus em
faixas, absorvida em grande amor; São José, porém, ainda dormia. Só
quando a Virgem colocou Jesus no presépio, então a luz divina despertou
José que também se pôs a orar.
No entanto, um momento depois fiquei a sós com o pequeno Jesus que
estendeu as suas mãozinhas para mim e compreendi que era para que o
tomasse nos braços. Jesus estreitou a sua cabecinha ao meu coração e com
um olhar profundo fez-me compreender que estava bem assim. Naquele
momento Jesus desapareceu e tocou a campainha para a Santa Comunhão.
A minha alma desfalecia de alegria.
1443. No entanto, no final da Santa Missa senti-me tão mal que tive que
sair da capela e voltar à minha cela. Não pude participar no chá com a
Comunidade. No entanto a minha alegria foi grande durante toda a festa,
porque a minha alma permanecia unida ao Senhor sem cessar. Conheci que
cada alma quisera gozar das alegrias divinas, mas não quer renunciar de
nenhum modo às alegrias humanas enquanto que estas duas coisas são
absolutamente incompatíveis.
1444. Durante este período de festa senti que certas almas rezam por
mim. Alegro-me por já aqui na Terra haver tal união e conhecimento
espiritual. Oh meu Jesus, que Te seja dada glória por tudo.
1445. Nos maiores tormentos da alma estou sempre só: mas não só,
porque estou Contigo, oh Jesus, mas aqui refiro-me aos homens. Nenhuma
pessoa entende o meu coração, no entanto agora isso não me admira; mas
antes surpreendia-me quando as minhas intenções eram condenadas e mal
interpretadas, mas agora isso já não me estranha. Os homens não sabem
perceber a alma, eles vêm o corpo e julgam segundo as aparências; mas os
pensamentos de Deus estão tão longe dos nossos pensamentos como o Céu
está longe da Terra. Eu mesma experimentei que é bastante frequente que
[…].
1446. O Senhor disse-me: Não te preocupes como se comportam os
outros; tu, comporta-te como Eu te ordeno: deves ser o Meu reflexo
vivo, pelo Amor e pela Misericórdia. Respondi: Mas, Senhor, muitas
vezes abusam da minha bondade. Não importa, Minha filha, não te
preocupes com isso; tu deves ser sempre misericordiosa para todos e,
especialmente, para os pecadores.
1447. Oh, quanto Me dói que as almas muito raramente se unam a
Mim na Santa Comunhão. Espero pelas almas e elas mostram-se
indiferentes. Amo-as com tanta ternura e sinceridade e elas desconfiam
de Mim. Desejo enchê-las de graças e elas não querem aceitá-las.
Tratam-Me como uma coisa morta, enquanto que o Meu Coração está
cheio de Amor e Misericórdia. Para que tu possas conhecer ao menos
um pouco a Minha dor, imagina a mais terna das mães que ama
apaixonadamente os seus filhos, enquanto que esses filhos desprezam o
amor da mãe. Considera a sua dor. Ninguém pode consolá-la. Esta é só
uma pálida imagem e uma ténue semelhança do Meu Amor.
1448. Escreve sobre a Minha Misericórdia. Diz às almas que é no
tribunal da Misericórdia onde devem procurar consolo; [367] ali têm
lugar os maiores milagres e repetem-se incessantemente. Para obter
este milagre não é necessário fazer uma longa peregrinação, nem
celebrar alguns ritos exteriores, mas basta aproximar-se com fé dos pés
do Meu representante e confessar-lhe com fé a sua miséria e o milagre
da Misericórdia de Deus se manifestará em toda a sua plenitude.
Embora uma alma seja como um cadáver decompondo-se de tal forma
que sob o ponto de vista humano não houvesse esperança alguma de
restauração e tudo estivesse já perdido, não é assim para Deus. O
milagre da Divina Misericórdia restaura essa alma em toda a sua
plenitude. Oh infelizes os que não disfrutam deste milagre da Divina
Misericórdia; pedirão em vão, quando seja demasiado tarde.
JMJ Ano 1938
Primeiro de Janeiro
1449. Benvindo, Ano Novo, em que a minha perfeição progredirá;
agradeço-Te de antemão, oh Senhor, por tudo o que me envie a Tua
bondade. Obrigada pelo cálice dos sofrimentos do qual beberei cada dia.
Não atenues a sua amargura, oh Senhor, mas fortalece os meus lábios para
que, tomando a amargura, saibam sorrir por amor a Ti, oh meu Mestre.
Agradeço-Te por todos os consolos e graças que não sou capaz de enumerar
e que todos os dias fluem sobre mim como o orvalho da manhã, silenciosa,
inadvertidamente, de modo que não os perceba o olhar de nenhuma criatura
curiosa, e dos quais sabemos só Tu e eu, oh Senhor. Por tudo isto dou-Te
graças já hoje, porque no momento em que me deres o cálice, o meu
coração não será capaz, talvez, de Te agradecer.
1450. Assim pois, com propósito cheio de amor, hoje submeto-me
totalmente à Tua santa vontade, oh Senhor, e aos Teus justíssimos desígnios
que, para mim, são sempre os mais bondosos e cheios de Misericórdia,
embora às vezes não os possa compreender nem penetrar. Oh meu Mestre,
eis-me aqui, confiando-Te completamente o leme da minha alma, guia-a
segundo a Tua divina complacência. Encerro-me no Teu compassivo
Coração que é um mar de insondável Misericórdia.
1451. Termino o ano velho com sofrimento e começo o ano novo
também com sofrimento. Dois dias antes do ano novo tive que me deitar,
sentia-me muito mal, uma forte tosse enfraqueceu-me e as permanentes
dores intestinais e náuseas esgotaram-me muito. Embora não podesse
assistir aos ofícios comunitários, no entanto, uni-me em espírito com toda a
Comunidade. Quando às onze da noite as irmãs se levantaram para velar e
saudar o Ano Novo, desde o anoitecer até à meia noite me retorci de dores.
Uni os meus sofrimentos às preces das irmãs que velavam na capela em
expiação pelas ofensas feitas a Deus pelos pecadores.
1452. Quando deram as doze, a minha alma submergiu-se num
recolhimento mais profundo e ouvi na alma uma voz: Não tenhas medo,
Minha filha, não estás só, luta com coragem porque te sustém o Meu
braço; luta pela salvação das almas, convidando-as a confiar na Minha
Misericórdia, já que esta é a tua tarefa nesta e na vida futura. Depois
destas palavras compreendi mais profundamente a Divina Misericórdia.
Será condenada somente a alma que o queira, porque Deus não condena
ninguém.
1453. Hoje é a festa do Ano Novo. De manhã sentia-me tão mal que só
consegui ir à cela vizinha para a Santa Comunhão. Não pude ir à Santa
Missa, sentia-me a desmaiar, portanto fiz a acção de graças deitada.
Desejava muitíssimo ir à Santa Missa e, depois, confessar-me ao Padre
Andrasz; no entanto sentia-me tão mal que não pude ir nem à Santa Missa
nem confessar-me; por esta razão a minha alma sofreu muito.
Depois do pequeno almoço veio a irmã enfermeira com a
pergunta: «¿Por que não foi, irmã, à Santa Missa?» Respondi que não tinha
podido. Sacudiu a cabeça com desprezo e disse: «Uma festa tão grande e
não vai à Missa». E saíu da minha cela.
Estive de cama dois dias, contorcendo-me com dores; não me visitou e
no terceiro dia, quando veio, sem me perguntar sequer se podia levantar-me,
imediatamente com voz irritada [perguntou] ¿por que não me tinha
levantado para ir à Santa Missa? Ao ficar só tentei levantar-me, mas sentime de novo a desmaiar. Assim, fiquei de cama com toda a tranquilidade. No
entanto, o meu coração tinha muito que oferecer ao Senhor, unindo-se a Ele
espiritualmente na segunda Santa Missa. Depois da segunda Santa Missa a
irmã enfermeira veio ver-me, mas desta vez com o termómetro, como
enfermeira. Não tinha febre, mas estava gravemente doente e não podia
levantar-me. Então ouvi um novo sermão, que não devia deixar-me vencer
pela doença. Respondi que sabia que entre nós só se é considerada
gravemente doente quando já se está em agonia. Mas, vendo que continuava
com as suas lições de moral, respondi que de momento não necessitava
exortações para ser mais diligente e novamente fiquei só na cela.
O dor estreitou-me o coração e a amargura inundou-me a alma e repeti
estas palavras: ¡Benvindo, Ano Novo! ¡Benvindo, cálice de amargura! Oh
meu Jesus, o meu coração lança-se para Ti, no entanto a gravidade da
doença não me permite participar fisicamente nos ofícios e sou acusada de
preguiça. O sofrimento aumentou. Depois do almoço entrou de passagem,
por um momento, a Madre Superiora, mas retirou-se imediatamente.
Pensava pedir que viesse à cela o Padre Andrasz para que pudesse
confessar-me; no entanto abstive-me de lho pedir por duas razões: primeiro,
para não dar motivo a murmurações como tinha sucedido anteriormente
com a Santa Missa; segundo, porque nem sequer teria podido confessar-me,
pois sentia que teria começado a chorar como uma criança. Um momento
depois veio uma irmã e outra vez me chamou a atenção de que, em cima do
fogão, havia leite com manteiga; «¿por que não o toma, irmã?» Respondi
que não tinha quem me servisse.
1454. Quando se fez noite, os sofrimentos físicos aumentaram e
juntaram-se a eles os sofrimentos morais. A noite foi de sofrimento. O
solene silêncio nocturno deu-me a possibilidade de sofrer à vontade. O meu
corpo estendeu-se sobre a árvore da cruz, torci-me com dores terríveis até
às onze. Transportei-me em espírito para junto do tabernáculo e abri o
cibório apoiando a cabeça na beira do cálice, e todas as lágrimas caíram
silenciosamente sobre o Coração d'Aquele que é o único que compreende a
dor e o sofrimento. E nesse sofrimento experimentei doçura e a minha alma
desejou esta doce agonia, que não teria trocado por nenhum tesouro do
mundo. O Senhor concedeu-me a força de espírito e o amor por aqueles
pelos quais me advém o sofrimento. Eis o primeiro dia do ano.
1455. Também nesse dia senti a oração de uma bela alma que rezava por
mim, dando-me espiritualmente a sua bênção sacerdotal; da minha parte
respondi com uma oração fervorosa.
1456. Oh Senhor benigníssimo, és tão misericordioso que julgas cada
um segundo a sua consciência e conhecimento e não segundo as
murmurações dos homens. O meu espírito está cada vez mais arrebatado e
alimentado pela Tua sabedoria que conheço cada vez mais profundamente e
em que se revela, ainda mais claramente, a grandeza da Tua Misericórdia.
Oh meu Jesus, todo este conhecimento produz na minha alma um afecto
que me transforma num fogo de amor por Ti, oh meu Deus.
1457. 2 I 1938. Hoje, enquanto me preparava para a Santa Comunhão,
Jesus exigiu que escrevesse mais, não somente sobre as graças que me
concede mas também das coisas exteriores, e isso para a consolação de
muitas almas.
1458. Depois desta noite de sofrimento, quando o sacerdote entrou na
cela com o Senhor Jesus, um ardor tão grande envolveu todo o meu ser que
sentia que se o sacerdote tivesse tardado um momento mais, o próprio Jesus
teria fugido da sua mão para vir ter comigo. Depois da Santa Comunhão o
Senhor disse-me:
1459 Se o sacerdote não Me tivesse trazido a ti, Eu Mesmo teria
chegado sob a mesma aparência. Minha filha, os teus sofrimentos desta
noite obtiveram a graça da Misericórdia para um grande número de
almas.
1460 Minha filha, devo dizer-te uma coisa. Respondi: Fala, Jesus, pois
estou sedenta das Tuas palavras. Não Me agrada que te deixes guiar pelas
murmurações das irmãs e que por isso não tenhas querido confessar-te
ao Padre Andrasz, na cela; deves saber que com isto lhes deste um
maior motivo para murmurar. Humilhando-me muito, pedi perdão ao
Senhor. Oh meu Mestre, repreende-me, não deixes passar nada e não
permitas que eu erre.
1461. Oh meu Jesus, quando não sou compreendida e a minha alma está
atormentada, desejo ficar-me um momento a sós Contigo. As palavras dos
mortais não me consolam; não me envies, oh Senhor, mensageiros que me
falem só por si mesmos e do que lhes dita a sua própria natureza. Tais
consoladores cansam-me muito.
1462. 1938. Hoje, quando o capelão trouxe o Senhor Jesus, da Hóstia
saíu luz que golpeou com um raio o meu coração, enchendo-o de um grande
fogo de amor. Jesus ensinou-me que devo responder com mais fidelidade às
inspirações da graça, que a minha vigilância deverá ser mais subtil.
1463. O Senhor fez-me conhecer, também, que muitos Bispos estavam
reflectindo sobre esta Festa e [também] um laico. Alguns estavam
entusiasmados pela obra divina, outros mostravam-se incrédulos, mas,
apesar de tudo, a Obra de Deus ia sair gloriosa. A Madre Irene e a
Madre Maria Josefa fizeram declarações a estes dignitários, mas não foram
interrogadas tanto pela Obra como por mim própria. Já não tinham dúvidas
quanto à Obra, porque a glória de Deus já era manifesta.
1464. Hoje sinto-me muito melhor, alegro-me de que possa dedicar mais
tempo à oração durante a Hora Santa. De repente ouvi a voz: Não estarás
de saúde e não adies o sacramento da confissão, porque isso não Me
agrada. Não prestes muita atenção às murmurações dos que te
rodeiam. Surpreendi-me, pois hoje sinto-me melhor, mas não pensei mais
nisso. Quando a irmã apagou a luz, comecei a Hora santa.
No entanto, poucos minutos depois, começou a passar-se algo com o
meu coração. Até às onze sofri silenciosamente, mas depois senti-me tão
mal que despertei a Ir. N. que compartilha o quarto comigo e que me deu
umas gotas que me aliviaram um pouco a dor, e assim pude deitar-me.
Agora compreendo a advertência do Senhor. Decidi chamar um sacerdote,
no dia seguinte, e revelar-lhe os segredos da minha alma. Mas isso não era
tudo, ao rezar pelos pecadores e oferecer todos os sofrimentos [sofri ataques
do demónio]. O espírito maligno não podia suportar isso.
1465. [Apareceu-me sob a forma de um espectro e este] espectro disseme: «Não rezes pelos pecadores, mas por ti mesma, porque serás
condenada». Sem fazer caso algum a Satanás, continuava a rezar com duplo
fervor pelos pecadores. O espírito maligno gritou de raiva: «Oh, se tivesse
poder sobre ti», e desapareceu. Soube que o meu sofrimento e a minha
oração tinham atado Satanás e livraram muitas almas das suas garras.
1466. Oh Jesus, amante da salvação humana, atrai todas as almas à vida
divina; que a grandeza da Tua Misericórdia seja glorificada aqui na Terra e
na eternidade. Oh grande amante das almas que em Tua inesgotável
compaixão abriste os maravilhosos mananciais da Misericórdia para que
fortifiquem as almas fracas durante esta peregrinação pela vida. A Tua
Misericórdia, como um fio de ouro, nos acompanhe durante toda a vida e
mantenha o contacto entre o nosso ser e Deus, em todos os aspectos; [Deus]
não necessita nada para ser feliz, pois tudo é unicamente obra da Sua
Misericórdia. Os meus sentidos perdem-se de alegria quando Deus me dá a
conhecer mais a fundo este Seu grande atributo, isto é, a Sua insondável
Misericórdia.
1467. 7 I 1938. Primeira sexta-feira do mês. De manhã, durante a Santa
Missa, vi por um momento o Salvador a sofrer. O que me admirou foi que
entre grandes tormentos Jesus estava tão tranquilo. Compreendi que era
uma lição para mim sobre como deveria comportar-me exteriormente nos
vários sofrimentos.
1468. Durante um momento mais longo senti o dor nas mãos, nos pés e
no lado. De repente vi certo pecador que beneficiou dos meus sofrimentos e
se aproximou do Senhor. Tudo pelas almas ávidas para que não morram de
fome.
1469. Hoje confessei-me ao capelão; Jesus consolou-me através
deste sacerdote. Oh minha Mãe, Igreja de Deus, tu és a verdadeira mãe que
compreende os seus filhos…
1470. Oh, que bom é que Jesus nos julgue segundo as nossas
consciências e não segundo as opiniões e os juízos dos homens. Oh
bondade inconcebível, vejo-Te cheio de bondade também no próprio Juízo.
1471. Embora esteja fraca e a natureza exija descanso, no entanto sinto
um sopro da graça para vencer-me a mim própria e escrever, escrever para o
consolo das almas que amo tanto e com as quais compartilharei toda a
eternidade. Desejo tão fervorosamente a vida eterna para elas que todos os
momentos livres, embora tão curtinhos, os aproveito para escrever, como
Jesus deseja.
1472. 8 I. Durante a Santa Missa tive um conhecimento instantâneo
sobre o Padre S., de que os nossos esforços comuns dão grande glória
a Deus e embora estejamos separados, muitas vezes estamos juntos, porque
nos une o mesmo fim.
1473. Oh meu Jesus, meu único desejo, hoje desejava receber-Te na
minha alma com um ardor maior que em qualquer outro momento, no
entanto a minha alma, precisamente hoje, está tão árida como nunca. A
minha fé fortalece-se, pois o fruto da Tua vinda, oh Senhor, será abundante.
Embora às vezes chegues sem tocar os meus sentidos, [porque] reinas na
parte mais elevada [de mim]; mas às vezes também os sentidos disfrutam da
Tua vinda.
1474. Muitas vezes, peço a Jesus a inteligência iluminada pela fé. Digoo ao Senhor nestas palavras: Jesus, dá-me inteligência, uma grande
inteligência, só para que possa conhecer-Te melhor; porque quanto
mais Te conheça, tanto mais fervorosamente Te amarei, Jesus. Peço-Te uma
inteligência poderosa para que possa compreender as coisas divinas e
elevadas; Jesus, dá-me uma grande inteligência para que chegue a conhecer
a Tua essência divina e a Tua vida interior, trinitária. Capacita a minha
mente com a Tua graça especial.
Embora eu conheça a capacidade da graça que me concede a Igreja, no
entanto existe um grande tesouro de graças que tu, oh Senhor, concedes
quanto Te pedimos. E se a minha súplica não Te agrada, Peço-Te que não
me dês inclinação para tal oração.
1475. Procuro conseguir a maior perfeição para ser útil à Igreja. A minha
união com a Igreja é muito ampla. Tanto a santidade como a queda de cada
alma repercute-se em toda a Igreja. Observando-me a mim própria e aos
que me estão próximos, compreendi que exerço grande influência sobre
outras almas, não através de algumas façanhas heróicas, impressionantes
por si mesmas, mas por pequenos acções como o movimento da mão, um
olhar e muitas outras coisas que não menciono, mas que actuam e se
reflectem noutras almas, como eu própria notei.
1476. Oh, que bom é que a Regra imponha um silêncio rigoroso nos
dormitórios e que não permita permanecer neles excepto por absoluta
necessidade. Actualmente ocupo um pequeno quarto onde dormimos duas,
mas na altura em que adoeci e tive de ficar de cama, experimentei o penoso
que é quando uma pessoa está continuamente no dormitório. A Ir. N. tinha
um trabalho manual com o qual estava sentada no dormitório quase todo o
tempo e outra irmã vinha ensiná-la nesse trabalho. É difícil descrever
quanto isso me cansava; tanto mais que quando se está fraca e se passou a
noite com dores, cada palavra ressoa no cérebro, especialmente quando os
olhos começam a fechar-se de sono. ¡Oh Regra, quanto amor há em ti!…
1477. Durante as vésperas, enquanto se cantava o Magnificat, com as
palavras “manifestou o poder do Seu braço”, um recolhimento mais
profundo envolveu a minha alma e conheci e compreendi que o Senhor
realizará em breve a Sua obra na minha alma. Agora não me admiro que o
Senhor não me tenha descoberto tudo antes.
1478. ¿Por que estás triste hoje, Jesus? Diz-me quem causou a Tua
tristeza? E Jesus respondeu-me: As almas eleitas que não possuem o Meu
espírito, que antes vivem a letra e a sobrepõem por cima do Meu
espírito, por cima do espírito do Amor. Fundei toda a Minha lei no
Amor, no entanto não vejo este amor nem sequer nos conventos. Por
isso o Meu Coração está cheio de tristeza.
1479. JMJ
Oh meu Jesus, entre terríveis amarguras e sofrimentos,
Sinto que o Teu Divino Coração me acaricia.
Como uma boa mãe me estreitas ao Teu seio
E já agora me fazes amar o que o véu oculta.
Oh meu Jesus, num terrível deserto,
entre o pavor,
O meu coração sente a luz do Teu olhar,
Que nenhuma tormenta poderá ofuscar,
E dás-me a certeza interior de que me amas muito, oh Deus.
Oh meu Jeus, entre tão grandes misérias da vida,
Tu, Jesus, iluminas-me como uma estrela e defendes-me do naufrágio.
E embora a minha miséria seja tão grande,
No entanto confio muitíssimo no poder da Tua Misericórdia.
Oh Jesus oculto, entre muitos combates da última hora,
A omnipotência da Tua graça desça sobre a minha alma
Para que, quando morrer, possa contemplar-Te
Cara a cara, como os eleitos no Céu.
Oh meu Jesus, rodeada de muitos perigos
Caminho pela vida com um grito de alegria, com a cabeça alta,
Já que contra o Teu Coração, oh Jesus, cheio de amor
Se estatelam todos os inimigos e se dissipam as trevas.
1480. Oh Jesus, esconde-me na Tua Misericórdia e protege-me de tudo o
que possa atemorizar a minha alma; que não fique desiludida a confiança
que depositei na Tua Misericórdia. Protege-me com a omnipotência da Tua
Misericórdia e, depois, julga-me com benevolência.
1481. Hoje, durante a Santa Missa, junto ao meu genuflexório vi o
Menino Jesus que parecia ter um ano, e que me pediu que Lhe pegasse ao
colo. Quando O tomei nos braços, estreitou-se ao meu coração e disse:
Estou bem junto do teu coração. Embora sejas tão pequeno, eu sei que és
Deus. ¿Por que tomas o aspecto de um menino para estares comigo?
Porque quero ensinar-te a infância espiritual. Quero que sejas muito
pequena, já que sendo pequenina levo-te junto do Meu Coração, assim
como tu Me tens neste momento junto ao teu coração. Nesse momento
fiquei só, mas ninguém poderá compreender o que sentia a minha alma,
estava toda submergida em Deus como uma esponja lançada no mar….
1482. Oh meu Jesus, Tu sabes que me expus a mais de um desgosto por
ter dito a verdade. Oh verdade, tantas vezes oprimida e que trazes quase
sempre uma coroa de espinhos. Oh verdade eterna, sustenta-me para que
tenha a coragem de dizer a verdade embora tenha que selá-la com a minha
vida. Oh Jesus, que difícil é crer nisto quando se vê que se prega uma coisa
e se vive outra.
1483. Por isso, durante os exercícios espirituais, depois de uma
demorada observação da minha vida, decidi cravar fortemente o meu olhar
em Ti, Jesus, modelo perfeitíssimo. ¡Oh eternidade que descobrirás muitos
segredos e mostrarás a verdade!…
1484. Oh Hóstia viva, sustém-me neste desterro para que possa seguir
fielmente os passos do Salvador. Não Te peço, oh Senhor, que me baixes da
cruz, mas que me permitas perseverar nela. Desejo ser pregada na cruz
como Tu, Jesus. Desejo experimentar todos os tormentos e as dores que
sofreste, desejo beber o cálice de amargura até à última gota.
A bondade de Deus
1485. A Misericórdia de Deus oculto no Santíssimo Sacramento; a voz
do Senhor que nos fala do trono da Misericórdia: Vinde a Mim todos.
Diálogo de Deus misericordioso com a alma pecadora
- Jesus: Não tenhas medo, alma pecadora, do teu Salvador; Eu sou o
primeiro a aproximar-me de ti, porque sei que por ti mesma não és
capaz de te elevar até Mim. Filhinha, não fujas do teu Pai; dispõe-te a
falar a sós com o teu Deus da Misericórdia, que quer dizer-te
pessoalmente palavras de perdão e encher-te com as Suas graças. Oh,
quanto Me é querida a tua alma. Acolhi-te em Meus braços e ficaste
gravada como uma profunda chaga no Meu Coração.
- A alma: Senhor, oiço a Tua voz que me chama a abandonar o mau
caminho, mas não tenho nem coragem nem força.
- Jesus: Eu sou a tua força, Eu te darei força para lutar.
- A alma: Senhor, conheço a Tua santidade e tenho medo de Ti.
- Jesus: ¿Por que tens medo, Minha filha, do Deus da Misericórdia?
A Minha santidade não Me impede de ser misericordioso contigo. Olha,
alma, por ti instituí o trono da Misericórdia na Terra e este trono é o
tabernáculo e deste trono da Misericórdia desejo descer ao teu coração.
Olha, não Me cerquei nem de séquito nem de guardas, tens o acesso
a Mim em qualquer momento, a qualquer hora do dia, quero falar
contigo e desejo conceder-te graças.
- A alma: Senhor, temo que não me perdoes um número tão grande de
pecados; a minha miséria enche-me de temor.
- Jesus: A Minha Misericórdia é maior do que a tua miséria e a do
mundo inteiro. ¿Quem mediu a Minha bondade? Por ti baixei do Céu à
Terra, por ti deixei cravar-me na cruz, por ti permiti que o Meu
Sagrado Coração fosse aberto por uma lança, e abri a Fonte da
Misericórdia para ti. Vem e aceita as graças desta Fonte com o vaso da
confiança. Jamais rejeitarei um coração arrependido, a tua miséria
desaparece no abismo da Minha Misericórdia. ¿Por que haverias de
disputar Comigo sobre a tua miséria? Faz-me o favor, dá-Me todas as
tuas penas e toda a tua miséria e Eu te encherei com os tesouros das
Minhas graças.
– A alma: Com a Tua bondade venceste, oh Senhor, o meu coração de
pedra; eis-me aqui aproximando-me com confiança e humildade do tribunal
da Tua Misericórdia, absolve-me Tu próprio pela mão do Teu representante.
Oh Senhor, sinto que a graça e a paz desceram à minha pobre alma. Sinto
que a Tua Misericórdia, Senhor, penetrou completamente a minha alma.
Perdoaste-me mais do que eu me atrevia a esperar, mais de quanto era capaz
de imaginar. A Tua bondade ultrapassou todos os meus desejos. E agora
convido-Te ao meu coração, cheio de gratidão por tantas graças. Andei por
maus caminhos, como o filho pródigo, mas Tu não deixaste de ser o meu
Pai. Multiplica em mim a Tua Misericórdia, porque vês como sou fraca.
-Jesus: Filha, não fales mais da tua miséria, porque Eu já não Me
recordo dela. Escuta, Minha filha, o que desejo dizer-te: estreita-te às
Minhas chagas e tira da Fonte da vida tudo o que o teu coração possa
desejar. Bebe copiosamente da Fonte da vida e não pares durante a
viagem. Olha o resplendor da Minha Misericórdia e não temas os
inimigos da tua salvação. Glorifica a Minha Misericórdia.
1486. Diálogo entre Deus misericordioso e a alma desesperada.
- Jesus: Oh alma submergida nas trevas, não desesperes, ainda nem
tudo está perdido, fala com o teu Deus que é o Amor e a própria
Misericórdia. Mas, desgraçadamente, a alma permanece surda perante a
chamada de Deus e submerge-se em trevas ainda maiores.
- Jesus volta a chamar: Alma, escuta a voz do teu Pai misericordioso.
Na alma surge a resposta: Para mim já não há Misericórdia. E cai em
trevas ainda mais densas, numa espécie de desespero que lhe dá a
antecipada sensação do Inferno e a faz completamente incapaz de se
aproximar de Deus.
Jesus fala à alma pela terceira vez, mas a alma está surda e cega, e
começa a firmar-se na dureza e no desespero. Então começam de certo
modo a esforçar-se as entranhas da Misericórdia de Deus e sem nenhuma
cooperação de parte da alma, Deus dá-lhe a sua graça definitiva. Se a
despreza, então Deus deixa-a no estado em que ela quer permanecer pela
eternidade. Esta graça sai do Coração misericordioso de Jesus e alcança a
alma com a sua luz e a alma começa a compreender o esforço de Deus, mas
a conversão depende dela. Ela sabe que esta graça é a última para si e se
mostra um pouco de boa vontade, embora seja mínimo, a Misericórdia de
Deus realizará o resto.
-[Jesus]: Aqui actua a omnipotência da Minha Misericórdia, feliz a
alma que aproveite esta graça.
- Jesus: Com quanta alegria se enche o Meu Coração quando voltas
para Mim. Vejo-te muito fraca, portanto tomo-te nos Meus próprios
braços e levo-te para a casa do Meu Pai.
- A alma, como se despertasse: ¿É possível que haja ainda Misericórdia
para mim? Pergunta cheia de temor.
- Jesus: Precisamente tu, filha Minha, tens um particular direito à
Minha Misericórdia. Permite à Minha Misericórdia actuar em ti, na
tua pobre alma; deixa entrar na tua alma os raios da graça, eles trarão
luz, calor e vida.
- A alma: No entanto, só ao recordar os meus pecados invade-me o
medo, e este terrível temor leva-me a duvidar da Tua bondade.
- Jesus: Deves saber, oh alma, que todos os teus pecados não feriram
tão dolorosamente o Meu coração como a tua actual desconfiança.
Depois de tantos esforços do Meu amor e da Minha Misericórdia não
confias na Minha bondade.
- A alma: Oh Senhor, salva-me Tu Mesmo, porque estou perecendo; sê o
meu Salvador. Oh Senhor, não sou capaz de dizer outra coisa, o meu pobre
coração está dilacerado, mas Tu, Senhor…
Jesus não permite à alma terminar estas palavras, levanta-a do chão, do
abismo da miséria, e num só instante a introduz na morada do Seu próprio
Coração e todos os pecados desaparecem num abrir e fechar de olhos,
destruídos pelo ardor do amor.
- Jesus: Aqui tens, oh alma, todos os tesouros do Meu Coração, toma
d'Ele tudo o que necessites.
- A alma: Oh Senhor, sinto-me inundada pela Tua graça, sinto que uma
vida nova entrou em mim e, sobretudo, sinto o Teu amor no meu coração e
isso me basta. Oh Senhor, glorificarei por toda a eternidade a omnipotência
da Tua Misericórdia; animada pela Tua bondade. Confiar-Te-ei toda a dor
do meu coração.
- Jesus: Diz tudo, filhinha, sem nenhumas restrições, porque te
escuta o Coração que te ama, o Coração do teu melhor amigo.
- Oh Senhor, agora vejo toda a minha ingratidão e a Tua bondade. Tu me
perseguias com a Tua graça e eu frustrava todos os Teus esforços; vejo que
merecia as profundezas do Inferno por ter deperdiçado tais graças.
Jesus interrompe as palavras da alma e [diz]: Não te absorvas na tua
miséria, és demasiada fraca para falar; é melhor que contemples o Meu
Coração cheio de bondade; impregna-te dos Meus sentimentos e
procura viver em mansidão e humildade. Sê misericordiosa com os
outros, como Eu sou misericordioso contigo, e quando sentires que as
tuas forças se debilitam vem à Fonte da Misericórdia e fortalece a tua
alma, para assim não vires a desfalecer no caminho.
- A alma: Agora compreendo a Tua Misericórdia que me protege como
uma núvem luminosa e me conduz à casa do meu Pai, salvando-me do
terrível Inferno que mereci, não uma mas mil vezes. Oh Senhor, a
eternidade não me bastará para glorificar dignamente a Tua Misericórdia
insondável, a Tua compaixão por mim.
1487. Diálogo de Deus misericordioso com a alma que sofre
- Jesus: Oh alma, vejo-te tão sofredora, vejo que nem sequer tens
forças para falar Comigo. Por isso, serei Eu mesmo a falar contigo, oh
Alma. Embora os teus sofrimentos sejam os maiores, não percas a
tranquilidade de espírito nem desanimes. Mas diz-Me, Minha filhinha,
quem se atreveu a ferir o teu coração? Diz-Me tudo, conta-Me tudo, sê
sincera Comigo, descobre-Me todas as feridas do teu coração. Eu hei de
curá-las e o teu sofrimento se convertirá em fonte da tua santificação.
- A alma: Tenho sofrimentos tão grandes e variados que não sei do que
falar primeiro nem como exprimir tudo isto.
- Jesus: Fala-Me com simplicidade, como se fala entre amigos. DizMe então, Minha filhinha, ¿o que é que te impede no caminho da
santidade?
- A alma: A falta de saúde detém-me no caminho da santidade, não
posso cumprir as minhas obrigações, pois sou como um servo inútil. Não
posso mortificar-me nem fazer jejuns rigorosos, como faziam os santos;
outras pessoas não acreditam que estou doente, e ao sofrimento fisico unese o moral, donde me provêm muitas humilhações. Vês, Jesus, ¿Como se
pode chegar a ser santa em tais condições?
- Jesus: Filhinha, é verdade, tudo isso é sofrimento, mas não há outro
caminho para o Céu excepto o caminho da cruz. Eu próprio fui o
primeiro a percorrê-lo. Deves saber que este é o caminho mais curto e o
mais seguro.
- A alma: Senhor, há outra nova barreira e dificuldade no caminho da
santidade: por Te ser fiel perseguem-me e fazem-me sofrer muito.
- Jesus: Deves saber que o mundo te odeia, porque não és deste
mundo. Primeiro, perseguiu-Me a Mim. Essa perseguição é sinal de que
segues os Meus passos com fidelidade.
- A alma: Senhor, desanima-me, também, que nem os meus superiores
nem o confessor entendem os meus sofrimentos interiores. As trevas
obscureceram a minha mente, ¿Como avançar? Tudo isto me desanima
muito e penso que as alturas da santidade não são para mim.
- Jesus: Pois, Minha filhinha, desta vez muito Me contaste. Eu sei
que é um grande sofrimento o de não ser compreendida e, sobretudo,
pelos que amamos e aos quais manifestamos uma grande sinceridade.
Mas que te seja suficiente que Eu te compreenda em todas as tuas
penas e tuas misérias. Agrada-Me a tua profunda fé que, apesar de
tudo, tens nos Meus representantes, mas deves saber que os homens
não podem compreender plenamente uma alma, porque isso ultrapassa
as suas possibilidades. Por isso Eu Mesmo fiquei na Terra para
consolar o teu coração aflito e fortalecer a tua alma, para que não
desfaleças no caminho. Dizes que grandes trevas obscurecem a tua
mente, pois, ¿porque em tais momentos não vens até Mim que sou a luz
e num só instante posso infundir na tua alma tanta lucidez e tanta
compreensão da santidade, que nunca aprenderias em nenhum livro,
nem nenhum confessor seria capaz de ensinar nem iluminar assim a
alma? Fica ainda a saber que, por essas trevas de que te queixas, passei
primeiro Eu por ti, no Horto das Oliveiras. A minha alma esteve
oprimida por uma tristeza mortal e dou-te apenas uma pequena parte
destes sofrimentos devido ao Meu especial amor por ti e pelo alto grau
de santidade que te destino no Céu. A alma que sofre é a que mais
próxima está do Meu Coração.
- A alma: Mais uma coisa, Senhor: ¿que fazer se me desprezam e
rejeitam os homens, e especialmente aqueles com quem tinha mais direito
de contar e até nos momentos de maior necessidade?
- Jesus: Minha filhinha, faz o propósito de não contar nunca com os
homens. Farás muitas coisas se te abandonares totalmente à Minha
vontade e disseres: Faça-se em mim, oh Deus, não segundo o que eu
quiser, mas segundo a Tua vontade. Deves saber que estas palavras
pronunciadas do fundo do coração, num só instante elevam a alma aos
cumes da santidade. Tenho especial predilecção por tal alma, que Me
rende uma grande glória; tal alma enche o Céu com o perfume das suas
virtudes; fica sabendo que a força que tens em ti para suportar os
sofrimentos, a deves à frequente Santa Comunhão; pois vem muitas
vezes a essa Fonte da Misericórdia, para recolher, com o vaso da
confiança, qualquer coisa de que necessites.
- A alma: Graças, oh Senhor, pela Tua inconcebível bondade, por Te
teres dignado ficar connosco neste exílio, e connosco habitares como o
Deus da Misericórdia, derramando à nossa volta o resplendor da Tua
compaixão e bondade. Foi à luz dos raios da Tua Misericórdia que
compreendi quanto me amas.
1488. Diálogo entre Deus misericordioso e a alma que aspira à
perfeição.
- Jesus: São-Me agradáveis os teus esforços, oh alma que aspiras à
perfeição. Mas ¿por que é que com tanta frequência te vejo triste e
abatida? Diz-Me, Minha filhinha, ¿que significa esta tristeza e qual é a
sua causa?
- A alma: Senhor, a minha tristeza deve-se a que, apesar dos meus
sinceros propósitos, caio continuamente e sempre nos mesmos erros. Faço
os propósitos de manhã e, de noite, vejo quanto me afastei deles.
- Jesus: Vês, filhinha, o que és por ti própria, e a causa das tuas
quedas está em que contas demasiadamente contigo mesma e te apoias
muito pouco em Mim. Mas isto não deve entristecer-te excessivamente;
estás a tratar com o Deus da Misericórdia, que a tua miséria não há de
esgotar, pois não limitei o número do Meu perdão.
- A alma: Sim, sei tudo isso, mas assaltam-me grandes tentações que me
despertam várias dúvidas interiores e tudo me perturba e desanima.
- Jesus: Minha filhinha, tens de saber que o maior obstáculo para a
santidade é o desânimo e uma injustificada inquietação, que te tiram a
possibilidade de te exercitares nas virtudes. Todas as tentações juntas
não deveriam, nem por um instante, perturbar a tua paz interior e a
irritabilidade e o desânimo são os frutos do teu amor próprio. Não
deves desanimar mas procurar que o Meu amor reine em lugar do teu
amor próprio. Portanto, confiança, Minha filhinha; não deves
desanimar, [mas] vir até Mim para pedir perdão, porque Eu estou
sempre disposto a perdoar-te. Cada vez que Me pedes perdão,
glorificas a Minha Misericórdia.
- A Alma: Eu reconheço o que é mais perfeito e o que Te agrada mais,
mas enfrento grandes obstáculos para praticar o que sei.
- Jesus: Minha filhinha, a vida na Terra é uma luta, e uma grande
luta pelo Meu reino, mas não tenhas medo, porque não estás só. Eu
sustento-te sempre, portanto apoia-te no Meu braço e luta sem ter
medo de nada. Toma o vaso da confiança e recolhe da Fonte da Vida
não só para ti, mas pensando também noutras almas, especialmente
naquelas que não têm confiança na Minha bondade.
- A alma: Oh Senhor, sinto que o meu coração se enche do Teu amor,
que os raios da Tua Misericórdia e do Teu amor penetraram a minha alma.
Eis-me aqui, Senhor, pronta para responder à Tua chamada e conquistar as
almas, sustentada pela Tua graça; estou disposta a seguir-Te, Senhor, não
somente no Tabor, mas também no Calvário. Desejo conduzir as almas à
Fonte da Tua Misericórdia para que em todas as almas se reflicta o
resplendor dos raios da Tua Misericórdia, para que a casa de nosso Pai fique
cheia; e quando o inimigo comece a atirar flechas contra mim, então cobrirme-ei com a Tua Misericórdia, como com um escudo.
1489. Diálogo entre Deus misericordioso e a alma perfeita
- A alma: Meu Senhor e meu Mestre, desejo falar Contigo.
- Jesus: Fala, porque te escuto em qualquer momento, querida
filhinha; espero-te sempre. ¿De que desejas falar Comigo?
- A Alma: Senhor, primeiro derramo o meu coração a Teus pés como
perfume de agradecimento por tantas graças e benefícios de que me
cumulas continuamente, os quais não conseguiria enumerar mesmo que
quisesse. Recordo somente que não houve um só momento na minha vida
em que não tenha experimentado a Tua protecção e a Tua bondade.
- Jesus: Agrada-Me falar contigo e o teu agradecimento abre-te
novos tesouros de graças, mas, Minha filhinha, falemos talvez não tão
geralmente, mas em pormenor sobre o que mais pesa sobre o teu
coração; falemos confidencial e sinceramente como dois corações que se
amam mutuamente.
- A alma: Oh meu Senhor misericordioso, há segredos no meu coração
dos quais não sabe nem saberá ninguém, excepto Tu, porque embora
quisesse dizê-los ninguém me compreenderia. O Teu representante sabe
alguma coisa, pois confesso-me com ele, mas só na medida em que sou
capaz de lhe desvendar esses segredos; o resto fica entre nós pela
eternidade, ¡oh meu Senhor! Cobriste-me com o manto da Tua Misericórdia
perdoando-me sempre os pecados. Nem uma só vez me negaste o Teu
perdão, mas compadecendo-Te de mim, sempre me ofereceste uma vida
nova, a vida da graça. Para que não tenha dúvidas em nada, confiaste-me à
carinhosa protecção da Tua Igreja, essa terna e verdadeira mãe que em Teu
nome me confirma nas verdades da fé e vela para que eu nunca erre. E
especialmente no tribunal da Tua Misericórdia a minha alma experimenta
todo um mar de benevolência. Aos Anjos caídos não lhes deste tempo de
fazer penitência, não lhes prolongaste o tempo da Misericórdia. Oh meu
Senhor, no caminho da minha vida colocaste sacerdotes santos, que me
indicam a rota certa. Jesus, na minha vida há um segredo mais, o mais
profundo, mas também o mais querido para mim: és Tu Mesmo sob a
espécie de pão, quando vens ao meu coração. Aqui está todo o segredo da
minha santidade. Aqui, o meu coração unido ao Teu, faz-se um, aqui já não
há nenhum segredo, porque tudo o que é Teu é meu e tudo o que é meu é
Teu.
Eis aqui a omnipotência e o milagre da Tua Misericórdia. Embora se
unissem todas as línguas humanas e angélicas, não encontrariam palavras
suficientes para exprimir este mistério de Amor e da Tua Misericórdia
insondável. Quando considero este mistério de Amor, o meu coração entra
num novo êxtase de amor e falo-Te de tudo, Senhor, calando, porque o
linguagem do amor é sem palavras, porque não lhe escapa nem uma só
palpitação do meu coração. Oh Senhor, apesar de que Te humilhaste tanto, a
Tua grandeza multiplicou-se na minha alma e por isso na minha alma
despertou um amor ainda maior por Ti, único objecto do meu amor, porque
a vida do amor e da união manifestam-se exteriormente como: perfeita
pureza, profunda humildade, suave mansidão e grande fervor pela salvação
das almas. Oh meu dulcíssimo Senhor, que velas por mim em cada
momento e me inspiras como devo portar-me em cada circunstância.
Quando o meu coração hesita entre uma e outra coisa Tu Mesmo intervéns,
uma e outra vez, para solucionar o assunto.
Oh, quantas e inumeráveis
vezes, com uma luz repentina me fizeste conhecer o que mais Te agradava.
– Oh, que numerosos instantes de secreto perdão, dos quais ninguém sabe.
Muitas vezes insuflaste na minha alma força e coragem para avançar. Tu
próprio eliminavas as dificuldades [375] do meu caminho intervindo
directamente na actuação dos homens. Oh Jesus, tudo o que Te disse é uma
pálida imagem da realidade que há no meu coração. Oh meu Jesus, quanto
desejo a conversão dos pecadores. Tu sabes o que faço por eles para os
conquistar para Ti. Dói-me enormemente cada ofensa feita contra Ti. Tu
sabes que não poupo nem forças, nem saúde, nem vida, em defesa do Teu
reino. Embora na Terra os meus esforços sejam invisíveis, não têm menos
valor a Teus olhos. Oh Jesus, desejo atrair as almas à Fonte da Tua
Misericórdia para que tomem a vivificante água de vida com o vaso da
confiança. Se a alma deseja experimentar uma maior Misericórdia de Deus,
aproxime-se a Deus com grande confiança, e se a sua confiança é sem
limites, a Misericórdia de Deus será para ela também sem limites. Oh meu
Senhor, que conheces cada batimento do meu coração, Tu sabes com que
ardor desejo que todos os corações pulsem somente por Ti, que cada alma
glorifique a grandeza da Tua Misericórdia.
- Jesus: Minha filha amadíssima, delícia do Meu coração, a tua
conversação é-Me mais querida e mais agradável que o cântico dos
anjos. Todos os tesouros do Meu Coração estão abertos para ti. Toma
deste Coração tudo o que necessites para ti e para o mundo inteiro. Por
teu amor retiro os justos castigos que a humanidade mereceu. Um só
acto de puro amor por mim, é-Me mais agradável que milhares de
hinos de almas imperfeitas. Um só suspiro de amor recompensa-Me de
tantas injúrias feitas pelos ímpios. A Tua mais pequena accão, isto é,
um acto de virtude adquire a Meus olhos um valor imenso, pelo grande
amor que tens por Mim. Numa alma que vive exclusivamente do Meu
amor, Eu reino como no Céu. O Meu olhar vela sobre ela dia e noite e
encontro nela a Minha complacência e o Meu ouvido está atento às
súplicas e ao murmúrio do seu coração e muitas vezes anticipo os seus
pedidos. Oh filhinha amada por Mim especialmente, menina dos Meus
olhos, descansa um momento junto ao Meu Coração e saboreia aquele
amor do qual te regozijarás durante toda a eternidade.
Mas, filha, ainda não estás na Pátria; por isso vai, fortalecida com a
Minha graça, luta pelo Meu reino nas almas dos homens, mas luta
como uma filha do Rei e lembra-te que depressa passarão os dias do
exílio e, com eles, a oportunidade de adquirir méritos para o Céu.
Espero de ti, Minha filhinha, um grande número de almas que
glorifiquem a Minha Misericórdia durante toda a eternidade. Minha
filhinha, para poderes responder dignamente à Minha chamada,
recebe-Me todos os dias na Santa Comunhão - Ela te dará força…
Jesus, não me deixes sozinha a sofrer. Tu sabes, Senhor, como sou fraca.
Sou um abismo de miséria, sou o próprio nada. Por isso, ¿que haveria de
estranho se me deixasses só e eu caísse? Sou uma recém-nascida, Senhor,
por isso não sei orientar-me por mim mesma. No entanto, para lá de todo o
abandono, confio, e apesar dos meus sentimentos, confio e estou-me
transformando completamente em confiança, muitas vezes apesar do que
sinto. Não diminuas nenhuma das minhas aflições, mas dá-me força para as
suportar. Faz de mim o que quiseres, Senhor, mas dá-me a graça de poder
amar-Te em cada acontecimento e circunstância. Senhor, não diminuas o
meu cálice de amargura, mas dá-me fortaleza para que possa bebê-lo até ao
fim.
Oh Senhor, às vezes, elevas-me para o resplendor das visões e outras
vezes submerges-me numa noite escura e no abismo da minha nulidade; e
então a alma sente-se como se estivesse só num grande deserto… No
entanto, acima de tudo confio em Ti, Jesus, porque és imutável. A
disposição do meu ânimo é variável, mas a Tua é sempre igual, cheia de
Misericórdia.
1490. Oh Jesus, Fonte da vida, santifica-me. Minha força, fortalece-me.
Única luz da minha alma, ilumina-me. Meu Mestre, guia-me; confio-me a
Ti como o recém-nascido ao amor da sua mãe.
Embora tudo conspire contra mim e embora me falte Terra debaixo dos
pés, estarei tranquila junto ao Teu Coração. Tu és sempre para mim a mais
terna das mães e estás acima de todas as mães. Cantar-Te-ei a minha dor
com o silêncio e Tu me compreenderás melhor do que se me exprimisse de
qualquer outro modo…
1491. Hoje o Senhor visitou-me e disse-me: Minha filha, não tenhas
medo do que te sucederá, nada te darei acima das tuas forças; conheces
o poder da Minha graça, que isso te baste. Depois destas palavras o
Senhor deu-me a entender mais profundamente a actuação da sua graça.
1492. Antes da Santa Comunhão Jesus fez-me conhecer que não devo
em absoluto dar crédito às palavras de uma das irmãs, porque a Ele não lhe
agrada a sua astúcia e a sua malícia. Minha filha, não manifestes a essa
pessoa nem as tuas ideias nem a tua opinião. Pedi perdão ao Senhor pelo
que não Lhe agradava nessa alma e supliquei que me fortaleça com a sua
graça no momento em que ela venha de novo falar comigo. Tinha-me
perguntado muitas coisas às quais lhe tinha respondido com todo o amor de
irmã e como prova de que falava sinceramente, tinha-lhe dito algumas
coisas experimentadas por mim pessoalmente, no entanto as intenções
daquela alma diferiam das palavras que tinha nos lábios…
1493. Oh meu Jesus, desde o momento em que me abandonei totalmente
a Ti, não penso absolutamente em mim. Podes fazer comigo o que Te
agradar, penso numa só coisa, isto é: ¿o que é que preferes?, ¿como é, oh
Senhor, que posso agradar-Te? Aguço o ouvido e estou atenta a cada
ocasião; não importa se exteriormente, nesse caso, seja julgada de outro
modo…
1494. 15 I 1938. Hoje, quando me visitou essa mesma irmã pela qual
tinha sido avisada pelo Senhor, preparei-me espiritualmente para a luta.
Embora isso me custasse muito, não me afastei em nada da recomendação
do Senhor; no entanto, quase uma hora depois, quando a irmã ainda não
pensava retirar-se, pedi interiormente a Jesus que me socorresse. Então ouvi
na alma uma voz: Não tenhas medo, estou a ver-te neste momento e
ajudo-te; envio agora mesmo duas irmãs que virão visitar-te e então
será fácil continuares a conversa. E naquele mesmo momento entraram
duas irmãs, e então a conversa tornou-se muito fácil, embora ainda se
prolongasse por meia hora.
1495. Oh, que bom é invocar a ajuda de Jesus durante uma conversa.
Oh, que bom é pedir para si graças actuais nos momentos de tranquilidade.
O que me dá maior receio são as conversas supostamente confidenciais; há
que ter então muita luz de Deus para poder conversar com proveito para
aquela alma e para si próprio. Deus concede a Sua ajuda, mas há que pedila; que ninguém confie demasiadamente em si mesmo.
1496. 17 I 1938. Hoje de manhã cedo, a minha alma encontra-se em
trevas. Não consigo elevar-me até Jesus, sinto-me como que abandonada
por Ele. Não pedirei luz às criaturas, porque sei que elas não me podem
iluminar se Jesus quiser manter-me na escuridão. Submeto-me à Sua santa
vontade e sofro; no entanto a luta está a aumentar. Durante as vésperas quis
unir-me às irmãs, na oração. Quando em pensamento me transportei para a
capela, o meu espírito submergiu-se em trevas ainda maiores.
1497. Apoderou-se de mim um desânimo para todas as coisas. Então
ouvi a voz de Satanás: «Olha, que contraditório é tudo o que te dá Jesus:
faz-te fundar um convento e envia-te uma doença; diz-te que te esforces
para instituir a Festa da Misericórdia, mas o mundo de todo não quer tal
Festa. ¿Por que rezas por essa Festa? Essa Festa é tão inoportuna». A minha
alma cala e reza com um acto de boa vontade sem entrar em diálogo com o
espírito das trevas. No entanto, apoderou-se de mim um tédio tão estranho
pela vida, que tive que fazer um grande esforço de vontade para a aceitar…
E oiço outra vez as palavras do tentador: «Pede a morte para ti, amanhã,
depois da Santa Comunhão. Deus ouvir-te-á, pois escutou-te tantas vezes e
deu-te tudo o que lhe pediste». Calei-me e rezei com um acto de vontade,
ou melhor submetendo-me a Deus pedindo-Lhe interiormente que não me
abandone neste momento. São já onze da noite, todas as irmãs estão a
dormir nas suas celas, somente a minha alma luta com grande esforço.
O tentador continua: «?Que te importam as outras almas? Tu deves rezar
somente por ti mesma. Os pecadores converter-se-ão sem as tuas preces.
Vejo que neste momento estás sofrendo muito, e eu dou-te um conselho do
qual dependerá a tua felicidade: não fales nunca da Divina Misericórdia e
nunca convides especialmente os pecadores a confiar na Misericórdia,
porque eles merecem um justo castigo. Outra coisa importantíssima: não
fales aos confessores do que passa na tua alma e especialmente a esse Padre
extraordinário e àquele sacerdote de Vilna. Eu conheço, sei quem são, por
isso quero precaver-te sobre eles. Trata de ser uma boa irmã, basta viver
como as outras, ¿por que te expões a tantas dificuldades?»
1498. Eu continuo calada e com um acto de vontade persevero
totalmente em Deus, apesar de um gemido se escapar do meu coração. Por
fim o tentador afastou-se e eu, extenuada, adormeci imediatamente. De
manhã, quando recebi a Santa Comunhão e entrei imediatamente na minha
cela, caí de joelhos e renovei o acto de submissão em tudo à santíssima
vontade de Deus. Peço-Te, Jesus, dá-me força para lutar, que se faça em
mim segundo a Tua santíssima vontade. A minha alma enamorou-se da Tua
santíssima vontade.
1499. Nesse momento vi Jesus que me disse: Estou contente com o que
estás a fazer e continua tranquila se fizeres sempre tudo o que está ao
teu alcance para toda esta Obra da Misericórdia. Tem a máxima
sinceridade com o confessor. Satanás não tirou nenhum proveito por te
ter tentado, porque não entraste em diálogo com ele. Continua assim.
Hoje deste-Me uma grande glória lutando com tanta fidelidade. Que o
teu coração se consolide e confirme na certeza de que Eu estou sempre
contigo, mesmo no momento de luta em que Me não sintas.
1500. Hoje o amor de Deus transporta-me para outro mundo. Estou
submergida no amor, amo e sinto que sou amada, experimentando isto em
plena consciência. A minha alma abisma-se no Senhor, conhecendo a
grande Majestade de Deus e a minha própria pequenez, mas mesmo este
conhecimento aumenta a minha felicidade…
Este conhecimento é muito vivo na alma, muito forte e ao mesmo tempo
tão doce.
1501. Como agora não posso dormir bem de noite, porque as dores não
mo permitem, visito todas as igrejas e capelas e adoro, embora seja por
pouco tempo, o Santíssimo Sacramento. Quando regresso à minha capela,
então rezo pelos sacerdotes que proclamam e divulgam a Misericórdia de
Deus. Rezo também por intenção do Santo Padre e para pedir a
Misericórdia de Deus para os pecadores; são estas as minhas noites.
1502. 20 I [1938]. Nunca sou servil com ninguém. Não suporto
adulações e a humildade é somente a verdade, numa verdadeira humildade
não há servilismo. Embora me considere a mais pequena de todo o
convento, por outro lado gozo a dignidade de ser esposa de Jesus… Não
importa que às vezes oiça dizer que sou soberba, pois sei bem que o juízo
humano não consegue descobrir os motivos das acções.
1503. No início da minha vida religiosa, imediatamente depois do
noviciado, comecei a exercitar-me na humildade de modo especial, isto é,
não me bastavam as humilhações que Deus me enviava, mas eu mesma as
procurava e, num fervor exagerado, às vezes apresentava-me às Superioras
como não era na realidade e nem sequer fazia ideia de tais misérias. Mas,
pouco depois, Jesus ensinou-me que a humildade é somente a verdade.
Desde aquele momento mudei a minha maneira de pensar, seguindo
fielmente a luz de Jesus. Compreendi que se uma alma está com Jesus, Ele
não lhe permitirá errar.
1504. Senhor, Tu sabes que desde a juventude sempre procurava a Tua
vontade e, ao conhecê-la, tentava cumpri-la. O meu coração estava
acostumado à inspiração do Espírito Santo a quem permaneço fiel. No meio
do maior ruído, oiço sempre a voz de Deus, sei sempre o que se passa
dentro da minha [alma]… .
1505. Esforço-me para alcançar a santidade, já que com ela serei útil à
Igreja. Faço contínuos esforços na prática das virtudes, procuro imitar
fielmente Jesus e esta série de actos quotidianos de virtude, silenciosos,
ocultos, quase imperceptíveis, se forem cumpridos com grande amor,
coloco-os no tesouro da Igreja de Deus para proveito comum das almas.
Sinto interiormente como se fosse responsável por todas as almas, sinto
claramente que vivo não somente para mim, mas [para] toda a Igreja…
1506. Oh Deus incompreensível, o meu coração desfaz-se de alegria
porque me permitiste penetrar nos mistérios da Tua Misericórdia. Tudo
começa com a Tua Misericórdia e tudo termina na Tua Misericórdia…
1507. Toda a graça procede da Misericórdia e a última hora está cheia de
Misericórdia para connosco. Que ninguém duvide da bondade de Deus;
embora os seus pecados sejam negros como a noite, a Misericórdia de Deus
é mais forte do que a nossa miséria. Uma só coisa é necessária: que o
pecador entreabra, ainda por pouco que seja, as portas do seu coração aos
raios da graça misericordiosa de Deus e, então, Deus realizará o resto. Mas,
infeliz a alma que, mesmo na última hora, feche a porta à Misericórdia de
Deus. Tais almas mergulharam Jesus numa tristeza mortal no Horto das
Oliveiras; apesar disso, do Seu compassivíssimo Coração brotou a
Misericórdia de Deus.
1508. 21 I [1938]. Jesus, seria terrível sofrer se não existisses, mas és
justamente Tu, Jesus, pregado na cruz, que me dás fortaleza e sempre
acompanhas a alma que sofre. As criaturas abandonam o homem que sofre,
mas Tu, oh Senhor, és fiel…
1509. Na doença, acontece muitas vezes, como com Job no Antigo
Testamento: quando estamos de pé e podemos trabalhar, tudo vai bem e
corre pelo melhor, mas se Deus envia uma doença, o número de amigos
começa a diminuir. No entanto, ainda alguns se interessam pelo nosso
sofrimento. Mas se Deus enviar uma doença mais longa, também estes
amigos fiéis começam a abandonar-nos, pouco a pouco. Vêm visitar-nos
com menos frequência e muitas vezes as suas visitas causam-nos ainda mais
pesar. Em vez de nos consolarem, censuram-nos em algumas coisas, o que
ainda é motivo de mais sofrimento. E assim a alma, como a de Job, fica só;
mas felizmente não desolada, porque Jesus Hóstia está com ela.
Depois de ter passado por estes sofrimentos, estive toda a noite em
amargura. De manhã, quando o capelão me trouxe a Santa Comunhão, tive
que me dominar com grande esforço de vontade para não gritar alto:
Benvindo verdadeiro, único Amigo. A Santa Comunhão dá-me força para
sofrer e lutar. Quero dizer ainda uma coisa que experimentei: quando Deus
nos envia nem a morte nem a saúde, e isso se prolonga durante anos, as
pessoas que nos rodeiam acostumam-se e tratam-nos como se não
estivessemos doentes. Então começa uma série de martírios silenciosos;
somente Deus sabe quantos sacrifícios lhe oferece tal alma.
1510. Uma noite em que me encontrava tão mal que não sabia como
voltar à cela, de repente encontrei a Irmã Assistente que estava dizendo a
uma das Irmãs Directoras que fosse à porta com um encargo; mas quando
me viu disse-lhe: Não, irmã, não vá, vai a Ir. Faustina, porque está a chover
muito. Respondi que sim; fui e cumpri o que me foi mandado, mas só Deus
sabe [o que me custou]. Este é, somente, um exemplo entre muitos. Às
vezes parece que uma irmã do segundo coro é de pedra, embora ela também
seja um ser humano, tenha coração e sentimentos…
1511. Em tais casos o próprio Deus vem em nosso auxílio, porque de
outro modo a alma não conseguiria suportar estas pequenas cruzes, das
quais ainda mal comecei a escrever e nem penso escrever agora, mas
quando tenha inspiração escreverei…
1512. Hoje durante a Santa Missa vi Jesus, sofrendo como se agonizasse
na cruz, que me disse:
Minha filha, medita frequentemente sobre os Meus sofrimentos que
padeci por ti e nada do que tu sofres por Mim te parecerá excessivo.
Agradas-Me mais quando contemplas a Minha dolorosa Paixão; une os
teus pequenos sofrimentos à Minha dolorosa Paixão, para que
adquiram um valor infinito diante da Minha Majestade.
1513. Hoje Jesus disse-me: Muitas vezes Me chamas teu Mestre. Isso
é agradável ao Meu Coração, mas não esqueças, discípula Minha, que
és discípula de um mestre crucificado. Que te baste esta só palavra. Tu
sabes o que se encerra na cruz.
1514. Aprendi que a maior força está oculta na paciência. Vejo que a
paciência conduz sempre à vitória, embora não imediatamente, mas a
vitória manifestar-se-á anos depois. A paciência está unida à mansidão.
1515. Hoje passei toda a noite com Jesus no calabouço. Foi uma noite de
adoração. As irmãs estão a rezar na capela. Eu uno-me a elas
espiritualmente, porque a falta de saúde não me permite ir à capela. Mas
como não pude dormir toda a noite passei-a, com Jesus, no calabouço. Jesus
fez-me saber os sofrimentos que ali tinha padecido. O mundo conhecê-los-á
no dia do Juízo.
1516. Diz às almas, Minha filha, que lhes dou como defesa a Minha
Misericórdia, luto por elas sozinho, suportando a justa ira do Meu Pai.
1517. Minha filha, diz que esta Festa brotou das entranhas da
Minha Misericórdia, para consolo do mundo inteiro.
1518. Oh Jesus, minha paz e descanso, peço-Te por esta irmã, ilumina-a
para que mude interiormente, sustém-na com firmeza com a Tua graça, para
que também ela chegue à perfeição…
1519. Hoje, antes da Santa Comunhão, o Senhor disse-me: Minha filha,
hoje fala abertamente da Minha Misericórdia com a Superiora, porque
de entre as Superioras foi ela a que participou mais em divulgar a
Minha Misericórdia. E efectivamente, de tarde, veio a Madre e falámos
sobre esta Obra de Deus. A Madre disse-me que as imagens não tinham
saído muito bem e que pouco se vendiam. «Mas eu própria», disse-me,
«fiquei com bastantes e distribuo-as onde julgo oportuno, e faço o que
posso para que a Obra da Misericórdia se desenvolva». Quando se afastou,
o Senhor disse-me quanto lhe é querida essa alma.
1520. Hoje o Senhor disse-me: Abri o Meu Coração como uma Fonte
viva de Misericórdia. Que dela extraiam vida todas as almas. Que se
aproximem com grande confiança a este mar de Misericórdia. Os
pecadores obterão a justificação e os justos serão fortalecidos no bem.
Ao que depositou a sua confiança na Minha Misericórdia, na hora da
morte derramar-lhe-ei na alma a Minha paz divina.
1521. O Senhor disse-me: Minha filha, não deixes de proclamar a
Minha Misericórdia para alíviar o Meu Coração, que arde no fogo da
compaixão pelos pecadores. Diz aos Meus sacerdotes que os pecadores
mais endurecidos se arrependerão com as suas palavras, quando eles
falarem da Minha Misericórdia insondável, da compaixão que tenho
por eles no Meu Coração. Aos sacerdotes que proclamem e louvem a
Minha Misericórdia, darei uma força prodigiosa e ungirei as suas
palavras e tocarei os corações dos que os oiçam.
1522. A vida comunitária é difícil por si, mas é duas vezes mais difícil
familiarizar-se com almas soberbas. Oh Deus, concede-me uma fé mais
profunda para que em cada irmã possa sempre ver a Tua santa imagem, que
está gravada na sua alma….
1523. Amor eterno, chama pura, arde incessantemente no meu coração e
diviniza todo o meu ser segundo o Teu eterno desígnio, pelo qual me
chamaste à existência e a participar na Tua eterna felicidade. Oh Senhor
misericordioso, cumulaste-me destes dons unicamente por Misericórdia;
reconhecendo que tudo o que tenho me foi dado gratuitamente, adoro a Tua
bondade inconcebível com a mais profunda humildade. Senhor, o assombro
inunda-me o coração [ao pensar] que Tu, Senhor absoluto, não necessitas de
ninguém e, no entanto, por puro amor Te humilhas até nós. Nunca deixo de
me assombrar quando o Senhor entra numa familiaridade tão estreita com a
Sua criatura; é, de novo, a Sua bondade insondável. Começo sempre esta
meditação e nunca a termino, porque o meu espírito se submerge n’Ele
totalmente. Que delícia é amar com todas as forças da sua alma e, ao
mesmo tempo, ser amada ainda mais, senti-lo e vivê-lo com plena
consciência do seu ser, não havendo palavras para o exprimir.
1524. 25 I [1938]. Meu Jesus, como és bom e paciente; às vezes olhasnos como criancinhas. Às vezes rogamos-Te e não sabemos sequer o que
pedimos, porque no final da prece, quando nos dás o que Te suplicámos,
não queremos aceitá-lo.
1525. Um dia, veio ver-me certa irmã e pediu-me para rezar por ela e
disse-me que não podia resistir mais se [a situação] se prolongasse. «¡Reze,
irmã!» Respondi-Lhe que o faria; comecei uma novena à Divina
Misericórdia e soube que Deus lhe concederia a graça mas ela, ao recebê-la,
ficaria outra vez descontente. No entanto eu continuava a rezar, como ela
me tinha pedido. No dia seguinte veio a mesma irmã; mal começou a
conversa pôs-se a falar do mesmo; disse-lhe: sabe, irmã, que na oração não
devemos obrigar Deus a dar-nos o que queremos, mas, pelo contrário,
devemos submeter-nos à Sua santa vontade. Mas a ela parecia-lhe que o que
pedia era indispensável. No final da novena, veio novamente aquela irmã e
disse-me: Ah, irmã, Jesus concedeu-me esta graça, mas agora penso de
outro modo. «Reze, irmã, para que as coisas sejam de modo diferente».
Respondi-Lhe: Sim, rezarei para que em si, irmã, se cumpra a vontade de
Deus e não o que a irmã quer…
1526. Oh Misericordiosíssimo Coração de Jesus, protege-nos da justa ira
de Deus.
1527. Uma certa irmã persegue-me continuamente só porque Deus se
relaciona comigo tão intimamente. A ela parece-lhe que tudo dentro de mim
é fingido. Quando acha que cometo algum erro, diz: «Têm visões e fazem
tais erros». Comentou o assunto com outras irmãs e sempre no sentido
negativo, difundindo a opinião de que eu era meio louca. Um dia fez-me
muita pena pensar que essa gota de inteligência humana se atrevesse, assim,
a esquadrinhar os dons de Deus. Depois da Santa Comunhão, pedi que Deus
a iluminasse; no entanto, soube que se essa alma não alterasse a sua
disposição interior, não alcançaria a perfeição.
1528. Quando me queixei a Jesus de certa pessoa: Jesus, ¿Como é
possível que essa pessoa emita um juízo semelhante, até sobre a intenção?
O Senhor respondeu-me: Não te admires com isso; essa alma não se
conhece a si mesma, então ¿Como pode emitir um justo juízo sobre
outra alma?
1529. Hoje vi o Padre Andrasz a rezar. Soube que intercedia por mim
diante de Deus. Às vezes, o Senhor permite-me conhecer quem reza por
mim.
1530. Coloquei-me um pouco em segundo plano, como se esta Obra de
Deus não me interesasse. Neste momento não falo dela, mas toda a minha
alma está mergulhada em oração e suplico a Deus que se digne antecipar
este grande dom, isto é, a Festa da Misericórdia e vejo que Jesus actua e nos
dá indicações sobre como isto deve ser realizado. Nada sucede por acaso.
1531. Hoje disse ao Senhor Jesus: ¿Vês, quantas dificuldades [há] antes
de que creiam que Tu próprio és o autor desta Obra? Mesmo agora, nem
todos crêem nisso. Fica tranquila, Minha filha, nada pode opôr-se à
Minha vontade; apesar das murmurações e da hostilidade das irmãs, a
Minha vontade cumprir-se-á em ti em toda a sua plenitude até ao
último propósito e desígnio. Não te aflijas por causa disso. Eu também
fui pedra de escândalo para algumas almas.
1532. Jesus queixou-se a mim de quanto lhe doía a infidelidade das
almas eleitas, e ainda fere mais o Meu Coração a sua desconfiança
depois de uma queda. Magoar-Me-ia menos se não tivessem
experimentado a bondade do Meu Coração.
1533. Vi a ira de Deus que pesa sobre a Polónia. E vejo agora que se
Deus punisse o nosso País com os maiores castigos isso seria ainda pela Sua
grande Misericórdia, porque por delitos tão graves poderia castigar-nos com
a destruição eterna. Fiquei aterrorizada e o Senhor descerrou o véu apenas
um pouco. Agora vejo claramente que as almas eleitas mantêm a existência
do mundo até que se complete a medida.
1534. Vi o esforço, na oração, de certo sacerdote. A sua oração parecia a
oração de Jesus no Horto das Oliveiras. Oh, se este sacerdote soubesse
como a sua oração é agradável a Deus!
1535. Oh Jesus, encerro-me no Teu Misericordiosíssimo Coração como
numa fortaleza inconquistável, para [me defender] das setas dos inimigos.
1536. Hoje estive junto de uma pessoa agonizante, que morria na minha
terra natal. Ajudei-a com as minhas orações; depois de um momento senti
dores nas mãos, nos pés e no lado, durante um breve momento…
1537. 27 I [1938]. Hoje, durante a Hora Santa Jesus, queixou-se-me da
ingratidão das almas.
Em troca dos benefícios recebo a ingratidão; em troca do amor
obtenho o esquecimento e a indiferença. O Meu Coração não pode
suportar isto.
1538. Nesse momento, no meu coração ardeu um amor fortíssimo a
Jesus; oferecendo-me pelas almas ingratas, nesse momento submergi-me
toda n’Ele. Ao voltar a mim, o Senhor deu-me a provar uma pequena parte
dessa ingratidão que inundava o Seu Coração. Essa experiência durou
pouco tempo.
1539. Hoje disse ao Senhor: ¿Quando me levarás Contigo? Eu já me
sentia tão mal e com grande impaciência esperava a Tua vinda. Jesus
respondeu-me: Deves estar sempre preparada, mas já não te deixarei
por muito tempo neste desterro; tem que cumprir-se em ti a Minha
santa vontade. Ah, Senhor, se a Tua santa vontade não se cumpriu ainda
plenamente, aqui me tens preparada para tudo o que Tu quiseres, oh Senhor.
Oh meu Jesus, estranha-me somente que Tu me dês a conhecer tantos
segredos e não queiras revelar-me o segredo referente à hora da minha
morte. E o Senhor respondeu-me: Fica tranquila, Eu to darei a conhecer,
mas agora ainda não. Ah Senhor meu, Peço-Te perdão por haver querido
sabê-lo. Tu sabes bem porquê, já que conheces o meu coração cheio de
nostalgia que Te anseia fervorosamente. Tu sabes que não quero morrer
nem um minuto antes da hora que estabeleceste antes dos séculos.
Jesus escutou as minhas confidências com singular bondade.
1540. 28 I [1938]. Hoje o Senhor disse-me: Escreve, Minha filha, estas
palavras: Todas as almas que adorarem a Minha Misericórdia e
divulgarem a devoção, convidando outras almas a confiar na Minha
Misericórdia, não experimentarão o terror na hora da morte. A Minha
Misericórdia as protegerá nesse último combate…
1541. Minha filha, anima as almas a rezar a coroinha que te
recomendei. Aos que rezarem essa coroinha, apraz-Me dar-lhes o que
Me peçam. Quando a rezem os pecadores endurecidos, encherei as suas
almas de paz e a hora da sua morte será feliz. Escreve-o para as almas
atribuladas: sempre que uma alma veja e conheça a gravidade dos seus
pecados, quando aos olhos da sua alma se descobrir todo o abismo da
miséria em que caíu, não desespere, mas lance-se com confiança nos
braços da Minha Misericórdia, como um menino nos braços da sua
mãe amadíssima. Estas almas têm prioridade no Meu Coração
compassivo, elas têm preferência na Minha Misericórdia. Proclama que
nenhuma alma que invocou a Minha Misericórdia tenha ficado
decepcionada, ou se tenha sentido confusa. Apraz-Me, especialmente, a
alma que confia na Minha bondade. Escreve: quando rezarem esta
coroinha junto dos moribundos, colocar-Me-ei entre o Pai e a alma
agonizante, não como Juiz justo, mas como Salvador misericordioso.
1542. Nesse momento o Senhor fez-me saber como é cioso do meu
coração.
Quando, mesmo entre as irmãs, te sintas só, fica ciente que desejo
que te unas a Mim mais estreitamente. Importa-me cada batimento do
teu coração; cada frémito do teu amor reflecte-se no Meu Coração,
estou sedento do teu amor. Sim, oh Jesus, mas o meu coração tampouco
saberia viver sem Ti, porque embora me oferecessem os corações de todas
as criaturas, elas não saciariam os profundos desejos do meu coração.
1543. Esta noite o Senhor disse-me: Abandona-te completamente a
Mim na hora da morte e Eu te apresentarei a Meu Pai como Minha
esposa. Agora, recomendo-te que unas de modo especial as tuas acções,
mesmo as mais pequenas, aos Meus méritos, e então o Meu Pai as virá
a olhar com amor como se fossem Minhas.
1544. Não alteres o exame particular que te dei através do Padre
Andrasz, isto é, o de unir-te continuamente a Mim; isto é o que hoje
expressamente exijo de ti. Sê como uma criança para os Meus
representantes [377], porque Eu sirvo-Me das suas bocas para te falar,
para que não tenhas dúvidas em nada.
1545. A minha saúde melhorou um pouco. Hoje desci ao refeitório e à
capela; mas como ainda não posso retomar as minhas tarefas, fico na cela
com a lançadeira. Este trabalho atrai-me muitíssimo, mas ainda me
canso até com um trabalho tão ligeiro. Sinto que tenho muito poucas forças.
Não tenho momentos de ócio, porque cada instante da minha vida está
cheio de oração, sofrimento e trabalho; adoro a Deus de um ou de outro
modo e se Deus me desse uma segunda vida, não sei se a aproveitaria
melhor.
1546. O Senhor disse-me: Deleito-Me com o teu amor; o teu amor
sincero é tão grato ao Meu Coração como o perfume de um botão de
rosa na primeira hora da manhã, quando o sol ainda não lhe secou o
orvalho. O frescor do teu coração encanta-Me, por isso Me uno a ti tão
estreitamente como a nenhuma outra criatura…
1547. Hoje vi os esforços deste sacerdote pela Causa de Deus. O
seu coração começa a provar o que impregnava o Coração divino durante a
Sua vida terrestre. Em recompensa dos esforços - a ingratidão… Mas é
grande o seu zelo pela glória de Deus…
1548. 30 I 1938. Retiro espiritual de um dia.
Durante a meditação o Senhor indicou-me que, enquanto o coração bater
no meu peito, devo procurar sempre que o reino de Deus se espalhe na
Terra. Terei de lutar pela glória do meu Criador.
Sei que darei a Deus a glória que espera de mim, se procurar colaborar
fielmente com a graça de Deus.
1549. Desejo viver em espírito de fé, aceito tudo o que me sucede como
enviado pela vontade amorosa de Deus, que deseja sinceramente a minha
felicidade; por isso, tudo o que Deus me enviar o aceitarei com submissão e
agradecimento, sem fazer caso da voz da natureza nem das insinuações do
amor próprio. Antes de iniciar uma acção de maior importância reflectirei
um momento para ver que relação tem com a vida eterna e qual é o motivo
principal que me move: a glória de Deus, ou o bem da minha própria alma,
ou o bem de outras almas. Se o coração me disser sim, então serei inflexível
na execução dessa acção, sem ceder a qualquer obstáculo ou sacrifício; não
me deixarei desviar do propósito que decidi, bastando-me saber que é grato
a Deus. E se souber que uma acção dada não tem nada que ver com o
referido anteriormente, procurarei elevá-la a uma esfera mais alta, mediante
uma boa intenção. E se sei que alguma coisa provém do amor próprio,
desde logo a suprimirei.
1550. Nos casos de dúvida não actuarei, mas procurarei cuidadosamente
um esclarecimento junto dos sacerdotes e, especialmente, do meu director
espiritual. Não me justificarei das censuras e observações feitas por outras
pessoas, excepto no caso de ser interrogada expressamente para dar
testemunho da verdade.
Escutarei com grande paciência as confidências dos outros, acolherei os
seus sofrimentos, confortando-os e mergulharei os meus próprios
sofrimentos no compassivíssimo Coração de Jesus. Nunca sairei das
entranhas da Sua Misericórdia e introduzirei nelas o mundo inteiro.
1551. Durante a meditação sobre a morte pedi ao Senhor que se dignasse
penetrar o meu coração com os mesmos sentimentos que teve no momento
da morte. E a graça de Deus respondeu-me interiormente que, se tinha feito
o que estava ao meu alcance, então podia estar tranquila. Nesse momento
na minha alma despertou-se uma gratidão tão grande ao Senhor que me pus
a chorar de alegria como uma criança. Preparei-me para receber a Santa
Comunhão na manhã seguinte como viático e rezei por mim as preces dos
agonizantes.
1552. Então ouvi estas palavras: Tal como estás unida a Mim em vida,
assim estarás unida no momento da morte. Depois destas palavras
despertou na minha alma uma confiança tão grande na Divina Misericórdia,
que mesmo que tivesse na minha consciência os pecados do mundo inteiro
e os pecados das almas condenadas, apesar de tudo isto não duvidaria da
bondade de Deus e lançar-me-ia sem pensar no abismo da Divina
Misericórdia, que sempre está aberto para nós e, com o coração feito em pó,
me lançaria a Seus pés abandonando-me completamente à Sua santa
vontade, que é a própria Misericórdia.
1553. Oh meu Jesus, Vida da minha alma, Vida minha, Salvador meu,
meu dulcíssimo Esposo e ao mesmo tempo meu Juiz, Tu sabes que nesta
última hora não contarei com nenhum mérito meu, mas unicamente com a
Tua Misericórdia. Desde já mergulho-me completamente neste abismo da
Tua Misericórdia, que está sempre aberto para cada alma.
Oh meu Jesus, eu tenho uma só tarefa na vida, na morte e na eternidade:
adorar a Tua Misericórdia inconcebível. Nenhuma mente conseguirá
aprofundar os mistérios da Tua Misericórdia, oh Deus, nem um Anjo nem
um homem. Os Anjos maravilham-se com o mistério da Divina
Misericórdia, mas não podem concebê-lo. Tudo o que saíu das mãos do
Criador está encerrado num mistério inconcebível, isto é, nas entranhas da
Sua Misericórdia. Quando o considero, o meu espírito desfalece, o coração
se me desfaz de alegria. Oh Jesus, através do Teu piedosíssimo Coração,
como através de um cristal, chegaram a nós os raios da Divina
Misericórdia.
1554. 1 II [1938]. Hoje estou um pouco pior de saúde, no entanto ainda
participo na vida comunitária de toda a Comunidade. Estou fazendo ainda
grandes esforços, que só Tu conheces, oh Jesus. Hoje, no refeitório pensei
que não ia resistir durante todo o almoço. Cada bocado que tomava
causava-me dores tremendas.
1555. Há uma semana, visitou-me a Madre Superiora e disse-me: «A
irmã apanha todas as doenças porque tem um organismo muito débil, mas
não é culpa sua. Se outra irmã sofresse da mesma doença, seguramente
andaria por aí a pé, mas a irmã tem de se deitar». Estas palavras não me
causaram desgosto, mas é melhor não fazer tais comparações às pessoas
gravemente enfermas porque, de qualquer forma, o seu cálice já está cheio.
Outra coisa, quando as irmãs visitam os doentes, não devem perguntar cada
vez tão em pormenor: «¿O que é o que lhe dói? ¿Como dói?», porque
repetir continuamente a cada irmã a mesma coisa cansa enormemente,
especialmente quando, por vezes, há que repeti-lo várias vezes ao dia.
1556. Quando entrei por um momento na capela, o Senhor explicou-me
que, entre as almas eleitas, há algumas especialmente escolhidas, que
chama a uma santidade superior, a uma união excepcional Consigo.
Estas são as almas seráficas das quais Deus exige que o amem mais que
outras almas; apesar de que todas vivem no mesmo convento, no entanto
este amor mais intenso é exigido, por vezes, a uma só alma. Tal alma
compreende a chamada, porque Deus fá-la conhecer interiormente, mas
pode segui-la ou não; da alma depende se é fiel às chamadas do Espírito
Santo, ou se se opõe ao Espírito. Soube que há um lugar no Purgatório onde
as almas satisfazem a Deus por este tipo de culpas; entre diversos
tormentos, este é o mais duro. A alma marcada por Deus de modo especial
distinguir-se-á de entre outras almas por maior glória, pelo resplendor e por
um mais profundo conhecimento de Deus; no Purgatório, por um
sofrimento mais profundo, porque conhece mais a fundo e anseia mas
ardentemente a Deus; no Inferno, sofrerá mais que outras almas, porque
conhece mais profundamente Aquele a quem perdeu; este selo do amor
exclusivo de Deus não se apaga nunca.
1557. Oh Jesus, mantém-me no santo temor para que não desperdice as
graças. Ajuda-me a ser fiel às inspirações do Espírito Santo, prefiro que o
meu coração se desfaça de amor por Ti do que descuide um só acto deste
amor.
1558. 2 II [1938]. As trevas da alma. Hoje [é] a festa da Mãe de Deus e
na minha alma [há] tanta escuridão. O Senhor escondeu-se e eu estou só,
completamente só. A minha mente está tão ofuscada que à minha volta só
vejo coisas fantasmagóricas; nem um só raiozinho de luz penetra na alma,
não me entendo a mim própria nem aos que me falam. Oprimem-me
tentações terríveis contra a santa fé. Oh meu Jesus, salva-me. Não consigo
dizer mais. Não posso descrevê-las em pormenor, porque receio de que,
lendo-as, alguém pudesse escandalizar-se. Surpreende-me de que uma alma
possa ser invadida por tais tribulações. Oh furacão, ¿que fazes com o
barquinho da minha alma?
Esta tormenta durou um dia inteiro e uma noite. Quando entrou a Madre
Superiora e perguntou: «Irmã, ¿não quer aproveitar a ocasião, porque o
Padre Andrasz vai confessar?» respondi que não. Parecia-me que nem
o Padre me compreenderia, nem eu conseguiria confessar-me. Passei toda a
noite com Jesus em Getsemani. Um contínuo gemido de dor saía do meu
peito. A agonia natural será mais leve, porque nela agoniza-se e morre-se,
enquanto aqui agoniza-se sem poder morrer. Oh Jesus, não sabia que
existiam sofrimentos deste tipo. O nada, eis a realidade. Oh Jesus, salva-me,
creio em Ti com todo o meu coração, vi muitíssimas vezes o resplendor do
Teu rosto e agora - ¿onde estás, Senhor? Creio, creio, e uma vez mais creio
em Ti, Deus único na Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, e em
todas as verdades que a Tua Santa Igreja me oferece para crer. No entanto,
as trevas não desaparecem e o meu espírito submerge-se numa agonia ainda
maior. Nesse momento envolveu-me um tormento tão terrível, que agora
me admiro de não ter exalado o último suspiro, mas foi um momento breve.
1559. Naquele momento vi Jesus, de cujo Coração saíam os dois mesmo
raios que me envolveram inteiramente. Naquele mesmo instante
desapareceram os meus tormentos. Minha filha, disse o Senhor, deves
saber que o que passaste agora, é o que és por ti mesma; e só por força
da Minha graça és participante da vida eterna e de todos os dons que te
concedo generosamente. E com estas palavras do Senhor, tive um
verdadeiro conhecimento de mim mesma. Jesus ensina-me uma humildade
profunda e ao mesmo tempo uma confiança absoluta n’Ele. O meu coração
está reduzido a cinzas, a pó, e ainda que toda a gente me desprezasse, eu o
consideraria também uma graça. Sinto e estou profundamente convencida
de que nada sou, de que as verdadeiras humilhações serão para mim até um
alívio.
1560. 3 II [1938]. Hoje, depois da Santa Comunhão, Jesus deu-me, de
novo, algumas indicações.
Primeiro: não lutes só contra a tentação, mas conta-a imediatamente
ao confessor e então a tentação perderá toda a sua força; segundo:
nestas provações não percas a serenidade, vive a Minha presença, pede
a ajuda da Minha Mãe e dos santos; terceiro: tem a certeza de que Eu
olho por ti e te apoio; quarto; não tenhas medo nem das lutas
espirituais nem de nenhuma tentação, porque Eu te sustento; desde que
queiras lutar, deves saber que a vitória estará sempre do teu lado;
quinto: fica a saber que, pelo combate valoroso, Me dás grande glória e
acumulas méritos para ti. A tentação oferece a possibilidade de Me
demonstrares a tua fidelidade.
1561 E agora vou dizer-te o que para ti é o mais importante: uma
sinceridade sem limites com o teu director espiritual; se não
aproveitares esta graça de acordo com as minhas indicações, tirar-to-ei
e, então, ficarás só contigo mesma e hão de voltar todas as tribulações
que conheces. Não Me agrada que desaproveites a oportunidade
quando podes encontrá-lo e falar com ele. Fica ciente que é uma
enorme graça Minha se dou a uma alma um director espiritual. Muitas
almas Mo pedem e nem a todas concedo esta graça. Desde o momento
em que o escolhi, como teu director espiritual, dotei-o de uma nova luz
para que possa conhecer e compreender fácilmente a tua alma…
1562. Oh meu Jesus, minha única Misericórdia, deixa-me ver no Teu
rosto a alegria como sinal de reconciliação comigo, porque o meu coração
não consegue suportar a Tua severidade. Se a prolongares por mais um
momento, partir-se-á de dor. Vê que já estou reduzida a pó.
1563. Naquele mesmo momento vi-me como num palácio. Jesus deu-me
a Sua mão e colocou-me a Seu lado, dizendo com doçura: Esposa Minha,
Agradas-Me sempre com a humildade. A maior miséria não Me impede
de Me unir a uma alma, mas onde está a soberba, aí não estou Eu.
Quando voltei a mim contemplei tudo o que tinha sucedido no meu
coração, agradecendo a Deus pelo Amor e Misericórdia que me manifestou.
1564. Meu Jesus, esconde-me; como Tu Te ocultaste sob a espécie de
uma hóstia branca, assim esconde-me aos olhos dos homens, e esconde
especialmente os dons que me concedes com generosidade, para que
exteriormente não se perceba o que Tu realizas na minha alma. Diante de Ti
sou uma hóstia branca, oh divino Sacerdote, consagra-me Tu Mesmo e que
a minha transformação seja conhecida só por Ti. Todos os dias, como uma
hóstia expiatória, me apresento diante de Ti e Te suplico a Misericórdia para
o mundo. Imolar-me-ei diante de Ti, em silêncio e sem ser vista; num
profundo silêncio o meu amor puro e indivisível arderá em holocausto e que
o perfume deste amor suba aos pés do Teu trono. Tu és o Senhor dos
senhores, mas comprazes-Te nos corações pequeninos e humildes…
1565. Quando entrei por um momento na capela, o Senhor disse-me:
Minha filha, ajuda-me a salvar um pecador agonizante; reza por ele
esta coroinha que te ensinei. Ao começar a rezar a coroinha, vi aquele
moribundo em terríveis tormentos e lutas. O Anjo da Guarda defendia-o,
mas era impotente perante a grande miséria daquela alma; uma multidão de
demónios estava à espera dela. Enquanto rezava a coroinha, vi Jesus como
está pintado na imagem. Os raios que saíram do Coração de Jesus
envolveram o enfermo e as forças das trevas fugiram em pânico. O doente
expirou sereno. Quando voltei a mim, compreendi a importância que tem
esta coroinha rezada junto aos agonizantes; ela aplaca a ira de Deus.
1566. Quando pedi perdão a Jesus por uma acção minha que, pouco
depois, se mostrou imperfeita, Jesus tranquilizou-me com estas palavras:
Minha filha, recompenso-te pela pureza da intenção que tiveste no
momento de actuar. O Meu Coração alegrou-Se por, no momento de
actuares, teres tido presente o Meu amor e isto de modo tão evidente;
ainda agora tiras proveito disso, pela humilhação. Sim, Minha filha,
desejo que sempre tenhas uma pureza de intenção nas tuas mais
pequenas iniciativas.
1567. No momento em que tomei a caneta na mão, rezei brevemente ao
Espírito Santo e disse: Jesus, abençoa esta caneta, para que tudo o que me
fazes escrever seja para a glória de Deus. De repente ouvi uma voz: Sim,
abençoo, porque no que escreves está o selo de obediência à Superiora e
ao confessor, e já com isto recebo glória; e muitas almas tirarão
proveito para si. Minha filha, exijo que todos os momentos livres os
dediques a escrever da Minha bondade e Misericórdia; esta é a tua
missão e a tua tarefa em toda a tua vida, para que dês a conhecer às
almas a grande Misericórdia que tenho com elas e para que as convides
a confiar no abismo da Minha Misericórdia…
1568. Oh meu Jesus, creio nas Tuas palavras e já não tenho nenhuma
dúvida a esse respeito, porque numa conversa com a Madre Superiora, ela
me disse que escrevesse mais sobre a Tua Misericórdia. As suas palavras
concordam plenamente com o Teu desejo. Oh meu Jesus, agora compreendo
que se pedes alguma coisa a uma alma, também dás às Superioras a
inspiração de permitir o cumprimento do Teu pedido, embora aconteça que
nem sempre se obtenha imediatamente; às vezes a nossa paciência é exposta
à prova…
1569. Oh amor eterno, Jesus, que Te encerraste nesta Hóstia
Ocultando a Tua divina Majestade e a Tua beleza,
Para Te dar inteiro à minha alma
E para não a assustar com a Tua grandeza.
Oh amor eterno, Jesus, que Te ocultaste no pão,
Luz eterna, inimaginável fonte de felicidade e gozo,
Que queres ser o meu paraíso na Terra
E és quando me comunicas o Teu amor divino.
1570. Oh Deus de grande Misericórdia, bondade infinita, hoje toda a
humanidade clama, do abismo da sua miséria, a Tua Misericórdia, a Tua
compaixão, oh Deus; e grita com a potente voz da miséria. Deus indulgente,
não rejeites a oração dos exilados desta Terra. Oh Senhor, bondade
inconcebível que conheces perfeitamente a nossa miséria e sabes que por
nossas próprias forças não podemos chegar a Ti, imploramos-Te, antecipanos a Tua graça e multiplica incessantemente a Tua Misericórdia em nós
para que cumpramos fielmente a Tua santa vontade durante as nossas vidas
e na hora da morte. Que a omnipotência da Tua Misericórdia nos proteja
das setas dos inimigos da nossa salvação, para que com confiança, como
Teus filhos, esperemos a Tua última vinda, esse dia que só Tu conheces. E
apesar de toda a nossa miséria, esperamos receber tudo o que Jesus nos
prometeu, porque Jesus é a nossa esperança; através do Seu Coração
misericordioso, como através de uma porta aberta, entramos no Céu.
1571. Notei que, desde a minha entrada no convento, me faziam sempre
o mesmo reparo, que sou santa; mas este sobrenome foi sempre
pronunciado com ironia. Ao princípio isso fazia-me sofrer, mas quando
espiritualmente ultrapassei isso, deixei de me importar. No entanto, uma
vez, quando por causa da minha "santidade" foi afectada certa pessoa, sofri
muito, vendo que eu podia ser causa dos desgostos de outras pessoas e
queixei-me a Jesus ¿por que será assim? E o Senhor respondeu-me: ¿Estás
triste por isso? Pois, de facto, já o és [santa]. Em breve Eu Mesmo o
manifestarei em ti e, então, hão de pronunciar a mesma palavra:
“santa” mas, desta vez, somente com amor.
1572 Recordo-Te, Minha filha: que sempre que ouvires o relógio
batendo as três horas, submerge-te totalmente na Minha Misericórdia,
adorando-A e glorificando-A; suplica a sua omnipotência para todo o
mundo e, especialmente, para os pobres pecadores, já que nesse
momento [a Misericórdia] se abre de par em par para cada alma. Nessa
hora podes obter tudo o que pedires para ti e para os outros. Nessa
hora estabeleceu-se a graça para todo o mundo: a Misericórdia
triunfou sobre a justiça. Minha filha, nessa hora procura rezar a Via
Crucis, enquanto to permitam as tuas obrigações; e se não poderes
rezar a Via Crucis, pelo menos entra um momento na capela e adora,
no Santíssimo Sacramento, o Meu Coração que está cheio de
Misericórdia. E se não poderes ir à capela, mergulha-te em oração ali
onde estiveres, mesmo que seja por um brevíssimo instante. Exijo o
culto à Minha Misericórdia a todas as criaturas mas, em primeiro
lugar, a ti, pois dei-te a conhecer este mistério de modo mais profundo.
1573. Oh meu Deus, que ansiedade sinto hoje por Ti. Oh, já nada mais
atrai o meu coração, a Terra já não tem nada de interesse para mim. Oh
Jesus, quanto me pesa este exílio, quanto se prolonga. Oh morte,
mensageira de Deus, ¿quando me anunciarás este desejado momento que
me unirá ao meu Deus pela eternidade?
1574. Oh meu Jesus, que os últimos dias do meu exílio sejam
completamente conformes à Tua santíssima vontade. Uno os meus
sofrimentos, as minhas amarguras e a minha agonia à Tua sagrada Paixão e
ofereço-me pelo mundo inteiro para obter uma abundância de Misericórdia
para as almas e, especialmente, para as almas que vivem nas nossas casas.
Confio firmemente e submeto-me por completo à Tua santa vontade, que é
a própria Misericórdia. A Tua Misericórdia será tudo para mim na última
hora, como Tu Mesmo me prometeste….
1575. Sê bendito, Amor eterno, meu doce Jesus, que Te dignaste morar
no meu coração. Saúdo-Te, oh divindade gloriosa que Te dignaste humilharTe por mim e aniquilar-Te por amor de mim, até Te reduzires a uma ténue
aparência de pão. Saúdo-Te, Jesus, flor sempre viçosa da humanidade, Tu és
o único para a minha alma. O Teu amor é mais puro que um lírio e a Tua
presença agrada-me mais que o perfume do jacinto. A Tua amizade é mais
terna e mais delicada que o aroma da rosa, no entanto mais forte do que a
morte. Oh Jesus, beleza inconcebível. Entendes-Te perfeitamente com as
almas puras, porque só elas são capazes de heroísmo e de sacrifício. Oh
doce e róseo sangue de Jesus, enobrece o meu sangue e transforma-o no Teu
próprio sangue. Que se faça isto em mim segundo o Teu designio.
1576. Deves saber, Minha filha, que entre Eu e tu há um abismo sem
fundo que separa o Criador da criatura, mas a Minha Misericórdia
nivela este abismo. Elevo-te até Mim, não por necessitar de ti, mas é
unicamente por Misericórdia que te concedo a graça da união.
1577 Diz às almas que não ponham obstáculos nos seus próprios
corações à Minha Misericórdia, que deseja muitíssimo agir nelas. A
Minha Misericórdia actua em todos os corações que lhes abram as suas
portas; tanto o pecador como o justo necessitam da Minha
Misericórdia. A conversão e a perseverança são as graças da Minha
Misericórdia.
1578. Que as almas que aspiram à perfeição adorem especialmente a
Minha Misericórdia, porque a abundância de graças que lhes concedo
provém da Minha Misericórdia. Desejo que estas almas se distingam
por uma confiança sem limites na Minha Misericórdia. Eu Mesmo Me
ocupo da santificação destas almas, dar-lhes-ei tudo o que seja
necessário para a sua santidade. As graças da Minha Misericórdia
recebem-se com um só vaso e este é a confiança. Quanto mais confie
uma alma, tanto mais receberá. As almas que confiam sem limites são o
Meu grande consolo, porque em tais almas derramo todos os tesouros
das Minhas graças. Alegro-Me de que peçam muito, porque o Meu
desejo é dar-lhes muito, muitíssimo. Mas, pelo contrário, fico triste se
as almas pedem pouco, estreitando os seus corações.
1579. Sofro muitíssimo quando me encontro com a hipocrisia. Agora
entendo, meu Salvador, porque repreendias tão severamente os fariseus pela
sua hipocrisia. Tratavas os pecadores endurecidos com mais benevolência,
quando, arrependidos, se aproximavam Ti.
1580. Meu Jesus, agora vejo que passei Contigo todas as etapas da vida:
a infância, a juventude, a vocação, o trabalho apostólico, o Tabor, o Horto
das Oliveiras, e agora já estou contigo no Calvário.
Submeti-me espontaneamente à crucifixão e já estou crucificada pois,
apesar de ainda conseguir andar, estou estendida na cruz e sinto claramente
que a força da Tua cruz flui sobre mim e que Tu és a minha perseverança.
Embora ouvindo, mais de uma vez, a voz da tentação. que me grita "¡desce
da cruz!", o poder de Deus fortalece-me. E mesmo que o abandono, as
trevas e diversos sofrimentos golpeiem o meu coração, uma misteriosa
força divina sustenta-me e fortifica-me.
Desejo beber o cálice até à última gota. Confio firmemente que a Tua
graça, que me amparou nos momentos em que estava no Horto das
Oliveiras, também me apoiará agora, quando estou no Calvário.
1581. Oh meu Jesus, Mestre, uno os meus desejos aos que Tu tiveste na
cruz: desejo cumprir a Tua santa vontade; desejo a conversão dos
pecadores; desejo que seja adorada a Tua Misericórdia; desejo que seja
antecipado o triunfo da Igreja; desejo que a Festa da Misericórdia seja
celebrada no mundo inteiro; desejo a santidade dos sacerdotes; desejo que
haja uma santa na nossa Congregação; [382] desejo que em toda a nossa
Congregação reine o espírito de grande zelo pela glória de Deus e a
salvação das almas; desejo que as almas que vivem nas nossas casas não
ofendam a Deus, mas que perseverem no bem; desejo a bênção de Deus
para [os meus] pais e para toda [a minha] família; desejo que Deus conceda
uma luz especial aos meus guias espirituais e especialmente ao Padre
Andrasz [383] e ao Padre Sopocko [384]; desejo uma bênção especial para
as que foram minhas Superioras, [385] especialmente para a Madre Geral,
a Madre Irene e a Madre Mestra Josefa [387].
1582. Oh meu Jesus, agora abraço o mundo inteiro e peço-Te
Misericórdia para ele. Quando me disseres, oh Deus, que já basta, que já se
cumpriu plenamente a Tua santa vontade, então em união Contigo, Salvador
meu, entregarei a minha alma nas mãos do Pai celestial, cheia de confiança
na tua Misericórdia insondável e, quando me apresentar aos pés do Teu
trono, o primeiro hino que hei de entoar será à Tua Misericórdia. ¡Não te
esquecerei, pobre Terra!, embora sinta que, de imediato, mergulharei
completamente em Deus, como num oceano de felicidade; mas isso não me
impedirá de voltar à Terra e dar ânimo às almas e convidá-las a confiar na
Divina Misericórdia. Bem pelo contrário, essa imersão em Deus dar-me-á
possibilidades ilimitadas de agir.
1583. Enquanto escrevo oiço o ranger de dentes de Satanás, que não
pode suportar a Misericórdia de Deus e se põe a arremessar objectos na
minha cela; mas sinto em mim uma força de Deus tão grande que não me
importa nada a raiva do inimigo da nossa salvação e continuo
tranquilamente a escrever.
1584. Oh inconcebível bondade de Deus que nos proteges a cada passo.
Seja dado contínuo louvor à Tua Misericórdia por Te teres irmanado, não
com os Anjos mas com os homens. Este é um milagre do mistério
insondável da tua Misericórdia. Toda a nossa confiança está em ti, nosso
irmão primogénito, Jesus Cristo, Deus verdadeiro e homem verdadeiro. O
meu coração palpita de alegria ao ver o bom que é Deus para nós, os
homens, tão miseráveis e ingratos, e como prova do Seu amor oferece-nos
um dom inconcebível, isto é, a Si próprio, na pessoa do Seu Filho. Não
conseguiremos desvendar este mistério de amor ao longo de toda a
eternidade. Oh humanidade, ¿por que pensas tão pouco em que Deus está
realmente entre nós? Oh Cordeiro de Deus, não sei o que admirar em Ti em
primeiro lugar: se a Tua mansidão, se a Tua vida oculta e aniquilamento
pela humanidade, ou se, ainda, o milagre incessante da Tua Misericórdia
que transforma as almas e as ressuscita para a vida eterna. Embora estejas
tão oculto, a Tua omnipotência manifesta-se aqui mais que na criação do
homem; embora a omnipotência da Tua Misericórdia actue na justificação
do pecador, a Tua actuação é, no entanto, silenciosa e escondida.
1585. Uma visão da Santíssima Virgem. No meio de uma grande
claridade vi a Santíssima Virgem com uma túnica branca, cingida com um
cinto doirado, e pequenas estrelas, também doiradas, em todo o vestido e as
mangas triangulares guarnecidas a fio de ouro. Tinha um manto cor de
safira, posto ligeramente sobre os ombros, na cabeça tinha um leve véu
transparente sobre o cabelo solto, esplendidamente penteado, e uma coroa
de ouro encimada por pequenas cruzes. No braço esquerdo segurava o
Menino Jesus. Nunca tinha visto a Santíssima Virgem com este aspecto.
Logo me olhou com ternura e disse: Sou a Mãe dos sacerdotes. Depois, pôs
Jesus no chão, levantou a mão direita para o Céu, e disse: Oh Deus,
abençoa a Polónia, abençoa os sacerdotes. E de novo se dirigiu a mim:
Conta aos sacerdotes o que viste. Decidi dizê-lo ao Padre [388] na primeira
oportunidade, mas pela minha parte não consegui compreender nada desta
visão.
1586. Oh meu Jesus, Tu vês quanta gratidão tenho para o Padre Sopocko
que fez avançar muito a Tua Obra. Esta alma tão humilde soube resistir a
todas as tormentas e não desanimou apesar das contrariedades, mas
respondeu fielmente ao chamamento de Deus.
1587. Uma vez, atendia os doentes uma irmã tão negligente no seu
trabalho que realmente nos mortificava bastante. Um dia decidi dizê-lo às
Superioras; mas ouvi na alma uma voz: Suporta pacientemente, outra
pessoa lhes dirá. E essa situação prolongou-se por todo um mês.
Quando já era capaz de descer ao refeitório e ao recreio, ouvi na alma
estas palavras: Agora outras irmãs falarão do desleixo no trabalho dessa
religiosa, mas tu cala-te e não intervenhas neste assunto. Nesse mesmo
instante começou uma discussão bastante acesa sobre essa irmã, mas ela
não conseguiu encontrar nada em sua defesa e todas as irmãs lhe diziam em
coro: «Corrija-se, irmã, e cuide melhor dos doentes».
Soube que, às vezes, Jesus não deseja que digamos algo por nossa
iniciativa; Ele tem o seu próprio modo de proceder e sabe quando é o
momento oportuno para falar.
1588. Hoje ouvi estas palavras: No Antigo Testamento Eu enviava
profetas ao Meu povo, com admoestações. Hoje envio-te a ti a toda a
humanidade, com a Minha Misericórdia. Não quero castigar a
humanidade sofredora, mas desejo curá-la, estreitando-a ao Meu
Coração misericordioso. Utilizo castigos quando Me obrigam a isso; a
Minha mão resiste a tomar a espada da justiça. Antes do dia da justiça
envio o dia da Misericórdia. Respondi: Oh meu Jesus, Tu Mesmo fala às
almas, porque as minhas palavras não valem nada.
JMJ
1589. A espera da alma à vinda do Senhor
Não sei, oh Senhor, a que hora virás,
Por isso vigio continuamente e presto atenção,
Eu, Tua esposa, por Ti escolhida,
Porque sei que Te apraz vir inadvertidamente,
Mas o coração puro de longe Te sentirá, Senhor.
Espero-Te, Senhor, entre a quietude e o silêncio,
Com grande anseio no coração,
Com um desejo irresistível.
Sinto que o meu amor por ti se torna fogo
E como uma chama subirá ao Céu no final da vida
E então se realizarão todos os meus desejos.
Vem já, meu dulcíssimo Senhor,
E leva o meu coração sedento
Para onde estás, às regiões excelsas do Céu,
Onde a Tua vida dura eternamente.
A vida na Terra é uma agonia contínua,
Enquanto o meu coração sente que está criado para grandes alturas,
E não o atrai nada a terra plana desta vida,
Porque a minha pátria é o Céu. Esta é a minha fé inquebrantável.
Fim do quinto caderno
manuscrito do DIÁRIO