QUINTO CADERNO DO DIÁRIO DE SANTA FAUSTINA

QUINTO CADERNO DO DIÁRIO DE SANTA FAUSTINA

Ir. Faustina

do Santíssimo Sacramento

Congregação das Irmãs

da Mãe de Deus da Misericórdia

 

JMJ

 

1322. Navega a barca da minha vida

Entre as escuridões e as sombras da noite,

E não vejo nenhum porto,

Estou à mercê do mar profundo.

A mais pequena tempestade poderia afundar-me,

Mergulhando a minha barca no torvelinho das ondas,

Se não vigiares sobre mim, Tu Mesmo, oh Deus,

Em cada momento da minha vida, em cada instante.

No meio do estrondo das ondas

Navego tranquilamente com confiança

E, como uma criança, olho adiante sem temor,

Porque Tu, oh Jesus, és a minha luz.

Tudo à minha volta é horror e espanto,

Mas a minha paz é mais profunda que as profundidades do mar

Porque quem está Contigo, Senhor, não perecerá

Me assegura o Teu amor divino.

Embora à volta haja muitos perigos,

Não os temo, porque olho o Céu estrelado.

E navego com coragem e alegria,

Como corresponde a um coração puro.

Mas principalmente, por uma única razão,

Por seres Tu o meu timoneiro, oh Deus,

A barca da minha vida navega tão serenamente

Reconheço-o na mais profunda humildade.

JMJ

 

 

1323. Meu Deus, amo-Te.

 

Ir. Faustina do Santíssimo Sacramento

 

1324. Cracóvia, 20 X 1937

Saúdo-Te, oh Pão dos Anjos,

Com profunda fé, esperança, amor,

E do profundo da alma Te adoro,

Embora seja uma nulidade.

Saúdo-Te, oh Deus oculto,

E amo-Te com todo o coração,

Não me impedem os véus do mistério,

Amo-Te como os eleitos no Céu.

Saúdo-Te, oh Cordeiro de Deus,

Que tiras as culpas da minha alma,

A quem acolho no meu coração cada manhã,

És Tu, que me ajudas na salvação.

JMJ

 

1325. Cracóvia, 20 X 1937

Quinto Diário

Oh meu Deus, que Te adore tudo o que existe em mim, oh Criador e

Senhor meu, e com cada batimento do meu coração desejo glorificar a Tua

Misericórdia insondável. Desejo falar às almas da Tua bondade e convidálas a confiar na Tua Misericórdia. Esta é a minha missão que Tu Mesmo me

confiaste nesta e na vida futura.

 

1326. Hoje começamos os exercícios espirituais de oito dias. Oh Jesus,

meu Mestre, ajuda-me que faça estes santos exercícios com o maior fervor.

Que o Teu Espírito, oh Deus, me guie no profundo conhecimento de Ti,

Senhor, e no total conhecimento de mim mesma, já que tanto mais Te amo

quanto mais Te conheço. Tanto mais me desprezarei a mim própria quanto

mais conhecer a minha miséria. Sei que Tu, Senhor, não me negarás a Tua

ajuda. Desejo sair santa destes exercícios espirituais, embora não o notem

os olhos dos homens nem tampouco o olhar das Superioras. Submeto-me

completamente à acção da Tua graça; que se cumpra completamente em

mim a Tua vontade, Senhor.

 

1327. Primeiro dia. Jesus: Minha filha, estes exercícios espirituais

serão uma contínua contemplação; introduzir-Te-ei nestes exercícios

como num banquete espiritual. Junto ao Meu Coração misericordioso

meditarás sobre todas as graças que o teu coração recebeu e uma

profunda paz reinará na tua alma.

 

Desejo que o olhar da tua alma esteja sempre cravado na Minha

santa vontade e com isto agradar-Me-ás muitíssimo. Nenhum sacrifício

é comparável com este. Durante todos os exercícios permanecerás junto

ao Meu Coração, não farás nenhumas mudanças, porque a tua vida é

segundo a Minha complacência. Não te perturbará nenhuma só

palavra do sacerdote que prega os exercícios.

 

1328. Oh meu Jesus, fiz já duas meditações e vejo que tudo o que me

disseste é verdade. Experimento uma profunda paz e esta paz vem do

testemunho da minha consciência, isto é, que sempre cumpro a Tua

vontade, oh Senhor.

 

1329. Na meditação sobre o fim do homem, compreendi que esta

verdade está profundamente enraizada na minha alma e por isso as minhas

obras são mais perfeitas. Sei para que fui criada; todas as criaturas juntas

não me podem substituir junto do Criador; sei que o meu fim último é Deus,

portanto, em tudo o que faço, Deus está presente.

 

1330. Oh, que belo é fazer os exercícios espirituais ao lado do

dulcíssimo Coração do meu Deus. Estou num deserto com o meu Esposo,

ninguém me incomoda no doce colóquio que tenho com Ele.

 

1331. Oh Jesus, Tu Mesmo Te dignaste pôr o fundamento no edifício da

minha santidade, já que a minha colaboração não foi grande. Na indiferença

na utilização das coisas e na escolha das mesmas, Tu me ajudaste, oh

Senhor, porque o meu coração é fraco por si mesmo e por isso Te pedi, meu

Mestre, que não olhasses a dor do meu coração mas que cortasses tudo o

que pudesse reter-me no caminho do amor. Não Te entendia, Senhor, nos

momentos do sofrimento, quando construias a obra na minha alma, mas

hoje compreendo-Te e alegro-me na liberdade do espírito. O próprio Jesus

vigiou para que nenhuma paixão envolvesse o meu coração. Conheci bem

de que perigos me tinha livrado, e por isso o meu agradecimento a Deus não

tem limites.

 

1332. Segundo dia. Quando meditava sobre o pecado dos Anjos e sobre

o seu castigo imediato, perguntei a Jesus: ¿Por que é que os Anjos foram

castigados imediatamente depois do pecado? Escutei uma voz: Pelo seu

profundo conhecimento de Deus. Nenhuma pessoa na Terra, embora

seja um grande santo, tem tal conhecimento de Deus como o de um

Anjo. Mas comigo, miserável, oh Deus, mostraste-Te misericordioso tantas

vezes. Levas-Me no seio da Tua Misericórdia e perdoas-me sempre quando,

com o coração contrito, Te suplico perdão.

 

1333. Um profundo silêncio inunda a minha alma; nem uma só

nuvenzinha me tapa o sol, exponho-me completamente aos raios deste Sol

para que o Seu amor realize em mim uma mudança total. Quero sair santa

destes exercícios espirituais, apesar de tudo, isto é, apesar da minha miséria.

Quero tornar-me santa e confio em que a Divina Misericórdia pode fazer

uma santa da miséria que sou, porque acima de tudo tenho boa vontade.

Apesar de todos os fracassos, quero lutar como uma alma santa e quero

comportar-me como uma alma santa. Não me desanimará nada como não se

desanima uma alma santa. Quero viver e morrer como uma alma santa,

contemplando-Te, Jesus pregado na cruz, como um modelo a seguir.

Procurei exemplos à minha volta e não encontrei suficientes e notei como

se a minha santidade não me satisfizesse; então fixei o meu olhar em Ti, oh

Cristo, que és o meu melhor guia. Confio que abençoarás os meus esforços.

 

1334. Durante a meditação sobre o pecado o Senhor deu-me a conhecer

toda a maldade do pecado e a ingratidão que nele se contém. Sinto na minha

alma uma grande repugnância até pelo mais pequeno pecado. No entanto,

estas verdades eternas que contemplo não despertam na minha alma

nenhuma sombra de perturbação ou de inquietação; apesar da minha

profunda preocupação por elas, a minha contemplação não se interrompe.

Nesta contemplação não experimento enlevos do coração mas uma

profunda paz e um singular recolhimento interior. Embora o amor seja

grande, há um misterioso equilíbrio: nem sequer receber a Eucaristia me

provoca emoção, mas introduz-me na mais profunda união onde o meu

amor, unido ao amor de Deus, são um único.

 

1335. Jesus ensinou-me que devo rezar pelas outras irmãs que fazem os

exercícios espirituais. Enquanto rezava conheci a luta de certas almas [e]

redobrei as minhas preces.

 

1336. Neste profundo recolhimento posso apreciar melhor o estado da

minha alma. A minha alma parece-se com a água límpida, na qual vejo

tudo, tanto a minha miséria como a grandeza das graças de Deus, e deste

verdadeiro conhecimento o meu espírito fortalece-se numa profunda

humildade. Exponho o meu coração à acção da Tua graça, como o cristal

aos raios do sol; que a Tua imagem divina se reflicta no meu coração tanto

quanto é possível reflectir-se numa criatura; Tu, que vives na minha alma,

[faz] que através de mim irradie a Tua Divindade.

 

1337. Quando rezava diante do Santíssimo Sacramento venerando as

cinco chagas de Jesus, enquanto invocava cada uma das chagas senti que

uma torrente de graça jorrava na minha alma, oferecendo-me o gosto

antecipado do Céu e uma confiança absoluta na Divina Misericórdia.

 

1338. No momento em que escrevo estas palavras ouvi Satanás a gritar:

«Escreves tudo, escreves tudo e por isso perdemos tanto. Não escrevas

sobre a bondade de Deus, Ele é justo». E dando uivos de raiva, desapareceu.

 

1339. Oh Deus misericordioso que não nos desprezas mas que

continuamente nos enches das Tuas graças, nos fazes dignos do Teu reino e,

na Tua bondade, ocupas com os homens os lugares abandonados pelos

Anjos ingratos. Oh Deus de grande Misericórdia que afastaste a Teu santo

olhar dos Anjos rebeldes dirigindo-o para o homem arrependido, seja dada

honra e glória à Tua Misericórdia insondável, oh Deus que não desprezas o

coração humilde.

 

1340. Oh meu Jesus, sinto que a minha natureza se enobrece, mas apesar

destas Tuas graças não morre de todo, portanto a minha vigilância é

contínua. Tenho que lutar contra muitos defeitos, sabendo bem que a luta

não abate ninguém, mas tão só a cobardia e a queda.

 

1341. Quando se é delicado de saúde deve suportar-se muito, já que

quando se está doente e não se está de cama, não se é considerado enfermo.

Por vários motivos tem-se continuamente a ocasião para fazer sacrifícios e,

às vezes, de sacrifícios muito grandes. Agora compreendo que só a

eternidade fará conhecer muitas coisas, mas compreendo também que se

Deus exige um sacrifício, não é avaro na Sua graça, mas antes a concede à

alma em abundância.

 

1342. Oh meu Jesus, que o meu sacrifício arda silenciosamente diante do

Teu trono; mas em toda a plenitude do amor, implorando-Te Misericórdia

para as almas.

 

1343. Terceiro dia. Durante a meditação sobre a morte, preparei-me

como se realmente fosse morrer; fiz o exame de consciência e examinei

minuciosamente todas as minhas acções frente à morte, e por mérito da

graça, os meus actos levavam em si o selo do fim último, o qual encheu o

meu coração de grande agradecimento a Deus e decidi servir no futuro o

meu Deus com mais fidelidade. Antes do mais, fazer morrer completamente

o homem velho e começar uma vida nova. De manhã preparei-me para

receber a Santa Comunhão como se fosse a última da minha vida; depois da

Santa Comunhão imaginei a morte real e rezei pelos agonizantes e depois o

De Profundis pela minha alma. O meu corpo foi deposto no sepulcro e disse

à minha alma: Olha, o que é o teu corpo, um montão de lama e uma grande

quantidade de vermes. Eis a tua herança.

 

1344. Oh Deus misericordioso que ainda me permites viver, dá-me força

para que possa viver uma vida nova, a vida do espírito sobre a qual a morte

não tem poder. E o meu coração renovou-se e iniciou uma vida nova já aqui

na Terra, a vida do amor de Deus. No entanto, não esqueço que sou a

fraqueza em pessoa, embora não duvide, nem por um momento, na ajuda da

Tua graça, oh Deus.

 

1345. Quarto dia. Oh Jesus, sinto-me singularmente bem junto ao Teu

Coração durante estes exercícios espirituais. Nada perturba a minha

profunda paz; com um olho vejo o abismo da minha miséria e com o outro

olho o abismo da Tua Misericórdia.

 

1346. Durante a Santa Missa, celebrada pelo Padre Andrasz, vi o

pequeno Menino Jesus sentado no cálice da Santa Missa, com as mãozinhas

estendidas para nós. Depois de me olhar profundamente, disse-me estas

palavras: Vivo no teu coração tal como Me vês neste cálice.

 

1347. Confissão. Depois de dar conta da minha consciência recebi as

autorizações pedidas: a de levar a correia meia hora todos os dias

durante a Santa Missa e, em momentos excepcionais, duas horas de cinto.

[O Padre disse-me:] «Conserve, irmã, a maior fidelidade ao Senhor

Jesus».

 

1348. Quinto dia. De manhã, ao entrar na capela, apercebi-me que a

Madre Superiora tinha tido certo desgosto por minha causa. Isto causou-me

muito dor. Depois da Santa Comunhão, inclinei a cabeça sobre o

Sacratíssimo Coração de Jesus e disse-lhe: Oh Senhor meu, rogo-Te, faz

que todo o consolo que tenho no meu coração pela Tua presença flua sobre

a alma da minha querida Superiora que teve um desgosto por minha causa,

sem que eu esteja consciente disso.

 

1349. Jesus consolou-me [dizendo] que ambas tinhamos tirado proveito

para a alma. Eu, no entanto, supliquei ao Senhor que se dignasse guardarme de que alguém sofra por minha causa, já que o meu coração não o

suportaria.

 

1350. Oh Hóstia branca, Tu conservas a alvura da minha alma; temo o

dia em que não Te receber. Tu és o Pão dos Anjos e, por conseguinte,

também o Pão das virgens.

 

1351. Oh Jesus, meu modelo perfeitíssimo, com o olhar cravado em Ti

irei pela vida seguindo os Teus passos, ajustando a natureza à graça

segundo a Tua santíssima vontade e a luz que ilumina a minha alma,

confiando plenamente na Tua ajuda.

 

JMJ

 

1352. Plano da minha direcção interior

Exame especial de consciência.

União com Cristo misericordioso. Quando estou unida a Jesus devo estar

sempre e em toda a parte fiel e unida interiormente ao Senhor e, no exterior,

fidelidade à Regra e especialmente ao silêncio.

 

1353. Novembro

vitórias 53 - quedas 2

Dezembro 104 -

Janeiro 78 - 1

Fevereiro 59 - 1

Março 50 -

Abril 61 -

Maio

Junho

Julho

Agosto

Setembro

Outubro

 

1354.

Quando tenho dúvidas sobre como comportar-me, sempre pergunto ao

amor, ele dá-me os melhores conselhos.

 

1355.

Exame geral de consciência

 

Ano 1937 – 25 X

 

Vitórias Quedas

 

XI XII I II III IV V VI VII VIII IX X

 

Mandamentos de Deus

Voto de pobreza 9

Voto de castidade 7

Voto de obediência 27 7

Regras 7

Amor ao próximo 38 17 73 35 30 20 1,1,1,

Humildade 7 39 23 34 56 25 2,3,1,1,6

Paciência 23 56 50 17 80 50

Benevolência 11 45 37 28 37 20

Bom nome do Próximo 15 25 3 1 1,

Santa Missa 6,2,1,12

e Santa Comunhão 17 12 13 7 10 Santa Comunhão 1,(12)

Meditação 6 5 10

Exame especial 7 5 11 1

Comportamento com Deus e com o confessor 5 5

- com as Superioras 7 1,1

- com as irmãs

E alunas 4 7

- com os leigos 20 2 2,1

 

1356. Sexto dia. Oh meu Deus, estou preparada para toda a Tua vontade.

Qualquer que seja o modo como me guies Te abençoarei. Qualquer coisa

que exijas, cumpri-la-ei com a ajuda da Tua graça. Qualquer que seja a Tua

santa vontade para comigo a aceitarei com todo o coração e com toda a

alma, sem reparar no que me diga a minha natureza corrompida.

 

1357. Uma vez, passando próximo de um grupo de pessoas perguntei ao

Senhor: ¿Estão todos no estado de graça, visto que não senti as Tuas dores?

O facto de não experimentares as Minhas dores não quer dizer que

todos estão no estado de graça. Às vezes faço-te sentir o estado de

certas almas e dou-te a graça de sofrer somente porque te uso como um

instrumento para a sua conversão.

 

1358. Onde há verdadeira virtude, ali deve haver também sacrifício; toda

a vida deve ser um sacrifício.

As almas podem ser úteis unicamente por meio do sacrifício. As minhas

relações com o próximo podem trazer glória a Deus através do sacrifício de

mim mesma; no entanto, neste sacrifício deve haver o amor de Deus, já que

n'Ele tudo se centra e adquire valor.

 

1359 Recorda que quando saíres de estes exercícios espirituais Me

comportarei contigo como com uma alma perfeita. Desejo ter-te nas

Minhas mãos como um instrumento idóneo para cumprir as Minhas

obras.

 

1360. Oh Senhor, que penetras todo o meu ser e os mais secretos rincões

da minha alma, Tu vês que Te desejo unicamente a Ti e nada mais desejo

que cumprir a Tua santa vontade sem fazer caso de nenhuma dificuldade,

nem sofrimento, nem humilhação, nem qualquer consideração humana.

 

1361. É sumamente agradável para Mim este decidido propósito teu

de fazer-te santa. Abençoo os teus esforços e dar-te-ei a oportunidade

de te santificares. Está atenta para que não se te escape nenhuma

oportunidade que a Minha providência te dará para te santificares. Se

não conseguires aproveitar uma dada oportunidade não percas a

serenidade, mas humilha-te profundamente perante Mim e submergete toda com grande confiança na Minha Misericórdia e assim ganharás

mais do que perdeste; porque a uma alma humilde dá-se com mais

generosidade, mais do que ela mesma peça…

 

1362. Sétimo dia. O conhecimento do meu destino, isto é, a segurança

interior de que alcançarei a santidade. Este profundo conhecimento encheu

a minha alma de agradecimento para Deus e atribuí toda a glória a Deus,

porque sei o que sou por mim própria.

 

1363. Destes exercícios espirituais saio totalmente transformada pelo

amor de Deus. A minha alma inicia seriamente e com coragem uma nova

vida, embora exteriormente esta vida não mude nada e ninguém o perceba;

no entanto, o amor puro é o guia da minha vida e o seu fruto exterior é a

Misericórdia. Sinto que estou toda penetrada por Deus e com este Deus

caminho pela vida quotidiana, cinzenta, monótona e penosa, confiando que

Aquele a quem sinto no meu coração transformará esta monotonia em

santidade pessoal.

 

1364. Num recolhimento profundo, junto ao Teu Coração

misericordioso, durante estes exercícios espirituais amadurece a minha

alma. Sob os raios puros do Teu amor a minha alma perdeu a sua acidez,

transformando-se num fruto doce e maduro; agora posso ser plenamente útil

à Igreja com a minha santidade pessoal que dará pulsações de vida em toda

a Igreja, posto que todos formamos um mesmo organismo em Jesus. Por

isso me empenho em que a Terra do meu coração produza bons frutos,

embora o olhar humano, talvez não os perceba; mas chegará um dia em que

se poderá ver que muitas almas se alimentaram e se alimentarão deste fruto.

 

1365. Oh Amor eterno que incendeias a minha nova vida, uma vida de

amor e de Misericórdia, apoia-me com a Tua graça para que responda

dignamente à Tua chamada, para que se cumpra nas almas, através de mim,

o que Tu próprio determinaste.

Meu Deus, vejo o resplendor das auroras eternas. Toda a minha alma se

lança para Ti, Senhor, já nada me detém nem me ata à Terra. Ajuda-me,

Senhor, a suportar com paciência o resto dos meus dias. A oferenda do meu

amor arde sem cessar perante a Tua Majestade, mas tão silenciosamente que

somente o Teu olhar, oh Deus, a vê, nenhum outro é capaz de a perceber.

 

1366. Oh Senhor meu, embora me ocupem tantas coisas, embora esta

Obra esteja no meu coração, embora deseje o triunfo da Igreja, embora

deseje a salvação das almas, embora me firam todas as perseguições dos

Teus fiéis, embora me faça sofrer cada queda das almas, no entanto, apesar

de tudo, tenho na alma uma profunda paz que nem os triunfos, nem os

desejos, nem as contrariedades são capazes de perturbar, porque Tu, meu

Senhor e meu Deus, estás para mim por cima de todas as coisas que

permites que sucedam.

 

1367. Oitavo dia. Oh Senhor meu, recordando todos os benefícios ao

lado do Teu Sacratíssimo Coração, senti a necessidade de expressar uma

gratidão especial por tantas graças e benefícios divinos. Desejo submergirme no agradecimento diante da divina Majestade, durante sete dias e sete

noites permanecer na oração de acção de graças. Embora exteriormente

cumpra todos as minhas obrigações, no entanto o meu espírito estará

incessantemente diante do Senhor e todas as práticas de piedade estarão

impregnadas do espírito de agradecimento. À noite, durante meia hora,

ajoelhada, a sós com o Senhor na minha cela; de noite, cada vez que

acordar, me submergirei na oração de acção de graças. Com isto desejo

compensar, ao menos em parte, pela grandeza dos benefícios de Deus.

 

1368. No entanto, para que tudo isto fosse mais agradável aos olhos de

Deus e para que não me ficasse nem uma sombra de dúvida, fui falar com o

meu director espiritual e manifestei-lhe o desejo que a minha alma sentiu de

se submergir neste agradecimento. Obtive licença para tudo, com excepção

de não me esforçar a orar de noite, quando acorde.

 

1369. Com quanta alegria regressei ao convento e no dia seguinte

comecei este grande agradecimento com o acto da renovação dos votos.

Toda a minha alma se submergiu em Deus e de todo o meu ser irrompia

para Deus uma só chama, de reconhecimento e de agradecimento. As

palavras não foram muitas, porque os benefícios de Deus como fogo

ardente inflamavam a minha alma e todos os sofrimentos e desgostos eram

como lenha atirada ao fogo sem a qual o fogo se teria apagado. Invoquei

todo o Céu e Terra a unir-se ao meu agradecimento.

 

1370. Terminaram os exercícios espirituais, esses belos dias de

permanecer a sós com o Senhor Jesus.

Fiz estes exercícios espirituais tal como Jesus o desejava e como me

tinha dito no primeiro dia dos exercícios, isto é, na máxima serenidade,

meditando os benefícios de Deus. Jamais na minha vida tinha feito uns

exercícios espirituais como estes. Com esta paz a minha alma foi reforçada

mais profundamente que com choques ou emoções. Nos raios do amor vi

tudo como é na realidade.

 

1371. Ao sair destes exercícios espirituais sinto-me totalmente

transformada pelo amor de Deus. Oh Senhor, diviniza as minhas acções

para que adquiram méritos para a eternidade e embora a minha debilidade

seja grande, confio no poder da Tua graça que me sustentará.

 

1372. Oh meu Jesus, Tu sabes que desde os mais tenros anos desejava

ser uma grande santa, isto é, desejava amar-Te com um amor tão grande

como nenhuma alma Te amou até agora. Ao princípio estes eram os meus

desejos secretos, dos quais sabia só Jesus. Hoje não os consigo conter no

coração, desejaria gritar ao mundo inteiro: Amai a Deus, porque é bom e a

Sua Misericórdia é grande.

 

1373. Oh dias quotidianos e cheios de monotonia, vejo-os com olhar

solene e festivo. Que grande e solene é o tempo que nos oferece a

possibilidade de recolher méritos para o Céu eterno; compreendo como o

utilizariam os santos.

 

1374. 30 X 1937. Hoje, durante a cerimónia religiosa, na Santa

Missa, no segundo dia de acção de graças, vi Jesus com aspecto de grande

beleza e disse-me: Minha filha, não te dispensei da acção. Respondi-Lhe:

Senhor, a minha mão é fraca para tais obras. Sim, Eu sei, mas unida à

Minha dextra, cumprirás tudo. No entanto, sê obediente, sê obediente

aos confessores. Eu lhes darei a luz para saberem como devem guiar-te.

Senhor, eu quis dar começo à obra em Teu nome, no entanto, o Padre S.

continua a adiá-la. Jesus respondeu-me: Eu sei, portanto faz o que

está ao teu alcance, mas não podes eximir-te.

 

1375. Novembro – 1 XI 1937

Hoje, depois das vésperas, a procissão foi ao cemitério; eu não pude ir

porque estava de guarda na portaria, mas isso não me impediu de rezar

pelas queridas almas. Quando a procissão voltou do cemitério à capela, a

minha alma sentiu a presença de muitas almas. Compreendi a grande justiça

de Deus e que cada um tem que pagar até ao último cêntimo.

 

1376. O Senhor deu-me a oportunidade de me exercitar na paciência por

meio de uma pessoa com a qual cumpro a mesma tarefa. É tão lenta que

ainda não vi uma pessoa tão vagarosa como ela; há que armar-se de grande

paciência para escutar as suas conversas maçadoras.

 

 

1377. 5 XI. Esta manhã chegaram à porta cinco desempregados, que

queriam entrar a todo o custo. A Ir. N. depois de discutir com eles e sem

poder despedi-los, veio à capela para falar com a Madre, que me

mandou ir. Estava ainda longe da porta quando ouvi as suas insistentes

pancadas nela. Num primeiro momento invadiram-me dúvidas e temor, não

sabia se devia abrir-lhes a porta ou responder pelo postigo, como tinha feito

a Ir. N. Mas, de repente, ouvi uma voz na alma: Vai e abre-lhes a porta e

conversa com eles com a mesma doçura com que falas Comigo. Abri

logo a porta aproximei-me do mais ameaçador e comecei a falar-lhe com

tanta doçura e serenidade que eles mesmos não sabiam que fazer e também

começaram a falar com gentileza e disseram: ¿Que havemos de fazer? Se o

convento não pode dar-nos trabalho. E foram-se embora em paz. Senti

claramente que Jesus, que tinha recebido na Santa Comunhão uma hora

antes, actuou nos seus corações através de mim. Oh, que belo é agir sob a

inspiração de Deus.

 

1378. Hoje senti-me pior e fui falar com a Madre Superiora, com a

intenção de lhe pedir licença para me deitar.

Mas antes de lhe pedir licença, a Madre Superiora disse-me: «irmã, deve

desembaraçar-se sozinha na porta, porque vou precisar da sua ajudante para

a cozinha, porque não há ninguém para esse trabalho».

Respondi que estava bem e saí do quarto. Ao chegar à porta senti-me

estranhamente forte e cumpri com o meu dever durante todo o dia e sentime bem. Experimentei o poder da santa obediência.

 

1379. 10 XI [1937]. Quando a querida Madre me mostou o livrinho

no qual estão a coroinha e as ladainhas junto com a novena, pedi à

Madre que me deixasse folhear. Enquanto o folheaava, Jesus fez-me saber

interiormente que: Já muitas almas foram atraídas para o Meu amor

por esta imagem. A Minha Misericórdia actua nas almas através desta

Obra. Soube que muitas almas experimentaram a graça de Deus.

 

1380. Soube que a Madre Superiora suportaria uma cruz bastante

pesada, unida a sofrimentos físicos, mas que não durará muito tempo.

 

1381. Ocorreu-me a ideia de não tomar o medicamento com a colher

cheia mas um pouco de cada vez, porque era caro. No mesmo momento

ouvi uma voz: Minha filha, não Me agrada tal comportamento; aceita

com agradecimento tudo o que te dou através das tuas Superioras e

deste modo agradar-Me-ás mais.

 

1382. Quando morreu a Ir. Doménica, cerca da uma da noite, veio

ver-me e avisou-me que tinha falecido. Rezei por ela com fervor. Na manhã

seguinte as irmãs disseram-me que já tinha falecido, respondi que já o sabia

porque tinha ido ver-me. A irmã enfermeira pediu-me que a ajudasse

a vesti-la. Num momento quando fiquei com ela, o Senhor revelou-me que

sofria ainda no Purgatório. Redobrei as minhas orações por ela, mas apesar

do fervor com o qual rezo sempre pelas irmãs defuntas, confundi os dias e

em vez de oferecer três dias de orações como prescreve a Regra, por erro

ofereci dois. Ao quarto dia recordou-me que ainda lhe devia umas orações,

e que necessitava delas. Imediatamente formulei a intenção de oferecer um

dia inteiro por ela, mas não somente esse dia, mas mais, segundo me

sugeria o amor ao próximo.

 

1383. Devido a que a Ir. Doménica depois de morrer tinha um aspecto

tão bonito que não dava a impressão de cadáver, algumas irmãs exprimiram

a dúvida: ¿Estará, por acaso, em letargia? E uma das irmãs disse-me para ir

com ela e pôr um espelho em frente da boca para ver se se embaciava, pois

se estivesse viva se embaciaria.

Disse que sim e fizemos o que tinhamos dito, mas o espelho não se

embaciou, embora nos parecesse que realmente se tinha embaciado. No

entanto, o Senhor fez-me saber quanto isso O tinha desgostado e fui

admoestada severamente a não proceder nunca contra a convicção interior.

Humilhei-me profundamente perante o Senhor e pedi-Lhe perdão.

 

1384. Vejo certo sacerdote que Deus ama muito, mas Satanás odeia-o

terrivelmente porque leva muitas almas a uma santidade elevada e tem em

conta unicamente a glória de Deus. Mas peço a Deus que não lhe falte

paciência com quem continuamente o contraria. Satanás, onde não pode

fazer dano por si próprio, serve-se dos homens.

 

1385. 19 XI. Hoje, depois da Santa Comunhão Jesus disse-me quanto

deseja vir aos corações humanos.

Desejo unir-Me às almas humanas. O Meu grande deleite é unir-Me

com as almas. Deves saber, Minha filha, que quando chego a um

coração humano na Santa Comunhão, tenho as mãos cheias de toda a

espécie de graças e desejo dá-las à alma, mas as almas nem sequer Me

prestam atenção, Deixam-Me só e ocupam-se de outras coisas. Oh, que

triste é para Mim que as almas não reconheçam o Amor. Tratam-Me

como uma coisa morta. Contestei a Jesus: Oh tesouro do meu coração,

único objecto do meu coração e todo o deleite da minha alma, desejo

adorar-Te no meu coração tal como és adorado no trono da Tua glória

eterna. O meu amor deseja compensar-Te, pelo menos em pequena parte,

pela frieza de um grande número de almas. Oh Jesus, toma o meu coração

que é Tua morada a que ninguém tem acesso. Tu Mesmo descansa nele

como num belo jardim. Oh meu Jesus, até já, tenho de ir trabalhar, mas

manifestar-Te-ei o meu amor com sacrifício, sem omitir nem deixar que se

me escape nenhuma ocasião para isso.

 

1386. Quando saí da capela a Madre Superiora disse-me: «a irmã não irá

à aula de catecismo, mas vai ficar de guarda». Está bem, Jesus, assim,

durante todo o dia, tive excepcionalmente muitas ocasiões para fazer

sacrifícios, não omiti nenhum, graças à força de ânimo que extraí da Santa

Comunhão.

 

1387. Há momentos na vida, quando a alma se encontra num estado em

que quase não compreende as palavras humanas, tudo a cansa e nada a

acalma, excepto uma prece fervorosa. Numa oração fervorosa a alma

encontra alívio e embora quisesse explicações das criaturas, estas mesmas

lhe proporcionariam somente maior inquietação.

 

1388. Durante uma oração aprendi quanto é agradável a Deus a alma do

Padre Andrasz. É um verdadeiro filho de Deus. Em poucas almas esta

filiação de Deus se evidencia tão claramente e é porque tem uma devoção

especialíssima à Mãe de Deus.

 

1389. Oh meu Jesus, embora sinta uma grande pressa, não posso deixarme levar por ela e isso para não estropear a Tua Obra com a minha pressa.

Oh meu Jesus, fazes-me conhecer os Teus mistérios e queres que os

trasmita a outras almas. Já dentro de pouco tempo se abrirá para mim a

possibilidade de actuar. A minha missão começará já sem obstáculos no

momento em que parecer completamente destruída. É esta a vontade de

Deus, que não mudará apesar de que muitas pessoas estarão contra, mas

nada consegue mudar a vontade de Deus.

 

1390. Vejo o Padre Sopocko, como a sua mente está ocupada e trabalha

pela causa de Deus perante os dignitários da Igreja para apresentar os

desejos divinos. Graças às suas diligências uma nova luz resplandecerá na

Igreja de Deus para consolo das almas. Embora, de momento, a sua alma

esteja cheia de amargura como recompensa pelos esforços que faz para

Deus, não será sempre assim. Vejo a sua alegria que não será prejudicada

por nada; Deus dar-lhe-á uma parte desta alegria já aqui na Terra. Não

encontrei tanta fidelidade a Deus como aquela que distingue esta alma.

 

1391. Hoje no refeitório, durante a ceia, senti o olhar de Deus no fundo

do meu coração. Uma presença tão viva penetrou a minha alma que,

durante um momento, não me dava conta de onde estava. A doce presença

de Deus inundava a minha alma e nalgums momentos não compreendia o

que me diziam as irmãs.

 

1392. Todo o bem que há em mim é graças à Santa Comunhão; devoLhe tudo. Sinto que este sagrado fogo me transformou totalmente. Oh,

quanto me alegro de ser Tua morada, oh Senhor; o meu coração é um

templo em que permaneces continuamente…

 

JMJ

 

1393. Oh Jesus, deleite da minha alma, Pão dos Anjos,

Todo o meu ser se submerge em Ti

E vivo da Tua vida divina, como os escolhidos no Céu,

E a autenticidade desta vida não cessará embora descanse no túmulo.

Oh Jesus, Eucaristia, Deus imortal,

Que permaneces continuamente no meu coração,

E quando estás comigo, nem sequer a morte pode maltratar-me.

O amor disse-me que Te verei no final da vida.

Abismada na Tua vida divina,

Olho tranquila para os Céus abertos para mim,

E a morte envergonhada irá com nada,

Porque a Tua vida divina está encerrada na minha alma.

E embora por Tua santa vontade, oh Senhor,

A morte há de tocar o meu corpo,

Desejo que esta separação suceda quanto antes,

Já que com ela entrarei na vida eterna.

Oh Jesus, Eucaristia, vida da minha alma,

Tu me elevaste às esferas eternas,

Pela Paixão e a Agonia entre atrozes tormentos.

 

1394. 26 [XI 1937]

Retiro espiritual mensal de um dia.

Durante estes exercícios espirituais o Senhor deu-me a luz de um mais

profundo conhecimento da sua vontade e ao mesmo tempo do total

abandono a esta santa vontade de Deus. Esta luz fortaleceu-me numa paz

profunda, dando-me a compreender que não devo ter medo de nada, menos

do pecado.

 

Qualquer coisa que Deus me envie, a aceitarei com uma total submissão

à Sua santa vontade. Onde quer que Ele me ponha, procurarei cumprir

fielmente a Sua santa vontade e tudo o que lhe agrade, sempre que esteja ao

meu alcance, embora esta vontade de Deus seja para mim dura e pesada

como foi a vontade do Pai celestial para com o Seu Filho, que rezava no

Horto das Oliveiras. Pois se a vontade do Pai celestial se cumpre deste

modo no Seu amadíssimo Filho, então precisamente deste mesmo modo se

cumprirá também em nós; sofrimentos, perseguições, ultrajes, desonra; com

tudo isto a minha alma assemelha-se a Jesus. E quanto maior é o

sofrimento, tanto melhor vejo que me assemelho a Jesus. Éste é o caminho

mais seguro. Se outro caminho fosse melhor, Jesus mo indicaria. Os

sofrimentos não me tiram a paz em absoluto; mas por outro lado, embora

goze de uma paz profunda, no entanto esta paz profunda não me tira a

sensação de sofrimento. Embora, às vezes, tenha a face inclinada para a

Terra e as lágrimas correrem em abundância, no entanto, nesse mesmo

momento a minha alma goza de uma paz profunda e de felicidade…

 

1395. Desejo esconder-me no Teu Misericordiosíssimo Coração como

uma gota de orvalho numa flor em botão. Encerra-me neste cálice para me

proteger do frio deste mundo. Ninguém compreenderá a felicidade na qual

se deleita o meu coração, oculto a sós com Deus.

 

1396. Hoje ouvi na alma uma voz: Oh, se os pecadores conhecessem a

Minha Misericórdia não se perderiam em tão grande número. Diz às

almas pecadoras que não tenham medo de se aproximar de Mim, fala

da Minha grande Misericórdia.

 

1397. O Senhor disse-me: A perda de cada alma mergulha-Me numa

tristeza mortal. Tu sempre Me consolas quando rezas pelos pecadores.

A oração que Me é mais agradável é a oração pela conversão dos

pecadores. Deves saber, Minha filha, que esta oração é sempre

escutada.

 

1398. Aproxima-se o Advento. Desejo preparar o meu coração para a

vinda do Senhor Jesus com docilidade e recolhimento do espírito, unindome à Santíssima Virgem e imitando fielmente a Sua virtude da docilidade,

pela qual encontrou complacência aos olhos do próprio Deus. Confio que a

Seu lado perseverarei neste propósito.

 

1399. À noite, ao entrar por um momento na capela, senti um tremendo

espinho na cabeça. Isto durou pouco tempo, mas a pontada foi tão dolorosa

que num momento a minha cabeça caíu sobre a balaustrada, parecia-me que

o espinho me penetrava no cérebro; mas isso é nada, tudo pelas almas, para

lhes obter a Misericórdia de Deus.

 

1400. Vivo de hora em hora, não sei proceder de outro modo. O

momento actual desejo aproveitá-lo da melhor maneira possível, cumprindo

fielmente tudo o que ele me oferece. Abandono-me a Deus em tudo com

inquebrantável confiança.

 

1401. Ontem recebi uma carta do Padre Sopocko. Soube que a Causa de

Deus avança, embora lentamente.

Alegro-me muitíssimo com isso e redobro as minhas preces por toda esta

Obra. Soube que no momento actual, no que respeita a esta Obra, Deus

exige de mim, oração e sacrifício; a minha acção poderia realmente destruir

os projectos de Deus, como me escreveu o Padre Sopocko na carta de

ontem. Oh meu Jesus, concede-me a graça de ser um instrumento cego nas

Tuas mãos. Reconheci, na carta, quanta luz Deus concede a este sacerdote;

isso confirma-me na convicção de que Deus levará a cabo esta Obra através

dele apesar das contrariedades que se multiplicam. Sei bem que quanto

mais bela e maior é a obra, tanto mais tremendas são as tempestades que se

desencadeiam contra ela.

 

1402. Nos Seus insondáveis desígnios, Deus permite às vezes que quem

emprende os maiores esforços por alguma obra, geralmente não goze dos

frutos desta obra aqui na Terra. Deus reserva todo o seu gozo para a

eternidade; mas, apesar de tudo, às vezes Deus dá a conhecer quanto lhe são

agradáveis os esforços de tais almas e aqueles momentos fortalecem as

almas para os novos combates e provações. Estas são as almas que mais se

parecem com o Salvador o qual, na Sua obra fundada na Terra, provou

somente amargura.

 

1403. Oh meu Jesus, que sejas bendito por tudo; alegro-me por que se

cumpra a Tua santíssima vontade, isso me basta absolutamente para ser

feliz.

 

1404. Oh Jesus oculto, em Ti [está] toda a minha força. Já nos mais

tenros anos Jesus, no Santíssimo Sacramento, me atraíu a Si. Aos sete anos,

quando estava nas vésperas e o Senhor Jesus estava exposto na custódia,

então, pela primeira vez se me comunicou o amor de Deus e encheu o meu

pequeno coração e o Senhor me fez compreender as coisas divinas; a partir

daquele dia até hoje, o meu amor ao Deus oculto cresceu até alcançar a

mais estreita intimidade. Todo o poder da minha alma procede do

Santíssimo Sacramento. Todos os momentos livres, passo-os conversando

com Ele; Ele é o meu Mestre.

 

1405. 30 XI [1937]. Uma noite, quando subia a escada, de repente

envolveu-me um estranho tédio de todo o divino. Então ouvi Satanás que

me dizia: «Não penses nada da Obra, Deus não é tão misericordioso como

tu dizes. Não rezes pelos pecadores, porque eles serão condenados apesar

de tudo e por esta Obra de Misericórdia tu mesma te expões a ser

condenada. Desta Misericórdia de Deus não fales nunca com o confessor e

especialmente com os Padres Sopocko e Andrasz». Nesse momento a voz

tomou o aspecto do Anjo da Guarda. Então respondi: Sei quem és, o pai da

mentira. Fiz a sinal da santa cruz e aquele Anjo desapareceu com

grande estrépido e raiva.

 

1406. Hoje, o Senhor deu-me a conhecer interiormente que não me

abandonará. Deu-me a conhecer a Sua Majestade e a Sua santidade, e ao

mesmo tempo o Seu amor e a Sua Misericórdia para comigo e um mais

profundo conhecimento da minha miséria; no entanto, esta minha grande

miséria não me priva da confiança, mas pelo contrário, na medida em que

conheço a minha miséria fortalece-se a minha confiança na Divina

Misericórdia.

Compreendi que tudo depende do Senhor, sei que ninguém me tocará,

nem sequer num dedo, contra a Sua vontade.

 

1407. Hoje, enquanto recebia a Santa Comunhão vi uma Hóstia viva no

cálice, que o sacerdote me deu. Ao voltar ao meu lugar, perguntei ao

Senhor: ¿Porquê uma [só] viva? Se estás igualmente vivo em todas as

Hóstias. O Senhor respondeu-me: Assim é, sou o Mesmo em todas as

Hóstias, mas nem todas as almas Me recebem com uma fé tão viva

como a tua, Minha filha, e por isso não posso agir nas suas almas como

na tua alma.

 

1408. Santa Missa celebrada pelo Padre Sopocko. Durante esta Missa, a

que assistia, vi o pequeno Jesus que tocou com um dedito a fronte daquele

sacerdote e me disse: O seu pensamento está estreitamente unido ao

Meu; assim, fica tranquila pela Minha Obra, não lhe permitirei

enganar-se e tu não faças nada sem a sua licença. Encheu, assim, a

minha alma de grande tranquilidade quanto a toda esta Obra.

 

1409. Hoje, o Senhor Jesus fez-me consciente de Si Mesmo e do Seu

mais terno amor e do cuidado que tem comigo, numa compreensão

profunda de que tudo depende de sua vontade e que permite algumas

dificuldades unicamente para nossos méritos, para que se manifeste

claramente a nossa fidelidade. Ao mesmo tempo recebi força para sofrer e

negar-me a mim própria.

 

1410. Hoje é a vigília da Imaculada Conceição da Santíssima Virgem

Maria. Durante a refeição, num só momento, Deus fez-me saber a grandeza

do meu destino, isto é, fez-me saber a proximidade de Deus que não me

será tirada pelos séculos; [fez-me conhecer] de maneira tão viva e evidente

que, durante muito tempo, permaneci profundamente submergida na Sua

viva presença, humilhando-me diante da Sua grandeza.

 

1411. JMJ

Oh Espírito de Deus, Espírito de verdade e de luz,

Vive na minha alma constantemente com a Tua graça divina.

Que o Teu sopro dissipe as trevas,

E que as boas obras se multipliquem na Tua luz.

Espírito de Deus, Espírito de amor e de Misericórdia,

Que infundes no meu coração o bálsamo da confiança,

A Tua graça afirma a minha alma no bem,

Dando-lhe força irresistível e perseverança.

Oh Espírito de Deus, Espírito de paz e de alegria,

Que confortas o meu coração sedento

E vives nele a fonte viva do amor de Deus,

E o fazes intrépido para a batalha.

Oh Espírito de Deus, hóspede amabilíssimo da minha alma,

Pela minha parte desejo ser-Te fiel.

Tanto nos dias de alegria como nos tormentosos,

Desejo sempre viver na Tua presença, oh Espírito de Deus.

Oh Espírito de Deus que penetras o meu ser na sua totalidade,

E me dás a conhecer a Tua vida divina, trina,

E me confias os segredos da Tua essência divina,

E unida a Ti deste modo, viverei pela eternidade.

 

1412. Com grande zelo preparei-me para celebrar a festa da Imaculada

Conceição da Mãe de Deus. Prestei mais atenção ao recolhimento do

espírito e meditei sobre este privilégio exclusivo d'Ela; por isso o meu

coração estava todo mergulhado n'Ela, agradecendo a Deus por ter

concedido a Maria esta grande prerrogativa.

 

1413. Preparei-me não somente com a novena em comum, feita por toda

a Comunidade, mas também procurava saudá-La mil vezes ao dia, rezando

diariamente, em Sua honra, mil Avé-Marías durante nove dias.

Já é a terceira vez que faço esta novena à Virgem Maria, que consiste em

rezar mil Avé-Marias diárias, isto é, nove mil Avé-Marias constituem a

totalidade da novena. No entanto, embora tenha feito já três vezes na minha

vida, e duas vezes foram quando cumpria as minhas obrigações, não

prejudicando em nada as minhas tarefas, cumprindo-as o melhor possível, e

além dos exercícios de piedade habituais, ou seja nem durante a Santa

Missa, nem durante a bênção. Uma vez fiz esta novena quando estava no

hospital. Para quem realmente o quer, não é difícil. Excepto no recreio,

rezava e trabalhava; nesses dias não pronunciei uma só palavra que não

fosse absolutamente necessária, mas tenho que reconhecer que isto requer

muita atenção e esforço; mas para honrar a Imaculada não há nada que seja

excessivo.

 

1414. Solenidade da Imaculada Conceição. Antes da Santa Comunhão vi

a Santíssima Mãe de uma beleza inconcebível. Sorrindo-me disse: Minha

filha, por recomendação de Deus devo ser tua mãe de modo exclusivo e

especial, mas desejo que também tu sejas Minha filha de modo especial.

Desejo, amadíssima filha, que te exercites em três virtudes que são as

minhas preferidas e que são as mais agradáveis [a] Deus: a primeira é a

humildade, humildade e ainda uma vez mais humildade. A segunda virtude

é a pureza; a terceira é o amor a Deus. Sendo Minha filha tens que

resplandecer nestas virtudes de modo especial. Depois estreitou-me ao Seu

coração e desapareceu.

 

1416. Quando voltei a mim, o meu coração foi atraído maravilhosamente

para tais virtudes e exercito-me nelas fielmente, estão como esculpidas no

meu coração. Esse foi um grande dia para mim; nesse dia estive como em

contemplação contínua, e só recordar esta graça me introduzia numa

contemplação nova. E durante o dia inteiro permaneci dando graças, sem

nunca terminar, porque a recordação desta graça levava a minha alma a

submergir-se novamente em Deus…

 

1417. Oh Senhor meu, a minha alma é a mais miserável e Tu inclinas-Te

para ela tão bondosamente. Vejo claramente a Tua grandeza e a minha

pequenez e, por isso, alegro-me de que sejas tão poderoso e imenso e

alegro-me enormemente por eu ser tão pequena.

 

1418. Oh Cristo sofredor, saio ao Teu encontro; sendo Tua esposa tenho

que ser semelhante a Ti. O manto de ignomínia que Te cobriu tem que me

cobrir também a mim. Oh Cristo, tu sabes com que ardor desejo fazer-me

semelhante a Ti. Faz que toda a Tua Paixão seja também minha, que todo a

Tua dor se derrame no meu coração. Confio que farás isto em mim de modo

que Tu consideres oportuno.

 

1419. Hoje [é] a adoração nocturna. Não posso participar nela pela

minha fraca saúde, mas antes de adormecer uni-me às irmãs que estavam

em adoração. Entre as quatro e as cinco, de repente fui despertada, ouvi

uma voz dizendo que me juntasse [em oração] com as pessoas que estavam

em adoração. Soube que entre as pessoas que estavam na adoração havia

uma alma que rezava por mim.

 

1420. Ao submergir-me na oração, fui transferida em espírito à capela e

vi o Senhor Jesus exposto na custódia; em lugar da custódia vi o rosto

glorioso do Senhor, e o Senhor disse-me: O que tu vês [na]realidade, estas

almas vêm através da fé. Oh, que agradável é para Mim a sua grande

fé. Vês que aparentemente não há em Mim nenhum vestígio de vida, no

entanto, na realidade ela existe em toda a sua plenitude, contida em

cada Hóstia. Mas para que Eu possa agir numa alma, a alma deve ter

fé. Oh, quanto Me agrada a fé viva.

 

1421. Estiveram nesta adoração a Madre Superiora e também outras

irmãs. Mas conheci que a oração da Madre Superiora sacudiu o Céu.

Alegro-me de que haja almas tão agradáveis a Deus.

 

1422. No dia seguinte, durante o recreio, perguntei ¿que irmãs tinham

tido a adoração entre as quatro e as cinco?, uma das irmãs exclamou: «¿Por

que quer saber? ¿Seguramente terá tido alguma revelação?» Calei-me e não

disse nada mais e, embora tenha sido interrogada pela Madre Superiora não

pude responder, já que o momento não era oportuno.

 

1423. Uma vez, uma das irmãs confessou-me que pensava escolher certo

sacerdote para seu director espiritual. Muito contente, comunicou-me

pedindo que rezasse por essa intenção, coisa que prometi.

Enquanto rezava soube que essa alma não tiraria nenhum proveito

espiritual daquela direcção. E durante o seguinte encontro essa alma faloume da sua alegria por aquela direcção espiritual.

 

1424. Eu compartilhei a sua alegria, no entanto, quando ela se afastou,

fui admoestada severamente. Jesus disse-me que lhe dissesse o que Ele me

tinha feito conhecer na oração, o que fiz na primeira ocasião, apesar de que

me custou muito.

 

1425. Hoje senti a dor da coroa de espinhos durante um breve momento.

Foi quando rezava diante do Santíssimo Sacramento por certa alma. De

repente senti uma dor tão violenta que a minha cabeça caíu sobre a

balaustrada; esse momento foi breve, mas muito doloroso.

 

1426. Oh Cristo, dá-me almas. Envia sobre mim tudo o que queiras, mas

em troca, dá-me almas. Desejo a salvação das almas, desejo que as almas

conheçam a Tua Misericórdia. Não tenho nada de meu, porque entreguei

tudo às almas, de modo que no dia de juízo me apresentarei diante de Ti

sem nada, porque dei tudo às almas e por isso não terás de que me julgar.

Nesse dia encontrar-nos-emos: o amor com a Misericórdia……

 

1427. JMJ

Oh Jesus oculto, vida da minha alma,

Objecto do meu fervente desejo,

Nada apagará o Teu amor no meu coração,

Me assegura a força do nosso amor mútuo.

Oh Jesus oculto, glorioso penhor da minha ressurreição,

Em Ti se centra toda a minha vida,

Tu, Hóstia, fazes-me capaz de amar eternamente.

E sei que também Tu me amarás como Tua filha.

Oh Jesus oculto, meu puríssimo amor,

A minha vida Contigo iniciada já aqui na Terra,

Se manifestará em toda a sua plenitude na eternidade futura,

Porque o nosso amor recíproco nunca mudará.

Oh Jesus oculto, a minha alma deseja-Te só a Ti,

Tu és para mim mais que as delícias do Céu.

Mais que todos os dons e graças a minha alma te espera só a Ti,

Que vens até mim sob a aparência do pão.

Oh Jesus oculto, toma já o meu coração sedento de Ti,

Que arde por Ti como o puro fogo de um Serafim,

Caminha pela vida seguindo os Teus passos, invencível,

E com a fronte alta como um cavaleiro, apesar de que sou uma débil

criatura.

 

1428. Desde há um mês sinto-me pior, e em cada expectoração sinto a

decomposição dos pulmões. Às vezes sucede que sinto a decomposição

total do meu próprio cadáver; é difícil exprimir este grande sofrimento.

Embora com a vontade o aceite decididamente, no entanto para a natureza é

um grande sofrimento, maior do que levar o cilício e flagelar-se até ao

sangue. Aumentava quando ia ao refeitório; fazia grandes esforços para

comer alguma coisa, porque a comida me causava náuseas. Nessa época

começaram também dores nos intestinos, todos os pratos mais picantes me

causavam dores tremendas; mais de uma noite me retorcia com terríveis

dores e lágrimas a favor dos pecadores.

 

 

1429. No entanto, perguntei ao confessor que devia fazer: ¿continuar a

sofrer pelos pecadores ou pedir à Madre Superiora uma excepção para

tomar alimentos mais leves? O confessor decidiu que devia pedir às

Superioras uma comida mais leve; e assim fiz segundo as indicações do

confessor, vendo que essa humilhação era mais agradável a Deus.

 

1430. Um dia surgiu-me a dúvida se era possível sentir continuamente a

decomposição do organismo e ao mesmo tempo andar e até trabalhar, ¿não

seria, porventura, uma ilusão? Mas, por outro lado, não podia ser uma

ilusão porque me causava um tremendo sofrimento. Enquanto pensava

nisso, veio uma das irmãs para conversar um momento. Depois de alguns

minutos fez uma careta horrível e disse-me: «irmã, eu sinto aqui o cheiro a

cadáver». Surpreendeu-se muito, mas disse que não podia suportar mais.

Quando se afastou compreendi que Deus tinha dado essa sensação àquela

irmã para que eu não tivesse dúvidas e que de modo simplesmente

milagroso ocultava esse meu sofrimento a toda a Comunidade. Oh meu

Jesus, somente Tu conheces a profundidade do meu sacrifício.

 

1431. No entanto, no refeitório, tive que suportar mais de uma suspeita

de ser caprichosa. Então, como sempre, vou rapidamente ao tabernáculo,

inclino-me diante do cibório e tiro forças para me conformar com a vontade

de Deus. O que escrevi ainda não é tudo.

 

1432. Hoje, durante a confissão, [o Padre] partindo comigo

espiritualmente o “oplatek”, recomendou o seguinte: «Seja fidelíssima à

graça de Deus; peça a Misericórdia de Deus para si e para o mundo inteiro,

porque todos necessitamos muito, muito, da Divina Misericórdia».

 

1433. Dois dias antes das festas, foram lidas as seguintes palavras no

refeitório: “Amanhã [é] o nascimento de Jesus Cristo segundo a carne”.

A estas palavras a minha alma foi trespassada pela luz e amor de

Deus; conheci mais profundamente o mistério da Encarnação. Que grande é

a Misericórdia de Deus que se encerra no mistério da Encarnação do Filho

de Deus.

 

1434. Hoje o Senhor fez-me conhecer a Sua ira contra a humanidade que

pelos seus pecados merece que os seus dias sejam abreviados, mas também

aprendi que a existência do mundo é sustentada pelas almas eleitas, isto é,

pelas ordens religiosas. Ai do mundo se faltam as ordens religiosas.

 

1435. JMJ

 

Cumpro cada acção na presença da morte,

Realizo-a agora como desejo vê-la na minha última hora.

Embora a vida passe rápida como o vento

Nenhuma acção empreendida por Deus se perderá.

Sinto a decomposição total do meu organismo,

Embora ainda continue vivendo e trabalhando.

A morte não será para mim uma tragédia,

Porque a sinto desde há muito tempo.

Embora para a natureza é muito penoso

Sentir continuamente o seu próprio cadáver,

Mas não é tão temível se a luz de Deus penetrou a alma,

Porque se despertam nela fé, esperança, amor e arrependimento.

Todos os dias faço grandes esforços

Para participar na vida comunitária,

E com isso impetrar graças para a salvação das almas,

Protegendo-as com os meus sacrifícios contra o fogo do Inferno.

É que para a salvação, embora de uma só alma,

Merece a pena sacrificar-se toda a vida

E suportar os maiores sacrifícios e tormentos

Vendo o grande que é a glória que Deus recebe por isso.

 

1436. Senhor, embora me dês a conhecer muitas vezes os raios da Tua

indignação, no entanto a Tua ira desvanece-se diante de uma alma que se

humilha. Embora sejas grande, Senhor, no entanto deixas-Te vencer por

uma alma submissa e profundamente humilde. Oh humildade, virtude

preciosíssima, que poucas são as almas que te possuem. Em todo o lado

vejo somente a aparência desta virtude, mas não vejo a virtude mesma.

Aniquila-me, oh Senhor, aos meus próprios olhos, para que possa

encontrar graça aos Teus santos olhos.

 

1437. Vigília (1937). Depois da Santa Comunhão a Mãe de Deus fez-me

saber a preocupação que tinha no coração pelo Filho de Deus. Mas essa

preocupação estava cheíssima de tal aroma de submissão à vontade de Deus

que eu melhor a chamaria deleite e não preocupação. Compreendi como a

minha alma deve aceitar qualquer vontade de Deus. É pena que não saiba

descrevê-lo tal como experimentei.

Durante o dia inteiro a minha alma permaneceu num recolhimento mais

profundo do qual nada a pôde tirar, nem as obrigações nem a convivência

que tive com as pessoas.

 

1438. Antes da ceia entrei um momento na capela para compartilhar

espiritualmente o “oplatek” com as pessoas que me amam e são queridas ao

meu coração, mas que estavam longe. Primeiro mergulhei numa oração

profunda e pedi ao Senhor graças para elas e depois para cada uma

individualmente. Jesus fez-me saber quanto lhe agradava isso, e uma alegria

ainda maior encheu a minha alma por ver que Deus ama especialmente os

que nós amamos.

 

1439. Quando entrei no refeitório, durante a leitura toda a minha alma

ficou submergida em Deus. Vi interiormente o olhar de Deus [dirigido] a

nós com grande agrado. Fiquei a sós com o Pai celestial. Naquele mesmo

instante conheci mais profundamente as três Pessoas Divinas que

contemplaremos durante toda a eternidade e depois de milhões de anos nos

daremos conta de ter apenas começado a nossa contemplação. Oh que

grande é a Misericórdia de Deus que admite o homem a uma participação

tão grande na Sua divina felicidade; mas ao mesmo tempo uma grande dor

trespassa o meu coração pelo facto de que muitas almas desprezam esta

felicidade.

 

1440. Quando começámos a compartilhar o “oplatek”, reinou entre nós

um amor sincero e recíproco. A Madre Superiora felicitou-me com estas

palavras: «irmã, as obras de Deus vão devagar, não tenha pressa». Em geral,

todas as irmãs me desejaram com sinceridade as coisas que eu mais anseio.

Vi que as felicitações vinham verdadeiramente do coração, excepto uma

irmã que sob as suas palavras escondia malícia, mas isso não me fez sofrer

muito porque a minha alma estava plena de Deus; no entanto iluminou-me

sobre o motivo porque Deus se comunica tão pouco àquela alma e soube

que ela sempre se procura a si própria, até nas coisas santas. Oh que bom é

o Senhor que não me permite extraviar-me e sei que me guardará

zelosamente, mas só enquanto permanecer pequena, porque Ele, Soberano

Excelso, gosta de tratar com os pequenos, mas aos grandes observa-os de

longe e opõe-se-lhes.

 

1441. Bem quis velar um pouco antes da Missa de Meia-Noite, mas não

pude, e adormeci imediatamente porque me sentia muito fraca; mas quando

tocou o sino para a Missa da Meia-Noite levantei-me imediatamente

embora me vestisse com grande esforço, pois a cada momento me sentia a

desfalecer.

 

1442. Quando cheguei à Missa da Meia-Noite, uma vez iniciada

submergi-me toda num profundo recolhimento, no qual vi o presépio de

Belém cheio de grande claridade. A Virgem Santíssima envolvia Jesus em

faixas, absorvida em grande amor; São José, porém, ainda dormia. Só

quando a Virgem colocou Jesus no presépio, então a luz divina despertou

José que também se pôs a orar.

 

No entanto, um momento depois fiquei a sós com o pequeno Jesus que

estendeu as suas mãozinhas para mim e compreendi que era para que o

tomasse nos braços. Jesus estreitou a sua cabecinha ao meu coração e com

um olhar profundo fez-me compreender que estava bem assim. Naquele

momento Jesus desapareceu e tocou a campainha para a Santa Comunhão.

A minha alma desfalecia de alegria.

 

1443. No entanto, no final da Santa Missa senti-me tão mal que tive que

sair da capela e voltar à minha cela. Não pude participar no chá com a

Comunidade. No entanto a minha alegria foi grande durante toda a festa,

porque a minha alma permanecia unida ao Senhor sem cessar. Conheci que

cada alma quisera gozar das alegrias divinas, mas não quer renunciar de

nenhum modo às alegrias humanas enquanto que estas duas coisas são

absolutamente incompatíveis.

 

1444. Durante este período de festa senti que certas almas rezam por

mim. Alegro-me por já aqui na Terra haver tal união e conhecimento

espiritual. Oh meu Jesus, que Te seja dada glória por tudo.

 

1445. Nos maiores tormentos da alma estou sempre só: mas não só,

porque estou Contigo, oh Jesus, mas aqui refiro-me aos homens. Nenhuma

pessoa entende o meu coração, no entanto agora isso não me admira; mas

antes surpreendia-me quando as minhas intenções eram condenadas e mal

interpretadas, mas agora isso já não me estranha. Os homens não sabem

perceber a alma, eles vêm o corpo e julgam segundo as aparências; mas os

pensamentos de Deus estão tão longe dos nossos pensamentos como o Céu

está longe da Terra. Eu mesma experimentei que é bastante frequente que

[…].

 

1446. O Senhor disse-me: Não te preocupes como se comportam os

outros; tu, comporta-te como Eu te ordeno: deves ser o Meu reflexo

vivo, pelo Amor e pela Misericórdia. Respondi: Mas, Senhor, muitas

vezes abusam da minha bondade. Não importa, Minha filha, não te

preocupes com isso; tu deves ser sempre misericordiosa para todos e,

especialmente, para os pecadores.

 

1447. Oh, quanto Me dói que as almas muito raramente se unam a

Mim na Santa Comunhão. Espero pelas almas e elas mostram-se

indiferentes. Amo-as com tanta ternura e sinceridade e elas desconfiam

de Mim. Desejo enchê-las de graças e elas não querem aceitá-las.

Tratam-Me como uma coisa morta, enquanto que o Meu Coração está

cheio de Amor e Misericórdia. Para que tu possas conhecer ao menos

um pouco a Minha dor, imagina a mais terna das mães que ama

apaixonadamente os seus filhos, enquanto que esses filhos desprezam o

amor da mãe. Considera a sua dor. Ninguém pode consolá-la. Esta é só

uma pálida imagem e uma ténue semelhança do Meu Amor.

 

1448. Escreve sobre a Minha Misericórdia. Diz às almas que é no

tribunal da Misericórdia onde devem procurar consolo; [367] ali têm

lugar os maiores milagres e repetem-se incessantemente. Para obter

este milagre não é necessário fazer uma longa peregrinação, nem

celebrar alguns ritos exteriores, mas basta aproximar-se com fé dos pés

do Meu representante e confessar-lhe com fé a sua miséria e o milagre

da Misericórdia de Deus se manifestará em toda a sua plenitude.

Embora uma alma seja como um cadáver decompondo-se de tal forma

que sob o ponto de vista humano não houvesse esperança alguma de

restauração e tudo estivesse já perdido, não é assim para Deus. O

milagre da Divina Misericórdia restaura essa alma em toda a sua

plenitude. Oh infelizes os que não disfrutam deste milagre da Divina

Misericórdia; pedirão em vão, quando seja demasiado tarde.

 

JMJ Ano 1938

 

Primeiro de Janeiro

 

1449. Benvindo, Ano Novo, em que a minha perfeição progredirá;

agradeço-Te de antemão, oh Senhor, por tudo o que me envie a Tua

bondade. Obrigada pelo cálice dos sofrimentos do qual beberei cada dia.

Não atenues a sua amargura, oh Senhor, mas fortalece os meus lábios para

que, tomando a amargura, saibam sorrir por amor a Ti, oh meu Mestre.

Agradeço-Te por todos os consolos e graças que não sou capaz de enumerar

e que todos os dias fluem sobre mim como o orvalho da manhã, silenciosa,

inadvertidamente, de modo que não os perceba o olhar de nenhuma criatura

curiosa, e dos quais sabemos só Tu e eu, oh Senhor. Por tudo isto dou-Te

graças já hoje, porque no momento em que me deres o cálice, o meu

coração não será capaz, talvez, de Te agradecer.

 

1450. Assim pois, com propósito cheio de amor, hoje submeto-me

totalmente à Tua santa vontade, oh Senhor, e aos Teus justíssimos desígnios

que, para mim, são sempre os mais bondosos e cheios de Misericórdia,

embora às vezes não os possa compreender nem penetrar. Oh meu Mestre,

eis-me aqui, confiando-Te completamente o leme da minha alma, guia-a

segundo a Tua divina complacência. Encerro-me no Teu compassivo

Coração que é um mar de insondável Misericórdia.

 

1451. Termino o ano velho com sofrimento e começo o ano novo

também com sofrimento. Dois dias antes do ano novo tive que me deitar,

sentia-me muito mal, uma forte tosse enfraqueceu-me e as permanentes

dores intestinais e náuseas esgotaram-me muito. Embora não podesse

assistir aos ofícios comunitários, no entanto, uni-me em espírito com toda a

Comunidade. Quando às onze da noite as irmãs se levantaram para velar e

saudar o Ano Novo, desde o anoitecer até à meia noite me retorci de dores.

Uni os meus sofrimentos às preces das irmãs que velavam na capela em

expiação pelas ofensas feitas a Deus pelos pecadores.

 

1452. Quando deram as doze, a minha alma submergiu-se num

recolhimento mais profundo e ouvi na alma uma voz: Não tenhas medo,

Minha filha, não estás só, luta com coragem porque te sustém o Meu

braço; luta pela salvação das almas, convidando-as a confiar na Minha

Misericórdia, já que esta é a tua tarefa nesta e na vida futura. Depois

destas palavras compreendi mais profundamente a Divina Misericórdia.

Será condenada somente a alma que o queira, porque Deus não condena

ninguém.

 

1453. Hoje é a festa do Ano Novo. De manhã sentia-me tão mal que só

consegui ir à cela vizinha para a Santa Comunhão. Não pude ir à Santa

Missa, sentia-me a desmaiar, portanto fiz a acção de graças deitada.

Desejava muitíssimo ir à Santa Missa e, depois, confessar-me ao Padre

Andrasz; no entanto sentia-me tão mal que não pude ir nem à Santa Missa

nem confessar-me; por esta razão a minha alma sofreu muito.

Depois do pequeno almoço veio a irmã enfermeira com a

pergunta: «¿Por que não foi, irmã, à Santa Missa?» Respondi que não tinha

podido. Sacudiu a cabeça com desprezo e disse: «Uma festa tão grande e

não vai à Missa». E saíu da minha cela.

 

Estive de cama dois dias, contorcendo-me com dores; não me visitou e

no terceiro dia, quando veio, sem me perguntar sequer se podia levantar-me,

imediatamente com voz irritada [perguntou] ¿por que não me tinha

levantado para ir à Santa Missa? Ao ficar só tentei levantar-me, mas sentime de novo a desmaiar. Assim, fiquei de cama com toda a tranquilidade. No

entanto, o meu coração tinha muito que oferecer ao Senhor, unindo-se a Ele

espiritualmente na segunda Santa Missa. Depois da segunda Santa Missa a

irmã enfermeira veio ver-me, mas desta vez com o termómetro, como

enfermeira. Não tinha febre, mas estava gravemente doente e não podia

levantar-me. Então ouvi um novo sermão, que não devia deixar-me vencer

pela doença. Respondi que sabia que entre nós só se é considerada

gravemente doente quando já se está em agonia. Mas, vendo que continuava

com as suas lições de moral, respondi que de momento não necessitava

exortações para ser mais diligente e novamente fiquei só na cela.

 

O dor estreitou-me o coração e a amargura inundou-me a alma e repeti

estas palavras: ¡Benvindo, Ano Novo! ¡Benvindo, cálice de amargura! Oh

meu Jesus, o meu coração lança-se para Ti, no entanto a gravidade da

doença não me permite participar fisicamente nos ofícios e sou acusada de

preguiça. O sofrimento aumentou. Depois do almoço entrou de passagem,

por um momento, a Madre Superiora, mas retirou-se imediatamente.

Pensava pedir que viesse à cela o Padre Andrasz para que pudesse

confessar-me; no entanto abstive-me de lho pedir por duas razões: primeiro,

para não dar motivo a murmurações como tinha sucedido anteriormente

com a Santa Missa; segundo, porque nem sequer teria podido confessar-me,

pois sentia que teria começado a chorar como uma criança. Um momento

depois veio uma irmã e outra vez me chamou a atenção de que, em cima do

fogão, havia leite com manteiga; «¿por que não o toma, irmã?» Respondi

que não tinha quem me servisse.

 

1454. Quando se fez noite, os sofrimentos físicos aumentaram e

juntaram-se a eles os sofrimentos morais. A noite foi de sofrimento. O

solene silêncio nocturno deu-me a possibilidade de sofrer à vontade. O meu

corpo estendeu-se sobre a árvore da cruz, torci-me com dores terríveis até

às onze. Transportei-me em espírito para junto do tabernáculo e abri o

cibório apoiando a cabeça na beira do cálice, e todas as lágrimas caíram

silenciosamente sobre o Coração d'Aquele que é o único que compreende a

dor e o sofrimento. E nesse sofrimento experimentei doçura e a minha alma

desejou esta doce agonia, que não teria trocado por nenhum tesouro do

mundo. O Senhor concedeu-me a força de espírito e o amor por aqueles

pelos quais me advém o sofrimento. Eis o primeiro dia do ano.

 

1455. Também nesse dia senti a oração de uma bela alma que rezava por

mim, dando-me espiritualmente a sua bênção sacerdotal; da minha parte

respondi com uma oração fervorosa.

 

1456. Oh Senhor benigníssimo, és tão misericordioso que julgas cada

um segundo a sua consciência e conhecimento e não segundo as

murmurações dos homens. O meu espírito está cada vez mais arrebatado e

alimentado pela Tua sabedoria que conheço cada vez mais profundamente e

em que se revela, ainda mais claramente, a grandeza da Tua Misericórdia.

Oh meu Jesus, todo este conhecimento produz na minha alma um afecto

que me transforma num fogo de amor por Ti, oh meu Deus.

 

1457. 2 I 1938. Hoje, enquanto me preparava para a Santa Comunhão,

Jesus exigiu que escrevesse mais, não somente sobre as graças que me

concede mas também das coisas exteriores, e isso para a consolação de

muitas almas.

 

1458. Depois desta noite de sofrimento, quando o sacerdote entrou na

cela com o Senhor Jesus, um ardor tão grande envolveu todo o meu ser que

sentia que se o sacerdote tivesse tardado um momento mais, o próprio Jesus

teria fugido da sua mão para vir ter comigo. Depois da Santa Comunhão o

Senhor disse-me:

 

1459 Se o sacerdote não Me tivesse trazido a ti, Eu Mesmo teria

chegado sob a mesma aparência. Minha filha, os teus sofrimentos desta

noite obtiveram a graça da Misericórdia para um grande número de

almas.

 

1460 Minha filha, devo dizer-te uma coisa. Respondi: Fala, Jesus, pois

estou sedenta das Tuas palavras. Não Me agrada que te deixes guiar pelas

murmurações das irmãs e que por isso não tenhas querido confessar-te

ao Padre Andrasz, na cela; deves saber que com isto lhes deste um

maior motivo para murmurar. Humilhando-me muito, pedi perdão ao

Senhor. Oh meu Mestre, repreende-me, não deixes passar nada e não

permitas que eu erre.

 

1461. Oh meu Jesus, quando não sou compreendida e a minha alma está

atormentada, desejo ficar-me um momento a sós Contigo. As palavras dos

mortais não me consolam; não me envies, oh Senhor, mensageiros que me

falem só por si mesmos e do que lhes dita a sua própria natureza. Tais

consoladores cansam-me muito.

 

1462. 1938. Hoje, quando o capelão trouxe o Senhor Jesus, da Hóstia

saíu luz que golpeou com um raio o meu coração, enchendo-o de um grande

fogo de amor. Jesus ensinou-me que devo responder com mais fidelidade às

inspirações da graça, que a minha vigilância deverá ser mais subtil.

 

1463. O Senhor fez-me conhecer, também, que muitos Bispos estavam

reflectindo sobre esta Festa e [também] um laico. Alguns estavam

entusiasmados pela obra divina, outros mostravam-se incrédulos, mas,

apesar de tudo, a Obra de Deus ia sair gloriosa. A Madre Irene e a

Madre Maria Josefa fizeram declarações a estes dignitários, mas não foram

interrogadas tanto pela Obra como por mim própria. Já não tinham dúvidas

quanto à Obra, porque a glória de Deus já era manifesta.

 

1464. Hoje sinto-me muito melhor, alegro-me de que possa dedicar mais

tempo à oração durante a Hora Santa. De repente ouvi a voz: Não estarás

de saúde e não adies o sacramento da confissão, porque isso não Me

agrada. Não prestes muita atenção às murmurações dos que te

rodeiam. Surpreendi-me, pois hoje sinto-me melhor, mas não pensei mais

nisso. Quando a irmã apagou a luz, comecei a Hora santa.

No entanto, poucos minutos depois, começou a passar-se algo com o

meu coração. Até às onze sofri silenciosamente, mas depois senti-me tão

mal que despertei a Ir. N. que compartilha o quarto comigo e que me deu

umas gotas que me aliviaram um pouco a dor, e assim pude deitar-me.

Agora compreendo a advertência do Senhor. Decidi chamar um sacerdote,

no dia seguinte, e revelar-lhe os segredos da minha alma. Mas isso não era

tudo, ao rezar pelos pecadores e oferecer todos os sofrimentos [sofri ataques

do demónio]. O espírito maligno não podia suportar isso.

 

1465. [Apareceu-me sob a forma de um espectro e este] espectro disseme: «Não rezes pelos pecadores, mas por ti mesma, porque serás

condenada». Sem fazer caso algum a Satanás, continuava a rezar com duplo

fervor pelos pecadores. O espírito maligno gritou de raiva: «Oh, se tivesse

poder sobre ti», e desapareceu. Soube que o meu sofrimento e a minha

oração tinham atado Satanás e livraram muitas almas das suas garras.

 

1466. Oh Jesus, amante da salvação humana, atrai todas as almas à vida

divina; que a grandeza da Tua Misericórdia seja glorificada aqui na Terra e

na eternidade. Oh grande amante das almas que em Tua inesgotável

compaixão abriste os maravilhosos mananciais da Misericórdia para que

fortifiquem as almas fracas durante esta peregrinação pela vida. A Tua

Misericórdia, como um fio de ouro, nos acompanhe durante toda a vida e

mantenha o contacto entre o nosso ser e Deus, em todos os aspectos; [Deus]

não necessita nada para ser feliz, pois tudo é unicamente obra da Sua

Misericórdia. Os meus sentidos perdem-se de alegria quando Deus me dá a

conhecer mais a fundo este Seu grande atributo, isto é, a Sua insondável

Misericórdia.

 

1467. 7 I 1938. Primeira sexta-feira do mês. De manhã, durante a Santa

Missa, vi por um momento o Salvador a sofrer. O que me admirou foi que

entre grandes tormentos Jesus estava tão tranquilo. Compreendi que era

uma lição para mim sobre como deveria comportar-me exteriormente nos

vários sofrimentos.

 

1468. Durante um momento mais longo senti o dor nas mãos, nos pés e

no lado. De repente vi certo pecador que beneficiou dos meus sofrimentos e

se aproximou do Senhor. Tudo pelas almas ávidas para que não morram de

fome.

 

1469. Hoje confessei-me ao capelão; Jesus consolou-me através

deste sacerdote. Oh minha Mãe, Igreja de Deus, tu és a verdadeira mãe que

compreende os seus filhos…

 

1470. Oh, que bom é que Jesus nos julgue segundo as nossas

consciências e não segundo as opiniões e os juízos dos homens. Oh

bondade inconcebível, vejo-Te cheio de bondade também no próprio Juízo.

 

1471. Embora esteja fraca e a natureza exija descanso, no entanto sinto

um sopro da graça para vencer-me a mim própria e escrever, escrever para o

consolo das almas que amo tanto e com as quais compartilharei toda a

eternidade. Desejo tão fervorosamente a vida eterna para elas que todos os

momentos livres, embora tão curtinhos, os aproveito para escrever, como

Jesus deseja.

 

1472. 8 I. Durante a Santa Missa tive um conhecimento instantâneo

sobre o Padre S., de que os nossos esforços comuns dão grande glória

a Deus e embora estejamos separados, muitas vezes estamos juntos, porque

nos une o mesmo fim.

 

1473. Oh meu Jesus, meu único desejo, hoje desejava receber-Te na

minha alma com um ardor maior que em qualquer outro momento, no

entanto a minha alma, precisamente hoje, está tão árida como nunca. A

minha fé fortalece-se, pois o fruto da Tua vinda, oh Senhor, será abundante.

Embora às vezes chegues sem tocar os meus sentidos, [porque] reinas na

parte mais elevada [de mim]; mas às vezes também os sentidos disfrutam da

Tua vinda.

 

1474. Muitas vezes, peço a Jesus a inteligência iluminada pela fé. Digoo ao Senhor nestas palavras: Jesus, dá-me inteligência, uma grande

inteligência, só para que possa conhecer-Te melhor; porque quanto

mais Te conheça, tanto mais fervorosamente Te amarei, Jesus. Peço-Te uma

inteligência poderosa para que possa compreender as coisas divinas e

elevadas; Jesus, dá-me uma grande inteligência para que chegue a conhecer

a Tua essência divina e a Tua vida interior, trinitária. Capacita a minha

mente com a Tua graça especial.

 

Embora eu conheça a capacidade da graça que me concede a Igreja, no

entanto existe um grande tesouro de graças que tu, oh Senhor, concedes

quanto Te pedimos. E se a minha súplica não Te agrada, Peço-Te que não

me dês inclinação para tal oração.

 

1475. Procuro conseguir a maior perfeição para ser útil à Igreja. A minha

união com a Igreja é muito ampla. Tanto a santidade como a queda de cada

alma repercute-se em toda a Igreja. Observando-me a mim própria e aos

que me estão próximos, compreendi que exerço grande influência sobre

outras almas, não através de algumas façanhas heróicas, impressionantes

por si mesmas, mas por pequenos acções como o movimento da mão, um

olhar e muitas outras coisas que não menciono, mas que actuam e se

reflectem noutras almas, como eu própria notei.

 

1476. Oh, que bom é que a Regra imponha um silêncio rigoroso nos

dormitórios e que não permita permanecer neles excepto por absoluta

necessidade. Actualmente ocupo um pequeno quarto onde dormimos duas,

mas na altura em que adoeci e tive de ficar de cama, experimentei o penoso

que é quando uma pessoa está continuamente no dormitório. A Ir. N. tinha

um trabalho manual com o qual estava sentada no dormitório quase todo o

tempo e outra irmã vinha ensiná-la nesse trabalho. É difícil descrever

quanto isso me cansava; tanto mais que quando se está fraca e se passou a

noite com dores, cada palavra ressoa no cérebro, especialmente quando os

olhos começam a fechar-se de sono. ¡Oh Regra, quanto amor há em ti!…

 

 

1477. Durante as vésperas, enquanto se cantava o Magnificat, com as

palavras “manifestou o poder do Seu braço”, um recolhimento mais

profundo envolveu a minha alma e conheci e compreendi que o Senhor

realizará em breve a Sua obra na minha alma. Agora não me admiro que o

Senhor não me tenha descoberto tudo antes.

 

1478. ¿Por que estás triste hoje, Jesus? Diz-me quem causou a Tua

tristeza? E Jesus respondeu-me: As almas eleitas que não possuem o Meu

espírito, que antes vivem a letra e a sobrepõem por cima do Meu

espírito, por cima do espírito do Amor. Fundei toda a Minha lei no

Amor, no entanto não vejo este amor nem sequer nos conventos. Por

isso o Meu Coração está cheio de tristeza.

 

1479. JMJ

Oh meu Jesus, entre terríveis amarguras e sofrimentos,

Sinto que o Teu Divino Coração me acaricia.

Como uma boa mãe me estreitas ao Teu seio

E já agora me fazes amar o que o véu oculta.

Oh meu Jesus, num terrível deserto,

entre o pavor,

O meu coração sente a luz do Teu olhar,

Que nenhuma tormenta poderá ofuscar,

E dás-me a certeza interior de que me amas muito, oh Deus.

Oh meu Jeus, entre tão grandes misérias da vida,

Tu, Jesus, iluminas-me como uma estrela e defendes-me do naufrágio.

E embora a minha miséria seja tão grande,

No entanto confio muitíssimo no poder da Tua Misericórdia.

Oh Jesus oculto, entre muitos combates da última hora,

A omnipotência da Tua graça desça sobre a minha alma

Para que, quando morrer, possa contemplar-Te

Cara a cara, como os eleitos no Céu.

Oh meu Jesus, rodeada de muitos perigos

Caminho pela vida com um grito de alegria, com a cabeça alta,

Já que contra o Teu Coração, oh Jesus, cheio de amor

Se estatelam todos os inimigos e se dissipam as trevas.

 

1480. Oh Jesus, esconde-me na Tua Misericórdia e protege-me de tudo o

que possa atemorizar a minha alma; que não fique desiludida a confiança

que depositei na Tua Misericórdia. Protege-me com a omnipotência da Tua

Misericórdia e, depois, julga-me com benevolência.

 

1481. Hoje, durante a Santa Missa, junto ao meu genuflexório vi o

Menino Jesus que parecia ter um ano, e que me pediu que Lhe pegasse ao

colo. Quando O tomei nos braços, estreitou-se ao meu coração e disse:

Estou bem junto do teu coração. Embora sejas tão pequeno, eu sei que és

Deus. ¿Por que tomas o aspecto de um menino para estares comigo?

Porque quero ensinar-te a infância espiritual. Quero que sejas muito

pequena, já que sendo pequenina levo-te junto do Meu Coração, assim

como tu Me tens neste momento junto ao teu coração. Nesse momento

fiquei só, mas ninguém poderá compreender o que sentia a minha alma,

estava toda submergida em Deus como uma esponja lançada no mar….

 

1482. Oh meu Jesus, Tu sabes que me expus a mais de um desgosto por

ter dito a verdade. Oh verdade, tantas vezes oprimida e que trazes quase

sempre uma coroa de espinhos. Oh verdade eterna, sustenta-me para que

tenha a coragem de dizer a verdade embora tenha que selá-la com a minha

vida. Oh Jesus, que difícil é crer nisto quando se vê que se prega uma coisa

e se vive outra.

 

1483. Por isso, durante os exercícios espirituais, depois de uma

demorada observação da minha vida, decidi cravar fortemente o meu olhar

em Ti, Jesus, modelo perfeitíssimo. ¡Oh eternidade que descobrirás muitos

segredos e mostrarás a verdade!…

 

1484. Oh Hóstia viva, sustém-me neste desterro para que possa seguir

fielmente os passos do Salvador. Não Te peço, oh Senhor, que me baixes da

cruz, mas que me permitas perseverar nela. Desejo ser pregada na cruz

como Tu, Jesus. Desejo experimentar todos os tormentos e as dores que

sofreste, desejo beber o cálice de amargura até à última gota.

A bondade de Deus

 

1485. A Misericórdia de Deus oculto no Santíssimo Sacramento; a voz

do Senhor que nos fala do trono da Misericórdia: Vinde a Mim todos.

Diálogo de Deus misericordioso com a alma pecadora

- Jesus: Não tenhas medo, alma pecadora, do teu Salvador; Eu sou o

primeiro a aproximar-me de ti, porque sei que por ti mesma não és

capaz de te elevar até Mim. Filhinha, não fujas do teu Pai; dispõe-te a

falar a sós com o teu Deus da Misericórdia, que quer dizer-te

pessoalmente palavras de perdão e encher-te com as Suas graças. Oh,

quanto Me é querida a tua alma. Acolhi-te em Meus braços e ficaste

gravada como uma profunda chaga no Meu Coração.

- A alma: Senhor, oiço a Tua voz que me chama a abandonar o mau

caminho, mas não tenho nem coragem nem força.

- Jesus: Eu sou a tua força, Eu te darei força para lutar.

- A alma: Senhor, conheço a Tua santidade e tenho medo de Ti.

- Jesus: ¿Por que tens medo, Minha filha, do Deus da Misericórdia?

A Minha santidade não Me impede de ser misericordioso contigo. Olha,

alma, por ti instituí o trono da Misericórdia na Terra e este trono é o

tabernáculo e deste trono da Misericórdia desejo descer ao teu coração.

Olha, não Me cerquei nem de séquito nem de guardas, tens o acesso

a Mim em qualquer momento, a qualquer hora do dia, quero falar

contigo e desejo conceder-te graças.

- A alma: Senhor, temo que não me perdoes um número tão grande de

pecados; a minha miséria enche-me de temor.

- Jesus: A Minha Misericórdia é maior do que a tua miséria e a do

mundo inteiro. ¿Quem mediu a Minha bondade? Por ti baixei do Céu à

Terra, por ti deixei cravar-me na cruz, por ti permiti que o Meu

Sagrado Coração fosse aberto por uma lança, e abri a Fonte da

Misericórdia para ti. Vem e aceita as graças desta Fonte com o vaso da

confiança. Jamais rejeitarei um coração arrependido, a tua miséria

desaparece no abismo da Minha Misericórdia. ¿Por que haverias de

disputar Comigo sobre a tua miséria? Faz-me o favor, dá-Me todas as

tuas penas e toda a tua miséria e Eu te encherei com os tesouros das

Minhas graças.

– A alma: Com a Tua bondade venceste, oh Senhor, o meu coração de

pedra; eis-me aqui aproximando-me com confiança e humildade do tribunal

da Tua Misericórdia, absolve-me Tu próprio pela mão do Teu representante.

Oh Senhor, sinto que a graça e a paz desceram à minha pobre alma. Sinto

que a Tua Misericórdia, Senhor, penetrou completamente a minha alma.

Perdoaste-me mais do que eu me atrevia a esperar, mais de quanto era capaz

de imaginar. A Tua bondade ultrapassou todos os meus desejos. E agora

convido-Te ao meu coração, cheio de gratidão por tantas graças. Andei por

maus caminhos, como o filho pródigo, mas Tu não deixaste de ser o meu

Pai. Multiplica em mim a Tua Misericórdia, porque vês como sou fraca.

-Jesus: Filha, não fales mais da tua miséria, porque Eu já não Me

recordo dela. Escuta, Minha filha, o que desejo dizer-te: estreita-te às

Minhas chagas e tira da Fonte da vida tudo o que o teu coração possa

desejar. Bebe copiosamente da Fonte da vida e não pares durante a

viagem. Olha o resplendor da Minha Misericórdia e não temas os

inimigos da tua salvação. Glorifica a Minha Misericórdia.

 

1486. Diálogo entre Deus misericordioso e a alma desesperada.

- Jesus: Oh alma submergida nas trevas, não desesperes, ainda nem

tudo está perdido, fala com o teu Deus que é o Amor e a própria

Misericórdia. Mas, desgraçadamente, a alma permanece surda perante a

chamada de Deus e submerge-se em trevas ainda maiores.

- Jesus volta a chamar: Alma, escuta a voz do teu Pai misericordioso.

Na alma surge a resposta: Para mim já não há Misericórdia. E cai em

trevas ainda mais densas, numa espécie de desespero que lhe dá a

antecipada sensação do Inferno e a faz completamente incapaz de se

aproximar de Deus.

Jesus fala à alma pela terceira vez, mas a alma está surda e cega, e

começa a firmar-se na dureza e no desespero. Então começam de certo

modo a esforçar-se as entranhas da Misericórdia de Deus e sem nenhuma

cooperação de parte da alma, Deus dá-lhe a sua graça definitiva. Se a

despreza, então Deus deixa-a no estado em que ela quer permanecer pela

eternidade. Esta graça sai do Coração misericordioso de Jesus e alcança a

alma com a sua luz e a alma começa a compreender o esforço de Deus, mas

a conversão depende dela. Ela sabe que esta graça é a última para si e se

mostra um pouco de boa vontade, embora seja mínimo, a Misericórdia de

Deus realizará o resto.

-[Jesus]: Aqui actua a omnipotência da Minha Misericórdia, feliz a

alma que aproveite esta graça.

- Jesus: Com quanta alegria se enche o Meu Coração quando voltas

para Mim. Vejo-te muito fraca, portanto tomo-te nos Meus próprios

braços e levo-te para a casa do Meu Pai.

- A alma, como se despertasse: ¿É possível que haja ainda Misericórdia

para mim? Pergunta cheia de temor.

- Jesus: Precisamente tu, filha Minha, tens um particular direito à

Minha Misericórdia. Permite à Minha Misericórdia actuar em ti, na

tua pobre alma; deixa entrar na tua alma os raios da graça, eles trarão

luz, calor e vida.

- A alma: No entanto, só ao recordar os meus pecados invade-me o

medo, e este terrível temor leva-me a duvidar da Tua bondade.

- Jesus: Deves saber, oh alma, que todos os teus pecados não feriram

tão dolorosamente o Meu coração como a tua actual desconfiança.

Depois de tantos esforços do Meu amor e da Minha Misericórdia não

confias na Minha bondade.

- A alma: Oh Senhor, salva-me Tu Mesmo, porque estou perecendo; sê o

meu Salvador. Oh Senhor, não sou capaz de dizer outra coisa, o meu pobre

coração está dilacerado, mas Tu, Senhor…

Jesus não permite à alma terminar estas palavras, levanta-a do chão, do

abismo da miséria, e num só instante a introduz na morada do Seu próprio

Coração e todos os pecados desaparecem num abrir e fechar de olhos,

destruídos pelo ardor do amor.

- Jesus: Aqui tens, oh alma, todos os tesouros do Meu Coração, toma

d'Ele tudo o que necessites.

- A alma: Oh Senhor, sinto-me inundada pela Tua graça, sinto que uma

vida nova entrou em mim e, sobretudo, sinto o Teu amor no meu coração e

isso me basta. Oh Senhor, glorificarei por toda a eternidade a omnipotência

da Tua Misericórdia; animada pela Tua bondade. Confiar-Te-ei toda a dor

do meu coração.

- Jesus: Diz tudo, filhinha, sem nenhumas restrições, porque te

escuta o Coração que te ama, o Coração do teu melhor amigo.

- Oh Senhor, agora vejo toda a minha ingratidão e a Tua bondade. Tu me

perseguias com a Tua graça e eu frustrava todos os Teus esforços; vejo que

merecia as profundezas do Inferno por ter deperdiçado tais graças.

Jesus interrompe as palavras da alma e [diz]: Não te absorvas na tua

miséria, és demasiada fraca para falar; é melhor que contemples o Meu

Coração cheio de bondade; impregna-te dos Meus sentimentos e

procura viver em mansidão e humildade. Sê misericordiosa com os

outros, como Eu sou misericordioso contigo, e quando sentires que as

tuas forças se debilitam vem à Fonte da Misericórdia e fortalece a tua

alma, para assim não vires a desfalecer no caminho.

- A alma: Agora compreendo a Tua Misericórdia que me protege como

uma núvem luminosa e me conduz à casa do meu Pai, salvando-me do

terrível Inferno que mereci, não uma mas mil vezes. Oh Senhor, a

eternidade não me bastará para glorificar dignamente a Tua Misericórdia

insondável, a Tua compaixão por mim.

 

1487. Diálogo de Deus misericordioso com a alma que sofre

- Jesus: Oh alma, vejo-te tão sofredora, vejo que nem sequer tens

forças para falar Comigo. Por isso, serei Eu mesmo a falar contigo, oh

Alma. Embora os teus sofrimentos sejam os maiores, não percas a

tranquilidade de espírito nem desanimes. Mas diz-Me, Minha filhinha,

quem se atreveu a ferir o teu coração? Diz-Me tudo, conta-Me tudo, sê

sincera Comigo, descobre-Me todas as feridas do teu coração. Eu hei de

curá-las e o teu sofrimento se convertirá em fonte da tua santificação.

- A alma: Tenho sofrimentos tão grandes e variados que não sei do que

falar primeiro nem como exprimir tudo isto.

- Jesus: Fala-Me com simplicidade, como se fala entre amigos. DizMe então, Minha filhinha, ¿o que é que te impede no caminho da

santidade?

- A alma: A falta de saúde detém-me no caminho da santidade, não

posso cumprir as minhas obrigações, pois sou como um servo inútil. Não

posso mortificar-me nem fazer jejuns rigorosos, como faziam os santos;

outras pessoas não acreditam que estou doente, e ao sofrimento fisico unese o moral, donde me provêm muitas humilhações. Vês, Jesus, ¿Como se

pode chegar a ser santa em tais condições?

- Jesus: Filhinha, é verdade, tudo isso é sofrimento, mas não há outro

caminho para o Céu excepto o caminho da cruz. Eu próprio fui o

primeiro a percorrê-lo. Deves saber que este é o caminho mais curto e o

mais seguro.

- A alma: Senhor, há outra nova barreira e dificuldade no caminho da

santidade: por Te ser fiel perseguem-me e fazem-me sofrer muito.

- Jesus: Deves saber que o mundo te odeia, porque não és deste

mundo. Primeiro, perseguiu-Me a Mim. Essa perseguição é sinal de que

segues os Meus passos com fidelidade.

- A alma: Senhor, desanima-me, também, que nem os meus superiores

nem o confessor entendem os meus sofrimentos interiores. As trevas

obscureceram a minha mente, ¿Como avançar? Tudo isto me desanima

muito e penso que as alturas da santidade não são para mim.

- Jesus: Pois, Minha filhinha, desta vez muito Me contaste. Eu sei

que é um grande sofrimento o de não ser compreendida e, sobretudo,

pelos que amamos e aos quais manifestamos uma grande sinceridade.

Mas que te seja suficiente que Eu te compreenda em todas as tuas

penas e tuas misérias. Agrada-Me a tua profunda fé que, apesar de

tudo, tens nos Meus representantes, mas deves saber que os homens

não podem compreender plenamente uma alma, porque isso ultrapassa

as suas possibilidades. Por isso Eu Mesmo fiquei na Terra para

consolar o teu coração aflito e fortalecer a tua alma, para que não

desfaleças no caminho. Dizes que grandes trevas obscurecem a tua

mente, pois, ¿porque em tais momentos não vens até Mim que sou a luz

e num só instante posso infundir na tua alma tanta lucidez e tanta

compreensão da santidade, que nunca aprenderias em nenhum livro,

nem nenhum confessor seria capaz de ensinar nem iluminar assim a

alma? Fica ainda a saber que, por essas trevas de que te queixas, passei

primeiro Eu por ti, no Horto das Oliveiras. A minha alma esteve

oprimida por uma tristeza mortal e dou-te apenas uma pequena parte

destes sofrimentos devido ao Meu especial amor por ti e pelo alto grau

de santidade que te destino no Céu. A alma que sofre é a que mais

próxima está do Meu Coração.

 

- A alma: Mais uma coisa, Senhor: ¿que fazer se me desprezam e

rejeitam os homens, e especialmente aqueles com quem tinha mais direito

de contar e até nos momentos de maior necessidade?

- Jesus: Minha filhinha, faz o propósito de não contar nunca com os

homens. Farás muitas coisas se te abandonares totalmente à Minha

vontade e disseres: Faça-se em mim, oh Deus, não segundo o que eu

quiser, mas segundo a Tua vontade. Deves saber que estas palavras

pronunciadas do fundo do coração, num só instante elevam a alma aos

cumes da santidade. Tenho especial predilecção por tal alma, que Me

rende uma grande glória; tal alma enche o Céu com o perfume das suas

virtudes; fica sabendo que a força que tens em ti para suportar os

sofrimentos, a deves à frequente Santa Comunhão; pois vem muitas

vezes a essa Fonte da Misericórdia, para recolher, com o vaso da

confiança, qualquer coisa de que necessites.

- A alma: Graças, oh Senhor, pela Tua inconcebível bondade, por Te

teres dignado ficar connosco neste exílio, e connosco habitares como o

Deus da Misericórdia, derramando à nossa volta o resplendor da Tua

compaixão e bondade. Foi à luz dos raios da Tua Misericórdia que

compreendi quanto me amas.

 

1488. Diálogo entre Deus misericordioso e a alma que aspira à

perfeição.

- Jesus: São-Me agradáveis os teus esforços, oh alma que aspiras à

perfeição. Mas ¿por que é que com tanta frequência te vejo triste e

abatida? Diz-Me, Minha filhinha, ¿que significa esta tristeza e qual é a

sua causa?

- A alma: Senhor, a minha tristeza deve-se a que, apesar dos meus

sinceros propósitos, caio continuamente e sempre nos mesmos erros. Faço

os propósitos de manhã e, de noite, vejo quanto me afastei deles.

- Jesus: Vês, filhinha, o que és por ti própria, e a causa das tuas

quedas está em que contas demasiadamente contigo mesma e te apoias

muito pouco em Mim. Mas isto não deve entristecer-te excessivamente;

estás a tratar com o Deus da Misericórdia, que a tua miséria não há de

esgotar, pois não limitei o número do Meu perdão.

 

- A alma: Sim, sei tudo isso, mas assaltam-me grandes tentações que me

despertam várias dúvidas interiores e tudo me perturba e desanima.

- Jesus: Minha filhinha, tens de saber que o maior obstáculo para a

santidade é o desânimo e uma injustificada inquietação, que te tiram a

possibilidade de te exercitares nas virtudes. Todas as tentações juntas

não deveriam, nem por um instante, perturbar a tua paz interior e a

irritabilidade e o desânimo são os frutos do teu amor próprio. Não

deves desanimar mas procurar que o Meu amor reine em lugar do teu

amor próprio. Portanto, confiança, Minha filhinha; não deves

desanimar, [mas] vir até Mim para pedir perdão, porque Eu estou

sempre disposto a perdoar-te. Cada vez que Me pedes perdão,

glorificas a Minha Misericórdia.

- A Alma: Eu reconheço o que é mais perfeito e o que Te agrada mais,

mas enfrento grandes obstáculos para praticar o que sei.

- Jesus: Minha filhinha, a vida na Terra é uma luta, e uma grande

luta pelo Meu reino, mas não tenhas medo, porque não estás só. Eu

sustento-te sempre, portanto apoia-te no Meu braço e luta sem ter

medo de nada. Toma o vaso da confiança e recolhe da Fonte da Vida

não só para ti, mas pensando também noutras almas, especialmente

naquelas que não têm confiança na Minha bondade.

 

- A alma: Oh Senhor, sinto que o meu coração se enche do Teu amor,

que os raios da Tua Misericórdia e do Teu amor penetraram a minha alma.

Eis-me aqui, Senhor, pronta para responder à Tua chamada e conquistar as

almas, sustentada pela Tua graça; estou disposta a seguir-Te, Senhor, não

somente no Tabor, mas também no Calvário. Desejo conduzir as almas à

Fonte da Tua Misericórdia para que em todas as almas se reflicta o

resplendor dos raios da Tua Misericórdia, para que a casa de nosso Pai fique

cheia; e quando o inimigo comece a atirar flechas contra mim, então cobrirme-ei com a Tua Misericórdia, como com um escudo.

 

1489. Diálogo entre Deus misericordioso e a alma perfeita

- A alma: Meu Senhor e meu Mestre, desejo falar Contigo.

- Jesus: Fala, porque te escuto em qualquer momento, querida

filhinha; espero-te sempre. ¿De que desejas falar Comigo?

- A Alma: Senhor, primeiro derramo o meu coração a Teus pés como

perfume de agradecimento por tantas graças e benefícios de que me

cumulas continuamente, os quais não conseguiria enumerar mesmo que

quisesse. Recordo somente que não houve um só momento na minha vida

em que não tenha experimentado a Tua protecção e a Tua bondade.

- Jesus: Agrada-Me falar contigo e o teu agradecimento abre-te

novos tesouros de graças, mas, Minha filhinha, falemos talvez não tão

geralmente, mas em pormenor sobre o que mais pesa sobre o teu

coração; falemos confidencial e sinceramente como dois corações que se

amam mutuamente.

 

- A alma: Oh meu Senhor misericordioso, há segredos no meu coração

dos quais não sabe nem saberá ninguém, excepto Tu, porque embora

quisesse dizê-los ninguém me compreenderia. O Teu representante sabe

alguma coisa, pois confesso-me com ele, mas só na medida em que sou

capaz de lhe desvendar esses segredos; o resto fica entre nós pela

eternidade, ¡oh meu Senhor! Cobriste-me com o manto da Tua Misericórdia

perdoando-me sempre os pecados. Nem uma só vez me negaste o Teu

perdão, mas compadecendo-Te de mim, sempre me ofereceste uma vida

nova, a vida da graça. Para que não tenha dúvidas em nada, confiaste-me à

carinhosa protecção da Tua Igreja, essa terna e verdadeira mãe que em Teu

nome me confirma nas verdades da fé e vela para que eu nunca erre. E

especialmente no tribunal da Tua Misericórdia a minha alma experimenta

todo um mar de benevolência. Aos Anjos caídos não lhes deste tempo de

fazer penitência, não lhes prolongaste o tempo da Misericórdia. Oh meu

Senhor, no caminho da minha vida colocaste sacerdotes santos, que me

indicam a rota certa. Jesus, na minha vida há um segredo mais, o mais

profundo, mas também o mais querido para mim: és Tu Mesmo sob a

espécie de pão, quando vens ao meu coração. Aqui está todo o segredo da

minha santidade. Aqui, o meu coração unido ao Teu, faz-se um, aqui já não

há nenhum segredo, porque tudo o que é Teu é meu e tudo o que é meu é

Teu.

 

Eis aqui a omnipotência e o milagre da Tua Misericórdia. Embora se

unissem todas as línguas humanas e angélicas, não encontrariam palavras

suficientes para exprimir este mistério de Amor e da Tua Misericórdia

insondável. Quando considero este mistério de Amor, o meu coração entra

num novo êxtase de amor e falo-Te de tudo, Senhor, calando, porque o

linguagem do amor é sem palavras, porque não lhe escapa nem uma só

palpitação do meu coração. Oh Senhor, apesar de que Te humilhaste tanto, a

Tua grandeza multiplicou-se na minha alma e por isso na minha alma

despertou um amor ainda maior por Ti, único objecto do meu amor, porque

a vida do amor e da união manifestam-se exteriormente como: perfeita

pureza, profunda humildade, suave mansidão e grande fervor pela salvação

das almas. Oh meu dulcíssimo Senhor, que velas por mim em cada

momento e me inspiras como devo portar-me em cada circunstância.

Quando o meu coração hesita entre uma e outra coisa Tu Mesmo intervéns,

uma e outra vez, para solucionar o assunto.

 

Oh, quantas e inumeráveis

vezes, com uma luz repentina me fizeste conhecer o que mais Te agradava.

– Oh, que numerosos instantes de secreto perdão, dos quais ninguém sabe.

Muitas vezes insuflaste na minha alma força e coragem para avançar. Tu

próprio eliminavas as dificuldades [375] do meu caminho intervindo

directamente na actuação dos homens. Oh Jesus, tudo o que Te disse é uma

pálida imagem da realidade que há no meu coração. Oh meu Jesus, quanto

desejo a conversão dos pecadores. Tu sabes o que faço por eles para os

conquistar para Ti. Dói-me enormemente cada ofensa feita contra Ti. Tu

sabes que não poupo nem forças, nem saúde, nem vida, em defesa do Teu

reino. Embora na Terra os meus esforços sejam invisíveis, não têm menos

valor a Teus olhos. Oh Jesus, desejo atrair as almas à Fonte da Tua

Misericórdia para que tomem a vivificante água de vida com o vaso da

confiança. Se a alma deseja experimentar uma maior Misericórdia de Deus,

aproxime-se a Deus com grande confiança, e se a sua confiança é sem

limites, a Misericórdia de Deus será para ela também sem limites. Oh meu

Senhor, que conheces cada batimento do meu coração, Tu sabes com que

ardor desejo que todos os corações pulsem somente por Ti, que cada alma

glorifique a grandeza da Tua Misericórdia.

 

- Jesus: Minha filha amadíssima, delícia do Meu coração, a tua

conversação é-Me mais querida e mais agradável que o cântico dos

anjos. Todos os tesouros do Meu Coração estão abertos para ti. Toma

deste Coração tudo o que necessites para ti e para o mundo inteiro. Por

teu amor retiro os justos castigos que a humanidade mereceu. Um só

acto de puro amor por mim, é-Me mais agradável que milhares de

hinos de almas imperfeitas. Um só suspiro de amor recompensa-Me de

tantas injúrias feitas pelos ímpios. A Tua mais pequena accão, isto é,

um acto de virtude adquire a Meus olhos um valor imenso, pelo grande

amor que tens por Mim. Numa alma que vive exclusivamente do Meu

amor, Eu reino como no Céu. O Meu olhar vela sobre ela dia e noite e

encontro nela a Minha complacência e o Meu ouvido está atento às

súplicas e ao murmúrio do seu coração e muitas vezes anticipo os seus

pedidos. Oh filhinha amada por Mim especialmente, menina dos Meus

olhos, descansa um momento junto ao Meu Coração e saboreia aquele

amor do qual te regozijarás durante toda a eternidade.

 

Mas, filha, ainda não estás na Pátria; por isso vai, fortalecida com a

Minha graça, luta pelo Meu reino nas almas dos homens, mas luta

como uma filha do Rei e lembra-te que depressa passarão os dias do

exílio e, com eles, a oportunidade de adquirir méritos para o Céu.

Espero de ti, Minha filhinha, um grande número de almas que

glorifiquem a Minha Misericórdia durante toda a eternidade. Minha

filhinha, para poderes responder dignamente à Minha chamada,

recebe-Me todos os dias na Santa Comunhão - Ela te dará força…

 

Jesus, não me deixes sozinha a sofrer. Tu sabes, Senhor, como sou fraca.

Sou um abismo de miséria, sou o próprio nada. Por isso, ¿que haveria de

estranho se me deixasses só e eu caísse? Sou uma recém-nascida, Senhor,

por isso não sei orientar-me por mim mesma. No entanto, para lá de todo o

abandono, confio, e apesar dos meus sentimentos, confio e estou-me

transformando completamente em confiança, muitas vezes apesar do que

sinto. Não diminuas nenhuma das minhas aflições, mas dá-me força para as

suportar. Faz de mim o que quiseres, Senhor, mas dá-me a graça de poder

amar-Te em cada acontecimento e circunstância. Senhor, não diminuas o

meu cálice de amargura, mas dá-me fortaleza para que possa bebê-lo até ao

fim.

 

Oh Senhor, às vezes, elevas-me para o resplendor das visões e outras

vezes submerges-me numa noite escura e no abismo da minha nulidade; e

então a alma sente-se como se estivesse só num grande deserto… No

entanto, acima de tudo confio em Ti, Jesus, porque és imutável. A

disposição do meu ânimo é variável, mas a Tua é sempre igual, cheia de

Misericórdia.

 

1490. Oh Jesus, Fonte da vida, santifica-me. Minha força, fortalece-me.

Única luz da minha alma, ilumina-me. Meu Mestre, guia-me; confio-me a

Ti como o recém-nascido ao amor da sua mãe.

Embora tudo conspire contra mim e embora me falte Terra debaixo dos

pés, estarei tranquila junto ao Teu Coração. Tu és sempre para mim a mais

terna das mães e estás acima de todas as mães. Cantar-Te-ei a minha dor

com o silêncio e Tu me compreenderás melhor do que se me exprimisse de

qualquer outro modo…

 

1491. Hoje o Senhor visitou-me e disse-me: Minha filha, não tenhas

medo do que te sucederá, nada te darei acima das tuas forças; conheces

o poder da Minha graça, que isso te baste. Depois destas palavras o

Senhor deu-me a entender mais profundamente a actuação da sua graça.

 

1492. Antes da Santa Comunhão Jesus fez-me conhecer que não devo

em absoluto dar crédito às palavras de uma das irmãs, porque a Ele não lhe

agrada a sua astúcia e a sua malícia. Minha filha, não manifestes a essa

pessoa nem as tuas ideias nem a tua opinião. Pedi perdão ao Senhor pelo

que não Lhe agradava nessa alma e supliquei que me fortaleça com a sua

graça no momento em que ela venha de novo falar comigo. Tinha-me

perguntado muitas coisas às quais lhe tinha respondido com todo o amor de

irmã e como prova de que falava sinceramente, tinha-lhe dito algumas

coisas experimentadas por mim pessoalmente, no entanto as intenções

daquela alma diferiam das palavras que tinha nos lábios…

 

1493. Oh meu Jesus, desde o momento em que me abandonei totalmente

a Ti, não penso absolutamente em mim. Podes fazer comigo o que Te

agradar, penso numa só coisa, isto é: ¿o que é que preferes?, ¿como é, oh

Senhor, que posso agradar-Te? Aguço o ouvido e estou atenta a cada

ocasião; não importa se exteriormente, nesse caso, seja julgada de outro

modo…

 

1494. 15 I 1938. Hoje, quando me visitou essa mesma irmã pela qual

tinha sido avisada pelo Senhor, preparei-me espiritualmente para a luta.

Embora isso me custasse muito, não me afastei em nada da recomendação

do Senhor; no entanto, quase uma hora depois, quando a irmã ainda não

pensava retirar-se, pedi interiormente a Jesus que me socorresse. Então ouvi

na alma uma voz: Não tenhas medo, estou a ver-te neste momento e

ajudo-te; envio agora mesmo duas irmãs que virão visitar-te e então

será fácil continuares a conversa. E naquele mesmo momento entraram

duas irmãs, e então a conversa tornou-se muito fácil, embora ainda se

prolongasse por meia hora.

 

1495. Oh, que bom é invocar a ajuda de Jesus durante uma conversa.

Oh, que bom é pedir para si graças actuais nos momentos de tranquilidade.

O que me dá maior receio são as conversas supostamente confidenciais; há

que ter então muita luz de Deus para poder conversar com proveito para

aquela alma e para si próprio. Deus concede a Sua ajuda, mas há que pedila; que ninguém confie demasiadamente em si mesmo.

 

1496. 17 I 1938. Hoje de manhã cedo, a minha alma encontra-se em

trevas. Não consigo elevar-me até Jesus, sinto-me como que abandonada

por Ele. Não pedirei luz às criaturas, porque sei que elas não me podem

iluminar se Jesus quiser manter-me na escuridão. Submeto-me à Sua santa

vontade e sofro; no entanto a luta está a aumentar. Durante as vésperas quis

unir-me às irmãs, na oração. Quando em pensamento me transportei para a

capela, o meu espírito submergiu-se em trevas ainda maiores.

 

 

1497. Apoderou-se de mim um desânimo para todas as coisas. Então

ouvi a voz de Satanás: «Olha, que contraditório é tudo o que te dá Jesus:

faz-te fundar um convento e envia-te uma doença; diz-te que te esforces

para instituir a Festa da Misericórdia, mas o mundo de todo não quer tal

Festa. ¿Por que rezas por essa Festa? Essa Festa é tão inoportuna». A minha

alma cala e reza com um acto de boa vontade sem entrar em diálogo com o

espírito das trevas. No entanto, apoderou-se de mim um tédio tão estranho

pela vida, que tive que fazer um grande esforço de vontade para a aceitar…

E oiço outra vez as palavras do tentador: «Pede a morte para ti, amanhã,

depois da Santa Comunhão. Deus ouvir-te-á, pois escutou-te tantas vezes e

deu-te tudo o que lhe pediste». Calei-me e rezei com um acto de vontade,

ou melhor submetendo-me a Deus pedindo-Lhe interiormente que não me

abandone neste momento. São já onze da noite, todas as irmãs estão a

dormir nas suas celas, somente a minha alma luta com grande esforço.

 

O tentador continua: «?Que te importam as outras almas? Tu deves rezar

somente por ti mesma. Os pecadores converter-se-ão sem as tuas preces.

Vejo que neste momento estás sofrendo muito, e eu dou-te um conselho do

qual dependerá a tua felicidade: não fales nunca da Divina Misericórdia e

nunca convides especialmente os pecadores a confiar na Misericórdia,

porque eles merecem um justo castigo. Outra coisa importantíssima: não

fales aos confessores do que passa na tua alma e especialmente a esse Padre

extraordinário e àquele sacerdote de Vilna. Eu conheço, sei quem são, por

isso quero precaver-te sobre eles. Trata de ser uma boa irmã, basta viver

como as outras, ¿por que te expões a tantas dificuldades?»

 

1498. Eu continuo calada e com um acto de vontade persevero

totalmente em Deus, apesar de um gemido se escapar do meu coração. Por

fim o tentador afastou-se e eu, extenuada, adormeci imediatamente. De

manhã, quando recebi a Santa Comunhão e entrei imediatamente na minha

cela, caí de joelhos e renovei o acto de submissão em tudo à santíssima

vontade de Deus. Peço-Te, Jesus, dá-me força para lutar, que se faça em

mim segundo a Tua santíssima vontade. A minha alma enamorou-se da Tua

santíssima vontade.

 

1499. Nesse momento vi Jesus que me disse: Estou contente com o que

estás a fazer e continua tranquila se fizeres sempre tudo o que está ao

teu alcance para toda esta Obra da Misericórdia. Tem a máxima

sinceridade com o confessor. Satanás não tirou nenhum proveito por te

ter tentado, porque não entraste em diálogo com ele. Continua assim.

Hoje deste-Me uma grande glória lutando com tanta fidelidade. Que o

teu coração se consolide e confirme na certeza de que Eu estou sempre

contigo, mesmo no momento de luta em que Me não sintas.

 

1500. Hoje o amor de Deus transporta-me para outro mundo. Estou

submergida no amor, amo e sinto que sou amada, experimentando isto em

plena consciência. A minha alma abisma-se no Senhor, conhecendo a

grande Majestade de Deus e a minha própria pequenez, mas mesmo este

conhecimento aumenta a minha felicidade…

Este conhecimento é muito vivo na alma, muito forte e ao mesmo tempo

tão doce.

 

1501. Como agora não posso dormir bem de noite, porque as dores não

mo permitem, visito todas as igrejas e capelas e adoro, embora seja por

pouco tempo, o Santíssimo Sacramento. Quando regresso à minha capela,

então rezo pelos sacerdotes que proclamam e divulgam a Misericórdia de

Deus. Rezo também por intenção do Santo Padre e para pedir a

Misericórdia de Deus para os pecadores; são estas as minhas noites.

 

1502. 20 I [1938]. Nunca sou servil com ninguém. Não suporto

adulações e a humildade é somente a verdade, numa verdadeira humildade

não há servilismo. Embora me considere a mais pequena de todo o

convento, por outro lado gozo a dignidade de ser esposa de Jesus… Não

importa que às vezes oiça dizer que sou soberba, pois sei bem que o juízo

humano não consegue descobrir os motivos das acções.

 

1503. No início da minha vida religiosa, imediatamente depois do

noviciado, comecei a exercitar-me na humildade de modo especial, isto é,

não me bastavam as humilhações que Deus me enviava, mas eu mesma as

procurava e, num fervor exagerado, às vezes apresentava-me às Superioras

como não era na realidade e nem sequer fazia ideia de tais misérias. Mas,

pouco depois, Jesus ensinou-me que a humildade é somente a verdade.

Desde aquele momento mudei a minha maneira de pensar, seguindo

fielmente a luz de Jesus. Compreendi que se uma alma está com Jesus, Ele

não lhe permitirá errar.

 

1504. Senhor, Tu sabes que desde a juventude sempre procurava a Tua

vontade e, ao conhecê-la, tentava cumpri-la. O meu coração estava

acostumado à inspiração do Espírito Santo a quem permaneço fiel. No meio

do maior ruído, oiço sempre a voz de Deus, sei sempre o que se passa

dentro da minha [alma]… .

 

1505. Esforço-me para alcançar a santidade, já que com ela serei útil à

Igreja. Faço contínuos esforços na prática das virtudes, procuro imitar

fielmente Jesus e esta série de actos quotidianos de virtude, silenciosos,

ocultos, quase imperceptíveis, se forem cumpridos com grande amor,

coloco-os no tesouro da Igreja de Deus para proveito comum das almas.

Sinto interiormente como se fosse responsável por todas as almas, sinto

claramente que vivo não somente para mim, mas [para] toda a Igreja…

 

1506. Oh Deus incompreensível, o meu coração desfaz-se de alegria

porque me permitiste penetrar nos mistérios da Tua Misericórdia. Tudo

começa com a Tua Misericórdia e tudo termina na Tua Misericórdia…

 

1507. Toda a graça procede da Misericórdia e a última hora está cheia de

Misericórdia para connosco. Que ninguém duvide da bondade de Deus;

embora os seus pecados sejam negros como a noite, a Misericórdia de Deus

é mais forte do que a nossa miséria. Uma só coisa é necessária: que o

pecador entreabra, ainda por pouco que seja, as portas do seu coração aos

raios da graça misericordiosa de Deus e, então, Deus realizará o resto. Mas,

infeliz a alma que, mesmo na última hora, feche a porta à Misericórdia de

Deus. Tais almas mergulharam Jesus numa tristeza mortal no Horto das

Oliveiras; apesar disso, do Seu compassivíssimo Coração brotou a

Misericórdia de Deus.

 

1508. 21 I [1938]. Jesus, seria terrível sofrer se não existisses, mas és

justamente Tu, Jesus, pregado na cruz, que me dás fortaleza e sempre

acompanhas a alma que sofre. As criaturas abandonam o homem que sofre,

mas Tu, oh Senhor, és fiel…

 

1509. Na doença, acontece muitas vezes, como com Job no Antigo

Testamento: quando estamos de pé e podemos trabalhar, tudo vai bem e

corre pelo melhor, mas se Deus envia uma doença, o número de amigos

começa a diminuir. No entanto, ainda alguns se interessam pelo nosso

sofrimento. Mas se Deus enviar uma doença mais longa, também estes

amigos fiéis começam a abandonar-nos, pouco a pouco. Vêm visitar-nos

com menos frequência e muitas vezes as suas visitas causam-nos ainda mais

pesar. Em vez de nos consolarem, censuram-nos em algumas coisas, o que

ainda é motivo de mais sofrimento. E assim a alma, como a de Job, fica só;

mas felizmente não desolada, porque Jesus Hóstia está com ela.

Depois de ter passado por estes sofrimentos, estive toda a noite em

amargura. De manhã, quando o capelão me trouxe a Santa Comunhão, tive

que me dominar com grande esforço de vontade para não gritar alto:

 

Benvindo verdadeiro, único Amigo. A Santa Comunhão dá-me força para

sofrer e lutar. Quero dizer ainda uma coisa que experimentei: quando Deus

nos envia nem a morte nem a saúde, e isso se prolonga durante anos, as

pessoas que nos rodeiam acostumam-se e tratam-nos como se não

estivessemos doentes. Então começa uma série de martírios silenciosos;

somente Deus sabe quantos sacrifícios lhe oferece tal alma.

 

1510. Uma noite em que me encontrava tão mal que não sabia como

voltar à cela, de repente encontrei a Irmã Assistente que estava dizendo a

uma das Irmãs Directoras que fosse à porta com um encargo; mas quando

me viu disse-lhe: Não, irmã, não vá, vai a Ir. Faustina, porque está a chover

muito. Respondi que sim; fui e cumpri o que me foi mandado, mas só Deus

sabe [o que me custou]. Este é, somente, um exemplo entre muitos. Às

vezes parece que uma irmã do segundo coro é de pedra, embora ela também

seja um ser humano, tenha coração e sentimentos…

 

1511. Em tais casos o próprio Deus vem em nosso auxílio, porque de

outro modo a alma não conseguiria suportar estas pequenas cruzes, das

quais ainda mal comecei a escrever e nem penso escrever agora, mas

quando tenha inspiração escreverei…

 

1512. Hoje durante a Santa Missa vi Jesus, sofrendo como se agonizasse

na cruz, que me disse:

Minha filha, medita frequentemente sobre os Meus sofrimentos que

padeci por ti e nada do que tu sofres por Mim te parecerá excessivo.

Agradas-Me mais quando contemplas a Minha dolorosa Paixão; une os

teus pequenos sofrimentos à Minha dolorosa Paixão, para que

adquiram um valor infinito diante da Minha Majestade.

 

1513. Hoje Jesus disse-me: Muitas vezes Me chamas teu Mestre. Isso

é agradável ao Meu Coração, mas não esqueças, discípula Minha, que

és discípula de um mestre crucificado. Que te baste esta só palavra. Tu

sabes o que se encerra na cruz.

 

1514. Aprendi que a maior força está oculta na paciência. Vejo que a

paciência conduz sempre à vitória, embora não imediatamente, mas a

vitória manifestar-se-á anos depois. A paciência está unida à mansidão.

 

1515. Hoje passei toda a noite com Jesus no calabouço. Foi uma noite de

adoração. As irmãs estão a rezar na capela. Eu uno-me a elas

espiritualmente, porque a falta de saúde não me permite ir à capela. Mas

como não pude dormir toda a noite passei-a, com Jesus, no calabouço. Jesus

fez-me saber os sofrimentos que ali tinha padecido. O mundo conhecê-los-á

no dia do Juízo.

 

1516. Diz às almas, Minha filha, que lhes dou como defesa a Minha

Misericórdia, luto por elas sozinho, suportando a justa ira do Meu Pai.

 

1517. Minha filha, diz que esta Festa brotou das entranhas da

Minha Misericórdia, para consolo do mundo inteiro.

 

1518. Oh Jesus, minha paz e descanso, peço-Te por esta irmã, ilumina-a

para que mude interiormente, sustém-na com firmeza com a Tua graça, para

que também ela chegue à perfeição…

 

1519. Hoje, antes da Santa Comunhão, o Senhor disse-me: Minha filha,

hoje fala abertamente da Minha Misericórdia com a Superiora, porque

de entre as Superioras foi ela a que participou mais em divulgar a

Minha Misericórdia. E efectivamente, de tarde, veio a Madre e falámos

sobre esta Obra de Deus. A Madre disse-me que as imagens não tinham

saído muito bem e que pouco se vendiam. «Mas eu própria», disse-me,

«fiquei com bastantes e distribuo-as onde julgo oportuno, e faço o que

posso para que a Obra da Misericórdia se desenvolva». Quando se afastou,

o Senhor disse-me quanto lhe é querida essa alma.

 

 

1520. Hoje o Senhor disse-me: Abri o Meu Coração como uma Fonte

viva de Misericórdia. Que dela extraiam vida todas as almas. Que se

aproximem com grande confiança a este mar de Misericórdia. Os

pecadores obterão a justificação e os justos serão fortalecidos no bem.

Ao que depositou a sua confiança na Minha Misericórdia, na hora da

morte derramar-lhe-ei na alma a Minha paz divina.

 

1521. O Senhor disse-me: Minha filha, não deixes de proclamar a

Minha Misericórdia para alíviar o Meu Coração, que arde no fogo da

compaixão pelos pecadores. Diz aos Meus sacerdotes que os pecadores

mais endurecidos se arrependerão com as suas palavras, quando eles

falarem da Minha Misericórdia insondável, da compaixão que tenho

por eles no Meu Coração. Aos sacerdotes que proclamem e louvem a

Minha Misericórdia, darei uma força prodigiosa e ungirei as suas

palavras e tocarei os corações dos que os oiçam.

 

1522. A vida comunitária é difícil por si, mas é duas vezes mais difícil

familiarizar-se com almas soberbas. Oh Deus, concede-me uma fé mais

profunda para que em cada irmã possa sempre ver a Tua santa imagem, que

está gravada na sua alma….

 

1523. Amor eterno, chama pura, arde incessantemente no meu coração e

diviniza todo o meu ser segundo o Teu eterno desígnio, pelo qual me

chamaste à existência e a participar na Tua eterna felicidade. Oh Senhor

misericordioso, cumulaste-me destes dons unicamente por Misericórdia;

reconhecendo que tudo o que tenho me foi dado gratuitamente, adoro a Tua

bondade inconcebível com a mais profunda humildade. Senhor, o assombro

inunda-me o coração [ao pensar] que Tu, Senhor absoluto, não necessitas de

ninguém e, no entanto, por puro amor Te humilhas até nós. Nunca deixo de

me assombrar quando o Senhor entra numa familiaridade tão estreita com a

Sua criatura; é, de novo, a Sua bondade insondável. Começo sempre esta

meditação e nunca a termino, porque o meu espírito se submerge n’Ele

totalmente. Que delícia é amar com todas as forças da sua alma e, ao

mesmo tempo, ser amada ainda mais, senti-lo e vivê-lo com plena

consciência do seu ser, não havendo palavras para o exprimir.

 

1524. 25 I [1938]. Meu Jesus, como és bom e paciente; às vezes olhasnos como criancinhas. Às vezes rogamos-Te e não sabemos sequer o que

pedimos, porque no final da prece, quando nos dás o que Te suplicámos,

não queremos aceitá-lo.

 

1525. Um dia, veio ver-me certa irmã e pediu-me para rezar por ela e

disse-me que não podia resistir mais se [a situação] se prolongasse. «¡Reze,

irmã!» Respondi-Lhe que o faria; comecei uma novena à Divina

Misericórdia e soube que Deus lhe concederia a graça mas ela, ao recebê-la,

ficaria outra vez descontente. No entanto eu continuava a rezar, como ela

me tinha pedido. No dia seguinte veio a mesma irmã; mal começou a

conversa pôs-se a falar do mesmo; disse-lhe: sabe, irmã, que na oração não

devemos obrigar Deus a dar-nos o que queremos, mas, pelo contrário,

devemos submeter-nos à Sua santa vontade. Mas a ela parecia-lhe que o que

pedia era indispensável. No final da novena, veio novamente aquela irmã e

disse-me: Ah, irmã, Jesus concedeu-me esta graça, mas agora penso de

outro modo. «Reze, irmã, para que as coisas sejam de modo diferente».

Respondi-Lhe: Sim, rezarei para que em si, irmã, se cumpra a vontade de

Deus e não o que a irmã quer…

 

1526. Oh Misericordiosíssimo Coração de Jesus, protege-nos da justa ira

de Deus.

 

1527. Uma certa irmã persegue-me continuamente só porque Deus se

relaciona comigo tão intimamente. A ela parece-lhe que tudo dentro de mim

é fingido. Quando acha que cometo algum erro, diz: «Têm visões e fazem

tais erros». Comentou o assunto com outras irmãs e sempre no sentido

negativo, difundindo a opinião de que eu era meio louca. Um dia fez-me

muita pena pensar que essa gota de inteligência humana se atrevesse, assim,

a esquadrinhar os dons de Deus. Depois da Santa Comunhão, pedi que Deus

a iluminasse; no entanto, soube que se essa alma não alterasse a sua

disposição interior, não alcançaria a perfeição.

 

1528. Quando me queixei a Jesus de certa pessoa: Jesus, ¿Como é

possível que essa pessoa emita um juízo semelhante, até sobre a intenção?

O Senhor respondeu-me: Não te admires com isso; essa alma não se

conhece a si mesma, então ¿Como pode emitir um justo juízo sobre

outra alma?

 

1529. Hoje vi o Padre Andrasz a rezar. Soube que intercedia por mim

diante de Deus. Às vezes, o Senhor permite-me conhecer quem reza por

mim.

 

1530. Coloquei-me um pouco em segundo plano, como se esta Obra de

Deus não me interesasse. Neste momento não falo dela, mas toda a minha

alma está mergulhada em oração e suplico a Deus que se digne antecipar

este grande dom, isto é, a Festa da Misericórdia e vejo que Jesus actua e nos

dá indicações sobre como isto deve ser realizado. Nada sucede por acaso.

 

1531. Hoje disse ao Senhor Jesus: ¿Vês, quantas dificuldades [há] antes

de que creiam que Tu próprio és o autor desta Obra? Mesmo agora, nem

todos crêem nisso. Fica tranquila, Minha filha, nada pode opôr-se à

Minha vontade; apesar das murmurações e da hostilidade das irmãs, a

Minha vontade cumprir-se-á em ti em toda a sua plenitude até ao

último propósito e desígnio. Não te aflijas por causa disso. Eu também

fui pedra de escândalo para algumas almas.

 

1532. Jesus queixou-se a mim de quanto lhe doía a infidelidade das

almas eleitas, e ainda fere mais o Meu Coração a sua desconfiança

depois de uma queda. Magoar-Me-ia menos se não tivessem

experimentado a bondade do Meu Coração.

 

1533. Vi a ira de Deus que pesa sobre a Polónia. E vejo agora que se

Deus punisse o nosso País com os maiores castigos isso seria ainda pela Sua

grande Misericórdia, porque por delitos tão graves poderia castigar-nos com

a destruição eterna. Fiquei aterrorizada e o Senhor descerrou o véu apenas

um pouco. Agora vejo claramente que as almas eleitas mantêm a existência

do mundo até que se complete a medida.

 

1534. Vi o esforço, na oração, de certo sacerdote. A sua oração parecia a

oração de Jesus no Horto das Oliveiras. Oh, se este sacerdote soubesse

como a sua oração é agradável a Deus!

 

1535. Oh Jesus, encerro-me no Teu Misericordiosíssimo Coração como

numa fortaleza inconquistável, para [me defender] das setas dos inimigos.

 

1536. Hoje estive junto de uma pessoa agonizante, que morria na minha

terra natal. Ajudei-a com as minhas orações; depois de um momento senti

dores nas mãos, nos pés e no lado, durante um breve momento…

 

1537. 27 I [1938]. Hoje, durante a Hora Santa Jesus, queixou-se-me da

ingratidão das almas.

Em troca dos benefícios recebo a ingratidão; em troca do amor

obtenho o esquecimento e a indiferença. O Meu Coração não pode

suportar isto.

 

1538. Nesse momento, no meu coração ardeu um amor fortíssimo a

Jesus; oferecendo-me pelas almas ingratas, nesse momento submergi-me

toda n’Ele. Ao voltar a mim, o Senhor deu-me a provar uma pequena parte

dessa ingratidão que inundava o Seu Coração. Essa experiência durou

pouco tempo.

 

1539. Hoje disse ao Senhor: ¿Quando me levarás Contigo? Eu já me

sentia tão mal e com grande impaciência esperava a Tua vinda. Jesus

respondeu-me: Deves estar sempre preparada, mas já não te deixarei

por muito tempo neste desterro; tem que cumprir-se em ti a Minha

santa vontade. Ah, Senhor, se a Tua santa vontade não se cumpriu ainda

plenamente, aqui me tens preparada para tudo o que Tu quiseres, oh Senhor.

Oh meu Jesus, estranha-me somente que Tu me dês a conhecer tantos

segredos e não queiras revelar-me o segredo referente à hora da minha

morte. E o Senhor respondeu-me: Fica tranquila, Eu to darei a conhecer,

mas agora ainda não. Ah Senhor meu, Peço-Te perdão por haver querido

sabê-lo. Tu sabes bem porquê, já que conheces o meu coração cheio de

nostalgia que Te anseia fervorosamente. Tu sabes que não quero morrer

nem um minuto antes da hora que estabeleceste antes dos séculos.

Jesus escutou as minhas confidências com singular bondade.

 

1540. 28 I [1938]. Hoje o Senhor disse-me: Escreve, Minha filha, estas

palavras: Todas as almas que adorarem a Minha Misericórdia e

divulgarem a devoção, convidando outras almas a confiar na Minha

Misericórdia, não experimentarão o terror na hora da morte. A Minha

Misericórdia as protegerá nesse último combate…

 

1541. Minha filha, anima as almas a rezar a coroinha que te

recomendei. Aos que rezarem essa coroinha, apraz-Me dar-lhes o que

Me peçam. Quando a rezem os pecadores endurecidos, encherei as suas

almas de paz e a hora da sua morte será feliz. Escreve-o para as almas

atribuladas: sempre que uma alma veja e conheça a gravidade dos seus

pecados, quando aos olhos da sua alma se descobrir todo o abismo da

miséria em que caíu, não desespere, mas lance-se com confiança nos

braços da Minha Misericórdia, como um menino nos braços da sua

mãe amadíssima. Estas almas têm prioridade no Meu Coração

compassivo, elas têm preferência na Minha Misericórdia. Proclama que

nenhuma alma que invocou a Minha Misericórdia tenha ficado

decepcionada, ou se tenha sentido confusa. Apraz-Me, especialmente, a

alma que confia na Minha bondade. Escreve: quando rezarem esta

coroinha junto dos moribundos, colocar-Me-ei entre o Pai e a alma

agonizante, não como Juiz justo, mas como Salvador misericordioso.

 

1542. Nesse momento o Senhor fez-me saber como é cioso do meu

coração.

Quando, mesmo entre as irmãs, te sintas só, fica ciente que desejo

que te unas a Mim mais estreitamente. Importa-me cada batimento do

teu coração; cada frémito do teu amor reflecte-se no Meu Coração,

estou sedento do teu amor. Sim, oh Jesus, mas o meu coração tampouco

saberia viver sem Ti, porque embora me oferecessem os corações de todas

as criaturas, elas não saciariam os profundos desejos do meu coração.

 

1543. Esta noite o Senhor disse-me: Abandona-te completamente a

Mim na hora da morte e Eu te apresentarei a Meu Pai como Minha

esposa. Agora, recomendo-te que unas de modo especial as tuas acções,

mesmo as mais pequenas, aos Meus méritos, e então o Meu Pai as virá

a olhar com amor como se fossem Minhas.

 

1544. Não alteres o exame particular que te dei através do Padre

Andrasz, isto é, o de unir-te continuamente a Mim; isto é o que hoje

expressamente exijo de ti. Sê como uma criança para os Meus

representantes [377], porque Eu sirvo-Me das suas bocas para te falar,

para que não tenhas dúvidas em nada.

 

1545. A minha saúde melhorou um pouco. Hoje desci ao refeitório e à

capela; mas como ainda não posso retomar as minhas tarefas, fico na cela

com a lançadeira. Este trabalho atrai-me muitíssimo, mas ainda me

canso até com um trabalho tão ligeiro. Sinto que tenho muito poucas forças.

Não tenho momentos de ócio, porque cada instante da minha vida está

cheio de oração, sofrimento e trabalho; adoro a Deus de um ou de outro

modo e se Deus me desse uma segunda vida, não sei se a aproveitaria

melhor.

 

1546. O Senhor disse-me: Deleito-Me com o teu amor; o teu amor

sincero é tão grato ao Meu Coração como o perfume de um botão de

rosa na primeira hora da manhã, quando o sol ainda não lhe secou o

orvalho. O frescor do teu coração encanta-Me, por isso Me uno a ti tão

estreitamente como a nenhuma outra criatura…

 

1547. Hoje vi os esforços deste sacerdote pela Causa de Deus. O

seu coração começa a provar o que impregnava o Coração divino durante a

Sua vida terrestre. Em recompensa dos esforços - a ingratidão… Mas é

grande o seu zelo pela glória de Deus…

 

1548. 30 I 1938. Retiro espiritual de um dia.

Durante a meditação o Senhor indicou-me que, enquanto o coração bater

no meu peito, devo procurar sempre que o reino de Deus se espalhe na

Terra. Terei de lutar pela glória do meu Criador.

Sei que darei a Deus a glória que espera de mim, se procurar colaborar

fielmente com a graça de Deus.

 

1549. Desejo viver em espírito de fé, aceito tudo o que me sucede como

enviado pela vontade amorosa de Deus, que deseja sinceramente a minha

felicidade; por isso, tudo o que Deus me enviar o aceitarei com submissão e

agradecimento, sem fazer caso da voz da natureza nem das insinuações do

amor próprio. Antes de iniciar uma acção de maior importância reflectirei

um momento para ver que relação tem com a vida eterna e qual é o motivo

principal que me move: a glória de Deus, ou o bem da minha própria alma,

ou o bem de outras almas. Se o coração me disser sim, então serei inflexível

na execução dessa acção, sem ceder a qualquer obstáculo ou sacrifício; não

me deixarei desviar do propósito que decidi, bastando-me saber que é grato

a Deus. E se souber que uma acção dada não tem nada que ver com o

referido anteriormente, procurarei elevá-la a uma esfera mais alta, mediante

uma boa intenção. E se sei que alguma coisa provém do amor próprio,

desde logo a suprimirei.

 

1550. Nos casos de dúvida não actuarei, mas procurarei cuidadosamente

um esclarecimento junto dos sacerdotes e, especialmente, do meu director

espiritual. Não me justificarei das censuras e observações feitas por outras

pessoas, excepto no caso de ser interrogada expressamente para dar

testemunho da verdade.

 

Escutarei com grande paciência as confidências dos outros, acolherei os

seus sofrimentos, confortando-os e mergulharei os meus próprios

sofrimentos no compassivíssimo Coração de Jesus. Nunca sairei das

entranhas da Sua Misericórdia e introduzirei nelas o mundo inteiro.

 

1551. Durante a meditação sobre a morte pedi ao Senhor que se dignasse

penetrar o meu coração com os mesmos sentimentos que teve no momento

da morte. E a graça de Deus respondeu-me interiormente que, se tinha feito

o que estava ao meu alcance, então podia estar tranquila. Nesse momento

na minha alma despertou-se uma gratidão tão grande ao Senhor que me pus

a chorar de alegria como uma criança. Preparei-me para receber a Santa

Comunhão na manhã seguinte como viático e rezei por mim as preces dos

agonizantes.

 

1552. Então ouvi estas palavras: Tal como estás unida a Mim em vida,

assim estarás unida no momento da morte. Depois destas palavras

despertou na minha alma uma confiança tão grande na Divina Misericórdia,

que mesmo que tivesse na minha consciência os pecados do mundo inteiro

e os pecados das almas condenadas, apesar de tudo isto não duvidaria da

bondade de Deus e lançar-me-ia sem pensar no abismo da Divina

Misericórdia, que sempre está aberto para nós e, com o coração feito em pó,

me lançaria a Seus pés abandonando-me completamente à Sua santa

vontade, que é a própria Misericórdia.

 

1553. Oh meu Jesus, Vida da minha alma, Vida minha, Salvador meu,

meu dulcíssimo Esposo e ao mesmo tempo meu Juiz, Tu sabes que nesta

última hora não contarei com nenhum mérito meu, mas unicamente com a

Tua Misericórdia. Desde já mergulho-me completamente neste abismo da

Tua Misericórdia, que está sempre aberto para cada alma.

Oh meu Jesus, eu tenho uma só tarefa na vida, na morte e na eternidade:

adorar a Tua Misericórdia inconcebível. Nenhuma mente conseguirá

aprofundar os mistérios da Tua Misericórdia, oh Deus, nem um Anjo nem

um homem. Os Anjos maravilham-se com o mistério da Divina

Misericórdia, mas não podem concebê-lo. Tudo o que saíu das mãos do

Criador está encerrado num mistério inconcebível, isto é, nas entranhas da

Sua Misericórdia. Quando o considero, o meu espírito desfalece, o coração

se me desfaz de alegria. Oh Jesus, através do Teu piedosíssimo Coração,

como através de um cristal, chegaram a nós os raios da Divina

Misericórdia.

 

1554. 1 II [1938]. Hoje estou um pouco pior de saúde, no entanto ainda

participo na vida comunitária de toda a Comunidade. Estou fazendo ainda

grandes esforços, que só Tu conheces, oh Jesus. Hoje, no refeitório pensei

que não ia resistir durante todo o almoço. Cada bocado que tomava

causava-me dores tremendas.

 

1555. Há uma semana, visitou-me a Madre Superiora e disse-me: «A

irmã apanha todas as doenças porque tem um organismo muito débil, mas

não é culpa sua. Se outra irmã sofresse da mesma doença, seguramente

andaria por aí a pé, mas a irmã tem de se deitar». Estas palavras não me

causaram desgosto, mas é melhor não fazer tais comparações às pessoas

gravemente enfermas porque, de qualquer forma, o seu cálice já está cheio.

Outra coisa, quando as irmãs visitam os doentes, não devem perguntar cada

vez tão em pormenor: «¿O que é o que lhe dói? ¿Como dói?», porque

repetir continuamente a cada irmã a mesma coisa cansa enormemente,

especialmente quando, por vezes, há que repeti-lo várias vezes ao dia.

 

1556. Quando entrei por um momento na capela, o Senhor explicou-me

que, entre as almas eleitas, há algumas especialmente escolhidas, que

chama a uma santidade superior, a uma união excepcional Consigo.

Estas são as almas seráficas das quais Deus exige que o amem mais que

outras almas; apesar de que todas vivem no mesmo convento, no entanto

este amor mais intenso é exigido, por vezes, a uma só alma. Tal alma

compreende a chamada, porque Deus fá-la conhecer interiormente, mas

pode segui-la ou não; da alma depende se é fiel às chamadas do Espírito

Santo, ou se se opõe ao Espírito. Soube que há um lugar no Purgatório onde

as almas satisfazem a Deus por este tipo de culpas; entre diversos

tormentos, este é o mais duro. A alma marcada por Deus de modo especial

distinguir-se-á de entre outras almas por maior glória, pelo resplendor e por

um mais profundo conhecimento de Deus; no Purgatório, por um

sofrimento mais profundo, porque conhece mais a fundo e anseia mas

ardentemente a Deus; no Inferno, sofrerá mais que outras almas, porque

conhece mais profundamente Aquele a quem perdeu; este selo do amor

exclusivo de Deus não se apaga nunca.

 

1557. Oh Jesus, mantém-me no santo temor para que não desperdice as

graças. Ajuda-me a ser fiel às inspirações do Espírito Santo, prefiro que o

meu coração se desfaça de amor por Ti do que descuide um só acto deste

amor.

 

1558. 2 II [1938]. As trevas da alma. Hoje [é] a festa da Mãe de Deus e

na minha alma [há] tanta escuridão. O Senhor escondeu-se e eu estou só,

completamente só. A minha mente está tão ofuscada que à minha volta só

vejo coisas fantasmagóricas; nem um só raiozinho de luz penetra na alma,

não me entendo a mim própria nem aos que me falam. Oprimem-me

tentações terríveis contra a santa fé. Oh meu Jesus, salva-me. Não consigo

dizer mais. Não posso descrevê-las em pormenor, porque receio de que,

lendo-as, alguém pudesse escandalizar-se. Surpreende-me de que uma alma

possa ser invadida por tais tribulações. Oh furacão, ¿que fazes com o

barquinho da minha alma?

 

Esta tormenta durou um dia inteiro e uma noite. Quando entrou a Madre

Superiora e perguntou: «Irmã, ¿não quer aproveitar a ocasião, porque o

Padre Andrasz vai confessar?» respondi que não. Parecia-me que nem

o Padre me compreenderia, nem eu conseguiria confessar-me. Passei toda a

noite com Jesus em Getsemani. Um contínuo gemido de dor saía do meu

peito. A agonia natural será mais leve, porque nela agoniza-se e morre-se,

enquanto aqui agoniza-se sem poder morrer. Oh Jesus, não sabia que

existiam sofrimentos deste tipo. O nada, eis a realidade. Oh Jesus, salva-me,

creio em Ti com todo o meu coração, vi muitíssimas vezes o resplendor do

Teu rosto e agora - ¿onde estás, Senhor? Creio, creio, e uma vez mais creio

em Ti, Deus único na Santíssima Trindade, Pai, Filho e Espírito Santo, e em

todas as verdades que a Tua Santa Igreja me oferece para crer. No entanto,

as trevas não desaparecem e o meu espírito submerge-se numa agonia ainda

maior. Nesse momento envolveu-me um tormento tão terrível, que agora

me admiro de não ter exalado o último suspiro, mas foi um momento breve.

 

1559. Naquele momento vi Jesus, de cujo Coração saíam os dois mesmo

raios que me envolveram inteiramente. Naquele mesmo instante

desapareceram os meus tormentos. Minha filha, disse o Senhor, deves

saber que o que passaste agora, é o que és por ti mesma; e só por força

da Minha graça és participante da vida eterna e de todos os dons que te

concedo generosamente. E com estas palavras do Senhor, tive um

verdadeiro conhecimento de mim mesma. Jesus ensina-me uma humildade

profunda e ao mesmo tempo uma confiança absoluta n’Ele. O meu coração

está reduzido a cinzas, a pó, e ainda que toda a gente me desprezasse, eu o

consideraria também uma graça. Sinto e estou profundamente convencida

de que nada sou, de que as verdadeiras humilhações serão para mim até um

alívio.

 

1560. 3 II [1938]. Hoje, depois da Santa Comunhão, Jesus deu-me, de

novo, algumas indicações.

Primeiro: não lutes só contra a tentação, mas conta-a imediatamente

ao confessor e então a tentação perderá toda a sua força; segundo:

nestas provações não percas a serenidade, vive a Minha presença, pede

a ajuda da Minha Mãe e dos santos; terceiro: tem a certeza de que Eu

olho por ti e te apoio; quarto; não tenhas medo nem das lutas

espirituais nem de nenhuma tentação, porque Eu te sustento; desde que

queiras lutar, deves saber que a vitória estará sempre do teu lado;

quinto: fica a saber que, pelo combate valoroso, Me dás grande glória e

acumulas méritos para ti. A tentação oferece a possibilidade de Me

demonstrares a tua fidelidade.

 

1561 E agora vou dizer-te o que para ti é o mais importante: uma

sinceridade sem limites com o teu director espiritual; se não

aproveitares esta graça de acordo com as minhas indicações, tirar-to-ei

e, então, ficarás só contigo mesma e hão de voltar todas as tribulações

que conheces. Não Me agrada que desaproveites a oportunidade

quando podes encontrá-lo e falar com ele. Fica ciente que é uma

enorme graça Minha se dou a uma alma um director espiritual. Muitas

almas Mo pedem e nem a todas concedo esta graça. Desde o momento

em que o escolhi, como teu director espiritual, dotei-o de uma nova luz

para que possa conhecer e compreender fácilmente a tua alma…

 

1562. Oh meu Jesus, minha única Misericórdia, deixa-me ver no Teu

rosto a alegria como sinal de reconciliação comigo, porque o meu coração

não consegue suportar a Tua severidade. Se a prolongares por mais um

momento, partir-se-á de dor. Vê que já estou reduzida a pó.

 

1563. Naquele mesmo momento vi-me como num palácio. Jesus deu-me

a Sua mão e colocou-me a Seu lado, dizendo com doçura: Esposa Minha,

Agradas-Me sempre com a humildade. A maior miséria não Me impede

de Me unir a uma alma, mas onde está a soberba, aí não estou Eu.

Quando voltei a mim contemplei tudo o que tinha sucedido no meu

coração, agradecendo a Deus pelo Amor e Misericórdia que me manifestou.

 

1564. Meu Jesus, esconde-me; como Tu Te ocultaste sob a espécie de

uma hóstia branca, assim esconde-me aos olhos dos homens, e esconde

especialmente os dons que me concedes com generosidade, para que

exteriormente não se perceba o que Tu realizas na minha alma. Diante de Ti

sou uma hóstia branca, oh divino Sacerdote, consagra-me Tu Mesmo e que

a minha transformação seja conhecida só por Ti. Todos os dias, como uma

hóstia expiatória, me apresento diante de Ti e Te suplico a Misericórdia para

o mundo. Imolar-me-ei diante de Ti, em silêncio e sem ser vista; num

profundo silêncio o meu amor puro e indivisível arderá em holocausto e que

o perfume deste amor suba aos pés do Teu trono. Tu és o Senhor dos

senhores, mas comprazes-Te nos corações pequeninos e humildes…

 

1565. Quando entrei por um momento na capela, o Senhor disse-me:

Minha filha, ajuda-me a salvar um pecador agonizante; reza por ele

esta coroinha que te ensinei. Ao começar a rezar a coroinha, vi aquele

moribundo em terríveis tormentos e lutas. O Anjo da Guarda defendia-o,

mas era impotente perante a grande miséria daquela alma; uma multidão de

demónios estava à espera dela. Enquanto rezava a coroinha, vi Jesus como

está pintado na imagem. Os raios que saíram do Coração de Jesus

envolveram o enfermo e as forças das trevas fugiram em pânico. O doente

expirou sereno. Quando voltei a mim, compreendi a importância que tem

esta coroinha rezada junto aos agonizantes; ela aplaca a ira de Deus.

 

1566. Quando pedi perdão a Jesus por uma acção minha que, pouco

depois, se mostrou imperfeita, Jesus tranquilizou-me com estas palavras:

Minha filha, recompenso-te pela pureza da intenção que tiveste no

momento de actuar. O Meu Coração alegrou-Se por, no momento de

actuares, teres tido presente o Meu amor e isto de modo tão evidente;

ainda agora tiras proveito disso, pela humilhação. Sim, Minha filha,

desejo que sempre tenhas uma pureza de intenção nas tuas mais

pequenas iniciativas.

 

1567. No momento em que tomei a caneta na mão, rezei brevemente ao

Espírito Santo e disse: Jesus, abençoa esta caneta, para que tudo o que me

fazes escrever seja para a glória de Deus. De repente ouvi uma voz: Sim,

abençoo, porque no que escreves está o selo de obediência à Superiora e

ao confessor, e já com isto recebo glória; e muitas almas tirarão

proveito para si. Minha filha, exijo que todos os momentos livres os

dediques a escrever da Minha bondade e Misericórdia; esta é a tua

missão e a tua tarefa em toda a tua vida, para que dês a conhecer às

almas a grande Misericórdia que tenho com elas e para que as convides

a confiar no abismo da Minha Misericórdia…

 

1568. Oh meu Jesus, creio nas Tuas palavras e já não tenho nenhuma

dúvida a esse respeito, porque numa conversa com a Madre Superiora, ela

me disse que escrevesse mais sobre a Tua Misericórdia. As suas palavras

concordam plenamente com o Teu desejo. Oh meu Jesus, agora compreendo

que se pedes alguma coisa a uma alma, também dás às Superioras a

inspiração de permitir o cumprimento do Teu pedido, embora aconteça que

nem sempre se obtenha imediatamente; às vezes a nossa paciência é exposta

à prova…

 

1569. Oh amor eterno, Jesus, que Te encerraste nesta Hóstia

Ocultando a Tua divina Majestade e a Tua beleza,

Para Te dar inteiro à minha alma

E para não a assustar com a Tua grandeza.

Oh amor eterno, Jesus, que Te ocultaste no pão,

Luz eterna, inimaginável fonte de felicidade e gozo,

Que queres ser o meu paraíso na Terra

E és quando me comunicas o Teu amor divino.

 

1570. Oh Deus de grande Misericórdia, bondade infinita, hoje toda a

humanidade clama, do abismo da sua miséria, a Tua Misericórdia, a Tua

compaixão, oh Deus; e grita com a potente voz da miséria. Deus indulgente,

não rejeites a oração dos exilados desta Terra. Oh Senhor, bondade

inconcebível que conheces perfeitamente a nossa miséria e sabes que por

nossas próprias forças não podemos chegar a Ti, imploramos-Te, antecipanos a Tua graça e multiplica incessantemente a Tua Misericórdia em nós

para que cumpramos fielmente a Tua santa vontade durante as nossas vidas

e na hora da morte. Que a omnipotência da Tua Misericórdia nos proteja

das setas dos inimigos da nossa salvação, para que com confiança, como

Teus filhos, esperemos a Tua última vinda, esse dia que só Tu conheces. E

apesar de toda a nossa miséria, esperamos receber tudo o que Jesus nos

prometeu, porque Jesus é a nossa esperança; através do Seu Coração

misericordioso, como através de uma porta aberta, entramos no Céu.

 

1571. Notei que, desde a minha entrada no convento, me faziam sempre

o mesmo reparo, que sou santa; mas este sobrenome foi sempre

pronunciado com ironia. Ao princípio isso fazia-me sofrer, mas quando

espiritualmente ultrapassei isso, deixei de me importar. No entanto, uma

vez, quando por causa da minha "santidade" foi afectada certa pessoa, sofri

muito, vendo que eu podia ser causa dos desgostos de outras pessoas e

queixei-me a Jesus ¿por que será assim? E o Senhor respondeu-me: ¿Estás

triste por isso? Pois, de facto, já o és [santa]. Em breve Eu Mesmo o

manifestarei em ti e, então, hão de pronunciar a mesma palavra:

“santa” mas, desta vez, somente com amor.

 

1572 Recordo-Te, Minha filha: que sempre que ouvires o relógio

batendo as três horas, submerge-te totalmente na Minha Misericórdia,

adorando-A e glorificando-A; suplica a sua omnipotência para todo o

mundo e, especialmente, para os pobres pecadores, já que nesse

momento [a Misericórdia] se abre de par em par para cada alma. Nessa

hora podes obter tudo o que pedires para ti e para os outros. Nessa

hora estabeleceu-se a graça para todo o mundo: a Misericórdia

triunfou sobre a justiça. Minha filha, nessa hora procura rezar a Via

Crucis, enquanto to permitam as tuas obrigações; e se não poderes

rezar a Via Crucis, pelo menos entra um momento na capela e adora,

no Santíssimo Sacramento, o Meu Coração que está cheio de

Misericórdia. E se não poderes ir à capela, mergulha-te em oração ali

onde estiveres, mesmo que seja por um brevíssimo instante. Exijo o

culto à Minha Misericórdia a todas as criaturas mas, em primeiro

lugar, a ti, pois dei-te a conhecer este mistério de modo mais profundo.

 

1573. Oh meu Deus, que ansiedade sinto hoje por Ti. Oh, já nada mais

atrai o meu coração, a Terra já não tem nada de interesse para mim. Oh

Jesus, quanto me pesa este exílio, quanto se prolonga. Oh morte,

mensageira de Deus, ¿quando me anunciarás este desejado momento que

me unirá ao meu Deus pela eternidade?

 

1574. Oh meu Jesus, que os últimos dias do meu exílio sejam

completamente conformes à Tua santíssima vontade. Uno os meus

sofrimentos, as minhas amarguras e a minha agonia à Tua sagrada Paixão e

ofereço-me pelo mundo inteiro para obter uma abundância de Misericórdia

para as almas e, especialmente, para as almas que vivem nas nossas casas.

Confio firmemente e submeto-me por completo à Tua santa vontade, que é

a própria Misericórdia. A Tua Misericórdia será tudo para mim na última

hora, como Tu Mesmo me prometeste….

 

1575. Sê bendito, Amor eterno, meu doce Jesus, que Te dignaste morar

no meu coração. Saúdo-Te, oh divindade gloriosa que Te dignaste humilharTe por mim e aniquilar-Te por amor de mim, até Te reduzires a uma ténue

aparência de pão. Saúdo-Te, Jesus, flor sempre viçosa da humanidade, Tu és

o único para a minha alma. O Teu amor é mais puro que um lírio e a Tua

presença agrada-me mais que o perfume do jacinto. A Tua amizade é mais

terna e mais delicada que o aroma da rosa, no entanto mais forte do que a

morte. Oh Jesus, beleza inconcebível. Entendes-Te perfeitamente com as

almas puras, porque só elas são capazes de heroísmo e de sacrifício. Oh

doce e róseo sangue de Jesus, enobrece o meu sangue e transforma-o no Teu

próprio sangue. Que se faça isto em mim segundo o Teu designio.

 

1576. Deves saber, Minha filha, que entre Eu e tu há um abismo sem

fundo que separa o Criador da criatura, mas a Minha Misericórdia

nivela este abismo. Elevo-te até Mim, não por necessitar de ti, mas é

unicamente por Misericórdia que te concedo a graça da união.

 

1577 Diz às almas que não ponham obstáculos nos seus próprios

corações à Minha Misericórdia, que deseja muitíssimo agir nelas. A

Minha Misericórdia actua em todos os corações que lhes abram as suas

portas; tanto o pecador como o justo necessitam da Minha

Misericórdia. A conversão e a perseverança são as graças da Minha

Misericórdia.

 

1578. Que as almas que aspiram à perfeição adorem especialmente a

Minha Misericórdia, porque a abundância de graças que lhes concedo

provém da Minha Misericórdia. Desejo que estas almas se distingam

por uma confiança sem limites na Minha Misericórdia. Eu Mesmo Me

ocupo da santificação destas almas, dar-lhes-ei tudo o que seja

necessário para a sua santidade. As graças da Minha Misericórdia

recebem-se com um só vaso e este é a confiança. Quanto mais confie

uma alma, tanto mais receberá. As almas que confiam sem limites são o

Meu grande consolo, porque em tais almas derramo todos os tesouros

das Minhas graças. Alegro-Me de que peçam muito, porque o Meu

desejo é dar-lhes muito, muitíssimo. Mas, pelo contrário, fico triste se

as almas pedem pouco, estreitando os seus corações.

 

1579. Sofro muitíssimo quando me encontro com a hipocrisia. Agora

entendo, meu Salvador, porque repreendias tão severamente os fariseus pela

sua hipocrisia. Tratavas os pecadores endurecidos com mais benevolência,

quando, arrependidos, se aproximavam Ti.

 

1580. Meu Jesus, agora vejo que passei Contigo todas as etapas da vida:

a infância, a juventude, a vocação, o trabalho apostólico, o Tabor, o Horto

das Oliveiras, e agora já estou contigo no Calvário.

Submeti-me espontaneamente à crucifixão e já estou crucificada pois,

apesar de ainda conseguir andar, estou estendida na cruz e sinto claramente

que a força da Tua cruz flui sobre mim e que Tu és a minha perseverança.

Embora ouvindo, mais de uma vez, a voz da tentação. que me grita "¡desce

da cruz!", o poder de Deus fortalece-me. E mesmo que o abandono, as

trevas e diversos sofrimentos golpeiem o meu coração, uma misteriosa

força divina sustenta-me e fortifica-me.

Desejo beber o cálice até à última gota. Confio firmemente que a Tua

graça, que me amparou nos momentos em que estava no Horto das

Oliveiras, também me apoiará agora, quando estou no Calvário.

 

1581. Oh meu Jesus, Mestre, uno os meus desejos aos que Tu tiveste na

cruz: desejo cumprir a Tua santa vontade; desejo a conversão dos

pecadores; desejo que seja adorada a Tua Misericórdia; desejo que seja

antecipado o triunfo da Igreja; desejo que a Festa da Misericórdia seja

celebrada no mundo inteiro; desejo a santidade dos sacerdotes; desejo que

haja uma santa na nossa Congregação; [382] desejo que em toda a nossa

Congregação reine o espírito de grande zelo pela glória de Deus e a

salvação das almas; desejo que as almas que vivem nas nossas casas não

ofendam a Deus, mas que perseverem no bem; desejo a bênção de Deus

para [os meus] pais e para toda [a minha] família; desejo que Deus conceda

uma luz especial aos meus guias espirituais e especialmente ao Padre

Andrasz [383] e ao Padre Sopocko [384]; desejo uma bênção especial para

as que foram minhas Superioras, [385] especialmente para a Madre Geral,

a Madre Irene e a Madre Mestra Josefa [387].

 

1582. Oh meu Jesus, agora abraço o mundo inteiro e peço-Te

Misericórdia para ele. Quando me disseres, oh Deus, que já basta, que já se

cumpriu plenamente a Tua santa vontade, então em união Contigo, Salvador

meu, entregarei a minha alma nas mãos do Pai celestial, cheia de confiança

na tua Misericórdia insondável e, quando me apresentar aos pés do Teu

trono, o primeiro hino que hei de entoar será à Tua Misericórdia. ¡Não te

esquecerei, pobre Terra!, embora sinta que, de imediato, mergulharei

completamente em Deus, como num oceano de felicidade; mas isso não me

impedirá de voltar à Terra e dar ânimo às almas e convidá-las a confiar na

Divina Misericórdia. Bem pelo contrário, essa imersão em Deus dar-me-á

possibilidades ilimitadas de agir.

 

1583. Enquanto escrevo oiço o ranger de dentes de Satanás, que não

pode suportar a Misericórdia de Deus e se põe a arremessar objectos na

minha cela; mas sinto em mim uma força de Deus tão grande que não me

importa nada a raiva do inimigo da nossa salvação e continuo

tranquilamente a escrever.

 

1584. Oh inconcebível bondade de Deus que nos proteges a cada passo.

Seja dado contínuo louvor à Tua Misericórdia por Te teres irmanado, não

com os Anjos mas com os homens. Este é um milagre do mistério

insondável da tua Misericórdia. Toda a nossa confiança está em ti, nosso

irmão primogénito, Jesus Cristo, Deus verdadeiro e homem verdadeiro. O

meu coração palpita de alegria ao ver o bom que é Deus para nós, os

homens, tão miseráveis e ingratos, e como prova do Seu amor oferece-nos

um dom inconcebível, isto é, a Si próprio, na pessoa do Seu Filho. Não

conseguiremos desvendar este mistério de amor ao longo de toda a

eternidade. Oh humanidade, ¿por que pensas tão pouco em que Deus está

realmente entre nós? Oh Cordeiro de Deus, não sei o que admirar em Ti em

primeiro lugar: se a Tua mansidão, se a Tua vida oculta e aniquilamento

pela humanidade, ou se, ainda, o milagre incessante da Tua Misericórdia

que transforma as almas e as ressuscita para a vida eterna. Embora estejas

tão oculto, a Tua omnipotência manifesta-se aqui mais que na criação do

homem; embora a omnipotência da Tua Misericórdia actue na justificação

do pecador, a Tua actuação é, no entanto, silenciosa e escondida.

 

1585. Uma visão da Santíssima Virgem. No meio de uma grande

claridade vi a Santíssima Virgem com uma túnica branca, cingida com um

cinto doirado, e pequenas estrelas, também doiradas, em todo o vestido e as

mangas triangulares guarnecidas a fio de ouro. Tinha um manto cor de

safira, posto ligeramente sobre os ombros, na cabeça tinha um leve véu

transparente sobre o cabelo solto, esplendidamente penteado, e uma coroa

de ouro encimada por pequenas cruzes. No braço esquerdo segurava o

Menino Jesus. Nunca tinha visto a Santíssima Virgem com este aspecto.

Logo me olhou com ternura e disse: Sou a Mãe dos sacerdotes. Depois, pôs

Jesus no chão, levantou a mão direita para o Céu, e disse: Oh Deus,

abençoa a Polónia, abençoa os sacerdotes. E de novo se dirigiu a mim:

Conta aos sacerdotes o que viste. Decidi dizê-lo ao Padre [388] na primeira

oportunidade, mas pela minha parte não consegui compreender nada desta

visão.

 

1586. Oh meu Jesus, Tu vês quanta gratidão tenho para o Padre Sopocko

que fez avançar muito a Tua Obra. Esta alma tão humilde soube resistir a

todas as tormentas e não desanimou apesar das contrariedades, mas

respondeu fielmente ao chamamento de Deus.

 

1587. Uma vez, atendia os doentes uma irmã tão negligente no seu

trabalho que realmente nos mortificava bastante. Um dia decidi dizê-lo às

Superioras; mas ouvi na alma uma voz: Suporta pacientemente, outra

pessoa lhes dirá. E essa situação prolongou-se por todo um mês.

Quando já era capaz de descer ao refeitório e ao recreio, ouvi na alma

estas palavras: Agora outras irmãs falarão do desleixo no trabalho dessa

religiosa, mas tu cala-te e não intervenhas neste assunto. Nesse mesmo

instante começou uma discussão bastante acesa sobre essa irmã, mas ela

não conseguiu encontrar nada em sua defesa e todas as irmãs lhe diziam em

coro: «Corrija-se, irmã, e cuide melhor dos doentes».

Soube que, às vezes, Jesus não deseja que digamos algo por nossa

iniciativa; Ele tem o seu próprio modo de proceder e sabe quando é o

momento oportuno para falar.

 

1588. Hoje ouvi estas palavras: No Antigo Testamento Eu enviava

profetas ao Meu povo, com admoestações. Hoje envio-te a ti a toda a

humanidade, com a Minha Misericórdia. Não quero castigar a

humanidade sofredora, mas desejo curá-la, estreitando-a ao Meu

Coração misericordioso. Utilizo castigos quando Me obrigam a isso; a

Minha mão resiste a tomar a espada da justiça. Antes do dia da justiça

envio o dia da Misericórdia. Respondi: Oh meu Jesus, Tu Mesmo fala às

almas, porque as minhas palavras não valem nada.

JMJ

 

1589. A espera da alma à vinda do Senhor

Não sei, oh Senhor, a que hora virás,

Por isso vigio continuamente e presto atenção,

Eu, Tua esposa, por Ti escolhida,

Porque sei que Te apraz vir inadvertidamente,

Mas o coração puro de longe Te sentirá, Senhor.

Espero-Te, Senhor, entre a quietude e o silêncio,

Com grande anseio no coração,

Com um desejo irresistível.

Sinto que o meu amor por ti se torna fogo

E como uma chama subirá ao Céu no final da vida

E então se realizarão todos os meus desejos.

Vem já, meu dulcíssimo Senhor,

E leva o meu coração sedento

Para onde estás, às regiões excelsas do Céu,

Onde a Tua vida dura eternamente.

A vida na Terra é uma agonia contínua,

Enquanto o meu coração sente que está criado para grandes alturas,

E não o atrai nada a terra plana desta vida,

Porque a minha pátria é o Céu. Esta é a minha fé inquebrantável.

 

Fim do quinto caderno

manuscrito do DIÁRIO

 

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