SEGUNDO CADERNO
Cantarei eternamente
a Misericórdia do Senhor
A Divina Misericórdia na minha alma
DIÁRIO
Ir. M. Faustina
JMJ
522. Cantarei eternamente a Misericórdia do Senhor
Diante de todo o povo,
Já que este é o maior atributo de Deus
E para nós um milagre contínuo.
Brota da Divina Trindade,
Mas de um único seio amoroso;
A Misericórdia do Senhor aparecerá na alma
Em toda a sua plenitude, quando caia o véu.
Da fonte da Tua Misericórdia, oh Senhor,
Fluem toda a felicidade e toda a vida;
E assim, todas as criaturas e todas as coisas
Cantai com êxtase o hino da Misericórdia.
As entranhas da Divina Misericórdia abertas
Para nós,
Pela vida de Jesus pregado na cruz;
Não deverias duvidar nem desesperar, oh pecador,
Mas confiar na Misericórdia,
Porque tu também podes ser santo.
Dos mananciais jorraram em forma de raios,
Do Coração de Jesus,
Não para os Anjos, nem Querubins, nem Serafins,
Mas para salvar o homem pecador.
JMJ
523. Oh vontade de Deus
Sê o meu amor.
Oh meu Jesus, Tu sabes que por mim mesma não escreveria uma só letra
e se escrevo é por clara ordem da santa obediência.
Deus e as almas
Ir. M. Faustina do Santíssimo Sacramento
524. Oh Jesus, Deus oculto, o meu coração descobre-Te,
Embora Te cubram os véus, Tu sabes que Te amo.
525. Vilna, 24 XI 1935
JMJ - Segundo caderno
Bendito seja Deus
Oh Santíssima Trindade, na que está encerrada a vida interior de Deus,
Pai, Filho e Espírito Santo, oh gozo eterno, inconcebível abismo de amor
que Te derramas sobre todas as criaturas e as fazes felizes, honra e glória ao
Teu nome pelos séculos dos séculos.
Amen.
Quando conheço a Tua grandeza e a Tua beleza, oh meu Deus, alegrome indescritivelmente por ser tão grande o Senhor a quem sirvo. Com amor
e alegria cumpro a sua santa vontade e quanto mais o conheço, tanto mais
fervorosamente desejo amá-lo. Queima-me o desejo de O amar cada vez
mais.
526. Esta quinta-feira, enquanto fazíamos a adoração nocturna, ao
princípio não pude rezar, uma aridez apoderou-se de mim; não pude
contemplar a dolorosa Paixão de Jesus, mas prostrei-me em cruz e ofereci a
dolorosa Paixão do Senhor Jesus ao Pai Celestial como satisfação pelos
pecados do mundo inteiro. Ao levantar-me do chão, depois daquela prece e
ao voltar ao meu genuflexório, de repente vi Jesus junto a ele. O Senhor
Jesus com o mesmo aspecto que tinha durante a flagelação; na mão tinha
uma túnica branca com a qual me cobriu e um cordão com que me cingiu;
colocou-me ainda um manto vermelho, igual ao que O cobria na Paixão, e
um véu da mesma cor e disse-me: Tu e as tuas companheiras usarão um
hábito igual; a minha vida desde o nascimento até a morte na cruz será
a vossa Regra. Contempla-me e vive de acordo com isto; desejo que
penetres mais profundamente no Meu espírito e [tenhas presente] que
sou manso e humilde de Coração.
527. Uma vez senti na alma um impulso para que me pusesse à obra e
cumprisse tudo o que Deus exigia de mim. Entrei um momento na capela e
ouvi esta voz na alma: ¿Por que tens medo? Pensas que Me faltará a
omnipotência para te ajudar? E [em] aquele momento senti na alma uma
estranha força, já nada me parecendo todas as contrariedades que me
poderiam suceder [em] o cumprimento da vontade de Deus.
528. Na sexta-feira, durante a Santa Missa, a minha alma foi inundada
pela felicidade de Deus e ouvi no meu interior estas palavras: A Minha
Misericórdia passou para as almas através do Coração divino–humano
de Jesus, como um raio de sol através do cristal. Senti na alma e
compreendi que toda a aproximação a Deus nos é dada por Jesus, n’Ele e
por Ele.
529. No dia em que terminou a novena em Ostra Brama, ao anoitecer
, cantadas as ladainhas, um dos sacerdotes trouxe o Santíssimo
Sacramento na custódia; quando o pôs no altar, imediatamente vi o pequeno
Menino Jesus que estendia as mãozinhas para a sua Mãe, que naquele
momento tinha um aspecto vivo. Enquanto a Virgem me falava, Jesus
estendia as mãozinhas para o povo reunido. A Virgem Santíssima disse-me
para aceitar todas as exigências de Deus como uma criança pequena, sem
averiguar nada; o contrário não agradaria a Deus. No mesmo instante o
Menino Jesus desapareceu e a Virgem perdeu o aspecto vivo e a imagem
ficou como era antes, mas a minha alma ficou cheia de gozo e de grande
alegria e disse ao Senhor: Faz de mim o que Te agradar, estou disposta a
tudo, mas Tu, oh Senhor, não Te afastes de mim nem por um momento.
530. JMJ Em honra da Santíssima Trindade
Pedi à Madre Superiora o jejum de quarenta dias, tomando uma
vez por dia uma fatia de pão e um copo de água; no entanto a Madre
Superiora não me deu licença para quarenta dias, mas para sete dias, de
acordo com a opinião do confessor. «Não posso dispensá-la de todo
das tarefas, devido ao que outras irmãs poderiam pensar; dou-lhe licença
para se dedicar na medida do possível, à oração e de tomar notas de
algumas dessas coisas, mas será mais difícil justificá-la no que diz respeito
ao jejum; aí não consigo arranjar nenhum pretexto.» E disse: «Mas vá-se
embora a irmã, talvez me seja dada alguma luz».
Na manhã do domingo compreendi interiormente que quando a Madre Superiora me tinha
destinado para a porta à hora das refeições, pensou dar-me a oportunidade
de jejuar. De manhã não estive no pequeno almoço, mas pouco depois fui
falar com a Madre Superiora e perguntei: Se estou na porta será fácil não
chamar a atenção sobre mim. E a Madre Superiora respondeu-me: «Quando
a designei estava a pensar nisso». Naquele momento compreendi que
tinha sentido interiormente a mesma ideia.
531. 24 XI 1935. Domingo, primeiro dia. Fui imediatamente diante do
Santíssimo Sacramento e ofereci-me com Jesus, que está no Santíssimo
Sacramento, ao Pai Eterno. Então ouvi na alma estas palavras: A tua
intenção e a das tuas companheiras é unir-se a Mim o mais
estreitamente possível através do amor. Reconciliarás a Terra com o
Céu, mitigarás a justa cólera de Deus e rogarás a Misericórdia para o
mundo. Confio ao teu cuidado duas pérolas preciosas para o Meu
Coração, que são as almas dos sacerdotes e as almas dos religiosos; por
elas rogarás de maneira especial, a força delas virá do teu
aniquilamento. As preces, os jejuns, as mortificações, as fadigas e todos
os sofrimentos, os unirás à oração, ao jejum, à mortificação, à fadiga
[e] ao Meu sofrimento, e então terão valor diante do Meu Pai.
532. Depois da Santa Comunhão vi o Senhor Jesus que me disse estas
palavras: Hoje, medita no espírito da Minha pobreza e dispõe tudo de
tal modo que os mais pobres não tenham nada que invejar-te. Não são
os grandes palácios, nem as esplêndidas instalações que Me dão
satisfação, mas o coração puro e humilde.
533. Ao ficar-me só comecei a reflectir sobre o espírito de pobreza. Vejo
claramente que Jesus não possuía nada sendo o Dono do todas as coisas. O
presépio emprestado; caminha pela vida fazendo o bem a todos sem ter
onde apoiar a cabeça. E na cruz vejo o cúmulo da sua pobreza, já que nem
sequer tem posta uma veste. Oh Jesus, através do solene voto de pobreza
desejo assemelhar-me a Ti; a pobreza será a minha mãe. Não possuir nada
exteriormente nem dispôr de nada como de minha propriedade, nem
tampouco desejar interiormente alguma coisa. E no Santíssimo Sacramento
¡que grande é a Tua pobreza! ¿Houve alguma vez uma alma tão abandonada
como Tu, Jesus, na cruz?
534. A castidade. Este voto entende-se por si mesmo, proíbe tudo o que
é proibido pelo sexto e nono mandamentos de Deus, naturalmente: obras,
pensamentos, palavras, sentimentos, e …
Entendo que o voto solene difere do voto simples, entendo-o em todo o
seu alcance. Quando reflectia sobre isso, ouvi na alma estas palavras: Tu és
Minha esposa para a eternidade, a tua pureza deve ser maior que a dos
anjos, porque com nenhum anjo tenho relação de tão estreita
intimidade como contigo. A mais pequena acção da Minha esposa tem
um valor infinito, a alma pura tem um poder incalculável diante de
Deus.
535. A obediência. Vim para cumprir a vontade do Meu Pai. Fui
obediente aos pais, obediente aos verdugos, sou obediente aos
sacerdotes. Compreendo, Oh Jesus, o espírito da obediência e em que
consiste; não se refere somente ao comportamento exterior, mas abrange
também a mente, a vontade e o juízo. Obedecendo às Superioras,
obedecemos a Deus. Não tem importância se é um Anjo ou um homem que
me mande em nome de Deus, tenho que ser obediente sempre. Não vou
escrever muito sobre os votos porque eles são claros por si mesmos e
baseiam-se em coisas concretas. Passo antes, de seguida, a dar uma ideia
geral desta Congregação.
536. Resumo geral.
Nunca terá casas sumptuosas, mas uma modesta capela e junto a ela uma
pequena Comunidade, um pequeno grupito de almas, que será composto
por não mais de dez almas; além delas haverá duas almas que atenderão, no
exterior do claustro, as várias necessidades da Comunidade, e prestarão
vários serviços na igreja. Não usarão hábito, mas vestes seculares. Terão
votos mais simples e estarão directamente dependentes da Superiora, que
permanecerá na clausura. Participarão de todos os bens espirituais de toda a
Comunidade, mas nunca poderão ser mais de duas, de preferência uma.
Cada casa será independente das outras, mas todas estarão muito
estreitamente unidas pela Regra, pelos votos e pelo espírito. No entanto,
[em] casos excepcionais, poderá enviar-se uma irmã de uma casa para
outra; também é possível, ao fundar uma casa, transferir algumas religiosas,
se for necessário. Cada casa estará sujeita ao ordinário do lugar.
537. Cada religiosa viverá numa cela indiviual, mas será conservada a
vida comunitária; reunir-se-ão todas para a oração, refeições e recreio. Cada
religiosa, depois de emitir a profissão nunca mais verá o mundo, nem
sequer através da grade, que será tapada com um pano escuro, e também as
conversas serão estritamente limitadas. Será como uma pessoa morta que o
mundo não compreende e que não compreende o mundo. Deve estar entre o
Céu e a Terra, e implorar incessantemente a Deus a Sua Misericórdia para o
mundo e a fortaleza para os sacerdotes, para que as suas palavras não soem
em vão, e para que eles mesmos consigam manter-se [em] essa admirável
dignidade, tão expostos, sem nenhuma mancha… Apesar de serem poucas,
estas almas serão heróicas. Não haverá lugar para as almas cobardes nem
débeis.
538. Entre elas não se dividirão em coros nem em Madres, nem
Mãezinhas, nem reverendas, nem reverendíssimas, mas todas serão
iguais entre si, embora haja uma grande diferença de condição. Sabemos
quem era Jesus e como se humilhou e com quem se relacionava. Usarão um
hábito como o que Ele levava durante a Paixão, mas não somente a veste,
mas têm que imprimir em si os sinais com as quais Ele foi distinguido e
estes são: o sofrimento e o desprezo.
Cada uma procurará negar-se a si mesma em máximo grau e amar a
humildade, e a que mais se distinguir nesta virtude, será a mais capaz de
presidir às outras.
539. Como Deus nos fez comparticipantes da Sua Misericórdia, ou
melhor, até suas dispensadoras, deve ser grande o nosso amor para cada
alma, começando pelas eleitas e terminando na alma que ainda não conhece
Deus. Com a oração e a mortificação chegaremos até aos países mais
salvajens, abrindo o caminho aos missionários. Recordaremos que, como o
soldado na frente não pode resistir muito tempo sem ser sustentado pela
rectaguarda, que não toma parte directamente na batalha mas lhe dispensa
tudo o que necessitar. Para [o missionário] é a prece. Cada uma deve
distinguir-se pelo espírito do apostolado.
540. À noite, enquanto escrevia, ouvi na cela esta voz: «Não saias desta
Congregação, tem piedade de ti mesma, esperam-te grandes sofrimentos».
Quando olhei para onde saía a voz, não vi nada e continuei a escrever. De
repente ouvi um ruído e estas palavras: «Quando saíres, destruir-te-emos.
Não nos atormentes». Quando olhei vi muitos monstros feios; quando fiz
com o pensamento o sinal da cruz, dissiparam-se todos imediatamente. Que
horrivelmente feio é Satanás; pobres as almas que têm que viver na sua
companhia, pois vê-lo somente é mais repugnante que todos os tormentos
do Inferno.
541. Um momento depois ouvi na alma esta voz: Não tenhas medo de
nada, não te sucederá nada sem a Minha vontade. Depois destas
palavras do Senhor uma força misteriosa entrou na minha alma; alegro-me
grandemente pela bondade de Deus.
542. O postulantado. A idade para ser recebida. Podem ser recebidas
pessoas dos quinze aos trinta anos. Em primeiro lugar há que reparar no
espírito que inspira a pessoa e o seu carácter, se tem vontade firme e
coragem para seguir o caminho de Jesus, e isto com gozo e alegria, porque
Deus ama quem dá com alegria; tem que desprezar o mundo e a si própria.
A falta de dote nunca será um impedimento para ser aceite; também todas
as formalidades devem ser claras, não aceitar os casos complicados.
No entanto, não podem ser recebidas as pessoas melancólicas, inclinadas
à tristeza, com doenças contagiosas, caracteres ambíguos, receosos,
inadaptados à vida religiosa. Há que ter muito cuidado com a escolha dos
membros, porque basta uma pessoa não adaptada para provocar confusão
em tudo o convento.
543. A duração do postulantado. O postulantado será de um ano.
Durante esse período a pessoa deve analisar se aprecia este tipo de vida e se
é apta ou não para ela; e também a Mestra deve observar atentamente se a
pessoa é apta ou não para este tipo de vida. Se, depois de um ano, se
verificar que tem boa vontade e um sincero desejo de servir a Deus, há que
recebê-la no noviciado.
544. O noviciado deve durar um ano contínuo. A noviça será instruída
sobre as virtudes referentes aos votos e sobre a sua importância. A Mestra
deve pôr todo o empenho em dar-lhe uma formação sólida. Deve exercitá-la
na humildade já que somente o coração humilde observa os votos com
facilidade e experimenta grandes gozos que Deus derrama sobre uma alma
fiel.
As noviças não serão sobrecarregadas com trabalhos de
responsabilidade, para que possam dedicar-se livremente ao seu próprio
aperfeiçoamento. São obrigadas rigorosamente a observar as Regras e as
normas como as postulantes.
545. Depois de um ano de noviciado, se a noviça se revelou fiel, pode
ser admitida a pronunciar os votos por um ano; estes devem repetir-se
durante três anos; então podem já ser-lhes confiados cargos de
responsabilidade; no entanto, pertencerá ao noviciado e uma vez por
semana tem que assistir às conferências junto com as outras noviças, e os
últimos seis meses serão passados inteiramente no noviciado para se
prepararem bem para a profissão solene.
546. No que se refere à alimentação, não comeremos carne; as refeições
serão tais que nem mesmo os pobres nada terão que nos invejar. No entanto
os dias festivos podem diferir um pouco dos dias regulares. Comeremos três
vezes por dia, observaremos rigorosamente os jejuns no espírito primitivo e
especialmente os dois maiores. Os alimentos serão iguais para todas as
irmãs, excluindo qualquer excepção para que a vida comunitária seja
observada em toda a sua integridade, tanto nas comidas, como no vestir ou
o arranjo da cela; mas se uma das irmãs adoecer, devem dispensar-lhe todas
as atenções.
547. Quanto à oração. A meditação de uma hora, a Santa Missa e a Santa
Comunhão, dois exames de consciência, o ofício, o rosário, a leitura
espiritual, uma hora de oração durante a noite. Quanto à ordem do dia e ao
horário, poderá ser mais bem feito quando começarmos a viver segundo
este sistema.
548. De repente ouvi na alma estas palavras: Minha filha, asseguro-te
um sustento fixo do qual viverás. O teu empenho deve ser a total
confiança na Minha bondade, e o Meu é dar-te tudo o que necessitares.
Faço-Me dependente da tua confiança; se a tua confiança for grande a
Minha generosidade não terá limites.
549. Sobre o trabalho. Sendo pessoas pobres, elas mesmas executarão
todos as tarefas do convento. Cada uma deve ficar contente se lhe toca um
trabalho humilhante ou contrário à sua natureza, já que lhe será de ajuda
para a sua formação interior. A Superiora mudará com frequência as
obrigações das irmãs e assim as ajudará a separar-se completamente dessas
pequenas coisas a que as mulheres sentem um grande apego. De facto, às
vezes dá-me vontade de rir quando vejo que algumas almas se
desprenderam de coisas verdadeiramente grandes e têm apego aos trapitos,
isto é a ninharias. Cada uma das irmãs estará um mês na cozinha, não
excluindo sequer a Superiora. Que todas façam cada uma das tarefas que há
no convento, que todas tenham sempre a intenção pura em tudo, porque a
Deus não lhe agrada em absoluto a confusão.
550. Que elas mesmas se acusem das desobediências exteriores e peçam
a penitência à Superiora; que o façam no espírito de humildade. Que se
amem umas às outras com amor superior, com o amor puro, vendo em cada
irmã a imagem de Deus. A característica singular desta pequena
Comunidade é o amor, assim que não estreitem os seus corações, mas que
abracem o mundo inteiro, oferecendo Misericórdia a cada alma através da
oração, segundo a sua vocação. Se somos misericordiosas neste espírito,
também nós mesmas alcançaremos a Misericórdia.
551. Cada uma deverá ter um grande amor pela Igreja. Como uma boa
filha que ama a sua mãe e reza por ela, assim cada alma cristã deve rezar
pela Igreja que para ela é mãe. ¿E que dizer de nós, as religiosas, que nos
comprometemos especialmente a rezar pela Igreja? Então, que grande é o
nosso apostolado, embora tão escondido. Estas pequenas coisas de cada dia
serão depositadas aos pés de Jesus como uma oferenda de petição pelo
mundo; mas, para que a oferenda seja agradável a Deus, tem que ser pura;
para que a oferenda seja pura, o coração tem que livrar-se de todos os
apegos naturais e dirigir todos os sentimentos para o Criador, amando n’Ele
todas as criaturas, segundo a Sua santa vontade. E se cada uma se
comportar assim, no espírito de fervor, trará alegria à Igreja.
552. Além dos votos vejo uma Regra importantíssima; embora todas
sejam importantes, esta ponho-a em primeiro lugar, e é o silêncio. De facto,
se esta Regra fosse observada rigorosamente, eu estaria tranquila pelas
outras. As mulheres têm uma grande inclinação a falar. Na verdade, o
Espírito Santo não fala a uma alma distraída e tagarela mas, por meio das
suas silenciosas inspirações, fala a uma alma recolhida, a uma alma
silenciosa. Se se observasse rigorosamente o silêncio, não haveria
murmurações, amarguras, maledicências, bisbilhotices, não seria tão
maltratado o amor ao próximo, numa palavra, evitar-se-iam muitas faltas.
Os lábios calados são ouro puro e dão testemunho da santidade interior.
553. Mas imediatamente quero falar de outra Regra, isto é do falar. Calar
quando se deve falar, é uma imperfeição e às vezes até um pecado. Assim,
que todas tomem parte no recreio, e que a Superiora não dispense as irmãs
do recreio, se não for por alguma razão muito importante. Os recreios
devem ser alegres, no espírito de Deus. Os recreios dão-nos a oportunidade
de nos conhecermos melhor; que cada uma exprima a sua opinião com
simplicidade para edificar as outros e não com o espírito de alguma
superioridade nem, Deus nos livre, para discutir. Isso não correspondería à
perfeição nem com o espírito da nossa vocação que deve distinguir-se pelo
amor. Haverá recreios de meia hora duas vezes por dia. Mas se alguma irmã
interromper o silêncio tem a obrigação de se acusar imediatamente à
Superiora e pedir a penitência; que a Superiora, por essa falta, aplique uma
penitência pública e se não fosse assim, ela mesma responderia diante do
Senhor.
554. Sobre a clausura. Nos lugares delimitados da clausura não
poderá entrar ninguém sem autorização especial do ordinário e isto em
casos excepcionais, isto é, a administração dos sacramentos aos doentes, ou
a assistência e preparação para a morte, por ocasião dos ritos fúnebres. Pode
suceder também a absoluta necessidade de deixar entrar na clausura um
operário para fazer alguma reparação no convento, mas antes deve haver
uma licença especial. A porta que conduz à clausura deve estar sempre
fechada e somente a Superiora terá a chave.
555. Sobre o acesso ao locutório. Nenhuma irmã irá ao locutório sem
uma licença especial da Superiora; a Superiora não deve conceder
fácilmente licenças para ir com frequência ao locutório. As que morreram
para o mundo, não devem voltar a ele nem sequer através de conversas.
Mas se a Superiora considera oportuno que alguma irmã vá ao locutório,
deve ter em atenção as seguintes regras: acompanhe ela mesma aquela irmã
e, se não puder, designe uma substituta, e esta está obrigada à discreção, não
repetirá o que tiver ouvido no locutório, mas informará de tudo a Superiora.
Os colóquios devem ser breves, a menos que por respeito à pessoa demore
mais um pouco, mas nunca será descerrada a cortina, a não ser em casos
excepcionais, como por um insistente pedido do pai ou da mãe.
556. Sobre as cartas. Cada irmã pode escrever cartas seladas ao ordinário
de quem depende a casa; fora disso, pedirá licença por cada carta e entregála-á aberta à Superiora, e a Superiora deve guiar-se pelo espírito de amor e
de prudência. Tem o direito de a enviar ou de a reter, segundo o que for para
a maior glória de Deus, mas desejaria muito que desses escritos haja o
menos possível: ajudemos as almas com a prece e a mortificação e não com
cartas.
557. Sobre a confissão. O Ordinário designará os confessores para a
Comunidade, tanto os regulares como os extraordinários. O confessor
regular será um e escutará as confissões de toda a Comunidade uma vez por
semana. O confessor extraordinário virá em cada três meses e cada irmã
tem a obrigação de apresentar-se a ele embora não tenha a intenção de fazer
uma verdadeira confissão.
Nem o confessor regular nem o extraordinário permanecerá no seu cargo
mais de três anos; no final do triénio haverá uma votação secreta e de
acordo com ela a Superiora apresentará o pedido das irmãs ao ordinário; o
confessor pode ser designado para o segundo e também para o terceiro
triénio. As religiosas confessar-se-ão junto à grade fechada; também as
conferências serão pronunciadas para a Comunidade através da grade
coberta com a cortina escura. As irmãs não falarão nunca entre si da
confissão nem dos confessores, mas sobretudo rezem por eles para que
Deus os ilumine na direcção das suas almas.
558. Sobre a Santa Comunhão. As irmãs não devem falar de quais delas
se aproximam da Santa Comunhão com menor ou maior frequência.
Abstenham-se de fazer juízos sobre esta matéria, a que não têm direito;
qualquer juízo a este respeito pertence exclusivamente ao confessor. A
Superiora pode perguntar a uma irmã, mas não para conhecer a razão pela
qual não se aproximou da Santa Comunhão, mas para lhe facilitar a
confissão. Que as Superioras não se atrevam a entrar no ámbito das
consciências das irmãs. Às vezes, a Superiora pode dispôr que a
Comunidade ofereça a Comunhão por certa intenção. Cada uma deve
aspirar à máxima pureza da alma para poder receber diariamente o Hóspede
Divino.
559. Uma vez, ao entrar na capela, vi os muros de uma casa como que
abandonada, as janelas estavam sem vidros, as portas não terminadas
sem batentes, só tinham os caixilhos. De repente ouvi na alma estas
palavras: Aqui deve ficar aquele convento. Em verdade, não me agradou
muito que tivesse de ficar naquelas ruinas.
560. Quinta-feira. Sentia-me muito entusiasmada para dar começo à
Obra o mais cedo possível, segundo o desejo do Senhor. Quando fui
confessar-me, fiz prevalecer uma minha opinião à do confessor. Num
primeiro momento não me dei conta disso, mas enquanto rezava a Hora
Santa, vi o Senhor Jesus com o aspecto que tem na imagem e disse-me que
comunicasse ao confessor e às Superioras tudo o que me tinha dito e que
exigia de mim. E faz somente aquilo para o que receberes licença.
E deu-me a conhecer Jesus, o muito que lhe desagrada a alma arbitrária; naquela
alma reconheci-me a mim própria. Senti em mim a sombra do orgulho, e
desfiz-me em pó diante de Sua Majestade e, com o coração despedaçado,
pedi-Lhe perdão. Mas Jesus não me permitiu permanecer muito tempo em
tal disposição, mas o Seu divino olhar encheu a minha alma com um gozo
tão grande que não encontro palavras para exprimi-lo. E Jesus disse-me que
devia perguntar-Lhe e consultá-Lo mais. De verdade, que doce é o olhar do
meu Senhor. O Seu olhar penetra na minha alma até aos lugares mais
profundos, o meu espírito comunica com Deus sem pronunciar uma só
palavra; sinto que Ele vive em mim e eu n’Ele.
561. Uma vez vi aquela imagem [em] uma pequena capela e num
momento vi que aquela capelinha se transformou num templo grande e
belo, e naquele templo vi a Santíssima Virgem com o Menino nos braços.
Depois o Menino Jesus desapareceu dos braços da Virgem e vi uma imagem
viva de Jesus crucificado. A Virgem disse-me que me comportasse como
Ela: mesmo nas alegrias, eu deveria ter sempre os olhos fixos na cruz e
disse-me também que as graças que Deus me concedia não eram somente
para mim mas também para outras almas.
562. O Menino Jesus que vejo durante a Santa Missa não é sempre igual,
às vezes muito alegre, às vezes não olha para a capela. Agora, a maioria das
vezes está alegre quando o nosso confessor celebra a Santa Missa.
Surpreendi-me muito ao ver quanto o amava o pequeno Menino Jesus. Às
vezes vejo-O com uma camisita de cor.
563. Antes de vir para Vilna e antes de conhecer este confessor, uma vez
tinha visto uma igreja não muito grande e junto a ela esta Comunidade. O
convento tinha doze celas, cada religiosa tinha a sua cela pessoal. Vi o
sacerdote que ajudava na organização do convento e que conheci uns anos
mais tarde, mas já o tinha conhecido em visão. Vi a sua grande abnegação
em organizar tudo naquele convento e ajudava-o outro sacerdote que não
conheci até agora. Vi as grades de ferro tapadas com um pano escuro. As
irmãs não saíam à igreja.
564. Dia da Imaculada Conceição da Virgem. Durante a Santa Missa
ouvi um sussurro de roupas e vi a Santíssima Virgem num misterioso, belo
esplendor. Tinha uma túnica branca com uma faixa azul e disse-me: DásMe uma grande alegria adorando a Santíssima Trindade pelas graças e
privilégios que Me foram concedidos, e logo desapareceu.
565. Sobre as penitências e mortificações.
Em primeiro lugar estão as mortificações interiores, mas além delas
praticaremos as mortificações exteriores, definidas exactamente para que as
pratiquem todas. Estas são: três dias por semana observaremos o jejum
rigoroso. Estes dias são: sexta-feira, sábado e quarta-feira. Todas as sextasfeiras, durante o tempo necessário para rezar o salmo 50, submeter-se-ão à
disciplina, todas ao mesmo tempo nas suas próprias celas, às três da
tarde, pelos pecadores agonizantes. Durante os dois grandes jejuns,
como nos dias do trimestre e nas vigílias, a refeição consistirá
em: uma vez ao dia um pedaço de pão e um pouco de água.
Que cada uma trate de praticar estas mortificações que estão prescritas
para todas, mas se alguma irmã deseja algo mais, peça licença à Superiora.
Mais uma mortificação geral: nenhuma irmã pode entrar na cela de outra
sem licença especial da Superiora, mas a Superiora deve às vezes entrar
inadvertidamente nas celas das irmãs, não para espiar, mas no espírito de
amor e responsabilidade que tem perante Deus; nenhuma fechará nada à
chave, a Regra será a chave geral para todas.
566. Um dia, depois da Santa Comunhão vi repentinamente o Menino
Jesus que estava junto ao meu genuflexório, a que se agarrava com as duas
mãozinhas. Mesmo sendo um Menino pequeno, no entanto, senti timidez e
medo, vendo n’Ele o meu Juiz, Senhor e Criador, perante cuja santidade
tremem os Anjos e, por outro lado, a minha alma foi inundada do amor
inconcebível e pareceu-me que morria sob o seu influxo. Agora vejo que
Jesus fortalece primeiro a minha alma e torna-a capaz de conviver com Ele,
porque de outro modo não poderia suportar o que estou experimentando
neste momento.
567. O comportamento das irmãs para com a Superiora.
Todas as irmãs devem respeitar a Superiora como ao próprio Senhor
Jesus, conforme referi falando do voto da obediência. Que se portem com
confiança infantil, sem murmurar nunca nem criticar as suas ordens, porque
isso desagradaria muito a Deus. Que cada uma se guie pelo espírito de fé
para com as Superioras, que peça com simplicidade tudo o que necessitar.
Deus nos guarde, e que nunca se repita nem aconteça que alguma das irmãs
seja motivo de tristeza ou de lágrimas da Superiora. Que cada uma tenha
presente que, como o quarto mandamento obriga os filhos a respeitar os
pais, o mesmo se refere à religiosa para com a Superiora. Não é boa a
religiosa que se permite e se atreve a julgar a Superiora. Que sejam sinceras
com a Superiora e lhe falem de tudo e das suas necessidades com a
simplicidade de uma criança.
As irmãs dirigir-se-ão à sua Superiora deste modo: por favor, Irmã
Superiora. Nunca lhe beijarão a mão, mas cada vez que a encontrem no
corredor, como também quando forem à cela da Superiora, dirão: Louvado
seja Jesus Cristo, inclinando um pouco a cabeça.
As irmãs entre si dirão: Por favor, Irmã, acrescentando o nome. O
respeito à Superiora deve guiar-se pelo espírito de fé e não com
sentimentalismo nem com adulação, pois isso é indigno de uma religiosa e
muito a rebaixaria. Uma religiosa deve ser livre como uma rainha, e sê-lo-á
se vive em espírito de fé. Devemos escutar e respeitar a Superiora não por
ser boa, santa, prudente; não, não por tudo isto, mas somente porque para
nós ocupa o lugar de Deus e escutando-a é ao próprio Deus que se obedece.
568. O comportamento da Superiora para com as irmãs.
A Superiora deve distinguir-se pela humildade e amor para cada irmã,
sem excepção alguma.
Que não se deixe guiar por simpatia ou por antipatia, mas pelo espírito
de Cristo. Deve saber que Deus lhe pedirá conta de cada irmã. Que não faça
sermões às irmãs, mas que dê o exemplo de uma profunda humildade e o de
negação a si própria, pois este será o ensino mais eficaz para as que
dependem dela. Que seja firme, mas nunca brusca; que tenha paciência se a
cansam com as mesmas perguntas, embora tenha que repetir cem vezes a
mesma coisa, mas sempre com a mesma serenidade.
Que procure pressentir todas as necessidades das irmãs sem esperar que lhe peçam esta ou outra
coisa, porque são diversas as naturezas das almas. Se vê que alguma irmã
está triste ou sofredora, procure ajudá-la de qualquer maneira e consolá-la;
que ore muito e peça luz para saber como actuar com cada uma delas,
porque cada alma é um mundo diferente. Deus tem distintos modos para
tratar com as almas que, às vezes, para nós, são incompreensíveis e
inconcebíveis; por isso a Superiora deve ser prudente para não estorvar a
acção de Deus em nenhum alma.
Que nunca admoeste as irmãs quando está
nervosa, além de que as censuras devem sempre ser acompanhadas por
palavras de estímulo. Há que dar a conhecer à alma o seu erro, para que o
reconheça, mas não se deve desanimá-la. A Superiora deve distinguir-se por
um diligente amor pelas irmãs, deve tomar sobre si o peso para aliviar as
irmãs; que não exija nenhum tipo particular de serviços das irmãs, que as
respeite como esposas de Jesus e que esteja disposta a servi-las, tanto de dia
como de noite, antes pedindo que ordenando. Que tenha o coração aberto
aos sofrimentos das irmãs e que ela mesma estude e contemple seriamente o
livro aberto que é Jesus Crucificado.
Que sempre peça com fervor a luz e,
especialmente, quando tenha que solucionar alguma coisa de importância
com alguma irmã. Que tome cuidado para não entrar no âmbito das suas
consciências, porque neste campo é o sacerdote que tem a graça para tal;
mas se alguma alma sente necessidade de desafogar com a Superiora, então
a Superiora pode receber essas confidências, mas nunca esquecendo o
sigilo, porque nada desgosta mais uma alma que quando se diga a outros o
que ela disse em confidência, isto é em segredo. As mulheres têm sempre a
cabeça débil com respeito a isto; poucas vezes se encontra uma mulher com
a mente de homem. Procure uma profunda união a Deus e Deus governará
através dela. A Virgem Santíssima será a Superiora [208] deste convento e
nós seremos as suas filhas fiéis.
569. 15 XII 1935. Hoje, desde muito cedo, uma força misteriosa impeleme à acção, não me deixa em paz nem um momento; um ardor misterioso
acendeu-se no meu coração levando-me a agir, não consigo dominá-lo; é
um martírio silencioso conhecido somente por Deus, mas que Ele faça de
mim o que lhe agrade; o meu coração está disposto a tudo. Oh Jesus, meu
queridíssimo Mestre, não Te afastes de mim nem por um momento. Oh
Jesus, Tu sabes bem o débil que sou por mim própria, por isso sei que a
minha fraqueza Te obriga a estar constantemente comigo.
570. Uma vez vi o Senhor Jesus com uma túnica clara; isso foi na estufa
. Escreve o que te vou dizer: O Meu deleite é unir-Me a ti, espero
com grande anseio e intenso desejo este momento em que habitarei
sacramentalmente no teu convento. O meu espírito descansará naquele
convento, abençoarei especialmente as imediações onde estiver o
convento. Por amor para convosco afastarei todos os castigos que a
justiça do Meu Pai merecidamente aplica. Minha filha, inclinei o Meu
Coração para as tuas súplicas: a tua missão e dever aqui na Terra é
implorar a Misericórdia para o mundo inteiro.
Nenhuma alma encontrará justificação até que se dirija com confiança à Minha
Misericórdia e por isso o primeiro domingo depois da Páscoa há de ser
a Festa da Misericórdia. Nesse dia os sacerdotes devem falar às almas
sobre a Minha Misericórdia infinita. Nomeio-te dispensadora da Minha
Misericórdia. Diz ao teu confessor que a Imagem deve ser exposta na
igreja e não no convento, dentro da clausura. Por meio dessa Imagem
encherei as almas com muitas graças, por isso que todas as almas
tenham acesso a ela.
571. Oh meu Jesus, Verdade eterna, não tenho medo de nada, de
nenhumas dificuldades, de nenhums sofrimentos, temo somente uma coisa,
ofender-Te. Oh Jesus, preferiria não existir que entristecer-Te. Oh Jesus, Tu
sabes que o meu amor não conhece ninguém, somente a Ti, em Ti se afogou
a minha alma.
572. Oh, que grande deve ser o fervor de cada alma deste convento, se
Deus deseja morar connosco. Que cada uma tenha presente que se não
somos nós, almas religiosas, as que intercedem por Deus, então quem o
fará? Que cada uma arda como uma vítima pura de amor diante da
Majestade de Deus; mas para ser agradável a Deus, deve unir-se
estreitamente a Jesus; somente com Ele e por Ele podemos agradar a Deus.
573. 21 XII 1935. Uma vez o confessor disse que fosse visitar
aquela casa, se era a mesma que eu tinha conhecido em visão. Quando fui
com o meu confessor ver a casa, ou melhor as ruinas, com um só
relance reconheci que tudo era igual ao que tinha observado na visão.
Quando toquei as tábuas que estavam cravadas fazendo as vezes de porta,
no mesmo instante, uma força como um relâmpago penetrou a minha alma
dando-me a certeza absoluta.
Afastei-me depressa daquele lugar com a alma
cheia de alegria; parecia-me que alguma força me cravava naquele lugar.
Alegrei-me muito de ver uma inteira conformidade com a visão que tivera.
Quando o confessor falava do arranjo das celas e de outras coisas, encontrei
tudo idêntico ao que me tinha dito Jesus.
Alegro-me muito que Deus actue
por seu intermédio, mas não me surpreendo nada que Deus lhe dê tanta luz,
já que no coração puro e humilde mora Deus que é a Própria Luz e todos os
sofrimentos e todas as contrariedades existem para que se manifeste a
santidade da alma. Ao regressar a casa, entrei imediatamente na nossa
capela para descansar um momento e de repente ouvi na alma estas
palavras: Não tenhas medo de nada, Eu estou contigo, estes assuntos
estão nas Minhas mãos e serão realizados segundo a Minha
Misericórdia, e nada pode opor-se à Minha vontade.
574. Ano 1935, Vigília de Natal
Desde a primeira hora o meu espírito estava submergido em Deus, a Sua
presença trespassou-me por completo.
Ao anoitecer, antes de jantar, entrei um momento na capela para, aos pés
de Jesus, compartilhar o “oplatek” com os que estão longe, a quem Jesus
ama muito e a quem eu agradeço muito.
Enquanto estava compartilhando o “oplatek” em espírito com certa
pessoa, ouvi na alma estas palavras: O seu coração é, para Mim, o
paraíso na Terra. Quando saí da capela, num só momento envolveu-me a
omnipotência de Deus. Entendi quanto Deus nos ama; oh, se as almas
pudessem, pelo menos em parte, dar-se conta e compreender isto.
575. O dia de Natal
A Missa da Meia-noite. Durante a Santa Missa veio novamente o
pequeno Menino Jesus, extraordinariamente belo e que alegremente
estendia as mãozinhas para mim. Depois da Santa Comunhão ouvi estas
palavras: Eu sempre permaneço no teu coração, não somente no
momento em que Me recebes na Santa Comunhão, mas sempre. Vivi
estas festas com grande alegria.
576. Oh Santa Trindade, Deus eterno, o meu espírito submerge-se na
Tua beleza; para Ti os séculos não são nada.
Tu és sempre o Mesmo. Oh, que grande é a Tua Majestade. Oh Jesus,
¿qual é o motivo por que escondes a Tua Majestade, abandonaste o trono do
Céu e estás connosco? O Senhor respondeu-me: Minha filha, o amor
traíu-Me e o amor detém-Me. Oh Minha filha, se tu soubesses que
grande mérito e recompensa tem um só acto de amor puro para Mim,
morrerias de alegria.
Digo-to para que te unas a Mim constantemente
através do amor, porque esse é o fim da vida da tua alma; esse acto é
um acto de vontade; deves saber que a alma pura é humilde; quanto te
humilhas e te aniquilas perante a Minha Majestade, então persigo-te
com as Minhas graças, faço uso da omnipotência para te enaltecer.
577. Uma vez, quando o confessor me deu por penitência rezar um
Gloria, isso tomou-me muito tempo, mais de uma vez começava e não
chegava a terminar, porque o meu espírito se unia a Deus e não conseguia
estar presente em mim mesma. Com efeito, às vezes, apesar da minha
vontade, envolve-me a omnipotência de Deus e estou inteiramente
submergida n’Ele pelo amor, e então não sei o que passa à minha volta.
Quando disse ao confessor que esta breve oração me ocupava às vezes
muitíssimo tempo e que às vezes não conseguia rezá-la, o confessor
mandou-me rezá-la imediatamente no confessionário. No entanto o meu
espírito submergia-se em Deus e não conseguia pensar o que queria apesar
de fazer esforços. Então o confessor disse-me: Recite-a comigo. Repeti
cada palavra, mas enquanto repetia cada palavra, o meu espírito absorvia-se
na pessoa que nomeava.
578. Uma vez, Jesus disse-me de certo sacerdote que estes anos seriam
um adorno da sua vida sacerdotal. Os dias de sofrimento parecem sempre
mais longos, mas também eles passam, embora o façam devagar, de
maneira que às vezes nos parece que até andam para trás. Mas o seu fim
está próximo e depois há de chegar um gozo eterno e indizível. Eternidade,
¿Quem pode conceber e compreender ao menos esta palavra que provém de
Ti, oh Deus inconcebível, isto é, Eternidade?
579. Sei que, às vezes, as graças que Deus me concede são
exclusivamente para certas almas. Este conhecimento enche-me de uma
grande alegria; sempre me alegro com o bem de outras almas como se o
possuísse eu própria.
580. Uma vez o Senhor disse-me: Ferem-Me mais as pequenas
imperfecções das almas escolhidas que os pecados das almas que vivem
no mundo. Entristeci-me muito por Jesus padecer sofrimentos por causa
das almas escolhidas, e Jesus disse-me: Estas pequenas imperfeições, não
é tudo; desvendar-te-ei o segredo do Meu Coração, o que sofro por
parte das almas escolhidas: a ingratidão por tantas graças é o alimento
contínuo do Meu Coração por parte da alma eleita. O seu amor é tibio,
o Meu Coração não pode suportá-lo; estas almas obrigam-Me a rejeitálas.
Outras não têm confiança na Minha bondade e nunca querem sentir
a doce intimidade no seu coração, mas procuram-Me longe e não Me
encontram. Esta falta de confiança na Minha bondade é o que mais Me
fere. Se a Minha morte não as convenceu do Meu amor, ¿o que é que as
convencerá? Muitas vezes uma alma fere-Me mortalmente e então
ninguém Me consolará.
Fazem uso das Minhas graças para Me ofenderem. Há almas que
desprezam as Minhas graças e todas as provas do Meu amor; não
querem ouvir a Minha chamada, vão para o abismo infernal. A perda
destas almas mergulha-Me numa tristeza mortal. Em tais casos, apesar
de ser Deus, não posso ajudar nada a alma, porque ela Me despreza;
dispondo de livre vontade, pode desprezar- Me ou amar-Me. Tu,
dispensadora da Minha Misericórdia, fala ao mundo inteiro da Minha
bondade e com isto consolarás o Meu Coração.
581 Muitas mais coisas te direi quando falares Comigo no mais
íntimo do teu coração; ali ninguém pode impedir a Minha acção, é ali
onde descanso como num jardim cerrado.
582. O interior da minha alma é como um mundo grande e magnífico no
qual vivemos Deus e eu. Além de Deus ninguém mais tem acesso a ele. No
início desta minha vida com Deus dominava-me o temor e a
incompreensão. O Seu resplendor cegava-me e pensava que Ele não estava
no meu coração, no entanto eram nesses momentos que Deus trabalhava na
minha alma e o amor se tornava cada vez mais puro e mais forte; o Senhor
conduziu a minha vontade à mais estreita união com a sua santa vontade.
Ninguém pode entender o que estou vivendo neste magnífico palácio da
minha alma, onde estou continuamente com o meu Amadíssimo.
Nenhuma coisa exterior perturba a minha comunhão com Deus; embora
usasse as palavras mais fortes, não exprimiria nem sombra de como a minha
alma está embriagada de felicidade e de amor indizível, tão grande e tão
puro como a fonte de que brota, isto é, o próprio Deus. A alma é totalmente
embebida de Deus, sinto-o fisicamente e o corpo participa neste gozo;
embora sejam diversas as inspirações de Deus na mesma alma, no entanto
provêm da mesma fonte.
583. Numa ocasião vi Jesus sedento e a ponto de desfalecer, e disse-me:
Tenho sede. Quando lhe dei água, o Senhor tomou-a, mas não a bebeu e
desapareceu imediatamente; estava vestido como durante a Paixão.
584 Quando contemplas no fundo do teu coração o que te digo, tiras
um proveito muito maior que se lesses muitos livros. Oh, se as almas
quisessem escutar a Minha voz quando lhes falo no fundo dos seus
corações, em pouco tempo chegariam ao cume da santidade.
585. 8 I 1936. Quando fui falar com o Arcebispo disse-lhe que o
Senhor exigia de mim que eu reze, rogando a Divina Misericórdia para o
mundo, e que deveria ser criada uma Congregação que implorasse a Divina
Misericórdia para o mundo, e pedi que me desse autorização para tudo o
que Jesus queria de mim. O Arcebispo respondeu-me com estas palavras:
«Quanto às preces, irmã, dou-lhe licença e até a animo a rogar o mais
possível pelo mundo e impetrar para ele a Divina Misericórdia, porque
todos necessitamos da Misericórdia e seguramente tampouco o confessor
lhe impede, irmã, de rogar por esta intenção.
Quanto à Congregação, espere, irmã, que as coisas se ponham um pouco mais claras; esta Obra em
si é boa, mas não se deve ter pressa; se tal é a vontade de Deus, tarde ou
cedo, realizar-se-á. ¿Por que não?, existem tantas outras Congregações, pois
também esta surgirá, se Deus o quiser. Esteja completamente tranquila.
Jesus pode tudo; procure uma estreita união com Deus e esteja com bom
ânimo». Estas palavras deram-me grande alegria.
586. Ao afastar-me do Arcebispo, ouvi na alma estas palavras: Para
confirmar o teu espírito falo por meio dos Meus representantes, de
acordo com o que exijo de ti. Mas deves saber que nem sempre será
assim; contradizer-te-ão muitas coisas e através disso se manifestará a
Minha graça e que esta Obra é Minha; mas tu não tenhas medo de
nada, Eu estou sempre contigo. Hás de saber também, Minha filha, que
todas as criaturas, saibam ou não saibam, queiram ou não queiram,
acabam sempre por cumprir a Minha vontade.
587. Uma vez vi, de repente, o Senhor Jesus numa grande Majestade e
disse-me estas palavras: Minha filha, se quiseres, neste momento crio um
mundo novo mais belo do que este e passarás nele o resto dos teus dias.
Respondi: Não quero nenhum mundo, eu desejo-Te a Ti, oh Jesus, desejo
amar-Te com o amor com que Tu me amas; peço-Te uma coisa: Faz o meu
coração capaz de Te amar. Surpreende-me muito, meu Jesus, que faças tal
pergunta, porque na realidade ¿que faria eu com estes mundos embora mos
desses aos milhares? ¿Que proveito teria? Tu sabes bem, Jesus, que o meu
coração morre de nostalgia por Ti; tudo o que está sem Ti, para mim não é
nada. Naquele momento não vi nada, mas uma força envolveu a minha
alma e um estranho fogo incendiou o meu coração, e entrei numa espécia de
agonia por Ele; então ouvi estas palavras: A nenhuma alma Me uno tão
estreitamente e deste modo como a ti e isto pela profunda humildade e
amor ardente que tens por Mim.
588. Uma vez ouvi no meu interior estas palavras: Percebo cada
batimento do teu coração; deves saber, Minha filha, que um olhar teu
para alguém Me feriria mais que muitos pecados cometidos por outra
alma.
589. O amor expulsa o temor da alma. Desde que amei a Deus com todo
o meu ser, com toda a força do meu coração, desde então cedeu o temor e
embora me falem da sua justiça, não lhe tenho medo em absoluto, porque o
conheci bem: Deus é Amor e o seu Espírito é a paz. E agora vejo que as
minhas obras inspiradas pelo amor são mais perfeitas que as obras que fiz
por temor. Pus a minha confiança em Deus e não tenho medo de nada,
entreguei-me totalmente à Sua santa vontade; que faça de mim o que quiser
e eu, de qualquer maneira, amá-Lo-ei sempre.
590. Quando recebo a Santa Comunhão, peço e suplico ao Salvador que
cure a minha língua para que nunca ofenda o amor do próximo.
591. Oh Jesus, Tu sabes quão ardente é o meu desejo de esconder-me
para que ninguém me conheça, excepto o Teu dulcíssimo Coração. Desejo
ser uma pequenina violeta, escondida entre as ervas, desconhecida num
magnífico jardim cerrado, onde crescem esplêndidas rosas e lírios. A bela
rosa e o maravilhoso lírio deixam-se ver ao longe, mas para ver a pequena
violeta há que inclinar-se muito, só o seu perfume permite descobri-la. Oh,
quanto me alegro de poder esconder-me assim. Oh meu Divino Esposo,
para Ti são a flor do meu coração e o perfume do meu puro amor. A minha
alma perdeu-se em Ti, Deus eterno, desde o momento em que Tu Próprio
me atraíste para Ti;
592. Oh meu Jesus, quanto mais Te conheço, tanto mais fervorosamente
Te desejo. Conheci, no Coração de Jesus, que para as almas escolhidas no
Céu há outro Céu a que não todos têm acesso, mas somente as almas
escolhidas. Uma felicidade inconcebível na que será submergida a alma. Oh
meu Deus, não consigo descrevê-lo nem sequer numa mínima parte. As
almas são penetradas pela Sua divindade, passam de claridade em claridade,
luz imutável, mas nunca monótona, sempre nova, e que nunca se altera. Oh
Santa Trindade, deixa-Te conhecer pelas almas.
593. Oh meu Jesus, não há nada melhor para uma alma que as
humilhações. No desprezo está o segredo da felicidade; quando a alma
chega a conhecer que é uma nulidade, a miséria personificada, e que tudo o
que tem de bom em si mesma é exclusivamente dom de Deus, quando a
alma vê que tudo o que tem em si lhe foi dado gratuitamente e que de si
própria tem apenas a miséria, então mantém-se continuamente humilde
diante da Majestade de Deus; e Deus, vendo tal disposição da alma,
persegue-a com as Suas graças.
Quando a alma aprofunda o abismo da sua
miséria, Deus faz uso de Sua omnipotência para a enaltecer. Se há na Terra
uma alma verdadeiramente feliz, esta é somente uma alma verdadeiramente
humilde. Ao princípio o amor próprio sofre muito por causa disso, mas se a
alma enfrenta valorosamente repetidos combates, Deus concede-lhe muita
luz na qual ela vê o miserável e enganoso que é tudo. No seu coração está
apenas Deus; uma alma humilde não confia em si mesma, mas põe a sua
confiança em Deus. Deus defende a alma humilde e Ele Mesmo se introduz
nas suas coisas e então a alma permanece na máxima felicidade que
ninguém poderá compreender.
594. Uma noite veio ter comigo uma das irmãs defuntas que já antes
tinha chegado a ver-me algumas vezes; na primeira vez vi-a num estado de
grande sofrimento, depois os sofrimentos eram cada vez menores e, naquela
noite, vi-a resplandecente de felicidade e disse-me que já estava no paraíso;
disse-me que Deus provou esta casa com aquela tribulação porque a Madre
Geral tinha duvidado, não prestando fé ao que eu tinha dito desta alma. Mas
agora, como sinal de que agora está no Céu, Deus abençoará esta casa.
Depois aproximou-se a mim e abraçou-me cordialmente e disse: «Tenho de
partir já».
Compreendi a estreita união que há entre estas três etapas da vida das
almas, isto é, a Terra, o Purgatório e o Céu.
595. Notei que muitas vezes Deus submete algumas pessoas a provações
porque, segundo me disse, não lhe agrada a incredulidade. Uma vez, ao ver
que Deus pôs à prova um Arcebispo que estava mal disposto e não cria
nesta causa… tive pena e pedi a Deus por ele e o Senhor deu-lhe
alívio. A desconfiança desagrada muito a Deus e, por isso, algumas almas
perdem muitas graças. A desconfiança de uma alma fere o Seu dulcíssimo
Coração que está cheio de bondade e de amor inconcebível por nós; porque
é grande a diferença entre o dever do sacerdote que às vezes não deve crer,
mas para se convencer mais profundamente da veracidade dos dons ou das
graças em certa alma, e quando o faz para guiar melhor uma alma e
conduzi-la para uma mais profunda união com Deus; será grande e
incalculável a sua recompensa por isso. Mas menosprezar e desconfiar das
graças de Deus numa alma por não poder penetrá-las nem entendê-las, isto
não agrada ao Senhor. Sinto muito pelas almas que se encontram com
sacerdotes inexperientess.
596. Uma vez um sacerdote pediu-me que rezasse por sua
intenção; prometi rezar e pedi uma mortificação. Quando recebi licença
para certa mortificação, senti na alma o desejo de ceder naquele dia àquele
sacerdote todas as graças que a bondade de Deus me tinha destinado e pedi
a Jesus que se dignasse destinar-me todos os sofrimentos e todas as
tribulações exteriores e interiores que aquele sacerdote ia suportar naquele
dia. Deus aceitou em parte este meu desejo e imediatamente, sem saber de
onde, começaram a surgir distintas dificuldades e contrariedades até tal
ponto que uma das irmãs disse em voz alta estas palavras: «O Senhor Jesus
deve ter algum plano em que todos atormentem a Ir. Faustina».
As acusações que me faziam eram tão sem fundamento que algumas irmãs os
afirmavam e outras as negavam, enquanto eu, em silêncio, me oferecia por
aquele sacerdote. Mas isso não foi tudo; tive sofrimentos interiores.
Primeiro dominou-me uma aversão para as irmãs, depois começou a
atormentar-me uma estranha insegurança, não conseguia concentrar-me
para rezar, vários assuntos passavam pela minha cabeça causando-me
preocupações.
Quando, cansada, entrei na capela, uma estranha dor
estreitou a minha alma e comecei a chorar silenciosamente; então ouvi na
alma esta voz: Minha filha, ¿Por que choras? Se tu mesma te ofereceste
para este sofrimento; deves saber que o que tu assumiste por aquela
alma é apenas uma parte muito pequena. Ele sofre ainda mais. E
perguntei ao Senhor: ¿Por que Te comportas com ele deste modo? O senhor
respondeu-me que pela tripla coroa que lhe era destinada: da virgindade, do
sacerdócio e do martírio.
Naquele momento uma grande alegria dominou a
minha alma ao ver a grande glória que ele receberia no Céu. Então rezei o
Te Deum por esta singular graça de Deus, isto é, por ter sabido que
Deus se comporta assim com aqueles que deseja ter próximo de Si. Pois
todos os sofrimentos nada são, em comparação com o que nos espera no
Céu.
597. Um dia, depois da nossa Santa Missa, vi de repente o meu
confessor celebrando a Santa Missa na igreja de São Miguel, diante
da imagem de Nossa Senhora. Estava no ofertório da Santa Missa e vi o
pequeno Menino Jesus que se estreitava a ele como se estivesse fugindo de
alguma coisa, nele buscando refúgio. Mas ao chegar o momento da Santa
Comunhão, desapareceu como sempre. De repente vi a Santíssima Virgem
que o cobriu com o seu manto e disse: Ânimo, Meu filho; coragem, meu
Filho. E disse algo mais que não consegui ouvir.
598. Oh, que ardente é o meu desejo de que cada alma glorifique a Tua
Misericórdia. Feliz a alma que invoca a Misericórdia do Senhor;
experimentará o que disse o Senhor, isto é, que a defenderá como a sua
glória, ¿e quem se atreve a lutar contra Deus? Que toda a alma exalte a
Misericórdia do Senhor com a confiança na Sua Misericórdia, durante toda
a sua vida e especialmente na hora da morte.
Alma querida, não tenhas medo de nada, quem quer que sejas; e quanto
maior é o pecador, tanto mais direito tem à Tua Misericórdia, Senhor. Oh
bondade inconcebível, Deus é o primeiro em humilhar-se diante do pecador.
Oh Jesus, desejo glorificar a Tua Misericórdia com milhares de almas. Eu
sei bem, oh Jesus, que devo falar às almas da Tua bondade, da Tua
inconcebível Misericórdia.
599. Em certa ocasião uma pessoa pediu-me para rezar por ela; quando
me encontrei com o Senhor, disse-lhe estas palavras: Jesus, eu amo
especialmente as almas que Tu amas. E Jesus respondeu-me com estas
palavras: E Eu concedo graças especiais às almas pelas quais tu
intercedes diante de Mim.
600. Jesus defende-me de maneira misteriosa, na verdade, é uma grande
graça de Deus que experimento desde há muito tempo.
601. Uma vez, quando uma das irmãs adoeceu e estava a ponto de
morrer, reuniu-se toda a Comunidade e estava também presente um
sacerdote que deu a absolvição à enferma; subitamente vi uma multidão de
espíritos das trevas. Naquele momento, esquecendo-me que estava em
companhia das irmãs, agarrei no aspersório e aspergi-os com água benta e
desapareceram imediatamente. Mas quando as irmãs vieram para o
refeitório, a Madre Superiora chamou-me a atenção para que não
deveria ter aspergido a doente na presença do sacerdote, a quem
correspondia tal função. Aceitei a censura com espírito de penitência, mas a
água benta dá um grande alívio aos moribundos.
602. Oh meu Jesus, Tu vês o débil que sou por mim mesma, por isso
dirige Tu Mesmo todas as minhas coisas.
Sabes, oh Jesus, que sem Ti não me aproximo de nenhum problema, mas
Contigo afrontarei as coisas mais difíceis.
603. 29 I 1936. À noite, estando eu na minha cela, vi repentinamente
uma grande claridade e no alto desta claridade uma enorme cruz cinzenta
escura e de imediato fui atraída para próximo desta cruz; mas olhando-a
fixamente não compreendia nada e rezava [para perceber] o que significava.
De repente vi Jesus e a cruz desapareceu. O Senhor Jesus estava sentado
entre uma grande luz, os pés e as pernas até aos joelhos fundiam-se nesta
luz, de modo que não os via. Jesus inclinou-se para mim, olhou-me
amavelmente e falou-me sobre a vontade do Pai Celestial. Disse-me que a
alma mais perfeita e santa é aquela que cumpre a vontade do Pai, mas são
poucas estas almas. Com um amor especial olha a alma que vive segundo a
sua vontade; e Jesus disse-me que eu cumpro a vontade de Deus de modo
perfeito, isto é, perfeitamente e por isso Me uno a ti e Me relaciono
contigo de uma maneira tão especial e tão estreita. Deus envolve com
um amor inconcebível a alma que vive segundo a sua vontade. Compreendi
quanto Deus nos ama, quão simples é, embora incomprensível, que fácil é
tratar com Ele embora a Sua Majestade seja tão grande. Com ninguém me
relaciono tão fácilmente e com tanta desenvoltura como com Ele; nem
sequer a mãe natural com o seu filho, que ama sinceramente, se entendem
tão bem como a minha alma com Deus. Enquanto estava nesta união com o
Senhor, vi duas pessoas, não estando escondido de mim o seu íntimo; que
triste o estado destas almas!, mas confio em que também elas glorificarão a
Misericórdia do Senhor.
604. No mesmo momento vi também certa pessoa e em parte o
estado da sua alma, bem como as grandes provações que Deus enviava a
esta alma; esses sofrimentos eram mentais e com tal intensidade que tive
pena e disse ao Senhor: ¿Por que o tratas assim? Pela sua tripla coroa. E o
Senhor deu-me a conhecer a glória inefável que espera a sua alma, que é
semelhante a Jesus sofredor aqui na Terra; tal alma será semelhante a Jesus
na Sua glória. O Pai Celestial honrará e amará as nossas almas tanto quanto
veja em nós a semelhança a Seu Filho.
Compreendi que esta semelhança com Jesus nos é dada aqui na Terra.
Vejo almas puras e inocentes às quais Deus administra a Sua Justiça e estas
almas são as vítimas que sustentam o mundo e completam o que faltou à
Paixão de Jesus; são poucas estas almas. Alegro-me enormemente por Deus
me ter permitido conhecer tais almas.
605. Oh Santa Trindade, Deus eterno, agradeço-Te por me teres
permitido conhecer a grandeza e a diferença entre os graus da glória que
dividem as almas. Oh, que grande é a diferença entre um só grau de mais
profundo conhecimento de Deus. Oh, se as almas podessem sabê-lo. Oh
meu Deus, se pudesse conquistar mais um, suportaria com gosto todos os
tormentos que padeceram [todos] os mártires juntos. Na verdade, todos
estes tormentos me parecem nada em comparação com a glória que nos
espera por toda a eternidade.
Oh Senhor, submerge a minha alma no oceano
da Tua divindade e concede-me a graça de Te conhecer, porque quanto
melhor Te conheço, tanto mais fervorosamente Te desejo, e o meu amor por
Ti fortalece-se. Sinto na minha alma um abismo insondável que somente
Deus preenche; desfaço-me n’Ele, como uma gota no oceano; o Senhor
baixou até à minha miséria como um raio de sol para a Terra infértil e
rochosa e, no entanto, sob o poder dos seus raios, a minha alma cobriu-se de
verdura, de flores e de frutas e converteu-se num belo jardim para o Seu
descanso.
606. Oh meu Jesus, apesar das Tuas graças, sinto e vejo toda a minha
miséria. Começo o dia lutando e termino-o lutando; quando transponho uma
dificuldade, em seu lugar surgem dez para ultrapassar, mas não me aflijo
por isso, porque sei muito bem que este é o tempo da luta e não da paz.
Quando a luta se faz tão dura que supera as minhas forças, espero, como
uma criança, nos braços do Pai Celestial e tenho confiança que não
perecerei. Oh meu Jesus, sou tão propensa ao mal e isso obriga-me a vigiarme continuamente, mas nada me desalenta; confio na graça de Deus, que
sobeja onde a miséria é maior.
607. Entre as maiores dificuldades e contrariedades não perco a paz
interior nem o equilíbrio no exterior e isto desanima os adversários. No
meio das contrariedades, a paciência reforça a alma.
608. 2 de Fevereiro[1936]. De manhã, ao despertar-me ao som da
campainha, senti um sono tão grande que não conseguia acordar de todo;
dei um salto para a água fria e dois minutos depois o sono desapareceu. Na
meditação surgiu na minha cabeça toda uma confusão de pensamentos
inúteis e lutei durante toda a meditação. O mesmo ocorreu durante as
preces, mas quando começou a Santa Missa, na minha alma reinou uma
estranha calma e alegria. Nesse momento vi a Santíssima Virgem com o
Menino Jesus e o Santo Avôzinho, que estava detrás de Nossa
Senhora. A Santíssima Virgem disse-me: Aqui tens o tesouro mais precioso.
E deu-me o Menino Jesus. Quando recebi nos braços o Menino Jesus, a
Virgem e São José desapareceram; fiquei só com o Menininho Jesus: DisseLhe:
609. Sei que és o meu Senhor e Criador, apesar de ser tão pequeno. Jesus
estendeu os seus bracinhos e olhava-me sorrindo; o meu espírito estava
cheio de um gozo incomparável. De repente Jesus desapareceu e a Santa
Missa chegou ao momento da Santa Comunhão. Fui imediatamente com
outras irmãs tomar a Santa Comunhão com a alma cheia [da Sua presença].
Depois da Santa comunhão ouvi na alma estas palavras: Eu sou, no teu
coração, o mesmo que tiveste nos teus braços. Então pedi ao senhor por
certa alma para que lhe concedesse a graça na luta e lhe tirasse essa
prova. Será feito como pedes, mas o seu mérito não diminuirá. Uma
alegria reinou na minha alma por Deus ser tão bom e tão misericordioso;
Deus concede tudo o que pedimos com confiança.
610. Depois de cada conversa com o Senhor a minha alma é
singularmente fortalecida, uma profunda calma reina na minha alma e me
faz tão corajosa que não temo nada no mundo; tenho um só temor, o de
entristecer Jesus.
611. Oh meu Jesus, peço-Te pela bondade do Teu dulcíssimo Coração,
que se acalme a Tua ira e nos mostres a Tua Misericórdia. Que as Tuas
chagas sejam o nosso escudo perante a justiça do Teu Pai. Conheci-Te, oh
Deus, como uma Fonte de Misericórdia com que se anima e alimenta cada
alma. Oh, que grande é a Misericórdia do Senhor, por cima de todos os seus
atributos; a Misericórdia é o maior atributo de Deus, tudo o que me rodeia
me fala disso. A Misericórdia é a vida das almas, a sua compaixão é
inesgotável. Oh Senhor, olha para nós e trata-nos segundo a Tua piedade
infinita, segundo a Tua grande Misericórdia.
612. Uma vez tive dúvidas sobre se o que me tinha sucedido não tivesse
ofendido gravemente Jesus. Como não conseguia esclarecer-me, decidi não
me aproximar da Santa Comunhão antes de confessar-me, embora
imediatamente tivesse feito um acto de contrição, porque tenho a costume
de que depois da menor falta me exercito na contrição. Nos dias em que não
me aproximava da Santa Comunhão não sentia a presença de Deus, sofria
indescritivelmente por causa disso, mas suportava-o como castigo pelo
pecado. No entanto, durante a confissão recebi uma admoestação, pois
podia aproximar-me da Santa Comunhão, já que o que me tinha sucedido
não era um impedimento para a receber. Depois da confissão recebi a Santa
Comunhão, e vi Jesus que me disse estas palavras: Deves saber, Minha
filha, que não te unindo a Mim na Santa Comunhão Me desagradaste
mais que [cometendo] aquela pequena falta.
613. Um dia vi uma pequena capela e dentro dela seis irmãs que estavam
recebendo a Santa Comunhão, administrada pelo nosso confessor vestido
com uma sobrepeliz e uma estola. Naquela capela não havia nem
adornos nem genuflexórios; depois da Santa Comunhão vi o Senhor Jesus
como aparece na imagem. Jesus estava caminhando e eu chamei: ¿Senhor,
como podes passar e não me dizer nada? Eu não farei nada sem Ti, tens que
ficar comigo e abençoar-me, a esta Comunidade e à minha Pátria. Jesus fez
a sinal da cruz e disse: Não tenhas medo de nada. Eu estou sempre
contigo.
614. Nos dois últimos dias antes da Quaresma, junto com as alunas
, tivemos uma hora de adoração reparadora. Durante essas horas vi o
Senhor Jesus com o aspecto que teve depois da flagelação; a dor que
estreitou a minha alma era tão grande que tinha a sensação de experimentar
todos estes tormentos no meu próprio corpo e na minha própria alma.
615. 1 III 1936. Nesse dia, durante a Santa Missa, envolveu-me uma
estranha força e um impulso para que me pusesse a realizar os desejos de
Deus. Surgiu-me uma compreensão tão clara das coisas que o senhor
exigia de mim que se dissesse, ou me justificasse, dizendo que não
compreendia o que o Senhor exigia de mim, mentiria. Porque o Senhor dáme a conhecer a sua vontade explícita e claramente e nestas coisas não
tenho nem uma sombra de dúvida.
E compreendi que seria a maior
ingratidão diferir mais esta questão que o Senhor quer realizar para a sua
glória e para o proveito de um grande número de almas, servindo-Se de
mim como de um miserável instrumento pelo qual há de realizar os seus
eternos planos de Misericórdia. Na verdade, seria muito ingrata a minha
alma se se opusesse mais tempo à vontade de Deus. Já nada me detém nisto:
nem a perseguição, nem o sofrimento, nem o escárnio, nem ameaças, nem
súplicas, nem a fome, nem o frio, nem lisonjas, nem amizades, nem
contrariedades, nem os amigos, nem os inimigos, nem coisas que estou
vivendo agora, nem coisas que virão, nem o ódio do Inferno; nada me
impedirá de cumprir a vontade de Deus.
Não me apoio nas minhas próprias forças, mas na sua omnipotência,
porque se me deu a graça de conhecer a sua santa vontade, assim também
me concederá a graça de a poder cumprir. Não posso deixar de dizer quanto
se opõe a esta aspiração a minha própria natureza desprezível, que se
apresenta com as suas ambições e, por vezes, na minha alma desencadeia-se
uma luta tão grande que, como Jesus no Horto das Oliveiras, também eu
grito ao Pai Eterno: Se é possível afasta de mim este cálice, mas não como
eu quero mas como Tu queres, oh Senhor, que se faça a Tua vontade.
Não é um segredo para mim tudo o que terei que passar, mas com pleno
conhecimento aceito tudo o que me enviares, Senhor. Confio em Ti, Deus
misericordioso, e desejo ser a primeira a mostrar a confiança que exiges das
almas. Oh Verdade Eterna, ajuda-me e ilumina o caminho da minha vida e
faz que se cumpra em mim a Tua vontade.
Não desejo nada mais que cumprir a Tua vontade, Deus meu; não
importa se me será fácil ou difícil. Sinto que uma força misteriosa me
conduz à acção, mas uma só coisa me detém, a santa obediência. Oh meu
Jesus, por um lado apressas-me e, por outro, travas-me. Oh meu Jesus, que
nisto também se faça a Tua vontade. Em tal estado permaneci durante
alguns dias, sem interrupção; as forças físicas diminuiram e embora não
dissesse nada a ninguém, a Madre Superiora notou o meu sofrimento
e disse: «notei que a irmã está alterada e muito pálida». Recomendou-me
deitar-me mais cedo e dormir mais tempo e mandou que à noite me
trouxessem um copo de leite quente.
O seu coração carinhoso e
verdadeiramente materno desejava ajudar-me, mas as coisas exteriores não
influem nos sofrimentos do espírito, e não aliviou muito. No confessionário
tirava forças e consolo de que já não esperaria muito para pôr-me à obra.
616. Na quinta-feira, quando fui à minha cela, vi por cima de mim a
Sagrada Hóstia num grande esplendor. De repente ouvi a voz que me
parecia sair sobre a Hóstia: Nela está a tua força, ela te defenderá.
Depois destas palavras a visão desapareceu, mas na minha alma ficou
uma força e alguma luz misteriosa sobre em que consiste o nosso amor por
Deus; precisamente em cumprir a Sua vontade.
617. Oh Santa Trindade, Deus eterno, desejo resplandecer na coroa da
Tua Misericórdia como uma pedra pequenina cuja beleza depende da luz do
Teu raio e da Tua Misericórdia inconcebível. Tudo o que há de belo na
minha alma, é Teu, oh Deus; eu, por mim, sou sempre nada.
618. No começo da Quaresma pedi ao meu confessor uma mortificação
para aquele período quaresmal e recebi a de não reduzir na alimentação,
mas de meditar durante as refeições sobre como Jesus, na cruz, aceitou o
vinagre com fel: seria essa a mortificação. Não sabia que dela tiraria tão
grande proveito para a minha alma. O proveito consistia em que meditava
continuamente na sua dolorosa Paixão e, quando estava a comer, não
distinguia o que comia porque estava ocupada com a morte do meu Senhor.
619. Ao começo da Quaresma pedi também a alteração do exame
especial de consciência e recebi isto: que tudo o que ia fazer, seria com a
pura intenção de reparação pelos pecadores. Isto mantém-me numa
contínua união com Deus e esta intenção torna mais perfeitas as minhas
acções, já que tudo o que faço, faço-o pelas almas imortais. Todas as penas
e todas as fadigas nada são quando penso que servem para reconciliar as
almas pecadoras com Deus.
620. Maria [é] a minha instrutora, que me ensina sempre como viver
para Deus. O meu espírito resplandece na Tua doçura e humildade, oh
Maria.
621. Uma vez, quando entrei na capela para cinco minutos de adoração e
rezei por certa alma, compreendi que nem sempre Deus aceita as nossas
preces por aquelas almas pelas quais rogamos, mas que as destina a outras
almas, e não lhes levamos alívio nas penas que sofrem no fogo do
Purgatório; no entanto a nossa prece não se perde.
622. A relação confidencial da alma com Deus. Deus aproxima-se da
alma de maneira especial, só conhecida por Deus e pela alma. Ninguém se
dá conta desta união misteriosa, é o amor que preside a esta união e
somente o amor realiza tudo. Jesus entrega-Se à alma de maneira suave,
doce, revelando profunda serenidade. Jesus concede-lhe muitas graças e fála capaz de compartilhar os Seus pensamentos eternos, e às vezes revela à
alma os Seus desígnios divinos.
623. Quando o Padre Andrasz me disse que seria bom que na Igreja de
Deus existisse um grupo de almas que pedissem a Divina Misericórdia,
porque, na realidade, todos necessitamos da Misericórdia, [227] depois
destas suas palavras penetrou na minha alma uma luz singular. Oh, que bom
é o Senhor.
624. 18 III 1936. Uma vez pedi a Jesus que Ele Mesmo desse o primeiro
passo com alguma modificação ou com algum acto exterior, ou que me
expulsassem, porque eu só não era capaz de abandonar esta Congregação, e
neste estado de ânimo estive agonizando mais de três horas. Não conseguia
rezar, mas submeti a minha vontade à vontade de Deus. Na manhã seguinte,
a Madre Superiora disse-me que a Madre Geral me transferira
para Varsóvia.
Respondi à Madre que talvez fosse melhor que saísse [da
Congregação] ali mesmo, imediatamente. Considerava que aquela era o
sinal exterior que tinha pedido a Deus. A Madre Superiora não me
respondeu a isto, mas um momento depois voltou a chamar-me e disse:
«Sabe irmã, vá, apesar de tudo; não pense que a viagem será um tempo
perdido embora tivesse de voltar imediatamente». Respondi: De acordo,
irei; apesar de que a dor me trespassou a alma, porque sabia que nesta
viagem, o assunto se adiaria; no entanto, apesar de tudo, sempre procuro ser
obediente.
625. À noite, enquanto rezava, a Virgem disse-me: A vossa vida deve ser
semelhante à minha, silenciosa e escondida; devem unir-se continuamente
a Deus, rogar pela humanidade e preparar o mundo para a segunda vinda
de Deus.
626. À noite, durante a Bênção, por um momento a minha alma
esteve em contacto directo com Deus Pai; senti que estava nos Seus braços
como uma criança e ouvi na alma estas palavras: Não tenhas medo de
nada, Minha filha, todos os adversários ficarão destruídos a Meus pés.
Com estas palavras entraram na minha alma uma profunda serenidade e um
extraordinário silêncio interior.
627. Quando me queixava ao Senhor de que me tirava esta ajuda e de
que ficaria só outra vez, sem saber como actuar, ouvi estas palavras: Não
tenhas medo, Eu estou sempre contigo. Depois destas palavras uma
profunda paz entrou outra vez na minha alma. A Sua presença penetrou-me
totalmente de maneira sensível. O meu espírito foi inundado de luz e
também o corpo participou nisto.
628. Na noite do último dia em que ia partir para Vilna, uma irmã,
de idade já avançada, revelou-me o estado da sua alma; disse-me que há um
par de anos sofria interiormente, que lhe parecia que todas as confissões
tinham sido mal feitas e que tinha dúvidas se Jesus lhe tinha perdoado.
Perguntei-lhe se tinha falado disso alguma vez ao confessor. Respondeu que
já muitas vezes tinha falado disso ao confessor e sempre os confessores
diziam que ficasse tranquila; «no entanto, sofro muito e nada me dá alívio, e
sempre me parece que Deus não me perdoou».
Respondi-Lhe: Obedeça,
irmã, ao confessor e esteja completamente tranquila, porque seguramente é
uma tentação. No entanto, ela com lágrimas nos olhos, suplicou que
perguntasse a Jesus se a tinha perdoado e se as suas confissões tinham sido
boas ou não. Respondi-Lhe energicamente: Pergunte a irmã mesma, se não
crê nos confessores. Mas ela agarrou a minha mão e não queria deixar-me
até que dissesse que rezaria por ela e lhe relataria o que Jesus me
respondesse.
Chorando amargamente não queria deixar-me e disse-me: «Eu
sei, irmã, que Jesus lhe fala». E eu sem poder libertar-me dela. À noite,
durante a Bênção, ouvi na alma estas palavras: Diz-lhe que a sua
desconfiança fere mais o Meu Coração que os pecados que cometeu.
Quando lhe contei pôs-se a chorar como uma criança e uma grande alegria
entrou na sua alma. Compreendi que Deus desejava consolar esta alma por
meu intermédio, portanto, apesar de que isto me custou muito, cumpri o
desejo de Deus.
629. Quando, naquela mesma noite, entrei um momento na capela para
agradecer a Deus por todas as graças que me tinha concedido naquela casa,
de repente envolveu-me a presença de Deus. Senti-me como uma criança
nas mãos do melhor Pai e ouvi estas palavras: Não tenhas medo de nada.
Eu estou sempre contigo. O Seu amor penetrou-me por completo; senti
que entrava com Ele numa intimidade tão estreita que não tenho palavras
para a exprimir.
630. De repente vi junto a mim um dos sete espíritos, radiante como
antes, com aspecto luminoso; via-o continuamente junto a mim
quando ia no comboio. Via que sobre cada igreja que passavamos havia um
Anjo, mas numa luz mais pálida que a do espírito que me acompanhava na
viagem. E cada um dos espíritos que guardavam os templos, inclinava-se
ante o espírito que estava ao meu lado.
Em Varsóvia, quando entrei pela porta [do convento], o espírito
desapareceu; agradeci a Deus pela Sua bondade, por dar-nos Anjos como
companheiros. Oh, que pouco pensam as pessoas que têm sempre a seu lado
tal hóspede, que é uma testemunha de tudo. ¡Pecadores!, recordem que têm
uma testemunha das vossas acções.
631. Oh meu Jesus, a Tua bondade supera toda a inteligência e ninguém
esgotará a Tua Misericórdia. Perdição para a alma que quer perder-se,
porque para a que deseja salvar-se, para ela é o mar inesgotável da
Misericórdia do Senhor; ¿Como pode um recipiente pequeno conter em si
um mar insondável?…
632. Quando me despedia das irmãs e estava já para partir, uma das
irmãs, pediu-me muito que a perdoasse por me ter ajudado tão pouco nas
minhas obrigações, e não somente por não me ter ajudado, mas por ter
sempre procurado torná-las mais difíceis. No entanto, eu considerava-a
minha grande benfeitora porque me tinha exercitado na paciência.
Exercitava até tal ponto que uma das irmãs mais idosas se expressou assim:
«a Ir. Faustina é estúpida ou santa, porque, em verdade, uma pessoa normal
não suportaria que alguém sempre a contrariasse». Eu, no entanto,
aproximava-me sempre dela com amabilidade. Aquela irmã empenhava-se
tanto em fazer-me difícil o cumprimento das minhas obrigações que, apesar
dos meus esforços, mais de uma vez conseguiu estragar o que estava bem
feito, como ela mesma confessou na despedida, pedindo-me mil desculpas.
Sem querer analisar as suas intenções, tomei a coisa como uma prova de
Deus…
633. Estranha-me muitíssimo como é possível ter uma inveja tão grande.
Eu, vendo o bem de alguém, alegro-me como se eu mesma o tivesse, a
alegria dos outros é a minha alegria e o sofrimento dos outros é o meu
sofrimento, porque se não fosse assim não me atreveria a relacionar-me
com Jesus. O espírito de Jesus é sempre simples, manso, sincero; cada
malícia, inveja, falta de bondade ocultada sob um sorriso de afabilidade é
um diabito inteligente; uma palavra dura, mas que provém do amor sincero,
não fere o coração.
634. 22 III 1936. Ao chegar a Varsóvia, entrei um momento na pequena
capela para agradecer a Jesus pela viagem feliz e pedi ao Senhor a ajuda e a
graça em tudo o que me esperava, submetendo-me em tudo à sua santa
vontade. Ouvi estas palavras: Não tenhas medo de nada, todas as
dificuldades servirão para que se realize a Minha vontade.
635. Dia 25 de Março. Durante a meditação matutina envolveu-me a
presença de Deus de modo singular, enquanto reflectia sobre a grandeza
infinita de Deus e, ao mesmo tempo, sobre a sua condescendência com a
criatura. Então vi a Santíssima Virgem que me disse: Oh, como é agradável
a Deus a alma que segue fielmente a inspiração da sua graça. Eu dei ao
mundo o Salvador e tu deves falar ao mundo da sua grande Misericórdia e
preparar o mundo para a sua segunda vinda. Ele virá, não como Salvador
Misericordioso, mas como Justo Juiz. Oh, que terrível será esse dia. Já está
decidido o dia da justiça, o dia da ira divina.
Os Anjos tremem perante esse
dia. Fala às almas dessa grande Misericórdia, enquanto seja tempo para
conceder a Misericórdia. Se agora tu te calas, naquele dia tremendo
responderás por um grande número de almas. Não tenhas medo de nada,
permanece fiel até o fim, eu te acompanho com os meus sentimentos.
636. Quando cheguei a Walendów, uma das irmãs ao saudar-me
disse: Como a irmã chegou, então tudo irá bem agora. Perguntei-lhe:
¿Porque diz isso, irmã? E ela respondeu-me que o sentia dentro de si.
Aquela alma estava cheia de simplicidade e era muito agradável ao Coração
de Jesus. Efectivamente aquela casa estava numa extrema situação
económica… Não vou mencionar aqui tudo isso.
637. A confissão. Enquanto me preparava para a confissão, disse a Jesus
escondido no Santíssimo Sacramento: Jesus, peço-Te, fala-me pela boca
deste sacerdote e para mim o sinal será este: ele, naturalmente, não
sabe nada de que Tu, Jesus, exiges de mim esta fundação da Misericórdia;
pois que me diga algo sobre esta Misericórdia. Quando me aproximei do
confessionário e comecei a confissão, o sacerdote interrompeu-me a
confissão e começou a falar da grande Misericórdia de Deus com tanta
força que nunca antes ouvi falar assim, e perguntou-me: «¿Sabe que a
Misericórdia do Senhor está por cima de todas as suas obras, que é a coroa
das suas obras?»
Escutei atentamente aquelas palavras que o Senhor me
dizia pela boca daquele sacerdote. Embora creia que, sempre, no
confessionário, Deus fala pela boca do sacerdote, no entanto naquele
momento o constatei de modo especial. Apesar de que não revelei nada da
vida de Deus que tinha na minha alma e me acusei somente das faltas, no
entanto aquele sacerdote falou-me muito do que tinha na minha alma e me
comprometeu na fidelidade às inspirações de Deus. Disse-me: «Estás
caminhando pela vida com a Santíssima Virgem, que respondeu com
fidelidade a cada inspiração de Deus». Oh meu Jesus, quem consegue
compreender a Tua bondade?
638. Oh Jesus, afasta de mim os pensamentos que não concordem com a
Tua vontade. Vejo que nada me liga mais a esta Terra que esta Obra da
Misericórdia.
639. Quinta-feira. Durante a adoração da tarde, vi Jesus flagelado e
martirizado que me disse: Minha filha, desejo que dependas do confessor
nas coisas mais pequenas. Os teus maiores sacrifícios não Me agradam
se os fizeres sem licença do confessor e, pelo contrário, o mais pequeno
sacrifício tem uma grande importância a Meus olhos se tem licença do
confessor. As maiores obras não têm importância a Meus olhos se são
fruto do arbítrio próprio e muitas vezes não concordam com a Minha
vontade, merecendo mais castigo que recompensa; enquanto a mais
pequena das tuas acções com a licença do confessor é agradável a Meus
olhos e Me é intensamente querida.
Convence-te disto para sempre, vigia sem cessar, porque todo o
Inferno se empenha contra ti por causa desta Obra, já que muitas
almas se afastarão das portas do Inferno e glorificarão a Minha
Misericórdia. Mas não tenhas medo de nada, porque Eu estou contigo;
deves saber que por ti própria não podes nada.
640. Na primeira sexta-feira do mês, antes da Comunhão, vi um grande
cibório cheio de Hóstias consagradas.
Uma mão colocou esse cibório diante de mim; peguei nele - continha mil
Hóstias vivas. Depois ouvi uma voz: Estas Hóstias foram recebidas pelas
almas para as quais pediste a graça de uma sincera conversão durante
esta Quaresma. Isso foi uma semana antes de Sexta-feira Santa. Passei
aquele dia num profundo recolhimento interior, aniquilando-me pela
salvação das almas.
641. Oh, que alegria é aniquilar-se pelo bem das almas imortais. Sei que
um grãozito de trigo para se transformar em alimento deve ser destruído e
triturado entre as pedras do moinho, assim eu, para que seja útil à Igreja e às
almas, tenho que ser aniquilada, embora exteriormente ninguém se dê conta
do meu sacrifício. Oh Jesus, desejo estar escondida por fora, como esta
hóstia na qual os olhos não distinguem nada, e ser uma hóstia consagrada a
Ti.
642. Domingo de Ramos. Este domingo experimentei de maneira
singular os sentimentos do dulcíssimo Coração de Jesus; o meu espírito
estava ali onde estava Jesus. Vi Jesus montado num burrito, e os discípulos,
e uma grande multidão que ia alegre junto a Jesus com ramos nas mãos; e
alguns atiravam-nos para debaixo dos pés onde passava Jesus e outros
mantinham os ramos ao alto, brincando e saltando diante do Senhor sem
saber que fazer de alegria. E vi outra multidão que saíu ao encontro de
Jesus, com rostos igualmente alegres e com ramos nas mãos, gritando sem
cessar de alegria; havia também meninos pequenos, mas Jesus estava muito
sério; o Senhor deu-me a conhecer o muito que sofria naqueles momentos.
Eu não via mais nada a não ser Jesus, que tinha o Coração saturado da
ingratidão [dos homens].
643. Confissão trimestral. O Padre Bukowski. Quando uma força interior
me inquietou novamente a que não atrasasse mais esta causa, não
encontrando paz, disse ao confessor, Padre Bukowski, que já não podia
esperar mais tempo. O padre respondeu-me: «Irmã, é uma ilusão, o Senhor
Jesus não pode exigir isto, a irmã tem votos perpétuos, tudo isso é uma
ilusão; a irmã está a inventar uma espécie de heresia», e gritava-me em alta
voz. Perguntei se tudo era ilusão; respondeu-me que tudo. E então ¿Como
devo comportar-me?; díga-me, por favor. «A irmã, não deve seguir
nenhuma inspiração, deve distrair-se e não fazer caso ao que ouça na alma,
trate de cumprir bem as suas obrigações exteriores e não pense nessas
coisas, viva numa contínua distracção».
Respondi: Está bem, porque até
agora tenho-me guiado pela minha própria consciência, mas agora se o
Padre me ordena que não faça caso da minha vida interior, não o farei. E
acrescentou: «Se o Senhor Jesus voltar a dizer-lhe alguma coisa, díga-mo,
mas a irmã, não deve fazê-lo». Respondi: Está bem, procurarei ser
obediente. Não sei de onde veio ao Padre tanta severidade.
644. Quando me afastei do confessionário, todo um conjunto de
pensamentos oprimiu a minha alma: ¿Para que ser sincera?; ao fim de
contas o que tinha dito não eram pecados, pois não estava obrigada a falar
disso ao confessor; e também, oh, que bom é não necessitar mais de fazer
caso da minha vida interior, contanto que exteriormente tudo corra bem.
Agora não tenho mais necessidade de fazer caso de nada nem seguir estas
vozes interiores que às vezes me custam tantas humilhações; agora já serei
livre.
Mas, ao mesmo tempo, uma estranha dor estreitava a minha alma.
Então ¿não posso relacionar-me com Aquele a quem anseio tão
fervorosamente? ¿Com Aquele que é toda a força da minha alma? Comecei
a gritar: ¿A quem irei, oh Jesus? Mas desde o momento da proibição do
confessor, uma imensa escuridão caiu na minha alma; tenho medo de
escutar alguma voz dentro de mim para não infringir assim a proibição do
confessor, mas, por outro lado, morro de nostalgia de Deus. O meu íntimo
dilacerado; não tendo vontade própria, confiei-me totalmente a Deus.
Isto sucedeu na Quarta-feira Santa; o sofrimento aumentou ainda mais
na Quinta-feira Santa.
Quando fui fazer a meditação, entrei numa espécie de
agonia, não sentindo a presença de Deus mas antes que toda a justiça de
Deus caía sobre mim. Via-me quase destruída pelos pecados do mundo.
Satanás começou a troçar de mim: «Vês, agora já não te ocuparás das
almas; vê que recompensa tens; ninguém vai acreditar que Jesus queira isto
de ti; vê como sofres agora e o que ainda vais sofrer mais. Aliás o confessor
libertou-te de tudo isto». Agora posso já viver conforme me apetecer, desde
que exteriormente tudo esteja bem.
Estes pensamentos terríveis
atormentaram-me durante uma hora inteira. Quando se aproximava a Santa
Missa, uma dor apertou o meu coração. ¿Devo sair da Congregação? E
dado que o Padre me disse que era uma heresia, ¿devo separar-me Igreja?
Gritei ao Senhor com voz interior e dorida: Jesus, salva-me. No entanto
nem um raio de luz entrou na minha alma e senti que as forças me
abandonavam, como se sucedesse a separação do corpo e da alma.
Submeto-me à vontade de Deus e repito: faça-se de mim, oh Deus, o que
decidires, agora em mim já não há nada de meu.
De súbito inundou-me a
presença de Deus e penetrou-me totalmente, até à medula dos ossos. Era o
momento da Santa Comunhão. Um instante depois da Santa Comunhão
perdi o conhecimento de tudo o que me rodeava e de onde estava.
645. Então vi Jesus assim como está pintado na imagem e disse-me: Diz
ao confessor, que esta Obra é Minha e que Me sirvo de ti como de um
miserável instrumento. Eu disse: Jesus, eu não posso fazer nada do que
me ordenas já que o confessor me disse que tudo isto é uma ilusão e que
não posso seguir as Tuas ordens; eu não posso fazer nada do que agora me
recomendas. Perdoa-me, Senhor, não me é permitido nada, eu tenho que ser
obediente ao confessor. Jesus, peço-Te muitíssimo perdão, Tu sabes quanto
sofro por esta razão, mas ¿que fazer?, Jesus, o confessor proibiu-me seguir
as Tuas ordens.
Jesus escutava amavelmente e com satisfação a minha argumentação e
os meus lamentos. Eu pensei que isto ofenderia muito Jesus e, pelo
contrário, Jesus estava contente e disse-me amavelmente: Informa sempre
o confessor de tudo o que Eu te recomendo e o que te digo e faz só
aquilo para que recebas licença; não te perturbes nem tenhas medo de
nada. Eu estou contigo. A minha alma encheu-se de alegria, e
desapareceram todos os pensamentos que a atormentavam enquanto
voltavam à minha alma a certeza e a coragem.
646. No entanto, um pouco depois comecei a padecer os tormentos que
Jesus sofreu no Horto das Oliveiras. Isto durou até à manhã de sexta-feira.
Na sexta-feira experimentei a Paixão de Jesus, mas já de modo diferente.
Naquele dia, veio de Derdy o Padre Bukowski. Uma força misteriosa levoume a ir confessar-me e dizer tudo o que me tinha acontecido e o que Jesus
me tinha dito. Quando o disse ao Padre, e ele estava completamente
mudado, respondeu-me: «Não tenha medo de nada, irmã, não lhe vai
suceder nada de mau, já que Jesus não o permitirá.
Como é obediente, nessa
disposição não se preocupe com nada. Deus encontrará o modo de realizar
esta Obra; tenha sempre essa simplicidade e sinceridade e conte tudo à
Madre Geral. O que eu lhe disse era para a prevenir, porque as ilusões dãose também em pessoas santas; a isso pode misturar-se, às vezes, alguma
insinuação do diabo ou também alguma coisa originada por nós próprios,
por isso deve ser prudente. Siga como até agora; a irmã vê que Jesus não se
ofendeu por isto. Pode repetir estas coisas que sucederam ao seu confessor
permanente».
647. Compreendi que tenho que rezar muito por cada confessor para que
o Espírito Santo os ilumine, porque quando me aproximo do confessionário
sem rezar antes fervorosamente, o confessor compreende-me pouco. Esse
Padre animou-me a pedir fervorosamente pela intenção de que Deus me
permitisse conhecer e compreender melhor as coisas que exige de mim:
«Irmã, faça novena após novena e Deus não recusará as suas graças».
648. Sexta-feira Santa. Às três da tarde vi Jesus crucificado que me
olhou e disse: Tenho sede. De repente vi que do seu lado saíam os dois
mesmos raios que estão na imagem. No mesmo momento senti na alma o
desejo de salvar almas e de me aniquilar pelos pobres pecadores.
Junto a Jesus agonizante ofereci-me ao Padre eterno pelo mundo. Com
Jesus e por Jesus e em Jesus estou unida a Ti, oh Pai eterno. Na Sexta-feira
Santa, Jesus sofreu na alma, já de maneira distinta que na Quinta-feira
Santa.
649. Santa Missa da Ressurreição [12 IV 1936]. Quando entrei na
capela, o meu espírito submergiu-se em Deus, no meu único tesouro; a sua
presença inundou-me.
650. Oh meu Jesus, Mestre e Director espiritual, fortifica-me, iluminame nestes momentos difíceis da minha vida, não espero ajuda de parte dos
homens, em Ti está toda a minha esperança. Sinto que estou só frente aos
teus desejos, Senhor. Apesar dos temores e da aversão da natureza, cumpro
a Tua santa vontade e desejo cumpri-la com a máxima fidelidade em toda a
minha vida e na hora da morte. Oh Jesus, Contigo posso todo, faz de mim o
que Te agrade, dá-me somente o Teu Coração misericordioso e será
suficiente para mim.
Oh Jesus e Senhor meu, ajuda-me para que se faça de mim o que
determinaste antes dos séculos, estou pronta para cada sinal da Tua santa
vontade. Concede luz à minha mente para que possa conhecer qual é a Tua
santa vontade. Oh Deus, que penetras a minha alma, Tu sabes que não
desejo nada mais que a Tua glória.
Oh, vontade divina, deleite do meu coração, alimento da minha alma, luz
do meu intelecto, força todo poderosa da minha vontade, já que quando me
uno à Tua vontade, Senhor, então a Tua potência actua através de mim,
ocupando o lugar da minha débil vontade. Todos os dias procuro cumprir os
desejos de Deus.
651. Oh Deus inconcebível. A grandeza da Tua Misericórdia sobrepassa
qualquer entendimento humano e angélico em conjunto. Todos os Anjos e
todos os homens saíram das entranhas da Tua Misericórdia. A Misericórdia
é a flor do amor: Deus é amor e a Misericórdia é a Sua acção, no amor se
forma, na Misericórdia se manifesta. Para onde olho, tudo me fala da Sua
Misericórdia, até a Justiça mesma de Deus me fala da Sua insondável
Misericórdia, porque a Justiça provém do amor.
652. A uma palavra presto atenção e desta palavra sempre dependo, e
esta palavra é tudo para mim, por ela vivo e por ela morro e esta é a santa
vontade de Deus. Ela é o meu sustento quotidiano, toda a minha alma está
atenta para escutar os desejos de Deus. Cumpro sempre o que Deus quer de
mim apesar de que alguma vez a minha natureza treme e sente que a Sua
grandeza ultrapassa as minhas forças. Sei bem o que sou por mim mesma,
mas sei, também, o que é a graça de Deus que me sustém.
653. 25 IV 1936. Walendów. Naquele dia o sofrimento da minha alma
foi tão duro como poucas vezes antes. Desde manhã sentia na alma como a
separação do corpo e da alma; sentia que Deus me penetrava totalmente,
sentia em mim toda a justiça de Deus, sentia que estava só frente a Deus.
Pensei que uma só palavra do director espiritual me acalmaria
completamente, mas ¿que fazer?, ele não estava ali. No entanto decidi
procurar luz na confissão. Quando descobri a minha alma ao sacerdote teve
medo de prosseguir escutando a minha confissão, o que me provocou um
sofrimento ainda maior. Quando vejo o temor de um sacerdote, então não
obtenho nenhuma tranquilidade interior, por isso decidi tratar de revelar a
minha alma em tudo, desde a coisa maior até à mais pequena, somente ao
director espiritual e seguir estritamente as suas indicações.
654. Agora compreendo que a confissão é somente a declaração dos
pecados e a direcção espiritual é [algo] completamente diferente, mas não
quero falar disto. Desejo relatar uma coisa estranha que me sucedeu pela
primeira vez: quando o confessor começou a falar-me, não compreendia
nenhuma das suas palavras. De repente vi Jesus crucificado que me disse:
Procura a força e a luz na Minha Paixão. Terminada a confissão meditei
a tremenda Paixão de Jesus e compreendi que o que eu sofria era nada em
comparação com a Paixão do Criador e que cada imperfeição, até a mais
pequena, tinha sido a causa daquela tremenda Paixão. Depois a minha alma
foi compenetrada por um grande arrependimento e só então senti que estava
no mar insondável da Misericórdia de Deus. Oh, que poucas palavras tenho
para exprimir o que sinto. Sinto que sou como uma gota de orvalho
absorvida pelo profundo oceano sem limites da Misericórdia de Deus.
655. 11 de Maio de 1936. Cheguei a Cracóvia e fiquei satisfeita,
esperando que pudesse cumprir, por fim, tudo o que Jesus exigia.
Uma vez, ao ver o Padre A. e depois de lhe dizer tudo, recebi esta
resposta: «Reze, irmã, até à festa do Sagrado Coração e acrescente alguma
mortificação, e no dia da festa do Sagrado Coração lhe darei a resposta».
Mas um dia ouvi na alma esta voz: Não tenhas medo de nada, Eu estou
contigo. Depois destas palavras senti na alma um ímpeto tão grande que
sem esperar a festa do Sagrado Coração, declarei na confissão que
abandonava a Congregação já. O Padre respondeu-me: «Se a irmã
tomou esta decisão, tomará também a responsabilidade por ela. Pois vá».
Alegrei-me de que já sairía.
Na manhã seguinte, de repente, abandonou-me a presença de Deus, uma
grande escuridão envolveu a minha alma, não conseguia rezar. Devido a
este inesperado abandono por parte de Deus, decidi adiar esta questão um
pouco, até consultar o Padre.
O Padre Andrasz respondeu-me que as alterações deste tipo sucedem
frequentemente e não é um impedimento para actuar.
656. A Madre Geral. Quando falava com a Madre sobre tudo o que
tinha sucedido, disse-me estas palavras: «Irmã, eu guardo-a no tabernáculo
com Jesus; para onde quer que vá, será a vontade de Deus».
657. 19 de Junho. Quando fomos aos jesuítas para a procissão do
Sagrado Coração, durante as vésperas, vi os mesmos raios que estão
pintados na imagem, saindo da Santíssima Hóstia. A minha alma foi
invadida por um grande anseio de Deus.
658. Junho de 1936. O colóquio com o Padre Andrasz.
«Há de saber que estas coisas são difíceis e duras; o seu director
principal é o Espírito Santo, nós podemos somente encaminhar estas
inspirações, mas o seu verdadeiro director é o Espírito Santo. Se a irmã
decidiu sair por sua iniciativa, eu nem lhe proíbo nem lhe ordeno, nisto
toma a responsabilidade por si mesma. Digo-lhe, irmã, que pode começar a
agir; está em condições, então pode. Estas coisas são credíveis, tudo o que
me disse agora e anteriormente é a favor, mas em tudo isto deve ser
muito prudente e rezar muito e pedir luz para mim».
659. Durante a Missa celebrada pelo Padre Andrasz, vi o pequeno
Menino Jesus que me disse que devia depender dele em tudo: Nenhuma
acção feita por iniciativa própria, embora te custe muitos esforços, não
Me agrada. Compreendi esta subordinação.
660. Oh meu Jesus, no dia do juízo final Tu pedirás conta desta Obra da
Misericórdia; oh Juiz justo, mas também Esposo meu, ajuda-me a cumprir a
Tua santa vontade. Oh Misericórdia, virtude divina.
661. 16 de Julho. Hoje passei toda a noite em oração; contemplava a
Paixão do Senhor, e a minha alma estava esmagada pela justiça de Deus. A
mão de Deus tocou-me.
662. 17 de Julho. Oh meu Jesus, Tu sabes que grandes são as
contrariedades com as quais tropeço nesta causa, quantas objecções devo
suportar, quantos sorrisos irónicos devo aceitar com serenidade.
Oh, por mim mesma não o suportaria, mas contigo posso tudo, oh meu
Mestre. Oh, que dolorosamente fere um sorriso irónico, quando se fala com
grande sinceridade.
663. 22 de Julho. Oh meu Jesus, sei que da grandeza do homem dá
testemunho a obra e não a palavra, nem o sentimento. As obras que
provieram de nós falarão por nós. Oh meu Jesus, não me permitas
devaneios, mas dá-me a coragem e a força para cumprir a Tua santa
vontade.
Oh Jesus, se queres deixar-me na incerteza, mesmo até o fim da minha
vida, o Teu nome seja bendito por isso.
Junho
664. Oh meu Jesus, quanto me alegro de que me tenhas assegurado que
esta Congregação surgirá. Já não tenho nenhuma sombra de dúvida sobre
isso, e vejo a grande glória que dará a Deus; será um reflexo do maior
atributo de Deus, isto é, a Divina Misericórdia. Impetrarão incessantemente
a Divina Misericórdia para si próprias e para o mundo inteiro, e cada acto
de Misericórdia brotará do amor de Deus de que estarão cheias. Procurarão
assimilar este grande atributo de Deus e viver dele, e procurarão que os
outros o conheçam e tenham confiança na bondade de Deus. Esta
Congregação da Divina Misericórdia será na Igreja de Deus como uma
colmeia num magnífico jardim, escondida, silenciosa. As irmãs, como
abelhas, trabalharão para alimentar com mel as almas dos próximos e a cera
fluirá em honra de Deus.
665. O Padre Andrasz recomendou-me fazer uma novena por intenção
de melhor conhecimento da vontade de Deus. Rezei com fervor
acrescentando uma mortificação corporal. No final da novena recebi uma
luz interior e a segurança de que a Congregação surgirá e que será
agradável a Deus. Apesar das dificuldades e contrariedades, na minha alma
entrou uma tranquilidade absoluta e uma força desde o alto. Conheci que à
vontade de Deus nada se oporia, nada a anularia; compreendi que devia
cumprir esta vontade de Deus apesar das contrariedades, as perseguições, os
sofrimentos de todo o tipo, apesar da aversão e do temor da natureza.
666. Compreendi que toda a aspiração à perfeição e toda a santidade
consistem em cumprir a vontade de Deus. O perfeito cumprimento da
vontade de Deus é a maturidade na santidade, aqui não há lugar a dúvidas.
Receber a luz de Deus, conhecer o que Deus exige de nós e não o praticar é
um grande ultraje à Majestade de Deus. Tal alma merece que Deus a
abandone completamente; parece-se a Lucifer que tinha uma grande luz e
não cumpria a vontade de Deus. Uma misteriosa calma entrou na minha
alma enquanto reflectia que, apesar das grandes dificuldades, sempre segui
fielmente a vontade de Deus [por mim] conhecida. Oh Jesus, concede-me a
graça de realizar a Tua vontade conhecida [por mim], oh Deus.
667. 14 de Julho. Às três recebi uma carta. Oh Jesus, Tu somente
sabes o que sofro, mas calarei, não o direi a nenhuma criatura, porque sei
que nenhuma me consolará. Tu és tudo para mim, oh Deus, e a Tua santa
vontade é o meu sustento; agora vivo do que viverei na eternidade.
Tenho uma grande veneração por São Miguel Arcanjo; ele não teve
exemplos no cumprimento da vontade de Deus e, no entanto, cumpriu
fielmente os desejos de Deus.
668. 15 de Julho. Durante a Santa Missa ofereci-me ao Pai Celestial por
meio do dulcíssimo Coração de Jesus, como disposta a tudo; que faça de
mim o que lhe agradar; eu, por mim mesma, sou uma nulidade e na minha
miséria não tenho nada que seja digno, portanto lanço-me ao mar da Tua
Misericórdia, oh Senhor.
669. 16 de Julho. De Jesus aprendo a ser boa, d’Aquele que é a mesma
bondade, para poder ser chamada filha do Pai Celestial. Hoje, antes de
meio-dia, tive um grande desgosto; nesse sofrimento procurei unir a minha
vontade à vontade de Deus e louvei a Deus com o silêncio. De tarde fui por
cinco minutos à adoração e, de repente, vi que a pequena cruz que levo ao
peito, estava viva; Jesus disse-me: Minha filha, o sofrimento será para ti
o sinal de que Eu estou contigo. Depois destas palavras uma grande
comoção penetrou na minha alma.
670. Oh Jesus, meu Mestre e meu Director Espíritual, eu sei conversar
somente Contigo; com ninguém é tão fácil o colóquio como Contigo, oh
Deus.
671. Na vida espiritual sempre me guiarei pela mão do sacerdote. Da
vida da alma e das suas necessidades falarei somente com o sacerdote.
672. 4 de Agosto de 1936. Um tormento interior de mais de duas horas.
Uma agonia… De repente penetra-me a presença de Deus, sinto que passo
sob o poder do Deus justo, esta justiça penetra-me até à medula dos ossos,
exteriormente perco as forças e o conhecimento. Subitamente conheço a
grande santidade de Deus e a minha grande miséria, na alma nasce um
tormento tremendo, a alma vê todas as suas obras que não são sem mancha.
Depois na alma desperta-se a força da confiança… E a alma com todas as
suas forças anseia por Deus, mas vê o miserável que é e o mísero que é tudo
o que a rodeia. E assim, frente àquela santidade, oh, pobre alma…
673. 13 de Agosto. Durante o dia inteiro estive atormentada por terríveis
tentações, vinham-me à boca blasfémias, uma aversão a tudo santo e divino;
no entanto lutei todo o dia; à noite começou a molestar-me a ideia: ¿Por que
falar disso ao confessor?, ele vai-se rir disto. Alguma aversão e um
desalento envolveram a minha alma e parecia-me que em tal estado não
podia aproximar-me de nenhum modo da Santa Comunhão. Ao pensar que
não ia aproximar-me da Santa Comunhão, uma dor tremenda estreitou a
minha alma, pouco faltou para que gritasse em voz alta na capela. No
entanto dei-me conta de que estavam outras irmãs e decidi ir ao jardim e
esconder-me para poder, ao menos, chorar alto.
674. De repente Jesus apresentou-se junto a mim e disse: ¿Onde pensas
ir? Não respondi nada a Jesus, mas desafoguei diante Ele toda a minha dor
e cessaram todas as insídias de Satanás. Jesus disse-me que: A paz interior
que tens é uma graça, e desapareceu subitamente. Eu senti-me feliz e
estranhamente tranquilizada. De verdade, só Jesus, Ele, o Senhor Altíssimo,
pode fazer que num momento volte uma tranquilidade tão completa.
675. 7 de Agosto de 1936
Quando recebi este artigo sobre a Divina Misericórdia junto com a
imagem, a presença de Deus envolveu-me de modo singular. Quando
me submergi na oração de agradecimento, de repente vi o Senhor Jesus
numa grande claridade, como está pintado, e aos pés de Jesus vi o Padre
Andrasz e o Padre Sopocko; os dois tinham canetas na mão e dos aparos de
ambas as canetas saíam feixes de luz e fogo semelhantes a raios que
atingiam uma grande multidão de pessoas que corria não sei de onde. Logo
que [alguém] era alcançado por aquele raio, deixava a multidão e estendia
os braços para Jesus; alguns voltavam com grande alegria e outros com
grande dor e pena. Jesus olhava com grande amabilidade para os dois
padres. Um momento depois fiquei a sós com Jesus e disse-lhe: Jesus, levame agora, porque a Tua vontade já está cumprida, e Jesus respondeu-me:
Ainda não se cumpriu em ti toda a Minha vontade; sofrerás ainda
muito, mas Eu estou contigo, não tenhas medo.
676. Falo muito com o Senhor sobre o Padre Andrasz e também sobre o
Padre Sopocko; sei que o que peço ao Senhor, não mo nega e concede-lhes
o que Lhe peço. Senti, e sei, quanto Jesus os ama; não o descrevo com
detalhes, mas sei e alegro-me enormemente.
15 de Agosto de 1936
677. Durante a Santa Missa celebrada pelo Padre Andrasz, um momento
antes da elevação, a presença de Deus penetrou a minha alma, que foi
atraída para o altar. Depois vi a Santíssima Virgem com o Menininho Jesus.
O Menino Jesus dava a mão à Virgem; num momento o Menino Jesus
correu alegremente para o centro do altar e a Santíssima Virgem disse-me:
Olha, com que tranquilidade confio Jesus nas suas mãos; assim também tu
deves confiar a tua alma e ser como uma criança para ele.
Depois destas palavras a minha alma ficou cheia de uma extraordinária
confiança. A Santíssima Virgem vestia uma túnica branca, singularmente
branca, transparente, nos ombros tinha um manto transparente como o azul
do Céu, a cabeça descoberta, o cabelo solto; esplêndida e indescritivelmente
bela. A Santíssima Virgem olhava o sacerdote com grande benevolência,
mas um momento depois o Padre partiu este lindo Menino e saíu sangue
vivo; o sacerdote inclinou-se e recebeu esse Jesus vivo e verdadeiro.
Comeu-O; não sei como isto sucede. Oh Jesus, Jesus, não consigo seguirTe, porque Tu num momento Te fazes incompreensível para mim.
678. A essência das virtudes é a vontade de Deus; quem cumpre
fielmente a vontade de Deus, exercita-se em todas as virtudes. Em todos os
casos e todas as circunstâncias da vida adoro e bendigo a santa vontade de
Deus. A santa vontade de Deus é o objecto do meu amor. Nos mais secretos
recantos da minha alma vivo da Sua vontade e exteriormente actuo na
medida em que conheço interiormente que tal é a vontade de Deus. Os
tormentos, os sofrimentos, as perseguições e todo o tipo de contrariedades
que vêm da vontade de Deus, são-me mais agradáveis que os êxitos, os
elogios e os louvores que vêm do meu próprio querer.
679. Oh meu Jesus, boas noites, a campainha chama-me para dormir. Oh
meu Jesus, vês que estou agonizando pelo desejo da salvação das almas;
boas noites, Esposo meu, alegro-me de estar um dia mais próximo da
eternidade, e se amanhã me permitires despertar-me, oh Jesus, iniciarei um
novo hino à Tua glória.
680. 13 de Julho. Hoje, durante a meditação entendi que não devo nunca
falar das minhas próprias vivências interiores; mas não ocultar nada ao
director espiritual. Pedirei a Deus uma especial luz para o director da minha
alma. Dou mais importância à palavra do confessor que a todas as
iluminações interiores que recebo.
681. Durante os tormentos mais duros fixo o meu olhar em Jesus
Crucificado; não espero ajuda de parte dos homens, mas ponho a minha
confiança em Deus; na sua insondável Misericórdia está toda a minha
esperança.
682. Quanto mais sinto que Deus me transforma, tanto mais desejo
submergir-me no silêncio. O amor de Deus realiza a sua obra no mais
íntimo da minha alma, vejo que começa a minha missão, a que o Senhor me
encomendou.
683. Uma vez, quando rezava muito aos santos jesuítas, de repente vi o
Anjo da Guarda que me levou diante do trono de Deus; passei entre grandes
grupos de santos, reconheci a muitos pelas suas imagens; vi muitos jesuítas
que me perguntaram: ¿De que Congregação é esta alma? Quando lhes
respondi, perguntaram: ¿Quem é o teu director? Respondi que o Padre
Andrasz. Quando quiseram continuar a falar, o meu Anjo da Guarda fez
sinal de silêncio e passei diante do próprio trono de Deus. Vi uma claridade
grande e inacessível, vi o lugar destinado para mim na proximidade de
Deus, mas como é não sei, porque o cobria uma núvem, mas o meu Anjo da
Guarda disse-me: Aqui está o teu trono, pela fidelidade no cumprimento da
vontade de Deus.
684. Hora Santa. Quinta-feira. Naquela hora de prece Jesus permitiu-me
entrar no Cenáculo e estive presente durante o que ali sucedeu. O que mais
profundamente me comoveu foi o momento antes da consagração, em
que Jesus levantou os olhos ao Céu e entrou num misterioso colóquio com o
Seu Pai. Aquele momento só o conheceremos devidamente na eternidade.
Os Seus olhos eram como duas chamas, o rosto resplandecente, branco
como a neve, todo o Seu aspecto era majestoso, a Sua alma cheia de
nostalgia. No momento da consagração o amor ficou saciado, o sacrifício
completamente cumprido. Agora se cumprirá somente a cerimónia exterior
da morte, a destruição exterior, [mas] a essência vem do Cenáculo. Em toda
a minha vida não tive um conhecimento tão profundo deste mistério como
naquela hora de adoração. Oh, com que ardor desejo que o mundo inteiro
conheça este mistério insondável.
685. Terminada a Hora Santa, quando fui para a minha cela, conheci
repentinamente quanto Deus era ofendido por uma pessoa próxima ao meu
coração. Ao vê-lo, a dor trespassou a minha alma, arrojei-me no pó diante
do Senhor e implorei Misericórdia. Durante duas horas, chorando, rogando
e flagelando-me impedi o pecado, e conheci que a Divina Misericórdia
envolveu aquela pobre alma. Oh, quanto custa um só, único, pecado.
686. Setembro. Primeira sexta-feira. À noite vi a Santíssima Virgem com
o peito descoberto, trespassado por uma espada. Chorava lágrimas ardentes
e protegia-nos de um tremendo castigo de Deus.
Deus quer infligir-nos um terrível castigo, mas não pode porque a
Santíssima Virgem nos protege. Um medo tremendo atravessou a minha
alma, rogo sem cessar pela Polónia, pela minha querida Polónia que é tão
pouco agradecida à Santíssima Virgem. Se não fosse a Santíssima Virgem,
para muito pouco teriam servido os nossos esforços. Multipliquei o meu
fervor nas preces e sacrificios pela minha querida Pátria, mas vi que era
uma gota de água frente a uma onda do mal. ¿Como uma gota pode deter
uma onda? Oh, sim, uma gota por si só é nada, mas Contigo, Jesus, com
coragem farei frente a toda a onda do mal e até ao Inferno inteiro. A Tua
omnipotência tudo pode.
687. Numa ocasião, enquanto ia pelo corredor à cozinha, ouvi na alma
estas palavras: Reza incessantemente esta coroinha que te ensinei. Quem
a reze receberá grande Misericórdia à hora da morte. Os sacerdotes a
recomendarão aos pecadores como a última tábua de salvação. Até o
pecador mais empedernido, se reza esta coroinha uma só vez, receberá
a graça da Minha Misericórdia infinita. Desejo que o mundo inteiro
conheça a Minha Misericórdia; desejo conceder graças inimagináveis
às almas que confiam na Minha Misericórdia.
688. Oh Jesus, Vida e Verdade, meu Mestre, guia cada passo da minha
vida para que proceda segundo a Tua santa vontade.
689. Uma vez, vi o trono do Cordeiro de Deus e diante do trono três
santos: Estanislao Kostka, Andrés Bobola e o príncipe Casimiro, que
intercediam pela Polónia. Em seguida vi um grande livro que estava diante
do trono e deram-me o livro para que o lesse. Aquele livro estava escrito
com sangue; no entanto, não pude ler nada mais que o nome de Jesus. De
repente ouvi uma voz que me disse: Ainda não chegou a tua hora.
Tiraram-me o livro e ouvi estas palavras: Tu darás o testemunho da
Minha Misericórdia infinita. Neste livro estão inscritas as almas que
veneraram a Minha Misericórdia.
Senti uma grande alegria vendo a grande bondade de Deus.
690. Uma vez conheci o estado de duas irmãs religiosas que depois de
uma ordem da Superiora murmuravam interiormente e em consequência
disto Deus privou-as de muitas graças especiais. A dor partiu-me o coração
ao ver isto. Oh Jesus, que triste é quando nós mesmos somos a causa da
perda das graças. Quem o compreende permanece sempre fiel.
691. Quinta-feira. Hoje, apesar de estar muito cansada, decidi fazer a
Hora Santa. Não pude rezar, tampouco pude estar ajoelhada, mas fiquei em
oração uma hora inteira unindo-me em espírito àquelas almas que adoram
Deus de maneira já perfeita. Mas no fim da hora, de repente, vi Jesus que
me olhou profundamente e com uma doçura indescritível disse-me: A tua
oração é-Me imensamente agradável. Depois destas palavras entrou na
minha alma uma força misteriosa e um gozo espiritual. A presença de Deus
impregnou a minha alma. Oh, o que se passa na alma quando se encontra a
sós com o Senhor, nenhuma caneta o conseguiu exprimir, nem jamais o
exprimirá…
692. Oh Jesus, compreendo que a Tua Misericórdia vai para além da
imaginação e portanto suplico-Te que faças o meu coração tão grande que
possa conter as necessidades de todas as almas que vivem sobre toda a face
da Terra. Oh Jesus, o meu amor estende-se para mais além, até às almas que
sofrem no Purgatório e quero exprimir a minha Misericórdia para elas
mediante as preces que têm as indulgências. A Divina Misericórdia é
insondável e inesgotável como o próprio Deus é insondável.
Embora usasse palavras enérgicas para exprimir a Divina Misericórdia,
tudo isso seria nada em comparação com o que é na realidade. Oh Jesus, faz
o meu coração sensível a todos os sofrimentos do meu próximo, sejam do
corpo ou da alma. Oh meu Jesus, sei que Te comportas connosco como nós
nos comportamos com o próximo.
Oh meu Jesus, faz o meu coração semelhante ao Teu Coração
Misericordioso. Jesus, ajuda-me a passar pela vida fazendo o bem a todo o
mundo.
693. 14 de Setembro de [1936]. Veio visitar-nos o Arcebispo de Vilna.
Mesmo estando connosco muito pouco tempo, tive a possibilidade de falar
da Obra da Misericórdia com este venerável sacerdote. Manifestou muita
simpatia pela causa da Misericórdia: «Esteja completamente tranquila,
irmã, se está nos desígnios da Divina Providência, surgirá. Entretanto peça
um sinal exterior mais evidente; que o Senhor Jesus lhe dê a conhecer isto
com mais claridade. Espere ainda um pouco. Jesus disporá as circunstâncias
de modo que tudo saia bem».
694. 19 de Setembro [1936]. Quando saímos do médico e
entrámos um momento na pequena capela que está no sanatório, ouvi na
alma estas palavras: Minha Filha, ainda umas quantas gotas no cálice,
não falta muito. A alegria inundou a minha alma, é esta a primeira
chamada do meu Esposo e Mestre. Enterneceu-se o meu coração e houve
um momento em que a minha alma se submergiu em todo o mar da Divina
Misericórdia; senti que a minha missão começava em toda a plenitude. A
morte não destrói nada do que é bom; rogo muitíssimo pelas almas que
padecem sofrimentos interiores.
695. Em certa ocasião, recebi dentro de mim luz sobre duas irmãs;
compreendi que nem com todos podemos comportar-nos da mesma
maneira. Há pessoas que, de um modo estranho, sabem travar amizade e,
como amigas, tirar palavra após palavra, como para aliviar, mas num
momento oportuno usam as mesmas palavras para causar desgostos. Oh
meu Jesus, que estranha é a debilidade humana.
O Teu amor, Jesus, dá à alma esta grande sensatez nas relações com os
outros.
696. 24 de Setembro de 1936
A Madre Superiora mandou-me rezar um mistério do rosário em
lugar dos outros exercícios e deitar-me de imediato. Uma vez deitada
adormeci imediatamente porque estava muito cansada. No entanto, um
momento depois acordou-me uma dor. Era um sofrimento tão grande que
não me permitia fazer o mais pequeno movimento, nem sequer conseguia
engolir a saliva. Durou umas três horas.
Pensei acordar a irmã noviça com que compartilhava o quarto, mas
pensei: ela não me ajudará nada, pois que durma, dá-me pena despertá-la.
Submeti-me completamente à vontade de Deus e pensava que estava a
chegar para mim o dia da morte, dia por mim desejado. Tinha a
possibilidade de me unir a Jesus sofredor na cruz, não podia rezar de outro
modo. Quando o sofrimento cedeu, comecei a transpirar, mas não podia
fazer nenhum movimento, porque voltava a dor anterior. De manhã sentime muito cansada, mas fisicamente não sofria mais; no entanto não pude
levantar-me para a Santa Missa. Pensei: Se depois de tais sofrimentos não
há morte, então ¿como devem ser os sofrimentos mortais?
697. Oh Jesus, Tu sabes que amo o sofrimento e desejo esgotar o cálice
dos sofrimentos até à última gota e, no entanto, a minha natureza notou um
ligeiro escalafrio e certo temor, mas imediatamente a minha confiança na
infinita Misericórdia de Deus despertou-se com toda a sua potência e tudo
teve que ceder diante dela como a sombra diante de um raio de sol. Oh
Jesus, que grande é a Tua bondade; a infinita bondade Tua que tão bem
conheço, permite-me olhar com firmeza os olhos da própria morte.
Sei que nada pode suceder-me sem a Sua licença. Desejo glorificar a Sua
Misericórdia infinita na vida, na hora da morte, na resurreição e por toda a
eternidade.
Oh meu Jesus, minha força, minha paz e meu descanso, nos raios da Tua
Misericórdia mergulha-se a minha alma todos os dias, não conheço nem um
momento da minha vida em que não experimentei a Tua Misericórdia, oh
Deus. Em toda a minha vida não conto com nada, mas com a Tua
Misericórdia infinita, oh Senhor, que és o guia da minha vida. A minha
alma está cheia da Misericórdia de Deus.
698. Oh, quanto fere Jesus a ingratidão de uma alma escolhida. O Seu
amor inefável sofre um martírio. Deus ama-nos com todo o Seu Ser infinito,
como Ele é, e um pó miserável despreza este amor. O meu coração estala de
dor quando vejo tal ingratidão.
699. Uma vez, ouvi estas palavras: Minha filha, fala ao mundo inteiro
da Minha inconcebível Misericórdia. Desejo que a Festa da
Misericórdia seja refúgio e amparo para todas as almas e,
especialmente, para os pobres pecadores. Nesse dia estão abertas as
entranhas da Minha Misericórdia. Derramo todo um mar de graças
sobre as almas que se aproximam do manancial da Minha
Misericórdia. A alma que se confesse e receba a Santa Comunhão
obterá o perdão total das suas culpas e penas.
Nesse dia estão abertas
todas as comportas divinas através das quais fluem as graças. Que
nenhuma alma tema aproximar-se de Mim, embora os seus pecados
sejam como escarlate. A Minha Misericórdia é tão grande que em toda
a eternidade não a penetrará nenhum intelecto humano nem angélico.
Tudo o que existe saíu das entranhas da Minha Misericórdia. Toda a
alma que se una a Mim contemplará, por toda a eternidade, todo o
Meu Amor e a Minha Misericórdia. A Festa da Misericórdia brotou
das Minhas entranhas. Desejo que se celebre solenemente no primeiro
domingo depois de Páscoa. A humanidade não terá paz enquanto não
se voltar para a Fonte da Minha Misericórdia.
700. Numa ocasião, quando estava muito cansada e com dores e o disse
à Madre Superiora, recebi a resposta de que devia familiarizar-me com o
sofrimento. Escutei tudo o que a Madre me disse e um momento depois saí.
A nossa Madre Superiora tem tanto amor ao próximo e, especialmente, às
irmãs doentes, que todos a conhecem por isso, mas, quanto a mim, Jesus
permitiu que ela não me compreendesse e me submetesse a provações neste
aspecto.
701. Um dia senti-me muito mal e fui trabalhar, mas em cada instante
parecia-me que ia desmaiar; o calor era tão grande que mesmo sem trabalho
era insuportável aquele calor, sem falar já de trabalhar e estar doente.
Assim, antes do meio dia, interrompi o trabalho e olhei para o Céu com
grande confiança e disse ao Senhor: Jesus, cobre o sol porque já não
suporto mais este calor. Coisa rara, naquele mesmo instante, uma
nuvenzinha branca cobriu o sol e a partir daquele momento já não havia
tanto calor. Quando, um momento depois, comecei a reprovar-me por não
ter suportado o calor e por haver pedido alívio, o próprio Jesus tranquilizoume.
702. 13 de Agosto de 1936. Esta noite penetra-me a presença de Deus,
num só instante conheço a grande santidade de Deus. Oh, como me oprime
esta grandeza de Deus, já que ao mesmo tempo conheço todo o abismo da
minha nulidade. É um grande tormento, porque ao conhecimento segue o
amor. A alma lança-se com ímpeto para Deus e encontram-se de frente dois
amores: o Criador e a criatura; uma gotita quer medir-se com o oceano.
Num primeiro momento a gota quisera encerrar em si este oceano ilimitado,
mas no mesmo instante conhece que é uma gotita e então fica vencida,
esvai-se toda em Deus como uma gota no oceano… Ao iniciar-se aquele
momento é um tormento, mas tão doce que a alma, experimentando-o, é
feliz.
703. Actualmente faço um exame de consciência especial: unir-me com
Cristo Misericordioso. Este exercício dá-me uma força extraordinária, o
coração está sempre unido a Aquele que deseja, e as acções reguladas pela
Misericórdia que brota do amor.
704. Passo cada momento livre aos pés de Deus escondido. Ele é o meu
Mestre, pergunto-Lhe tudo, com Ele falo de tudo, de ali saco força e luz, ali
aprendo tudo, de ali me chegam as luzes sobre o modo de comportar-me
com o próximo. Desde o momento em que saí do noviciado, encerrei-me no
tabernáculo com Jesus, o meu Mestre. Ele Mesmo me atraíu a este fogo de
amor vivo, à volta do qual do qual se concentra tudo.
705. 25 IX. Sinto dores nas mãos, nos pés e no lado, nos lugares que
Jesus tinha trespassados. Experimento especialmente estes sofrimentos
quando me encontro com uma alma que não está em estado de graça; então
rezo fervorosamente para que a Divina Misericórdia envolva aquela alma.
706. 29 IX. No dia de São Miguel Arcanjo vi este grande guia junto a
mim e disse-me estas palavras: O Senhor recomendou-me ter um cuidado
especial contigo. Deves saber que és odiada pelo mal, mas não temas.
¡Quem como Deus! E desapareceu. No entanto sinto a sua presença e a sua
ajuda.
707. 2 X 1936. Primeira sexta-feira do mês. Depois da Santa Comunhão,
de repente vi Jesus que me disse estas palavras: Agora sei que não Me
amas pelas graças nem pelos dons, mas porque a Minha vontade te é
mais querida que a vida. Por isso Me uno a ti tão estreitamente como a
nenhuma outra criatura.
708. Naquele momento Jesus desapareceu. A presença de Deus inundou
a minha alma; sei que estou sob o olhar deste Soberano. Submergi-me
totalmente no gozo que emana de Deus. Vivi o dia inteiro submergida em
Deus, sem nenhum intervalo. À noite, entrei numa espécie de desmaio, e
numa estranha forma de agonia; o meu amor desejava ser igual ao amor
daquele Soberano; estava atraída para Ele tão violentamente que, sem uma
graça especial de Deus, era impossível suportar nesta vida tanta imensidade
da graça. Mas vejo claramente que Jesus Mesmo me sustém e me fortifica e
me faz capaz de relacionar-me com Ele. Em tudo isto a alma está activa de
modo singular.
709. 3 X 1936. Hoje, enquanto rezava o rosário vi, de repente, um
cibório com o Santíssimo Sacramento. O cibório estava descoberto e com
bastantes Hóstias. Do cibório saíu uma voz: Estas Hóstias foram
recebidas pelas almas convertidas com as tuas preces e o teu
sofrimento. Naquele momento senti a presença de Deus como uma criança,
senti-me estranhamente uma criança.
710. Um dia senti que não aguentaria estar de pé até às nove e pedi à Ir.
N. para me dar alguma coisa de comer porque ia deitar-me antes, já que me
sentia mal. A Ir. N. respondeu-me: «A irmã não está doente; apenas
quiseram dar-lhe algum descanso a pretexto duma doença». Oh meu Jesus,
pensar que a doença avançou até tal ponto que o médico me separou das
outros irmãs para que não se contagiem, e eis como se é julgada. Mas
está bem assim, tudo é para Ti, meu Jesus. Não quero escrever muito das
coisas exteriores porque não são elas o motivo para escrever; desejo
especialmente tomar nota das graças que o Senhor me concede, porque elas
não são somente para mim, mas para muitas almas.
711. 5 X 1936. Hoje recebi uma carta do Padre Sopocko pela qual me
inteirei do que pensa fazer: imprimir uma estampa do Cristo
Misericordioso, e pediu-me para lhe enviar certa prece que quer pôr na
parte de trás, se obtiver autorização do Arcebispo. Oh, com que gozo tão
grande se enche o meu coração por Deus me ter permitido ver esta Obra da
Sua Misericórdia. Oh, que grande é esta Obra do Altíssimo; eu sou somente
o seu instrumento. Oh, que ardente é o meu desejo de ver esta Festa da
Divina Misericórdia que Deus exige através de mim, mas se tal é a vontade
de Deus e se ela se celebrar solenemente só depois da minha morte, eu me
alegro com ela já agora e a celebro dentro de mim com a licença do
confessor.
712. Hoje vi o Padre Andrasz de joelhos, submergido na oração e de
súbito Jesus apresentou-se a seu lado, impôs as mãos sobre a sua cabeça, e
disse-me: Ele te guiará, não tenhas medo.
713. 11 de Outubro. Esta noite, enquanto escrevia sobre esta grande
Misericórdia de Deus e sobre o grande proveito para as almas, Satanás
irrompeu na cela com grande raiva e fúria, tomou o biombo e começou a
despedaçá-lo e quebrá-lo. Num primeiro momento assustei-me um pouco,
mas imediatamente com um pequeno crucifixo fiz o sinal da santa cruz; a
besta acalmou-se imediatamente e desapareceu. Hoje não vi esta figura
monstruosa, mas somente a sua raiva; a raiva de Satanás é terrível. O
biombo, no entanto, não estava despedaçado nem quebrado; com toda a
tranquilidade continuei a escrever. Sei bem que sem a vontade de Deus,
aquele miserável não me tocará, mas ¿por que se porta assim? Começa a
assaltar-me abertamente e com tanta raiva e tanto ódio, mas não perturba a
minha paz nem por um momento, e esta minha serenidade provoca a sua
raiva.
714. Hoje o Senhor disse-me: Vai ter com a Superiora e diz-lhe que
desejo que todas as irmãs e as alunas rezem a coroinha que te ensinei.
Devem rezá-la durante nove dias e na capela, com o fim de propiciar ao
Meu Pai e implorar a Divina Misericórdia para a Polónia. Respondi ao
Senhor que o diria à Superiora, mas antes devia consultar o Padre Andrasz e
decidi que logo que o Padre viesse, imediatamente o consultaria. Quando o
Padre veio, as circunstâncias foram tais que não pude vê-lo. No entanto, eu
não deveria reparar em nenhumas circunstâncias mas ir falar com o Padre e
resolver o assunto. Pensei que [o faria] quando viesse outra vez.
715. Oh, quanto isso desagradou a Deus. Num instante a presença de
Deus me abandonou, esta grande presença de Deus que está em mim
incessantemente, até de modo sensível. Mas naquele momento abandonoume completamente; umas trevas dominaram a minha alma até tal ponto que
não sabia se estava no estado de graça ou não. Devido a isto não me
aproximei da Santa Comunhão durante quatro dias.
Depois de quatro dias vi o Padre Andrasz e contei-lhe tudo. O Padre
consolou-me dizendo: «Não perdeu a graça de Deus, mas de qualquer
forma, disse, seja fiel a Deus». No momento em que me afastei do
confessionário, a presença de Deus envolveu-me novamente como dantes.
Compreendi que a graça de Deus há que aceitá-la como Deus a envia, do
modo como Ele quer, e deve aceitar-se na forma sob a qual Deus no-la
envia.
716. Oh meu Jesus, neste momento estou fazendo um propósito decidido
e perpétuo, apoiando-me na Tua graça e Misericórdia: a fidelidade à mais
pequena das Tuas graças.
717. Durante toda a noite preparava-me para receber a Santa Comunhão,
já que não pude dormir por causa dos sofrimentos físicos. A minha alma
fundia-se no amor e na contrição.
718. Depois da Santa Comunhão ouvi estas palavras: Vê o que és por ti
mesma, mas não te assustes com isso. Se te revelasse toda a miséria que
és, morrerias de horror. Deves saber, no entanto, o que és. Por ser tão
grande a tua miséria, revelei-te todo o mar da Minha Misericórdia.
Procuro e desejo almas como a tua, mas são poucas; a tua grande
confiança em Mim obriga-Me a conceder-te graças continuamente.
Tens grandes e indizíveis direitos sobre o Meu Coração, porque és uma
filha de plena confiança. Não suportarias a imensidade do Meu amor
que tenho por ti, se to revelasse aqui na Terra em toda a sua plenitude.
Muitas vezes levanto um pouco o véu para ti, mas deves saber que é
apenas uma Minha graça excepcional. O Meu amor e a Minha
Misericórdia não conhecem limites.
719. Hoje ouvi estas palavras: Hás de saber, Minha filha, que por ti
concedo graças a toda a região, mas deves agradecer-me por eles,
porque eles não Me agradecem pelos benefícios que lhes concedo. A
partir do teu agradecimento continurei a abençoá-los.
720. Oh meu Jesus, Tu sabes o difícil que é a vida comunitária, quantas
incomprensões e quantos mal entendidos, muitas vezes apesar da mais
sincera vontade de ambas as partes; mas este é o Teu mistério, oh Senhor,
nós conhecê-lo-emos na eternidade. No entanto, os nossos juízos devem ser
sempre indulgentes.
721. Ter um director espiritual é uma grande graça, é uma imensa graça
de Deus. Sinto que agora não saberia avançar sozinha na minha vida
espiritual; é grande o poder do sacerdote; não deixo de agradecer a Deus
por me dar um director espiritual.
722. Hoje ouvi estas palavras: Vês como és fraca ¿quando poderei
contar contigo?
Respondi: Jesus, fica sempre comigo, porque sou a Tua filhinha
pequena; Jesus, Tu sabes o que fazem as crianças pequenas.
723. Hoje ouvi estas palavras: As graças que te concedo não são
somente para ti, mas também para um grande número de almas… E no
teu coração está continuamente a Minha morada. Apesar da miséria
que és uno-Me a ti, tiro-te a tua miséria e dou-te a Minha Misericórdia.
Em cada alma cumpro a Obra da Misericórdia, e quanto maior é o
pecador, tanto maior é o direito que tem à Minha Misericórdia. Quem
confia na Minha Misericórdia não perecerá porque todos os seus
cuidados são Meus e os inimigos serão calcados aos pés do Meu
escabelo.
724. Na véspera dos exercícios espirituais comecei a pedir que Jesus me
desse ao menos um pouco de saúde para que pudesse participar nos
exercícios, porque sentia-me tão mal que possivelmente podiam ser os
últimos para mim. Mas quando comecei a rezar, senti imediatamente um
estranho descontentamento; interrompi a prece de súplica e comecei a
agradecer ao Senhor por tudo o que me envia, submetendo-me
completamente à Sua santa vontade; imediatamente senti na alma uma
profunda serenidade.
A fiel submissão à vontade de Deus sempre e em todo o lado, em todos
os casos e em todas as circunstâncias da vida, dá a Deus uma grande glória;
tal submissão à vontade de Deus, a seus olhos tem um maior valor que
longos jejuns, mortificações, e as mais severas penitências. Oh, que grande
é a recompensa por um só acto de amorosa submissão à vontade de Deus.
Enquanto o escrevo a minha alma cai em êxtase, ¡quanto Deus a ama e de
quanta paz goza a alma já aqui na Terra!
JMJ Cracóvia - 1936
Oh vontade de Deus, sê o meu amor.
725. Exercícios espirituais de oito dias, 20 X 1936
Oh meu Jesus, hoje retiro-me para o deserto para falar somente Contigo,
meu Mestre e Senhor. Que a Terra se cale, fala-me só Tu, Jesus; Tu sabes
que não compreendo outra voz senão a Tua, oh bom Pastor.
Na morada do meu coração encontra-se o deserto a que nenhuma
criatura tem acesso. Nele só Tu és o Rei.
726. Quando entrei na capela para cinco minutos de adoração, perguntei
ao Senhor Jesus como devia fazer estes exercícios espirituais. Então ouvi na
alma esta voz: Desejo que te transformes inteira em amor e que ardas
com o fogo como uma vítima pura de amor…
727. Oh Verdade eterna, concede-me um raio da Tua luz para que Te
conheça, oh Senhor, e glorifique dignamente a Tua Misericórdia infinita e
dá-me a conhecer, ao mesmo tempo, a mim mesma, todo o abismo de
miséria que sou.
728. Escolhi como patronos destes exercícios espirituais São Claudio da
Colombiére e Santa Gertrudes, para que intercedam por mim perante a
Santíssima Virgem e o Salvador Misericordioso.
729. Nesta meditação sobre a criação… num instante a minha alma se
uniu ao meu Criador e Senhor; durante esta união conheci o meu fim e o
meu destino. O meu objectivo é unir-me estreitamente a Deus através do
amor e o meu destino é adorar e glorificar a Divina Misericórdia.
O Senhor deu-me a conhecer claramente e experimentar até fisicamente.
Não acabo de me assombrar quando conheço e experimento o amor sem
limites de Deus, como Deus me ama.
¿Quem é Deus e quem sou eu? Não posso continuar a reflectir. Só o
amor entende o encontro e a união entre estes dois espíritos, isto é Deus
Espírito e a alma da criatura. Quanto mais o conheço, tanto mais me afundo
n’Ele com toda a força do meu ser.
730 Durante estes exercícios espirituais ter-te-ei sempre junto ao
Meu Coração para que conheças melhor a Minha Misericórdia que
tenho para os homens e, especialmente, para os pobres pecadores.
731. No dia do início dos exercícios espirituais, veio ver-me uma das
irmãs que tinha chegado para pronunciar os votos perpétuos e me confiou
que não tinha nenhuma confiança em Deus, e que qualquer coisa a
desanimava. Respondi-lhe: Fez bem, irmã, em dizer-me; vou pedir por si. E
disse-lhe algumas palavras sobre quanto dói a Jesus a falta de confiança e
especialmente se é por parte de uma alma escolhida. Disse-me que a partir
dos votos perpétuos se exercitaria na confiança.
Agora sei que até às almas escolhidas e adiantadas na vida religiosa ou
espiritual, lhes pode faltar o ânimo para confiar totalmente em Deus. E isso
sucede porque poucas almas conhecem a insondável Misericórdia de Deus,
a sua grande bondade.
732. A grande Majestade de Deus que me penetrou hoje e continua
penetrando, despertou em mim um grande temor, mas um temor reverencial
e não um temor servil, que é muito distinto do temor reverencial. O temor
reverencial surgiu hoje no meu coração do amor e do conhecimento da
grandeza de Deus e isto é um grande gozo para a alma. A alma treme frente
à mais pequena ofensa a Deus, mas isto não a perturba nem ofusca a sua
felicidade. Onde impera o amor, tudo está bem.
733. Sucede-me, enquanto ouço os pontos da meditação, que uma
simples palavra me introduz numa mais estreita união com o Senhor e não
sei o que está dizendo o Padre. Sei que estou junto ao Misericordiosíssimo
Coração de Jesus, todo o meu espírito se funde n’Ele, e num só momento
conheço mais que durante longas horas de procura intelectual ou de
meditação. São relâmpagos repentinos de luz que me permitem conhecer
uma coisa como Deus a vê, tanto nos assuntos do mundo interior como
também nos do mundo exterior.
734. Vejo que o próprio Jesus actua na minha alma durante estes
exercícios espirituais, eu trato somente de ser fiel à sua graça. Confiei
totalmente a minha alma à influência de Deus, este Soberano celestial
tomou a minha alma na sua absoluta posse; sinto que sou elevada mais
acima da Terra e do Céu, para a vida interior de Deus, onde conheço o Pai,
o Filho e o Espírito Santo, mas sempre na unidade da sua Majestade.
735. Encerrei-me no cálice de Jesus para o consolar continuamente.
Fazer tudo o que posso para salvar as almas, fazê-lo através da oração e do
sofrimento.
Procuro ser sempre para Jesus como uma Betânia, para que possa
descansar depois de muitas fadigas. Na Santa Comunhão, a minha união
com Jesus é tão estreita e indescritível que embora quisesse descrevê-la não
conseguiria, porque não encontraria palavras apropriadas.
736. Esta noite vi Jesus com o aspecto que tinha na sua Paixão: tinha os
olhos levantados para o Seu Pai e rezava por nós.
737. Apesar de estar doente decidi fazer hoje, como de costume, a Hora
Santa. Nesta hora vi Jesus flagelado junto à coluna. Durante este terrível
tormento Jesus rezava e um momento depois disse-me: São poucas as
almas que contemplam a Minha Paixão com verdadeiro sentimento; às
almas que meditam devotamente a Minha Paixão, concedo-lhes maior
número de graças.
738. Sem a Minha ajuda especial não és capaz de receber nem
sequer as Minhas graças – tu sabes o que és.
739. Hoje, depois da Santa Comunhão, falei muitíssimo com Jesus das
pessoas que me são especialmente queridas. Então ouvi estas palavras:
Minha filha, não te esforces com tantas palavras. A quem amas de
modo especial, também Eu os amo de maneira especial e por
consideração a ti encho-os com as Minhas graças. Agrada-Me quando
Me falas deles, mas não o faças com esforços excessivos.
740. Oh Salvador do mundo, uno-me à Tua Misericórdia. Oh meu Jesus,
uno todos os meus sofrimentos aos Teus e deposito-os no tesouro da Igreja,
para o proveito das almas.
741. Hoje estive nos abismos do Inferno, conduzida por um Anjo. É um
lugar de grandes tormentos, ¡que espantosamente grande é a sua extensão!
Os tipos de tormentos que vi: o primeiro tormento que constitui o Inferno é
a perda de Deus; o segundo, o contínuo remorso da consciência; o terceiro,
aquela condição não mudará jamais; o quarto tormento, é o fogo que
penetra a alma, mas não a aniquila, é um tormento terrível, é um fogo
puramente espiritual, incendiado pela ira divina; o quinto tormento, é a
escuridão permanente, um horrível, sofocante cheiro; e apesar da escuridão
os demónios e as almas condenadas vêem-se mutuamente e vêem todos o
mal dos outros e o próprio; o sexto tormento, é a contínua companhia de
Satanás; o sétimo tormento, é um tremendo desespero, o ódio a Deus, as
imprecações, as maldições, as blasfémias.
Estes são os tormentos que todos
os condenados padecem juntos, mas não é o fim dos tormentos. Há
tormentos especiais para distintas almas, que são os tormentos dos sentidos:
cada alma é atormentada de modo terrível e indescritível com o que pecou.
Há horríveis calabouços, abismos de tormentos onde um tormento se
diferencia do outro. Terria morrido à vista daquelas terríveis torturas, se não
me tivesse amparado a omnipotência de Deus. Que o pecador saiba: com o
sentido que peca, com esse será atormentado por toda a eternidade. Escrevo
isto por ordem de Deus, para que nenhuma alma se desculpe [dizendo] que
o Inferno não existe e que ninguém esteve ali nem sabe como é.
Eu, Ir. Faustina, por ordem de Deus, estive nos abismos do Inferno para
falar às almas e dar testemunho de que o Inferno existe. Agora não posso
falar disso, mas tenho a ordem de deixá-lo por escrito. Os demónios
tinham-me um grande ódio, mas por ordem de Deus tiveram que me
obedecer. O que escrevi é uma débil sombra das coisas que vi. Observei
uma coisa: a maior parte das almas que ali estão são as que não criam que o
Inferno existisse. Quando voltei a mim quase não podia refazer-me do
espanto, que terrivelmente sofrem ali as almas. Por isso rogo com mais
fervor ainda pela conversão dos pecadores, invoco incessantemente a
Misericórdia de Deus para eles. Oh meu Jesus, prefiria agonizar nos
maiores tormentos até o fim do mundo, que ofender-Te com o menor
pecado.
742. JMJ
Minha filha, se por meio de ti exijo dos homens o culto à Minha
Misericórdia, tu deves ser a primeira em distinguir-te pela confiança na
Minha Misericórdia. Exijo de ti obras de Misericórdia que devem
surgir do amor por Mim. Deves mostrar Misericórdia ao próximo
sempre e em qualquer lugar. Não podes deixar de fazê-lo, nem
desculpar-te, nem justificar-te.
Dou-te três formas de exercer Misericórdia para com o próximo: a
primeira – a acção, a segunda – a palavra, a terceira – a oração. Nestas
três formas está contida a plenitude da Misericórdia e é o testemunho
irrefutável do amor por Mim. Deste modo a alma louva e adora a
Minha Misericórdia. Sim, o primeiro domingo depois de Páscoa é a
Festa da Misericórdia, mas também deve estar presente a acção e peço
que se renda culto à Minha Misericórdia com a solene celebração desta
Festa e com o culto à imagem que foi pintada. Através desta imagem
concederei muitas graças às almas; ela há-de recordar aos homens as
exigências da Minha Misericórdia, porque a fé sem obras, por forte que
seja, é inútil. Oh meu Jesus, ajuda-me em tudo, porque vês como sou
pequena; por isso conto unicamente com a Tua bondade, oh Deus.
Exame de consciência especial
743. União com Cristo misericordioso. Com o coração abarco o mundo
inteiro e, especialmente, os países salvajens e perseguidos, para eles peço
Misericórdia.
Dois propósitos gerais:
Primeiro: procurar o recolhimento interior e observar rigorosamente a
Regra do silêncio.
Segundo: fidelidade às inspirações interiores; levá-las à prática e à
acção, segundo a recomendação do director espiritual.
Nesta doença desejo adorar a vontade de Deus; se puder, procurarei
participar em todos os exercícios comuns; agradecerei fervorosamente ao
Senhor por cada desgosto e sofrimento.
744. Sinto muitas vezes que não recebo ajuda de ninguém a não ser de
Jesus, embora mais de uma vez necessite muito de esclarecimentos sobre o
que o Senhor pede.
Esta noite recebi de repente a luz de Deus sobre um assunto. Durante
doze anos reflecti sobre certa questão e não consegui compreendê-la; hoje
Jesus deu-me a conhecer o muito que isso Lhe agradou.
Festividade de Cristo Rei [25 X 1936]
745. Durante a Santa Missa envolveu-me um ardor interior de amor a
Deus e o desejo pela salvação das almas tão grande que não sei exprimi-lo.
Sinto que sou toda um fogo; lutarei contra todo o mal com a arma da
Misericórdia. Ardo do desejo de salvar as almas; percorro o mundo inteiro
de lés a lés e penetro até aos seus confins, até aos lugares mais selvajens
para salvar as almas. Faço-o através da oração e do sacrifício. Desejo que
cada alma glorifique a Misericórdia de Deus, que cada um experimente em
si mesmo os efeitos desta Misericórdia. Os santos no Céu adoram a
Misericórdia do Senhor, eu desejo adorá-la já aqui na Terra e propagar o seu
culto como Deus o quer de mim.
746. Compreendi que em alguns momentos, os mais duros, estarei só,
abandonada por todos e tenho que fazer frente a todas as tempestades e lutar
com toda a força da alma, até contra aqueles dos quais esperava ajuda.
Mas não estou só, porque Jesus está comigo, com Ele não tenho medo de
nada. Bem me dou conta de tudo e sei o que é que Deus exige de mim. O
sofrimento, o desprezo, o escárnio, a perseguição, a humilhação tudo isso
será sempre a minha parte. Não conheço outro caminho: por um amor
sincero - a ingratidão. Esta é a minha [estreita] senda traçada por Jesus.
Oh meu Jesus, minha força e minha única esperança, somente em Ti
toda a minha esperança. A minha confiança não será defraudada.
747. Dia de renovação dos votos. A presença de Deus penetra a
minha alma de modo não somente espiritual, mas também a sinto mesmo
fisicamente.
748. 2 de Novembro. À tarde, depois das vésperas fui ao
cemitério. Depois de rezar um momento, vi uma das nossas irmãs que
me disse: «Estamos na capela». Entendi que devia ir à capela e rezar ali
para adquirir indulgências. No dia seguinte, durante a Santa Missa, vi três
pombas brancas que voaram do altar para o Céu. Compreendi que não
somente estas três almas queridas que tinha visto foram para o Céu, mas
também muitas outras que tinham morrido fora do nosso instituto. Oh, que
bom e misericordioso é o Senhor.
749. Diálogo com o Padre Andrasz, no final dos exercícios espirituais.
Surpreendeu-me muitíssimo uma coisa que notei durante todas as conversas
nas quais pedi conselhos e indicações ao Padre, a saber: observei que o
Padre Andrasz a todas as minhas perguntas que lhe fiz sobre as coisas que o
Senhor exigia de mim, me respondia com tanta claridade e determinação
como se ele mesmo as tivesse vivido. Oh meu Jesus, se houvesse mais guias
espirituais como ele, as almas sob a sua direcção chegariam aos cumes da
santidade em pouco tempo e não desperdiçariam tantas grandes graças. Eu
agradeço continuamente a Deus por esta grande graça de Se ter dignado, na
Sua bondade, pôr no caminho da minha vida espiritual estas colunas
luminosas que iluminam o meu caminho, para que não me desvie, nem me
atrase na procura dessa estreita união ao Senhor. Tenho um grande amor
pela Igreja que educa e conduz as almas a Deus.
31 X 1936. Conversa com a Madre Geral.
750. Quando falei com a Madre Geral sobre a questão de sair da
Congregação, recebi esta resposta: «Se o senhor Jesus exige que a irmã
abandone esta Congregação, que me dê algum sinal de que Ele o quer. A
irmã reze por este sinal, porque eu tenho medo de que seja vítima de
alguma ilusão, embora, por outro lado, não quero pôr obstáculos à vontade
de Deus nem opor-me a ela, já que eu também quero cumprir a vontade de
Deus». Assim, pois, acordámos que eu ficaria onde estava, até o momento
em que o Senhor desse a conhecer à Madre Geral que era Ele quem exigia
que eu saisse da Congregação.
751. Assim, pois, todo o assunto se adiou um pouco. Vês, Jesus, que
agora tudo depende somente de Ti. Apesar destas grandes ansiedades estou
completamente tranquila; eu pela minha parte fiz tudo o que podia e agora é
a Tua vez, oh meu Jesus, e assim será evidente que a causa é Tua. Eu pela
minha parte estou totalmente de acordo com a Tua vontade, faz de mim o
que quiseres, oh Senhor, dá-me somente a graça de que Te ame cada vez
com mais fervor; isto é o que me é mais querido, não desejo nada fora de
Ti, Amor eterno. Não importa por que caminhos me leves, dolorosos ou
gozosos. Eu desejo amar-Te em cada momento da minha vida. Se me
mandares ir, oh Jesus, cumprir a Tua vontade, irei; se me mandares ficar,
ficarei; não importa o que sofra, num ou noutro caso. Oh meu Jesus, se vou,
sei o que devo aguentar e suportar.
Aceito-o plenamente consciente, e com
um acto de vontade já aceitei tudo. Não importa o que está encerrado neste
cálice para mim, basta-me saber que o deu a mão amorosa de Deus. Se me
fazes voltar deste caminho e me ordenas ficar, ficarei apesar de todas os
ímpetos interiores. Se continuares a manter na minha alma e me deixas
nesta agonia interior, embora seja até o fim da vida, aceito-o com plena
consciência da vontade e com amorosa submissão a Ti, oh meu Deus. Se
fico, esconder-me-ei na Tua Misericórdia, meu Deus, tão profundamente
que nenhum olhar poderá ver-me. Desejo ser na minha vida um incensário
cheio de fogo oculto e que o fumo que se levanta para Ti, Hóstia viva, Te
seja agradável. Sinto no meu próprio coração que cada pequeno sacrifício
desperta um fogo do meu amor por Ti, embora de modo tão silencioso e
escondido que ninguém consegue vê-lo.
752. Quando disse à Madre Geral que o Senhor exigia que a
Congregação rezasse esta coroinha para propiciar a ira divina, a Madre
respondeu-me que de momento não podia introduzir estas novas preces, não
aprovadas, «mas dê-me, irmã, esta coroinha, talvez durante alguma
adoração se possa rezar, vamos a ver. Seria bom que o Padre Sopocko
editasse algum folheto com essa coroinha. Seria melhor e mais fácil rezá-la,
então, na Congregação, porque sem isso é um pouco difícil».
753. A Misericórdia do Senhor é glorificada no Céu pelas almas dos
santos que experimentaram em si próprios esta Misericórdia infinita. O que
aquelas almas fazem no Céu, eu começarei já aqui na Terra. Glorificarei a
Deus pela Sua bondade infinita e procurarei que outras almas conheçam e
adorem esta indizível e inconcebível Misericórdia de Deus.
754. Promessa do Senhor: Às almas que rezem esta coroinha, a Minha
Misericórdia as envolverá em vida e especialmente à hora da morte.
755. Oh meu Jesus, ensina-me a abrir as entranhas da Misericórdia e do
amor a todos os que mo peçam.
Oh Jesus, meu Guia, ensina-me que todas as minhas preces e obras
tenham impresso o selo da Tua Misericórdia.
756. 18 XI 1936. Hoje procurei fazer todas as minhas práticas de
piedade antes da bênção, porque sentia-me mais doente que de costume. Por
isso, uma vez terminada a bênção deitei-me. Mas, ao entrar no dormitório,
de repente soube dentro de mim que devia ir à cela da Ir. N., porque ela
necessitava ajuda. Entrei imediatamente naquela cela e a Ir. N. disse-me:
«Oh, que sorte que Deus a tenha trazido aqui, irmã». E falava com uma voz
tão baixa que mal a ouvia. Disse-me: «irmã, traga-me, por favor, um pouco
de chá com limão porque tenho muitíssima sede e não posso mover-me por
sofrer muito»; e efectivamente sofria muito e tinha muita febre. Atendi-a e
com esse pouquito de chá acalmou os seus lábios sedentos. Quando entrei
na minha cela, um grande amor de Deus envolveu a minha alma e percebi
que deveria fazer caso das inspirações interiores e segui-las fielmente; a
fidelidade a uma graça atrai outras.
757. 19 XI [1936]. Hoje durante a Santa Missa vi Jesus que me disse:
Fica tranquila, Minha filha, vejo os teus esforços, que Me agradam
muito. E o Senhor desapareceu e era o momento de aproximar-me da Santa
Comunhão. Depois de receber a Santa Comunhão, de repente vi o Cenáculo
e nele Jesus e os apóstolos; vi a institução do Santíssimo Sacramento. Jesus
permitiu-me penetrar no seu interior e conheci a Sua grande Majestade e ao
mesmo tempo a Sua grande humildade. Esta luz misteriosa que me permitiu
conhecer a sua Majestade revelou-me, ao mesmo tempo, o que há dentro da
minha alma.
758. Jesus deu-me a conhecer o abismo da sua doçura e humildade, e
fez-me saber que o exigia de mim decididamente. Senti o olhar de Deus na
minha alma que me encheu de um amor inefável, mas compreendi que o
Senhor olhava com amor as minhas virtudes e os meus esforços heróicos e
soube que eles atraíam Deus para o meu coração. Por isso compreendi que
não era suficiente preocupar-me somente pelas virtudes ordinárias, mas que
devia exercitar-me nas virtudes heróicas, embora exteriormente parecessem
coisas totalmente normais, no entanto o modo seria diferente, distinguido
somente pelo olhar do Senhor.
Oh meu Jesus, o que escrevi é somente uma pálida sombra do que
entendo na alma, estas são as coisas puramente espirituais, mas para
descrever algo do que o Senhor me dá a conhecer, tenho que utilizar as
palavras que me deixam insatisfeitas, porque não traduzem a realidade.
759. A primeira vez que recebi estes sofrimentos foi assim: depois
dos votos anuais, um dia, enquanto rezava vi uma grande claridade e
dessa claridade saíam dois raios que me envolveram e de repente senti uma
tremendo dor nas mãos, nos pés e no lado e o sofrimento da coroa de
espinhos. Experimentava este sofrimento nas sextas-feiras, durante a Santa
Missa, mas era um momento muito breve. Isto repetiu-se umas quantas
vezes e depois não senti nenhum sofrimento até ao momento actual, isto é,
até finais de Setembro deste ano. Nesta doença, na sexta-feira, durante a
Santa Missa senti que me trespassavam os mesmos sofrimentos; e isso
repetia-se cada sexta-feira e, às vezes, quando encontro alguma alma que
não está em estado de graça. Embora isso suceda raramente, o sofrimento
dura muito pouco tempo, no entanto é terrível, e sem uma graça especial de
Deus não poderia suportá-lo. E exteriormente não tenho nenhuns sinais
destes sofrimentos. ¿Que virá depois? Não sei. Tudo seja pelas almas…
760. 21 XI [1936]. Jesus, vês que não estou gravemente doente nem
tampouco sã. Infundes na minha alma o entusiasmo para actuar e não tenho
forças; arde em mim o fogo do Teu amor e o que não consigo fazer com a
força física, compensa-o o amor.
761. Oh Jesus, o meu espírito anseia por Ti e desejo muito unir-me a Ti,
mas detêm-me as Tuas obras. Não está ainda completo o número de almas
que devo levar-te. Desejo as fadigas, os sofrimentos, que se cumpra em
mim tudo que planeaste antes de todos os séculos, oh meu Criador e Senhor.
Compreendo apenas a Tua palavra, somente ela me dá forças. O Teu
Espírito, oh Senhor, é o espírito da paz e nada perturba o meu interior,
porque ali moras Tu, oh Senhor.
Sei que estou sob o Teu olhar especial, oh Senhor. Não analiso com
temor os Teus desígnios por mim; a minha tarefa é aceitar tudo das Tuas
mãos, não tenho medo de nada embora a tempestade esteja enfurecida e
tremendos raios caiam à minha volta e então sinto-me verdadeiramente só,
no entanto o meu coração sente-Te e a minha confiança aumenta
consideravelmente vendo toda a Tua omnipotência que me sustém.
Contigo, Jesus, caminho pela vida entre arco-íris e tormentas, com um grito de gozo,
entoando um hino à Tua Misericórdia. Não interromperei este canto de
amor até que o entoe o coro angélico. Não existe nenhuma força que possa
deter-me no meu caminho para Deus. Vejo que nem sequer as Superioras
entendem o caminho pelo qual Deus me leva, e isso não me surpreende.
762. Numa ocasião vi o Padre Sopocko rezando, reflectindo sobre este
caso. Vi como, de repente, surgiu um círculo de luz por cima da sua
cabeça. Mesmo que nos separe a distância, vejo-o muitas vezes,
especialmente, quando trabalha no escritório, apesar do cansaço.
763. 22 XI [1936]. Hoje, durante a confissão, Jesus falou-me pela boca
de certo sacerdote. Aquele sacerdote não conhecia a minha alma e acuseime somente dos pecados; no entanto ele disse-me estas palavras: «cumpre
fielmente tudo o que Jesus exige de ti, apesar das dificuldades. Hás de saber
que embora os homens se molestem contigo, Jesus não se cansa e nunca se
enfadará contigo. Não faças caso de nenhuma consideração humana». No
primeiro momento este conselho surpreendeu-me; compreendi que o
Senhor falava através dele, enquanto ele se deu pouca conta disso. Oh
sagrado mistério, que grandes tesouros conténs. Oh fé santa, que me indicas
o meu caminho.
764. 24 XI. Hoje, recebi uma carta do Padre Sopocko. Pela carta
soube que o próprio Deus dirige esta Causa e como o Senhor a iniciou, do
mesmo modo o Senhor a guiará, e quanto maiores forem as dificuldades
que vejo, tanto mais tranquila estou. Oh, se esta Causa não originasse uma
grande glória de Deus, nem proveito para muitas almas, Satanás não se
oporia deste modo; mas ele intui o que vai perder. Agora compreendi que o
que Satanás odeia mais é a Misericórdia; ela é o seu maior tormento. Mas a
Palavra do Senhor não passará, a Palavra de Deus é vida, as dificuldades
não aniquilam as obras de Deus, mas demonstram que são de Deus….
765. Uma vez vi o convento desta nova Congregação. Enquanto o
percorria e visitava tudo, de repente vi um grupito de meninos cuja idade
oscilava entre cinco e onze anos. Ao ver-me, rodearam-me e puseram-se a
gritar em voz alta: «Defende-nos do mal», e levaram-me à capela que
estava naquele convento. Quando entrei na capela, vi nela Jesus
martirizado: Jesus olhou-me bondosamente e disse-me que era ofendido
gravemente pelos meninos. Defende-os tu do mal. A partir daquele
momento rezo pelos meninos, mas sinto que a prece só não é suficiente.
766. Oh meu Jesus, Tu sabes que esforços são necessários para tratar
sinceramente e com simplicidade com as pessoas de quem a nossa natureza
foge, ou com os que nos fizeram sofrer consciente ou inconscientemente;
humanamente isto é impossível. Em tais momentos, mais que noutras
ocasiões, procuro ver Jesus naquelas pessoas e por este Mesmo Jesus faço
tudo por elas. Em tais acções o amor é puro. Este exercício de caridade
afina a alma e dá-lhe força. Não espero nada das criaturas, portanto não
experimento nenhuma desilusão; sei que a criatura é pobre em si. Assim,
pois ¿que posso esperar dela? Deus é tudo para mim, desejo avaliar tudo à
luz de Deus.
767. Actualmente a minha relação com o Senhor é plenamente
espiritual; a minha alma está tocada por Deus e afunda-se inteiramente
n’Ele, até esquecer-se de si mesma. Embebida de Deus totalmente, afoga-se
na Sua beleza, dissolve-se toda n’Ele. Não sei descrevê-lo, porque
escrevendo uso os sentidos e ali, naquela união, os sentidos não funcionam;
há uma união de Deus e da alma, há uma vida tão grande em Deus a que a
alma é admitida que é impossível exprimi-la com palavras.
Quando a alma
regressa à vida normal, então vê que esta vida é uma escuridão, uma névoa,
uma sonolenta confusão, umas faixas que envolvem um menino pequeno.
Em tais momentos a alma vive unicamente de Deus, porque ela por si
mesma não faz nada, não faz o menor esforço, Deus faz tudo nela. Mas
quando a alma volta ao estado normal, vê que não está em seu poder
permanecer mais nessa união. Aqueles momentos são breves, embora
longos [nos seus efeitos]; a alma não pode permanecer muito tempo em tal
estado, porque por força se libertaria para sempre dos vínculos do corpo,
apesar de ser sustentada milagrosamente por Deus. Deus dá a conhecer
claramente à alma quanto a ama, como se só ela fosse o objecto da sua
complacência. A alma conhece-o de modo claro e quase sem véus, lança-se
com todo o vigor para Deus, mas sente-se como uma criança pequena. Sabe
que isto não está em seu poder, portanto, Deus desce até ela e une-a
Consigo de maneira… aqui devo calar-me porque o que a alma
experimenta, não sei descrevê-lo.
768. É uma coisa estranha que embora a alma viva esta união com Deus
não saiba dar-lhe uma forma exacta nem defini-la; no entanto, ao encontrar
outra alma semelhante, as duas entendem-se mutuamente nestas coisas
apesar de não falarem muito entre si. A alma unida a Deus deste modo
reconhece com facilidade outra alma semelhante, embora aquela não lhe
revele o seu íntimo e só fale normalmente com ela.
É uma especie de parentesco espiritual. Não há muitas almas unidas a
Deus deste modo, menos do que pensamos.
769. Verifiquei que Deus concede esta graça às almas por duas razões: a
primeira é quando a alma deve cumprir uma grande missão que
absolutamente ultrapassa as suas forças, humanamente falando. No segundo
caso, notei que Deus concede a graça para guiar e tranquilizar as almas
semelhantes, embora o Senhor pode conceder esta graça como lhe agradar e
a quem lhe agradar. Observei esta graça em três sacerdotes. Um deles é
sacerdote secular e dois são religiosos; os dois religiosos [receberam esta
graça], mas em graus diferentes.
770. Quanto a mim, recebi esta graça pela primeira vez e por um
brevíssimo momento com a idade de dezoito anos, na oitava de
Corpus Cristi, durante as vésperas, quando fiz a Jesus o voto perpétuo de
castidade. Vivia ainda no mundo, mas pouco depois entrei no convento.
Esta graça durou um brevíssimo momento, mas a potência desta graça foi
enorme. Depois daquela graça houve um longo intervalo. Na verdade,
durante esse intervalo recebi do Senhor muitas graças, mas de outra índole.
Foi um período de provações e de purificação. As provações foram tão
dolorosas que a minha alma experimentou um abandono total da parte de
Deus, foi submergida em grandes trevas.
Notei e compreendi que ninguém
conseguiria libertar-me daqueles tormentos e que não podiam compreenderme. Houve dois momentos em que a minha alma foi submergida no
desespero, uma vez por meia hora, outra vez por três quartos de hora.
Quanto às graças, não posso descrever exactamente a sua grandeza, o
mesmo se refere às provações de Deus. Embora usasse não sei que palavras,
tudo isso seria uma pálida sombra. No entanto o Senhor submergiu-me
nestes tormentos e o Senhor me libertou. Isso durou um par de anos e recebi
novamente esta graça excepcional da união, que dura até hoje. No entanto
também nesta segunda união houve breves pausas. No entanto, desde há
algum tempo, não experimento intervalos, mas submerge-me [a graça] cada
vez mais profundamente em Deus. A grande luz com que é iluminado o
intelecto, dá a conhecer a grandeza de Deus, não para que conhecesse n’Ele
os distintos atributos, como antes; não, agora é de outro modo: num só
momento conheço toda a essência de Deus.
771. No mesmo instante a alma mergulha inteiramente n’Ele e sente uma
felicidade tão grande como os eleitos no Céu. Embora os eleitos no
Céu vejam a Deus cara a cara e são totalmente felizes, de modo absoluto,
no entanto o seu conhecimento de Deus não é igual; Deus deu-mo a
conhecer. O conhecimento mais profundo começa aqui na Terra, segundo a
graça, mas em grande parte depende da nossa fidelidade à graça. No
entanto, a alma que experimenta esta inefável graça da união, não pode
dizer que vê a Deus cara a cara, já que aqui há um delgadíssimo véu da fé;
mas tão delgado que a alma pode dizer que vê a Deus e fala com Ele.
Ela é “divinizada”, Deus dá a conhecer à alma quanto a ama, e a alma vê que
almas melhores e mais santas que ela não receberam esta graça. Por isso
envolve-a um santo assombro, que a mantém numa profunda humildade,
abismada do seu nada e no seu sagrado assombro. Quanto mais se humilha,
tanto mais estreitamente Deus se une a ela e se inclina para ela. Naquele
momento a alma está como escondida, os seus sentidos inactivos, num
momento conhece Deus e se submerge n’Ele. Conhece toda a profundidade
do Insondávei e quanto mais profundo é o conhecimento, tanto mais
fervorosamente a alma o deseja.
772. É grande a reciprocidade entre a alma e Deus. Quando a alma sai
deste estado oculto, os sentidos experimentam o sabor do deleite da alma.
Isto também é uma grandíssima graça de Deus, mas não é puramente
espiritual; na primeira fase os sentidos não tomam parte. Cada graça dá à
alma fortaleza e força para a acção, valentia para [afrontar] os sofrimentos.
773. A alma sabe bem o que Deus quer dela e cumpre a sua santa
vontade, apesar das contrariedades. No entanto, nestas coisas a alma não
pode avançar só, tem que seguir o conselho de um confessor esclarecido,
porque, de contrário, pode desviar-se e não obter nenhum beneficio.
774. Compreendo bem, oh meu Jesus, que como uma doença se mede
com o termómetro e a febre alta nos indica a gravidade da doença, assim na
vida espiritual o sofrimento é o termómetro que mede o amor de Deus na
alma.
775. O meu fim é Deus… A minha felicidade é o cumprimento da
vontade de Deus e nada no mundo poderá perturbar esta felicidade,
nenhuma potência, nenhuma força.
776. Hoje, o Senhor esteve na minha cela e disse-me: Minha filha,
deixar-te-ei nesta Congregação já por pouco tempo. Digo-to para que
aproveites com mais diligência as graças que te concedo.
777. 27 XI [1936]. Hoje, em espírito, estive no Céu e vi essas
inconcebíveis belezas e felicidade que nos esperam depois da morte. Vi
como todas as criaturas dão incessantemente honra e glória a Deus; vi o
grande que é a felicidade em Deus que se derrama sobre todas as criaturas,
fazendo-as felizes; e toda a honra e glória que as faz felizes retornam à
Fonte e elas entram na profundidade de Deus, contemplam a vida interior
de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, que nunca entenderão nem penetrarão.
Esta fonte de felicidade é invariável na sua essência, mas sempre nova,
brotando para fazer felizes todas as criaturas. Agora compreendo São Paulo
que disse: Nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais entrou no
coração do homem, o que Deus preparou para os que O amam.
778. Deus deu-me a conhecer uma só e única coisa que a Seus olhos tem
valor infinito, e este é o amor de Deus, amor, amor e uma vez mais amor, e
com um acto de amor puro a Deus nada pode comparar-se. Oh, que
inefávels favores Deus concede à alma que o ama sinceramente. Oh, felizes
as almas que já aqui na Terra gozam dos seus especiais dons, e essas são as
almas pequenas e humildes.
779. Esta grande Majestade de Deus que conheci mais profundamente,
que os espíritos celestes adoram segundo o grau da graça e a hierarquia em
que se dividem; ao ver esta potência e esta grandeza de Deus, a minha alma
não ficou estarrecida de espanto nem de temor, não, não absolutamente não.
A minha alma ficou cheia de paz e amor, e quanto mais conheço Deus tanto
mais me alegro de que Ele seja assim. E gozo imensamente com a sua
grandeza e alegro-me por ser tão pequena, porque por ser tão pequena, levame nos Seus braços e tem-me junto ao Seu Coração.
780. Oh meu Deus, que pena me dão os homens que não crêem na vida
eterna; quanto rogo por eles para que os envolva o raio da Misericórdia e
para que Deus os abrace ao Seu seio paterno. Oh amor, oh rei.
781. O amor não conhece temor, passa por todos os coros angélicos que
fazem guarda diante do Seu trono. Não tem medo de ninguém; alcança a
Deus e se submerge n’Ele como no seu único tesouro. O Querubim com a
espada de fogo que vigia o paraíso, não tem poder sobre ele. Oh, puro amor
de Deus, que imenso e incomparável és. Oh, se as almas conhecessem a Tua
força.
782. Hoje estou muito fraca, nem sequer posso fazer a meditação na
capela, tenho de ir deitar-me.
Oh meu Jesus, quero-Te e desejo glorificar-Te com a minha debilidade,
submetendo-me totalmente à Tua santa vontade.
783. Tenho que vigiar-me muito, sobretudo hoje, porque começa a
envolver-me uma excessiva sensibilidade por tudo. As coisas que, estando
eu de boa saúde, não chamariam a minha atenção, hoje irritam-me. Oh meu
Jesus, meu escudo e minha força, concede-me a graça de sair vitoriosa de
tais circunstâncias. Oh meu Jesus, transforma-me em Ti com o poder do
Teu amor, para que seja um digno instrumento para proclamar a Tua
Misericórdia.
784. Agradeço ao Senhor por esta doença e pelos sofrimentos físicos,
porque tenho tempo para falar com Jesus. É o meu deleite passar longos
momentos aos pés de Deus oculto; e as horas passam como minutos, sem
saber como. Sinto que dentro de mim arde um fogo, e não compreendo
outra vida senão a do sacrifício que brota do amor puro.
785. 29 XI [1936]. A Santíssima Virgem ensinou-me como devo
preparar-me para a festa da Natal do Senhor. Vi-A hoje sem o Menino
Jesus; disse-me: Minha filha, procura ser mansa e humilde para que Jesus,
que vive continuamente no teu coração, possa descansar. Adora-O no teu
coração, não saias de teu mais íntimo. Obterei para ti, minha filha, a graça
de uma vida interior tal que, sem abandonar essa intimidade, sejas capaz
de cumprir exteriormente todas as tuas obrigações com a maior aplicação.
Permanece continuamente com Ele no teu coração. Ele será a tua força.
Mantém o contacto com as criaturas na medida em que as necessidades e
as obrigações o exigirem. És uma morada agradável a Deus Vivo, na qual
Ele permanece continuamente com amor e complacência, e a presença viva
de Deus que sentes de modo mais vivo e evidente, te confirmará, minha
filha, no que te digo. Procura comportar-te assim até o dia de Natal, e
depois Ele Mesmo te dará a conhecer como deverás tratar com Ele e unirte a Ele.
786. 30 XI [1936]. Hoje, durante as vésperas uma dor trespassou a
minha alma, vejo que esta Obra ultrapassa as minhas forças em todos os
aspectos. Sou uma criança pequena frente à imensidade desta Obra e só por
uma ordem clara de Deus tento cumpri-la; e por outro lado também estas
grandes graças se tornaram um fardo para mim e mal o posso levar. Vejo a
incredulidade das Superioras e as dúvidas de todo o tipo e em consequência
o comportamento desconfiado para comigo.
Oh meu Jesus, vejo que
também as graças tão grandes podem ser um sofrimento, e verdadeiramente
é assim; não só pode haver sofrimentos por este motivo, mas têm que existir
como uma característica da actuação de Deus. Entendo bem que se o
próprio Deus não amparasse a alma nestas distintas provações, a alma por si
mesma não conseguiria nada, mas o próprio Deus é o seu escudo. Durante
as vésperas, enquanto continuava a contemplar esta especie de mescla de
sofrimento e de graça, ouvi a voz da Santíssima Virgem: Deves saber,
minha filha, que apesar de ser elevada a dignidade da Mãe de Deus, sete
espadas dolorosas trespassaram o Meu coração. Não faças nada em tua
defesa, suporta tudo com humildade, o próprio Deus te defenderá.
787. 1 XII [1936]. Exercícios espirituais de um dia.
Hoje, durante a meditação matutina, o Senhor deu-me a conhecer e
compreender claramente o carácter invariável dos seus desejos. E vejo
claramente que ninguém pode libertar-me deste dever de cumprir a vontade
de Deus, conhecida por mim. Uma grande falta de saúde e das forças físicas
não é uma razão suficiente, e não me dispensa desta Obra que o próprio
Senhor está a realizar; devo ser somente um instrumento nas suas mãos.
Pois, Senhor, eis-me aqui para cumprir a tua vontade, manda-me segundo
os Teus eternos desígnios e predilecções, dá-me somente a graça de Te ser
sempre fiel.
788. Quando falava com Deus oculto, deu-me a conhecer e compreender
que não devo reflectir muito nem ter medo das dificuldades que posso
encontrar. Fica a saber que Eu estou contigo, estabeleço as dificuldades,
venço-as e, num só instante posso mudar as atitudes contrárias em
atitudes favoráveis a esta Causa. Durante a conversa de hoje o Senhor
esclareceu-me muito, embora eu não escreva tudo.
789. Dar sempre a prioridade aos outros em todas as circunstâncias,
especialmente durante o recreio, escutar tranquilamente sem interromper,
mesmo que me já tivessem contado dez vezes o mesmo. Nunca perguntar
pelas coisas que me interessam muito.
790. Propósito: sempre o mesmo, isto é, unir-me a Cristo
Misericordioso.
Propósito geral: recolhimento interior, silêncio.
791. Esconde-me, Jesus, na profundidade da Tua Misericórdia, e que o
próximo me julgue, então, como lhe apetecer.
792. Nunca falar das minhas próprias vivências. No sofrimento procurar
alívio na oração, nas dúvidas mais pequenas procurar somente o conselho
do confessor. Ter o coração sempre aberto para receber os sofrimentos dos
outros e os meus sofrimentos mergulhá-los no Coração de Deus para que
exteriormente se não notem, se possível.
Tentar manter sempre o equilíbrio embora as circunstâncias sejam
extremamente tormentosas.
Não permitir que seja perturbada a minha paz e o meu silêncio interior.
Nenhuma coisa pode comparar-se com a paz do coração. Se me censuram
injustamente, não me justificar; se a Superiora quer conhecer a verdade
sobre se tenho ou não tenho razão, pode sabê-lo não necessáriamente por
mim. Devo aceitar tudo com uma atitude interior de humildade.
Viverei este Advento segundo as indicações da Santíssima Virgem: em
mansidão e humildade.
793. Vivo estes momentos com a Santíssima Virgem. Com imensa ânsia
espero a vinda do Senhor.
Os Meus desejos são grandes. Desejo que todos os povos conheçam o
Senhor, desejo preparar todas as nações para a vinda do Verbo Encarnado.
Oh Jesus, faz que a fonte da Tua Misericórdia brote com maior abundância,
porque a humanidade está muito doente e por isso mais que nunca necessita
da Tua compaixão. Tu és um mar ilimitado de Misericórdia para nós,
pecadores e quanto maior é a nossa miséria, tanto maior é o direito que
temos à Tua Misericórdia. Tu és a fonte que faz feliz cada criatura, por meio
da Tua Misericórdia infinita.
794. Hoje [9 XII 1936] vou para Pradnik, nas proximidades de Cracóvia,
para tratamento; terei de estar ali três meses. Manda-me para lá o grande
carinho das Superioras e, especialmente, da nossa querida Madre Geral, que
tem grande cuidado pelas irmãs doentes. Aceitei esta graça do tratamento,
mas submeto-me totalmente à vontade de Deus; que Deus faça de mim o
que lhe agradar.
795. Não desejo outra coisa que cumprir a Sua santa vontade. Uno-me à
Santíssima Virgem e abandono Nazaré para ir a Belém, onde passarei as
festas de Natal, entre estranhos, mas com Jesus, Maria e José, porque esta é
a vontade de Deus. Procuro cumprir em tudo a vontade de Deus, não desejo
curar-me mais do que morrer. Abandono-me completamente à Sua
Misericórdia infinita e, como uma criança pequena, vivo em absoluta
tranquilidade; procuro somente que o meu amor por Ele seja cada vez mais
profundo e mais puro, para ser um deleite para o Seu divino olhar…
796. O Senhor disse-me para rezar esta coroinha durante nove dias antes
da Festa da Misericórdia. Devo começar na Sexta-feira Santa. Durante esta
novena concederei às almas toda a espécie de graças.
797. Quando tive algum receio de ter que ficar só durante longo tempo
fora da Congregação, Jesus disse-me: Não estarás só, porque Eu estou
contigo sempre e em toda a parte; junto ao Meu Coração não tenhas
medo de nada. Eu Mesmo sou a causa da tua partida. Deves saber que
o Meu olhar segue com atenção cada movimento do teu coração. Levo-te para esse lugar isolado para conformar o teu coração com os Meus desígnios futuros. ¿De que tens medo? Se estás Comigo quem se
atreverá a tocar-te? Alegro-me muito de que Me digas os teus medos,
Minha filha, fala-me de tudo de forma simples e humana, que Me
alegrarás muitíssimo com isso; Eu te entendo, porque sou Deus –
Homem. Essa linguagem simples do teu coração Me é mais agradável
que os hinos compostos em Minha honra. Deves saber, Minha filha, que
quanto mais simples forem as tuas palavras, tanto mais Me atrais para
ti. E, agora, fica tranquila junto ao Meu Coração, deixa a caneta e
prepara-te para a partida.
798. 9 XII 1936. Esta manhã fui para Pradnik. Acompanhou-me a Ir.
Crisóstoma. Tenho um quarto isolado só para mim; pareço-me totalmente
com uma carmelita. Quando a Ir. Crisóstoma se foi embora e eu fiquei só,
mergulhei em oração, confiando-me à protecção especial da Santíssima
Virgem. Só ela está sempre comigo. Ela, como uma boa Mãe, está atenta a
todas as minhas vivências e esforços.
799. Subitamente vi Jesus que me disse: Fica tranquila, Minha filha,
vês que não estás só. O Meu Coração vela por ti. Jesus encheu-me de
coragem em relação com uma certa pessoa; sinto fortaleza na alma.
800. Um princípio moral
Quando não se sabe o que é melhor, há que reflectir e examinar e pedir
conselho porque não se pode actuar na dúvida de consciência. Na incerteza,
dizer-se a si próprio: qualquer coisa que faça será bem feita, porque tenho a
intenção de a fazer bem. Deus aceita o que nós consideramos bom, e Deus
aceita e considera bom. Não devo preocupar-me se depois de algum tempo,
verificar que aquelas coisas afinal não são boas. Deus vê a intenção com a
qual começamos e segundo ela dará a recompensa. É um princípio que
devemos seguir.
801. Também hoje fui fazer uma breve visita ao Senhor, antes de me
deitar. A minha alma submergiu-se n’Ele como no meu único tesouro, o
meu coração descansou um momento junto ao Coração do meu Esposo. Fui
iluminada sobre como me comportar com as pessoas que estão à minha
volta e regressei à minha solidão. O médico dedicou-me o seu maior
cuidado. À minha volta vejo corações muito bondosos.
802. 10 XII [1936]. Hoje levantei-me cedo e ainda antes da Santa Missa
tive a meditação. Aqui a Santa Missa é às seis. Depois da Santa Comunhão
o meu espírito submergiu-se no Senhor como no único objecto do meu
amor. Sentia-me absorvida pela sua omnipotência. Ao regresar à minha
solidão senti-me mal e tive que deitar-me imediatamente. A irmã
trouxe-me gotas, mas senti-me mal durante todo o dia. À noite procurei
fazer a Hora Santa, no entanto não pude fazê-la, uni-me somente a Jesus
nos Seus sofrimentos.
803. O meu quarto isolado está junto à sala dos homens; não sabia que os
homens são tão faladores; desde manhã até altas horas da noite conversam
sobre distintos temas; na sala das mulheres há muito mais silêncio. Sempre
se acusa disto nas mulheres, mas tive a possibilidade de me convencer [do
contrário]. É difícil concentrar-me para rezar entre as gargalhadas e as
piadas. Só não me incomodam quando a graça de Deus me toma na sua
absoluta posse, pois então não me dou conta do que se passa à minha volta.
Oh meu Jesus, que pouco falam de Ti estas pessoas.
804. Falam de tudo menos de Ti, Jesus. E se falam pouco, seguramente não
pensam nada; ocupam-se do mundo inteiro, mas a respeito de Ti, oh
Criador, o silêncio. Fico triste, oh Jesus, ao ver esta imensa indiferença e
ingratidão das criaturas. Oh meu Jesus, desejo amar-Te por eles e
compensar-Te com o meu amor.
805. A Imaculada Conceição
Desde manhã cedo sentia a proximidade da Virgem Santíssima. Durante a
Santa Missa vi-A tão resplandecente e bela que não encontro palavras para
exprimir nem sequer a mínima parte da sua beleza. Era toda branca, cingida
com uma faixa azul, o manto também azul, a coroa na cabeça, de toda a
imagem irradiava um esplendor inconcebível. Sou a Rainha do Céu e da
Terra, mas especialmente a vossa mãe. Estreitou-me ao Seu coração e
disse: Eu sempre me compadeço de ti. Senti a fortaleza do Seu Imaculado
Coração que se transmitiu à minha alma.
Agora compreendo porque desde há duas semanas me preparava para esta
festa e a desejava tanto.
Desde hoje procurarei a máxima pureza da alma, para que os raios da graça
de Deus se reflictam com toda a clareza. Desejo ser o cristal para encontrar
complacência diante dos Seus olhos.
806. Naquele dia vi um certo sacerdote rodeado do esplendor que provinha
dele; evidentemente aquela alma ama a Imaculada.
807. Um misterioso anseio envolve a minha alma, surpreendo-me que ele
não separe a alma do corpo.
Desejo a Deus, desejo submergir-me n’Ele. Entendo que estou num terrível
desterro, toda a fortaleza da minha alma morre pelo anseio de estar com
Deus. Oh, habitantes da minha Pátria, recordem esta desterrada. ¿Quando
cairão os véus também para mim? Embora veja e quase sinta o finito que é
o véu que me separa do Senhor, eu desejo vê-lo cara a cara, mas que tudo se
faça segundo a Sua vontade.
808. 11 XII. Hoje não pude assistir a toda a Santa Missa; estive presente
somente nas partes mais importantes e, depois de comungar, voltei
imediatamente à minha solidão. De repente envolveu-me a presença de
Deus e naquele mesmo momento experimentei a Paixão do Senhor durante
um brevíssimo momento. Naquele instante conheci mais profundamente a
Obra da Misericórdia.
809. À noite fui despertada súbitamente e conheci que uma alma me pedia a
oração e que tinha uma grande necessidade de preces. Brevemente, mas
com toda a minha alma, pedi ao Senhor a graça para ela.
810. No dia seguinte, passado já o meio dia, quando entrei na sala vi uma
pessoa agonizante e soube que a agonia tinha começado de noite. Depois de
tê-lo verificado soube que tinha sido quando me pediu para rezar. De
repente ouvi na alma a voz: Reza a coroinha que te ensinei.
Corri a procurar o rosário e ajoelhei-me junto à agonizante e com tudo o
ardor do meu espírito comecei a rezar esta coroinha. De súbito a agonizante
abriu os olhos e olhou-me, e não consegui rezar toda a coroinha porque ela
morreu com uma misteriosa serenidade. Pedi fervorosamente ao Senhor que
cumprisse a promessa que me tinha feito por rezar a coroinha. O Senhor
fez-me saber que aquela alma recebeu a graça que o Senhor me tinha
prometido. Aquela alma foi a primeira a experimentar a promessa do
Senhor. Senti como a fortaleza da Misericórdia cobria aquela alma.
811. Ao entrar na minha solidão, ouvi estas palavras: Defenderei como a
Minha glória cada alma que reze esta coroinha na hora da morte, ou
quando outros a rezarem junto de um agonizante, obterão o mesmo
perdão. Quando, junto de um agonizante, é rezada esta coroinha,
aplaca-se a ira divina e a insondável Misericórdia envolve a alma e as
entranhas da Minha Misericórdia serão movidas pela dolorosa Paixão
do Meu Filho.
Oh, se todos conhecessem que grande é a Misericórdia do Senhor e quanto
todos nós necessitamos dela, especialmente naquela hora decisiva.
812. Hoje travei uma luta, por uma alma, com os espíritos das trevas. Que
ódio tremendo tem Satanás pela Divina Misericórdia; vejo como se opõe a
toda esta Obra.
813. ¡Oh Jesus Misericordioso, pregado na cruz, tem presente a hora da
nossa morte! ¡Oh Coração Misericordiosíssimo de Jesus, aberto com uma
lança, protege-me à hora da minha morte! ¡Oh Sangue e Água que brotaste
do Coração de Jesus como fonte de insondável Misericórdia para mim na
hora da minha morte! ¡Oh Jesus agonizante, Refém da Misericórdia,
apazigua a ira divina na hora da minha morte!
814. 12 XII [1936]. Hoje estive somente na Santa Comunhão e um pouco
mais na Santa Missa. Toda a minha força está em Ti, Pão vivo. Seria difícil
viver um dia sem receber a Santa Comunhão. Ele é o meu escudo; sem Ti,
Jesus, não sei viver.
815. Jesus, meu Amor, hoje fez-me compreender quanto me ama, embora
haja um abismo tão grande entre nós: o Criador e a criatura, mas de certo
modo é como se houvesse igualdade, o amor nivela este abismo. Ele
Mesmo se inclina para mim e me faz capaz de me unir com Ele. Submergime n’Ele aniquilando-me quase completamente e, no entanto, sob o seu
olhar amoroso a minha alma adquire fortaleza e força e consciência de que
ama e é amada muito especialmente; sabe que o Todopoderoso a defende.
Tal oração, embora breve, no entanto dá muito proveito à alma e as horas
inteiras de oração ordinária não dão à alma tanta luz como um breve
momento de oração superior.
816. De tarde tive o meu primeiro descanso ao ar livre. Hoje visitoume a Ir. Felicia que me trouxe algumas coisitas de que necessitava,
umas quantas magníficas maçãs e as saudações da querida Madre Superiora
e das queridas irmãs.
817. 13 XII [1936]. A confissão diante de Jesus.
Quando verifiquei que há três semanas que não me confessava, irrompi em
pranto, vendo a fragilidade da minha alma e certas dificuldades. Não me
tinha confessado porque assim foram as circunstâncias: quando havia
confissão, estava de cama naquele dia. Na semana seguinte a confissão foi à
tarde e de manhã eu tinha ido para o hospital. Esta tarde, no meu quarto
isolado entrou o Padre Andrasz e sentou-se para que eu me confessasse.
Antes não disse nem uma palavra. Alegrei-me grandemente porque
desejava muitíssimo confessar-me.
Como sempre revelei toda a minha
alma. O Padre deu-me resposta até à coisa mais pequena. Sentia-me
estranhamente feliz de poder dizer tudo. Como penitência deu-me: Letanias
do Nome de Jesus. Quando queria apresentar-lhe a dificuldade que tinha em
rezar aquelas ladainhas vi que não era o Padre Andrasz, mas Jesus. As Suas
vestes eram claras como a neve, e desapareceu imediatamente. Ao princípio
fiquei um pouco inquieta, mas depois entrou na minha alma certa
tranquilidade. Notei que Jesus confessa como os confessores, no entanto,
durante esta confissão o meu coração intuía algo de estranho; num primeiro
momento não consegui compreender o que significava isso.
818. 16 XII [1936]. Hoje ofereci pela Rússia todos os meus sofrimentos e as
minhas orações por este pobre país. Depois da Santa Comunhão Jesus
disse-me que: Não posso suportar este país mais tempo, não Me ates as
mãos, Minha filha. Compreendi que se não tivesse sido pelas preces das
almas queridas a Deus, toda essa nação teria sido reduzida a nada. Oh,
quanto sofro por este país que expulsou Deus das suas fronteiras.
819. Oh, fonte inesgotável da Divina Misericórdia, derrama-Te sobre nós. A
Tua bondade não tem limites. Consolida, oh Senhor, a potência da Tua
Misericórdia sobre o abismo da minha miséria, porque a Tua piedade é sem
limites. Misteriosa e inalcançável é a Tua Misericórdia, que enche de
assombro a mente humana e a angélica.
820. O Anjo da Guarda recomendou-me que rezasse por certa alma e, na
manhã seguinte, soube que era um homem que naquele mesmo instante
tinha começado a agonizar. De modo surpreendente Jesus dá-me a conhecer
que alguém necessita da minha oração. De forma especial sei quando uma
alma agonizante necessita da minha oração. Agora isso sucede muito mais
vezes do que dantes.
821. O Senhor Jesus deu-me a conhecer quanto lhe é agradável a alma que
vive da vontade de Deus; com isto dá a Deus a maior glória…
822. Hoje compreendi que embora não fizesse nada do que o Senhor exige
de mim, receberia a recompensa como se tivesse cumprido tudo, porque
Deus vê a intenção com que comecei; embora me levasse hoje mesmo, a
Obra não sofreria nada, porque Ele Mesmo é o Senhor da obra e do
operário. A minha tarefa é amá-Lo até à loucura. Todas as obras são uma
gotícula diante d’Ele; o amor é que tem a importância, a força e o mérito.
Foi ele que rasgou na minha alma amplos horizontes. O amor que suplanta
abismos.
823. 17 XII [1936]. Ofereci o dia de hoje pelos sacerdotes; hoje sofri mais
que qualquer outro dia, interior e exteriormente. Não sabia que era possível
sofrer tanto num só dia. Procurei fazer a Hora Santa na qual o meu espírito
experimentou a amargura do Horto das Oliveiras. Luto só, amparada pelo
Seu braço, contra toda a ordem de dificuldades que se apresentam diante de
mim como muros intransponíveis; no entanto tenho confiança no poder do
Seu nome e não tenho medo de nada.
824. Nesta solidão, o próprio Jesus é o meu Mestre. Ele Mesmo me educa e
me ensina; sinto que me encontro debaixo da Sua especial acção. Pelos
Seus inexplicáveis projectos e Seus insondáveis desígnios une-me a Ele de
um modo especial e permite-me penetrar em segredos inconcebíveis. Há um
segredo que me une ao Senhor de que ninguém pode saber, nem sequer os
Anjos; e embora quisesse dizê-lo, não o saberia exprimir; no entanto vivo
disso e vivirei eternamente. Este segredo distingue-me de entre outras almas
aqui na Terra e na eternidade.
825. ¡Oh dia luminoso e belo em que se cumprirão todos os meus desejos!
¡Oh dia desejado, que serás o último da minha vida! Alegro-me com esse
último toque que o meu divino artista dá à minha alma, outorgando-lhe uma
beleza especial que me distinguirá da beleza das outros almas. ¡Oh grande
dia em que se confirmar o amor de Deus em mim! Naquele dia, pela
primeira vez cantarei diante do Céu e da Terra o cântico da Misericórdia
insondável do Senhor. É a minha obra e a minha mensagem que o Senhor
me predestinou desde o princípio do mundo. Para que o canto da minha
alma seja agradável à Santíssima Trindade, guia e modela Tu Mesmo a
minha alma, oh Espírito de Deus. Armo-me de paciência e espero a Tua
vinda, oh Deus misericordioso, e [quanto] às dores tremendas e aos temores
da agonia, naquele momento, mais que nunca, confiarei no abismo da Tua
Misericórdia e Te recordarei, oh Jesus misericordioso, doce Salvador, todas
as promessas que me fizeste.
826. Esta manhã tive uma aventura: parou o relógio, não sabia quando
devia levantar-me e pensei, que pena seria faltar à Santa Comunhão. Ainda
estava escuro e não podia orientar-me sobre a hora de levantar-me. Vestime, fiz a meditação e fui à capela, mas estava ainda fechada e havia silêncio
em todo o lado; submergi-me na oração, especialmente pelos doentes.
Agora vejo quanto necessitam de oração. Por fim abriram a capela e custoume rezar porque me sentia esgotada e depois da Santa Comunhão regressei
imediatamente à minha solidão. De repente vi o Senhor que me disse:
Deves saber, Minha filha, que Me é agradável o ardor do teu coração e
como tu desejas fervorosamente unir-te a Mim na Santa Comunhão;
assim também Eu desejo dar-me inteiro a ti e em recompensa do teu
zelo, descansa junto ao Meu Coração. Naquele instante o meu espírito
submergiu-se no Seu Ser, como uma gota no oceano sem fundo, afundo-me
n’Ele como no meu único tesouro; assim aprendi que o Senhor permite
certas dificuldades para a sua maior glória.
827. 18 XII [1936]. Hoje senti angústia porque faz já uma semana que não
vem ninguém visitar-me; quando me queixava ao Senhor, respondeume: ¿Não te é suficiente que Eu te visite todos os dias? Pedi perdão ao
Senhor e a angústia desapareceu. Oh Deus, fortaleza minha. Tu me bastas.
828. Esta noite conheci que certa alma necessitava da minha oração. Rezei
com fervor, mas sentia que era pouco ainda e então permaneci na oração
mais tempo. No dia seguinte soube que precisamente naquela hora tinha
começado a agonia de certa alma e durou até de manhã. Conheci as penosas
que eram as lutas por que passou. O Senhor Jesus faz-me saber
estranhamente quando uma alma agonizante necessita da minha prece.
Sinto aquela alma que me pede ajuda, de modo vivo e claro. Não sabia que
existia tal união com as almas, e é o Anjo da Guarda que mo diz com
frequência.
829. O pequeno Menino Jesus, durante a Santa Missa, é a alegria da minha
alma. Com frequência o espaço não existe para mim. Vejo certo sacerdote
que o traz. Com um vivo desejo espero o Natal, vivo à espera com a
Santíssima Virgem.
830. ¡Oh Luz eterna que vieste a esta Terra, ilumina a minha mente e
reforça a minha vontade para que não me detenha nos momentos das
provações difíceis! Que a Tua luz dissipe toda a sombra de dúvida, que a
Tua omnipotência actue através de mim. Em Ti confio, oh Luz incriada, Tu,
oh Menino Jesus, és o meu exemplo no cumprimento da vontade do Teu
Pai, Tu que disseste: Venho para cumprir a Tua vontade, faz que também eu
cumpra fielmente em tudo a vontade de Deus, Oh divino Menino, concedeme esta graça.
831. Oh meu Jesus, a minha alma anseia pelos dias das provações, mas
quando a minha alma está ofuscada não me deixes só, mas sustém-me
firmemente junto a Ti, põe um selo nos meus lábios para que o perfume dos
sofrimentos seja conhecido e agradável somente a Ti.
832. Oh Jesus misericordioso, com que ardente desejo Te apressaste para o
Cenáculo, para consagrar a Hóstia que eu hei de receber durante a minha
vida. Desejaste, oh Jesus, viver no meu coração. O Teu sangue vivo une-se
ao meu sangue. ¿Quem compreenderá esta íntima união? O meu coração
encerra o Todopoderoso, o Incomprensível.
Oh Jesus, concede-me a Tua
vida divina, que o Teu sangue puro e generoso pulse com toda a força no
meu coração. Ofereço-Te todo o meu ser, transforma-me em Ti e faz-me
capaz de cumprir em tudo a Tua santa vontade, de compensar-Te com o
meu amor. Oh meu doce Esposo, Tu sabes que o meu coração não conhece
ninguém excepto a Ti. Abriste no meu coração um abismo insaciável de
amor por Ti; desde o primeiro instante que Te conheci, o meu coração Te
amou e afundou-se em Ti como no seu único fim. Que o Teu amor puro e
omnipotente seja um estímulo para a acção. ¿Quem compreenderá e
conceberá este abismo de Misericórdia que brotou do Teu Coração?
833. Verifiquei, por experiência, quanta inveja há também na vida religiosa.
Reconheço que são poucas as almas verdadeiramente grandes que ignoram
tudo o que não é Deus. Oh alma, fora de Deus não encontrarás beleza. Oh
que base tão frágil tem quem se eleva à custa dos outros. Que perda.
834. 19 XII [1936]. Esta noite senti na alma que alguma pessoa necessitava
da minha oração. Logo comecei a rezar; de repente conheci interiormente e
senti no espírito que mo pedia; rezei até ficar tranquila. A coroinha é uma
grande ajuda para os agonizantes. Muitas vezes rezo por intenção que
anteriormente sinto dentro de mim; rezo sempre até ao momento de sentir
na minha alma que a prece conseguiu o seu efeito.
835. Especialmente agora, quando estou aqui, neste hospital, experimento
esta íntima união com os agonizantes que, ao iniciar-se a agonia, me pedem
para rezar. Deus deu-me uma relação misteriosa com os agonizantes. Como
isto sucede com bastante frequência, tive até a possibilidade de verificar a
hora. Hoje, às onze da noite, fui despertada repentinamente, e senti
claramente que junto a mim estava um espírito que me pedia orações. Uma
força misteriosa obrigava-me a rezar.
A minha visão é puramente espiritual, por meio de uma luz repentina que
naquele momento Deus me concede. Rezo até ao momento de sentir a
tranquilidade na alma; nem sempre dura o mesmo tempo, às vezes sucede
que depois de uma Ave Maria já estou tranquila e então recito um De
Profundis sem orar mais; outras vezes sucede que rezo toda a coroinha e só
então chega a tranquilidade.
Posso observar também que quando me sinto forçada a orar por um tempo
mais longo experimento uma inquietação interior; aquela alma defronta
lutas mais duras e uma agonia mais longa.
A forma como verifico a hora é a seguinte: vejo a hora no relógio; no dia
seguinte quando me falam da morte daquela pessoa, pregunto a hora, e
corresponde exactamente; o mesmo sucede no que diz respeito à agonia.
Dizem-me: Tal pessoa está travando uma luta muito dura e outras vezes
dizem-me: Hoje morreu tal pessoa, mas adormeceu rápida e tranquilamente.
Sucede que a pessoa moribunda está no segundo ou no terceiro pavilhão, no
entanto para o espírito o espaço não existe. Sucede que tenho o mesmo
conhecimento a umas centenas de quilómetros. Aconteceu algumas vezes
com meus parentes e familiares, também com as irmãs religiosas e com
almas que, em vida, não conhecia em absoluto.
Oh Deus da Misericórdia insondável que me permites levar alívio e ajuda
aos agonizantes com as minhas indignas preces, que sejas bendito tantos
milhares de vezes quantas estrelas há no Céu e gotas de água em todos os
oceanos. Que a Tua Misericórdia ecoe em toda a extensão da Terra e se
eleve até aos pés do Teu trono, glorificando o Teu maior atributo, isto é, a
Tua Misericórdia inconcebível.
Oh Deus, esta Misericórdia insondável leva a um novo êxtase as almas
santas e todos os espíritos celestes. Aqueles espíritos puros submergem-se
num sagrado assombro glorificando esta inconcebível Misericórdia de Deus
que os leva a um novo êxtase; a sua adoração cumpre-se de maneira
perfeita. Oh Deus eterno, quanto desejo adorar este maior dos Teus
atributos, isto é, a Tua insondável Misericórdia. Vejo toda a minha
pequenez e não posso comparar-me com os habitantes do paraíso que numa
santa admiração, glorificam a Misericórdia do Senhor. Mas eu também
encontrei um modo perfeito para adorar esta inconcebível Misericórdia de
Deus.
836. Oh Jesus dulcíssimo que Te dignaste permitir-me a mim, miserável,
conhecer esta insondável Misericórdia Tua; oh Jesus dulcíssimo que
quiseste benignamente que eu falasse ao mundo inteiro desta inconcebível
Misericórdia Tua, hoje tomo nas mãos estes dois raios que brotaram do Teu
Coração Misericordioso, isto é, Sangue e Água, e derramo-os sobre toda a
face da Terra para que todas as almas experimentem a Tua Misericórdia e,
ao experimentá-la, a adorem pelos séculos infinitos. Oh Jesus dulcíssimo
que em Tua inconcebível bondade Te dignaste unir o meu coração
miserável ao Teu Coração tão misericordioso, pois então é com o Teu
próprio Coração que adoro o nosso Pai Deus, como nenhuma alma jamais O
adorou.
837. 21 XII [1936]. De tarde ligam o rádio; assim logo sinto falta do
silêncio. Até ao meio dia não cessam as conversações e o ruído. Meu Deus,
esperava o silêncio para poder falar somente com o Senhor e aqui é tudo ao
contrário. No entanto, agora não me incomoda nada, nem as conversações
nem o rádio. Numa palavra, nada. A graça de Deus fez que quando rezo
nem sequer me dou conta de onde estou, sei somente que a minha alma está
unida ao Senhor e assim me passam os dias neste hospital.
838. Fico admirada por tantas humilhações e sofrimentos que defronta
aquele sacerdote em toda esta Causa, vejo-o em momentos especiais e
sustenho-o com a minha oração indigna. Só Deus pode dar tanta
valentia, porque de outra maneira a alma cederia; mas vejo com alegria que
todas estas contrariedades contribuem para maior glória de Deus. O Senhor
tem poucas almas como estas. Oh eternidade infinita, tu revelarás os
esforços das almas heróicas, porque a Terra recompensa estes esforços com
ingratidão e ódio; estas almas não têm amigos, são solitárias. E nesta
solidão fortalecem-se, tiram força somente de Deus; embora com
humildade, mas também com coragem, afrontam todas as tempestades que
as açoitam.
Elas, como colunas tão altas que chegam até ao Céu, são
inabaláveis, e somente nisto está o seu único segredo: que de Deus tiram a
sua força e tudo do que necessitam, tanto para si como para os outros.
Carregam o seu peso, mas sabem e são capazes de levar o peso dos outros.
São verdadeiras colunas resplandecentes nos caminhos de Deus que vivem,
elas mesmas, na luz e iluminam os outros. Elas mesmas vivem nas alturas e
aos outros, mais pequenos, sabem indicar e ajudar a [alcançar] estas alturas.
839. Oh meu Jesus, Tu vês que além de não saber escrever, não tenho uma
caneta boa, que às vezes escreve tão mal que tenho que compor frases, letra
por letra; e ainda não é tudo: tenho a dificuldade de que tomo notas destas
coisas escondida das irmãs, pois, às vezes, tenho que fechar o caderno a
cada instante e escutar pacientemente o que as pessoas me vêm contar, e o
tempo que tenho dedicado a escrever passa e quando fecho repentinamente
o caderno faço borrões.
Escrevo com licença das Superioras e por mandato do confessor. É uma
coisa estranha que às vezes escreva razoavelmente e outras vezes mal possa
decifrar o que escrevi.
840. 23 XII [1936]. Vivo este tempo com a Santíssima Virgem e preparome para o solene momento da vinda de Jesus. A Santíssima Virgem ensiname sobre a vida interior da alma com Jesus, especialmente na Santa
Comunhão. Somente na eternidade conheceremos que grande mistério
realiza em nós a Santa Comunhão. ¡Oh os momentos mais preciosos da
minha vida!
841. Oh Criador meu, anseio por Ti. Tu compreendes-me, oh meu Senhor.
Tudo o que [há] na Terra me parece uma pálida sombra; eu Te anseio e
desejo. Embora faças por mim muitíssimas coisas inconcebíveis, porque Tu
Mesmo me visitas de modo singular, no entanto estas visitas não cicatrizam
a ferida do coração, mas incitam-me a uma maior nostalgia por Ti, Senhor.
Oh, leva-me para onde estás, Senhor, se for essa a Tua vontade. Tu sabes
que estou morrendo e estou morrendo de ânsia por Ti, mas não posso
morrer. Oh morte, ¿onde estás? Atrais-me ao abismo da Tua Divindade e
escondes-Te atrás das trevas. Todo o meu ser está submergido em Ti, no
entanto eu desejo contemplar-Te cara a cara. ¿Quando sucederá isto para
mim?
842. Alegrei-me muitíssimo. A Madre Superiora pediu ao médico através
da Ir. Crisóstoma que me permitisse voltar a casa para as festas, e o
médico concedeu com gosto. Fiquei contente e chorei como uma
criança pequena. A Ir. Crisóstoma surpreendeu-se ao ver que eu tinha mau
aspecto e que estava muito mudada. E disse-me: «Sabes, Faustinita,
provavelmente vais morrer; deves sofrer terrivelmente».
Respondi que, naquele dia, sofria mais que noutros dias, mas não tinha
importância, para salvar as almas nada era demasiado. Oh Jesus
misericordioso, dá-me as almas dos pecadores.
843. 24 XII [1936]. Hoje, durante a Santa Missa, estive especialmente unida
a Deus e à sua Mãe Imaculada. A humildade e o amor da Virgem Imaculada
penetraram na minha alma. Quanto mais imito a Santíssima Virgem tanto
mais profundamente conheço Deus. Oh que inconcebível anseio envolve a
minha alma. Oh Jesus, ¿Como podes deixar-me ainda neste desterro? Morro
de desejo por Ti, cada vez que tocas a minha alma feres-me enormemente.
O amor e o sofrimento vão juntos, no entanto não trocaria esta dor que Tu
me causas por nenhum tesouro, porque é dor de deleite inconcebível e é a
mão amorosa que produz estas feridas na minha alma.
844. A Ir. C. veio pela tarde e levou-me para casa, para as festas.
Estava contente de poder estar junto com a Comunidade. Enquanto
atravessava a cidade ia imaginando que era Belém. Ao ver que toda as
pessoas iam com pressa pensei: ¿Quem medita hoje neste mistério
inconcebível, em recolhimento e em silêncio? Oh Virgem Puríssima, Tu
estás hoje de viagem e eu também estou de viagem. Sinto que a viagem de
hoje tem o seu significado, Oh Virgem radiante, pura como o cristal, toda
submergida em Deus; ofereço-Te a minha vida interior, dispõe tudo de
maneira que seja agradável a Teu Filho; oh Mãe minha, eu desejo com
muitíssimo ardor que me dês o pequeno Jesus durante a Missa da Meia Noite.
E no fundo da minha alma senti a presença de Deus tão viva que,
com força de vontade, tive que reprimir a alegria para não deixar ver
exteriormente o que se passava na minha alma.
845. Antes de jantar entrei um momento na capela para compartilhar
espiritualmente o “oplatek” com as pessoas queridas ao meu coração;
apresentei-as a todas pelo nome a Jesus e pedi graças para elas. Mas não foi
tudo; recomendei ao Senhor os perseguidos, os que sofriam e a aqueles que
não conheciam o seu nome e, especialmente, os pobres pecadores. Oh
pequenino Jesus, peço-Te com fervor, encerra todos no mar da Tua
Misericórdia inconcebível. Oh doce, pequenino Jesus, toma o meu coração
para que eu seja Tua morada agradável e acolhedora. Oh Majestade infinita
com que doçura Te aproximas de nós. Aqui não há o terror dos raios do
grande Jehovah, aqui está o doce, pequenino Jesus; aqui nenhuma alma tem
medo, embora a Tua Majestade não tenha diminuído, mas simplesmente se
escondeu.
Depois do jantar senti-me muito cansada e dorida e tive que me deitar, no
entanto velava com a Santíssima Virgem à espera da vinda do Menininho.
846. 25 XII [1936]. Missa da Meia-Noite. Durante a Santa Missa a presença
de Deus penetrou-me por completo. Um momento antes da elevação, vi a
Mãe e o pequeno Menino Jesus, e o Avôzinho. A Santíssima Virgem
disse-me estas palavras: Minha filha Faustina, toma este tesouro
preciosíssimo, e deu-me o pequeno Jesus. Quando tomei Jesus nos braços, a
minha alma experimentou uma alegria tão inconcebível que não estou em
condições de descrevê-la. Mas uma coisa estranha, um momento depois
Jesus fez-se terrível, horroroso, grande, dorido, e a visão desapareceu.
Pouco depois chegou o momento de aproximar-me da Santa Comunhão.
Quando recebi Jesus na Santa Comunhão, toda a minha alma tremia sob a
influência da presença de Deus. No dia seguinte vi o divino Menininho, um
breve momento durante a elevação.
847. No segundo dia da festa veio a nossa casa o Padre Andrasz celebrar a
Santa Missa, durante a qual vi o pequeno Jesus. À tarde fui confessar-me; o
Padre não me deu respostas a certas perguntas referentes a esta Obra e
disse: «Quando estiveres boa, então falaremos concretamente, e agora trata
de aproveitar as graças que Deus te concede e trata de restabelecer-te. Tu
sabes como deves comportar-te e que regras seguir». Por penitência o Padre
fez-me rezar a coroinha que Jesus me ensinou.
848. Enquanto rezava a coroinha, de repente, ouvi uma voz: Oh, que
grandes graças concederei às almas que rezem esta coroinha; as
entranhas da Minha Misericórdia enternecem-se por quem reze esta
coroinha. Anota estas palavras, Minha filha, fala ao mundo da Minha
Misericórdia para que toda a humanidade conheça a Minha Infinita
Misericórdia. É um sinal dos últimos tempos, depois dela virá o dia da
justiça. Enquanto é tempo recorram à Fonte de Minha Misericórdia,
tirem proveito do Sangue e da Água que brotou para eles. Oh almas
humanas, ¿onde encontrarão refúgio no dia da ira de Deus? Refugiem-se
agora na Fonte da Divina Misericórdia. Oh, que grande número de almas
vejo que adoraram a Divina Misericórdia e cantarão o hino de glória pela
eternidade.
849. 27 XII. Hoje regressei à minha solidão. Fiz uma viagem
agradável porque ia comigo certa pessoa que levava um menino a
baptizar. A acompanhamos até a igreja de Podgórze. Para poder
descer, colocou o menino nos meus braços. Ao agarrar no menino, numa
oração ardente ofereci-o a Deus para que um dia pudesse levar uma glória
especial ao Senhor; senti na alma que o Senhor olhou essa pequena alma de
modo especial. Ao chegar a Pradnik, a Ir. N. ajudou-me a levar o meu
saco; quando entrámos na meu quarto, vi um belíssimo Anjo feito de papel
com a inscrição: Gloria in… Deu-me a impressão de que era da irmã doente
a que eu tinha enviado uma pequena árvore de Natal.
850. E assim passaram as festas. Nada é capaz de sossegar o anseio da
minha alma. O anseio por Ti, oh Criador meu e Deus eterno; nas
solenidades nem os belos cantos aquietam a minha alma, mas provocam
ainda uma maior nostalgia. À simples recordação do Teu nome, o meu
espírito lança-se para Ti, oh Senhor.
851. 28 XII [1936]. Hoje iniciei a novena à Divina Misericórdia. Isto é,
transporto-me em espírito para junto dessa imagem e rezo a coroinha que o
Senhor me ensinou. No segundo dia da novena vi a imagem como se
estivesse viva, rodeada de inumeráveis agradecimentos e vi uma grande
multidão de pessoas que a ela se dirigiam e vi que muitas delas eram
felizes. Oh Jesus, com que alegria bateu o meu coração. Faço esta novena
por intenção de duas pessoas, o Arcebispo e o Padre Sopocko. Rogo
fervorosamente ao Senhor que inspire o Arcebispo para que aprove esta
coroinha tão agradável a Deus e esta imagem, que não adie nem atrase esta
Obra…
852. Hoje, repentinamente, o olhar de Deus penetrou-me como um
relâmpago; de súbito conheci os mais pequenos grãozinhos de pó da minha
alma e ao ter conhecido o meu nada até ao fundo, caí de joelhos e pedi
perdão ao Senhor e com grande confiança lancei-me na Sua Misericórdia
infinita. Tal conhecimento não me desanima nem afasta do Senhor mas,
pelo contrário, desperta na minha alma um maior amor e uma confiança
ilimitada; o arrependimento do meu coração está unido ao amor. Estes
relâmpagos especiais formam a minha alma. Oh doce raio divino, iluminame até aos rincões mais secretos e mais profundos porque desejo alcançar a
máxima pureza do coração e da alma.
853. À noite um grandíssimo anseio se apoderou da minha alma. Agarrei no
folheto com a imagem de Jesus misericordioso e apertei-o ao meu
coração e escaparam-se da minha alma estas palavras: Jesus, Amor eterno,
para Ti vivo, para Ti morro e desejo unir-me a Ti. Repentinamente vi o
Senhor na Sua beleza inconcebível que me olhou benignamente e disse:
Minha filha, também Eu por amor de ti baixei do Céu, por ti vivi, por ti
morri e por ti criei os Céus. Estreitou-me ao Seu Coração e disse-me:
Dentro de pouco tempo; fica tranquila, Minha filha. Ao ficar só, a minha
alma foi inflamada pelo desejo de sofrer até ao momento em que o Senhor
diga: Basta. E embora tivesse de viver milhares de anos, à luz de Deus vejo
que é somente um momento. As almas [a frase sem concluir].
854. 29 XII [1936]. Hoje, depois da Santa Comunhão, ouvi na alma uma
voz: Minha filha, vigia, porque chegarei inadvertidamente. Jesus, não
queres dizer-me a hora que espero com tanta ansiedade?. Minha filha, para
teu bem a conhecerás, mas não agora, vigia. Oh Jesus, faz comigo tudo o
que Te agradar, sei que és o Salvador misericordioso e sei que não será
diferente comigo na hora da morte. Se agora me mostras um amor tão
singular e Te dignas unir-Te a mim de uma maneira tão confidencial e
carinhosa, então espero ainda mais na hora da morte. Tu, meu Senhor, meu
Deus, não podes mudar, és sempre o mesmo; os Céus podem mudar e tudo
o que foi criado, mas Tu, Senhor, serás sempre o mesmo, permanecerás pela
eternidade. Por isso, vem como quiseres e quando quiseres. Pai da
Misericórdia Infinita, eu, Tua filha, espero com um vivo desejo a Tua vinda.
Oh Jesus, Tu dizes no santo Evangelho: “Pela tua boca te julgarei”, então
Jesus, eu sempre falo da Tua Misericórdia inconcebível, portanto confio que
me julgarás segundo a Tua insondável Misericórdia.
855. 30 XII 1936. O ano está a terminar. Hoje fiz o retiro espiritual mensal.
O meu espírito penetrou nos dons que Deus me deu durante todo o ano. A
minha alma tremeu à vista da imensidade das graças do Senhor. Da minha
alma brotou um hino de agradecimento a Deus. Durante uma hora inteira
submergi-me na adoração e no agradecimento, considerando cada benefício
de Deus e também as minhas pequenas imperfeições. Tudo o que este ano
encerrou em si derramou-se no abismo da eternidade. Nada se perde, fico
contente por nada se perder.
30 XII [1936] Exercícios espirituais de um dia.
856. Durante a meditação matutina senti aversão e repugnância por tudo o
que está criado. Tudo é pálido a meus olhos, o meu espírito está afastado de
tudo, desejo somente o próprio Deus, no entanto tenho que viver. É um
martírio indescritível. Deus entrega-se à alma de maneira amorosa e atrai-a
ao abismo da sua divindade inconcebível, mas ao mesmo tempo deixa-a
aqui na Terra somente para que sofra e agonize de nostalgia por Ele. E este
amor forte é tão puro que o próprio Deus tem nele a Sua complacência. Mas
o amor próprio não tem parte nas suas acções, porque aqui tudo está
repassado de amargura e então deve ser inteiramente purificado. A vida é
uma morte contínua, dolorosa e tremenda e ao mesmo tempo é o núcleo de
uma vida verdadeira e de uma felicidade inconcebível e da força do
espírito; por isso [a alma] é capaz de fazer grandes obras para Deus.
857. À noite rezei um par de horas, primeiro pelos meus pais e familiares,
pela Madre Geral e por toda a Congregação e pelas alunas, por três
sacerdotes a quem devo muito; perrecorri o mundo inteiro, as coisas
grandes e pequenas, e agradeci à insondável Misericórdia de Deus por todas
as graças concedidas aos homens e pedi perdão por tudo com que O tenham
ofendido.
858. Durante as vésperas vi o Senhor Jesus que olhou a minha alma doce e
profundamente. Minha filha, tem paciência, já dentro de pouco tempo…
Aquele olhar profundo e aquelas palavras infundiram na minha alma força,
coragem, firmeza e uma misteriosa confiança em que eu cumpriria tudo o
que Ele queria de mim, apesar das enormes dificuldades e a misteriosa
convicção de que o Senhor estava comigo, e com Ele podia tudo. Nada são
para mim todas as potências do mundo e de todo o Inferno, tudo tem que
cair frente ao poder do Seu nome. Deixo tudo nas Tuas mãos, oh meu
Senhor e meu Deus. Único guia da minha alma, dirige-me segundo os Teus
eternos desejos.
859. JMJ Cracóvia - Pradnik, I I 1937
Jesus, eu confio em Vós
Hoje à meia-noite despedi o Ano Velho de 1936 e dei as boasvindas ao ano
1937. Nesta primeira hora do ano, com tremor e temor, enfrentei o novo
período. Oh Jesus misericordioso, Contigo enfrentarei com esperança e
audácia lutas e batalhas. Em Teu nome cumprirei tudo e ultrapassarei tudo.
Oh meu Deus, Bondade infinita rogo-Te que a Tua ilimitada Misericórdia
me acompanhe sempre e em tudo.
Entrando neste ano, envolve-me o receio de viver, mas Jesus tira-me este
temor dando-me a conhecer a grande glória que lhe trará esta Obra da
Misericórdia.
860. Há momentos na vida em que a alma só encontra alívio numa profunda
prece. Oxalá as almas possam perseverar na oração naqueles momentos.
Isto é muito importante.
861. JMJ Jesus, eu confio em Vós
Propósitos para o ano 1937, dia 1, mês I
Propósito especial: continuar com o mesmo, isto é, unir-me a Cristo
Misericordioso, ou seja ¿que faria Cristo neste ou naquele caso?, e com o
espírito a abraçar o mundo inteiro, especialmente a Rússia e a Espanha.
Propósitos gerais
I. Rigorosa observância do silêncio - recolhimento interior.
II. Ver a imagem de Deus em cada irmã e deste estímulo deve provir tudo o
amor ao próximo.
III. Em cada momento da vida cumprir fielmente a vontade de Deus e viver
dela.
IV. Dar contas fielmente de tudo ao director espiritual e não empreender
nada de importante sem o seu acordo. Procurarei revelar claramente os mais
secretos rincões da minha alma diante dele, recordando que estou a tratar
com o próprio Deus, embora como Seu representante seja somente um
homem, portanto todos os dias devo pedir luz para ele.
V. No exame de consciência da noite perguntar-me: ¿E se me chamasse hoje
mesmo?
VI. Não procurar Deus longe, mas tratar com Ele face a face, no meu
próprio interior.
VII. Nos sofrimentos e nas tribulações acudir ao tabernáculo e ficar em
silêncio.
VIII. Unir todos os sofrimentos, preces, trabalhos, mortificações aos
méritos de Jesus, a fim de implorar Misericórdia para o mundo.
IX. Os momentos livres, embora breves, aproveitá-los para orar pelos
agonizantes.
X. Que não haja um só dia na minha vida, em que não recomende
fervorosamente a obra da nossa Congregação. Nunca fazer caso do respeito
humano.
XI. Não ter familiaridade com ninguém. Com as alunas, firmeza benévola,
paciência sem limites, castigá-las severamente mas com um castigo deste
tipo: prece e sacrifício de si própria; a força que há no aniquilar-me por elas
é para elas um contínuo remorso de consciência e um abrandamento dos
seus corações obstinados.
XII. A presença de Deus deve ser o fundamente de todas as minhas acções,
minhas palavras e meus pensamentos.
XIII. Aproveitar toda a ajuda espiritual. Pôr sempre o amor próprio no seu
devido lugar, isto é, no último. Fazer os exercícios espirituais como se os
fizesse pela última vez na vida; da mesma maneira cumprir todos as minhas
obrigações.
862. 2 I [1937]. O nome de Jesus. Oh, que grande é o Teu nome, oh Senhor,
é a fortaleza da minha alma.
Quando as forças faltam e as trevas se apoderam da alma, então o Teu nome
é o sol cujos raios iluminam, mas também aquecem e a alma debaixo da
Sua influência torna-se bela e irradia o esplendor do Teu nome. Quando
oiço o dulcíssimo nome de Jesus, o meu coração bate com mais força e há
momentos em que ouvindo o nome de Jesus, me sinto desfalecer. O meu
espírito arrebata-se para Ele.
863. Este dia é para mim especialmente importante, neste dia fui pela
primeira vez tratar da pintura da imagem; neste dia, pela primeira vez,
a Divina Misericórdia foi honrada exteriormente de maneira especial;
apesar de ser conhecida desde há muito, mas agora na forma desejada pelo
Senhor. Este dia do dulcíssimo nome de Jesus recorda-me muitas graças
especiais.
864. 3 I. Hoje visitou-me a Madre Superiora da comunidade que atende o
hospital, com uma de suas irmãs. Falámos um longo momento sobre
coisas espirituais. Dei-me conta de que era uma grande asceta, por isso a
nossa conversação foi agradável a Deus.
Hoje veio ver-me uma menina; percebi que sofria, não tanto do corpo mas
da alma. Confortei-a como pude, mas as minhas palavras de consolo não
foram suficientes. Era uma pobre órfã que tinha a alma imersa na amargura
e na dor. Abriu a sua alma diante da minha e revelou-me tudo; compreendi
que, neste caso, as palavras de simples consolo eram insuficientes. Pedi
ferverosamente ao Senhor por aquela alma e ofereci a Deus a minha alegria,
para que a dê a ela e a mim me tire toda a sensação de gozo. E o Senhor
ouviu a minha prece; para mim ficou o alívio de que ela foi consolada.
865. Adoração. O primeiro domingo. Durante a adoração fui tão impelida a
agir que rompi a chorar e disse ao Senhor: Jesus, não me apresses,
mas inspira aqueles que sabes que atrasam esta Obra. E ouvi estas palavras:
Minha filha, fica tranquila, agora será já por pouco tempo.
866. Durante as vésperas ouvi estas palavras: Minha filha, desejo
descansar no teu coração, já que muitas almas Me expulsaram hoje do
seu coração e senti uma tristeza mortal. Tratei de consolar o Senhor
oferecendo-Lhe mil vezes o meu amor; senti na alma repugnância pelo
pecado.
867. O meu coração está embebido numa contínua amargura, porque anseio
ir para Ti, Senhor, à plenitude da Vida.
Oh Jesus, que horrível deserto me parece esta vida, nesta Terra não há
alimento para o meu coração e para a minha alma; sofro pela nostalgia de
Ti, oh Senhor. Deixaste-me, oh Senhor, a Santa Hóstia, mas ela incendeia
ainda mais o anseio da minha alma por Ti, Deus eterno e meu Criador. Oh
Jesus, desejo unir-me a Ti, escuta os suspiros da Tua esposa. Oh, quanto
sofro por não poder unir-me ainda a Ti, mas que se faça segundo os Teus
desejos.
868. 5 I 1937. Esta noite vi um sacerdote que estava necessitado de oração
por certa causa. Rezei com fervor porque esta causa é também muito
querida ao meu coração. Agradeço-Te, Jesus, pela Tua bondade.
869. ¡Oh Jesus de Misericórdia! Abraça o mundo inteiro e estreita-me ao
Teu Coração… Permite à minha alma, oh Senhor, descansar no mar da Tua
Misericórdia insondável.
870. 6 I 1937. Hoje, durante a Santa Missa submergi-me inconscientemente
na Majestade infinita de Deus. Toda a imensidade do amor de Deus
inundava a minha alma; naquele momento especial soube quanto Deus se
humilhou por mim, este Senhor dos senhores. ¿E que sou eu, miserável, que
Te unes assim comigo? O assombro que me invadiu depois daquela graça
especial, manteve-se de forma muito viva durante todo o dia. Aproveitando
a confiança a que o senhor me admite, pedi-Lhe pelo mundo inteiro. Em
tais momentos parece-me que o mundo inteiro depende de mim.
871. Oh meu Mestre, faz que o meu coração não espere a ajuda de ninguém,
mas que trate sempre de levar aos outros a ajuda, o consolo e todo o alívio.
Tenho o coração sempre aberto aos sofrimentos dos outros e não fecharei o
meu coração aos seus sofrimentos, apesar de que por isso, com malícia fui
chamada “caixote do lixo”, isto é, que cada um atira a sua dor para o meu
coração; respondi que todos têm lugar no meu coração, e em compensação
eu tenho lugar no Coração de Jesus. Os gracejos referentes às leis da
caridade não estreitam o meu coração. A minha alma é sempre sensível a
este aspecto e só Jesus é o meu estimulo para amar o próximo.
872. 7 I. Durante a Hora Santa o Senhor concedeu-me experimentar a sua
Paixão. Compartilhei a amargura da Paixão da que estava repleta a Sua
alma. Jesus deu-me a conhecer como a alma deve ser fiel à oração, apesar
das tribulações, a aridez e as tentações, porque de tal prece em grande
medida depende às vezes a realização dos grandes projectos de Deus; e se
não perseverarmos em tal prece, pomos barreiras ao que Deus quer fazer
através de nós ou em nós. Que cada alma recorde estas palavras: “E,
estando em angústia, rezou mais longamente”. Eu prolongo sempre tal
oração por quanto me é possível e compatível com as minhas obrigações.
873. 8 I. Na manhã de sexta-feira quando ia à capela para a Santa Missa, de
repente vi na vereda uma grande mata de zimbro e nela um gato horrível
olhando-me com maldade me impedia de passar para a capela. Uma só
invocação do nome de Jesus e tudo desapareceu. Ofereci um dia inteiro
pelos pecadores agonizantes. Durante a Santa Missa senti de maneira
especial a proximidade do Senhor.
Depois da Santa Comunhão olhei com confiança o Senhor e disse-lhe:
Jesus, desejo muito dizer-Te uma coisa, e o Senhor olhou-me com amor e
disse: ¿E o que é que queres dizer-me? Jesus, peço-Te pelo inconcebível
poder da Tua Misericórdia que todas as almas que morram hoje evitem o
fogo infernal, embora fossem os maiores pecadores; hoje é sexta-feira, o
memorial da Tua amarga agonia na cruz; como a Tua Misericórdia é
inconcebível, os Anjos não se surpreenderão. E Jesus estreitou-me ao Seu
Coração e disse: Amada filha, conheces bem o abismo da Minha
Misericórdia. Farei como pedes, mas não deixes de unir-te
continuamente ao Meu coração agonizante e satisfaz a Minha justiça.
Deves saber que Me pediste uma grande coisa, mas vejo que foi ditada
pelo puro amor a Mim, por isso satisfaço o teu pedido.
874. Oh Maria, Virgem Imaculada, toma-me sob a Tua protecção mais
especial e guarda a pureza da minha alma, do meu coração e do meu corpo.
Tu és o modelo e a estrela da minha vida.
875. Hoje experimentei um grande tormento no momento da visita das
nossas irmãs. Inteirei-me de certa coisa que feriu muito o meu coração, no
entanto dominei-me de maneira que as irmãs não se aperceberam de nada.
Essa dor rasgou-me o coração durante algum tempo, mas que seja tudo
pelos pobres pecadores… Oh Jesus, pelos pobres pecadores… Oh Jesus,
minha força, fica próximo de mim, ajuda-me….
876. 10 I 1937. Hoje de manhã pedi ao Senhor que me dê força, para que
possa aproximar-me da Santa Comunhão. Oh meu Mestre, peço-Te com
todo o meu coração sedento, se estiver conforme à Tua santa vontade dá-me
todos os sofrimentos e debilidades que queiras, desejo sofrer dia e noite,
mas peço-Te fervorosamente, dá-me a força no momento em que devo
aproximar-me da Santa Comunhão. Vês, oh Jesus, que não trazem a Santa
Comunhão aos doentes, portanto se não me deres força nesse momento para
que possa descer à capela, ¿como Te receberei no mistério de Amor? E Tu
sabes quanto o meu coração Te deseja.
Oh meu doce Esposo, ¿para quê
tantas explicações? Tu sabes com que ardor Te desejo e se quiseres, podes
fazê-lo. Na manhã seguinte senti como se estivesse de perfeita saúde, já não
tinha nem desmaios nem faltas de forças. No entanto, ao regresar da capela,
todos os sofrimentos e achaques voltaram imediatamente, como se me
esperassem, mas não os receava em absoluto, porque me alimentei do Pão
dos fortes. Vejo tudo com firmeza, até os olhos da própria morte.
877. Oh Jesus, escondido na Hóstia, meu doce Mestre e fiel Amigo, oh que
feliz é a minha alma por ter um amigo que sempre me faz companhia; não
me sinto só, apesar de estar em isolamento. Oh Jesus Hóstia, como nós nos
conhecemos; isto me basta.
878. 12 I 1937. Hoje, quando veio o médico, não lhe agradou muito o meu
aspecto. De facto, sofria mais e a temperatura tinha subido
consideravelmente. Naturalmente decidiu que eu não iria comungar até que
a temperatura descesse completamente. Respondi que sim, embora a dor
estreitasse o meu coração, mas respondi que iria só quando estivesse sem
febre. Consentiu.
Quando o médico se foi embora, disse ao Senhor: Oh
Jesus, agora depende de Ti se vou ou não; e não pensei mais nisso, embora
de vez em quando pensava: ¿Não vou ter Jesus? Não, é impossível, e não só
uma vez, mas um par de dias até que a temperatura desça. Mas à noite,
disse ao Senhor: Jesus, se Te agradam as minhas Santas Comunhões, peçoTe humildemente, faz que amanhã não tenha nem uma décima de febre. De
manhã medi a temperatura e pensei: Se houver uma só décima, não me
levantarei, já que isso seria faltar à obediência. Quando tirei o termómetro,
não tinha uma só décima de febre. Levantei-me imediatamente e fui receber
a Santa Comunhão. Quando veio o médico e lhe disse-lhe que não tinha
nem uma décima de febre e que fui receber a Santa Comunhão ficou
admirado, e pedi-lhe que não me dificultasse ir à Santa Comunhão, porque
isso influiria negativamente no tratamento.
O médico respondeu que, para
ficar de consciência tranquila e ao mesmo tempo não me contrariar,
«acordemos, irmã, no seguinte: se fizer bom tempo, não chover, e se a irmã
se sentir bem, então vá, mas isso fica à consideração da sua consciência».
Alegrei-me de que tivesse um médico tão compreensivo. Vês, Jesus, já fiz o
que me dizia respeito, agora conto Contigo e fico completamente tranquila.
879. Hoje vi que o Padre Andrasz celebrava a Santa Missa; antes da
elevação vi o pequeno Jesus que estava muito contente, com as mãozinhas
estendidas e um momento depois não vi nada mais. Estava sozinha no meu
quarto e continuava a fazer o acção de graças. No entanto, depois pensei:
¿Por que é que o Menino Jesus estava tão alegre? Porque nem sempre tinha
estado assim tão alegre nas minhas visões. De pronto ouvi dentro de mim
estas palavras: Porque estou bem no seu coração. E isso não me
surpreendeu nada, porque sei que ele ama muito Jesus.
880. A minha união com os agonizantes continua a ser muito estreita. Oh,
que inconcebível é a Divina Misericórdia, já que o Senhor me permite
ajudar os agonizantes com a minha indigna oração. Na medida em que
posso, procuro estar próximo de cada agonizante. Confiai em Deus, porque
é bom e inconcebível; a Sua Misericórdias está para além da nossa
comprensão.
881. 14 I 1937. Hoje Jesus entrou no meu pequeno quarto isolado, com uma
túnica clara, cingido de um cinto de ouro; uma grande Majestade
resplandecia de toda a sua figura e disse: Minha filha, ¿porque te deixas
levar por pensamentos de temor? Respondi: Oh Senhor, Tu sabes porquê.
E disse-me: ¿Porquê? Esta Obra assusta-me. Tu sabes que sou incapaz de
cumpri-la. E disse-me: ¿Por qué? Vês que não tenho saúde, não tenho
instrução, não tenho dinheiro, sou um abismo de miséria, tenho medo de
tratar com as pessoas. Jesus, eu desejo-Te somente a Ti, Tu podes libertarme disto. E o Senhor disse-me: Minha filha, o que Me disseste é verdade.
És por demais miserável, mas a Mim agrada-Me realizar a Obra da
Misericórdia precisamente através de ti, que és a própria miséria. Não
tenhas medo, não te deixarei só. Faz por esta Causa o que puderes e eu
completarei tudo o que te falta; tu sabes o que está em teu poder, então
realiza-o. O Senhor olhou a profundidade do meu ser com grande
benevolência; pensei que ia morrer de alegria sob este olhar. O Senhor
desapareceu, ficou na minha alma a alegria, a força e o ânimo para agir, mas
surpreendi-me de que o Senhor não quisesse libertar-me e não mudasse
nada do que já me tinha dito; e apesar de toda esta alegria, há sempre uma
sombra de sofrimento. Vejo que o amor e o sofrimento andam juntos.
882. Visões como esta não as tenho com frequência, mas muitas vezes trato
com o Senhor de maneira mais profunda. Os sentidos ficam adormecidos
mas, embora inadvertidamente, cada coisa é para mim mais real e mais
clara que como se a visse com os próprios olhos. O intelecto aprende mais
num momento que durante longos anos de profundas reflexões e
meditações, tanto no que se refere à essência de Deus, como às verdades
reveladas e também ao conhecimento da nossa própria miséria.
883. Nada me perturba nesta união com o Senhor, nem a conversa com o
próximo, nem nenhuma tarefa, embora tivesse que resolver não sei que
importante assunto, isso não me perturba nada; o meu espírito está com
Deus, o meu íntimo está cheio de Deus, por isso não o procuro fora de mim.
Ele, o Senhor, penetra a minha alma como um raio de luz o cristal puro.
Nem com a minha mãe natural, quando estava encerrada no seu seio, estava
tão unida a ela como estou ao meu Deus; naquela união havia
inconsciência, enquanto aqui está a plenitude da realidade e a consciência
da união. As minhas visões são puramente interiores e quanto melhor as
compreendo mais difícil é traduzi-las com palavras.
884. ¡Oh, que belo é o mundo do espírito! ¡E que real é! Em comparação
com ele, esta vida exterior é uma vã ilusão, uma impotência.
885. Oh Jesus, dá-me fortaleza e sabedoria para atravessar esta pavorosa
selva, para que o meu coração saiba suportar pacientemente o desejo
ardente de Ti, oh Senhor meu. Permaneço sempre em sagrado assombro
quando sinto que Te estás a aproximar de mim. Tu, o soberano do trono
terrível, baixas ao miserável desterro e vens até uma pobre mendiga que não
tem nada mais que a sua miséria; não sei hospedar-Te, oh meu Príncipe,
mas Tu sabes que Te quero com cada batimento do meu coração. Vejo a Tua
humilhação, no entanto a Tua Majestade não diminui a meus olhos. Sei que
me amas com o amor do Esposo e isso me basta, apesar de que nos separa
um grande abismo, porque Tu és o Criador e eu Tua criatura. Mas o amor é
a única explicação de nossa união, fora dele tudo é inconcebível; só com o
amor se compreende a inconcebível familiaridade com que me tratas. Oh
Jesus, a Tua grandeza espanta-me e ficaria num contínuo assombro e temor
se não me tranquilizasses Tu Mesmo; Tu tornas-me capaz de tratar Contigo
sempre antes de Te aproximares.
886. 15 I 1937. A tristeza não virá a um coração que ama a vontade de
Deus. O meu coração, cheio de nostalgia por Deus, experimenta toda a
miséria do desterro. Avanço com esperança para a minha pátria, embora se
firam os pés e neste caminho alimento-me da vontade de Deus, ela é o meu
sustento.
Ajudai-me, oh felizes habitantes da pátria celestial, para que a vossa irmã
não pare no caminho. Mesmo que haja um terrível deserto, caminho de
cabeça erguida e olho para o sol, isto é para o Misericordioso Coração de
Jesus.
887. 19 I 1937. No momento presente a minha vida passa num silencioso
conhecimento [da presença] de Deus. N’Ele habita a minha alma silenciosa,
e esta consciente vida de Deus na minha alma é para mim uma fonte de
felicidade e de fortaleza. Não procuro a felicidade fora do íntimo da minha
alma, onde mora Deus, estou consciente disso. Sinto como uma necessidade
de me dar aos outros, ter descoberto na alma a fonte de felicidade, isto é,
Deus. Oh meu Deus, vejo que tudo o que rodeia está repleto de Deus,
sobretudo a minha alma adornada pela graça de Deus. Começo já a viver
daquilo de que vivirei na eternidade.
888. O silêncio é uma linguagem tão poderosa que alcança o trono do Deus
vivo. O silêncio é a sua linguagem, embora misteriosa, mas poderosa e
viva.
889. Oh Jesus, dás-me a conhecer e entender em que consiste a grandeza da
alma: não em grandes acções, mas num grande amor. É o amor que tem a
coragem e confere grandeza às nossas acções; mesmo que as nossas acções
sejam banais e vulgares por si mesmas, em consequência do amor tornamse importantes e poderosas diante de Deus.
890. O amor é um mistério que transforma tudo o que toca em coisas belas
e agradáveis a Deus. O amor de Deus faz a alma livre; é como uma rainha
que não conhece o constrangimento do escravo e emprende tudo com
grande liberdade da alma, já que o amor que vive nela é o estímulo para
agir. Tudo o que a rodeia, lhe dá a conhecer que somente Deus é digno do
seu amor. A alma enamorada de Deus e n’Ele submergida, vai para as suas
obrigações com a mesma disposição com que vai à Santa Comunhão e
cumpre também as acções mais simples com grande esmero, sob o olhar
amoroso de Deus; não fica perturbada se, com o tempo, alguma coisa sair
menos bem conseguida; ela está tranquila porque no momento de agir fez o
melhor que estava em seu poder.
Quando sucede que a abandona a viva
presença de Deus, de que goza quase continuamente, então procura viver da
fé; a sua alma compreende que há momentos de descanso e momentos de
luta. Por sua vontade está sempre com Deus. A sua alma é como um oficial
experimentado no combate, de longe vê onde se esconde o inimigo e está
preparada para o combate, ela sabe que não está só; Deus é a sua fortaleza.
891. 21 I [1937]. Hoje, desde a primeira hora estou admirávelmente unida
ao Senhor. À noite veio visitar-me o sacerdote do hospital; depois de um
momento de conversa, senti que a minha alma estava a submergir-se mais
em Deus e comecei a perder o sentido do que se passava à minha volta.
Pedi fervorosamente a Jesus: dá-me a possibilidade de conversar, e o
Senhor permitiu que pudesse conversar livremente com Ele, mas houve um
momento em que não entendia o que dizia; ouvia a sua voz, mas não estava
em mim poder compreender e pedi desculpa por não compreender o que
dizia apesar de o ouvir.
Este é o momento da graça de união com Deus, mas
imperfeita, porque exteriormente os sentidos funcionam de modo também
imperfeito; não há uma imersão plena em Deus, isto é, a suspensão dos
sentidos, como sucede frequentemente quando não se ouve nem se vê nada,
a alma inteira está submergida livremente em Deus. Quando esta graça me
visita desejo estar só, peço a Jesus que me proteja do olhar das criaturas. Na
verdade, tive muita vergonha diante desse sacerdote, mas tranquilizei-me
porque, durante a confissão, ele já conhecia um pouco a minha alma.
892. Hoje, o Senhor deu-me a conhecer em espírito o convento da Divina
Misericórdia; vi nele um profundo espírito, mas tudo pobre e muito
modesto. Oh meu Jesus, fazes-me tratar espiritualmente com aquelas almas
e talvez nunca chegue a pôr ali os pés, mas seja bendito o Teu nome e façase o que Tu estabeleceste.
893. 22 I [1937]. Hoje é sexta-feira. A minha alma está num mar de
sofrimentos. Os pecadores tiraram-me tudo; mas está bem assim, dei tudo
por eles para que conheçam que Tu és bom e infinitamente misericordioso.
Eu, em qualquer circunstância, ser-Te-ei fiel sob o arco-íris e sob a
tempestade.
894. Hoje o médico decidiu que não devo ir à Santa Missa, mas só à Santa
Comunhão.
Desejava fervorosamente assistir à Santa Missa mas o confessor, de acordo
com o médico, disse-me para ser obediente. «É a vontade de Deus que a
irmã melhore e não é permitido mortificar-se em nada; seja obediente e
Deus a recompensará». Sentia que aquelas palavras do confessor eram
palavras do Senhor Jesus e embora me custasse deixar a Santa Missa, já que
Deus me concedia a graça de ver o Menino Jesus, no entanto ponho a
obediência acima de tudo.
Absorvi-me na oração e rezei a penitência; de súbito vi o Senhor que me
disse: Minha filha, fica a saber que com um acto de obediência Me dás
maior glória que com longas preces e mortificações. Oh, que bom é viver
na obediência, viver na consciência de que tudo o que faço é agradável a
Deus.
895. 23 I [1937]. Hoje não tive vontade de escrever; de repente ouvi na
alma uma voz: Minha filha, não vives para ti, mas para as almas.
Escreve para o bem delas. Conheces a Minha vontade quanto a
escrever, confirmada muitas vezes pelos confessores. Tu sabes o que
mais Me agrada e se tens alguma dúvida sobre as Minhas palavras,
sabes a quem deves perguntar. Concedo-lhe luz para que julgue a
Minha causa. O Meu olhar protege-o. Minha filha, diante dele tens que
ser como uma criança, cheia de simplicidade e sinceridade; antepondo
a sua opinião a todas as Minhas exigências, ele te guiará segundo a
Minha vontade; se não te permite cumprir os Meus desejos, fica
tranquila, não te responsabilizarei por isso; esse assunto ficará entre
Mim e ele. Tu, deves obedecer.
896. 25 I [1937]. Hoje a minha alma está submergida em amargura. Oh
Jesus, oh meu Jesus, hoje todos conseguem acrescentar mais amargor ao
meu cálice de amargura, não importa se é amigo ou inimigo, pois qualquer
um pode fazer-me sofrer; e Tu, oh Jesus, tens de me dar fortaleza e força
nestes difíceis momentos. Oh Hóstia Santa, sustenta-me e fecha os meus
lábios à murmuração e às queixas. Quando guardo silêncio, sei que
vencerei.
897. 27 I [1937]. Noto uma grande melhoria da minha saúde. Jesus arrancame das portas da morte para a vida; de facto, pouco faltou para morrer, mas
de novo o Senhor me concede a plenitude da vida, embora deva ficar ainda
no sanatório, mas estou quase completamente curada. Vejo que não se
cumpriu ainda em mim a vontade de Deus, portanto tenho que viver, porque
sei que quando se realize tudo o que Deus estabeleceu a meu respeito na
Terra, não me deixará mais tempo no desterro, porque a minha casa é o
Céu. Mas antes de ir para a pátria, temos que cumprir a vontade de Deus na
Terra, isto é, suportar até ao fim as nossas provações e as nossas batalhas.
898. Oh meu Jesus, devolves-me a saúde e a vida, dá-me fortaleza para a
luta, porque sem Ti não sou capaz de fazer nada, dá-me fortaleza, porque Tu
podes tudo, vês que sou uma criança débil e ¿Que posso [fazer]?
Conheço toda a omnipotência da Tua Misericórdia e confio em que me
darás tudo o que necessite a Tua débil filha.
899. ¡Quanto desejei a morte! Não sei se alguma outra vez na vida desejarei
tanto a Deus. Houve momentos em que desmaiava por Ele. Oh, que feia é a
Terra quando se conhece o Céu. Devo violentar-me para viver. Oh vontade
de Deus, tu és o meu sustento.
900. ¡Oh vida cinzenta e cheia de incompreensões! Exercito a minha
paciência e, portanto, adquiro experiência, conheço muitas coisas e aprendo
todos os dias e vejo que sei pouco e continuamente descubro faltas no meu
comportamento; mas não desanimo e agradeço a Deus que se digna
conceder-me a Sua luz para que me conheça a mim mesma.
901. Há uma pessoa que me exercita na paciência, tenho que dedicar-lhe
muito tempo. Quando falo com ela, sinto que está constantemente a mentir,
mas como me fala de coisas atrasadas que não posso verificar, as suas
mentiras lá vão passando; no entanto, interiormente estou convencida de
que não é verdade o que me diz. Uma vez, quando tive dúvidas de que eu
poderia estar enganada, enquanto ela falava talvez dissesse a verdade, pedi
ao Senhor Jesus que me desse o seguinte sinal: se ela, de facto, mentia, que
fosse ela própria a declará-lo numa das coisas que eu estava interiormente
convencida que mentia; e se ela dizia a verdade, que o Senhor Jesus me
tirasse a convicção de que mentia. Pouco depois veio de novo ter comigo e
disse-me: irmã, peço-lhe muita desculpa, mas menti em tal e tal coisa. E
compreendi que a luz interior que possuía a respeito daquela pessoa, não me
tinha enganado.
902. 29 I 1937. Hoje não acordei a tempo, tenho apenas um breve
momento para não chegar tarde à Santa Comunhão, porque a capela dista
um bom trecho de nosso pavilhão. Quando saí a neve chegava aos
joelhos, mas antes de pensar que o médico não me tinha permitido ir com
tanta neve, já estava com o Senhor, na capela; recebi a Santa Comunhão e
imediatamente regressei. Ouvi na alma estas palavras: Minha filha,
descansa junto ao Meu Coração, conheço os teus esforços. A minha alma
fica ainda mais alegre quando estou junto ao Coração do meu Deus
30 I 1937. Retiro espiritual de um dia.
903. Vou conhecendo cada vez mais a grandeza de Deus e alegro-me por
Ele; trato com Ele continuamente no íntimo do meu coração; é na minha
própria alma onde encontro Deus com a maior facilidade.
904. Durante a meditação ouvi estas palavras: Minha filha, dás-Me a
maior glória através da paciente submissão à Minha vontade, e
asseguras méritos tão grandes que não alcançarias nem com jejuns
nem com nenhumas mortificações. Deves saber, Minha filha, que se
submetes a tua vontade à Minha, atrais sobre ti a Minha grande
complacência; este sacrifício é-Me agradável e cheio de doçura, nele
tenho complacência, ele é poderoso.
905. Exame de consciência: continuar o mesmo, unir-me com Cristo
Misericordioso. Prática: o recolhimento interior, isto é, rigorosa observância
do silêncio.
906. Nos momentos difíceis, contemplarei o lacerado e silencioso
Coração de Jesus na cruz e das chamas que brotam do seu Coração
Misericordioso fluirão sobre mim a fortaleza e a força para lutar.
907. Coisa estranha que, no inverno, vem à minha janela um canário e
durante um momento canta que é uma maravilha. Quis averiguar se estava,
talvez, por aqui, nalguma gaiola; mas não, não estava em nenhuma parte,
nem no outro pavilhão; uma das doentes também o ouviu, mas uma só vez,
e ficou admirada por um canário cantar numa estação tão fria.
908. Oh Jesus, que pena me dão os pobres pecadores. Oh Jesus,
concede-lhes o arrependimento e a contrição. Recorda a Tua dolorosa
Paixão. Conheço a Tua Misericórdia infinita, não posso suportar que pereça
a alma que Te custou tanto. Oh Jesus, dá-me as almas dos pecadores. Que a
Tua Misericórdia descanse nelas, tira-me tudo, mas dá-me estas almas.
Desejo converter-me numa vítima de expiação pelos pecadores, que o corpo
oculte o meu sacrifício, já que Tu também ocultas o Teu Sacratíssimo
Coração na Hóstia, apesar de ser uma imolação viva.
Transforma-me em Ti, oh Jesus, para que seja uma vítima viva e
agradável a Ti; desejo satisfazer-Te em cada momento pelos pobres
pecadores, o sacrifício do meu espírito oculta-se sob o véu do corpo, o olhar
humano não o alcança, portanto é puro e agradável a Ti. Oh Criador meu e
Pai de grande Misericórdia, confio em Ti, porque és a Própria Bondade. Oh
almas, não tenhais medo de Deus, mas tende confiança n’Ele, porque é
Bom e a Sua Misericórdia dura pelos séculos.
909. Conhecemos-nos mutuamente, oh Senhor, na morada do meu
coração. Sim, agora eu Te recebo como hóspede na casinha do meu
coração, mas aproxima-se o tempo em que me chamarás à Tua morada que
me preparaste desde a criação do mundo. Oh, quem sou eu diante de Ti, oh
Senhor?
910. O Senhor conduz-me ao mundo desconhecido para mim, dá-me a
conhecer a Sua grande glória, mas eu tenho receio dela, e não me deixarei
influenciar por ela no que estiver no meu alcance até que me seja
assegurado, pelo director espiritual, que se trata de um dom.
911. Em certo momento, a Presença de Deus penetrou todo o meu ser e a
minha mente foi singularmente iluminada no conhecimento da Sua
Essência; [Deus] permitiu-me aproximar-me do conhecimento da Sua vida
íntima. Vi, em espírito, as Três Pessoas Divinas, cuja Essência é única. Ele
é Só, Uno, Único, mas em Três Pessoas: nenhuma d’Elas sendo maior ou
menor; não há diferença nem na beleza, nem na santidade, porque são o
Mesmo. São Um, absolutamente Um. O Seu Amor levou-me a esse
conhecimento e uniu-me com Ele.
Quando eu estava unida a Uma [Pessoa
Divina], estava igualmente unida à Segunda e à Terceira [Pessoas Divinas],
de tal modo que quando nos unimos a Uma, por esse facto nos unimos às
outras duas Pessoas, exactamente da mesma forma do que nos unimos com
Uma. A Sua vontade é apenas uma, um só Deus, embora Trino em Pessoas.
Quando Uma das Três Pessoas comunga com a alma, pelo poder dessa
única Vontade, ela fica unida às Três Pessoas e é inundada pela beatude que
brota da Santíssima Trindade, dessa perfeita felicidade de que se alimentam
os Santos. A bem-aventurança que jorra da Santíssima Trindade torna feliz
a criação inteira; faz brotar a vida que vivifica e anima toda espécie de vida
que n’Ele tem a sua origem. Nestes momentos, a minha alma experimenta
tão grandes delícias divinas que me é difícil exprimir.
912. Depois ouvi pronunciar umas palavras, e foram estas: Quero
tomar-te como esposa. No entanto, o temor trespassou a minha alma, mas
serenamente reflectia sobre que esponsais seriam esses; no entanto, cada
vez que a minha alma se enchia de temor, uma força superior vinha nela
restabelecer a paz.
Na realidade, tenho os votos perpétuos e fi-los com vontade sincera e
total. E penso continuamente ¿que pode significar isto?; sinto e intuo que se
trata de uma graça excepcional. Quando a contemplo, sinto-me a desfalecer
por Deus, mas nesse desfalecimento a mente fica clara e penetrada de luz.
Quando estou unida a Ele, desmaio por excesso de felicidade, mas a minha
mente está clara e pura, sem confusões. Humilhas a Tua Majestade para
tratar com uma pobre criatura. Agradeço-Te, oh Senhor, por esta grande
graça que me faz capaz de comungar Contigo. Oh Jesus, o Teu nome é uma
delícia para mim; de longe já pressinto o meu Amado e a minha alma cheia
de anseio descansa nos seus braços, não sei viver sem Ele; prefiro estar com
Ele nos tormentos e nos sofrimentos que sem Ele entre as maiores delícias
do Céu.
913. 2 II 1937. Hoje, desde muito cedo, o recolhimento de Deus penetra
a minha alma; durante a Santa Missa pensava ver o pequeno Jesus, como
frequentemente o vejo, no entanto, hoje durante a Santa Missa, vi Jesus
crucificado. Jesus estava cravado na cruz e em grandes tormentos. A minha
alma foi penetrada pelos sofrimentos de Jesus, na minha alma e no meu
corpo, embora de modo invisível, mas igualmente doloroso. Oh, que
mistérios tão assombrosos se verificam durante a Santa Missa.
914. Um grande mistério se consuma durante a Santa Missa. Com que
devoção deveríamos escutar e participar nesta morte de Jesus. Um dia
saberemos o que Deus faz por nós em cada Santa Missa e que dom prepara
nela para nós. Só o Seu amor divino pode permitir que nos seja oferecida tal
dádiva. Oh Jesus, oh meu Jesus, que dor tão grande penetra a minha alma,
vendo uma fonte de vida que brota com tanta doçura e força para cada alma.
E, no entanto, vejo almas murchas e áridas por sua própria culpa. Oh meu
Jesus, faz que a força da Tua Misericórdia envolva estas almas.
915. Oh Maria, hoje uma espada terrível trespassou a Tua santa
alma. Ninguém sabe do Teu sofrimento, excepto Deus. A Tua alma não se
deixa abater, mas é corajosa porque está com Jesus. Doce Maria, une a
minha alma a Jesus, porque só então poderei resistir a todas as provações e
tribulações e só mediante a união com Jesus os meus pequenos sacrifícios
agradarão a Deus. Dulcíssima Mãe, continua a ensinar-me sobre a vida
interior. Que a espada do sofrimento não me abata jamais. Oh Virgem pura,
derrama coragem no meu coração e protege-o.
916. O dia de hoje é para mim excepcional, apesar de ter sofrido tanto, a
minha alma está inundada de uma grande alegria. No quarto isolado
contíguo ao meu, havia uma judia gravemente enferma; há três dias fui
visitá-la, senti uma dor na minha alma ao pensar que morreria em pouco
tempo e que a graça do baptismo não lavaria a sua alma. Falei com a irmã
enfermeira para que lhe fosse administrado o santo baptismo ao aproximarse o último momento. Mas existia a dificuldade de que havia sempre judeus
a seu lado. No entanto, senti na alma a inspiração de pedir diante da
imagem que Jesus me tinha ordenado que fosse pintada. Tenho um folheto
em cuja capa figura a reprodução da imagem da Divina Misericórdia. E
disse ao Senhor: Jesus, Tu Mesmo me disseste que concederás muitas
graças através desta imagem, por isso peço-Te a graça do santo baptismo
para esta judia; não importa quem a baptize, desde que seja baptizada.
Depois destas palavras fiquei extraordinariamente tranquila e tinha a certeza
absoluta de que a água do santo baptismo verteria sobre a sua alma apesar
das dificuldades.
Durante a noite, quando ela estava muito fraca, levantei-me três vezes
para estar com ela e esperar o momento oportuno para lhe alcançar essa
graça. De manhã dava a impressão de sentir-se melhor. À tarde começou a
aproximar-se o último momento; a irmã que a assistia disse que seria difícil
administrar-lhe aquela graça porque estavam outras pessoas junto dela. E
chegou o momento quando a doente começou a perder o conhecimento,
pois alguns começaram a correr para procurar o médico e os outros noutras
direcções para salvar a doente e sucedeu que a doente ficou só e a irmã que
tratava dela baptizou-a.
E antes de que todos voltassem, a sua alma tinha-se
tornado bela, adornada da graça de Deus e expirou imediatamente. A agonia
durou pouco tempo, foi como se tivesse adormecido. De repente vi a sua
alma de uma beleza admirável entrando no Céu. Oh, que bela é a alma com
a graça santificante; a alegria dominou a minha alma por ter obtido diante
da imagem uma graça tão grande para aquela alma.
917. Oh, que grande é a Divina Misericórdia. Que a exalte toda a
criatura. Oh meu Jesus, esta alma Te cantará o hino da Misericórdia por
toda a eternidade. Não esquecerei a impressão que tive na alma naquele dia.
É já a segunda grande graça obtida aqui para as almas diante desta imagem.
Oh, que bom é o Senhor e cheio de compaixão. Oh Jesus, agradeço-Te
tanto por estas graças.
918. 5 II 1937. Oh meu Jesus, apesar de tudo, desejo fervorosamente
unir-me a Ti. Oh Jesus, se é possível, leva-me a Ti, porque me parece que o
meu coração estala por tanto Te desejar.
Oh, quanto sinto estar neste desterro. ¿Quando estarei na casa de nosso
Pai e me encherei da felicidade que jorra da Santíssima Trindade? Mas se é
a Tua vontade que continue vivendo e sofrendo, então desejo o que me
destinaste; tem-me nesta Terra até quando Te agrade, mesmo até ao fim do
mundo. Oh, vontade do meu Senhor, sê a minha alegria e o encanto da
minha alma. Embora a Terra esteja tão povoada, eu sinto-me só e a Terra é
para mim um deserto espantoso, Oh Jesus, oh Jesus, Tu sabes e conheces o
ardor do meu coração, só Tu, oh Senhor, podes saciar-me.
919. Hoje, quando chamei a atenção a uma rapariga para que não
passasse horas inteiras no corredor com os homens, porque isso não
convinha a uma jovem decente, pediu-me perdão e prometeu corrigir-se;
pôs-se a chorar ao dar-se conta do seu pouco juízo. Enquanto lhe dizia essas
poucas palavras sobre a moral, os homens de toda a sala reuniram-se e
ouviram os meus conselhos. Os judeus também escutaram algumas coisas
que disse acerca deles. Uma pessoa disse-me depois que aproximaram os
ouvidos da parede e escutaram atentamente. Eu sentia estranhamente que
eles estavam a ouvir, mas disse o que tinha a dizer. Aqui as paredes são tão
delgadas que, mesmo que se fale em voz baixa, ouve-se tudo.
920. Está aqui uma pessoa que antes foi nossa aluna. Naturalmente põe à
prova a minha paciência, visita-me várias vezes ao dia; depois de cada
visita fico cansada, mas vejo que é o Senhor Jesus que me mandou esta
alma. Que em tudo sejas louvado, oh Senhor. A paciência dá glória a Deus.
Oh, que pobres são as almas.
921. 6 II [1937]. Hoje o Senhor disse-me: Minha filha, dizem-Me que
tens muita simplicidade, então ¿por que não Me falas de tudo o que te
respeita, ainda dos mais pequenos pormenores?
Fala-me de tudo. Deves saber que com isso Me causará grande
alegria. Respondi: Mas, Senhor, Tu sabes tudo. E Jesus respondeu-me:
Sim, Eu sei, mas não te desculpes dizendo que Eu sei mas, com a
simplicidade de uma criança, fala-me de tudo, porque tenho o ouvido e
o coração inclinados para ti e as tuas palavras são-Me agradáveis.
922. Ao começar essa grande novena por três intenções, vi na Terra um
pequeno insecto e pensei: ¿como é que ele apareceu aqui, em pleno
inverno? De repente ouvi na alma estas palavras: Vês, Eu penso nele e
mantenho-o ¿e que é ele em comparação contigo? ¿Por que se
atemorizou a tua alma durante um momento?
Pedi perdão ao Senhor por aquele momento; Jesus quer que eu seja
sempre uma criança e ponha n’Ele todos os cuidados e me submeta
cegamente à sua santa vontade; Ele toma conta de tudo.
923. 7 II [1937]. Hoje o Senhor disse-me: Exijo de ti um sacrifício
perfeito e, em holocausto, o sacrifício da vontade; nenhum outro
sacrifício é comparável a este. Eu Mesmo dirijo a tua vida e disponho
tudo de maneira que sejas para Mim uma oferenda contínua e faças
sempre a Minha vontade; para completar esta oferenda unir-te-ás a
Mim na cruz. Conheço as tuas capacidades. Eu Mesmo te ordenarei
directamente muitas coisas, atrasarei a possibilidade da execução e fá-
la-ei depender dos outros; aquilo que as Superioras não conseguirem
fazer, Eu Mesmo completarei directamente na tua alma. No recôndito
mais íntimo da tua alma haverá um sacrifício perfeito de holocausto, e
isto não por algum tempo, mas deves saber, Minha filha, que este
sacrifício durará até à morte. Mas virá o tempo em que Eu, o Senhor,
satisfarei todos os teus desejos. Sinto por ti uma especial predilecção,
como por uma Hóstia viva; não receies nada, Eu estou contigo.
924. Hoje recebi um recado confidencial da Superiora proibindome de ficar junto dos moribundos; assim, enviarei aos moribundos a
obediência, em meu lugar, e ela fortalecerá as almas agonizantes. Esta é a
vontade de Deus, isto me basta; aquilo que não entendo agora,
compreenderei depois.
925. 7 II 1937. Hoje, com mais fervor do que em qualquer outro
momento, rezei por intenção do Santo Padre e de três sacerdotes, para
que Deus os inspire no que exige de mim, porque disso depende a
realização desta Obra. Oh, quanto me alegrou saber que o Santo Padre está
melhor de saúde. Hoje ouvi o que disse no Congresso Eucarístico, [284] e,
em espírito, transportei-me para lá para receber a bênção apostólica.
926. 9 II 1937. Últimos dias de carnaval. Nestes dois últimos dias de
carnaval soube de uma enorme quantidade de castigos e de pecados. Num
instante o Senhor me fez saber os pecados cometidos estes dias no mundo
inteiro. Desfaleci de terror, e apesar de conhecer todo o abismo da Divina
Misericórdia, fiquei surpreendida por Deus permitir à Humanidade existir.
E o Senhor disse-me que quem sustenta a existência da humanidade são as
almas escolhidas. Quando se completar o número dos eleitos, o mundo
deixará de existir.
927. Durante estes dois dias recebi a Santa Comunhão como um acto de
reparação e disse ao Senhor Jesus: Oh Jesus, hoje ofereço tudo pelos
pecadores. Que os golpes da Tua justiça se abatam sobre mim, e o mar da
Misericórdia alcance os pobres pecadores. E o Senhor ouviu a minha prece.
Muitas almas voltaram ao Senhor enquanto eu agonizava sob o peso da
justiça de Deus. Sentia ser o alvo da ira do Altíssimo. À noite o meu
sofrimento alcançou um estado de abandono interior tão grande que os
gemidos saíam, sem querer, do meu peito. Fechei à chave a porta do meu
quarto e comecei a adoração, isto é a Hora Santa. A desolação interior e a
experiência da Justiça de Deus eram a minha oração; e os gemidos e a dor
tomaram na minha alma o lugar do doce colóquio com o Senhor.
928. De repente vi o Senhor que me estreitou ao seu Coração e me disse:
Minha filha, não chores, porque não posso suportar as tuas lágrimas;
concederei tudo o que pedes, mas deixa de chorar. Inundou-me uma
grande alegria e o meu espírito, como sempre, submergiu-se n’Ele como no
seu único tesouro. Hoje falei mais com Jesus, animada pela Sua bondade.
929. Quando descansei junto ao Seu Dulcíssimo Coração, disse-Lhe:
Jesus, tenho tantas coisas para Te dizer. E o Senhor disse-me com grande
doçura: Fala, Minha filha. E comecei a exprimir os sofrimentos do meu
coração, a saber: que me preocupo muito com toda a humanidade, que nem
todos Te conhecem e os que Te conhecem não Te amam como mereces ser
amado. Além disso, vejo que os pecadores Te ofendem terrivelmente e vejo
também a grande opressão e perseguição sobre os fiéis, especialmente dos
teus servos; e. mais ainda, vejo muitas almas que se precipitam cegamente
no terrível abismo infernal.
Vês, oh Jesus, este é o dor que penetra o meu
coração e os meus ossos, e embora me faças o dom do Teu especial amor, e
inundes o meu coração com as torrentes da Tua alegria, isso não atenua os
sofrimentos que acabo de mencionar-Te, e que acutilam o meu pobre
coração de modo mais vivo. Oh, que ardente é o meu desejo de que toda a
humanidade se volte com confiança para a Tua Misericórdia; então, terá
alívio o meu coração vendo a glória do Teu nome. Jesus ouviu, com atenção
e interesse, este desabafo do meu coração como se não soubesse de nada,
como que escondendo diante de mim o conhecimento daquelas coisas;
assim eu sentia-me mais à vontade para falar. E o Senhor disse-me: Minha
filha, são-Me agradáveis as palavras do teu coração, e ao recitares esta
coroinha aproximas de Mim a humanidade. Depois destas palavras
fiquei só, mas a presença de Deus está sempre na minha alma.
930. Oh meu Jesus, quando for para a Tua casa e me enchas de Ti
mesmo, isso será para mim a plenitude da felicidade, mas não esquecerei a
humanidade; desejo levantar as cortinas do Céu para que a Terra não duvide
da Divina Misericórdia. O meu descanso está em proclamar a Tua
Misericórdia. A alma dá maior glória ao seu Criador quando se dirige com
confiança à Divina Misericórdia.
931. 10 II [1937]. Hoje é Quarta-feira de Cinzas.
Durante a Santa Missa, por um breve momento experimentei a Paixão de
Jesus no meu corpo. A Quaresma é o período especial para o trabalho dos
sacerdotes, é necessário ajudá-los na salvação das almas.
932. Há alguns dias escrevi ao meu director espiritual pedindo
licença para certas pequenas práticas no tempo da Quaresma. Como não
tinha licença do médico para ir à cidade, tive que fazê-lo por carta. No
entanto, hoje é Quarta-feira de Cinzas e não tenho ainda resposta. De
manhã, depois da Santa Comunhão, comecei a pedir a Jesus que o inspire
com a sua luz para que me responda e soube, na alma, que o Padre não se
opunha às práticas que lhe pedi e que me concede a sua licença; com
tranquilidade comecei a exercitar-me nessas práticas que pedi. Nesse
mesmo dia, de tarde, recebi a carta do Padre, dizendo que me dá licença
para as práticas solicitadas. Fiquei muito contente por o meu conhecimento
interior estar em consonância com a opinião do director espiritual.
933. Depois ouvi na alma estas palavras: Obterás maior recompensa
pela obediência e dependência do confessor que pelas próprias práticas
em que te exercitares. Minha filha, deves comportar-te segundo isto:
embora se trate da coisa mais pequena, com o selo da obediência ao
Meu representante será uma coisa agradável e grande a Meus olhos.
934. Pequenas práticas para a Quaresma. Não posso exercitar-me em
grandes mortificações, como antes, apesar do meu ardente anseio e desejo,
já que estou sob a estrita vigilância do médico, mas posso exercitar-me em
coisas mais pequenas: primeiro, dormir sem almofada, sentir um pouco de
fome, rezar todos os dias a coroinha, que o Senhor me ensinou, com os
braços em cruz; de vez em quando rezar com os braços em cruz durante um
tempo indeterminado e rezando uma prece espontânea. A intenção: para
impetrar a Divina Misericórdia pelos pobres pecadores e para os sacerdotes
o poder de suscitar o arrependimento dos corações pecadores.
935. A minha união com as almas agonizantes continua a ser, como
antes, estreita. Muitas vezes acompanho a alma agonizante a grande
distância, mas experimento a maior alegria ao ver que nessas almas se
realiza a promessa da Misericórdia. O Senhor é fiel, o que diz uma vez,
cumpre.
936. Certa alma que estava no nosso pavilhão, estava a morrer, sofria
tremendamente e esteve agonizando três dias, recobrando o conhecimento
de vez em quando. Todos na sala pediam por ela.
Eu também desejava ir, mas a Madre Superiora tinha-me proibido visitar
os agonizantes, por isso pedia por essa querida alma na meu quarto. Mas ao
saber que ainda sofria e que não se sabia quanto tempo ia durar ainda,
repentinamente algo agitou a minha alma e disse ao Senhor: Oh Jesus, se
tudo o que faço Te é agradável, peço-Te, como uma prova disso, que essa
alma não sofra mais, mas que passe imediatamente à felicidade eterna.
Poucos minutos depois soube que aquela alma tinha adormecido tão serena
e rapidamente que nem sequer houve tempo para acender a vela.
937. Direi uma palavra mais sobre o director da minha alma. Uma coisa
estranha é que sejam tão poucos os sacerdotes que sabem infundir fortaleza
na alma, e ânimo, e coragem, de modo que a alma, sem se cansar, avance
sempre. Com uma direcção como esta, a alma, embora tendo pouca força,
pode fazer muito para a glória de Deus. Conheci com isto um segredo, isto
é, que o confessor, o director espiritual não deve menosprezar as coisas
pequenas que a alma lhe expõe.
E a alma, ao dar-se conta de que está
vigiada nisso, começa a exercitar-se e não omite a mais pequena ocasião de
virtude e evita também as mais pequenas faltas; a partir daqui, como de
pequenas pedras, surge o magnífico templo da alma. E pelo contrário: se a
alma percebe que o confessor não dá importância a essas pequenas coisas,
também ela começa a depreciá-las, deixará de dar conta delas ao confessor,
e ainda pior, começará a descuidar-se das coisas pequenas, e assim, em vez
de avançar, retrocede pouco a pouco. E a alma só se apercebe disso ao cair
já nas coisas mais graves. E agora surge uma pergunta ¿de quem é a culpa?
¿Dela ou do confessor, isto é, do director espiritual? Aqui refiro-me mais
directamente ao director espiritual. Parece-mne que toda a culpa deve ser
imputada ao director espiritual imprudente; à alma há que atribuir-lhe
somente o erro de ter escolhido mal o director espiritual. O director
espiritual bem podia guiar bem a alma nos caminhos da vontade de Deus
para a santidade.
938. A alma deve rogar fervorosamente pelo director espiritual durante
mais tempo, e pedir a Deus que se digne escolhê-lo Ele Próprio. O que se
começa com Deus, será de Deus, e o que se começa com meios puramente
humanos, será humano. Deus é tão misericordioso que, para ajudar a alma,
Ele Mesmo lhe escolhe um guia espiritual, e a ilumina de que é aquele
diante do qual ela deve revelar os rincões mais íntimos da sua alma, como
diante do Senhor Jesus. E quando a alma pondera e reconhece que tudo foi
dirigido por Deus, peça fervorosamente a Deus que lhe conceda muita luz
para conhecer a sua alma; e que não mude de director, a menos que, para
isso, haja uma razão séria.
Assim como, antes de escolher o director espiritual, pedia muito e
fervorosamente para conhecer a vontade de Deus, assim também quando
queira escolher um outro, peça muito e com fervor para saber se é
verdadeiramente a vontade de Deus de que o deixe em troca de outro. Se
não há uma evidente vontade de Deus a este respeito, não mude, porque a
alma por si só não chegará muito longe e Satanás quer precisamente que a
alma que procura a santidade se guie sozinha, já que então, nem falar de
que a alcançará.
939. Constitui uma excepção a alma que o próprio Deus guia
directamente, mas em tal caso o director espiritual imediatamente se dá
conta de que tal alma é dirigida pelo próprio Deus. Deus dá-o a conhecer de
modo claro e evidente; e tal alma, mais que outra, deveria estar sob uma
vigilância mais rigorosa do director espiritual. Em tal caso o director
espiritual não tem tanto o dever de dirigir e indicar os caminhos pelos quais
a alma deve caminhar, mas, melhor, o de julgar e confirmar que a alma
segue o caminho certo e que está guiada por um bom espírito.
Em tal caso o
director não somente deve ser santo, mas também experiente e prudente, e a
alma deve antepôr a sua opinião à do próprio Deus, já que então estará a
salvo das ilusões e desvios. A alma que não submeta tais inspirações ao
rigoroso controlo da Igreja, isto é, do director espiritual, com isso mesmo
daria a conhecer que a guia um mau espírito. Nisto o director espiritual
deve ser muito prudente e experimentar a alma na obediência. Satanás pode
pôr-se o manto da humildade, mas não é capaz de vestir o manto da
obediência, e é aqui onde se revela toda a sua maldade. Mas o confessor
não pode ter medo exagerado de tal alma, porque se Deus lhe confia uma
alma tão excepcional, também lhe dá uma grande luz divina, já que, de
outro modo ¿Como poderia julgar bem os mistérios tão grandes que
acontecem entre a alma e Deus?
940. Eu mesma sofri muito e fui muito provada nisto. Portanto o que
escrevo é somente o que experimentei pessoalmente. Fiz muitas novenas e
muitas preces e muitas penitências antes de que Deus me enviasse um
sacerdote que compreendesse a minha alma. Haveria muitas mais almas
santas se houvesse mais directores espirituais com experiência e santidade.
Mais de uma alma que procura sinceramente a santidade não consegue
singrar por si própria quando chegam os momentos de prova, e abandona o
caminho da perfeição. Oh Jesus, dá-nos sacerdotes zelosos e santos.
941. ¡Oh, como é grande a dignidade do sacerdote! Mas, também, como
é grande a sua responsabilidade!
Oh sacerdote, foi-te dado muito, mas de ti se exigirá também muito…
942. 11 II [1937]. Hoje é sexta-feira. Durante a Santa Missa senti dores
no corpo: nos pés, nas mãos e no lado. O Próprio Jesus permite estes
sofrimentos como reparação pelos pecadores. O momento é breve, mas o
sofrimento grande; não sofro mais que por um par de minutos, mas a
impressão fica muito tempo e é muito viva.
943. Hoje sinto-me tão abandonada na alma que não sei explicá-lo.
Esconder-me-ia das pessoas e choraria sem parar; ninguém compreende o
coração ferido por amor, e quando este experimenta abandonos interiores,
ninguém o consolará. Oh almas dos pecadores, que me retirastes o Senhor.
Mas, está bem, está bem, pois acabareis por conhecer como é doce o
Senhor; e todo um mar de amargura inunde o meu coração, pois entregueilhes todas as consolações divinas.
944. Há momentos em que não tenho confiança em mim mesma, estou
profundamente convencida da minha fraqueza e miséria, e compreendo que
em tais momentos posso perseverar somente confiando na infinita
Misericórdia de Deus. A paciência, a oração e o silêncio reforçam a alma.
Há momentos em que a alma deve silenciar e não convém que fale com as
criaturas; aqueles são os momentos de insatisfação de si própria, e a alma
sente-se frágil como uma criança; então agarra-se com toda a força a Deus.
Em tais momentos vivo exclusivamente da fé e, quando me sinto fortalecida
pela graça de Deus, então estou mais valente na conversação e nas relações
com o próximo.
945. À noite o Senhor disse-me: Descansa, Minha filha, junto ao Meu
Coração; vejo que te fatigaste muitíssimo na Minha vinha, e a minha
alma foi inundada do gozo divino.
946. 12 II [1937]. Hoje a presença de Deus penetra-me totalmente como
um raio de sol. O anseio da minha alma por Deus é tão grande que em cada
momento me produz um desfalecimento. Sinto que o Amor eterno toca o
meu coração, a minha pequenez não consegue suportá-Lo, fazendo-me
desmaiar; no entanto a força interior é muito grande. A alma deseja igualar
o Amor que a ama. Em tais momentos a alma tem um conhecimento muito
profundo de Deus e quanto mais o conhece, tanto mais ardente, mais puro é
o seu amor a Ele. Oh, que inconcebíveis são os mistérios da alma com
Deus.
947. Às vezes há horas inteiras quando a minha alma está submergida
em assombro vendo a Majestade infinita que se humilha tanto para a minha
alma. É incessante o meu assombro interior de que o Senhor Altíssimo
tenha em mim a Sua complacência e Ele Mesmo mo diga; e eu afundo-me
ainda mais no meu nada porque sei o que sou por mim mesma. No entanto,
devo dizer que amo igualmente o meu Criador até à loucura, com cada
batimento do coração, com cada nervo; inconscientemente, a minha alma
mergulha, mergulha… n’Ele. Sinto que nada me separará do Senhor, nem o
Céu, nem a Terra, nem o presente, nem o futuro, tudo pode mudar, mas o
amor nunca, nunca, ele permanece sempre o mesmo. Ele, o Soberano
Imortal, dá-me a conhecer a Sua vontade para que o ame de modo singular
e Ele Mesmo infunde na minha alma a capacidade para tal amor com o qual
deseja que o ame. Submerjo-me n’Ele cada vez mais e não tenho medo de
nada.
O amor ocupou tudo o meu coração e embora me falem da justiça de
Deus e de como tremem diante d'Ele até os espíritos puros e se cobrem o
rosto e sem cessar dizem: Santo, e que disso resulta que as minhas relações
familiares com o Senhor são uma falta de respeito para a sua honra e a sua
Majestade. Oh, não, não e uma vez mais não! O amor puro compreende
tudo.
O maior louvor e a mais profunda adoração, mas é na mais profunda
tranquilidade que a alma está submergida n’Ele pelo amor e tudo o que
dizem exteriormente as criaturas não tem influência nela. O que lhe dizem
de Deus, é uma pálida sombra em comparação com o que ela vive
interiormente com Deus e às vezes surpreende-se de que as almas fiquem
admiradas com o que se possa dizer de Deus: porque para ela é o pão de
todos os dias, porque ela sabe que o que se conseguee exprimir com
palavras, não é suficiente; aceita e escuta tudo com respeito, mas ela lá tem
a sua vida especial em Deus.
948. 13 II [1937]. Hoje, durante a Paixão, vi Jesus martirizado,
coroado de espinhos e com um pedaço de cana na mão. Jesus calava-se,
enquanto os soldadotes rivalizavam em torturá-Lo. Jesus não dizia nada,
somente me olhou; naquele olhar senti a sua tortura tão tremenda que nós
não temos nem sequer uma ideia do que Jesus sofreu por nós antes da
crucifixão. A minha alma está cheia de dor e de nostalgia: senti na alma um
grande ódio ao pecado, e a mais pequena infidelidade minha parece-me
uma alta montanha e reparo-a com mortificação e penitências. Quando vejo
Jesus martirizado, o coração faz-se-me em pedaços; penso no que será dos
pecadores se não aproveitarem a Paixão de Jesus. Na Sua Paixão vejo todo
o mar da Misericórdia.
949. JMJ 12 II 1937
+ O Amor de Deus é a flor e a Misericórdia é o fruto.
Que a alma que duvida leia estas considerações sobre a Divina
Misericórdia e se faça confiada.
Misericórdia Divina, que brota do seio do Padre, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, supremo atributo de Deus, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, mistério incomprensível, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, fonte que brota do mistério da Santíssima Trindade, eu
confio em Vós.
Misericórdia Divina, insondável para todo o entendimento humano ou
angélico, eu confio em Vós.
Misericórdia Divina, de onde brotam toda a vida e felicidade, eu confio em
Vós.
Misericórdia Divina, mais sublime que os Céus.
Misericórdia divina, fonte de milagres e de maravilhas.
Misericórdia Divina, que abarca todo o universo.
Misericórdia Divina, que baixa ao mundo na Pessoa do Verbo Encarnado.
Misericórdia Divina, que emanou da ferida aberta no Coração de Jesus.
Misericórdia Divina, encerrada no Coração de Jesus para nós e
especialmente para os pecadores.
Misericórdia Divina, impenetrável na institução da Sagrada Hóstia.
Misericórdia Divina, na institução da Santa Igreja.
Misericórdia Divina, no sacramento do Santo Baptismo.
Misericórdia Divina, em nossa justificação por Jesus Cristo.
Misericórdia Divina, que nos acompanha durante toda a vida.
Misericórdia Divina, que nos abraça especialmente na hora da morte.
Misericórdia Divina, que nos outorga a vida imortal.
Misericórdia Divina, que nos acompanha em cada momento da nossa vida.
Misericórdia Divina, que nos protege do fogo infernal.
Misericórdia Divina, na conversão dos pecadores empedernidos.
Misericórdia Divina, assombro para os Anjos, incompreensível para os
Santos.
Misericórdia Divina, insondável em todos os mistérios de Deus.
Misericórdia Divina, que nos resgata de toda a miséria.
Misericórdia Divina, fonte da nossa felicidade e deleite.
Misericórdia Divina, que do nada nos chamou à existência.
Misericórdia Divina, que abarca todas as obras das Suas mãos.
Misericórdia Divina, coroa de todas as obras de Deus.
Misericórdia Divina, em que estamos todos submergidos.
Misericórdia Divina, doce consolo para os corações angustiados.
Misericórdia Divina, única esperança das almas desesperadas.
Misericórdia Divina, remanso dos corações, paz diante do temor.
Misericórdia Divina, gozo e êxtase das almas santas.
Misericórdia Divina, que infunde esperança, perdida já toda a esperança.
950. Oh Deus Eterno, em quem a Misericórdia é infinita e o tesouro de
compaixão inesgotável, põe em nós o Teu olhar bondoso e aumenta a Tua
Misericórdia em nós, para que em momentos difíceis não nos desesperemos
nem nos desalentemos, mas que, com grande confiança, nos submetamos à
Tua santa vontade, que é o Amor e a própria Misericórdia.
951. Oh, incomprensível e impenetrável Misericórdia de Deus,
¿Quem pode glorificar-Te e adorar-Te dignamente? Oh, supremo atributo
de Deus Todopoderoso,
Tu és a doce esperança do pecador.
Oh estrelas, Terra e mar, unidos num só hino e unanimemente e em sinal
de agradecimento, cantai a incompreensível Misericórdia de Deus.
952. Oh meu Jesus, Tu vês que a Tua santa vontade é tudo para mim. Éme indiferente o que faças de mim: mandas-me pôr-me à obra, e faço-o com
tranquilidade, apesar de saber que não sou idónea para isso; fazes-me
esperar por meio dos Teus representantes e, assim, espero com paciência;
enches a minha alma de entusiasmo, e não me dás a possibilidade de agir;
atrais-me a Ti, para os Céus, e deixas-me na Terra; infundes na minha alma
o anseio por Ti, e escondes-Te de mim. Morro pelo desejo de me unir
Contigo pela eternidade, e não permites à morte aproximar-se de mim. Oh
vontade de Deus, Tu és o meu alimento e o deleite da minha alma; quando
me submeto à santa vontade do meu Deus, um abismo de paz inunda a
minha alma.
Oh meu Jesus, Tu não dás a recompensa pelo resultado da obra, mas pela
vontade sincera e o esforço empreendido; portanto estou completamente
tranquila, embora todas as minhas iniciativas e os meus esforços fiquem
frustrados e não sejam realizados jamais. Se faço tudo o que está nas
minhas mãos, o que falta não é da minha responsabilidade e, por isso, as
maiores tempestades não perturbam a profundidade da minha paz.
Na minha consciência reside a vontade de Deus.
953. 15 II 1937. Hoje os meus sofrimentos aumentaram um pouco; não
só experimento maiores dores nos pulmões, mas também umas estranhas
dores nos intestinos. Sofro tanto quanto a minha débil natureza consegue
suportar, tudo pelas almas imortais para suplicar a Misericórdia Divina para
os pobres pecadores, para pedir a fortaleza para os sacerdotes. Oh, que
grande veneração tenho pelos sacerdotes e peço a Jesus, Sumo Sacerdote,
muitas graças para eles.
954. Hoje, depois da Santa Comunhão o Senhor disse-me: Minha filha,
o Meu deleite é unir-Me contigo; Dás-Me a maior glória quando te
submetes à Minha vontade e com isto atrais sobre ti um mar de
bênçãos. Não teria por ti uma complacência especial se não vivesses
segundo a Minha vontade. Oh meu doce Hóspede, por Ti estou disposta a
todos os sacrifícios, no entanto Tu sabes que sou a debilidade em pessoa,
mas Contigo posso tudo. Oh meu Jesus, peço-Te, fica comigo em cada
momento.
955. 15 II 1937. Hoje ouvi na alma estas palavras: ¡Oh hóstia agradável
ao Meu Pai! Deves saber, Minha filha, que toda a Santíssima Trindade
tem em ti a sua especial complacência, porque vives exclusivamente da
vontade de Deus. Nenhum sacrifício é comparável a este.
956. Depois destas palavras surgiu-me na minha alma o conhecimento
da vontade de Deus, isto é, que olho tudo desde um ponto de vista superior,
e todos os acontecimentos e todas as coisas desagradáveis ou agradáveis, as
aceito com amor, como demonstração da especial predilecção do Pai
Celestial.
957. No altar do amor arderá a pura oferenda da minha vontade; para
que a minha oferenda seja perfeita uno-me estreitamente ao sacrifício de
Jesus na cruz. E quando, sob o peso dos grandes sofrimentos, a minha
natureza treme e as forças físicas e espirituais diminuem, então esconderme-ei profundamente na ferida aberta do Coração de Jesus, silenciosa como
uma pomba, sem me queixar. Que todas as minhas predilecções, até as mais
santas e as mais belas e as mais nobres, estejam sempre no último plano e
no primeiro lugar esteja a Tua santa vontade. O mais pequeno desejo Teu,
oh Senhor, me é mais querido que o Céu com todos os seus tesouros. Sei
bem que algumas pessoas não me compreendem, por isso a minha oferenda
será mais pura a Teus olhos.
958. Há alguns dias veio falar-me uma certa pessoa pedindo-me que
rezasse muito por sua intenção, porque tinha uns assuntos muito
importantes e urgentes. De repente senti na alma que isso não era agradável
a Deus e respondi-lhe que não pediria por essa intenção, mas que rezaria
por ela em geral. Uns dias depois essa senhora voltou a ver-me e agradeceume por não haver rezado pelas suas intenções mas por ela, pois tinha um
projecto de vingança sobre outra pessoa à qual devia honra e respeito em
virtude do quarto mandamento. O Senhor mudou-a interiormente e ela
mesma reconheceu a sua culpa; mas admirou-se de que eu tivesse
descoberto o seu segredo.
959. Hoje recebi a carta do Padre Sopocko com felicitações por motivo
do meu santo. Alegrei-me pelas felicitações, mas entristeceu-me
muito pela sua falta de saúde. Já sabia, por conhecimento interior, mas
custava-me a acreditar; mas como me informou que é assim, então também
as outras coisas, das quais não me escreveu, são verdadeiras, e o meu
conhecimento interior não me engana. Recomenda-me sublinhar tudo o que
sei que não procede de mim. Isto é, tudo o que Jesus me diz, o que oiço na
alma. Já me pediu mais de uma vez, mas não tive tempo, nem tampouco, a
dizer a verdade, estava muito impelida a isso. ¿ Mas como sabe ele que não
o fiz? Isso surpreendeu-me enormemente, mas agora vou dedicar-me a esse
trabalho com todo o coração. Oh meu Jesus, a vontade dos Teus
representantes é a Tua evidente santa vontade, sem sombra de dúvida.
960. 16 II 1937. Hoje, por equívoco entrei no quarto vizinho, e falei um
momento com aquela pessoa. Ao voltar ao meu quarto, pensei nela um
momento, então o Senhor Jesus apresentou-se junto a mim e disse-me:
Minha filha, ¿em que estás a pensar neste momento?
Sem pensar, estreitei-me ao Seu Coração, porque compreendi que tinha
pensado demasiado na criatura.
961. Esta manhã, depois de ter feito os meus exercícios espirituais, pusme imediatamente a fazer renda. Sentia o silêncio no meu coração e que
Jesus descansava nele. Este profundo e doce conhecimento da presença de
Deus levou-me a dizer ao Senhor: Oh Santíssima Trindade que vives no
meu coração, peço-Te a graça da conversão de tantas almas quantos pontos
farei hoje com esta agulha. De imediato ouvi na alma estas palavras: Minha
filha, as tuas petições são excessivamente grandes. Jesus, para Ti é mais
fácil dar muito que pouco. É verdade, é mais fácil para Mim dar muito à
alma que pouco, mas cada conversão de uma alma pecadora exige
sacrifício. E por isso, Jesus, ofereço-Te este meu simples trabalho; este
sacrifício não me parece demasiado pequeno por um número tão grande de
almas; pois, Tu, oh Jesus, durante trinta anos salvavas as almas com o
trabalho manual e como a santa obediência me proíbe penitências e grandes
mortificações, por isso peço-Te, oh Senhor, aceita estas ninharias com o
selo da obediência como coisas grandes. Então ouvi na alma a voz: Minha
filha, atendo o teu pedido.
962. Vejo, muitas vezes, certa pessoa agradável a Deus. O Senhor tem
nela uma grande complacência, não somente porque se interesa pelo culto
da Misericórdia Divina, mas também pelo amor que tem a Deus, embora
nem sempre sente este amor em seu coração de modo sensível, e permanece
quase sempre no Horto das Oliveiras. No entanto, é sempre agradável a
Deus e a sua grande paciência vencerá todas as adversidades.
963. Oh, se a alma que sofre soubesse quanto Deus a ama, morreria de
gozo e de excesso de felicidade. Um dia, conheceremos o valor do
sofrimento, mas então já não poderemos sofrer. O momento presente é que
é nosso.
964. 17 II 1937. Esta manhã, durante a Santa Missa, vi Jesus a sofrer. A
Sua Paixão reflectiu-se no meu corpo, embora de modo invisível, mas não
menos doloroso. Jesus olhou-me e disse:
965. As almas morrem, apesar da Minha amarga Paixão. Ofereçolhes a última tábua de salvação, isto é, a Festa da Minha Misericórdia. Se não adoram a Minha Misericórdia, morrerão para sempre.
Secretária da Minha Misericórdia, escreve, fala às almas desta grande
Minha Misericórdia, porque está próximo o dia terrível, o dia da
Minha Justiça.
966. Hoje ouvi na alma estas palavras: Minha filha, deves pôr-te à
obra, Eu estou contigo. Esperam-te grandes perseguições e sofrimentos,
mas que te console a ideia de que muitas almas se salvarão e se
santificarão por meio desta Obra.
967. Quando me pus à obra e sublinhava as palavras do Senhor e
voltei a olhar tudo, ao chegar à página em que tenho apontados os
conselhos e as indicações do Padre Andrasz, não sabia que fazer: sublinhar
ou não; de repente ouvi na alma estas palavras: Sublinha, porque essas
palavras são Minhas; pedi emprestada a boca do amigo do Meu
Coração para te falar para a tua tranquilidade e tens que estar ligada
áquelas indicações até à morte. Desagradar-Me-ia muito se te afastasses
dessas indicações; deves saber que Eu Mesmo as pus entre Mim [e] a
tua alma, e o faço para a tua tranquilidade e para que não cometas
erros.
968. Desde que te confiei a uma especial assistência dos sacerdotes,
ficas dispensada de dar conta de modo pormenorizado às Superioras de
como Eu trato contigo. Além disso, deves ser como uma criança com as
Superioras, mas do que exijo no fundo da tua alma fala sinceramente e
de tudo somente aos sacerdotes. Observei que desde o momento em que
Deus me deu o director espiritual, não exigia que falasse de tudo, como
dantes, às Superioras, com excepção do que se referia às coisas exteriores.
Fora disso, somente o director espiritual conhece a minha alma.
Ter um director espiritual é uma graça excepcional de Deus.
Oh, que poucas são as almas que têm esta graça. Entre as maiores dificuldades, a
alma vive continuamente em paz; todos os dias, depois da Santa Comunhão,
agradeço ao Senhor Jesus por esta graça e cada dia peço ao Espírito Santo a
luz para ele. Em verdade, eu mesma senti na alma que grande poder têm as
palavras do director espiritual. Que a Misericórdia de Deus seja adorada por
esta graça.
969. Hoje fui fazer a meditação diante do Santíssimo Sacramento.
Quando me aproximei ao altar, a presença de Deus penetrou a minha alma,
fui submergida no oceano da sua divindade e Jesus disse-me: Minha filha,
tudo o que existe é teu. E respondi ao Senhor: O meu coração não deseja
nada que não sejas Tu só, oh tesouro do meu coração. Agradeço-Te, Senhor,
por todos os dons que me ofereces, mas eu quero somente o Teu Coração.
Embora imensos os Céus, para mim nada são sem Ti; Tu sabes muito bem,
oh Jesus, que desfaleço continuamente por desejar-Te com veemência.
Deves saber, Minha filha, que o que outras almas alcançarão na
eternidade, tu o disfrutas já agora. E de repente a minha alma foi
inundada da luz do conhecimento de Deus.
970. Oh, se pudesse exprimir ao menos um pouco o que a minha alma
vive junto ao Coração da inconcebível Majestade. Não sei exprimi-lo. Esta
graça compreende-a somente a alma que a viveu ao menos uma vez na vida.
Ao voltar ao meu quarto, pareceu-me que voltei da verdadeira vida à morte.
Quando o médico veio para me tomar o pulso, ficou assombrado: ¿Que se
passou, irmã? Um pulso assim não o teve nunca. Queria saber, ¿o que lhe
provocou tal aceleração do pulso? ¿Que lhe podia dizer? Se eu mesma não
sabia que tinha o pulso tão acelerado. Sei somente que estou morrendo por
anseio de Deus, mas, naturalmente, não o disse já que ¿como o pode
remediar um medicamento?
971. 19 II 1937. A união com os agonizantes. Pedem-me orações; posso
rezar, o Senhor deu-me misteriosamente o espírito da prece, estou
continuamente unida a Ele. Sinto plenamente que vivo pelas almas, para as
conduzir à Tua Misericórdia, oh Senhor; para tal fim nenhum sacrifício é
excessivamente pequeno.
972. Hoje o doutor decidiu que devo ficar aqui até Abril; é a
vontade de Deus, embora eu desejasse regressar ao convívio com as irmãs.
973. Hoje soube da morte de uma das nossas irmãs que faleceu em
Plock, mas veio ver-me antes de que me anunciassem a sua morte.
974. 22 II 1937. Hoje, na capela do hospital, começaram os exercícios
espirituais para as mulheres de serviço, mas podem participar neles quem o
deseje. Há uma palestra por dia; o Padre Boaventura, religioso
escolápio, fala durante uma hora inteira, fala directamente às almas. Tomei
parte nestes exercícios espirituais porque desejo muito conhecer Deus mais
profundamente e amá-Lo com mais fervor, porque compreendi que quanto
maior é o conhecimento, tanto mais forte é o amor.
975. Hoje ouvi estas palavras: Reza pelas almas para que não tenham
medo de se aproximarem do tribunal da Minha Misericórdia. Não
deixes de rezar pelos pecadores. Tu sabes quanto as suas almas pesam
sobre o Meu coração. Alivia a Minha tristeza mortal; distribui com
largueza a Minha Misericórdia.
976. 24 II 1937. Hoje, durante a Santa Missa, vi Jesus agonizante; os
sofrimentos do Senhor trespassam a minha alma e o meu corpo, embora
invisivelmente; a dor é grande, mas dura muito pouco tempo.
977. Durante o cântico da Paixão compenetrei-me tão vivamente
dos Seus tormentos que não consegui reter as lágrimas. Desejaria esconderme em alguma parte para dar livre desafogo à dor que me envolve quando
medito sobre a Sua Paixão.
978. Quando pedia por intenção do Padre Andrasz, compreendi quanto
Deus o ama. Desde aquele momento tenho-lhe ainda maior respeito, como
para um santo. Estou muito contente disso, e agradeci fervorosamente a
Deus.
979. Hoje, durante a bênção, vi Jesus que me disse estas palavras:
Obedece em tudo ao teu director espiritual, a sua palavra é a Minha
vontade; confirma-te no íntimo da alma em que Eu falo pela sua boca e
desejo que tu lhe reveles o estado da tua alma com a mesma
simplicidade e sinceridade como o fazes diante de Mim. Repito uma vez
mais, Minha filha, fica a saber que a sua palavra é a Minha vontade
para ti.
980. Hoje vi o Senhor com uma grande beleza e disse-me: Oh Minha
querida hóstia, roga pelos sacerdotes, especialmente neste tempo de
colheita. O Meu Coração encontrou em ti a Sua complacência e
por ti abençoo a Terra.
981. Compreendi que estes dois anos de sofrimentos interiores que
suporto submetendo-me à vontade de Deus, para conhecer melhor a Sua
vontade, fizeram-me progredir na perfeição mais que os últimos dez anos.
Há dois anos que estou na cruz, entre o Céu e a Terra, isto é, estou
submetida ao voto de obediência, devo ouvir a Superiora como ao próprio
Deus; por outro lado, o próprio Deus dá-me a conhecer directamente a sua
vontade e por isso o meu tormento interior é tão grande que ninguém pode
imaginar nem compreender estes sofrimentos interiores.
Parece-me mais
fácil dar a vida que viver, às vezes, uma hora em tal tormento. Não vou
escrever muito sobre isto, porque é impossível descrever; conhecer
directamente a vontade de Deus, e ao mesmo tempo ser perfeitamente
obediente à vontade de Deus, conhecida indirectamente por meio das
Superioras. Agradeço ao Senhor por me ter dado um director espiritual,
porque de outro modo não teria dado nem um só passo para diante.
982. Nestes dias recebi uma carta muito grata da minha irmãzinha de 17
anos que me suplica encarecidamente que a ajude a entrar num convento
. Está disposta a todos os sacrifícios por Deus. Da sua carta
depreende-se que o Senhor Mesmo a guia. Alegro-me com a grande
Misericórdia de Deus.
983. Hoje a Majestade de Deus abraçou e penetrou a minha alma
totalmente. A grandeza de Deus afunda-me e inunda-me de modo que me
submerjo toda na sua grandeza; dissolvo-me e desapareço de todo n’Ele,
que é a minha vida e vida perfeita.
984. Oh meu Jesus, eu compreendo bem que a minha perfeição não
consiste em que me recomendas realizar estas grandes obras; oh não, a
grandeza da alma não consiste nisto, mas num grande amor por Ti.
Oh Jesus, entendo no fundo da minha alma que as maiores obras não
podem comparar-se com um acto de puro amor por Ti. Desejo ser-Te fiel e
cumprir os Teus desejos e aplico as forças e o intelecto em cumprir tudo o
que me mandes, oh Senhor, mas não tenho nenhuma sombra de apego.
Cumpro tudo isto, porque esta é a Tua vontade. Todo o meu amor está
mergulhado completamente não nas Tuas obras mas em Ti Mesmo, oh meu
Criador e Senhor.
985. 25 II 1937. Roguei fervorosamente por uma morte feliz para certa
pessoa que sofria muito. Esteve duas semanas entre a vida e a morte. Tinha
pena dela, e disse ao Senhor: Oh doce Jesus, se Te é agradável a Causa que
iniciei para a Tua glória, peço-Te, leva-a para a Tua casa, que descanse na
Tua Misericórdia. E estava estranhamente tranquila. Um momento depois
vieram dizer-me que essa pessoa que sofria tão terrivelmente, já tinha
expirado.
986. Vi certo sacerdote em dificuldades e pedi por ele até que Jesus o
olhou benignamente e lhe concedeu a sua força.
987. Hoje soube que uma pessoa da minha família ofende a Deus e que
está num grave perigo de morte. Este conhecimento trespassou a minha
alma com um sofrimento tão grande que pensava não poder suportar tal
ofensa a Deus. Pedi insistentemente perdão a Deus, mas vi a sua grande
indignação.
988. Rezei por intenção de um sacerdote para que Deus o ajudasse em
certos assuntos. De repente vi o Senhor Jesus crucificado; Jesus tinha os
olhos fechados e estava submergido em sofrimento. Fiz uma reverência às
suas cinco chagas, a cada uma por separado e pedi a bênção para ele. Jesus
fez-me conhecer no meu íntimo quanto lhe era querida essa alma e senti que
das chagas de Jesus fluiu a graça para essa alma que estava estendida na
cruz como Jesus.
989. Meu Senhor e meu Deus, Tu sabes que a minha alma só a Ti amou.
A minha alma inteira submergiu-se em Ti, oh Senhor. Embora não
cumprisse nada do que me deste a conhecer, oh Senhor, estaria
completamente tranquila, porque fiz o que estava ao meu alcance. Eu sei
bem que Tu, oh Senhor, não necessitas das nossas obras, Tu exiges o amor.
990. Amor, amor e uma vez mais amor de Deus, não há nada maior que
ele nem no Céu nem na Terra.
A maior grandeza é amar a Deus, a verdadeira grandeza está no amor de
Deus, a verdadeira sabedoria é amar a Deus. Todo o que é grande e belo
está em Deus; fora de Deus não há nem beleza nem grandeza.
Oh sábios do mundo e grandes intelectos reconheçam que a verdadeira
grandeza está em amar a Deus.
Oh, quanto me surpreendo que alguns homens se enganem a si mesmos
dizendo: não há eternidade.
991. 26 II 1937. Hoje vi que os sagrados mistérios eram celebrados sem
vestes litúrgicas e em casas particulares, pela passagem de uma tempestade,
e olhei o sol que saía do Santíssimo Sacramento; apagaram-se, isto é,
ficaram ofuscadas outras luzes, e todos tinham os olhos voltados para
aquela luz; mas, neste momento, não compreendo o significado.
992. Caminho pela vida entre arcos-íris e tempestades, mas com a
cabeça orgulhosamente erguida, porque sou filha do Rei, porque sinto que o
sangue de Jesus circula nas minhas veias e coloquei a minha confiança na
grande Misericórdia do Senhor.
993. Pedi ao Senhor que certa pessoa venha ver-me hoje, para que possa
estar com ela uma vez mais e isto será para mim um sinal de que ela é
chamada a entrar no convento que Jesus me manda fundar. E, coisa
estranha, aquela pessoa veio e eu procurei dar-lhe alguma formação
espiritual. Comecei a indicar-lhe o caminho de se negar a si mesma e do
sacrifício, que aceitou de boa vontade. Mas pus todo este assunto nas mãos
do Senhor, para que conduza tudo como Lhe agradar.
994. Hoje, ao ouvir pelo rádio a canção: “Boas noites, oh Sagrada
Cabeça do meu Jesus”, subitamente o meu espírito submergiu-se em Deus e
o amor de Deus inundou a minha alma; durante um momento convivi
intimamente com o Pai Celestial.
995. Embora não seja fácil viver numa contínua agonia,
Estar cravada numa cruz com vários sofrimentos,
No entanto, amando, ardo de amor,
E como um Serafim amo a Deus, embora seja fraca.
Oh, é grande a alma que em meio dos sofrimentos
Permanece fiel junto a Deus e cumpre a sua vontade,
E entre os maiores arcos-íris e tempestades está sem consolo,
Porque o puro amor de Deus suaviza a sua sorte.
Não é grande mérito amar a Deus na prosperidade
E agradecer-Lhe quando tudo nos vai bem,
Mas adorá-Lo entre as maiores adversidades,
E amá-Lo por Ele Mesmo e pôr a confiança n’Ele.
Quando a alma permanece nas sombras do Horto das Oliveiras,
Solitária entre a amargura e o dor,
Se eleva à altura de Jesus,
E embora beba continuamente a amargura, não está triste.
Quando a alma cumpre a vontade do Altíssimo,
Assim seja entre contínuas dores e torturas,
Aproximando os lábios do cálice que lhe entregam,
Permanece firme e nada a intimida.
Mesmo atormentada, repete: que se faça a Tua vontade,
Espera com paciência o momento em que será transformada,
Já que, embora nas trevas mais escuras, ouve a voz de Jesus: tu és minha,
E O conhecerá em toda a plenitude quando caia o véu.
996. 28 II 1937. Hoje, durante um longo momento, experimentei a
Paixão do Senhor Jesus e soube que são muitas as almas que necessitam de
oração. Sinto que me transformo toda em prece para impetrar a Divina
Misericórdia para cada alma. Oh meu Jesus, recebo-Te no meu coração
como penhor de Misericórdia para as almas.
997. Esta noite, ao ouvir pela rádio a canção: “Boas noites, oh Sagrada
Cabeça do meu Jesus", de repente o meu espírito foi raptado ao seio
misterioso de Deus e compreendi em que consiste a grandeza da alma e o
que tem importância diante de Deus: amor, amor e uma vez mais amor. E
conheci que o que existe está saturado de Deus e inundou-me um amor tão
grande por Deus que é impossível descrevê-lo.
Feliz a alma que sabe amar sem reservas, já que nisso está a sua
grandeza.
998. Hoje fiz um dia de retiro espiritual. Quando estava na última
palestra, o sacerdote falou de quanto o mundo necessita da
Misericórdia de Deus: [que] estes tempos parecem excepcionais, que a
humanidade necessita muito da Misericórdia de Deus e da oração. depois
ouvi na alma uma voz: Estas palavras são-te dirigidas, faz tudo o que
está ao teu alcance pela Obra da Minha Misericórdia. Desejo que a
Minha Misericórdia seja venerada; dou à humanidade a última tábua
de salvação, isto é, o refúgio na Minha Misericórdia. O Meu coração
rejubila nesta Festa. Depois destas palavras compreendi que nada pode
libertar-me deste dever que o Senhor exige de mim.
999. Esta noite sofri tanto que pensava que se aproximava já o fim da
minha vida. Os médicos não conseguiram diagnosticar que doença fosse.
Sentia como se tivesse arrancadas as entranhas, no entanto depois de umas
horas de tais sofrimentos estou bem. Todo isto pelos pecadores. Que a Tua
Misericórdia, oh Senhor, desça sobre eles.
1000. No terrível deserto da vida,
Oh meu dulcíssimo Jesus,
Protege as almas da perdição,
Já que és o manancial da Misericórdia.
Que o resplendor dos Teus raios,
Oh doce Guia das nossas almas,
Com a Misericórdia mude o mundo,
E ao receber esta graça, sirva a Jesus.
Devo percorrer um longo caminho escarpado
Mas não tenho medo de nada,
Porque para mim brota a fonte pura da Misericórdia,
E com ela flui a força para os humildes.
Estou esgotada e rendida,
Mas a consciência dá-me testemunho,
De que faço tudo para a maior glória de Deus,
O Senhor é o meu descanso e a minha herança.
Fim do segundo caderno
manuscrito do DIÁRIO