SEGUNDO CADERNO DO DIÁRIO DE SANTA FAUSTINA

SEGUNDO CADERNO DO DIÁRIO DE SANTA FAUSTINA

 

SEGUNDO CADERNO

 

Cantarei eternamente

a Misericórdia do Senhor

A Divina Misericórdia na minha alma

DIÁRIO

Ir. M. Faustina

JMJ

 

522. Cantarei eternamente a Misericórdia do Senhor

Diante de todo o povo,

Já que este é o maior atributo de Deus

E para nós um milagre contínuo.

Brota da Divina Trindade,

Mas de um único seio amoroso;

A Misericórdia do Senhor aparecerá na alma

Em toda a sua plenitude, quando caia o véu.

Da fonte da Tua Misericórdia, oh Senhor,

Fluem toda a felicidade e toda a vida;

E assim, todas as criaturas e todas as coisas

Cantai com êxtase o hino da Misericórdia.

As entranhas da Divina Misericórdia abertas

Para nós,

Pela vida de Jesus pregado na cruz;

Não deverias duvidar nem desesperar, oh pecador,

Mas confiar na Misericórdia,

Porque tu também podes ser santo.

Dos mananciais jorraram em forma de raios,

Do Coração de Jesus,

Não para os Anjos, nem Querubins, nem Serafins,

Mas para salvar o homem pecador.

JMJ

 

523. Oh vontade de Deus

Sê o meu amor.

Oh meu Jesus, Tu sabes que por mim mesma não escreveria uma só letra

e se escrevo é por clara ordem da santa obediência.

Deus e as almas

Ir. M. Faustina do Santíssimo Sacramento

 

524. Oh Jesus, Deus oculto, o meu coração descobre-Te,

Embora Te cubram os véus, Tu sabes que Te amo.

 

525. Vilna, 24 XI 1935

 

JMJ - Segundo caderno

Bendito seja Deus

Oh Santíssima Trindade, na que está encerrada a vida interior de Deus,

Pai, Filho e Espírito Santo, oh gozo eterno, inconcebível abismo de amor

que Te derramas sobre todas as criaturas e as fazes felizes, honra e glória ao

Teu nome pelos séculos dos séculos.

Amen.

Quando conheço a Tua grandeza e a Tua beleza, oh meu Deus, alegrome indescritivelmente por ser tão grande o Senhor a quem sirvo. Com amor

e alegria cumpro a sua santa vontade e quanto mais o conheço, tanto mais

fervorosamente desejo amá-lo. Queima-me o desejo de O amar cada vez

mais.

 

526. Esta quinta-feira, enquanto fazíamos a adoração nocturna, ao

princípio não pude rezar, uma aridez apoderou-se de mim; não pude

contemplar a dolorosa Paixão de Jesus, mas prostrei-me em cruz e ofereci a

dolorosa Paixão do Senhor Jesus ao Pai Celestial como satisfação pelos

pecados do mundo inteiro. Ao levantar-me do chão, depois daquela prece e

ao voltar ao meu genuflexório, de repente vi Jesus junto a ele. O Senhor

Jesus com o mesmo aspecto que tinha durante a flagelação; na mão tinha

uma túnica branca com a qual me cobriu e um cordão com que me cingiu;

colocou-me ainda um manto vermelho, igual ao que O cobria na Paixão, e

um véu da mesma cor e disse-me: Tu e as tuas companheiras usarão um

hábito igual; a minha vida desde o nascimento até a morte na cruz será

a vossa Regra. Contempla-me e vive de acordo com isto; desejo que

penetres mais profundamente no Meu espírito e [tenhas presente] que

sou manso e humilde de Coração.

 

527. Uma vez senti na alma um impulso para que me pusesse à obra e

cumprisse tudo o que Deus exigia de mim. Entrei um momento na capela e

ouvi esta voz na alma: ¿Por que tens medo? Pensas que Me faltará a

omnipotência para te ajudar? E [em] aquele momento senti na alma uma

estranha força, já nada me parecendo todas as contrariedades que me

poderiam suceder [em] o cumprimento da vontade de Deus.

 

528. Na sexta-feira, durante a Santa Missa, a minha alma foi inundada

pela felicidade de Deus e ouvi no meu interior estas palavras: A Minha

Misericórdia passou para as almas através do Coração divino–humano

de Jesus, como um raio de sol através do cristal. Senti na alma e

compreendi que toda a aproximação a Deus nos é dada por Jesus, n’Ele e

por Ele.

 

529. No dia em que terminou a novena em Ostra Brama, ao anoitecer

, cantadas as ladainhas, um dos sacerdotes trouxe o Santíssimo

Sacramento na custódia; quando o pôs no altar, imediatamente vi o pequeno

Menino Jesus que estendia as mãozinhas para a sua Mãe, que naquele

momento tinha um aspecto vivo. Enquanto a Virgem me falava, Jesus

estendia as mãozinhas para o povo reunido. A Virgem Santíssima disse-me

para aceitar todas as exigências de Deus como uma criança pequena, sem

averiguar nada; o contrário não agradaria a Deus. No mesmo instante o

Menino Jesus desapareceu e a Virgem perdeu o aspecto vivo e a imagem

ficou como era antes, mas a minha alma ficou cheia de gozo e de grande

alegria e disse ao Senhor: Faz de mim o que Te agradar, estou disposta a

tudo, mas Tu, oh Senhor, não Te afastes de mim nem por um momento.

 

530. JMJ Em honra da Santíssima Trindade

Pedi à Madre Superiora o jejum de quarenta dias, tomando uma

vez por dia uma fatia de pão e um copo de água; no entanto a Madre

Superiora não me deu licença para quarenta dias, mas para sete dias, de

acordo com a opinião do confessor. «Não posso dispensá-la de todo

das tarefas, devido ao que outras irmãs poderiam pensar; dou-lhe licença

para se dedicar na medida do possível, à oração e de tomar notas de

algumas dessas coisas, mas será mais difícil justificá-la no que diz respeito

ao jejum; aí não consigo arranjar nenhum pretexto.» E disse: «Mas vá-se

embora a irmã, talvez me seja dada alguma luz».

 

Na manhã do domingo compreendi interiormente que quando a Madre Superiora me tinha

destinado para a porta à hora das refeições, pensou dar-me a oportunidade

de jejuar. De manhã não estive no pequeno almoço, mas pouco depois fui

falar com a Madre Superiora e perguntei: Se estou na porta será fácil não

chamar a atenção sobre mim. E a Madre Superiora respondeu-me: «Quando

a designei estava a pensar nisso». Naquele momento compreendi que

tinha sentido interiormente a mesma ideia.

 

531. 24 XI 1935. Domingo, primeiro dia. Fui imediatamente diante do

Santíssimo Sacramento e ofereci-me com Jesus, que está no Santíssimo

Sacramento, ao Pai Eterno. Então ouvi na alma estas palavras: A tua

intenção e a das tuas companheiras é unir-se a Mim o mais

estreitamente possível através do amor. Reconciliarás a Terra com o

Céu, mitigarás a justa cólera de Deus e rogarás a Misericórdia para o

mundo. Confio ao teu cuidado duas pérolas preciosas para o Meu

Coração, que são as almas dos sacerdotes e as almas dos religiosos; por

elas rogarás de maneira especial, a força delas virá do teu

aniquilamento. As preces, os jejuns, as mortificações, as fadigas e todos

os sofrimentos, os unirás à oração, ao jejum, à mortificação, à fadiga

[e] ao Meu sofrimento, e então terão valor diante do Meu Pai.

 

532. Depois da Santa Comunhão vi o Senhor Jesus que me disse estas

palavras: Hoje, medita no espírito da Minha pobreza e dispõe tudo de

tal modo que os mais pobres não tenham nada que invejar-te. Não são

os grandes palácios, nem as esplêndidas instalações que Me dão

satisfação, mas o coração puro e humilde.

 

533. Ao ficar-me só comecei a reflectir sobre o espírito de pobreza. Vejo

claramente que Jesus não possuía nada sendo o Dono do todas as coisas. O

presépio emprestado; caminha pela vida fazendo o bem a todos sem ter

onde apoiar a cabeça. E na cruz vejo o cúmulo da sua pobreza, já que nem

sequer tem posta uma veste. Oh Jesus, através do solene voto de pobreza

desejo assemelhar-me a Ti; a pobreza será a minha mãe. Não possuir nada

exteriormente nem dispôr de nada como de minha propriedade, nem

tampouco desejar interiormente alguma coisa. E no Santíssimo Sacramento

¡que grande é a Tua pobreza! ¿Houve alguma vez uma alma tão abandonada

como Tu, Jesus, na cruz?

 

534. A castidade. Este voto entende-se por si mesmo, proíbe tudo o que

é proibido pelo sexto e nono mandamentos de Deus, naturalmente: obras,

pensamentos, palavras, sentimentos, e …

Entendo que o voto solene difere do voto simples, entendo-o em todo o

seu alcance. Quando reflectia sobre isso, ouvi na alma estas palavras: Tu és

Minha esposa para a eternidade, a tua pureza deve ser maior que a dos

anjos, porque com nenhum anjo tenho relação de tão estreita

intimidade como contigo. A mais pequena acção da Minha esposa tem

um valor infinito, a alma pura tem um poder incalculável diante de

Deus.

 

535. A obediência. Vim para cumprir a vontade do Meu Pai. Fui

obediente aos pais, obediente aos verdugos, sou obediente aos

sacerdotes. Compreendo, Oh Jesus, o espírito da obediência e em que

consiste; não se refere somente ao comportamento exterior, mas abrange

também a mente, a vontade e o juízo. Obedecendo às Superioras,

obedecemos a Deus. Não tem importância se é um Anjo ou um homem que

me mande em nome de Deus, tenho que ser obediente sempre. Não vou

escrever muito sobre os votos porque eles são claros por si mesmos e

baseiam-se em coisas concretas. Passo antes, de seguida, a dar uma ideia

geral desta Congregação.

 

536. Resumo geral.

Nunca terá casas sumptuosas, mas uma modesta capela e junto a ela uma

pequena Comunidade, um pequeno grupito de almas, que será composto

por não mais de dez almas; além delas haverá duas almas que atenderão, no

exterior do claustro, as várias necessidades da Comunidade, e prestarão

vários serviços na igreja. Não usarão hábito, mas vestes seculares. Terão

votos mais simples e estarão directamente dependentes da Superiora, que

permanecerá na clausura. Participarão de todos os bens espirituais de toda a

Comunidade, mas nunca poderão ser mais de duas, de preferência uma.

Cada casa será independente das outras, mas todas estarão muito

estreitamente unidas pela Regra, pelos votos e pelo espírito. No entanto,

[em] casos excepcionais, poderá enviar-se uma irmã de uma casa para

outra; também é possível, ao fundar uma casa, transferir algumas religiosas,

se for necessário. Cada casa estará sujeita ao ordinário do lugar.

 

537. Cada religiosa viverá numa cela indiviual, mas será conservada a

vida comunitária; reunir-se-ão todas para a oração, refeições e recreio. Cada

religiosa, depois de emitir a profissão nunca mais verá o mundo, nem

sequer através da grade, que será tapada com um pano escuro, e também as

conversas serão estritamente limitadas. Será como uma pessoa morta que o

mundo não compreende e que não compreende o mundo. Deve estar entre o

Céu e a Terra, e implorar incessantemente a Deus a Sua Misericórdia para o

mundo e a fortaleza para os sacerdotes, para que as suas palavras não soem

em vão, e para que eles mesmos consigam manter-se [em] essa admirável

dignidade, tão expostos, sem nenhuma mancha… Apesar de serem poucas,

estas almas serão heróicas. Não haverá lugar para as almas cobardes nem

débeis.

 

538. Entre elas não se dividirão em coros nem em Madres, nem

Mãezinhas, nem reverendas, nem reverendíssimas, mas todas serão

iguais entre si, embora haja uma grande diferença de condição. Sabemos

quem era Jesus e como se humilhou e com quem se relacionava. Usarão um

hábito como o que Ele levava durante a Paixão, mas não somente a veste,

mas têm que imprimir em si os sinais com as quais Ele foi distinguido e

estes são: o sofrimento e o desprezo.

Cada uma procurará negar-se a si mesma em máximo grau e amar a

humildade, e a que mais se distinguir nesta virtude, será a mais capaz de

presidir às outras.

 

539. Como Deus nos fez comparticipantes da Sua Misericórdia, ou

melhor, até suas dispensadoras, deve ser grande o nosso amor para cada

alma, começando pelas eleitas e terminando na alma que ainda não conhece

Deus. Com a oração e a mortificação chegaremos até aos países mais

salvajens, abrindo o caminho aos missionários. Recordaremos que, como o

soldado na frente não pode resistir muito tempo sem ser sustentado pela

rectaguarda, que não toma parte directamente na batalha mas lhe dispensa

tudo o que necessitar. Para [o missionário] é a prece. Cada uma deve

distinguir-se pelo espírito do apostolado.

 

540. À noite, enquanto escrevia, ouvi na cela esta voz: «Não saias desta

Congregação, tem piedade de ti mesma, esperam-te grandes sofrimentos».

Quando olhei para onde saía a voz, não vi nada e continuei a escrever. De

repente ouvi um ruído e estas palavras: «Quando saíres, destruir-te-emos.

Não nos atormentes». Quando olhei vi muitos monstros feios; quando fiz

com o pensamento o sinal da cruz, dissiparam-se todos imediatamente. Que

horrivelmente feio é Satanás; pobres as almas que têm que viver na sua

companhia, pois vê-lo somente é mais repugnante que todos os tormentos

do Inferno.

 

541. Um momento depois ouvi na alma esta voz: Não tenhas medo de

nada, não te sucederá nada sem a Minha vontade. Depois destas

palavras do Senhor uma força misteriosa entrou na minha alma; alegro-me

grandemente pela bondade de Deus.

 

542. O postulantado. A idade para ser recebida. Podem ser recebidas

pessoas dos quinze aos trinta anos. Em primeiro lugar há que reparar no

espírito que inspira a pessoa e o seu carácter, se tem vontade firme e

coragem para seguir o caminho de Jesus, e isto com gozo e alegria, porque

Deus ama quem dá com alegria; tem que desprezar o mundo e a si própria.

A falta de dote nunca será um impedimento para ser aceite; também todas

as formalidades devem ser claras, não aceitar os casos complicados.

No entanto, não podem ser recebidas as pessoas melancólicas, inclinadas

à tristeza, com doenças contagiosas, caracteres ambíguos, receosos,

inadaptados à vida religiosa. Há que ter muito cuidado com a escolha dos

membros, porque basta uma pessoa não adaptada para provocar confusão

em tudo o convento.

 

543. A duração do postulantado. O postulantado será de um ano.

Durante esse período a pessoa deve analisar se aprecia este tipo de vida e se

é apta ou não para ela; e também a Mestra deve observar atentamente se a

pessoa é apta ou não para este tipo de vida. Se, depois de um ano, se

verificar que tem boa vontade e um sincero desejo de servir a Deus, há que

recebê-la no noviciado.

 

544. O noviciado deve durar um ano contínuo. A noviça será instruída

sobre as virtudes referentes aos votos e sobre a sua importância. A Mestra

deve pôr todo o empenho em dar-lhe uma formação sólida. Deve exercitá-la

na humildade já que somente o coração humilde observa os votos com

facilidade e experimenta grandes gozos que Deus derrama sobre uma alma

fiel.

As noviças não serão sobrecarregadas com trabalhos de

responsabilidade, para que possam dedicar-se livremente ao seu próprio

aperfeiçoamento. São obrigadas rigorosamente a observar as Regras e as

normas como as postulantes.

 

545. Depois de um ano de noviciado, se a noviça se revelou fiel, pode

ser admitida a pronunciar os votos por um ano; estes devem repetir-se

durante três anos; então podem já ser-lhes confiados cargos de

responsabilidade; no entanto, pertencerá ao noviciado e uma vez por

semana tem que assistir às conferências junto com as outras noviças, e os

últimos seis meses serão passados inteiramente no noviciado para se

prepararem bem para a profissão solene.

 

546. No que se refere à alimentação, não comeremos carne; as refeições

serão tais que nem mesmo os pobres nada terão que nos invejar. No entanto

os dias festivos podem diferir um pouco dos dias regulares. Comeremos três

vezes por dia, observaremos rigorosamente os jejuns no espírito primitivo e

especialmente os dois maiores. Os alimentos serão iguais para todas as

irmãs, excluindo qualquer excepção para que a vida comunitária seja

observada em toda a sua integridade, tanto nas comidas, como no vestir ou

o arranjo da cela; mas se uma das irmãs adoecer, devem dispensar-lhe todas

as atenções.

 

547. Quanto à oração. A meditação de uma hora, a Santa Missa e a Santa

Comunhão, dois exames de consciência, o ofício, o rosário, a leitura

espiritual, uma hora de oração durante a noite. Quanto à ordem do dia e ao

horário, poderá ser mais bem feito quando começarmos a viver segundo

este sistema.

 

548. De repente ouvi na alma estas palavras: Minha filha, asseguro-te

um sustento fixo do qual viverás. O teu empenho deve ser a total

confiança na Minha bondade, e o Meu é dar-te tudo o que necessitares.

Faço-Me dependente da tua confiança; se a tua confiança for grande a

Minha generosidade não terá limites.

 

549. Sobre o trabalho. Sendo pessoas pobres, elas mesmas executarão

todos as tarefas do convento. Cada uma deve ficar contente se lhe toca um

trabalho humilhante ou contrário à sua natureza, já que lhe será de ajuda

para a sua formação interior. A Superiora mudará com frequência as

obrigações das irmãs e assim as ajudará a separar-se completamente dessas

pequenas coisas a que as mulheres sentem um grande apego. De facto, às

vezes dá-me vontade de rir quando vejo que algumas almas se

desprenderam de coisas verdadeiramente grandes e têm apego aos trapitos,

isto é a ninharias. Cada uma das irmãs estará um mês na cozinha, não

excluindo sequer a Superiora. Que todas façam cada uma das tarefas que há

no convento, que todas tenham sempre a intenção pura em tudo, porque a

Deus não lhe agrada em absoluto a confusão.

 

550. Que elas mesmas se acusem das desobediências exteriores e peçam

a penitência à Superiora; que o façam no espírito de humildade. Que se

amem umas às outras com amor superior, com o amor puro, vendo em cada

irmã a imagem de Deus. A característica singular desta pequena

Comunidade é o amor, assim que não estreitem os seus corações, mas que

abracem o mundo inteiro, oferecendo Misericórdia a cada alma através da

oração, segundo a sua vocação. Se somos misericordiosas neste espírito,

também nós mesmas alcançaremos a Misericórdia.

 

551. Cada uma deverá ter um grande amor pela Igreja. Como uma boa

filha que ama a sua mãe e reza por ela, assim cada alma cristã deve rezar

pela Igreja que para ela é mãe. ¿E que dizer de nós, as religiosas, que nos

comprometemos especialmente a rezar pela Igreja? Então, que grande é o

nosso apostolado, embora tão escondido. Estas pequenas coisas de cada dia

serão depositadas aos pés de Jesus como uma oferenda de petição pelo

mundo; mas, para que a oferenda seja agradável a Deus, tem que ser pura;

para que a oferenda seja pura, o coração tem que livrar-se de todos os

apegos naturais e dirigir todos os sentimentos para o Criador, amando n’Ele

todas as criaturas, segundo a Sua santa vontade. E se cada uma se

comportar assim, no espírito de fervor, trará alegria à Igreja.

 

 

552. Além dos votos vejo uma Regra importantíssima; embora todas

sejam importantes, esta ponho-a em primeiro lugar, e é o silêncio. De facto,

se esta Regra fosse observada rigorosamente, eu estaria tranquila pelas

outras. As mulheres têm uma grande inclinação a falar. Na verdade, o

Espírito Santo não fala a uma alma distraída e tagarela mas, por meio das

suas silenciosas inspirações, fala a uma alma recolhida, a uma alma

silenciosa. Se se observasse rigorosamente o silêncio, não haveria

murmurações, amarguras, maledicências, bisbilhotices, não seria tão

maltratado o amor ao próximo, numa palavra, evitar-se-iam muitas faltas.

Os lábios calados são ouro puro e dão testemunho da santidade interior.

 

553. Mas imediatamente quero falar de outra Regra, isto é do falar. Calar

quando se deve falar, é uma imperfeição e às vezes até um pecado. Assim,

que todas tomem parte no recreio, e que a Superiora não dispense as irmãs

do recreio, se não for por alguma razão muito importante. Os recreios

devem ser alegres, no espírito de Deus. Os recreios dão-nos a oportunidade

de nos conhecermos melhor; que cada uma exprima a sua opinião com

simplicidade para edificar as outros e não com o espírito de alguma

superioridade nem, Deus nos livre, para discutir. Isso não correspondería à

perfeição nem com o espírito da nossa vocação que deve distinguir-se pelo

amor. Haverá recreios de meia hora duas vezes por dia. Mas se alguma irmã

interromper o silêncio tem a obrigação de se acusar imediatamente à

Superiora e pedir a penitência; que a Superiora, por essa falta, aplique uma

penitência pública e se não fosse assim, ela mesma responderia diante do

Senhor.

 

554. Sobre a clausura. Nos lugares delimitados da clausura não

poderá entrar ninguém sem autorização especial do ordinário e isto em

casos excepcionais, isto é, a administração dos sacramentos aos doentes, ou

a assistência e preparação para a morte, por ocasião dos ritos fúnebres. Pode

suceder também a absoluta necessidade de deixar entrar na clausura um

operário para fazer alguma reparação no convento, mas antes deve haver

uma licença especial. A porta que conduz à clausura deve estar sempre

fechada e somente a Superiora terá a chave.

 

555. Sobre o acesso ao locutório. Nenhuma irmã irá ao locutório sem

uma licença especial da Superiora; a Superiora não deve conceder

fácilmente licenças para ir com frequência ao locutório. As que morreram

para o mundo, não devem voltar a ele nem sequer através de conversas.

Mas se a Superiora considera oportuno que alguma irmã vá ao locutório,

deve ter em atenção as seguintes regras: acompanhe ela mesma aquela irmã

e, se não puder, designe uma substituta, e esta está obrigada à discreção, não

repetirá o que tiver ouvido no locutório, mas informará de tudo a Superiora.

Os colóquios devem ser breves, a menos que por respeito à pessoa demore

mais um pouco, mas nunca será descerrada a cortina, a não ser em casos

excepcionais, como por um insistente pedido do pai ou da mãe.

 

556. Sobre as cartas. Cada irmã pode escrever cartas seladas ao ordinário

de quem depende a casa; fora disso, pedirá licença por cada carta e entregála-á aberta à Superiora, e a Superiora deve guiar-se pelo espírito de amor e

de prudência. Tem o direito de a enviar ou de a reter, segundo o que for para

a maior glória de Deus, mas desejaria muito que desses escritos haja o

menos possível: ajudemos as almas com a prece e a mortificação e não com

cartas.

 

557. Sobre a confissão. O Ordinário designará os confessores para a

Comunidade, tanto os regulares como os extraordinários. O confessor

regular será um e escutará as confissões de toda a Comunidade uma vez por

semana. O confessor extraordinário virá em cada três meses e cada irmã

tem a obrigação de apresentar-se a ele embora não tenha a intenção de fazer

uma verdadeira confissão.

 

Nem o confessor regular nem o extraordinário permanecerá no seu cargo

mais de três anos; no final do triénio haverá uma votação secreta e de

acordo com ela a Superiora apresentará o pedido das irmãs ao ordinário; o

confessor pode ser designado para o segundo e também para o terceiro

triénio. As religiosas confessar-se-ão junto à grade fechada; também as

conferências serão pronunciadas para a Comunidade através da grade

coberta com a cortina escura. As irmãs não falarão nunca entre si da

confissão nem dos confessores, mas sobretudo rezem por eles para que

Deus os ilumine na direcção das suas almas.

 

558. Sobre a Santa Comunhão. As irmãs não devem falar de quais delas

se aproximam da Santa Comunhão com menor ou maior frequência.

Abstenham-se de fazer juízos sobre esta matéria, a que não têm direito;

qualquer juízo a este respeito pertence exclusivamente ao confessor. A

Superiora pode perguntar a uma irmã, mas não para conhecer a razão pela

qual não se aproximou da Santa Comunhão, mas para lhe facilitar a

confissão. Que as Superioras não se atrevam a entrar no ámbito das

consciências das irmãs. Às vezes, a Superiora pode dispôr que a

Comunidade ofereça a Comunhão por certa intenção. Cada uma deve

aspirar à máxima pureza da alma para poder receber diariamente o Hóspede

Divino.

 

559. Uma vez, ao entrar na capela, vi os muros de uma casa como que

abandonada, as janelas estavam sem vidros, as portas não terminadas

sem batentes, só tinham os caixilhos. De repente ouvi na alma estas

palavras: Aqui deve ficar aquele convento. Em verdade, não me agradou

muito que tivesse de ficar naquelas ruinas.

 

560. Quinta-feira. Sentia-me muito entusiasmada para dar começo à

Obra o mais cedo possível, segundo o desejo do Senhor. Quando fui

confessar-me, fiz prevalecer uma minha opinião à do confessor. Num

primeiro momento não me dei conta disso, mas enquanto rezava a Hora

Santa, vi o Senhor Jesus com o aspecto que tem na imagem e disse-me que

comunicasse ao confessor e às Superioras tudo o que me tinha dito e que

exigia de mim. E faz somente aquilo para o que receberes licença.

 

E deu-me a conhecer Jesus, o muito que lhe desagrada a alma arbitrária; naquela

alma reconheci-me a mim própria. Senti em mim a sombra do orgulho, e

desfiz-me em pó diante de Sua Majestade e, com o coração despedaçado,

pedi-Lhe perdão. Mas Jesus não me permitiu permanecer muito tempo em

tal disposição, mas o Seu divino olhar encheu a minha alma com um gozo

tão grande que não encontro palavras para exprimi-lo. E Jesus disse-me que

devia perguntar-Lhe e consultá-Lo mais. De verdade, que doce é o olhar do

meu Senhor. O Seu olhar penetra na minha alma até aos lugares mais

profundos, o meu espírito comunica com Deus sem pronunciar uma só

palavra; sinto que Ele vive em mim e eu n’Ele.

 

561. Uma vez vi aquela imagem [em] uma pequena capela e num

momento vi que aquela capelinha se transformou num templo grande e

belo, e naquele templo vi a Santíssima Virgem com o Menino nos braços.

Depois o Menino Jesus desapareceu dos braços da Virgem e vi uma imagem

viva de Jesus crucificado. A Virgem disse-me que me comportasse como

Ela: mesmo nas alegrias, eu deveria ter sempre os olhos fixos na cruz e

disse-me também que as graças que Deus me concedia não eram somente

para mim mas também para outras almas.

 

562. O Menino Jesus que vejo durante a Santa Missa não é sempre igual,

às vezes muito alegre, às vezes não olha para a capela. Agora, a maioria das

vezes está alegre quando o nosso confessor celebra a Santa Missa.

Surpreendi-me muito ao ver quanto o amava o pequeno Menino Jesus. Às

vezes vejo-O com uma camisita de cor.

 

563. Antes de vir para Vilna e antes de conhecer este confessor, uma vez

tinha visto uma igreja não muito grande e junto a ela esta Comunidade. O

convento tinha doze celas, cada religiosa tinha a sua cela pessoal. Vi o

sacerdote que ajudava na organização do convento e que conheci uns anos

mais tarde, mas já o tinha conhecido em visão. Vi a sua grande abnegação

em organizar tudo naquele convento e ajudava-o outro sacerdote que não

conheci até agora. Vi as grades de ferro tapadas com um pano escuro. As

irmãs não saíam à igreja.

 

564. Dia da Imaculada Conceição da Virgem. Durante a Santa Missa

ouvi um sussurro de roupas e vi a Santíssima Virgem num misterioso, belo

esplendor. Tinha uma túnica branca com uma faixa azul e disse-me: DásMe uma grande alegria adorando a Santíssima Trindade pelas graças e

privilégios que Me foram concedidos, e logo desapareceu.

 

565. Sobre as penitências e mortificações.

Em primeiro lugar estão as mortificações interiores, mas além delas

praticaremos as mortificações exteriores, definidas exactamente para que as

pratiquem todas. Estas são: três dias por semana observaremos o jejum

rigoroso. Estes dias são: sexta-feira, sábado e quarta-feira. Todas as sextasfeiras, durante o tempo necessário para rezar o salmo 50, submeter-se-ão à

disciplina, todas ao mesmo tempo nas suas próprias celas, às três da

tarde, pelos pecadores agonizantes. Durante os dois grandes jejuns,

como nos dias do trimestre e nas vigílias, a refeição consistirá

em: uma vez ao dia um pedaço de pão e um pouco de água.

 

Que cada uma trate de praticar estas mortificações que estão prescritas

para todas, mas se alguma irmã deseja algo mais, peça licença à Superiora.

Mais uma mortificação geral: nenhuma irmã pode entrar na cela de outra

sem licença especial da Superiora, mas a Superiora deve às vezes entrar

inadvertidamente nas celas das irmãs, não para espiar, mas no espírito de

amor e responsabilidade que tem perante Deus; nenhuma fechará nada à

chave, a Regra será a chave geral para todas.

 

566. Um dia, depois da Santa Comunhão vi repentinamente o Menino

Jesus que estava junto ao meu genuflexório, a que se agarrava com as duas

mãozinhas. Mesmo sendo um Menino pequeno, no entanto, senti timidez e

medo, vendo n’Ele o meu Juiz, Senhor e Criador, perante cuja santidade

tremem os Anjos e, por outro lado, a minha alma foi inundada do amor

inconcebível e pareceu-me que morria sob o seu influxo. Agora vejo que

Jesus fortalece primeiro a minha alma e torna-a capaz de conviver com Ele,

porque de outro modo não poderia suportar o que estou experimentando

neste momento.

 

567. O comportamento das irmãs para com a Superiora.

Todas as irmãs devem respeitar a Superiora como ao próprio Senhor

Jesus, conforme referi falando do voto da obediência. Que se portem com

confiança infantil, sem murmurar nunca nem criticar as suas ordens, porque

isso desagradaria muito a Deus. Que cada uma se guie pelo espírito de fé

para com as Superioras, que peça com simplicidade tudo o que necessitar.

Deus nos guarde, e que nunca se repita nem aconteça que alguma das irmãs

seja motivo de tristeza ou de lágrimas da Superiora. Que cada uma tenha

presente que, como o quarto mandamento obriga os filhos a respeitar os

pais, o mesmo se refere à religiosa para com a Superiora. Não é boa a

religiosa que se permite e se atreve a julgar a Superiora. Que sejam sinceras

com a Superiora e lhe falem de tudo e das suas necessidades com a

simplicidade de uma criança.

 

As irmãs dirigir-se-ão à sua Superiora deste modo: por favor, Irmã

Superiora. Nunca lhe beijarão a mão, mas cada vez que a encontrem no

corredor, como também quando forem à cela da Superiora, dirão: Louvado

seja Jesus Cristo, inclinando um pouco a cabeça.

As irmãs entre si dirão: Por favor, Irmã, acrescentando o nome. O

respeito à Superiora deve guiar-se pelo espírito de fé e não com

sentimentalismo nem com adulação, pois isso é indigno de uma religiosa e

muito a rebaixaria. Uma religiosa deve ser livre como uma rainha, e sê-lo-á

se vive em espírito de fé. Devemos escutar e respeitar a Superiora não por

ser boa, santa, prudente; não, não por tudo isto, mas somente porque para

nós ocupa o lugar de Deus e escutando-a é ao próprio Deus que se obedece.

 

568. O comportamento da Superiora para com as irmãs.

A Superiora deve distinguir-se pela humildade e amor para cada irmã,

sem excepção alguma.

Que não se deixe guiar por simpatia ou por antipatia, mas pelo espírito

de Cristo. Deve saber que Deus lhe pedirá conta de cada irmã. Que não faça

sermões às irmãs, mas que dê o exemplo de uma profunda humildade e o de

negação a si própria, pois este será o ensino mais eficaz para as que

dependem dela. Que seja firme, mas nunca brusca; que tenha paciência se a

cansam com as mesmas perguntas, embora tenha que repetir cem vezes a

mesma coisa, mas sempre com a mesma serenidade.

 

Que procure pressentir todas as necessidades das irmãs sem esperar que lhe peçam esta ou outra

coisa, porque são diversas as naturezas das almas. Se vê que alguma irmã

está triste ou sofredora, procure ajudá-la de qualquer maneira e consolá-la;

que ore muito e peça luz para saber como actuar com cada uma delas,

porque cada alma é um mundo diferente. Deus tem distintos modos para

tratar com as almas que, às vezes, para nós, são incompreensíveis e

inconcebíveis; por isso a Superiora deve ser prudente para não estorvar a

acção de Deus em nenhum alma.

 

Que nunca admoeste as irmãs quando está

nervosa, além de que as censuras devem sempre ser acompanhadas por

palavras de estímulo. Há que dar a conhecer à alma o seu erro, para que o

reconheça, mas não se deve desanimá-la. A Superiora deve distinguir-se por

um diligente amor pelas irmãs, deve tomar sobre si o peso para aliviar as

irmãs; que não exija nenhum tipo particular de serviços das irmãs, que as

respeite como esposas de Jesus e que esteja disposta a servi-las, tanto de dia

como de noite, antes pedindo que ordenando. Que tenha o coração aberto

aos sofrimentos das irmãs e que ela mesma estude e contemple seriamente o

livro aberto que é Jesus Crucificado.

 

Que sempre peça com fervor a luz e,

especialmente, quando tenha que solucionar alguma coisa de importância

com alguma irmã. Que tome cuidado para não entrar no âmbito das suas

consciências, porque neste campo é o sacerdote que tem a graça para tal;

mas se alguma alma sente necessidade de desafogar com a Superiora, então

a Superiora pode receber essas confidências, mas nunca esquecendo o

sigilo, porque nada desgosta mais uma alma que quando se diga a outros o

que ela disse em confidência, isto é em segredo. As mulheres têm sempre a

cabeça débil com respeito a isto; poucas vezes se encontra uma mulher com

a mente de homem. Procure uma profunda união a Deus e Deus governará

através dela. A Virgem Santíssima será a Superiora [208] deste convento e

nós seremos as suas filhas fiéis.

 

569. 15 XII 1935. Hoje, desde muito cedo, uma força misteriosa impeleme à acção, não me deixa em paz nem um momento; um ardor misterioso

acendeu-se no meu coração levando-me a agir, não consigo dominá-lo; é

um martírio silencioso conhecido somente por Deus, mas que Ele faça de

mim o que lhe agrade; o meu coração está disposto a tudo. Oh Jesus, meu

queridíssimo Mestre, não Te afastes de mim nem por um momento. Oh

Jesus, Tu sabes bem o débil que sou por mim própria, por isso sei que a

minha fraqueza Te obriga a estar constantemente comigo.

 

570. Uma vez vi o Senhor Jesus com uma túnica clara; isso foi na estufa

. Escreve o que te vou dizer: O Meu deleite é unir-Me a ti, espero

com grande anseio e intenso desejo este momento em que habitarei

sacramentalmente no teu convento. O meu espírito descansará naquele

convento, abençoarei especialmente as imediações onde estiver o

convento. Por amor para convosco afastarei todos os castigos que a

justiça do Meu Pai merecidamente aplica. Minha filha, inclinei o Meu

Coração para as tuas súplicas: a tua missão e dever aqui na Terra é

implorar a Misericórdia para o mundo inteiro.

 

Nenhuma alma encontrará justificação até que se dirija com confiança à Minha

Misericórdia e por isso o primeiro domingo depois da Páscoa há de ser

a Festa da Misericórdia. Nesse dia os sacerdotes devem falar às almas

sobre a Minha Misericórdia infinita. Nomeio-te dispensadora da Minha

Misericórdia. Diz ao teu confessor que a Imagem deve ser exposta na

igreja e não no convento, dentro da clausura. Por meio dessa Imagem

encherei as almas com muitas graças, por isso que todas as almas

tenham acesso a ela.

 

571. Oh meu Jesus, Verdade eterna, não tenho medo de nada, de

nenhumas dificuldades, de nenhums sofrimentos, temo somente uma coisa,

ofender-Te. Oh Jesus, preferiria não existir que entristecer-Te. Oh Jesus, Tu

sabes que o meu amor não conhece ninguém, somente a Ti, em Ti se afogou

a minha alma.

 

572. Oh, que grande deve ser o fervor de cada alma deste convento, se

Deus deseja morar connosco. Que cada uma tenha presente que se não

somos nós, almas religiosas, as que intercedem por Deus, então quem o

fará? Que cada uma arda como uma vítima pura de amor diante da

Majestade de Deus; mas para ser agradável a Deus, deve unir-se

estreitamente a Jesus; somente com Ele e por Ele podemos agradar a Deus.

 

573. 21 XII 1935. Uma vez o confessor disse que fosse visitar

aquela casa, se era a mesma que eu tinha conhecido em visão. Quando fui

com o meu confessor ver a casa, ou melhor as ruinas, com um só

relance reconheci que tudo era igual ao que tinha observado na visão.

Quando toquei as tábuas que estavam cravadas fazendo as vezes de porta,

no mesmo instante, uma força como um relâmpago penetrou a minha alma

dando-me a certeza absoluta.

 

Afastei-me depressa daquele lugar com a alma

cheia de alegria; parecia-me que alguma força me cravava naquele lugar.

Alegrei-me muito de ver uma inteira conformidade com a visão que tivera.

Quando o confessor falava do arranjo das celas e de outras coisas, encontrei

tudo idêntico ao que me tinha dito Jesus.

 

Alegro-me muito que Deus actue

por seu intermédio, mas não me surpreendo nada que Deus lhe dê tanta luz,

já que no coração puro e humilde mora Deus que é a Própria Luz e todos os

sofrimentos e todas as contrariedades existem para que se manifeste a

santidade da alma. Ao regressar a casa, entrei imediatamente na nossa

capela para descansar um momento e de repente ouvi na alma estas

palavras: Não tenhas medo de nada, Eu estou contigo, estes assuntos

estão nas Minhas mãos e serão realizados segundo a Minha

Misericórdia, e nada pode opor-se à Minha vontade.

 

574. Ano 1935, Vigília de Natal

Desde a primeira hora o meu espírito estava submergido em Deus, a Sua

presença trespassou-me por completo.

Ao anoitecer, antes de jantar, entrei um momento na capela para, aos pés

de Jesus, compartilhar o “oplatek” com os que estão longe, a quem Jesus

ama muito e a quem eu agradeço muito.

 

Enquanto estava compartilhando o “oplatek” em espírito com certa

pessoa, ouvi na alma estas palavras: O seu coração é, para Mim, o

paraíso na Terra. Quando saí da capela, num só momento envolveu-me a

omnipotência de Deus. Entendi quanto Deus nos ama; oh, se as almas

pudessem, pelo menos em parte, dar-se conta e compreender isto.

 

575. O dia de Natal

A Missa da Meia-noite. Durante a Santa Missa veio novamente o

pequeno Menino Jesus, extraordinariamente belo e que alegremente

estendia as mãozinhas para mim. Depois da Santa Comunhão ouvi estas

palavras: Eu sempre permaneço no teu coração, não somente no

momento em que Me recebes na Santa Comunhão, mas sempre. Vivi

estas festas com grande alegria.

 

576. Oh Santa Trindade, Deus eterno, o meu espírito submerge-se na

Tua beleza; para Ti os séculos não são nada.

Tu és sempre o Mesmo. Oh, que grande é a Tua Majestade. Oh Jesus,

¿qual é o motivo por que escondes a Tua Majestade, abandonaste o trono do

Céu e estás connosco? O Senhor respondeu-me: Minha filha, o amor

traíu-Me e o amor detém-Me. Oh Minha filha, se tu soubesses que

grande mérito e recompensa tem um só acto de amor puro para Mim,

morrerias de alegria.

 

Digo-to para que te unas a Mim constantemente

através do amor, porque esse é o fim da vida da tua alma; esse acto é

um acto de vontade; deves saber que a alma pura é humilde; quanto te

humilhas e te aniquilas perante a Minha Majestade, então persigo-te

com as Minhas graças, faço uso da omnipotência para te enaltecer.

 

577. Uma vez, quando o confessor me deu por penitência rezar um

Gloria, isso tomou-me muito tempo, mais de uma vez começava e não

chegava a terminar, porque o meu espírito se unia a Deus e não conseguia

estar presente em mim mesma. Com efeito, às vezes, apesar da minha

vontade, envolve-me a omnipotência de Deus e estou inteiramente

submergida n’Ele pelo amor, e então não sei o que passa à minha volta.

 

Quando disse ao confessor que esta breve oração me ocupava às vezes

muitíssimo tempo e que às vezes não conseguia rezá-la, o confessor

mandou-me rezá-la imediatamente no confessionário. No entanto o meu

espírito submergia-se em Deus e não conseguia pensar o que queria apesar

de fazer esforços. Então o confessor disse-me: Recite-a comigo. Repeti

cada palavra, mas enquanto repetia cada palavra, o meu espírito absorvia-se

na pessoa que nomeava.

 

578. Uma vez, Jesus disse-me de certo sacerdote que estes anos seriam

um adorno da sua vida sacerdotal. Os dias de sofrimento parecem sempre

mais longos, mas também eles passam, embora o façam devagar, de

maneira que às vezes nos parece que até andam para trás. Mas o seu fim

está próximo e depois há de chegar um gozo eterno e indizível. Eternidade,

¿Quem pode conceber e compreender ao menos esta palavra que provém de

Ti, oh Deus inconcebível, isto é, Eternidade?

 

579. Sei que, às vezes, as graças que Deus me concede são

exclusivamente para certas almas. Este conhecimento enche-me de uma

grande alegria; sempre me alegro com o bem de outras almas como se o

possuísse eu própria.

 

580. Uma vez o Senhor disse-me: Ferem-Me mais as pequenas

imperfecções das almas escolhidas que os pecados das almas que vivem

no mundo. Entristeci-me muito por Jesus padecer sofrimentos por causa

das almas escolhidas, e Jesus disse-me: Estas pequenas imperfeições, não

é tudo; desvendar-te-ei o segredo do Meu Coração, o que sofro por

parte das almas escolhidas: a ingratidão por tantas graças é o alimento

contínuo do Meu Coração por parte da alma eleita. O seu amor é tibio,

o Meu Coração não pode suportá-lo; estas almas obrigam-Me a rejeitálas.

Outras não têm confiança na Minha bondade e nunca querem sentir

a doce intimidade no seu coração, mas procuram-Me longe e não Me

encontram. Esta falta de confiança na Minha bondade é o que mais Me

fere. Se a Minha morte não as convenceu do Meu amor, ¿o que é que as

convencerá? Muitas vezes uma alma fere-Me mortalmente e então

ninguém Me consolará.

 

Fazem uso das Minhas graças para Me ofenderem. Há almas que

desprezam as Minhas graças e todas as provas do Meu amor; não

querem ouvir a Minha chamada, vão para o abismo infernal. A perda

destas almas mergulha-Me numa tristeza mortal. Em tais casos, apesar

de ser Deus, não posso ajudar nada a alma, porque ela Me despreza;

dispondo de livre vontade, pode desprezar- Me ou amar-Me. Tu,

dispensadora da Minha Misericórdia, fala ao mundo inteiro da Minha

bondade e com isto consolarás o Meu Coração.

 

581 Muitas mais coisas te direi quando falares Comigo no mais

íntimo do teu coração; ali ninguém pode impedir a Minha acção, é ali

onde descanso como num jardim cerrado.

 

582. O interior da minha alma é como um mundo grande e magnífico no

qual vivemos Deus e eu. Além de Deus ninguém mais tem acesso a ele. No

início desta minha vida com Deus dominava-me o temor e a

incompreensão. O Seu resplendor cegava-me e pensava que Ele não estava

no meu coração, no entanto eram nesses momentos que Deus trabalhava na

minha alma e o amor se tornava cada vez mais puro e mais forte; o Senhor

conduziu a minha vontade à mais estreita união com a sua santa vontade.

Ninguém pode entender o que estou vivendo neste magnífico palácio da

minha alma, onde estou continuamente com o meu Amadíssimo.

 

Nenhuma coisa exterior perturba a minha comunhão com Deus; embora

usasse as palavras mais fortes, não exprimiria nem sombra de como a minha

alma está embriagada de felicidade e de amor indizível, tão grande e tão

puro como a fonte de que brota, isto é, o próprio Deus. A alma é totalmente

embebida de Deus, sinto-o fisicamente e o corpo participa neste gozo;

embora sejam diversas as inspirações de Deus na mesma alma, no entanto

provêm da mesma fonte.

 

583. Numa ocasião vi Jesus sedento e a ponto de desfalecer, e disse-me:

Tenho sede. Quando lhe dei água, o Senhor tomou-a, mas não a bebeu e

desapareceu imediatamente; estava vestido como durante a Paixão.

 

584 Quando contemplas no fundo do teu coração o que te digo, tiras

um proveito muito maior que se lesses muitos livros. Oh, se as almas

quisessem escutar a Minha voz quando lhes falo no fundo dos seus

corações, em pouco tempo chegariam ao cume da santidade.

 

585. 8 I 1936. Quando fui falar com o Arcebispo disse-lhe que o

Senhor exigia de mim que eu reze, rogando a Divina Misericórdia para o

mundo, e que deveria ser criada uma Congregação que implorasse a Divina

Misericórdia para o mundo, e pedi que me desse autorização para tudo o

que Jesus queria de mim. O Arcebispo respondeu-me com estas palavras:

«Quanto às preces, irmã, dou-lhe licença e até a animo a rogar o mais

possível pelo mundo e impetrar para ele a Divina Misericórdia, porque

todos necessitamos da Misericórdia e seguramente tampouco o confessor

lhe impede, irmã, de rogar por esta intenção.

 

Quanto à Congregação, espere, irmã, que as coisas se ponham um pouco mais claras; esta Obra em

si é boa, mas não se deve ter pressa; se tal é a vontade de Deus, tarde ou

cedo, realizar-se-á. ¿Por que não?, existem tantas outras Congregações, pois

também esta surgirá, se Deus o quiser. Esteja completamente tranquila.

Jesus pode tudo; procure uma estreita união com Deus e esteja com bom

ânimo». Estas palavras deram-me grande alegria.

 

586. Ao afastar-me do Arcebispo, ouvi na alma estas palavras: Para

confirmar o teu espírito falo por meio dos Meus representantes, de

acordo com o que exijo de ti. Mas deves saber que nem sempre será

assim; contradizer-te-ão muitas coisas e através disso se manifestará a

Minha graça e que esta Obra é Minha; mas tu não tenhas medo de

nada, Eu estou sempre contigo. Hás de saber também, Minha filha, que

todas as criaturas, saibam ou não saibam, queiram ou não queiram,

acabam sempre por cumprir a Minha vontade.

 

587. Uma vez vi, de repente, o Senhor Jesus numa grande Majestade e

disse-me estas palavras: Minha filha, se quiseres, neste momento crio um

mundo novo mais belo do que este e passarás nele o resto dos teus dias.

Respondi: Não quero nenhum mundo, eu desejo-Te a Ti, oh Jesus, desejo

amar-Te com o amor com que Tu me amas; peço-Te uma coisa: Faz o meu

coração capaz de Te amar. Surpreende-me muito, meu Jesus, que faças tal

pergunta, porque na realidade ¿que faria eu com estes mundos embora mos

desses aos milhares? ¿Que proveito teria? Tu sabes bem, Jesus, que o meu

coração morre de nostalgia por Ti; tudo o que está sem Ti, para mim não é

nada. Naquele momento não vi nada, mas uma força envolveu a minha

alma e um estranho fogo incendiou o meu coração, e entrei numa espécia de

agonia por Ele; então ouvi estas palavras: A nenhuma alma Me uno tão

estreitamente e deste modo como a ti e isto pela profunda humildade e

amor ardente que tens por Mim.

 

588. Uma vez ouvi no meu interior estas palavras: Percebo cada

batimento do teu coração; deves saber, Minha filha, que um olhar teu

para alguém Me feriria mais que muitos pecados cometidos por outra

alma.

 

589. O amor expulsa o temor da alma. Desde que amei a Deus com todo

o meu ser, com toda a força do meu coração, desde então cedeu o temor e

embora me falem da sua justiça, não lhe tenho medo em absoluto, porque o

conheci bem: Deus é Amor e o seu Espírito é a paz. E agora vejo que as

minhas obras inspiradas pelo amor são mais perfeitas que as obras que fiz

por temor. Pus a minha confiança em Deus e não tenho medo de nada,

entreguei-me totalmente à Sua santa vontade; que faça de mim o que quiser

e eu, de qualquer maneira, amá-Lo-ei sempre.

 

590. Quando recebo a Santa Comunhão, peço e suplico ao Salvador que

cure a minha língua para que nunca ofenda o amor do próximo.

 

591. Oh Jesus, Tu sabes quão ardente é o meu desejo de esconder-me

para que ninguém me conheça, excepto o Teu dulcíssimo Coração. Desejo

ser uma pequenina violeta, escondida entre as ervas, desconhecida num

magnífico jardim cerrado, onde crescem esplêndidas rosas e lírios. A bela

rosa e o maravilhoso lírio deixam-se ver ao longe, mas para ver a pequena

violeta há que inclinar-se muito, só o seu perfume permite descobri-la. Oh,

quanto me alegro de poder esconder-me assim. Oh meu Divino Esposo,

para Ti são a flor do meu coração e o perfume do meu puro amor. A minha

alma perdeu-se em Ti, Deus eterno, desde o momento em que Tu Próprio

me atraíste para Ti;

 

592. Oh meu Jesus, quanto mais Te conheço, tanto mais fervorosamente

Te desejo. Conheci, no Coração de Jesus, que para as almas escolhidas no

Céu há outro Céu a que não todos têm acesso, mas somente as almas

escolhidas. Uma felicidade inconcebível na que será submergida a alma. Oh

meu Deus, não consigo descrevê-lo nem sequer numa mínima parte. As

almas são penetradas pela Sua divindade, passam de claridade em claridade,

luz imutável, mas nunca monótona, sempre nova, e que nunca se altera. Oh

Santa Trindade, deixa-Te conhecer pelas almas.

 

593. Oh meu Jesus, não há nada melhor para uma alma que as

humilhações. No desprezo está o segredo da felicidade; quando a alma

chega a conhecer que é uma nulidade, a miséria personificada, e que tudo o

que tem de bom em si mesma é exclusivamente dom de Deus, quando a

alma vê que tudo o que tem em si lhe foi dado gratuitamente e que de si

própria tem apenas a miséria, então mantém-se continuamente humilde

diante da Majestade de Deus; e Deus, vendo tal disposição da alma,

persegue-a com as Suas graças.

 

Quando a alma aprofunda o abismo da sua

miséria, Deus faz uso de Sua omnipotência para a enaltecer. Se há na Terra

uma alma verdadeiramente feliz, esta é somente uma alma verdadeiramente

humilde. Ao princípio o amor próprio sofre muito por causa disso, mas se a

alma enfrenta valorosamente repetidos combates, Deus concede-lhe muita

luz na qual ela vê o miserável e enganoso que é tudo. No seu coração está

apenas Deus; uma alma humilde não confia em si mesma, mas põe a sua

confiança em Deus. Deus defende a alma humilde e Ele Mesmo se introduz

nas suas coisas e então a alma permanece na máxima felicidade que

ninguém poderá compreender.

 

594. Uma noite veio ter comigo uma das irmãs defuntas que já antes

tinha chegado a ver-me algumas vezes; na primeira vez vi-a num estado de

grande sofrimento, depois os sofrimentos eram cada vez menores e, naquela

noite, vi-a resplandecente de felicidade e disse-me que já estava no paraíso;

disse-me que Deus provou esta casa com aquela tribulação porque a Madre

Geral tinha duvidado, não prestando fé ao que eu tinha dito desta alma. Mas

agora, como sinal de que agora está no Céu, Deus abençoará esta casa.

Depois aproximou-se a mim e abraçou-me cordialmente e disse: «Tenho de

partir já».

Compreendi a estreita união que há entre estas três etapas da vida das

almas, isto é, a Terra, o Purgatório e o Céu.

 

595. Notei que muitas vezes Deus submete algumas pessoas a provações

porque, segundo me disse, não lhe agrada a incredulidade. Uma vez, ao ver

que Deus pôs à prova um Arcebispo que estava mal disposto e não cria

nesta causa… tive pena e pedi a Deus por ele e o Senhor deu-lhe

alívio. A desconfiança desagrada muito a Deus e, por isso, algumas almas

perdem muitas graças. A desconfiança de uma alma fere o Seu dulcíssimo

Coração que está cheio de bondade e de amor inconcebível por nós; porque

é grande a diferença entre o dever do sacerdote que às vezes não deve crer,

mas para se convencer mais profundamente da veracidade dos dons ou das

graças em certa alma, e quando o faz para guiar melhor uma alma e

conduzi-la para uma mais profunda união com Deus; será grande e

incalculável a sua recompensa por isso. Mas menosprezar e desconfiar das

graças de Deus numa alma por não poder penetrá-las nem entendê-las, isto

não agrada ao Senhor. Sinto muito pelas almas que se encontram com

sacerdotes inexperientess.

 

596. Uma vez um sacerdote pediu-me que rezasse por sua

intenção; prometi rezar e pedi uma mortificação. Quando recebi licença

para certa mortificação, senti na alma o desejo de ceder naquele dia àquele

sacerdote todas as graças que a bondade de Deus me tinha destinado e pedi

a Jesus que se dignasse destinar-me todos os sofrimentos e todas as

tribulações exteriores e interiores que aquele sacerdote ia suportar naquele

dia. Deus aceitou em parte este meu desejo e imediatamente, sem saber de

onde, começaram a surgir distintas dificuldades e contrariedades até tal

ponto que uma das irmãs disse em voz alta estas palavras: «O Senhor Jesus

deve ter algum plano em que todos atormentem a Ir. Faustina».

 

As acusações que me faziam eram tão sem fundamento que algumas irmãs os

afirmavam e outras as negavam, enquanto eu, em silêncio, me oferecia por

aquele sacerdote. Mas isso não foi tudo; tive sofrimentos interiores.

Primeiro dominou-me uma aversão para as irmãs, depois começou a

atormentar-me uma estranha insegurança, não conseguia concentrar-me

para rezar, vários assuntos passavam pela minha cabeça causando-me

preocupações.

 

Quando, cansada, entrei na capela, uma estranha dor

estreitou a minha alma e comecei a chorar silenciosamente; então ouvi na

alma esta voz: Minha filha, ¿Por que choras? Se tu mesma te ofereceste

para este sofrimento; deves saber que o que tu assumiste por aquela

alma é apenas uma parte muito pequena. Ele sofre ainda mais. E

perguntei ao Senhor: ¿Por que Te comportas com ele deste modo? O senhor

respondeu-me que pela tripla coroa que lhe era destinada: da virgindade, do

sacerdócio e do martírio.

 

Naquele momento uma grande alegria dominou a

minha alma ao ver a grande glória que ele receberia no Céu. Então rezei o

Te Deum por esta singular graça de Deus, isto é, por ter sabido que

Deus se comporta assim com aqueles que deseja ter próximo de Si. Pois

todos os sofrimentos nada são, em comparação com o que nos espera no

Céu.

 

597. Um dia, depois da nossa Santa Missa, vi de repente o meu

confessor celebrando a Santa Missa na igreja de São Miguel, diante

da imagem de Nossa Senhora. Estava no ofertório da Santa Missa e vi o

pequeno Menino Jesus que se estreitava a ele como se estivesse fugindo de

alguma coisa, nele buscando refúgio. Mas ao chegar o momento da Santa

Comunhão, desapareceu como sempre. De repente vi a Santíssima Virgem

que o cobriu com o seu manto e disse: Ânimo, Meu filho; coragem, meu

Filho. E disse algo mais que não consegui ouvir.

 

 

598. Oh, que ardente é o meu desejo de que cada alma glorifique a Tua

Misericórdia. Feliz a alma que invoca a Misericórdia do Senhor;

experimentará o que disse o Senhor, isto é, que a defenderá como a sua

glória, ¿e quem se atreve a lutar contra Deus? Que toda a alma exalte a

Misericórdia do Senhor com a confiança na Sua Misericórdia, durante toda

a sua vida e especialmente na hora da morte.

 

Alma querida, não tenhas medo de nada, quem quer que sejas; e quanto

maior é o pecador, tanto mais direito tem à Tua Misericórdia, Senhor. Oh

bondade inconcebível, Deus é o primeiro em humilhar-se diante do pecador.

Oh Jesus, desejo glorificar a Tua Misericórdia com milhares de almas. Eu

sei bem, oh Jesus, que devo falar às almas da Tua bondade, da Tua

inconcebível Misericórdia.

 

599. Em certa ocasião uma pessoa pediu-me para rezar por ela; quando

me encontrei com o Senhor, disse-lhe estas palavras: Jesus, eu amo

especialmente as almas que Tu amas. E Jesus respondeu-me com estas

palavras: E Eu concedo graças especiais às almas pelas quais tu

intercedes diante de Mim.

 

600. Jesus defende-me de maneira misteriosa, na verdade, é uma grande

graça de Deus que experimento desde há muito tempo.

 

601. Uma vez, quando uma das irmãs adoeceu e estava a ponto de

morrer, reuniu-se toda a Comunidade e estava também presente um

sacerdote que deu a absolvição à enferma; subitamente vi uma multidão de

espíritos das trevas. Naquele momento, esquecendo-me que estava em

companhia das irmãs, agarrei no aspersório e aspergi-os com água benta e

desapareceram imediatamente. Mas quando as irmãs vieram para o

refeitório, a Madre Superiora chamou-me a atenção para que não

deveria ter aspergido a doente na presença do sacerdote, a quem

correspondia tal função. Aceitei a censura com espírito de penitência, mas a

água benta dá um grande alívio aos moribundos.

 

602. Oh meu Jesus, Tu vês o débil que sou por mim mesma, por isso

dirige Tu Mesmo todas as minhas coisas.

Sabes, oh Jesus, que sem Ti não me aproximo de nenhum problema, mas

Contigo afrontarei as coisas mais difíceis.

 

603. 29 I 1936. À noite, estando eu na minha cela, vi repentinamente

uma grande claridade e no alto desta claridade uma enorme cruz cinzenta

escura e de imediato fui atraída para próximo desta cruz; mas olhando-a

fixamente não compreendia nada e rezava [para perceber] o que significava.

 

De repente vi Jesus e a cruz desapareceu. O Senhor Jesus estava sentado

entre uma grande luz, os pés e as pernas até aos joelhos fundiam-se nesta

luz, de modo que não os via. Jesus inclinou-se para mim, olhou-me

amavelmente e falou-me sobre a vontade do Pai Celestial. Disse-me que a

alma mais perfeita e santa é aquela que cumpre a vontade do Pai, mas são

poucas estas almas. Com um amor especial olha a alma que vive segundo a

sua vontade; e Jesus disse-me que eu cumpro a vontade de Deus de modo

perfeito, isto é, perfeitamente e por isso Me uno a ti e Me relaciono

contigo de uma maneira tão especial e tão estreita. Deus envolve com

um amor inconcebível a alma que vive segundo a sua vontade. Compreendi

quanto Deus nos ama, quão simples é, embora incomprensível, que fácil é

tratar com Ele embora a Sua Majestade seja tão grande. Com ninguém me

relaciono tão fácilmente e com tanta desenvoltura como com Ele; nem

sequer a mãe natural com o seu filho, que ama sinceramente, se entendem

tão bem como a minha alma com Deus. Enquanto estava nesta união com o

Senhor, vi duas pessoas, não estando escondido de mim o seu íntimo; que

triste o estado destas almas!, mas confio em que também elas glorificarão a

Misericórdia do Senhor.

 

604. No mesmo momento vi também certa pessoa e em parte o

estado da sua alma, bem como as grandes provações que Deus enviava a

esta alma; esses sofrimentos eram mentais e com tal intensidade que tive

pena e disse ao Senhor: ¿Por que o tratas assim? Pela sua tripla coroa. E o

Senhor deu-me a conhecer a glória inefável que espera a sua alma, que é

semelhante a Jesus sofredor aqui na Terra; tal alma será semelhante a Jesus

na Sua glória. O Pai Celestial honrará e amará as nossas almas tanto quanto

veja em nós a semelhança a Seu Filho.

 

Compreendi que esta semelhança com Jesus nos é dada aqui na Terra.

Vejo almas puras e inocentes às quais Deus administra a Sua Justiça e estas

almas são as vítimas que sustentam o mundo e completam o que faltou à

Paixão de Jesus; são poucas estas almas. Alegro-me enormemente por Deus

me ter permitido conhecer tais almas.

 

605. Oh Santa Trindade, Deus eterno, agradeço-Te por me teres

permitido conhecer a grandeza e a diferença entre os graus da glória que

dividem as almas. Oh, que grande é a diferença entre um só grau de mais

profundo conhecimento de Deus. Oh, se as almas podessem sabê-lo. Oh

meu Deus, se pudesse conquistar mais um, suportaria com gosto todos os

tormentos que padeceram [todos] os mártires juntos. Na verdade, todos

estes tormentos me parecem nada em comparação com a glória que nos

espera por toda a eternidade.

 

Oh Senhor, submerge a minha alma no oceano

da Tua divindade e concede-me a graça de Te conhecer, porque quanto

melhor Te conheço, tanto mais fervorosamente Te desejo, e o meu amor por

Ti fortalece-se. Sinto na minha alma um abismo insondável que somente

Deus preenche; desfaço-me n’Ele, como uma gota no oceano; o Senhor

baixou até à minha miséria como um raio de sol para a Terra infértil e

rochosa e, no entanto, sob o poder dos seus raios, a minha alma cobriu-se de

verdura, de flores e de frutas e converteu-se num belo jardim para o Seu

descanso.

 

606. Oh meu Jesus, apesar das Tuas graças, sinto e vejo toda a minha

miséria. Começo o dia lutando e termino-o lutando; quando transponho uma

dificuldade, em seu lugar surgem dez para ultrapassar, mas não me aflijo

por isso, porque sei muito bem que este é o tempo da luta e não da paz.

Quando a luta se faz tão dura que supera as minhas forças, espero, como

uma criança, nos braços do Pai Celestial e tenho confiança que não

perecerei. Oh meu Jesus, sou tão propensa ao mal e isso obriga-me a vigiarme continuamente, mas nada me desalenta; confio na graça de Deus, que

sobeja onde a miséria é maior.

 

607. Entre as maiores dificuldades e contrariedades não perco a paz

interior nem o equilíbrio no exterior e isto desanima os adversários. No

meio das contrariedades, a paciência reforça a alma.

 

608. 2 de Fevereiro[1936]. De manhã, ao despertar-me ao som da

campainha, senti um sono tão grande que não conseguia acordar de todo;

dei um salto para a água fria e dois minutos depois o sono desapareceu. Na

meditação surgiu na minha cabeça toda uma confusão de pensamentos

inúteis e lutei durante toda a meditação. O mesmo ocorreu durante as

preces, mas quando começou a Santa Missa, na minha alma reinou uma

estranha calma e alegria. Nesse momento vi a Santíssima Virgem com o

Menino Jesus e o Santo Avôzinho, que estava detrás de Nossa

Senhora. A Santíssima Virgem disse-me: Aqui tens o tesouro mais precioso.

E deu-me o Menino Jesus. Quando recebi nos braços o Menino Jesus, a

Virgem e São José desapareceram; fiquei só com o Menininho Jesus: DisseLhe:

 

609. Sei que és o meu Senhor e Criador, apesar de ser tão pequeno. Jesus

estendeu os seus bracinhos e olhava-me sorrindo; o meu espírito estava

cheio de um gozo incomparável. De repente Jesus desapareceu e a Santa

Missa chegou ao momento da Santa Comunhão. Fui imediatamente com

outras irmãs tomar a Santa Comunhão com a alma cheia [da Sua presença].

Depois da Santa comunhão ouvi na alma estas palavras: Eu sou, no teu

coração, o mesmo que tiveste nos teus braços. Então pedi ao senhor por

certa alma para que lhe concedesse a graça na luta e lhe tirasse essa

prova. Será feito como pedes, mas o seu mérito não diminuirá. Uma

alegria reinou na minha alma por Deus ser tão bom e tão misericordioso;

Deus concede tudo o que pedimos com confiança.

 

610. Depois de cada conversa com o Senhor a minha alma é

singularmente fortalecida, uma profunda calma reina na minha alma e me

faz tão corajosa que não temo nada no mundo; tenho um só temor, o de

entristecer Jesus.

 

611. Oh meu Jesus, peço-Te pela bondade do Teu dulcíssimo Coração,

que se acalme a Tua ira e nos mostres a Tua Misericórdia. Que as Tuas

chagas sejam o nosso escudo perante a justiça do Teu Pai. Conheci-Te, oh

Deus, como uma Fonte de Misericórdia com que se anima e alimenta cada

alma. Oh, que grande é a Misericórdia do Senhor, por cima de todos os seus

atributos; a Misericórdia é o maior atributo de Deus, tudo o que me rodeia

me fala disso. A Misericórdia é a vida das almas, a sua compaixão é

inesgotável. Oh Senhor, olha para nós e trata-nos segundo a Tua piedade

infinita, segundo a Tua grande Misericórdia.

 

612. Uma vez tive dúvidas sobre se o que me tinha sucedido não tivesse

ofendido gravemente Jesus. Como não conseguia esclarecer-me, decidi não

me aproximar da Santa Comunhão antes de confessar-me, embora

imediatamente tivesse feito um acto de contrição, porque tenho a costume

de que depois da menor falta me exercito na contrição. Nos dias em que não

me aproximava da Santa Comunhão não sentia a presença de Deus, sofria

indescritivelmente por causa disso, mas suportava-o como castigo pelo

pecado. No entanto, durante a confissão recebi uma admoestação, pois

podia aproximar-me da Santa Comunhão, já que o que me tinha sucedido

não era um impedimento para a receber. Depois da confissão recebi a Santa

Comunhão, e vi Jesus que me disse estas palavras: Deves saber, Minha

filha, que não te unindo a Mim na Santa Comunhão Me desagradaste

mais que [cometendo] aquela pequena falta.

 

613. Um dia vi uma pequena capela e dentro dela seis irmãs que estavam

recebendo a Santa Comunhão, administrada pelo nosso confessor vestido

com uma sobrepeliz e uma estola. Naquela capela não havia nem

adornos nem genuflexórios; depois da Santa Comunhão vi o Senhor Jesus

como aparece na imagem. Jesus estava caminhando e eu chamei: ¿Senhor,

como podes passar e não me dizer nada? Eu não farei nada sem Ti, tens que

ficar comigo e abençoar-me, a esta Comunidade e à minha Pátria. Jesus fez

a sinal da cruz e disse: Não tenhas medo de nada. Eu estou sempre

contigo.

 

614. Nos dois últimos dias antes da Quaresma, junto com as alunas

, tivemos uma hora de adoração reparadora. Durante essas horas vi o

Senhor Jesus com o aspecto que teve depois da flagelação; a dor que

estreitou a minha alma era tão grande que tinha a sensação de experimentar

todos estes tormentos no meu próprio corpo e na minha própria alma.

 

615. 1 III 1936. Nesse dia, durante a Santa Missa, envolveu-me uma

estranha força e um impulso para que me pusesse a realizar os desejos de

Deus. Surgiu-me uma compreensão tão clara das coisas que o senhor

exigia de mim que se dissesse, ou me justificasse, dizendo que não

compreendia o que o Senhor exigia de mim, mentiria. Porque o Senhor dáme a conhecer a sua vontade explícita e claramente e nestas coisas não

tenho nem uma sombra de dúvida.

 

E compreendi que seria a maior

ingratidão diferir mais esta questão que o Senhor quer realizar para a sua

glória e para o proveito de um grande número de almas, servindo-Se de

mim como de um miserável instrumento pelo qual há de realizar os seus

eternos planos de Misericórdia. Na verdade, seria muito ingrata a minha

alma se se opusesse mais tempo à vontade de Deus. Já nada me detém nisto:

nem a perseguição, nem o sofrimento, nem o escárnio, nem ameaças, nem

súplicas, nem a fome, nem o frio, nem lisonjas, nem amizades, nem

contrariedades, nem os amigos, nem os inimigos, nem coisas que estou

vivendo agora, nem coisas que virão, nem o ódio do Inferno; nada me

impedirá de cumprir a vontade de Deus.

 

Não me apoio nas minhas próprias forças, mas na sua omnipotência,

porque se me deu a graça de conhecer a sua santa vontade, assim também

me concederá a graça de a poder cumprir. Não posso deixar de dizer quanto

se opõe a esta aspiração a minha própria natureza desprezível, que se

apresenta com as suas ambições e, por vezes, na minha alma desencadeia-se

uma luta tão grande que, como Jesus no Horto das Oliveiras, também eu

grito ao Pai Eterno: Se é possível afasta de mim este cálice, mas não como

eu quero mas como Tu queres, oh Senhor, que se faça a Tua vontade.

 

Não é um segredo para mim tudo o que terei que passar, mas com pleno

conhecimento aceito tudo o que me enviares, Senhor. Confio em Ti, Deus

misericordioso, e desejo ser a primeira a mostrar a confiança que exiges das

almas. Oh Verdade Eterna, ajuda-me e ilumina o caminho da minha vida e

faz que se cumpra em mim a Tua vontade.

 

Não desejo nada mais que cumprir a Tua vontade, Deus meu; não

importa se me será fácil ou difícil. Sinto que uma força misteriosa me

conduz à acção, mas uma só coisa me detém, a santa obediência. Oh meu

Jesus, por um lado apressas-me e, por outro, travas-me. Oh meu Jesus, que

nisto também se faça a Tua vontade. Em tal estado permaneci durante

alguns dias, sem interrupção; as forças físicas diminuiram e embora não

dissesse nada a ninguém, a Madre Superiora notou o meu sofrimento

e disse: «notei que a irmã está alterada e muito pálida». Recomendou-me

deitar-me mais cedo e dormir mais tempo e mandou que à noite me

trouxessem um copo de leite quente.

 

O seu coração carinhoso e

verdadeiramente materno desejava ajudar-me, mas as coisas exteriores não

influem nos sofrimentos do espírito, e não aliviou muito. No confessionário

tirava forças e consolo de que já não esperaria muito para pôr-me à obra.

616. Na quinta-feira, quando fui à minha cela, vi por cima de mim a

Sagrada Hóstia num grande esplendor. De repente ouvi a voz que me

parecia sair sobre a Hóstia: Nela está a tua força, ela te defenderá.

 

Depois destas palavras a visão desapareceu, mas na minha alma ficou

uma força e alguma luz misteriosa sobre em que consiste o nosso amor por

Deus; precisamente em cumprir a Sua vontade.

 

617. Oh Santa Trindade, Deus eterno, desejo resplandecer na coroa da

Tua Misericórdia como uma pedra pequenina cuja beleza depende da luz do

Teu raio e da Tua Misericórdia inconcebível. Tudo o que há de belo na

minha alma, é Teu, oh Deus; eu, por mim, sou sempre nada.

 

618. No começo da Quaresma pedi ao meu confessor uma mortificação

para aquele período quaresmal e recebi a de não reduzir na alimentação,

mas de meditar durante as refeições sobre como Jesus, na cruz, aceitou o

vinagre com fel: seria essa a mortificação. Não sabia que dela tiraria tão

grande proveito para a minha alma. O proveito consistia em que meditava

continuamente na sua dolorosa Paixão e, quando estava a comer, não

distinguia o que comia porque estava ocupada com a morte do meu Senhor.

 

619. Ao começo da Quaresma pedi também a alteração do exame

especial de consciência e recebi isto: que tudo o que ia fazer, seria com a

pura intenção de reparação pelos pecadores. Isto mantém-me numa

contínua união com Deus e esta intenção torna mais perfeitas as minhas

acções, já que tudo o que faço, faço-o pelas almas imortais. Todas as penas

e todas as fadigas nada são quando penso que servem para reconciliar as

almas pecadoras com Deus.

 

620. Maria [é] a minha instrutora, que me ensina sempre como viver

para Deus. O meu espírito resplandece na Tua doçura e humildade, oh

Maria.

 

621. Uma vez, quando entrei na capela para cinco minutos de adoração e

rezei por certa alma, compreendi que nem sempre Deus aceita as nossas

preces por aquelas almas pelas quais rogamos, mas que as destina a outras

almas, e não lhes levamos alívio nas penas que sofrem no fogo do

Purgatório; no entanto a nossa prece não se perde.

 

622. A relação confidencial da alma com Deus. Deus aproxima-se da

alma de maneira especial, só conhecida por Deus e pela alma. Ninguém se

dá conta desta união misteriosa, é o amor que preside a esta união e

somente o amor realiza tudo. Jesus entrega-Se à alma de maneira suave,

doce, revelando profunda serenidade. Jesus concede-lhe muitas graças e fála capaz de compartilhar os Seus pensamentos eternos, e às vezes revela à

alma os Seus desígnios divinos.

 

623. Quando o Padre Andrasz me disse que seria bom que na Igreja de

Deus existisse um grupo de almas que pedissem a Divina Misericórdia,

porque, na realidade, todos necessitamos da Misericórdia, [227] depois

destas suas palavras penetrou na minha alma uma luz singular. Oh, que bom

é o Senhor.

 

624. 18 III 1936. Uma vez pedi a Jesus que Ele Mesmo desse o primeiro

passo com alguma modificação ou com algum acto exterior, ou que me

expulsassem, porque eu só não era capaz de abandonar esta Congregação, e

neste estado de ânimo estive agonizando mais de três horas. Não conseguia

rezar, mas submeti a minha vontade à vontade de Deus. Na manhã seguinte,

a Madre Superiora disse-me que a Madre Geral me transferira

para Varsóvia.

 

Respondi à Madre que talvez fosse melhor que saísse [da

Congregação] ali mesmo, imediatamente. Considerava que aquela era o

sinal exterior que tinha pedido a Deus. A Madre Superiora não me

respondeu a isto, mas um momento depois voltou a chamar-me e disse:

«Sabe irmã, vá, apesar de tudo; não pense que a viagem será um tempo

perdido embora tivesse de voltar imediatamente». Respondi: De acordo,

irei; apesar de que a dor me trespassou a alma, porque sabia que nesta

viagem, o assunto se adiaria; no entanto, apesar de tudo, sempre procuro ser

obediente.

 

625. À noite, enquanto rezava, a Virgem disse-me: A vossa vida deve ser

semelhante à minha, silenciosa e escondida; devem unir-se continuamente

a Deus, rogar pela humanidade e preparar o mundo para a segunda vinda

de Deus.

 

626. À noite, durante a Bênção, por um momento a minha alma

esteve em contacto directo com Deus Pai; senti que estava nos Seus braços

como uma criança e ouvi na alma estas palavras: Não tenhas medo de

nada, Minha filha, todos os adversários ficarão destruídos a Meus pés.

Com estas palavras entraram na minha alma uma profunda serenidade e um

extraordinário silêncio interior.

 

627. Quando me queixava ao Senhor de que me tirava esta ajuda e de

que ficaria só outra vez, sem saber como actuar, ouvi estas palavras: Não

tenhas medo, Eu estou sempre contigo. Depois destas palavras uma

profunda paz entrou outra vez na minha alma. A Sua presença penetrou-me

totalmente de maneira sensível. O meu espírito foi inundado de luz e

também o corpo participou nisto.

 

628. Na noite do último dia em que ia partir para Vilna, uma irmã,

de idade já avançada, revelou-me o estado da sua alma; disse-me que há um

par de anos sofria interiormente, que lhe parecia que todas as confissões

tinham sido mal feitas e que tinha dúvidas se Jesus lhe tinha perdoado.

Perguntei-lhe se tinha falado disso alguma vez ao confessor. Respondeu que

já muitas vezes tinha falado disso ao confessor e sempre os confessores

diziam que ficasse tranquila; «no entanto, sofro muito e nada me dá alívio, e

sempre me parece que Deus não me perdoou».

 

Respondi-Lhe: Obedeça,

irmã, ao confessor e esteja completamente tranquila, porque seguramente é

uma tentação. No entanto, ela com lágrimas nos olhos, suplicou que

perguntasse a Jesus se a tinha perdoado e se as suas confissões tinham sido

boas ou não. Respondi-Lhe energicamente: Pergunte a irmã mesma, se não

crê nos confessores. Mas ela agarrou a minha mão e não queria deixar-me

até que dissesse que rezaria por ela e lhe relataria o que Jesus me

respondesse.

 

Chorando amargamente não queria deixar-me e disse-me: «Eu

sei, irmã, que Jesus lhe fala». E eu sem poder libertar-me dela. À noite,

durante a Bênção, ouvi na alma estas palavras: Diz-lhe que a sua

desconfiança fere mais o Meu Coração que os pecados que cometeu.

Quando lhe contei pôs-se a chorar como uma criança e uma grande alegria

entrou na sua alma. Compreendi que Deus desejava consolar esta alma por

meu intermédio, portanto, apesar de que isto me custou muito, cumpri o

desejo de Deus.

 

629. Quando, naquela mesma noite, entrei um momento na capela para

agradecer a Deus por todas as graças que me tinha concedido naquela casa,

de repente envolveu-me a presença de Deus. Senti-me como uma criança

nas mãos do melhor Pai e ouvi estas palavras: Não tenhas medo de nada.

Eu estou sempre contigo. O Seu amor penetrou-me por completo; senti

que entrava com Ele numa intimidade tão estreita que não tenho palavras

para a exprimir.

 

630. De repente vi junto a mim um dos sete espíritos, radiante como

antes, com aspecto luminoso; via-o continuamente junto a mim

quando ia no comboio. Via que sobre cada igreja que passavamos havia um

Anjo, mas numa luz mais pálida que a do espírito que me acompanhava na

viagem. E cada um dos espíritos que guardavam os templos, inclinava-se

ante o espírito que estava ao meu lado.

 

Em Varsóvia, quando entrei pela porta [do convento], o espírito

desapareceu; agradeci a Deus pela Sua bondade, por dar-nos Anjos como

companheiros. Oh, que pouco pensam as pessoas que têm sempre a seu lado

tal hóspede, que é uma testemunha de tudo. ¡Pecadores!, recordem que têm

uma testemunha das vossas acções.

 

631. Oh meu Jesus, a Tua bondade supera toda a inteligência e ninguém

esgotará a Tua Misericórdia. Perdição para a alma que quer perder-se,

porque para a que deseja salvar-se, para ela é o mar inesgotável da

Misericórdia do Senhor; ¿Como pode um recipiente pequeno conter em si

um mar insondável?…

 

632. Quando me despedia das irmãs e estava já para partir, uma das

irmãs, pediu-me muito que a perdoasse por me ter ajudado tão pouco nas

minhas obrigações, e não somente por não me ter ajudado, mas por ter

sempre procurado torná-las mais difíceis. No entanto, eu considerava-a

minha grande benfeitora porque me tinha exercitado na paciência.

 

Exercitava até tal ponto que uma das irmãs mais idosas se expressou assim:

«a Ir. Faustina é estúpida ou santa, porque, em verdade, uma pessoa normal

não suportaria que alguém sempre a contrariasse». Eu, no entanto,

aproximava-me sempre dela com amabilidade. Aquela irmã empenhava-se

tanto em fazer-me difícil o cumprimento das minhas obrigações que, apesar

dos meus esforços, mais de uma vez conseguiu estragar o que estava bem

feito, como ela mesma confessou na despedida, pedindo-me mil desculpas.

Sem querer analisar as suas intenções, tomei a coisa como uma prova de

Deus…

 

633. Estranha-me muitíssimo como é possível ter uma inveja tão grande.

Eu, vendo o bem de alguém, alegro-me como se eu mesma o tivesse, a

alegria dos outros é a minha alegria e o sofrimento dos outros é o meu

sofrimento, porque se não fosse assim não me atreveria a relacionar-me

com Jesus. O espírito de Jesus é sempre simples, manso, sincero; cada

malícia, inveja, falta de bondade ocultada sob um sorriso de afabilidade é

um diabito inteligente; uma palavra dura, mas que provém do amor sincero,

não fere o coração.

 

634. 22 III 1936. Ao chegar a Varsóvia, entrei um momento na pequena

capela para agradecer a Jesus pela viagem feliz e pedi ao Senhor a ajuda e a

graça em tudo o que me esperava, submetendo-me em tudo à sua santa

vontade. Ouvi estas palavras: Não tenhas medo de nada, todas as

dificuldades servirão para que se realize a Minha vontade.

 

635. Dia 25 de Março. Durante a meditação matutina envolveu-me a

presença de Deus de modo singular, enquanto reflectia sobre a grandeza

infinita de Deus e, ao mesmo tempo, sobre a sua condescendência com a

criatura. Então vi a Santíssima Virgem que me disse: Oh, como é agradável

a Deus a alma que segue fielmente a inspiração da sua graça. Eu dei ao

mundo o Salvador e tu deves falar ao mundo da sua grande Misericórdia e

preparar o mundo para a sua segunda vinda. Ele virá, não como Salvador

Misericordioso, mas como Justo Juiz. Oh, que terrível será esse dia. Já está

decidido o dia da justiça, o dia da ira divina.

 

Os Anjos tremem perante esse

dia. Fala às almas dessa grande Misericórdia, enquanto seja tempo para

conceder a Misericórdia. Se agora tu te calas, naquele dia tremendo

responderás por um grande número de almas. Não tenhas medo de nada,

permanece fiel até o fim, eu te acompanho com os meus sentimentos.

 

636. Quando cheguei a Walendów, uma das irmãs ao saudar-me

disse: Como a irmã chegou, então tudo irá bem agora. Perguntei-lhe:

¿Porque diz isso, irmã? E ela respondeu-me que o sentia dentro de si.

Aquela alma estava cheia de simplicidade e era muito agradável ao Coração

de Jesus. Efectivamente aquela casa estava numa extrema situação

económica… Não vou mencionar aqui tudo isso.

 

637. A confissão. Enquanto me preparava para a confissão, disse a Jesus

escondido no Santíssimo Sacramento: Jesus, peço-Te, fala-me pela boca

deste sacerdote e para mim o sinal será este: ele, naturalmente, não

sabe nada de que Tu, Jesus, exiges de mim esta fundação da Misericórdia;

pois que me diga algo sobre esta Misericórdia. Quando me aproximei do

confessionário e comecei a confissão, o sacerdote interrompeu-me a

confissão e começou a falar da grande Misericórdia de Deus com tanta

força que nunca antes ouvi falar assim, e perguntou-me: «¿Sabe que a

Misericórdia do Senhor está por cima de todas as suas obras, que é a coroa

das suas obras?»

 

Escutei atentamente aquelas palavras que o Senhor me

dizia pela boca daquele sacerdote. Embora creia que, sempre, no

confessionário, Deus fala pela boca do sacerdote, no entanto naquele

momento o constatei de modo especial. Apesar de que não revelei nada da

vida de Deus que tinha na minha alma e me acusei somente das faltas, no

entanto aquele sacerdote falou-me muito do que tinha na minha alma e me

comprometeu na fidelidade às inspirações de Deus. Disse-me: «Estás

caminhando pela vida com a Santíssima Virgem, que respondeu com

fidelidade a cada inspiração de Deus». Oh meu Jesus, quem consegue

compreender a Tua bondade?

 

638. Oh Jesus, afasta de mim os pensamentos que não concordem com a

Tua vontade. Vejo que nada me liga mais a esta Terra que esta Obra da

Misericórdia.

 

639. Quinta-feira. Durante a adoração da tarde, vi Jesus flagelado e

martirizado que me disse: Minha filha, desejo que dependas do confessor

nas coisas mais pequenas. Os teus maiores sacrifícios não Me agradam

se os fizeres sem licença do confessor e, pelo contrário, o mais pequeno

sacrifício tem uma grande importância a Meus olhos se tem licença do

confessor. As maiores obras não têm importância a Meus olhos se são

fruto do arbítrio próprio e muitas vezes não concordam com a Minha

vontade, merecendo mais castigo que recompensa; enquanto a mais

pequena das tuas acções com a licença do confessor é agradável a Meus

olhos e Me é intensamente querida.

 

Convence-te disto para sempre, vigia sem cessar, porque todo o

Inferno se empenha contra ti por causa desta Obra, já que muitas

almas se afastarão das portas do Inferno e glorificarão a Minha

Misericórdia. Mas não tenhas medo de nada, porque Eu estou contigo;

deves saber que por ti própria não podes nada.

 

640. Na primeira sexta-feira do mês, antes da Comunhão, vi um grande

cibório cheio de Hóstias consagradas.

Uma mão colocou esse cibório diante de mim; peguei nele - continha mil

Hóstias vivas. Depois ouvi uma voz: Estas Hóstias foram recebidas pelas

almas para as quais pediste a graça de uma sincera conversão durante

esta Quaresma. Isso foi uma semana antes de Sexta-feira Santa. Passei

aquele dia num profundo recolhimento interior, aniquilando-me pela

salvação das almas.

 

641. Oh, que alegria é aniquilar-se pelo bem das almas imortais. Sei que

um grãozito de trigo para se transformar em alimento deve ser destruído e

triturado entre as pedras do moinho, assim eu, para que seja útil à Igreja e às

almas, tenho que ser aniquilada, embora exteriormente ninguém se dê conta

do meu sacrifício. Oh Jesus, desejo estar escondida por fora, como esta

hóstia na qual os olhos não distinguem nada, e ser uma hóstia consagrada a

Ti.

 

642. Domingo de Ramos. Este domingo experimentei de maneira

singular os sentimentos do dulcíssimo Coração de Jesus; o meu espírito

estava ali onde estava Jesus. Vi Jesus montado num burrito, e os discípulos,

e uma grande multidão que ia alegre junto a Jesus com ramos nas mãos; e

alguns atiravam-nos para debaixo dos pés onde passava Jesus e outros

mantinham os ramos ao alto, brincando e saltando diante do Senhor sem

saber que fazer de alegria. E vi outra multidão que saíu ao encontro de

Jesus, com rostos igualmente alegres e com ramos nas mãos, gritando sem

cessar de alegria; havia também meninos pequenos, mas Jesus estava muito

sério; o Senhor deu-me a conhecer o muito que sofria naqueles momentos.

Eu não via mais nada a não ser Jesus, que tinha o Coração saturado da

ingratidão [dos homens].

 

643. Confissão trimestral. O Padre Bukowski. Quando uma força interior

me inquietou novamente a que não atrasasse mais esta causa, não

encontrando paz, disse ao confessor, Padre Bukowski, que já não podia

esperar mais tempo. O padre respondeu-me: «Irmã, é uma ilusão, o Senhor

Jesus não pode exigir isto, a irmã tem votos perpétuos, tudo isso é uma

ilusão; a irmã está a inventar uma espécie de heresia», e gritava-me em alta

voz. Perguntei se tudo era ilusão; respondeu-me que tudo. E então ¿Como

devo comportar-me?; díga-me, por favor. «A irmã, não deve seguir

nenhuma inspiração, deve distrair-se e não fazer caso ao que ouça na alma,

trate de cumprir bem as suas obrigações exteriores e não pense nessas

coisas, viva numa contínua distracção».

 

Respondi: Está bem, porque até

agora tenho-me guiado pela minha própria consciência, mas agora se o

Padre me ordena que não faça caso da minha vida interior, não o farei. E

acrescentou: «Se o Senhor Jesus voltar a dizer-lhe alguma coisa, díga-mo,

mas a irmã, não deve fazê-lo». Respondi: Está bem, procurarei ser

obediente. Não sei de onde veio ao Padre tanta severidade.

 

644. Quando me afastei do confessionário, todo um conjunto de

pensamentos oprimiu a minha alma: ¿Para que ser sincera?; ao fim de

contas o que tinha dito não eram pecados, pois não estava obrigada a falar

disso ao confessor; e também, oh, que bom é não necessitar mais de fazer

caso da minha vida interior, contanto que exteriormente tudo corra bem.

Agora não tenho mais necessidade de fazer caso de nada nem seguir estas

vozes interiores que às vezes me custam tantas humilhações; agora já serei

livre.

 

Mas, ao mesmo tempo, uma estranha dor estreitava a minha alma.

Então ¿não posso relacionar-me com Aquele a quem anseio tão

fervorosamente? ¿Com Aquele que é toda a força da minha alma? Comecei

a gritar: ¿A quem irei, oh Jesus? Mas desde o momento da proibição do

confessor, uma imensa escuridão caiu na minha alma; tenho medo de

escutar alguma voz dentro de mim para não infringir assim a proibição do

confessor, mas, por outro lado, morro de nostalgia de Deus. O meu íntimo

dilacerado; não tendo vontade própria, confiei-me totalmente a Deus.

Isto sucedeu na Quarta-feira Santa; o sofrimento aumentou ainda mais

na Quinta-feira Santa.

 

Quando fui fazer a meditação, entrei numa espécie de

agonia, não sentindo a presença de Deus mas antes que toda a justiça de

Deus caía sobre mim. Via-me quase destruída pelos pecados do mundo.

Satanás começou a troçar de mim: «Vês, agora já não te ocuparás das

almas; vê que recompensa tens; ninguém vai acreditar que Jesus queira isto

de ti; vê como sofres agora e o que ainda vais sofrer mais. Aliás o confessor

libertou-te de tudo isto». Agora posso já viver conforme me apetecer, desde

que exteriormente tudo esteja bem.

 

Estes pensamentos terríveis

atormentaram-me durante uma hora inteira. Quando se aproximava a Santa

Missa, uma dor apertou o meu coração. ¿Devo sair da Congregação? E

dado que o Padre me disse que era uma heresia, ¿devo separar-me Igreja?

Gritei ao Senhor com voz interior e dorida: Jesus, salva-me. No entanto

nem um raio de luz entrou na minha alma e senti que as forças me

abandonavam, como se sucedesse a separação do corpo e da alma.

Submeto-me à vontade de Deus e repito: faça-se de mim, oh Deus, o que

decidires, agora em mim já não há nada de meu.

 

De súbito inundou-me a

presença de Deus e penetrou-me totalmente, até à medula dos ossos. Era o

momento da Santa Comunhão. Um instante depois da Santa Comunhão

perdi o conhecimento de tudo o que me rodeava e de onde estava.

 

645. Então vi Jesus assim como está pintado na imagem e disse-me: Diz

ao confessor, que esta Obra é Minha e que Me sirvo de ti como de um

miserável instrumento. Eu disse: Jesus, eu não posso fazer nada do que

me ordenas já que o confessor me disse que tudo isto é uma ilusão e que

não posso seguir as Tuas ordens; eu não posso fazer nada do que agora me

recomendas. Perdoa-me, Senhor, não me é permitido nada, eu tenho que ser

obediente ao confessor. Jesus, peço-Te muitíssimo perdão, Tu sabes quanto

sofro por esta razão, mas ¿que fazer?, Jesus, o confessor proibiu-me seguir

as Tuas ordens.

 

Jesus escutava amavelmente e com satisfação a minha argumentação e

os meus lamentos. Eu pensei que isto ofenderia muito Jesus e, pelo

contrário, Jesus estava contente e disse-me amavelmente: Informa sempre

o confessor de tudo o que Eu te recomendo e o que te digo e faz só

aquilo para que recebas licença; não te perturbes nem tenhas medo de

nada. Eu estou contigo. A minha alma encheu-se de alegria, e

desapareceram todos os pensamentos que a atormentavam enquanto

voltavam à minha alma a certeza e a coragem.

 

646. No entanto, um pouco depois comecei a padecer os tormentos que

Jesus sofreu no Horto das Oliveiras. Isto durou até à manhã de sexta-feira.

Na sexta-feira experimentei a Paixão de Jesus, mas já de modo diferente.

Naquele dia, veio de Derdy o Padre Bukowski. Uma força misteriosa levoume a ir confessar-me e dizer tudo o que me tinha acontecido e o que Jesus

me tinha dito. Quando o disse ao Padre, e ele estava completamente

mudado, respondeu-me: «Não tenha medo de nada, irmã, não lhe vai

suceder nada de mau, já que Jesus não o permitirá.

 

Como é obediente, nessa

disposição não se preocupe com nada. Deus encontrará o modo de realizar

esta Obra; tenha sempre essa simplicidade e sinceridade e conte tudo à

Madre Geral. O que eu lhe disse era para a prevenir, porque as ilusões dãose também em pessoas santas; a isso pode misturar-se, às vezes, alguma

insinuação do diabo ou também alguma coisa originada por nós próprios,

por isso deve ser prudente. Siga como até agora; a irmã vê que Jesus não se

ofendeu por isto. Pode repetir estas coisas que sucederam ao seu confessor

permanente».

 

647. Compreendi que tenho que rezar muito por cada confessor para que

o Espírito Santo os ilumine, porque quando me aproximo do confessionário

sem rezar antes fervorosamente, o confessor compreende-me pouco. Esse

Padre animou-me a pedir fervorosamente pela intenção de que Deus me

permitisse conhecer e compreender melhor as coisas que exige de mim:

«Irmã, faça novena após novena e Deus não recusará as suas graças».

648. Sexta-feira Santa. Às três da tarde vi Jesus crucificado que me

olhou e disse: Tenho sede. De repente vi que do seu lado saíam os dois

mesmos raios que estão na imagem. No mesmo momento senti na alma o

desejo de salvar almas e de me aniquilar pelos pobres pecadores.

Junto a Jesus agonizante ofereci-me ao Padre eterno pelo mundo. Com

Jesus e por Jesus e em Jesus estou unida a Ti, oh Pai eterno. Na Sexta-feira

Santa, Jesus sofreu na alma, já de maneira distinta que na Quinta-feira

Santa.

 

649. Santa Missa da Ressurreição [12 IV 1936]. Quando entrei na

capela, o meu espírito submergiu-se em Deus, no meu único tesouro; a sua

presença inundou-me.

 

 

650. Oh meu Jesus, Mestre e Director espiritual, fortifica-me, iluminame nestes momentos difíceis da minha vida, não espero ajuda de parte dos

homens, em Ti está toda a minha esperança. Sinto que estou só frente aos

teus desejos, Senhor. Apesar dos temores e da aversão da natureza, cumpro

a Tua santa vontade e desejo cumpri-la com a máxima fidelidade em toda a

minha vida e na hora da morte. Oh Jesus, Contigo posso todo, faz de mim o

que Te agrade, dá-me somente o Teu Coração misericordioso e será

suficiente para mim.

 

Oh Jesus e Senhor meu, ajuda-me para que se faça de mim o que

determinaste antes dos séculos, estou pronta para cada sinal da Tua santa

vontade. Concede luz à minha mente para que possa conhecer qual é a Tua

santa vontade. Oh Deus, que penetras a minha alma, Tu sabes que não

desejo nada mais que a Tua glória.

 

Oh, vontade divina, deleite do meu coração, alimento da minha alma, luz

do meu intelecto, força todo poderosa da minha vontade, já que quando me

uno à Tua vontade, Senhor, então a Tua potência actua através de mim,

ocupando o lugar da minha débil vontade. Todos os dias procuro cumprir os

desejos de Deus.

 

651. Oh Deus inconcebível. A grandeza da Tua Misericórdia sobrepassa

qualquer entendimento humano e angélico em conjunto. Todos os Anjos e

todos os homens saíram das entranhas da Tua Misericórdia. A Misericórdia

é a flor do amor: Deus é amor e a Misericórdia é a Sua acção, no amor se

forma, na Misericórdia se manifesta. Para onde olho, tudo me fala da Sua

Misericórdia, até a Justiça mesma de Deus me fala da Sua insondável

Misericórdia, porque a Justiça provém do amor.

 

652. A uma palavra presto atenção e desta palavra sempre dependo, e

esta palavra é tudo para mim, por ela vivo e por ela morro e esta é a santa

vontade de Deus. Ela é o meu sustento quotidiano, toda a minha alma está

atenta para escutar os desejos de Deus. Cumpro sempre o que Deus quer de

mim apesar de que alguma vez a minha natureza treme e sente que a Sua

grandeza ultrapassa as minhas forças. Sei bem o que sou por mim mesma,

mas sei, também, o que é a graça de Deus que me sustém.

 

653. 25 IV 1936. Walendów. Naquele dia o sofrimento da minha alma

foi tão duro como poucas vezes antes. Desde manhã sentia na alma como a

separação do corpo e da alma; sentia que Deus me penetrava totalmente,

sentia em mim toda a justiça de Deus, sentia que estava só frente a Deus.

Pensei que uma só palavra do director espiritual me acalmaria

completamente, mas ¿que fazer?, ele não estava ali. No entanto decidi

procurar luz na confissão. Quando descobri a minha alma ao sacerdote teve

medo de prosseguir escutando a minha confissão, o que me provocou um

sofrimento ainda maior. Quando vejo o temor de um sacerdote, então não

obtenho nenhuma tranquilidade interior, por isso decidi tratar de revelar a

minha alma em tudo, desde a coisa maior até à mais pequena, somente ao

director espiritual e seguir estritamente as suas indicações.

 

654. Agora compreendo que a confissão é somente a declaração dos

pecados e a direcção espiritual é [algo] completamente diferente, mas não

quero falar disto. Desejo relatar uma coisa estranha que me sucedeu pela

primeira vez: quando o confessor começou a falar-me, não compreendia

nenhuma das suas palavras. De repente vi Jesus crucificado que me disse:

Procura a força e a luz na Minha Paixão. Terminada a confissão meditei

a tremenda Paixão de Jesus e compreendi que o que eu sofria era nada em

comparação com a Paixão do Criador e que cada imperfeição, até a mais

pequena, tinha sido a causa daquela tremenda Paixão. Depois a minha alma

foi compenetrada por um grande arrependimento e só então senti que estava

no mar insondável da Misericórdia de Deus. Oh, que poucas palavras tenho

para exprimir o que sinto. Sinto que sou como uma gota de orvalho

absorvida pelo profundo oceano sem limites da Misericórdia de Deus.

 

655. 11 de Maio de 1936. Cheguei a Cracóvia e fiquei satisfeita,

esperando que pudesse cumprir, por fim, tudo o que Jesus exigia.

Uma vez, ao ver o Padre A. e depois de lhe dizer tudo, recebi esta

resposta: «Reze, irmã, até à festa do Sagrado Coração e acrescente alguma

mortificação, e no dia da festa do Sagrado Coração lhe darei a resposta».

Mas um dia ouvi na alma esta voz: Não tenhas medo de nada, Eu estou

contigo. Depois destas palavras senti na alma um ímpeto tão grande que

sem esperar a festa do Sagrado Coração, declarei na confissão que

abandonava a Congregação já. O Padre respondeu-me: «Se a irmã

tomou esta decisão, tomará também a responsabilidade por ela. Pois vá».

Alegrei-me de que já sairía.

 

Na manhã seguinte, de repente, abandonou-me a presença de Deus, uma

grande escuridão envolveu a minha alma, não conseguia rezar. Devido a

este inesperado abandono por parte de Deus, decidi adiar esta questão um

pouco, até consultar o Padre.

 

O Padre Andrasz respondeu-me que as alterações deste tipo sucedem

frequentemente e não é um impedimento para actuar.

 

656. A Madre Geral. Quando falava com a Madre sobre tudo o que

tinha sucedido, disse-me estas palavras: «Irmã, eu guardo-a no tabernáculo

com Jesus; para onde quer que vá, será a vontade de Deus».

 

657. 19 de Junho. Quando fomos aos jesuítas para a procissão do

Sagrado Coração, durante as vésperas, vi os mesmos raios que estão

pintados na imagem, saindo da Santíssima Hóstia. A minha alma foi

invadida por um grande anseio de Deus.

 

658. Junho de 1936. O colóquio com o Padre Andrasz.

«Há de saber que estas coisas são difíceis e duras; o seu director

principal é o Espírito Santo, nós podemos somente encaminhar estas

inspirações, mas o seu verdadeiro director é o Espírito Santo. Se a irmã

decidiu sair por sua iniciativa, eu nem lhe proíbo nem lhe ordeno, nisto

toma a responsabilidade por si mesma. Digo-lhe, irmã, que pode começar a

agir; está em condições, então pode. Estas coisas são credíveis, tudo o que

me disse agora e anteriormente é a favor, mas em tudo isto deve ser

muito prudente e rezar muito e pedir luz para mim».

 

659. Durante a Missa celebrada pelo Padre Andrasz, vi o pequeno

Menino Jesus que me disse que devia depender dele em tudo: Nenhuma

acção feita por iniciativa própria, embora te custe muitos esforços, não

Me agrada. Compreendi esta subordinação.

 

660. Oh meu Jesus, no dia do juízo final Tu pedirás conta desta Obra da

Misericórdia; oh Juiz justo, mas também Esposo meu, ajuda-me a cumprir a

Tua santa vontade. Oh Misericórdia, virtude divina.

 

661. 16 de Julho. Hoje passei toda a noite em oração; contemplava a

Paixão do Senhor, e a minha alma estava esmagada pela justiça de Deus. A

mão de Deus tocou-me.

 

662. 17 de Julho. Oh meu Jesus, Tu sabes que grandes são as

contrariedades com as quais tropeço nesta causa, quantas objecções devo

suportar, quantos sorrisos irónicos devo aceitar com serenidade.

Oh, por mim mesma não o suportaria, mas contigo posso tudo, oh meu

Mestre. Oh, que dolorosamente fere um sorriso irónico, quando se fala com

grande sinceridade.

 

663. 22 de Julho. Oh meu Jesus, sei que da grandeza do homem dá

testemunho a obra e não a palavra, nem o sentimento. As obras que

provieram de nós falarão por nós. Oh meu Jesus, não me permitas

devaneios, mas dá-me a coragem e a força para cumprir a Tua santa

vontade.

Oh Jesus, se queres deixar-me na incerteza, mesmo até o fim da minha

vida, o Teu nome seja bendito por isso.

Junho

 

664. Oh meu Jesus, quanto me alegro de que me tenhas assegurado que

esta Congregação surgirá. Já não tenho nenhuma sombra de dúvida sobre

isso, e vejo a grande glória que dará a Deus; será um reflexo do maior

atributo de Deus, isto é, a Divina Misericórdia. Impetrarão incessantemente

a Divina Misericórdia para si próprias e para o mundo inteiro, e cada acto

de Misericórdia brotará do amor de Deus de que estarão cheias. Procurarão

assimilar este grande atributo de Deus e viver dele, e procurarão que os

outros o conheçam e tenham confiança na bondade de Deus. Esta

Congregação da Divina Misericórdia será na Igreja de Deus como uma

colmeia num magnífico jardim, escondida, silenciosa. As irmãs, como

abelhas, trabalharão para alimentar com mel as almas dos próximos e a cera

fluirá em honra de Deus.

 

665. O Padre Andrasz recomendou-me fazer uma novena por intenção

de melhor conhecimento da vontade de Deus. Rezei com fervor

acrescentando uma mortificação corporal. No final da novena recebi uma

luz interior e a segurança de que a Congregação surgirá e que será

agradável a Deus. Apesar das dificuldades e contrariedades, na minha alma

entrou uma tranquilidade absoluta e uma força desde o alto. Conheci que à

vontade de Deus nada se oporia, nada a anularia; compreendi que devia

cumprir esta vontade de Deus apesar das contrariedades, as perseguições, os

sofrimentos de todo o tipo, apesar da aversão e do temor da natureza.

 

666. Compreendi que toda a aspiração à perfeição e toda a santidade

consistem em cumprir a vontade de Deus. O perfeito cumprimento da

vontade de Deus é a maturidade na santidade, aqui não há lugar a dúvidas.

Receber a luz de Deus, conhecer o que Deus exige de nós e não o praticar é

um grande ultraje à Majestade de Deus. Tal alma merece que Deus a

abandone completamente; parece-se a Lucifer que tinha uma grande luz e

não cumpria a vontade de Deus. Uma misteriosa calma entrou na minha

alma enquanto reflectia que, apesar das grandes dificuldades, sempre segui

fielmente a vontade de Deus [por mim] conhecida. Oh Jesus, concede-me a

graça de realizar a Tua vontade conhecida [por mim], oh Deus.

 

667. 14 de Julho. Às três recebi uma carta. Oh Jesus, Tu somente

sabes o que sofro, mas calarei, não o direi a nenhuma criatura, porque sei

que nenhuma me consolará. Tu és tudo para mim, oh Deus, e a Tua santa

vontade é o meu sustento; agora vivo do que viverei na eternidade.

Tenho uma grande veneração por São Miguel Arcanjo; ele não teve

exemplos no cumprimento da vontade de Deus e, no entanto, cumpriu

fielmente os desejos de Deus.

 

668. 15 de Julho. Durante a Santa Missa ofereci-me ao Pai Celestial por

meio do dulcíssimo Coração de Jesus, como disposta a tudo; que faça de

mim o que lhe agradar; eu, por mim mesma, sou uma nulidade e na minha

miséria não tenho nada que seja digno, portanto lanço-me ao mar da Tua

Misericórdia, oh Senhor.

 

669. 16 de Julho. De Jesus aprendo a ser boa, d’Aquele que é a mesma

bondade, para poder ser chamada filha do Pai Celestial. Hoje, antes de

meio-dia, tive um grande desgosto; nesse sofrimento procurei unir a minha

vontade à vontade de Deus e louvei a Deus com o silêncio. De tarde fui por

cinco minutos à adoração e, de repente, vi que a pequena cruz que levo ao

peito, estava viva; Jesus disse-me: Minha filha, o sofrimento será para ti

o sinal de que Eu estou contigo. Depois destas palavras uma grande

comoção penetrou na minha alma.

 

670. Oh Jesus, meu Mestre e meu Director Espíritual, eu sei conversar

somente Contigo; com ninguém é tão fácil o colóquio como Contigo, oh

Deus.

 

671. Na vida espiritual sempre me guiarei pela mão do sacerdote. Da

vida da alma e das suas necessidades falarei somente com o sacerdote.

 

672. 4 de Agosto de 1936. Um tormento interior de mais de duas horas.

Uma agonia… De repente penetra-me a presença de Deus, sinto que passo

sob o poder do Deus justo, esta justiça penetra-me até à medula dos ossos,

exteriormente perco as forças e o conhecimento. Subitamente conheço a

grande santidade de Deus e a minha grande miséria, na alma nasce um

tormento tremendo, a alma vê todas as suas obras que não são sem mancha.

Depois na alma desperta-se a força da confiança… E a alma com todas as

suas forças anseia por Deus, mas vê o miserável que é e o mísero que é tudo

o que a rodeia. E assim, frente àquela santidade, oh, pobre alma…

 

673. 13 de Agosto. Durante o dia inteiro estive atormentada por terríveis

tentações, vinham-me à boca blasfémias, uma aversão a tudo santo e divino;

no entanto lutei todo o dia; à noite começou a molestar-me a ideia: ¿Por que

falar disso ao confessor?, ele vai-se rir disto. Alguma aversão e um

desalento envolveram a minha alma e parecia-me que em tal estado não

podia aproximar-me de nenhum modo da Santa Comunhão. Ao pensar que

não ia aproximar-me da Santa Comunhão, uma dor tremenda estreitou a

minha alma, pouco faltou para que gritasse em voz alta na capela. No

entanto dei-me conta de que estavam outras irmãs e decidi ir ao jardim e

esconder-me para poder, ao menos, chorar alto.

 

674. De repente Jesus apresentou-se junto a mim e disse: ¿Onde pensas

ir? Não respondi nada a Jesus, mas desafoguei diante Ele toda a minha dor

e cessaram todas as insídias de Satanás. Jesus disse-me que: A paz interior

que tens é uma graça, e desapareceu subitamente. Eu senti-me feliz e

estranhamente tranquilizada. De verdade, só Jesus, Ele, o Senhor Altíssimo,

pode fazer que num momento volte uma tranquilidade tão completa.

 

675. 7 de Agosto de 1936

Quando recebi este artigo sobre a Divina Misericórdia junto com a

imagem, a presença de Deus envolveu-me de modo singular. Quando

me submergi na oração de agradecimento, de repente vi o Senhor Jesus

numa grande claridade, como está pintado, e aos pés de Jesus vi o Padre

Andrasz e o Padre Sopocko; os dois tinham canetas na mão e dos aparos de

ambas as canetas saíam feixes de luz e fogo semelhantes a raios que

atingiam uma grande multidão de pessoas que corria não sei de onde. Logo

que [alguém] era alcançado por aquele raio, deixava a multidão e estendia

os braços para Jesus; alguns voltavam com grande alegria e outros com

grande dor e pena. Jesus olhava com grande amabilidade para os dois

padres. Um momento depois fiquei a sós com Jesus e disse-lhe: Jesus, levame agora, porque a Tua vontade já está cumprida, e Jesus respondeu-me:

Ainda não se cumpriu em ti toda a Minha vontade; sofrerás ainda

muito, mas Eu estou contigo, não tenhas medo.

 

676. Falo muito com o Senhor sobre o Padre Andrasz e também sobre o

Padre Sopocko; sei que o que peço ao Senhor, não mo nega e concede-lhes

o que Lhe peço. Senti, e sei, quanto Jesus os ama; não o descrevo com

detalhes, mas sei e alegro-me enormemente.

 

15 de Agosto de 1936

 

677. Durante a Santa Missa celebrada pelo Padre Andrasz, um momento

antes da elevação, a presença de Deus penetrou a minha alma, que foi

atraída para o altar. Depois vi a Santíssima Virgem com o Menininho Jesus.

O Menino Jesus dava a mão à Virgem; num momento o Menino Jesus

correu alegremente para o centro do altar e a Santíssima Virgem disse-me:

Olha, com que tranquilidade confio Jesus nas suas mãos; assim também tu

deves confiar a tua alma e ser como uma criança para ele.

 

Depois destas palavras a minha alma ficou cheia de uma extraordinária

confiança. A Santíssima Virgem vestia uma túnica branca, singularmente

branca, transparente, nos ombros tinha um manto transparente como o azul

do Céu, a cabeça descoberta, o cabelo solto; esplêndida e indescritivelmente

bela. A Santíssima Virgem olhava o sacerdote com grande benevolência,

mas um momento depois o Padre partiu este lindo Menino e saíu sangue

vivo; o sacerdote inclinou-se e recebeu esse Jesus vivo e verdadeiro.

Comeu-O; não sei como isto sucede. Oh Jesus, Jesus, não consigo seguirTe, porque Tu num momento Te fazes incompreensível para mim.

 

678. A essência das virtudes é a vontade de Deus; quem cumpre

fielmente a vontade de Deus, exercita-se em todas as virtudes. Em todos os

casos e todas as circunstâncias da vida adoro e bendigo a santa vontade de

Deus. A santa vontade de Deus é o objecto do meu amor. Nos mais secretos

recantos da minha alma vivo da Sua vontade e exteriormente actuo na

medida em que conheço interiormente que tal é a vontade de Deus. Os

tormentos, os sofrimentos, as perseguições e todo o tipo de contrariedades

que vêm da vontade de Deus, são-me mais agradáveis que os êxitos, os

elogios e os louvores que vêm do meu próprio querer.

 

679. Oh meu Jesus, boas noites, a campainha chama-me para dormir. Oh

meu Jesus, vês que estou agonizando pelo desejo da salvação das almas;

boas noites, Esposo meu, alegro-me de estar um dia mais próximo da

eternidade, e se amanhã me permitires despertar-me, oh Jesus, iniciarei um

novo hino à Tua glória.

 

680. 13 de Julho. Hoje, durante a meditação entendi que não devo nunca

falar das minhas próprias vivências interiores; mas não ocultar nada ao

director espiritual. Pedirei a Deus uma especial luz para o director da minha

alma. Dou mais importância à palavra do confessor que a todas as

iluminações interiores que recebo.

 

681. Durante os tormentos mais duros fixo o meu olhar em Jesus

Crucificado; não espero ajuda de parte dos homens, mas ponho a minha

confiança em Deus; na sua insondável Misericórdia está toda a minha

esperança.

 

682. Quanto mais sinto que Deus me transforma, tanto mais desejo

submergir-me no silêncio. O amor de Deus realiza a sua obra no mais

íntimo da minha alma, vejo que começa a minha missão, a que o Senhor me

encomendou.

 

683. Uma vez, quando rezava muito aos santos jesuítas, de repente vi o

Anjo da Guarda que me levou diante do trono de Deus; passei entre grandes

grupos de santos, reconheci a muitos pelas suas imagens; vi muitos jesuítas

que me perguntaram: ¿De que Congregação é esta alma? Quando lhes

respondi, perguntaram: ¿Quem é o teu director? Respondi que o Padre

Andrasz. Quando quiseram continuar a falar, o meu Anjo da Guarda fez

sinal de silêncio e passei diante do próprio trono de Deus. Vi uma claridade

grande e inacessível, vi o lugar destinado para mim na proximidade de

Deus, mas como é não sei, porque o cobria uma núvem, mas o meu Anjo da

Guarda disse-me: Aqui está o teu trono, pela fidelidade no cumprimento da

vontade de Deus.

 

684. Hora Santa. Quinta-feira. Naquela hora de prece Jesus permitiu-me

entrar no Cenáculo e estive presente durante o que ali sucedeu. O que mais

profundamente me comoveu foi o momento antes da consagração, em

que Jesus levantou os olhos ao Céu e entrou num misterioso colóquio com o

Seu Pai. Aquele momento só o conheceremos devidamente na eternidade.

Os Seus olhos eram como duas chamas, o rosto resplandecente, branco

como a neve, todo o Seu aspecto era majestoso, a Sua alma cheia de

nostalgia. No momento da consagração o amor ficou saciado, o sacrifício

completamente cumprido. Agora se cumprirá somente a cerimónia exterior

da morte, a destruição exterior, [mas] a essência vem do Cenáculo. Em toda

a minha vida não tive um conhecimento tão profundo deste mistério como

naquela hora de adoração. Oh, com que ardor desejo que o mundo inteiro

conheça este mistério insondável.

 

685. Terminada a Hora Santa, quando fui para a minha cela, conheci

repentinamente quanto Deus era ofendido por uma pessoa próxima ao meu

coração. Ao vê-lo, a dor trespassou a minha alma, arrojei-me no pó diante

do Senhor e implorei Misericórdia. Durante duas horas, chorando, rogando

e flagelando-me impedi o pecado, e conheci que a Divina Misericórdia

envolveu aquela pobre alma. Oh, quanto custa um só, único, pecado.

 

686. Setembro. Primeira sexta-feira. À noite vi a Santíssima Virgem com

o peito descoberto, trespassado por uma espada. Chorava lágrimas ardentes

e protegia-nos de um tremendo castigo de Deus.

Deus quer infligir-nos um terrível castigo, mas não pode porque a

Santíssima Virgem nos protege. Um medo tremendo atravessou a minha

alma, rogo sem cessar pela Polónia, pela minha querida Polónia que é tão

pouco agradecida à Santíssima Virgem. Se não fosse a Santíssima Virgem,

para muito pouco teriam servido os nossos esforços. Multipliquei o meu

fervor nas preces e sacrificios pela minha querida Pátria, mas vi que era

uma gota de água frente a uma onda do mal. ¿Como uma gota pode deter

uma onda? Oh, sim, uma gota por si só é nada, mas Contigo, Jesus, com

coragem farei frente a toda a onda do mal e até ao Inferno inteiro. A Tua

omnipotência tudo pode.

 

687. Numa ocasião, enquanto ia pelo corredor à cozinha, ouvi na alma

estas palavras: Reza incessantemente esta coroinha que te ensinei. Quem

a reze receberá grande Misericórdia à hora da morte. Os sacerdotes a

recomendarão aos pecadores como a última tábua de salvação. Até o

pecador mais empedernido, se reza esta coroinha uma só vez, receberá

a graça da Minha Misericórdia infinita. Desejo que o mundo inteiro

conheça a Minha Misericórdia; desejo conceder graças inimagináveis

às almas que confiam na Minha Misericórdia.

 

688. Oh Jesus, Vida e Verdade, meu Mestre, guia cada passo da minha

vida para que proceda segundo a Tua santa vontade.

 

689. Uma vez, vi o trono do Cordeiro de Deus e diante do trono três

santos: Estanislao Kostka, Andrés Bobola e o príncipe Casimiro, que

intercediam pela Polónia. Em seguida vi um grande livro que estava diante

do trono e deram-me o livro para que o lesse. Aquele livro estava escrito

com sangue; no entanto, não pude ler nada mais que o nome de Jesus. De

repente ouvi uma voz que me disse: Ainda não chegou a tua hora.

Tiraram-me o livro e ouvi estas palavras: Tu darás o testemunho da

Minha Misericórdia infinita. Neste livro estão inscritas as almas que

veneraram a Minha Misericórdia.

Senti uma grande alegria vendo a grande bondade de Deus.

 

690. Uma vez conheci o estado de duas irmãs religiosas que depois de

uma ordem da Superiora murmuravam interiormente e em consequência

disto Deus privou-as de muitas graças especiais. A dor partiu-me o coração

ao ver isto. Oh Jesus, que triste é quando nós mesmos somos a causa da

perda das graças. Quem o compreende permanece sempre fiel.

 

691. Quinta-feira. Hoje, apesar de estar muito cansada, decidi fazer a

Hora Santa. Não pude rezar, tampouco pude estar ajoelhada, mas fiquei em

oração uma hora inteira unindo-me em espírito àquelas almas que adoram

Deus de maneira já perfeita. Mas no fim da hora, de repente, vi Jesus que

me olhou profundamente e com uma doçura indescritível disse-me: A tua

oração é-Me imensamente agradável. Depois destas palavras entrou na

minha alma uma força misteriosa e um gozo espiritual. A presença de Deus

impregnou a minha alma. Oh, o que se passa na alma quando se encontra a

sós com o Senhor, nenhuma caneta o conseguiu exprimir, nem jamais o

exprimirá…

 

692. Oh Jesus, compreendo que a Tua Misericórdia vai para além da

imaginação e portanto suplico-Te que faças o meu coração tão grande que

possa conter as necessidades de todas as almas que vivem sobre toda a face

da Terra. Oh Jesus, o meu amor estende-se para mais além, até às almas que

sofrem no Purgatório e quero exprimir a minha Misericórdia para elas

mediante as preces que têm as indulgências. A Divina Misericórdia é

insondável e inesgotável como o próprio Deus é insondável.

Embora usasse palavras enérgicas para exprimir a Divina Misericórdia,

tudo isso seria nada em comparação com o que é na realidade. Oh Jesus, faz

o meu coração sensível a todos os sofrimentos do meu próximo, sejam do

corpo ou da alma. Oh meu Jesus, sei que Te comportas connosco como nós

nos comportamos com o próximo.

Oh meu Jesus, faz o meu coração semelhante ao Teu Coração

Misericordioso. Jesus, ajuda-me a passar pela vida fazendo o bem a todo o

mundo.

 

693. 14 de Setembro de [1936]. Veio visitar-nos o Arcebispo de Vilna.

Mesmo estando connosco muito pouco tempo, tive a possibilidade de falar

da Obra da Misericórdia com este venerável sacerdote. Manifestou muita

simpatia pela causa da Misericórdia: «Esteja completamente tranquila,

irmã, se está nos desígnios da Divina Providência, surgirá. Entretanto peça

um sinal exterior mais evidente; que o Senhor Jesus lhe dê a conhecer isto

com mais claridade. Espere ainda um pouco. Jesus disporá as circunstâncias

de modo que tudo saia bem».

 

694. 19 de Setembro [1936]. Quando saímos do médico e

entrámos um momento na pequena capela que está no sanatório, ouvi na

alma estas palavras: Minha Filha, ainda umas quantas gotas no cálice,

não falta muito. A alegria inundou a minha alma, é esta a primeira

chamada do meu Esposo e Mestre. Enterneceu-se o meu coração e houve

um momento em que a minha alma se submergiu em todo o mar da Divina

Misericórdia; senti que a minha missão começava em toda a plenitude. A

morte não destrói nada do que é bom; rogo muitíssimo pelas almas que

padecem sofrimentos interiores.

 

695. Em certa ocasião, recebi dentro de mim luz sobre duas irmãs;

compreendi que nem com todos podemos comportar-nos da mesma

maneira. Há pessoas que, de um modo estranho, sabem travar amizade e,

como amigas, tirar palavra após palavra, como para aliviar, mas num

momento oportuno usam as mesmas palavras para causar desgostos. Oh

meu Jesus, que estranha é a debilidade humana.

O Teu amor, Jesus, dá à alma esta grande sensatez nas relações com os

outros.

 

696. 24 de Setembro de 1936

A Madre Superiora mandou-me rezar um mistério do rosário em

lugar dos outros exercícios e deitar-me de imediato. Uma vez deitada

adormeci imediatamente porque estava muito cansada. No entanto, um

momento depois acordou-me uma dor. Era um sofrimento tão grande que

não me permitia fazer o mais pequeno movimento, nem sequer conseguia

engolir a saliva. Durou umas três horas.

 

Pensei acordar a irmã noviça com que compartilhava o quarto, mas

pensei: ela não me ajudará nada, pois que durma, dá-me pena despertá-la.

Submeti-me completamente à vontade de Deus e pensava que estava a

chegar para mim o dia da morte, dia por mim desejado. Tinha a

possibilidade de me unir a Jesus sofredor na cruz, não podia rezar de outro

modo. Quando o sofrimento cedeu, comecei a transpirar, mas não podia

fazer nenhum movimento, porque voltava a dor anterior. De manhã sentime muito cansada, mas fisicamente não sofria mais; no entanto não pude

levantar-me para a Santa Missa. Pensei: Se depois de tais sofrimentos não

há morte, então ¿como devem ser os sofrimentos mortais?

 

697. Oh Jesus, Tu sabes que amo o sofrimento e desejo esgotar o cálice

dos sofrimentos até à última gota e, no entanto, a minha natureza notou um

ligeiro escalafrio e certo temor, mas imediatamente a minha confiança na

infinita Misericórdia de Deus despertou-se com toda a sua potência e tudo

teve que ceder diante dela como a sombra diante de um raio de sol. Oh

Jesus, que grande é a Tua bondade; a infinita bondade Tua que tão bem

conheço, permite-me olhar com firmeza os olhos da própria morte.

Sei que nada pode suceder-me sem a Sua licença. Desejo glorificar a Sua

Misericórdia infinita na vida, na hora da morte, na resurreição e por toda a

eternidade.

 

Oh meu Jesus, minha força, minha paz e meu descanso, nos raios da Tua

Misericórdia mergulha-se a minha alma todos os dias, não conheço nem um

momento da minha vida em que não experimentei a Tua Misericórdia, oh

Deus. Em toda a minha vida não conto com nada, mas com a Tua

Misericórdia infinita, oh Senhor, que és o guia da minha vida. A minha

alma está cheia da Misericórdia de Deus.

 

698. Oh, quanto fere Jesus a ingratidão de uma alma escolhida. O Seu

amor inefável sofre um martírio. Deus ama-nos com todo o Seu Ser infinito,

como Ele é, e um pó miserável despreza este amor. O meu coração estala de

dor quando vejo tal ingratidão.

 

699. Uma vez, ouvi estas palavras: Minha filha, fala ao mundo inteiro

da Minha inconcebível Misericórdia. Desejo que a Festa da

Misericórdia seja refúgio e amparo para todas as almas e,

especialmente, para os pobres pecadores. Nesse dia estão abertas as

entranhas da Minha Misericórdia. Derramo todo um mar de graças

sobre as almas que se aproximam do manancial da Minha

Misericórdia. A alma que se confesse e receba a Santa Comunhão

obterá o perdão total das suas culpas e penas.

 

Nesse dia estão abertas

todas as comportas divinas através das quais fluem as graças. Que

nenhuma alma tema aproximar-se de Mim, embora os seus pecados

sejam como escarlate. A Minha Misericórdia é tão grande que em toda

a eternidade não a penetrará nenhum intelecto humano nem angélico.

 

Tudo o que existe saíu das entranhas da Minha Misericórdia. Toda a

alma que se una a Mim contemplará, por toda a eternidade, todo o

Meu Amor e a Minha Misericórdia. A Festa da Misericórdia brotou

das Minhas entranhas. Desejo que se celebre solenemente no primeiro

domingo depois de Páscoa. A humanidade não terá paz enquanto não

se voltar para a Fonte da Minha Misericórdia.

 

700. Numa ocasião, quando estava muito cansada e com dores e o disse

à Madre Superiora, recebi a resposta de que devia familiarizar-me com o

sofrimento. Escutei tudo o que a Madre me disse e um momento depois saí.

A nossa Madre Superiora tem tanto amor ao próximo e, especialmente, às

irmãs doentes, que todos a conhecem por isso, mas, quanto a mim, Jesus

permitiu que ela não me compreendesse e me submetesse a provações neste

aspecto.

 

701. Um dia senti-me muito mal e fui trabalhar, mas em cada instante

parecia-me que ia desmaiar; o calor era tão grande que mesmo sem trabalho

era insuportável aquele calor, sem falar já de trabalhar e estar doente.

Assim, antes do meio dia, interrompi o trabalho e olhei para o Céu com

grande confiança e disse ao Senhor: Jesus, cobre o sol porque já não

suporto mais este calor. Coisa rara, naquele mesmo instante, uma

nuvenzinha branca cobriu o sol e a partir daquele momento já não havia

tanto calor. Quando, um momento depois, comecei a reprovar-me por não

ter suportado o calor e por haver pedido alívio, o próprio Jesus tranquilizoume.

 

702. 13 de Agosto de 1936. Esta noite penetra-me a presença de Deus,

num só instante conheço a grande santidade de Deus. Oh, como me oprime

esta grandeza de Deus, já que ao mesmo tempo conheço todo o abismo da

minha nulidade. É um grande tormento, porque ao conhecimento segue o

amor. A alma lança-se com ímpeto para Deus e encontram-se de frente dois

amores: o Criador e a criatura; uma gotita quer medir-se com o oceano.

Num primeiro momento a gota quisera encerrar em si este oceano ilimitado,

mas no mesmo instante conhece que é uma gotita e então fica vencida,

esvai-se toda em Deus como uma gota no oceano… Ao iniciar-se aquele

momento é um tormento, mas tão doce que a alma, experimentando-o, é

feliz.

 

703. Actualmente faço um exame de consciência especial: unir-me com

Cristo Misericordioso. Este exercício dá-me uma força extraordinária, o

coração está sempre unido a Aquele que deseja, e as acções reguladas pela

Misericórdia que brota do amor.

 

704. Passo cada momento livre aos pés de Deus escondido. Ele é o meu

Mestre, pergunto-Lhe tudo, com Ele falo de tudo, de ali saco força e luz, ali

aprendo tudo, de ali me chegam as luzes sobre o modo de comportar-me

com o próximo. Desde o momento em que saí do noviciado, encerrei-me no

tabernáculo com Jesus, o meu Mestre. Ele Mesmo me atraíu a este fogo de

amor vivo, à volta do qual do qual se concentra tudo.

 

705. 25 IX. Sinto dores nas mãos, nos pés e no lado, nos lugares que

Jesus tinha trespassados. Experimento especialmente estes sofrimentos

quando me encontro com uma alma que não está em estado de graça; então

rezo fervorosamente para que a Divina Misericórdia envolva aquela alma.

 

706. 29 IX. No dia de São Miguel Arcanjo vi este grande guia junto a

mim e disse-me estas palavras: O Senhor recomendou-me ter um cuidado

especial contigo. Deves saber que és odiada pelo mal, mas não temas.

¡Quem como Deus! E desapareceu. No entanto sinto a sua presença e a sua

ajuda.

 

707. 2 X 1936. Primeira sexta-feira do mês. Depois da Santa Comunhão,

de repente vi Jesus que me disse estas palavras: Agora sei que não Me

amas pelas graças nem pelos dons, mas porque a Minha vontade te é

mais querida que a vida. Por isso Me uno a ti tão estreitamente como a

nenhuma outra criatura.

 

708. Naquele momento Jesus desapareceu. A presença de Deus inundou

a minha alma; sei que estou sob o olhar deste Soberano. Submergi-me

totalmente no gozo que emana de Deus. Vivi o dia inteiro submergida em

Deus, sem nenhum intervalo. À noite, entrei numa espécie de desmaio, e

numa estranha forma de agonia; o meu amor desejava ser igual ao amor

daquele Soberano; estava atraída para Ele tão violentamente que, sem uma

graça especial de Deus, era impossível suportar nesta vida tanta imensidade

da graça. Mas vejo claramente que Jesus Mesmo me sustém e me fortifica e

me faz capaz de relacionar-me com Ele. Em tudo isto a alma está activa de

modo singular.

 

 

709. 3 X 1936. Hoje, enquanto rezava o rosário vi, de repente, um

cibório com o Santíssimo Sacramento. O cibório estava descoberto e com

bastantes Hóstias. Do cibório saíu uma voz: Estas Hóstias foram

recebidas pelas almas convertidas com as tuas preces e o teu

sofrimento. Naquele momento senti a presença de Deus como uma criança,

senti-me estranhamente uma criança.

 

710. Um dia senti que não aguentaria estar de pé até às nove e pedi à Ir.

N. para me dar alguma coisa de comer porque ia deitar-me antes, já que me

sentia mal. A Ir. N. respondeu-me: «A irmã não está doente; apenas

quiseram dar-lhe algum descanso a pretexto duma doença». Oh meu Jesus,

pensar que a doença avançou até tal ponto que o médico me separou das

outros irmãs para que não se contagiem, e eis como se é julgada. Mas

está bem assim, tudo é para Ti, meu Jesus. Não quero escrever muito das

coisas exteriores porque não são elas o motivo para escrever; desejo

especialmente tomar nota das graças que o Senhor me concede, porque elas

não são somente para mim, mas para muitas almas.

 

711. 5 X 1936. Hoje recebi uma carta do Padre Sopocko pela qual me

inteirei do que pensa fazer: imprimir uma estampa do Cristo

Misericordioso, e pediu-me para lhe enviar certa prece que quer pôr na

parte de trás, se obtiver autorização do Arcebispo. Oh, com que gozo tão

grande se enche o meu coração por Deus me ter permitido ver esta Obra da

Sua Misericórdia. Oh, que grande é esta Obra do Altíssimo; eu sou somente

o seu instrumento. Oh, que ardente é o meu desejo de ver esta Festa da

Divina Misericórdia que Deus exige através de mim, mas se tal é a vontade

de Deus e se ela se celebrar solenemente só depois da minha morte, eu me

alegro com ela já agora e a celebro dentro de mim com a licença do

confessor.

 

712. Hoje vi o Padre Andrasz de joelhos, submergido na oração e de

súbito Jesus apresentou-se a seu lado, impôs as mãos sobre a sua cabeça, e

disse-me: Ele te guiará, não tenhas medo.

 

713. 11 de Outubro. Esta noite, enquanto escrevia sobre esta grande

Misericórdia de Deus e sobre o grande proveito para as almas, Satanás

irrompeu na cela com grande raiva e fúria, tomou o biombo e começou a

despedaçá-lo e quebrá-lo. Num primeiro momento assustei-me um pouco,

mas imediatamente com um pequeno crucifixo fiz o sinal da santa cruz; a

besta acalmou-se imediatamente e desapareceu. Hoje não vi esta figura

monstruosa, mas somente a sua raiva; a raiva de Satanás é terrível. O

biombo, no entanto, não estava despedaçado nem quebrado; com toda a

tranquilidade continuei a escrever. Sei bem que sem a vontade de Deus,

aquele miserável não me tocará, mas ¿por que se porta assim? Começa a

assaltar-me abertamente e com tanta raiva e tanto ódio, mas não perturba a

minha paz nem por um momento, e esta minha serenidade provoca a sua

raiva.

 

714. Hoje o Senhor disse-me: Vai ter com a Superiora e diz-lhe que

desejo que todas as irmãs e as alunas rezem a coroinha que te ensinei.

Devem rezá-la durante nove dias e na capela, com o fim de propiciar ao

Meu Pai e implorar a Divina Misericórdia para a Polónia. Respondi ao

Senhor que o diria à Superiora, mas antes devia consultar o Padre Andrasz e

decidi que logo que o Padre viesse, imediatamente o consultaria. Quando o

Padre veio, as circunstâncias foram tais que não pude vê-lo. No entanto, eu

não deveria reparar em nenhumas circunstâncias mas ir falar com o Padre e

resolver o assunto. Pensei que [o faria] quando viesse outra vez.

 

715. Oh, quanto isso desagradou a Deus. Num instante a presença de

Deus me abandonou, esta grande presença de Deus que está em mim

incessantemente, até de modo sensível. Mas naquele momento abandonoume completamente; umas trevas dominaram a minha alma até tal ponto que

não sabia se estava no estado de graça ou não. Devido a isto não me

aproximei da Santa Comunhão durante quatro dias.

Depois de quatro dias vi o Padre Andrasz e contei-lhe tudo. O Padre

consolou-me dizendo: «Não perdeu a graça de Deus, mas de qualquer

forma, disse, seja fiel a Deus». No momento em que me afastei do

confessionário, a presença de Deus envolveu-me novamente como dantes.

Compreendi que a graça de Deus há que aceitá-la como Deus a envia, do

modo como Ele quer, e deve aceitar-se na forma sob a qual Deus no-la

envia.

 

716. Oh meu Jesus, neste momento estou fazendo um propósito decidido

e perpétuo, apoiando-me na Tua graça e Misericórdia: a fidelidade à mais

pequena das Tuas graças.

 

717. Durante toda a noite preparava-me para receber a Santa Comunhão,

já que não pude dormir por causa dos sofrimentos físicos. A minha alma

fundia-se no amor e na contrição.

 

718. Depois da Santa Comunhão ouvi estas palavras: Vê o que és por ti

mesma, mas não te assustes com isso. Se te revelasse toda a miséria que

és, morrerias de horror. Deves saber, no entanto, o que és. Por ser tão

grande a tua miséria, revelei-te todo o mar da Minha Misericórdia.

Procuro e desejo almas como a tua, mas são poucas; a tua grande

confiança em Mim obriga-Me a conceder-te graças continuamente.

Tens grandes e indizíveis direitos sobre o Meu Coração, porque és uma

filha de plena confiança. Não suportarias a imensidade do Meu amor

que tenho por ti, se to revelasse aqui na Terra em toda a sua plenitude.

Muitas vezes levanto um pouco o véu para ti, mas deves saber que é

apenas uma Minha graça excepcional. O Meu amor e a Minha

Misericórdia não conhecem limites.

 

719. Hoje ouvi estas palavras: Hás de saber, Minha filha, que por ti

concedo graças a toda a região, mas deves agradecer-me por eles,

porque eles não Me agradecem pelos benefícios que lhes concedo. A

partir do teu agradecimento continurei a abençoá-los.

 

720. Oh meu Jesus, Tu sabes o difícil que é a vida comunitária, quantas

incomprensões e quantos mal entendidos, muitas vezes apesar da mais

sincera vontade de ambas as partes; mas este é o Teu mistério, oh Senhor,

nós conhecê-lo-emos na eternidade. No entanto, os nossos juízos devem ser

sempre indulgentes.

 

721. Ter um director espiritual é uma grande graça, é uma imensa graça

de Deus. Sinto que agora não saberia avançar sozinha na minha vida

espiritual; é grande o poder do sacerdote; não deixo de agradecer a Deus

por me dar um director espiritual.

 

722. Hoje ouvi estas palavras: Vês como és fraca ¿quando poderei

contar contigo?

Respondi: Jesus, fica sempre comigo, porque sou a Tua filhinha

pequena; Jesus, Tu sabes o que fazem as crianças pequenas.

 

723. Hoje ouvi estas palavras: As graças que te concedo não são

somente para ti, mas também para um grande número de almas… E no

teu coração está continuamente a Minha morada. Apesar da miséria

que és uno-Me a ti, tiro-te a tua miséria e dou-te a Minha Misericórdia.

Em cada alma cumpro a Obra da Misericórdia, e quanto maior é o

pecador, tanto maior é o direito que tem à Minha Misericórdia. Quem

confia na Minha Misericórdia não perecerá porque todos os seus

cuidados são Meus e os inimigos serão calcados aos pés do Meu

escabelo.

 

724. Na véspera dos exercícios espirituais comecei a pedir que Jesus me

desse ao menos um pouco de saúde para que pudesse participar nos

exercícios, porque sentia-me tão mal que possivelmente podiam ser os

últimos para mim. Mas quando comecei a rezar, senti imediatamente um

estranho descontentamento; interrompi a prece de súplica e comecei a

agradecer ao Senhor por tudo o que me envia, submetendo-me

completamente à Sua santa vontade; imediatamente senti na alma uma

profunda serenidade.

 

A fiel submissão à vontade de Deus sempre e em todo o lado, em todos

os casos e em todas as circunstâncias da vida, dá a Deus uma grande glória;

tal submissão à vontade de Deus, a seus olhos tem um maior valor que

longos jejuns, mortificações, e as mais severas penitências. Oh, que grande

é a recompensa por um só acto de amorosa submissão à vontade de Deus.

Enquanto o escrevo a minha alma cai em êxtase, ¡quanto Deus a ama e de

quanta paz goza a alma já aqui na Terra!

 

JMJ Cracóvia - 1936

Oh vontade de Deus, sê o meu amor.

 

725. Exercícios espirituais de oito dias, 20 X 1936

Oh meu Jesus, hoje retiro-me para o deserto para falar somente Contigo,

meu Mestre e Senhor. Que a Terra se cale, fala-me só Tu, Jesus; Tu sabes

que não compreendo outra voz senão a Tua, oh bom Pastor.

Na morada do meu coração encontra-se o deserto a que nenhuma

criatura tem acesso. Nele só Tu és o Rei.

 

726. Quando entrei na capela para cinco minutos de adoração, perguntei

ao Senhor Jesus como devia fazer estes exercícios espirituais. Então ouvi na

alma esta voz: Desejo que te transformes inteira em amor e que ardas

com o fogo como uma vítima pura de amor…

 

727. Oh Verdade eterna, concede-me um raio da Tua luz para que Te

conheça, oh Senhor, e glorifique dignamente a Tua Misericórdia infinita e

dá-me a conhecer, ao mesmo tempo, a mim mesma, todo o abismo de

miséria que sou.

 

728. Escolhi como patronos destes exercícios espirituais São Claudio da

Colombiére e Santa Gertrudes, para que intercedam por mim perante a

Santíssima Virgem e o Salvador Misericordioso.

 

729. Nesta meditação sobre a criação… num instante a minha alma se

uniu ao meu Criador e Senhor; durante esta união conheci o meu fim e o

meu destino. O meu objectivo é unir-me estreitamente a Deus através do

amor e o meu destino é adorar e glorificar a Divina Misericórdia.

O Senhor deu-me a conhecer claramente e experimentar até fisicamente.

Não acabo de me assombrar quando conheço e experimento o amor sem

limites de Deus, como Deus me ama.

¿Quem é Deus e quem sou eu? Não posso continuar a reflectir. Só o

amor entende o encontro e a união entre estes dois espíritos, isto é Deus

Espírito e a alma da criatura. Quanto mais o conheço, tanto mais me afundo

n’Ele com toda a força do meu ser.

 

730 Durante estes exercícios espirituais ter-te-ei sempre junto ao

Meu Coração para que conheças melhor a Minha Misericórdia que

tenho para os homens e, especialmente, para os pobres pecadores.

 

731. No dia do início dos exercícios espirituais, veio ver-me uma das

irmãs que tinha chegado para pronunciar os votos perpétuos e me confiou

que não tinha nenhuma confiança em Deus, e que qualquer coisa a

desanimava. Respondi-lhe: Fez bem, irmã, em dizer-me; vou pedir por si. E

disse-lhe algumas palavras sobre quanto dói a Jesus a falta de confiança e

especialmente se é por parte de uma alma escolhida. Disse-me que a partir

dos votos perpétuos se exercitaria na confiança.

Agora sei que até às almas escolhidas e adiantadas na vida religiosa ou

espiritual, lhes pode faltar o ânimo para confiar totalmente em Deus. E isso

sucede porque poucas almas conhecem a insondável Misericórdia de Deus,

a sua grande bondade.

 

732. A grande Majestade de Deus que me penetrou hoje e continua

penetrando, despertou em mim um grande temor, mas um temor reverencial

e não um temor servil, que é muito distinto do temor reverencial. O temor

reverencial surgiu hoje no meu coração do amor e do conhecimento da

grandeza de Deus e isto é um grande gozo para a alma. A alma treme frente

à mais pequena ofensa a Deus, mas isto não a perturba nem ofusca a sua

felicidade. Onde impera o amor, tudo está bem.

 

733. Sucede-me, enquanto ouço os pontos da meditação, que uma

simples palavra me introduz numa mais estreita união com o Senhor e não

sei o que está dizendo o Padre. Sei que estou junto ao Misericordiosíssimo

Coração de Jesus, todo o meu espírito se funde n’Ele, e num só momento

conheço mais que durante longas horas de procura intelectual ou de

meditação. São relâmpagos repentinos de luz que me permitem conhecer

uma coisa como Deus a vê, tanto nos assuntos do mundo interior como

também nos do mundo exterior.

 

734. Vejo que o próprio Jesus actua na minha alma durante estes

exercícios espirituais, eu trato somente de ser fiel à sua graça. Confiei

totalmente a minha alma à influência de Deus, este Soberano celestial

tomou a minha alma na sua absoluta posse; sinto que sou elevada mais

acima da Terra e do Céu, para a vida interior de Deus, onde conheço o Pai,

o Filho e o Espírito Santo, mas sempre na unidade da sua Majestade.

735. Encerrei-me no cálice de Jesus para o consolar continuamente.

Fazer tudo o que posso para salvar as almas, fazê-lo através da oração e do

sofrimento.

 

Procuro ser sempre para Jesus como uma Betânia, para que possa

descansar depois de muitas fadigas. Na Santa Comunhão, a minha união

com Jesus é tão estreita e indescritível que embora quisesse descrevê-la não

conseguiria, porque não encontraria palavras apropriadas.

 

736. Esta noite vi Jesus com o aspecto que tinha na sua Paixão: tinha os

olhos levantados para o Seu Pai e rezava por nós.

 

737. Apesar de estar doente decidi fazer hoje, como de costume, a Hora

Santa. Nesta hora vi Jesus flagelado junto à coluna. Durante este terrível

tormento Jesus rezava e um momento depois disse-me: São poucas as

almas que contemplam a Minha Paixão com verdadeiro sentimento; às

almas que meditam devotamente a Minha Paixão, concedo-lhes maior

número de graças.

 

738. Sem a Minha ajuda especial não és capaz de receber nem

sequer as Minhas graças – tu sabes o que és.

 

739. Hoje, depois da Santa Comunhão, falei muitíssimo com Jesus das

pessoas que me são especialmente queridas. Então ouvi estas palavras:

Minha filha, não te esforces com tantas palavras. A quem amas de

modo especial, também Eu os amo de maneira especial e por

consideração a ti encho-os com as Minhas graças. Agrada-Me quando

Me falas deles, mas não o faças com esforços excessivos.

 

740. Oh Salvador do mundo, uno-me à Tua Misericórdia. Oh meu Jesus,

uno todos os meus sofrimentos aos Teus e deposito-os no tesouro da Igreja,

para o proveito das almas.

 

741. Hoje estive nos abismos do Inferno, conduzida por um Anjo. É um

lugar de grandes tormentos, ¡que espantosamente grande é a sua extensão!

Os tipos de tormentos que vi: o primeiro tormento que constitui o Inferno é

a perda de Deus; o segundo, o contínuo remorso da consciência; o terceiro,

aquela condição não mudará jamais; o quarto tormento, é o fogo que

penetra a alma, mas não a aniquila, é um tormento terrível, é um fogo

puramente espiritual, incendiado pela ira divina; o quinto tormento, é a

escuridão permanente, um horrível, sofocante cheiro; e apesar da escuridão

os demónios e as almas condenadas vêem-se mutuamente e vêem todos o

mal dos outros e o próprio; o sexto tormento, é a contínua companhia de

Satanás; o sétimo tormento, é um tremendo desespero, o ódio a Deus, as

imprecações, as maldições, as blasfémias.

 

Estes são os tormentos que todos

os condenados padecem juntos, mas não é o fim dos tormentos. Há

tormentos especiais para distintas almas, que são os tormentos dos sentidos:

cada alma é atormentada de modo terrível e indescritível com o que pecou.

Há horríveis calabouços, abismos de tormentos onde um tormento se

diferencia do outro. Terria morrido à vista daquelas terríveis torturas, se não

me tivesse amparado a omnipotência de Deus. Que o pecador saiba: com o

sentido que peca, com esse será atormentado por toda a eternidade. Escrevo

isto por ordem de Deus, para que nenhuma alma se desculpe [dizendo] que

o Inferno não existe e que ninguém esteve ali nem sabe como é.

 

Eu, Ir. Faustina, por ordem de Deus, estive nos abismos do Inferno para

falar às almas e dar testemunho de que o Inferno existe. Agora não posso

falar disso, mas tenho a ordem de deixá-lo por escrito. Os demónios

tinham-me um grande ódio, mas por ordem de Deus tiveram que me

obedecer. O que escrevi é uma débil sombra das coisas que vi. Observei

uma coisa: a maior parte das almas que ali estão são as que não criam que o

Inferno existisse. Quando voltei a mim quase não podia refazer-me do

espanto, que terrivelmente sofrem ali as almas. Por isso rogo com mais

fervor ainda pela conversão dos pecadores, invoco incessantemente a

Misericórdia de Deus para eles. Oh meu Jesus, prefiria agonizar nos

maiores tormentos até o fim do mundo, que ofender-Te com o menor

pecado.

 

742. JMJ

Minha filha, se por meio de ti exijo dos homens o culto à Minha

Misericórdia, tu deves ser a primeira em distinguir-te pela confiança na

Minha Misericórdia. Exijo de ti obras de Misericórdia que devem

surgir do amor por Mim. Deves mostrar Misericórdia ao próximo

sempre e em qualquer lugar. Não podes deixar de fazê-lo, nem

desculpar-te, nem justificar-te.

 

Dou-te três formas de exercer Misericórdia para com o próximo: a

primeira – a acção, a segunda – a palavra, a terceira – a oração. Nestas

três formas está contida a plenitude da Misericórdia e é o testemunho

irrefutável do amor por Mim. Deste modo a alma louva e adora a

Minha Misericórdia. Sim, o primeiro domingo depois de Páscoa é a

Festa da Misericórdia, mas também deve estar presente a acção e peço

que se renda culto à Minha Misericórdia com a solene celebração desta

Festa e com o culto à imagem que foi pintada. Através desta imagem

concederei muitas graças às almas; ela há-de recordar aos homens as

exigências da Minha Misericórdia, porque a fé sem obras, por forte que

seja, é inútil. Oh meu Jesus, ajuda-me em tudo, porque vês como sou

pequena; por isso conto unicamente com a Tua bondade, oh Deus.

Exame de consciência especial

 

743. União com Cristo misericordioso. Com o coração abarco o mundo

inteiro e, especialmente, os países salvajens e perseguidos, para eles peço

Misericórdia.

 

Dois propósitos gerais:

 

Primeiro: procurar o recolhimento interior e observar rigorosamente a

Regra do silêncio.

 

Segundo: fidelidade às inspirações interiores; levá-las à prática e à

acção, segundo a recomendação do director espiritual.

Nesta doença desejo adorar a vontade de Deus; se puder, procurarei

participar em todos os exercícios comuns; agradecerei fervorosamente ao

Senhor por cada desgosto e sofrimento.

 

744. Sinto muitas vezes que não recebo ajuda de ninguém a não ser de

Jesus, embora mais de uma vez necessite muito de esclarecimentos sobre o

que o Senhor pede.

Esta noite recebi de repente a luz de Deus sobre um assunto. Durante

doze anos reflecti sobre certa questão e não consegui compreendê-la; hoje

Jesus deu-me a conhecer o muito que isso Lhe agradou.

Festividade de Cristo Rei [25 X 1936]

 

745. Durante a Santa Missa envolveu-me um ardor interior de amor a

Deus e o desejo pela salvação das almas tão grande que não sei exprimi-lo.

Sinto que sou toda um fogo; lutarei contra todo o mal com a arma da

Misericórdia. Ardo do desejo de salvar as almas; percorro o mundo inteiro

de lés a lés e penetro até aos seus confins, até aos lugares mais selvajens

para salvar as almas. Faço-o através da oração e do sacrifício. Desejo que

cada alma glorifique a Misericórdia de Deus, que cada um experimente em

si mesmo os efeitos desta Misericórdia. Os santos no Céu adoram a

Misericórdia do Senhor, eu desejo adorá-la já aqui na Terra e propagar o seu

culto como Deus o quer de mim.

 

746. Compreendi que em alguns momentos, os mais duros, estarei só,

abandonada por todos e tenho que fazer frente a todas as tempestades e lutar

com toda a força da alma, até contra aqueles dos quais esperava ajuda.

Mas não estou só, porque Jesus está comigo, com Ele não tenho medo de

nada. Bem me dou conta de tudo e sei o que é que Deus exige de mim. O

sofrimento, o desprezo, o escárnio, a perseguição, a humilhação tudo isso

será sempre a minha parte. Não conheço outro caminho: por um amor

sincero - a ingratidão. Esta é a minha [estreita] senda traçada por Jesus.

Oh meu Jesus, minha força e minha única esperança, somente em Ti

toda a minha esperança. A minha confiança não será defraudada.

 

747. Dia de renovação dos votos. A presença de Deus penetra a

minha alma de modo não somente espiritual, mas também a sinto mesmo

fisicamente.

 

748. 2 de Novembro. À tarde, depois das vésperas fui ao

cemitério. Depois de rezar um momento, vi uma das nossas irmãs que

me disse: «Estamos na capela». Entendi que devia ir à capela e rezar ali

para adquirir indulgências. No dia seguinte, durante a Santa Missa, vi três

pombas brancas que voaram do altar para o Céu. Compreendi que não

somente estas três almas queridas que tinha visto foram para o Céu, mas

também muitas outras que tinham morrido fora do nosso instituto. Oh, que

bom e misericordioso é o Senhor.

 

749. Diálogo com o Padre Andrasz, no final dos exercícios espirituais.

Surpreendeu-me muitíssimo uma coisa que notei durante todas as conversas

nas quais pedi conselhos e indicações ao Padre, a saber: observei que o

Padre Andrasz a todas as minhas perguntas que lhe fiz sobre as coisas que o

Senhor exigia de mim, me respondia com tanta claridade e determinação

como se ele mesmo as tivesse vivido. Oh meu Jesus, se houvesse mais guias

espirituais como ele, as almas sob a sua direcção chegariam aos cumes da

santidade em pouco tempo e não desperdiçariam tantas grandes graças. Eu

agradeço continuamente a Deus por esta grande graça de Se ter dignado, na

Sua bondade, pôr no caminho da minha vida espiritual estas colunas

luminosas que iluminam o meu caminho, para que não me desvie, nem me

atrase na procura dessa estreita união ao Senhor. Tenho um grande amor

pela Igreja que educa e conduz as almas a Deus.

31 X 1936. Conversa com a Madre Geral.

 

750. Quando falei com a Madre Geral sobre a questão de sair da

Congregação, recebi esta resposta: «Se o senhor Jesus exige que a irmã

abandone esta Congregação, que me dê algum sinal de que Ele o quer. A

irmã reze por este sinal, porque eu tenho medo de que seja vítima de

alguma ilusão, embora, por outro lado, não quero pôr obstáculos à vontade

de Deus nem opor-me a ela, já que eu também quero cumprir a vontade de

Deus». Assim, pois, acordámos que eu ficaria onde estava, até o momento

em que o Senhor desse a conhecer à Madre Geral que era Ele quem exigia

que eu saisse da Congregação.

 

751. Assim, pois, todo o assunto se adiou um pouco. Vês, Jesus, que

agora tudo depende somente de Ti. Apesar destas grandes ansiedades estou

completamente tranquila; eu pela minha parte fiz tudo o que podia e agora é

a Tua vez, oh meu Jesus, e assim será evidente que a causa é Tua. Eu pela

minha parte estou totalmente de acordo com a Tua vontade, faz de mim o

que quiseres, oh Senhor, dá-me somente a graça de que Te ame cada vez

com mais fervor; isto é o que me é mais querido, não desejo nada fora de

Ti, Amor eterno. Não importa por que caminhos me leves, dolorosos ou

gozosos. Eu desejo amar-Te em cada momento da minha vida. Se me

mandares ir, oh Jesus, cumprir a Tua vontade, irei; se me mandares ficar,

ficarei; não importa o que sofra, num ou noutro caso. Oh meu Jesus, se vou,

sei o que devo aguentar e suportar.

 

Aceito-o plenamente consciente, e com

um acto de vontade já aceitei tudo. Não importa o que está encerrado neste

cálice para mim, basta-me saber que o deu a mão amorosa de Deus. Se me

fazes voltar deste caminho e me ordenas ficar, ficarei apesar de todas os

ímpetos interiores. Se continuares a manter na minha alma e me deixas

nesta agonia interior, embora seja até o fim da vida, aceito-o com plena

consciência da vontade e com amorosa submissão a Ti, oh meu Deus. Se

fico, esconder-me-ei na Tua Misericórdia, meu Deus, tão profundamente

que nenhum olhar poderá ver-me. Desejo ser na minha vida um incensário

cheio de fogo oculto e que o fumo que se levanta para Ti, Hóstia viva, Te

seja agradável. Sinto no meu próprio coração que cada pequeno sacrifício

desperta um fogo do meu amor por Ti, embora de modo tão silencioso e

escondido que ninguém consegue vê-lo.

 

752. Quando disse à Madre Geral que o Senhor exigia que a

Congregação rezasse esta coroinha para propiciar a ira divina, a Madre

respondeu-me que de momento não podia introduzir estas novas preces, não

aprovadas, «mas dê-me, irmã, esta coroinha, talvez durante alguma

adoração se possa rezar, vamos a ver. Seria bom que o Padre Sopocko

editasse algum folheto com essa coroinha. Seria melhor e mais fácil rezá-la,

então, na Congregação, porque sem isso é um pouco difícil».

 

753. A Misericórdia do Senhor é glorificada no Céu pelas almas dos

santos que experimentaram em si próprios esta Misericórdia infinita. O que

aquelas almas fazem no Céu, eu começarei já aqui na Terra. Glorificarei a

Deus pela Sua bondade infinita e procurarei que outras almas conheçam e

adorem esta indizível e inconcebível Misericórdia de Deus.

 

754. Promessa do Senhor: Às almas que rezem esta coroinha, a Minha

Misericórdia as envolverá em vida e especialmente à hora da morte.

 

755. Oh meu Jesus, ensina-me a abrir as entranhas da Misericórdia e do

amor a todos os que mo peçam.

Oh Jesus, meu Guia, ensina-me que todas as minhas preces e obras

tenham impresso o selo da Tua Misericórdia.

 

756. 18 XI 1936. Hoje procurei fazer todas as minhas práticas de

piedade antes da bênção, porque sentia-me mais doente que de costume. Por

isso, uma vez terminada a bênção deitei-me. Mas, ao entrar no dormitório,

de repente soube dentro de mim que devia ir à cela da Ir. N., porque ela

necessitava ajuda. Entrei imediatamente naquela cela e a Ir. N. disse-me:

«Oh, que sorte que Deus a tenha trazido aqui, irmã». E falava com uma voz

tão baixa que mal a ouvia. Disse-me: «irmã, traga-me, por favor, um pouco

de chá com limão porque tenho muitíssima sede e não posso mover-me por

sofrer muito»; e efectivamente sofria muito e tinha muita febre. Atendi-a e

com esse pouquito de chá acalmou os seus lábios sedentos. Quando entrei

na minha cela, um grande amor de Deus envolveu a minha alma e percebi

que deveria fazer caso das inspirações interiores e segui-las fielmente; a

fidelidade a uma graça atrai outras.

 

757. 19 XI [1936]. Hoje durante a Santa Missa vi Jesus que me disse:

Fica tranquila, Minha filha, vejo os teus esforços, que Me agradam

muito. E o Senhor desapareceu e era o momento de aproximar-me da Santa

Comunhão. Depois de receber a Santa Comunhão, de repente vi o Cenáculo

e nele Jesus e os apóstolos; vi a institução do Santíssimo Sacramento. Jesus

permitiu-me penetrar no seu interior e conheci a Sua grande Majestade e ao

mesmo tempo a Sua grande humildade. Esta luz misteriosa que me permitiu

conhecer a sua Majestade revelou-me, ao mesmo tempo, o que há dentro da

minha alma.

 

758. Jesus deu-me a conhecer o abismo da sua doçura e humildade, e

fez-me saber que o exigia de mim decididamente. Senti o olhar de Deus na

minha alma que me encheu de um amor inefável, mas compreendi que o

Senhor olhava com amor as minhas virtudes e os meus esforços heróicos e

soube que eles atraíam Deus para o meu coração. Por isso compreendi que

não era suficiente preocupar-me somente pelas virtudes ordinárias, mas que

devia exercitar-me nas virtudes heróicas, embora exteriormente parecessem

coisas totalmente normais, no entanto o modo seria diferente, distinguido

somente pelo olhar do Senhor.

 

Oh meu Jesus, o que escrevi é somente uma pálida sombra do que

entendo na alma, estas são as coisas puramente espirituais, mas para

descrever algo do que o Senhor me dá a conhecer, tenho que utilizar as

palavras que me deixam insatisfeitas, porque não traduzem a realidade.

 

759. A primeira vez que recebi estes sofrimentos foi assim: depois

dos votos anuais, um dia, enquanto rezava vi uma grande claridade e

dessa claridade saíam dois raios que me envolveram e de repente senti uma

tremendo dor nas mãos, nos pés e no lado e o sofrimento da coroa de

espinhos. Experimentava este sofrimento nas sextas-feiras, durante a Santa

Missa, mas era um momento muito breve. Isto repetiu-se umas quantas

vezes e depois não senti nenhum sofrimento até ao momento actual, isto é,

até finais de Setembro deste ano. Nesta doença, na sexta-feira, durante a

Santa Missa senti que me trespassavam os mesmos sofrimentos; e isso

repetia-se cada sexta-feira e, às vezes, quando encontro alguma alma que

não está em estado de graça. Embora isso suceda raramente, o sofrimento

dura muito pouco tempo, no entanto é terrível, e sem uma graça especial de

Deus não poderia suportá-lo. E exteriormente não tenho nenhuns sinais

destes sofrimentos. ¿Que virá depois? Não sei. Tudo seja pelas almas…

 

760. 21 XI [1936]. Jesus, vês que não estou gravemente doente nem

tampouco sã. Infundes na minha alma o entusiasmo para actuar e não tenho

forças; arde em mim o fogo do Teu amor e o que não consigo fazer com a

força física, compensa-o o amor.

 

 

761. Oh Jesus, o meu espírito anseia por Ti e desejo muito unir-me a Ti,

mas detêm-me as Tuas obras. Não está ainda completo o número de almas

que devo levar-te. Desejo as fadigas, os sofrimentos, que se cumpra em

mim tudo que planeaste antes de todos os séculos, oh meu Criador e Senhor.

Compreendo apenas a Tua palavra, somente ela me dá forças. O Teu

Espírito, oh Senhor, é o espírito da paz e nada perturba o meu interior,

porque ali moras Tu, oh Senhor.

 

Sei que estou sob o Teu olhar especial, oh Senhor. Não analiso com

temor os Teus desígnios por mim; a minha tarefa é aceitar tudo das Tuas

mãos, não tenho medo de nada embora a tempestade esteja enfurecida e

tremendos raios caiam à minha volta e então sinto-me verdadeiramente só,

no entanto o meu coração sente-Te e a minha confiança aumenta

consideravelmente vendo toda a Tua omnipotência que me sustém.

 

Contigo, Jesus, caminho pela vida entre arco-íris e tormentas, com um grito de gozo,

entoando um hino à Tua Misericórdia. Não interromperei este canto de

amor até que o entoe o coro angélico. Não existe nenhuma força que possa

deter-me no meu caminho para Deus. Vejo que nem sequer as Superioras

entendem o caminho pelo qual Deus me leva, e isso não me surpreende.

 

762. Numa ocasião vi o Padre Sopocko rezando, reflectindo sobre este

caso. Vi como, de repente, surgiu um círculo de luz por cima da sua

cabeça. Mesmo que nos separe a distância, vejo-o muitas vezes,

especialmente, quando trabalha no escritório, apesar do cansaço.

 

763. 22 XI [1936]. Hoje, durante a confissão, Jesus falou-me pela boca

de certo sacerdote. Aquele sacerdote não conhecia a minha alma e acuseime somente dos pecados; no entanto ele disse-me estas palavras: «cumpre

fielmente tudo o que Jesus exige de ti, apesar das dificuldades. Hás de saber

que embora os homens se molestem contigo, Jesus não se cansa e nunca se

enfadará contigo. Não faças caso de nenhuma consideração humana». No

primeiro momento este conselho surpreendeu-me; compreendi que o

Senhor falava através dele, enquanto ele se deu pouca conta disso. Oh

sagrado mistério, que grandes tesouros conténs. Oh fé santa, que me indicas

o meu caminho.

 

764. 24 XI. Hoje, recebi uma carta do Padre Sopocko. Pela carta

soube que o próprio Deus dirige esta Causa e como o Senhor a iniciou, do

mesmo modo o Senhor a guiará, e quanto maiores forem as dificuldades

que vejo, tanto mais tranquila estou. Oh, se esta Causa não originasse uma

grande glória de Deus, nem proveito para muitas almas, Satanás não se

oporia deste modo; mas ele intui o que vai perder. Agora compreendi que o

que Satanás odeia mais é a Misericórdia; ela é o seu maior tormento. Mas a

Palavra do Senhor não passará, a Palavra de Deus é vida, as dificuldades

não aniquilam as obras de Deus, mas demonstram que são de Deus….

 

765. Uma vez vi o convento desta nova Congregação. Enquanto o

percorria e visitava tudo, de repente vi um grupito de meninos cuja idade

oscilava entre cinco e onze anos. Ao ver-me, rodearam-me e puseram-se a

gritar em voz alta: «Defende-nos do mal», e levaram-me à capela que

estava naquele convento. Quando entrei na capela, vi nela Jesus

martirizado: Jesus olhou-me bondosamente e disse-me que era ofendido

gravemente pelos meninos. Defende-os tu do mal. A partir daquele

momento rezo pelos meninos, mas sinto que a prece só não é suficiente.

 

766. Oh meu Jesus, Tu sabes que esforços são necessários para tratar

sinceramente e com simplicidade com as pessoas de quem a nossa natureza

foge, ou com os que nos fizeram sofrer consciente ou inconscientemente;

humanamente isto é impossível. Em tais momentos, mais que noutras

ocasiões, procuro ver Jesus naquelas pessoas e por este Mesmo Jesus faço

tudo por elas. Em tais acções o amor é puro. Este exercício de caridade

afina a alma e dá-lhe força. Não espero nada das criaturas, portanto não

experimento nenhuma desilusão; sei que a criatura é pobre em si. Assim,

pois ¿que posso esperar dela? Deus é tudo para mim, desejo avaliar tudo à

luz de Deus.

 

767. Actualmente a minha relação com o Senhor é plenamente

espiritual; a minha alma está tocada por Deus e afunda-se inteiramente

n’Ele, até esquecer-se de si mesma. Embebida de Deus totalmente, afoga-se

na Sua beleza, dissolve-se toda n’Ele. Não sei descrevê-lo, porque

escrevendo uso os sentidos e ali, naquela união, os sentidos não funcionam;

há uma união de Deus e da alma, há uma vida tão grande em Deus a que a

alma é admitida que é impossível exprimi-la com palavras.

 

Quando a alma

regressa à vida normal, então vê que esta vida é uma escuridão, uma névoa,

uma sonolenta confusão, umas faixas que envolvem um menino pequeno.

Em tais momentos a alma vive unicamente de Deus, porque ela por si

mesma não faz nada, não faz o menor esforço, Deus faz tudo nela. Mas

quando a alma volta ao estado normal, vê que não está em seu poder

permanecer mais nessa união. Aqueles momentos são breves, embora

longos [nos seus efeitos]; a alma não pode permanecer muito tempo em tal

estado, porque por força se libertaria para sempre dos vínculos do corpo,

apesar de ser sustentada milagrosamente por Deus. Deus dá a conhecer

claramente à alma quanto a ama, como se só ela fosse o objecto da sua

complacência. A alma conhece-o de modo claro e quase sem véus, lança-se

com todo o vigor para Deus, mas sente-se como uma criança pequena. Sabe

que isto não está em seu poder, portanto, Deus desce até ela e une-a

Consigo de maneira… aqui devo calar-me porque o que a alma

experimenta, não sei descrevê-lo.

 

768. É uma coisa estranha que embora a alma viva esta união com Deus

não saiba dar-lhe uma forma exacta nem defini-la; no entanto, ao encontrar

outra alma semelhante, as duas entendem-se mutuamente nestas coisas

apesar de não falarem muito entre si. A alma unida a Deus deste modo

reconhece com facilidade outra alma semelhante, embora aquela não lhe

revele o seu íntimo e só fale normalmente com ela.

É uma especie de parentesco espiritual. Não há muitas almas unidas a

Deus deste modo, menos do que pensamos.

 

769. Verifiquei que Deus concede esta graça às almas por duas razões: a

primeira é quando a alma deve cumprir uma grande missão que

absolutamente ultrapassa as suas forças, humanamente falando. No segundo

caso, notei que Deus concede a graça para guiar e tranquilizar as almas

semelhantes, embora o Senhor pode conceder esta graça como lhe agradar e

a quem lhe agradar. Observei esta graça em três sacerdotes. Um deles é

sacerdote secular e dois são religiosos; os dois religiosos [receberam esta

graça], mas em graus diferentes.

 

770. Quanto a mim, recebi esta graça pela primeira vez e por um

brevíssimo momento com a idade de dezoito anos, na oitava de

Corpus Cristi, durante as vésperas, quando fiz a Jesus o voto perpétuo de

castidade. Vivia ainda no mundo, mas pouco depois entrei no convento.

Esta graça durou um brevíssimo momento, mas a potência desta graça foi

enorme. Depois daquela graça houve um longo intervalo. Na verdade,

durante esse intervalo recebi do Senhor muitas graças, mas de outra índole.

Foi um período de provações e de purificação. As provações foram tão

dolorosas que a minha alma experimentou um abandono total da parte de

Deus, foi submergida em grandes trevas.

 

Notei e compreendi que ninguém

conseguiria libertar-me daqueles tormentos e que não podiam compreenderme. Houve dois momentos em que a minha alma foi submergida no

desespero, uma vez por meia hora, outra vez por três quartos de hora.

Quanto às graças, não posso descrever exactamente a sua grandeza, o

mesmo se refere às provações de Deus. Embora usasse não sei que palavras,

tudo isso seria uma pálida sombra. No entanto o Senhor submergiu-me

nestes tormentos e o Senhor me libertou. Isso durou um par de anos e recebi

novamente esta graça excepcional da união, que dura até hoje. No entanto

também nesta segunda união houve breves pausas. No entanto, desde há

algum tempo, não experimento intervalos, mas submerge-me [a graça] cada

vez mais profundamente em Deus. A grande luz com que é iluminado o

intelecto, dá a conhecer a grandeza de Deus, não para que conhecesse n’Ele

os distintos atributos, como antes; não, agora é de outro modo: num só

momento conheço toda a essência de Deus.

 

 

771. No mesmo instante a alma mergulha inteiramente n’Ele e sente uma

felicidade tão grande como os eleitos no Céu. Embora os eleitos no

Céu vejam a Deus cara a cara e são totalmente felizes, de modo absoluto,

no entanto o seu conhecimento de Deus não é igual; Deus deu-mo a

conhecer. O conhecimento mais profundo começa aqui na Terra, segundo a

graça, mas em grande parte depende da nossa fidelidade à graça. No

entanto, a alma que experimenta esta inefável graça da união, não pode

dizer que vê a Deus cara a cara, já que aqui há um delgadíssimo véu da fé;

mas tão delgado que a alma pode dizer que vê a Deus e fala com Ele.

 

Ela é “divinizada”, Deus dá a conhecer à alma quanto a ama, e a alma vê que

almas melhores e mais santas que ela não receberam esta graça. Por isso

envolve-a um santo assombro, que a mantém numa profunda humildade,

abismada do seu nada e no seu sagrado assombro. Quanto mais se humilha,

tanto mais estreitamente Deus se une a ela e se inclina para ela. Naquele

momento a alma está como escondida, os seus sentidos inactivos, num

momento conhece Deus e se submerge n’Ele. Conhece toda a profundidade

do Insondávei e quanto mais profundo é o conhecimento, tanto mais

fervorosamente a alma o deseja.

 

772. É grande a reciprocidade entre a alma e Deus. Quando a alma sai

deste estado oculto, os sentidos experimentam o sabor do deleite da alma.

Isto também é uma grandíssima graça de Deus, mas não é puramente

espiritual; na primeira fase os sentidos não tomam parte. Cada graça dá à

alma fortaleza e força para a acção, valentia para [afrontar] os sofrimentos.

 

773. A alma sabe bem o que Deus quer dela e cumpre a sua santa

vontade, apesar das contrariedades. No entanto, nestas coisas a alma não

pode avançar só, tem que seguir o conselho de um confessor esclarecido,

porque, de contrário, pode desviar-se e não obter nenhum beneficio.

 

774. Compreendo bem, oh meu Jesus, que como uma doença se mede

com o termómetro e a febre alta nos indica a gravidade da doença, assim na

vida espiritual o sofrimento é o termómetro que mede o amor de Deus na

alma.

 

775. O meu fim é Deus… A minha felicidade é o cumprimento da

vontade de Deus e nada no mundo poderá perturbar esta felicidade,

nenhuma potência, nenhuma força.

 

776. Hoje, o Senhor esteve na minha cela e disse-me: Minha filha,

deixar-te-ei nesta Congregação já por pouco tempo. Digo-to para que

aproveites com mais diligência as graças que te concedo.

 

777. 27 XI [1936]. Hoje, em espírito, estive no Céu e vi essas

inconcebíveis belezas e felicidade que nos esperam depois da morte. Vi

como todas as criaturas dão incessantemente honra e glória a Deus; vi o

grande que é a felicidade em Deus que se derrama sobre todas as criaturas,

fazendo-as felizes; e toda a honra e glória que as faz felizes retornam à

Fonte e elas entram na profundidade de Deus, contemplam a vida interior

de Deus, Pai, Filho e Espírito Santo, que nunca entenderão nem penetrarão.

Esta fonte de felicidade é invariável na sua essência, mas sempre nova,

brotando para fazer felizes todas as criaturas. Agora compreendo São Paulo

que disse: Nem o olho viu, nem o ouvido ouviu, nem jamais entrou no

coração do homem, o que Deus preparou para os que O amam.

 

778. Deus deu-me a conhecer uma só e única coisa que a Seus olhos tem

valor infinito, e este é o amor de Deus, amor, amor e uma vez mais amor, e

com um acto de amor puro a Deus nada pode comparar-se. Oh, que

inefávels favores Deus concede à alma que o ama sinceramente. Oh, felizes

as almas que já aqui na Terra gozam dos seus especiais dons, e essas são as

almas pequenas e humildes.

 

779. Esta grande Majestade de Deus que conheci mais profundamente,

que os espíritos celestes adoram segundo o grau da graça e a hierarquia em

que se dividem; ao ver esta potência e esta grandeza de Deus, a minha alma

não ficou estarrecida de espanto nem de temor, não, não absolutamente não.

A minha alma ficou cheia de paz e amor, e quanto mais conheço Deus tanto

mais me alegro de que Ele seja assim. E gozo imensamente com a sua

grandeza e alegro-me por ser tão pequena, porque por ser tão pequena, levame nos Seus braços e tem-me junto ao Seu Coração.

 

780. Oh meu Deus, que pena me dão os homens que não crêem na vida

eterna; quanto rogo por eles para que os envolva o raio da Misericórdia e

para que Deus os abrace ao Seu seio paterno. Oh amor, oh rei.

 

781. O amor não conhece temor, passa por todos os coros angélicos que

fazem guarda diante do Seu trono. Não tem medo de ninguém; alcança a

Deus e se submerge n’Ele como no seu único tesouro. O Querubim com a

espada de fogo que vigia o paraíso, não tem poder sobre ele. Oh, puro amor

de Deus, que imenso e incomparável és. Oh, se as almas conhecessem a Tua

força.

 

782. Hoje estou muito fraca, nem sequer posso fazer a meditação na

capela, tenho de ir deitar-me.

Oh meu Jesus, quero-Te e desejo glorificar-Te com a minha debilidade,

submetendo-me totalmente à Tua santa vontade.

 

783. Tenho que vigiar-me muito, sobretudo hoje, porque começa a

envolver-me uma excessiva sensibilidade por tudo. As coisas que, estando

eu de boa saúde, não chamariam a minha atenção, hoje irritam-me. Oh meu

Jesus, meu escudo e minha força, concede-me a graça de sair vitoriosa de

tais circunstâncias. Oh meu Jesus, transforma-me em Ti com o poder do

Teu amor, para que seja um digno instrumento para proclamar a Tua

Misericórdia.

 

784. Agradeço ao Senhor por esta doença e pelos sofrimentos físicos,

porque tenho tempo para falar com Jesus. É o meu deleite passar longos

momentos aos pés de Deus oculto; e as horas passam como minutos, sem

saber como. Sinto que dentro de mim arde um fogo, e não compreendo

outra vida senão a do sacrifício que brota do amor puro.

 

785. 29 XI [1936]. A Santíssima Virgem ensinou-me como devo

preparar-me para a festa da Natal do Senhor. Vi-A hoje sem o Menino

Jesus; disse-me: Minha filha, procura ser mansa e humilde para que Jesus,

que vive continuamente no teu coração, possa descansar. Adora-O no teu

coração, não saias de teu mais íntimo. Obterei para ti, minha filha, a graça

de uma vida interior tal que, sem abandonar essa intimidade, sejas capaz

de cumprir exteriormente todas as tuas obrigações com a maior aplicação.

Permanece continuamente com Ele no teu coração. Ele será a tua força.

Mantém o contacto com as criaturas na medida em que as necessidades e

as obrigações o exigirem. És uma morada agradável a Deus Vivo, na qual

Ele permanece continuamente com amor e complacência, e a presença viva

de Deus que sentes de modo mais vivo e evidente, te confirmará, minha

filha, no que te digo. Procura comportar-te assim até o dia de Natal, e

depois Ele Mesmo te dará a conhecer como deverás tratar com Ele e unirte a Ele.

 

786. 30 XI [1936]. Hoje, durante as vésperas uma dor trespassou a

minha alma, vejo que esta Obra ultrapassa as minhas forças em todos os

aspectos. Sou uma criança pequena frente à imensidade desta Obra e só por

uma ordem clara de Deus tento cumpri-la; e por outro lado também estas

grandes graças se tornaram um fardo para mim e mal o posso levar. Vejo a

incredulidade das Superioras e as dúvidas de todo o tipo e em consequência

o comportamento desconfiado para comigo.

 

Oh meu Jesus, vejo que

também as graças tão grandes podem ser um sofrimento, e verdadeiramente

é assim; não só pode haver sofrimentos por este motivo, mas têm que existir

como uma característica da actuação de Deus. Entendo bem que se o

próprio Deus não amparasse a alma nestas distintas provações, a alma por si

mesma não conseguiria nada, mas o próprio Deus é o seu escudo. Durante

as vésperas, enquanto continuava a contemplar esta especie de mescla de

sofrimento e de graça, ouvi a voz da Santíssima Virgem: Deves saber,

minha filha, que apesar de ser elevada a dignidade da Mãe de Deus, sete

espadas dolorosas trespassaram o Meu coração. Não faças nada em tua

defesa, suporta tudo com humildade, o próprio Deus te defenderá.

 

787. 1 XII [1936]. Exercícios espirituais de um dia.

Hoje, durante a meditação matutina, o Senhor deu-me a conhecer e

compreender claramente o carácter invariável dos seus desejos. E vejo

claramente que ninguém pode libertar-me deste dever de cumprir a vontade

de Deus, conhecida por mim. Uma grande falta de saúde e das forças físicas

não é uma razão suficiente, e não me dispensa desta Obra que o próprio

Senhor está a realizar; devo ser somente um instrumento nas suas mãos.

Pois, Senhor, eis-me aqui para cumprir a tua vontade, manda-me segundo

os Teus eternos desígnios e predilecções, dá-me somente a graça de Te ser

sempre fiel.

 

788. Quando falava com Deus oculto, deu-me a conhecer e compreender

que não devo reflectir muito nem ter medo das dificuldades que posso

encontrar. Fica a saber que Eu estou contigo, estabeleço as dificuldades,

venço-as e, num só instante posso mudar as atitudes contrárias em

atitudes favoráveis a esta Causa. Durante a conversa de hoje o Senhor

esclareceu-me muito, embora eu não escreva tudo.

 

789. Dar sempre a prioridade aos outros em todas as circunstâncias,

especialmente durante o recreio, escutar tranquilamente sem interromper,

mesmo que me já tivessem contado dez vezes o mesmo. Nunca perguntar

pelas coisas que me interessam muito.

 

790. Propósito: sempre o mesmo, isto é, unir-me a Cristo

Misericordioso.

Propósito geral: recolhimento interior, silêncio.

 

791. Esconde-me, Jesus, na profundidade da Tua Misericórdia, e que o

próximo me julgue, então, como lhe apetecer.

 

792. Nunca falar das minhas próprias vivências. No sofrimento procurar

alívio na oração, nas dúvidas mais pequenas procurar somente o conselho

do confessor. Ter o coração sempre aberto para receber os sofrimentos dos

outros e os meus sofrimentos mergulhá-los no Coração de Deus para que

exteriormente se não notem, se possível.

 

Tentar manter sempre o equilíbrio embora as circunstâncias sejam

extremamente tormentosas.

Não permitir que seja perturbada a minha paz e o meu silêncio interior.

Nenhuma coisa pode comparar-se com a paz do coração. Se me censuram

injustamente, não me justificar; se a Superiora quer conhecer a verdade

sobre se tenho ou não tenho razão, pode sabê-lo não necessáriamente por

mim. Devo aceitar tudo com uma atitude interior de humildade.

Viverei este Advento segundo as indicações da Santíssima Virgem: em

mansidão e humildade.

 

793. Vivo estes momentos com a Santíssima Virgem. Com imensa ânsia

espero a vinda do Senhor.

Os Meus desejos são grandes. Desejo que todos os povos conheçam o

Senhor, desejo preparar todas as nações para a vinda do Verbo Encarnado.

Oh Jesus, faz que a fonte da Tua Misericórdia brote com maior abundância,

porque a humanidade está muito doente e por isso mais que nunca necessita

da Tua compaixão. Tu és um mar ilimitado de Misericórdia para nós,

pecadores e quanto maior é a nossa miséria, tanto maior é o direito que

temos à Tua Misericórdia. Tu és a fonte que faz feliz cada criatura, por meio

da Tua Misericórdia infinita.

 

794. Hoje [9 XII 1936] vou para Pradnik, nas proximidades de Cracóvia,

para tratamento; terei de estar ali três meses. Manda-me para lá o grande

carinho das Superioras e, especialmente, da nossa querida Madre Geral, que

tem grande cuidado pelas irmãs doentes. Aceitei esta graça do tratamento,

mas submeto-me totalmente à vontade de Deus; que Deus faça de mim o

que lhe agradar.

 

795. Não desejo outra coisa que cumprir a Sua santa vontade. Uno-me à

Santíssima Virgem e abandono Nazaré para ir a Belém, onde passarei as

festas de Natal, entre estranhos, mas com Jesus, Maria e José, porque esta é

a vontade de Deus. Procuro cumprir em tudo a vontade de Deus, não desejo

curar-me mais do que morrer. Abandono-me completamente à Sua

Misericórdia infinita e, como uma criança pequena, vivo em absoluta

tranquilidade; procuro somente que o meu amor por Ele seja cada vez mais

profundo e mais puro, para ser um deleite para o Seu divino olhar…

 

796. O Senhor disse-me para rezar esta coroinha durante nove dias antes

da Festa da Misericórdia. Devo começar na Sexta-feira Santa. Durante esta

novena concederei às almas toda a espécie de graças.

 

797. Quando tive algum receio de ter que ficar só durante longo tempo

fora da Congregação, Jesus disse-me: Não estarás só, porque Eu estou

contigo sempre e em toda a parte; junto ao Meu Coração não tenhas

medo de nada. Eu Mesmo sou a causa da tua partida. Deves saber que

o Meu olhar segue com atenção cada movimento do teu coração. Levo-te para esse lugar isolado para conformar o teu coração com os Meus desígnios futuros. ¿De que tens medo? Se estás Comigo quem se

atreverá a tocar-te? Alegro-me muito de que Me digas os teus medos,

Minha filha, fala-me de tudo de forma simples e humana, que Me

alegrarás muitíssimo com isso; Eu te entendo, porque sou Deus –

Homem. Essa linguagem simples do teu coração Me é mais agradável

que os hinos compostos em Minha honra. Deves saber, Minha filha, que

quanto mais simples forem as tuas palavras, tanto mais Me atrais para

ti. E, agora, fica tranquila junto ao Meu Coração, deixa a caneta e

prepara-te para a partida.

 

798. 9 XII 1936. Esta manhã fui para Pradnik. Acompanhou-me a Ir.

Crisóstoma. Tenho um quarto isolado só para mim; pareço-me totalmente

com uma carmelita. Quando a Ir. Crisóstoma se foi embora e eu fiquei só,

mergulhei em oração, confiando-me à protecção especial da Santíssima

Virgem. Só ela está sempre comigo. Ela, como uma boa Mãe, está atenta a

todas as minhas vivências e esforços.

 

799. Subitamente vi Jesus que me disse: Fica tranquila, Minha filha,

vês que não estás só. O Meu Coração vela por ti. Jesus encheu-me de

coragem em relação com uma certa pessoa; sinto fortaleza na alma.

 

800. Um princípio moral

Quando não se sabe o que é melhor, há que reflectir e examinar e pedir

conselho porque não se pode actuar na dúvida de consciência. Na incerteza,

dizer-se a si próprio: qualquer coisa que faça será bem feita, porque tenho a

intenção de a fazer bem. Deus aceita o que nós consideramos bom, e Deus

aceita e considera bom. Não devo preocupar-me se depois de algum tempo,

verificar que aquelas coisas afinal não são boas. Deus vê a intenção com a

qual começamos e segundo ela dará a recompensa. É um princípio que

devemos seguir.

 

801. Também hoje fui fazer uma breve visita ao Senhor, antes de me

deitar. A minha alma submergiu-se n’Ele como no meu único tesouro, o

meu coração descansou um momento junto ao Coração do meu Esposo. Fui

iluminada sobre como me comportar com as pessoas que estão à minha

volta e regressei à minha solidão. O médico dedicou-me o seu maior

cuidado. À minha volta vejo corações muito bondosos.

 

802. 10 XII [1936]. Hoje levantei-me cedo e ainda antes da Santa Missa

tive a meditação. Aqui a Santa Missa é às seis. Depois da Santa Comunhão

o meu espírito submergiu-se no Senhor como no único objecto do meu

amor. Sentia-me absorvida pela sua omnipotência. Ao regresar à minha

solidão senti-me mal e tive que deitar-me imediatamente. A irmã

trouxe-me gotas, mas senti-me mal durante todo o dia. À noite procurei

fazer a Hora Santa, no entanto não pude fazê-la, uni-me somente a Jesus

nos Seus sofrimentos.

 

803. O meu quarto isolado está junto à sala dos homens; não sabia que os

homens são tão faladores; desde manhã até altas horas da noite conversam

sobre distintos temas; na sala das mulheres há muito mais silêncio. Sempre

se acusa disto nas mulheres, mas tive a possibilidade de me convencer [do

contrário]. É difícil concentrar-me para rezar entre as gargalhadas e as

piadas. Só não me incomodam quando a graça de Deus me toma na sua

absoluta posse, pois então não me dou conta do que se passa à minha volta.

Oh meu Jesus, que pouco falam de Ti estas pessoas.

 

804. Falam de tudo menos de Ti, Jesus. E se falam pouco, seguramente não

pensam nada; ocupam-se do mundo inteiro, mas a respeito de Ti, oh

Criador, o silêncio. Fico triste, oh Jesus, ao ver esta imensa indiferença e

ingratidão das criaturas. Oh meu Jesus, desejo amar-Te por eles e

compensar-Te com o meu amor.

 

805. A Imaculada Conceição

Desde manhã cedo sentia a proximidade da Virgem Santíssima. Durante a

Santa Missa vi-A tão resplandecente e bela que não encontro palavras para

exprimir nem sequer a mínima parte da sua beleza. Era toda branca, cingida

com uma faixa azul, o manto também azul, a coroa na cabeça, de toda a

imagem irradiava um esplendor inconcebível. Sou a Rainha do Céu e da

Terra, mas especialmente a vossa mãe. Estreitou-me ao Seu coração e

disse: Eu sempre me compadeço de ti. Senti a fortaleza do Seu Imaculado

Coração que se transmitiu à minha alma.

 

Agora compreendo porque desde há duas semanas me preparava para esta

festa e a desejava tanto.

Desde hoje procurarei a máxima pureza da alma, para que os raios da graça

de Deus se reflictam com toda a clareza. Desejo ser o cristal para encontrar

complacência diante dos Seus olhos.

 

806. Naquele dia vi um certo sacerdote rodeado do esplendor que provinha

dele; evidentemente aquela alma ama a Imaculada.

 

807. Um misterioso anseio envolve a minha alma, surpreendo-me que ele

não separe a alma do corpo.

Desejo a Deus, desejo submergir-me n’Ele. Entendo que estou num terrível

desterro, toda a fortaleza da minha alma morre pelo anseio de estar com

Deus. Oh, habitantes da minha Pátria, recordem esta desterrada. ¿Quando

cairão os véus também para mim? Embora veja e quase sinta o finito que é

o véu que me separa do Senhor, eu desejo vê-lo cara a cara, mas que tudo se

faça segundo a Sua vontade.

 

808. 11 XII. Hoje não pude assistir a toda a Santa Missa; estive presente

somente nas partes mais importantes e, depois de comungar, voltei

imediatamente à minha solidão. De repente envolveu-me a presença de

Deus e naquele mesmo momento experimentei a Paixão do Senhor durante

um brevíssimo momento. Naquele instante conheci mais profundamente a

Obra da Misericórdia.

 

809. À noite fui despertada súbitamente e conheci que uma alma me pedia a

oração e que tinha uma grande necessidade de preces. Brevemente, mas

com toda a minha alma, pedi ao Senhor a graça para ela.

 

810. No dia seguinte, passado já o meio dia, quando entrei na sala vi uma

pessoa agonizante e soube que a agonia tinha começado de noite. Depois de

tê-lo verificado soube que tinha sido quando me pediu para rezar. De

repente ouvi na alma a voz: Reza a coroinha que te ensinei.

Corri a procurar o rosário e ajoelhei-me junto à agonizante e com tudo o

ardor do meu espírito comecei a rezar esta coroinha. De súbito a agonizante

abriu os olhos e olhou-me, e não consegui rezar toda a coroinha porque ela

morreu com uma misteriosa serenidade. Pedi fervorosamente ao Senhor que

cumprisse a promessa que me tinha feito por rezar a coroinha. O Senhor

fez-me saber que aquela alma recebeu a graça que o Senhor me tinha

prometido. Aquela alma foi a primeira a experimentar a promessa do

Senhor. Senti como a fortaleza da Misericórdia cobria aquela alma.

 

811. Ao entrar na minha solidão, ouvi estas palavras: Defenderei como a

Minha glória cada alma que reze esta coroinha na hora da morte, ou

quando outros a rezarem junto de um agonizante, obterão o mesmo

perdão. Quando, junto de um agonizante, é rezada esta coroinha,

aplaca-se a ira divina e a insondável Misericórdia envolve a alma e as

entranhas da Minha Misericórdia serão movidas pela dolorosa Paixão

do Meu Filho.

Oh, se todos conhecessem que grande é a Misericórdia do Senhor e quanto

todos nós necessitamos dela, especialmente naquela hora decisiva.

 

812. Hoje travei uma luta, por uma alma, com os espíritos das trevas. Que

ódio tremendo tem Satanás pela Divina Misericórdia; vejo como se opõe a

toda esta Obra.

 

813. ¡Oh Jesus Misericordioso, pregado na cruz, tem presente a hora da

nossa morte! ¡Oh Coração Misericordiosíssimo de Jesus, aberto com uma

lança, protege-me à hora da minha morte! ¡Oh Sangue e Água que brotaste

do Coração de Jesus como fonte de insondável Misericórdia para mim na

hora da minha morte! ¡Oh Jesus agonizante, Refém da Misericórdia,

apazigua a ira divina na hora da minha morte!

 

814. 12 XII [1936]. Hoje estive somente na Santa Comunhão e um pouco

mais na Santa Missa. Toda a minha força está em Ti, Pão vivo. Seria difícil

viver um dia sem receber a Santa Comunhão. Ele é o meu escudo; sem Ti,

Jesus, não sei viver.

 

815. Jesus, meu Amor, hoje fez-me compreender quanto me ama, embora

haja um abismo tão grande entre nós: o Criador e a criatura, mas de certo

modo é como se houvesse igualdade, o amor nivela este abismo. Ele

Mesmo se inclina para mim e me faz capaz de me unir com Ele. Submergime n’Ele aniquilando-me quase completamente e, no entanto, sob o seu

olhar amoroso a minha alma adquire fortaleza e força e consciência de que

ama e é amada muito especialmente; sabe que o Todopoderoso a defende.

Tal oração, embora breve, no entanto dá muito proveito à alma e as horas

inteiras de oração ordinária não dão à alma tanta luz como um breve

momento de oração superior.

 

816. De tarde tive o meu primeiro descanso ao ar livre. Hoje visitoume a Ir. Felicia que me trouxe algumas coisitas de que necessitava,

umas quantas magníficas maçãs e as saudações da querida Madre Superiora

e das queridas irmãs.

 

817. 13 XII [1936]. A confissão diante de Jesus.

Quando verifiquei que há três semanas que não me confessava, irrompi em

pranto, vendo a fragilidade da minha alma e certas dificuldades. Não me

tinha confessado porque assim foram as circunstâncias: quando havia

confissão, estava de cama naquele dia. Na semana seguinte a confissão foi à

tarde e de manhã eu tinha ido para o hospital. Esta tarde, no meu quarto

isolado entrou o Padre Andrasz e sentou-se para que eu me confessasse.

Antes não disse nem uma palavra. Alegrei-me grandemente porque

desejava muitíssimo confessar-me.

 

Como sempre revelei toda a minha

alma. O Padre deu-me resposta até à coisa mais pequena. Sentia-me

estranhamente feliz de poder dizer tudo. Como penitência deu-me: Letanias

do Nome de Jesus. Quando queria apresentar-lhe a dificuldade que tinha em

rezar aquelas ladainhas vi que não era o Padre Andrasz, mas Jesus. As Suas

vestes eram claras como a neve, e desapareceu imediatamente. Ao princípio

fiquei um pouco inquieta, mas depois entrou na minha alma certa

tranquilidade. Notei que Jesus confessa como os confessores, no entanto,

durante esta confissão o meu coração intuía algo de estranho; num primeiro

momento não consegui compreender o que significava isso.

 

818. 16 XII [1936]. Hoje ofereci pela Rússia todos os meus sofrimentos e as

minhas orações por este pobre país. Depois da Santa Comunhão Jesus

disse-me que: Não posso suportar este país mais tempo, não Me ates as

mãos, Minha filha. Compreendi que se não tivesse sido pelas preces das

almas queridas a Deus, toda essa nação teria sido reduzida a nada. Oh,

quanto sofro por este país que expulsou Deus das suas fronteiras.

819. Oh, fonte inesgotável da Divina Misericórdia, derrama-Te sobre nós. A

Tua bondade não tem limites. Consolida, oh Senhor, a potência da Tua

Misericórdia sobre o abismo da minha miséria, porque a Tua piedade é sem

limites. Misteriosa e inalcançável é a Tua Misericórdia, que enche de

assombro a mente humana e a angélica.

 

820. O Anjo da Guarda recomendou-me que rezasse por certa alma e, na

manhã seguinte, soube que era um homem que naquele mesmo instante

tinha começado a agonizar. De modo surpreendente Jesus dá-me a conhecer

que alguém necessita da minha oração. De forma especial sei quando uma

alma agonizante necessita da minha oração. Agora isso sucede muito mais

vezes do que dantes.

 

821. O Senhor Jesus deu-me a conhecer quanto lhe é agradável a alma que

vive da vontade de Deus; com isto dá a Deus a maior glória…

 

822. Hoje compreendi que embora não fizesse nada do que o Senhor exige

de mim, receberia a recompensa como se tivesse cumprido tudo, porque

Deus vê a intenção com que comecei; embora me levasse hoje mesmo, a

Obra não sofreria nada, porque Ele Mesmo é o Senhor da obra e do

operário. A minha tarefa é amá-Lo até à loucura. Todas as obras são uma

gotícula diante d’Ele; o amor é que tem a importância, a força e o mérito.

Foi ele que rasgou na minha alma amplos horizontes. O amor que suplanta

abismos.

 

823. 17 XII [1936]. Ofereci o dia de hoje pelos sacerdotes; hoje sofri mais

que qualquer outro dia, interior e exteriormente. Não sabia que era possível

sofrer tanto num só dia. Procurei fazer a Hora Santa na qual o meu espírito

experimentou a amargura do Horto das Oliveiras. Luto só, amparada pelo

Seu braço, contra toda a ordem de dificuldades que se apresentam diante de

mim como muros intransponíveis; no entanto tenho confiança no poder do

Seu nome e não tenho medo de nada.

 

824. Nesta solidão, o próprio Jesus é o meu Mestre. Ele Mesmo me educa e

me ensina; sinto que me encontro debaixo da Sua especial acção. Pelos

Seus inexplicáveis projectos e Seus insondáveis desígnios une-me a Ele de

um modo especial e permite-me penetrar em segredos inconcebíveis. Há um

segredo que me une ao Senhor de que ninguém pode saber, nem sequer os

Anjos; e embora quisesse dizê-lo, não o saberia exprimir; no entanto vivo

disso e vivirei eternamente. Este segredo distingue-me de entre outras almas

aqui na Terra e na eternidade.

 

825. ¡Oh dia luminoso e belo em que se cumprirão todos os meus desejos!

¡Oh dia desejado, que serás o último da minha vida! Alegro-me com esse

último toque que o meu divino artista dá à minha alma, outorgando-lhe uma

beleza especial que me distinguirá da beleza das outros almas. ¡Oh grande

dia em que se confirmar o amor de Deus em mim! Naquele dia, pela

primeira vez cantarei diante do Céu e da Terra o cântico da Misericórdia

insondável do Senhor. É a minha obra e a minha mensagem que o Senhor

me predestinou desde o princípio do mundo. Para que o canto da minha

alma seja agradável à Santíssima Trindade, guia e modela Tu Mesmo a

minha alma, oh Espírito de Deus. Armo-me de paciência e espero a Tua

vinda, oh Deus misericordioso, e [quanto] às dores tremendas e aos temores

da agonia, naquele momento, mais que nunca, confiarei no abismo da Tua

Misericórdia e Te recordarei, oh Jesus misericordioso, doce Salvador, todas

as promessas que me fizeste.

 

826. Esta manhã tive uma aventura: parou o relógio, não sabia quando

devia levantar-me e pensei, que pena seria faltar à Santa Comunhão. Ainda

estava escuro e não podia orientar-me sobre a hora de levantar-me. Vestime, fiz a meditação e fui à capela, mas estava ainda fechada e havia silêncio

em todo o lado; submergi-me na oração, especialmente pelos doentes.

Agora vejo quanto necessitam de oração. Por fim abriram a capela e custoume rezar porque me sentia esgotada e depois da Santa Comunhão regressei

imediatamente à minha solidão. De repente vi o Senhor que me disse:

Deves saber, Minha filha, que Me é agradável o ardor do teu coração e

como tu desejas fervorosamente unir-te a Mim na Santa Comunhão;

assim também Eu desejo dar-me inteiro a ti e em recompensa do teu

zelo, descansa junto ao Meu Coração. Naquele instante o meu espírito

submergiu-se no Seu Ser, como uma gota no oceano sem fundo, afundo-me

n’Ele como no meu único tesouro; assim aprendi que o Senhor permite

certas dificuldades para a sua maior glória.

 

827. 18 XII [1936]. Hoje senti angústia porque faz já uma semana que não

vem ninguém visitar-me; quando me queixava ao Senhor, respondeume: ¿Não te é suficiente que Eu te visite todos os dias? Pedi perdão ao

Senhor e a angústia desapareceu. Oh Deus, fortaleza minha. Tu me bastas.

 

828. Esta noite conheci que certa alma necessitava da minha oração. Rezei

com fervor, mas sentia que era pouco ainda e então permaneci na oração

mais tempo. No dia seguinte soube que precisamente naquela hora tinha

começado a agonia de certa alma e durou até de manhã. Conheci as penosas

que eram as lutas por que passou. O Senhor Jesus faz-me saber

estranhamente quando uma alma agonizante necessita da minha prece.

Sinto aquela alma que me pede ajuda, de modo vivo e claro. Não sabia que

existia tal união com as almas, e é o Anjo da Guarda que mo diz com

frequência.

 

829. O pequeno Menino Jesus, durante a Santa Missa, é a alegria da minha

alma. Com frequência o espaço não existe para mim. Vejo certo sacerdote

que o traz. Com um vivo desejo espero o Natal, vivo à espera com a

Santíssima Virgem.

 

830. ¡Oh Luz eterna que vieste a esta Terra, ilumina a minha mente e

reforça a minha vontade para que não me detenha nos momentos das

provações difíceis! Que a Tua luz dissipe toda a sombra de dúvida, que a

Tua omnipotência actue através de mim. Em Ti confio, oh Luz incriada, Tu,

oh Menino Jesus, és o meu exemplo no cumprimento da vontade do Teu

Pai, Tu que disseste: Venho para cumprir a Tua vontade, faz que também eu

cumpra fielmente em tudo a vontade de Deus, Oh divino Menino, concedeme esta graça.

 

831. Oh meu Jesus, a minha alma anseia pelos dias das provações, mas

quando a minha alma está ofuscada não me deixes só, mas sustém-me

firmemente junto a Ti, põe um selo nos meus lábios para que o perfume dos

sofrimentos seja conhecido e agradável somente a Ti.

 

832. Oh Jesus misericordioso, com que ardente desejo Te apressaste para o

Cenáculo, para consagrar a Hóstia que eu hei de receber durante a minha

vida. Desejaste, oh Jesus, viver no meu coração. O Teu sangue vivo une-se

ao meu sangue. ¿Quem compreenderá esta íntima união? O meu coração

encerra o Todopoderoso, o Incomprensível.

 

Oh Jesus, concede-me a Tua

vida divina, que o Teu sangue puro e generoso pulse com toda a força no

meu coração. Ofereço-Te todo o meu ser, transforma-me em Ti e faz-me

capaz de cumprir em tudo a Tua santa vontade, de compensar-Te com o

meu amor. Oh meu doce Esposo, Tu sabes que o meu coração não conhece

ninguém excepto a Ti. Abriste no meu coração um abismo insaciável de

amor por Ti; desde o primeiro instante que Te conheci, o meu coração Te

amou e afundou-se em Ti como no seu único fim. Que o Teu amor puro e

omnipotente seja um estímulo para a acção. ¿Quem compreenderá e

conceberá este abismo de Misericórdia que brotou do Teu Coração?

 

833. Verifiquei, por experiência, quanta inveja há também na vida religiosa.

Reconheço que são poucas as almas verdadeiramente grandes que ignoram

tudo o que não é Deus. Oh alma, fora de Deus não encontrarás beleza. Oh

que base tão frágil tem quem se eleva à custa dos outros. Que perda.

 

834. 19 XII [1936]. Esta noite senti na alma que alguma pessoa necessitava

da minha oração. Logo comecei a rezar; de repente conheci interiormente e

senti no espírito que mo pedia; rezei até ficar tranquila. A coroinha é uma

grande ajuda para os agonizantes. Muitas vezes rezo por intenção que

anteriormente sinto dentro de mim; rezo sempre até ao momento de sentir

na minha alma que a prece conseguiu o seu efeito.

 

835. Especialmente agora, quando estou aqui, neste hospital, experimento

esta íntima união com os agonizantes que, ao iniciar-se a agonia, me pedem

para rezar. Deus deu-me uma relação misteriosa com os agonizantes. Como

isto sucede com bastante frequência, tive até a possibilidade de verificar a

hora. Hoje, às onze da noite, fui despertada repentinamente, e senti

claramente que junto a mim estava um espírito que me pedia orações. Uma

força misteriosa obrigava-me a rezar.

 

A minha visão é puramente espiritual, por meio de uma luz repentina que

naquele momento Deus me concede. Rezo até ao momento de sentir a

tranquilidade na alma; nem sempre dura o mesmo tempo, às vezes sucede

que depois de uma Ave Maria já estou tranquila e então recito um De

Profundis sem orar mais; outras vezes sucede que rezo toda a coroinha e só

então chega a tranquilidade.

 

Posso observar também que quando me sinto forçada a orar por um tempo

mais longo experimento uma inquietação interior; aquela alma defronta

lutas mais duras e uma agonia mais longa.

 

A forma como verifico a hora é a seguinte: vejo a hora no relógio; no dia

seguinte quando me falam da morte daquela pessoa, pregunto a hora, e

corresponde exactamente; o mesmo sucede no que diz respeito à agonia.

Dizem-me: Tal pessoa está travando uma luta muito dura e outras vezes

dizem-me: Hoje morreu tal pessoa, mas adormeceu rápida e tranquilamente.

Sucede que a pessoa moribunda está no segundo ou no terceiro pavilhão, no

entanto para o espírito o espaço não existe. Sucede que tenho o mesmo

conhecimento a umas centenas de quilómetros. Aconteceu algumas vezes

com meus parentes e familiares, também com as irmãs religiosas e com

almas que, em vida, não conhecia em absoluto.

 

Oh Deus da Misericórdia insondável que me permites levar alívio e ajuda

aos agonizantes com as minhas indignas preces, que sejas bendito tantos

milhares de vezes quantas estrelas há no Céu e gotas de água em todos os

oceanos. Que a Tua Misericórdia ecoe em toda a extensão da Terra e se

eleve até aos pés do Teu trono, glorificando o Teu maior atributo, isto é, a

Tua Misericórdia inconcebível.

 

Oh Deus, esta Misericórdia insondável leva a um novo êxtase as almas

santas e todos os espíritos celestes. Aqueles espíritos puros submergem-se

num sagrado assombro glorificando esta inconcebível Misericórdia de Deus

que os leva a um novo êxtase; a sua adoração cumpre-se de maneira

perfeita. Oh Deus eterno, quanto desejo adorar este maior dos Teus

atributos, isto é, a Tua insondável Misericórdia. Vejo toda a minha

pequenez e não posso comparar-me com os habitantes do paraíso que numa

santa admiração, glorificam a Misericórdia do Senhor. Mas eu também

encontrei um modo perfeito para adorar esta inconcebível Misericórdia de

Deus.

 

836. Oh Jesus dulcíssimo que Te dignaste permitir-me a mim, miserável,

conhecer esta insondável Misericórdia Tua; oh Jesus dulcíssimo que

quiseste benignamente que eu falasse ao mundo inteiro desta inconcebível

Misericórdia Tua, hoje tomo nas mãos estes dois raios que brotaram do Teu

Coração Misericordioso, isto é, Sangue e Água, e derramo-os sobre toda a

face da Terra para que todas as almas experimentem a Tua Misericórdia e,

ao experimentá-la, a adorem pelos séculos infinitos. Oh Jesus dulcíssimo

que em Tua inconcebível bondade Te dignaste unir o meu coração

miserável ao Teu Coração tão misericordioso, pois então é com o Teu

próprio Coração que adoro o nosso Pai Deus, como nenhuma alma jamais O

adorou.

 

837. 21 XII [1936]. De tarde ligam o rádio; assim logo sinto falta do

silêncio. Até ao meio dia não cessam as conversações e o ruído. Meu Deus,

esperava o silêncio para poder falar somente com o Senhor e aqui é tudo ao

contrário. No entanto, agora não me incomoda nada, nem as conversações

nem o rádio. Numa palavra, nada. A graça de Deus fez que quando rezo

nem sequer me dou conta de onde estou, sei somente que a minha alma está

unida ao Senhor e assim me passam os dias neste hospital.

 

838. Fico admirada por tantas humilhações e sofrimentos que defronta

aquele sacerdote em toda esta Causa, vejo-o em momentos especiais e

sustenho-o com a minha oração indigna. Só Deus pode dar tanta

valentia, porque de outra maneira a alma cederia; mas vejo com alegria que

todas estas contrariedades contribuem para maior glória de Deus. O Senhor

tem poucas almas como estas. Oh eternidade infinita, tu revelarás os

esforços das almas heróicas, porque a Terra recompensa estes esforços com

ingratidão e ódio; estas almas não têm amigos, são solitárias. E nesta

solidão fortalecem-se, tiram força somente de Deus; embora com

humildade, mas também com coragem, afrontam todas as tempestades que

as açoitam.

 

Elas, como colunas tão altas que chegam até ao Céu, são

inabaláveis, e somente nisto está o seu único segredo: que de Deus tiram a

sua força e tudo do que necessitam, tanto para si como para os outros.

Carregam o seu peso, mas sabem e são capazes de levar o peso dos outros.

São verdadeiras colunas resplandecentes nos caminhos de Deus que vivem,

elas mesmas, na luz e iluminam os outros. Elas mesmas vivem nas alturas e

aos outros, mais pequenos, sabem indicar e ajudar a [alcançar] estas alturas.

 

839. Oh meu Jesus, Tu vês que além de não saber escrever, não tenho uma

caneta boa, que às vezes escreve tão mal que tenho que compor frases, letra

por letra; e ainda não é tudo: tenho a dificuldade de que tomo notas destas

coisas escondida das irmãs, pois, às vezes, tenho que fechar o caderno a

cada instante e escutar pacientemente o que as pessoas me vêm contar, e o

tempo que tenho dedicado a escrever passa e quando fecho repentinamente

o caderno faço borrões.

 

Escrevo com licença das Superioras e por mandato do confessor. É uma

coisa estranha que às vezes escreva razoavelmente e outras vezes mal possa

decifrar o que escrevi.

 

840. 23 XII [1936]. Vivo este tempo com a Santíssima Virgem e preparome para o solene momento da vinda de Jesus. A Santíssima Virgem ensiname sobre a vida interior da alma com Jesus, especialmente na Santa

Comunhão. Somente na eternidade conheceremos que grande mistério

realiza em nós a Santa Comunhão. ¡Oh os momentos mais preciosos da

minha vida!

 

841. Oh Criador meu, anseio por Ti. Tu compreendes-me, oh meu Senhor.

Tudo o que [há] na Terra me parece uma pálida sombra; eu Te anseio e

desejo. Embora faças por mim muitíssimas coisas inconcebíveis, porque Tu

Mesmo me visitas de modo singular, no entanto estas visitas não cicatrizam

a ferida do coração, mas incitam-me a uma maior nostalgia por Ti, Senhor.

Oh, leva-me para onde estás, Senhor, se for essa a Tua vontade. Tu sabes

que estou morrendo e estou morrendo de ânsia por Ti, mas não posso

morrer. Oh morte, ¿onde estás? Atrais-me ao abismo da Tua Divindade e

escondes-Te atrás das trevas. Todo o meu ser está submergido em Ti, no

entanto eu desejo contemplar-Te cara a cara. ¿Quando sucederá isto para

mim?

 

842. Alegrei-me muitíssimo. A Madre Superiora pediu ao médico através

da Ir. Crisóstoma que me permitisse voltar a casa para as festas, e o

médico concedeu com gosto. Fiquei contente e chorei como uma

criança pequena. A Ir. Crisóstoma surpreendeu-se ao ver que eu tinha mau

aspecto e que estava muito mudada. E disse-me: «Sabes, Faustinita,

provavelmente vais morrer; deves sofrer terrivelmente».

Respondi que, naquele dia, sofria mais que noutros dias, mas não tinha

importância, para salvar as almas nada era demasiado. Oh Jesus

misericordioso, dá-me as almas dos pecadores.

 

843. 24 XII [1936]. Hoje, durante a Santa Missa, estive especialmente unida

a Deus e à sua Mãe Imaculada. A humildade e o amor da Virgem Imaculada

penetraram na minha alma. Quanto mais imito a Santíssima Virgem tanto

mais profundamente conheço Deus. Oh que inconcebível anseio envolve a

minha alma. Oh Jesus, ¿Como podes deixar-me ainda neste desterro? Morro

de desejo por Ti, cada vez que tocas a minha alma feres-me enormemente.

O amor e o sofrimento vão juntos, no entanto não trocaria esta dor que Tu

me causas por nenhum tesouro, porque é dor de deleite inconcebível e é a

mão amorosa que produz estas feridas na minha alma.

 

844. A Ir. C. veio pela tarde e levou-me para casa, para as festas.

Estava contente de poder estar junto com a Comunidade. Enquanto

atravessava a cidade ia imaginando que era Belém. Ao ver que toda as

pessoas iam com pressa pensei: ¿Quem medita hoje neste mistério

inconcebível, em recolhimento e em silêncio? Oh Virgem Puríssima, Tu

estás hoje de viagem e eu também estou de viagem. Sinto que a viagem de

hoje tem o seu significado, Oh Virgem radiante, pura como o cristal, toda

submergida em Deus; ofereço-Te a minha vida interior, dispõe tudo de

maneira que seja agradável a Teu Filho; oh Mãe minha, eu desejo com

muitíssimo ardor que me dês o pequeno Jesus durante a Missa da Meia Noite.

 

E no fundo da minha alma senti a presença de Deus tão viva que,

com força de vontade, tive que reprimir a alegria para não deixar ver

exteriormente o que se passava na minha alma.

 

845. Antes de jantar entrei um momento na capela para compartilhar

espiritualmente o “oplatek” com as pessoas queridas ao meu coração;

apresentei-as a todas pelo nome a Jesus e pedi graças para elas. Mas não foi

tudo; recomendei ao Senhor os perseguidos, os que sofriam e a aqueles que

não conheciam o seu nome e, especialmente, os pobres pecadores. Oh

pequenino Jesus, peço-Te com fervor, encerra todos no mar da Tua

Misericórdia inconcebível. Oh doce, pequenino Jesus, toma o meu coração

para que eu seja Tua morada agradável e acolhedora. Oh Majestade infinita

com que doçura Te aproximas de nós. Aqui não há o terror dos raios do

grande Jehovah, aqui está o doce, pequenino Jesus; aqui nenhuma alma tem

medo, embora a Tua Majestade não tenha diminuído, mas simplesmente se

escondeu.

 

Depois do jantar senti-me muito cansada e dorida e tive que me deitar, no

entanto velava com a Santíssima Virgem à espera da vinda do Menininho.

 

846. 25 XII [1936]. Missa da Meia-Noite. Durante a Santa Missa a presença

de Deus penetrou-me por completo. Um momento antes da elevação, vi a

Mãe e o pequeno Menino Jesus, e o Avôzinho. A Santíssima Virgem

disse-me estas palavras: Minha filha Faustina, toma este tesouro

preciosíssimo, e deu-me o pequeno Jesus. Quando tomei Jesus nos braços, a

minha alma experimentou uma alegria tão inconcebível que não estou em

condições de descrevê-la. Mas uma coisa estranha, um momento depois

Jesus fez-se terrível, horroroso, grande, dorido, e a visão desapareceu.

Pouco depois chegou o momento de aproximar-me da Santa Comunhão.

Quando recebi Jesus na Santa Comunhão, toda a minha alma tremia sob a

influência da presença de Deus. No dia seguinte vi o divino Menininho, um

breve momento durante a elevação.

 

847. No segundo dia da festa veio a nossa casa o Padre Andrasz celebrar a

Santa Missa, durante a qual vi o pequeno Jesus. À tarde fui confessar-me; o

Padre não me deu respostas a certas perguntas referentes a esta Obra e

disse: «Quando estiveres boa, então falaremos concretamente, e agora trata

de aproveitar as graças que Deus te concede e trata de restabelecer-te. Tu

sabes como deves comportar-te e que regras seguir». Por penitência o Padre

fez-me rezar a coroinha que Jesus me ensinou.

 

848. Enquanto rezava a coroinha, de repente, ouvi uma voz: Oh, que

grandes graças concederei às almas que rezem esta coroinha; as

entranhas da Minha Misericórdia enternecem-se por quem reze esta

coroinha. Anota estas palavras, Minha filha, fala ao mundo da Minha

Misericórdia para que toda a humanidade conheça a Minha Infinita

Misericórdia. É um sinal dos últimos tempos, depois dela virá o dia da

justiça. Enquanto é tempo recorram à Fonte de Minha Misericórdia,

tirem proveito do Sangue e da Água que brotou para eles. Oh almas

humanas, ¿onde encontrarão refúgio no dia da ira de Deus? Refugiem-se

agora na Fonte da Divina Misericórdia. Oh, que grande número de almas

vejo que adoraram a Divina Misericórdia e cantarão o hino de glória pela

eternidade.

 

849. 27 XII. Hoje regressei à minha solidão. Fiz uma viagem

agradável porque ia comigo certa pessoa que levava um menino a

baptizar. A acompanhamos até a igreja de Podgórze. Para poder

descer, colocou o menino nos meus braços. Ao agarrar no menino, numa

oração ardente ofereci-o a Deus para que um dia pudesse levar uma glória

especial ao Senhor; senti na alma que o Senhor olhou essa pequena alma de

modo especial. Ao chegar a Pradnik, a Ir. N. ajudou-me a levar o meu

saco; quando entrámos na meu quarto, vi um belíssimo Anjo feito de papel

com a inscrição: Gloria in… Deu-me a impressão de que era da irmã doente

a que eu tinha enviado uma pequena árvore de Natal.

 

850. E assim passaram as festas. Nada é capaz de sossegar o anseio da

minha alma. O anseio por Ti, oh Criador meu e Deus eterno; nas

solenidades nem os belos cantos aquietam a minha alma, mas provocam

ainda uma maior nostalgia. À simples recordação do Teu nome, o meu

espírito lança-se para Ti, oh Senhor.

 

851. 28 XII [1936]. Hoje iniciei a novena à Divina Misericórdia. Isto é,

transporto-me em espírito para junto dessa imagem e rezo a coroinha que o

Senhor me ensinou. No segundo dia da novena vi a imagem como se

estivesse viva, rodeada de inumeráveis agradecimentos e vi uma grande

multidão de pessoas que a ela se dirigiam e vi que muitas delas eram

felizes. Oh Jesus, com que alegria bateu o meu coração. Faço esta novena

por intenção de duas pessoas, o Arcebispo e o Padre Sopocko. Rogo

fervorosamente ao Senhor que inspire o Arcebispo para que aprove esta

coroinha tão agradável a Deus e esta imagem, que não adie nem atrase esta

Obra…

 

852. Hoje, repentinamente, o olhar de Deus penetrou-me como um

relâmpago; de súbito conheci os mais pequenos grãozinhos de pó da minha

alma e ao ter conhecido o meu nada até ao fundo, caí de joelhos e pedi

perdão ao Senhor e com grande confiança lancei-me na Sua Misericórdia

infinita. Tal conhecimento não me desanima nem afasta do Senhor mas,

pelo contrário, desperta na minha alma um maior amor e uma confiança

ilimitada; o arrependimento do meu coração está unido ao amor. Estes

relâmpagos especiais formam a minha alma. Oh doce raio divino, iluminame até aos rincões mais secretos e mais profundos porque desejo alcançar a

máxima pureza do coração e da alma.

 

853. À noite um grandíssimo anseio se apoderou da minha alma. Agarrei no

folheto com a imagem de Jesus misericordioso e apertei-o ao meu

coração e escaparam-se da minha alma estas palavras: Jesus, Amor eterno,

para Ti vivo, para Ti morro e desejo unir-me a Ti. Repentinamente vi o

Senhor na Sua beleza inconcebível que me olhou benignamente e disse:

Minha filha, também Eu por amor de ti baixei do Céu, por ti vivi, por ti

morri e por ti criei os Céus. Estreitou-me ao Seu Coração e disse-me:

Dentro de pouco tempo; fica tranquila, Minha filha. Ao ficar só, a minha

alma foi inflamada pelo desejo de sofrer até ao momento em que o Senhor

diga: Basta. E embora tivesse de viver milhares de anos, à luz de Deus vejo

que é somente um momento. As almas [a frase sem concluir].

 

854. 29 XII [1936]. Hoje, depois da Santa Comunhão, ouvi na alma uma

voz: Minha filha, vigia, porque chegarei inadvertidamente. Jesus, não

queres dizer-me a hora que espero com tanta ansiedade?. Minha filha, para

teu bem a conhecerás, mas não agora, vigia. Oh Jesus, faz comigo tudo o

que Te agradar, sei que és o Salvador misericordioso e sei que não será

diferente comigo na hora da morte. Se agora me mostras um amor tão

singular e Te dignas unir-Te a mim de uma maneira tão confidencial e

carinhosa, então espero ainda mais na hora da morte. Tu, meu Senhor, meu

Deus, não podes mudar, és sempre o mesmo; os Céus podem mudar e tudo

o que foi criado, mas Tu, Senhor, serás sempre o mesmo, permanecerás pela

eternidade. Por isso, vem como quiseres e quando quiseres. Pai da

Misericórdia Infinita, eu, Tua filha, espero com um vivo desejo a Tua vinda.

Oh Jesus, Tu dizes no santo Evangelho: “Pela tua boca te julgarei”, então

Jesus, eu sempre falo da Tua Misericórdia inconcebível, portanto confio que

me julgarás segundo a Tua insondável Misericórdia.

 

855. 30 XII 1936. O ano está a terminar. Hoje fiz o retiro espiritual mensal.

O meu espírito penetrou nos dons que Deus me deu durante todo o ano. A

minha alma tremeu à vista da imensidade das graças do Senhor. Da minha

alma brotou um hino de agradecimento a Deus. Durante uma hora inteira

submergi-me na adoração e no agradecimento, considerando cada benefício

de Deus e também as minhas pequenas imperfeições. Tudo o que este ano

encerrou em si derramou-se no abismo da eternidade. Nada se perde, fico

contente por nada se perder.

 

30 XII [1936] Exercícios espirituais de um dia.

 

856. Durante a meditação matutina senti aversão e repugnância por tudo o

que está criado. Tudo é pálido a meus olhos, o meu espírito está afastado de

tudo, desejo somente o próprio Deus, no entanto tenho que viver. É um

martírio indescritível. Deus entrega-se à alma de maneira amorosa e atrai-a

ao abismo da sua divindade inconcebível, mas ao mesmo tempo deixa-a

aqui na Terra somente para que sofra e agonize de nostalgia por Ele. E este

amor forte é tão puro que o próprio Deus tem nele a Sua complacência. Mas

o amor próprio não tem parte nas suas acções, porque aqui tudo está

repassado de amargura e então deve ser inteiramente purificado. A vida é

uma morte contínua, dolorosa e tremenda e ao mesmo tempo é o núcleo de

uma vida verdadeira e de uma felicidade inconcebível e da força do

espírito; por isso [a alma] é capaz de fazer grandes obras para Deus.

 

857. À noite rezei um par de horas, primeiro pelos meus pais e familiares,

pela Madre Geral e por toda a Congregação e pelas alunas, por três

sacerdotes a quem devo muito; perrecorri o mundo inteiro, as coisas

grandes e pequenas, e agradeci à insondável Misericórdia de Deus por todas

as graças concedidas aos homens e pedi perdão por tudo com que O tenham

ofendido.

 

858. Durante as vésperas vi o Senhor Jesus que olhou a minha alma doce e

profundamente. Minha filha, tem paciência, já dentro de pouco tempo…

Aquele olhar profundo e aquelas palavras infundiram na minha alma força,

coragem, firmeza e uma misteriosa confiança em que eu cumpriria tudo o

que Ele queria de mim, apesar das enormes dificuldades e a misteriosa

convicção de que o Senhor estava comigo, e com Ele podia tudo. Nada são

para mim todas as potências do mundo e de todo o Inferno, tudo tem que

cair frente ao poder do Seu nome. Deixo tudo nas Tuas mãos, oh meu

Senhor e meu Deus. Único guia da minha alma, dirige-me segundo os Teus

eternos desejos.

 

859. JMJ Cracóvia - Pradnik, I I 1937

Jesus, eu confio em Vós

Hoje à meia-noite despedi o Ano Velho de 1936 e dei as boasvindas ao ano

1937. Nesta primeira hora do ano, com tremor e temor, enfrentei o novo

período. Oh Jesus misericordioso, Contigo enfrentarei com esperança e

audácia lutas e batalhas. Em Teu nome cumprirei tudo e ultrapassarei tudo.

Oh meu Deus, Bondade infinita rogo-Te que a Tua ilimitada Misericórdia

me acompanhe sempre e em tudo.

Entrando neste ano, envolve-me o receio de viver, mas Jesus tira-me este

temor dando-me a conhecer a grande glória que lhe trará esta Obra da

Misericórdia.

 

860. Há momentos na vida em que a alma só encontra alívio numa profunda

prece. Oxalá as almas possam perseverar na oração naqueles momentos.

Isto é muito importante.

 

861. JMJ Jesus, eu confio em Vós

Propósitos para o ano 1937, dia 1, mês I

Propósito especial: continuar com o mesmo, isto é, unir-me a Cristo

Misericordioso, ou seja ¿que faria Cristo neste ou naquele caso?, e com o

espírito a abraçar o mundo inteiro, especialmente a Rússia e a Espanha.

Propósitos gerais

 

I. Rigorosa observância do silêncio - recolhimento interior.

 

II. Ver a imagem de Deus em cada irmã e deste estímulo deve provir tudo o

amor ao próximo.

 

III. Em cada momento da vida cumprir fielmente a vontade de Deus e viver

dela.

 

IV. Dar contas fielmente de tudo ao director espiritual e não empreender

nada de importante sem o seu acordo. Procurarei revelar claramente os mais

secretos rincões da minha alma diante dele, recordando que estou a tratar

com o próprio Deus, embora como Seu representante seja somente um

homem, portanto todos os dias devo pedir luz para ele.

 

V. No exame de consciência da noite perguntar-me: ¿E se me chamasse hoje

mesmo?

 

VI. Não procurar Deus longe, mas tratar com Ele face a face, no meu

próprio interior.

 

VII. Nos sofrimentos e nas tribulações acudir ao tabernáculo e ficar em

silêncio.

 

VIII. Unir todos os sofrimentos, preces, trabalhos, mortificações aos

méritos de Jesus, a fim de implorar Misericórdia para o mundo.

 

IX. Os momentos livres, embora breves, aproveitá-los para orar pelos

agonizantes.

 

X. Que não haja um só dia na minha vida, em que não recomende

fervorosamente a obra da nossa Congregação. Nunca fazer caso do respeito

humano.

 

XI. Não ter familiaridade com ninguém. Com as alunas, firmeza benévola,

paciência sem limites, castigá-las severamente mas com um castigo deste

tipo: prece e sacrifício de si própria; a força que há no aniquilar-me por elas

é para elas um contínuo remorso de consciência e um abrandamento dos

seus corações obstinados.

 

XII. A presença de Deus deve ser o fundamente de todas as minhas acções,

minhas palavras e meus pensamentos.

 

XIII. Aproveitar toda a ajuda espiritual. Pôr sempre o amor próprio no seu

devido lugar, isto é, no último. Fazer os exercícios espirituais como se os

fizesse pela última vez na vida; da mesma maneira cumprir todos as minhas

obrigações.

 

862. 2 I [1937]. O nome de Jesus. Oh, que grande é o Teu nome, oh Senhor,

é a fortaleza da minha alma.

Quando as forças faltam e as trevas se apoderam da alma, então o Teu nome

é o sol cujos raios iluminam, mas também aquecem e a alma debaixo da

Sua influência torna-se bela e irradia o esplendor do Teu nome. Quando

oiço o dulcíssimo nome de Jesus, o meu coração bate com mais força e há

momentos em que ouvindo o nome de Jesus, me sinto desfalecer. O meu

espírito arrebata-se para Ele.

 

863. Este dia é para mim especialmente importante, neste dia fui pela

primeira vez tratar da pintura da imagem; neste dia, pela primeira vez,

a Divina Misericórdia foi honrada exteriormente de maneira especial;

apesar de ser conhecida desde há muito, mas agora na forma desejada pelo

Senhor. Este dia do dulcíssimo nome de Jesus recorda-me muitas graças

especiais.

 

864. 3 I. Hoje visitou-me a Madre Superiora da comunidade que atende o

hospital, com uma de suas irmãs. Falámos um longo momento sobre

coisas espirituais. Dei-me conta de que era uma grande asceta, por isso a

nossa conversação foi agradável a Deus.

Hoje veio ver-me uma menina; percebi que sofria, não tanto do corpo mas

da alma. Confortei-a como pude, mas as minhas palavras de consolo não

foram suficientes. Era uma pobre órfã que tinha a alma imersa na amargura

e na dor. Abriu a sua alma diante da minha e revelou-me tudo; compreendi

que, neste caso, as palavras de simples consolo eram insuficientes. Pedi

ferverosamente ao Senhor por aquela alma e ofereci a Deus a minha alegria,

para que a dê a ela e a mim me tire toda a sensação de gozo. E o Senhor

ouviu a minha prece; para mim ficou o alívio de que ela foi consolada.

 

865. Adoração. O primeiro domingo. Durante a adoração fui tão impelida a

agir que rompi a chorar e disse ao Senhor: Jesus, não me apresses,

mas inspira aqueles que sabes que atrasam esta Obra. E ouvi estas palavras:

Minha filha, fica tranquila, agora será já por pouco tempo.

 

866. Durante as vésperas ouvi estas palavras: Minha filha, desejo

descansar no teu coração, já que muitas almas Me expulsaram hoje do

seu coração e senti uma tristeza mortal. Tratei de consolar o Senhor

oferecendo-Lhe mil vezes o meu amor; senti na alma repugnância pelo

pecado.

 

867. O meu coração está embebido numa contínua amargura, porque anseio

ir para Ti, Senhor, à plenitude da Vida.

Oh Jesus, que horrível deserto me parece esta vida, nesta Terra não há

alimento para o meu coração e para a minha alma; sofro pela nostalgia de

Ti, oh Senhor. Deixaste-me, oh Senhor, a Santa Hóstia, mas ela incendeia

ainda mais o anseio da minha alma por Ti, Deus eterno e meu Criador. Oh

Jesus, desejo unir-me a Ti, escuta os suspiros da Tua esposa. Oh, quanto

sofro por não poder unir-me ainda a Ti, mas que se faça segundo os Teus

desejos.

 

868. 5 I 1937. Esta noite vi um sacerdote que estava necessitado de oração

por certa causa. Rezei com fervor porque esta causa é também muito

querida ao meu coração. Agradeço-Te, Jesus, pela Tua bondade.

 

869. ¡Oh Jesus de Misericórdia! Abraça o mundo inteiro e estreita-me ao

Teu Coração… Permite à minha alma, oh Senhor, descansar no mar da Tua

Misericórdia insondável.

 

870. 6 I 1937. Hoje, durante a Santa Missa submergi-me inconscientemente

na Majestade infinita de Deus. Toda a imensidade do amor de Deus

inundava a minha alma; naquele momento especial soube quanto Deus se

humilhou por mim, este Senhor dos senhores. ¿E que sou eu, miserável, que

Te unes assim comigo? O assombro que me invadiu depois daquela graça

especial, manteve-se de forma muito viva durante todo o dia. Aproveitando

a confiança a que o senhor me admite, pedi-Lhe pelo mundo inteiro. Em

tais momentos parece-me que o mundo inteiro depende de mim.

 

871. Oh meu Mestre, faz que o meu coração não espere a ajuda de ninguém,

mas que trate sempre de levar aos outros a ajuda, o consolo e todo o alívio.

Tenho o coração sempre aberto aos sofrimentos dos outros e não fecharei o

meu coração aos seus sofrimentos, apesar de que por isso, com malícia fui

chamada “caixote do lixo”, isto é, que cada um atira a sua dor para o meu

coração; respondi que todos têm lugar no meu coração, e em compensação

eu tenho lugar no Coração de Jesus. Os gracejos referentes às leis da

caridade não estreitam o meu coração. A minha alma é sempre sensível a

este aspecto e só Jesus é o meu estimulo para amar o próximo.

 

872. 7 I. Durante a Hora Santa o Senhor concedeu-me experimentar a sua

Paixão. Compartilhei a amargura da Paixão da que estava repleta a Sua

alma. Jesus deu-me a conhecer como a alma deve ser fiel à oração, apesar

das tribulações, a aridez e as tentações, porque de tal prece em grande

medida depende às vezes a realização dos grandes projectos de Deus; e se

não perseverarmos em tal prece, pomos barreiras ao que Deus quer fazer

através de nós ou em nós. Que cada alma recorde estas palavras: “E,

estando em angústia, rezou mais longamente”. Eu prolongo sempre tal

oração por quanto me é possível e compatível com as minhas obrigações.

 

873. 8 I. Na manhã de sexta-feira quando ia à capela para a Santa Missa, de

repente vi na vereda uma grande mata de zimbro e nela um gato horrível

olhando-me com maldade me impedia de passar para a capela. Uma só

invocação do nome de Jesus e tudo desapareceu. Ofereci um dia inteiro

pelos pecadores agonizantes. Durante a Santa Missa senti de maneira

especial a proximidade do Senhor.

 

Depois da Santa Comunhão olhei com confiança o Senhor e disse-lhe:

Jesus, desejo muito dizer-Te uma coisa, e o Senhor olhou-me com amor e

disse: ¿E o que é que queres dizer-me? Jesus, peço-Te pelo inconcebível

poder da Tua Misericórdia que todas as almas que morram hoje evitem o

fogo infernal, embora fossem os maiores pecadores; hoje é sexta-feira, o

memorial da Tua amarga agonia na cruz; como a Tua Misericórdia é

inconcebível, os Anjos não se surpreenderão. E Jesus estreitou-me ao Seu

Coração e disse: Amada filha, conheces bem o abismo da Minha

Misericórdia. Farei como pedes, mas não deixes de unir-te

continuamente ao Meu coração agonizante e satisfaz a Minha justiça.

Deves saber que Me pediste uma grande coisa, mas vejo que foi ditada

pelo puro amor a Mim, por isso satisfaço o teu pedido.

 

874. Oh Maria, Virgem Imaculada, toma-me sob a Tua protecção mais

especial e guarda a pureza da minha alma, do meu coração e do meu corpo.

Tu és o modelo e a estrela da minha vida.

 

875. Hoje experimentei um grande tormento no momento da visita das

nossas irmãs. Inteirei-me de certa coisa que feriu muito o meu coração, no

entanto dominei-me de maneira que as irmãs não se aperceberam de nada.

Essa dor rasgou-me o coração durante algum tempo, mas que seja tudo

pelos pobres pecadores… Oh Jesus, pelos pobres pecadores… Oh Jesus,

minha força, fica próximo de mim, ajuda-me….

 

876. 10 I 1937. Hoje de manhã pedi ao Senhor que me dê força, para que

possa aproximar-me da Santa Comunhão. Oh meu Mestre, peço-Te com

todo o meu coração sedento, se estiver conforme à Tua santa vontade dá-me

todos os sofrimentos e debilidades que queiras, desejo sofrer dia e noite,

mas peço-Te fervorosamente, dá-me a força no momento em que devo

aproximar-me da Santa Comunhão. Vês, oh Jesus, que não trazem a Santa

Comunhão aos doentes, portanto se não me deres força nesse momento para

que possa descer à capela, ¿como Te receberei no mistério de Amor? E Tu

sabes quanto o meu coração Te deseja.

 

Oh meu doce Esposo, ¿para quê

tantas explicações? Tu sabes com que ardor Te desejo e se quiseres, podes

fazê-lo. Na manhã seguinte senti como se estivesse de perfeita saúde, já não

tinha nem desmaios nem faltas de forças. No entanto, ao regresar da capela,

todos os sofrimentos e achaques voltaram imediatamente, como se me

esperassem, mas não os receava em absoluto, porque me alimentei do Pão

dos fortes. Vejo tudo com firmeza, até os olhos da própria morte.

 

877. Oh Jesus, escondido na Hóstia, meu doce Mestre e fiel Amigo, oh que

feliz é a minha alma por ter um amigo que sempre me faz companhia; não

me sinto só, apesar de estar em isolamento. Oh Jesus Hóstia, como nós nos

conhecemos; isto me basta.

 

 

878. 12 I 1937. Hoje, quando veio o médico, não lhe agradou muito o meu

aspecto. De facto, sofria mais e a temperatura tinha subido

consideravelmente. Naturalmente decidiu que eu não iria comungar até que

a temperatura descesse completamente. Respondi que sim, embora a dor

estreitasse o meu coração, mas respondi que iria só quando estivesse sem

febre. Consentiu.

 

Quando o médico se foi embora, disse ao Senhor: Oh

Jesus, agora depende de Ti se vou ou não; e não pensei mais nisso, embora

de vez em quando pensava: ¿Não vou ter Jesus? Não, é impossível, e não só

uma vez, mas um par de dias até que a temperatura desça. Mas à noite,

disse ao Senhor: Jesus, se Te agradam as minhas Santas Comunhões, peçoTe humildemente, faz que amanhã não tenha nem uma décima de febre. De

manhã medi a temperatura e pensei: Se houver uma só décima, não me

levantarei, já que isso seria faltar à obediência. Quando tirei o termómetro,

não tinha uma só décima de febre. Levantei-me imediatamente e fui receber

a Santa Comunhão. Quando veio o médico e lhe disse-lhe que não tinha

nem uma décima de febre e que fui receber a Santa Comunhão ficou

admirado, e pedi-lhe que não me dificultasse ir à Santa Comunhão, porque

isso influiria negativamente no tratamento.

 

O médico respondeu que, para

ficar de consciência tranquila e ao mesmo tempo não me contrariar,

«acordemos, irmã, no seguinte: se fizer bom tempo, não chover, e se a irmã

se sentir bem, então vá, mas isso fica à consideração da sua consciência».

Alegrei-me de que tivesse um médico tão compreensivo. Vês, Jesus, já fiz o

que me dizia respeito, agora conto Contigo e fico completamente tranquila.

 

879. Hoje vi que o Padre Andrasz celebrava a Santa Missa; antes da

elevação vi o pequeno Jesus que estava muito contente, com as mãozinhas

estendidas e um momento depois não vi nada mais. Estava sozinha no meu

quarto e continuava a fazer o acção de graças. No entanto, depois pensei:

¿Por que é que o Menino Jesus estava tão alegre? Porque nem sempre tinha

estado assim tão alegre nas minhas visões. De pronto ouvi dentro de mim

estas palavras: Porque estou bem no seu coração. E isso não me

surpreendeu nada, porque sei que ele ama muito Jesus.

 

880. A minha união com os agonizantes continua a ser muito estreita. Oh,

que inconcebível é a Divina Misericórdia, já que o Senhor me permite

ajudar os agonizantes com a minha indigna oração. Na medida em que

posso, procuro estar próximo de cada agonizante. Confiai em Deus, porque

é bom e inconcebível; a Sua Misericórdias está para além da nossa

comprensão.

 

881. 14 I 1937. Hoje Jesus entrou no meu pequeno quarto isolado, com uma

túnica clara, cingido de um cinto de ouro; uma grande Majestade

resplandecia de toda a sua figura e disse: Minha filha, ¿porque te deixas

levar por pensamentos de temor? Respondi: Oh Senhor, Tu sabes porquê.

E disse-me: ¿Porquê? Esta Obra assusta-me. Tu sabes que sou incapaz de

cumpri-la. E disse-me: ¿Por qué? Vês que não tenho saúde, não tenho

instrução, não tenho dinheiro, sou um abismo de miséria, tenho medo de

tratar com as pessoas. Jesus, eu desejo-Te somente a Ti, Tu podes libertarme disto. E o Senhor disse-me: Minha filha, o que Me disseste é verdade.

És por demais miserável, mas a Mim agrada-Me realizar a Obra da

Misericórdia precisamente através de ti, que és a própria miséria. Não

tenhas medo, não te deixarei só. Faz por esta Causa o que puderes e eu

completarei tudo o que te falta; tu sabes o que está em teu poder, então

realiza-o. O Senhor olhou a profundidade do meu ser com grande

benevolência; pensei que ia morrer de alegria sob este olhar. O Senhor

desapareceu, ficou na minha alma a alegria, a força e o ânimo para agir, mas

surpreendi-me de que o Senhor não quisesse libertar-me e não mudasse

nada do que já me tinha dito; e apesar de toda esta alegria, há sempre uma

sombra de sofrimento. Vejo que o amor e o sofrimento andam juntos.

 

882. Visões como esta não as tenho com frequência, mas muitas vezes trato

com o Senhor de maneira mais profunda. Os sentidos ficam adormecidos

mas, embora inadvertidamente, cada coisa é para mim mais real e mais

clara que como se a visse com os próprios olhos. O intelecto aprende mais

num momento que durante longos anos de profundas reflexões e

meditações, tanto no que se refere à essência de Deus, como às verdades

reveladas e também ao conhecimento da nossa própria miséria.

 

883. Nada me perturba nesta união com o Senhor, nem a conversa com o

próximo, nem nenhuma tarefa, embora tivesse que resolver não sei que

importante assunto, isso não me perturba nada; o meu espírito está com

Deus, o meu íntimo está cheio de Deus, por isso não o procuro fora de mim.

Ele, o Senhor, penetra a minha alma como um raio de luz o cristal puro.

Nem com a minha mãe natural, quando estava encerrada no seu seio, estava

tão unida a ela como estou ao meu Deus; naquela união havia

inconsciência, enquanto aqui está a plenitude da realidade e a consciência

da união. As minhas visões são puramente interiores e quanto melhor as

compreendo mais difícil é traduzi-las com palavras.

 

884. ¡Oh, que belo é o mundo do espírito! ¡E que real é! Em comparação

com ele, esta vida exterior é uma vã ilusão, uma impotência.

 

885. Oh Jesus, dá-me fortaleza e sabedoria para atravessar esta pavorosa

selva, para que o meu coração saiba suportar pacientemente o desejo

ardente de Ti, oh Senhor meu. Permaneço sempre em sagrado assombro

quando sinto que Te estás a aproximar de mim. Tu, o soberano do trono

terrível, baixas ao miserável desterro e vens até uma pobre mendiga que não

tem nada mais que a sua miséria; não sei hospedar-Te, oh meu Príncipe,

mas Tu sabes que Te quero com cada batimento do meu coração. Vejo a Tua

humilhação, no entanto a Tua Majestade não diminui a meus olhos. Sei que

me amas com o amor do Esposo e isso me basta, apesar de que nos separa

um grande abismo, porque Tu és o Criador e eu Tua criatura. Mas o amor é

a única explicação de nossa união, fora dele tudo é inconcebível; só com o

amor se compreende a inconcebível familiaridade com que me tratas. Oh

Jesus, a Tua grandeza espanta-me e ficaria num contínuo assombro e temor

se não me tranquilizasses Tu Mesmo; Tu tornas-me capaz de tratar Contigo

sempre antes de Te aproximares.

 

886. 15 I 1937. A tristeza não virá a um coração que ama a vontade de

Deus. O meu coração, cheio de nostalgia por Deus, experimenta toda a

miséria do desterro. Avanço com esperança para a minha pátria, embora se

firam os pés e neste caminho alimento-me da vontade de Deus, ela é o meu

sustento.

Ajudai-me, oh felizes habitantes da pátria celestial, para que a vossa irmã

não pare no caminho. Mesmo que haja um terrível deserto, caminho de

cabeça erguida e olho para o sol, isto é para o Misericordioso Coração de

Jesus.

 

887. 19 I 1937. No momento presente a minha vida passa num silencioso

conhecimento [da presença] de Deus. N’Ele habita a minha alma silenciosa,

e esta consciente vida de Deus na minha alma é para mim uma fonte de

felicidade e de fortaleza. Não procuro a felicidade fora do íntimo da minha

alma, onde mora Deus, estou consciente disso. Sinto como uma necessidade

de me dar aos outros, ter descoberto na alma a fonte de felicidade, isto é,

Deus. Oh meu Deus, vejo que tudo o que rodeia está repleto de Deus,

sobretudo a minha alma adornada pela graça de Deus. Começo já a viver

daquilo de que vivirei na eternidade.

 

888. O silêncio é uma linguagem tão poderosa que alcança o trono do Deus

vivo. O silêncio é a sua linguagem, embora misteriosa, mas poderosa e

viva.

 

889. Oh Jesus, dás-me a conhecer e entender em que consiste a grandeza da

alma: não em grandes acções, mas num grande amor. É o amor que tem a

coragem e confere grandeza às nossas acções; mesmo que as nossas acções

sejam banais e vulgares por si mesmas, em consequência do amor tornamse importantes e poderosas diante de Deus.

 

890. O amor é um mistério que transforma tudo o que toca em coisas belas

e agradáveis a Deus. O amor de Deus faz a alma livre; é como uma rainha

que não conhece o constrangimento do escravo e emprende tudo com

grande liberdade da alma, já que o amor que vive nela é o estímulo para

agir. Tudo o que a rodeia, lhe dá a conhecer que somente Deus é digno do

seu amor. A alma enamorada de Deus e n’Ele submergida, vai para as suas

obrigações com a mesma disposição com que vai à Santa Comunhão e

cumpre também as acções mais simples com grande esmero, sob o olhar

amoroso de Deus; não fica perturbada se, com o tempo, alguma coisa sair

menos bem conseguida; ela está tranquila porque no momento de agir fez o

melhor que estava em seu poder.

 

Quando sucede que a abandona a viva

presença de Deus, de que goza quase continuamente, então procura viver da

fé; a sua alma compreende que há momentos de descanso e momentos de

luta. Por sua vontade está sempre com Deus. A sua alma é como um oficial

experimentado no combate, de longe vê onde se esconde o inimigo e está

preparada para o combate, ela sabe que não está só; Deus é a sua fortaleza.

 

891. 21 I [1937]. Hoje, desde a primeira hora estou admirávelmente unida

ao Senhor. À noite veio visitar-me o sacerdote do hospital; depois de um

momento de conversa, senti que a minha alma estava a submergir-se mais

em Deus e comecei a perder o sentido do que se passava à minha volta.

Pedi fervorosamente a Jesus: dá-me a possibilidade de conversar, e o

Senhor permitiu que pudesse conversar livremente com Ele, mas houve um

momento em que não entendia o que dizia; ouvia a sua voz, mas não estava

em mim poder compreender e pedi desculpa por não compreender o que

dizia apesar de o ouvir.

 

Este é o momento da graça de união com Deus, mas

imperfeita, porque exteriormente os sentidos funcionam de modo também

imperfeito; não há uma imersão plena em Deus, isto é, a suspensão dos

sentidos, como sucede frequentemente quando não se ouve nem se vê nada,

a alma inteira está submergida livremente em Deus. Quando esta graça me

visita desejo estar só, peço a Jesus que me proteja do olhar das criaturas. Na

verdade, tive muita vergonha diante desse sacerdote, mas tranquilizei-me

porque, durante a confissão, ele já conhecia um pouco a minha alma.

 

892. Hoje, o Senhor deu-me a conhecer em espírito o convento da Divina

Misericórdia; vi nele um profundo espírito, mas tudo pobre e muito

modesto. Oh meu Jesus, fazes-me tratar espiritualmente com aquelas almas

e talvez nunca chegue a pôr ali os pés, mas seja bendito o Teu nome e façase o que Tu estabeleceste.

 

893. 22 I [1937]. Hoje é sexta-feira. A minha alma está num mar de

sofrimentos. Os pecadores tiraram-me tudo; mas está bem assim, dei tudo

por eles para que conheçam que Tu és bom e infinitamente misericordioso.

Eu, em qualquer circunstância, ser-Te-ei fiel sob o arco-íris e sob a

tempestade.

 

894. Hoje o médico decidiu que não devo ir à Santa Missa, mas só à Santa

Comunhão.

Desejava fervorosamente assistir à Santa Missa mas o confessor, de acordo

com o médico, disse-me para ser obediente. «É a vontade de Deus que a

irmã melhore e não é permitido mortificar-se em nada; seja obediente e

Deus a recompensará». Sentia que aquelas palavras do confessor eram

palavras do Senhor Jesus e embora me custasse deixar a Santa Missa, já que

Deus me concedia a graça de ver o Menino Jesus, no entanto ponho a

obediência acima de tudo.

 

Absorvi-me na oração e rezei a penitência; de súbito vi o Senhor que me

disse: Minha filha, fica a saber que com um acto de obediência Me dás

maior glória que com longas preces e mortificações. Oh, que bom é viver

na obediência, viver na consciência de que tudo o que faço é agradável a

Deus.

 

895. 23 I [1937]. Hoje não tive vontade de escrever; de repente ouvi na

alma uma voz: Minha filha, não vives para ti, mas para as almas.

Escreve para o bem delas. Conheces a Minha vontade quanto a

escrever, confirmada muitas vezes pelos confessores. Tu sabes o que

mais Me agrada e se tens alguma dúvida sobre as Minhas palavras,

sabes a quem deves perguntar. Concedo-lhe luz para que julgue a

Minha causa. O Meu olhar protege-o. Minha filha, diante dele tens que

ser como uma criança, cheia de simplicidade e sinceridade; antepondo

a sua opinião a todas as Minhas exigências, ele te guiará segundo a

Minha vontade; se não te permite cumprir os Meus desejos, fica

tranquila, não te responsabilizarei por isso; esse assunto ficará entre

Mim e ele. Tu, deves obedecer.

 

896. 25 I [1937]. Hoje a minha alma está submergida em amargura. Oh

Jesus, oh meu Jesus, hoje todos conseguem acrescentar mais amargor ao

meu cálice de amargura, não importa se é amigo ou inimigo, pois qualquer

um pode fazer-me sofrer; e Tu, oh Jesus, tens de me dar fortaleza e força

nestes difíceis momentos. Oh Hóstia Santa, sustenta-me e fecha os meus

lábios à murmuração e às queixas. Quando guardo silêncio, sei que

vencerei.

 

897. 27 I [1937]. Noto uma grande melhoria da minha saúde. Jesus arrancame das portas da morte para a vida; de facto, pouco faltou para morrer, mas

de novo o Senhor me concede a plenitude da vida, embora deva ficar ainda

no sanatório, mas estou quase completamente curada. Vejo que não se

cumpriu ainda em mim a vontade de Deus, portanto tenho que viver, porque

sei que quando se realize tudo o que Deus estabeleceu a meu respeito na

Terra, não me deixará mais tempo no desterro, porque a minha casa é o

Céu. Mas antes de ir para a pátria, temos que cumprir a vontade de Deus na

Terra, isto é, suportar até ao fim as nossas provações e as nossas batalhas.

 

898. Oh meu Jesus, devolves-me a saúde e a vida, dá-me fortaleza para a

luta, porque sem Ti não sou capaz de fazer nada, dá-me fortaleza, porque Tu

podes tudo, vês que sou uma criança débil e ¿Que posso [fazer]?

Conheço toda a omnipotência da Tua Misericórdia e confio em que me

darás tudo o que necessite a Tua débil filha.

 

899. ¡Quanto desejei a morte! Não sei se alguma outra vez na vida desejarei

tanto a Deus. Houve momentos em que desmaiava por Ele. Oh, que feia é a

Terra quando se conhece o Céu. Devo violentar-me para viver. Oh vontade

de Deus, tu és o meu sustento.

 

900. ¡Oh vida cinzenta e cheia de incompreensões! Exercito a minha

paciência e, portanto, adquiro experiência, conheço muitas coisas e aprendo

todos os dias e vejo que sei pouco e continuamente descubro faltas no meu

comportamento; mas não desanimo e agradeço a Deus que se digna

conceder-me a Sua luz para que me conheça a mim mesma.

 

901. Há uma pessoa que me exercita na paciência, tenho que dedicar-lhe

muito tempo. Quando falo com ela, sinto que está constantemente a mentir,

mas como me fala de coisas atrasadas que não posso verificar, as suas

mentiras lá vão passando; no entanto, interiormente estou convencida de

que não é verdade o que me diz. Uma vez, quando tive dúvidas de que eu

poderia estar enganada, enquanto ela falava talvez dissesse a verdade, pedi

ao Senhor Jesus que me desse o seguinte sinal: se ela, de facto, mentia, que

fosse ela própria a declará-lo numa das coisas que eu estava interiormente

convencida que mentia; e se ela dizia a verdade, que o Senhor Jesus me

tirasse a convicção de que mentia. Pouco depois veio de novo ter comigo e

disse-me: irmã, peço-lhe muita desculpa, mas menti em tal e tal coisa. E

compreendi que a luz interior que possuía a respeito daquela pessoa, não me

tinha enganado.

 

902. 29 I 1937. Hoje não acordei a tempo, tenho apenas um breve

momento para não chegar tarde à Santa Comunhão, porque a capela dista

um bom trecho de nosso pavilhão. Quando saí a neve chegava aos

joelhos, mas antes de pensar que o médico não me tinha permitido ir com

tanta neve, já estava com o Senhor, na capela; recebi a Santa Comunhão e

imediatamente regressei. Ouvi na alma estas palavras: Minha filha,

descansa junto ao Meu Coração, conheço os teus esforços. A minha alma

fica ainda mais alegre quando estou junto ao Coração do meu Deus

30 I 1937. Retiro espiritual de um dia.

 

903. Vou conhecendo cada vez mais a grandeza de Deus e alegro-me por

Ele; trato com Ele continuamente no íntimo do meu coração; é na minha

própria alma onde encontro Deus com a maior facilidade.

 

904. Durante a meditação ouvi estas palavras: Minha filha, dás-Me a

maior glória através da paciente submissão à Minha vontade, e

asseguras méritos tão grandes que não alcançarias nem com jejuns

nem com nenhumas mortificações. Deves saber, Minha filha, que se

submetes a tua vontade à Minha, atrais sobre ti a Minha grande

complacência; este sacrifício é-Me agradável e cheio de doçura, nele

tenho complacência, ele é poderoso.

 

905. Exame de consciência: continuar o mesmo, unir-me com Cristo

Misericordioso. Prática: o recolhimento interior, isto é, rigorosa observância

do silêncio.

 

906. Nos momentos difíceis, contemplarei o lacerado e silencioso

Coração de Jesus na cruz e das chamas que brotam do seu Coração

Misericordioso fluirão sobre mim a fortaleza e a força para lutar.

 

907. Coisa estranha que, no inverno, vem à minha janela um canário e

durante um momento canta que é uma maravilha. Quis averiguar se estava,

talvez, por aqui, nalguma gaiola; mas não, não estava em nenhuma parte,

nem no outro pavilhão; uma das doentes também o ouviu, mas uma só vez,

e ficou admirada por um canário cantar numa estação tão fria.

 

908. Oh Jesus, que pena me dão os pobres pecadores. Oh Jesus,

concede-lhes o arrependimento e a contrição. Recorda a Tua dolorosa

Paixão. Conheço a Tua Misericórdia infinita, não posso suportar que pereça

a alma que Te custou tanto. Oh Jesus, dá-me as almas dos pecadores. Que a

Tua Misericórdia descanse nelas, tira-me tudo, mas dá-me estas almas.

Desejo converter-me numa vítima de expiação pelos pecadores, que o corpo

oculte o meu sacrifício, já que Tu também ocultas o Teu Sacratíssimo

Coração na Hóstia, apesar de ser uma imolação viva.

Transforma-me em Ti, oh Jesus, para que seja uma vítima viva e

agradável a Ti; desejo satisfazer-Te em cada momento pelos pobres

pecadores, o sacrifício do meu espírito oculta-se sob o véu do corpo, o olhar

humano não o alcança, portanto é puro e agradável a Ti. Oh Criador meu e

Pai de grande Misericórdia, confio em Ti, porque és a Própria Bondade. Oh

almas, não tenhais medo de Deus, mas tende confiança n’Ele, porque é

Bom e a Sua Misericórdia dura pelos séculos.

 

909. Conhecemos-nos mutuamente, oh Senhor, na morada do meu

coração. Sim, agora eu Te recebo como hóspede na casinha do meu

coração, mas aproxima-se o tempo em que me chamarás à Tua morada que

me preparaste desde a criação do mundo. Oh, quem sou eu diante de Ti, oh

Senhor?

 

910. O Senhor conduz-me ao mundo desconhecido para mim, dá-me a

conhecer a Sua grande glória, mas eu tenho receio dela, e não me deixarei

influenciar por ela no que estiver no meu alcance até que me seja

assegurado, pelo director espiritual, que se trata de um dom.

 

911. Em certo momento, a Presença de Deus penetrou todo o meu ser e a

minha mente foi singularmente iluminada no conhecimento da Sua

Essência; [Deus] permitiu-me aproximar-me do conhecimento da Sua vida

íntima. Vi, em espírito, as Três Pessoas Divinas, cuja Essência é única. Ele

é Só, Uno, Único, mas em Três Pessoas: nenhuma d’Elas sendo maior ou

menor; não há diferença nem na beleza, nem na santidade, porque são o

Mesmo. São Um, absolutamente Um. O Seu Amor levou-me a esse

conhecimento e uniu-me com Ele.

 

Quando eu estava unida a Uma [Pessoa

Divina], estava igualmente unida à Segunda e à Terceira [Pessoas Divinas],

de tal modo que quando nos unimos a Uma, por esse facto nos unimos às

outras duas Pessoas, exactamente da mesma forma do que nos unimos com

Uma. A Sua vontade é apenas uma, um só Deus, embora Trino em Pessoas.

Quando Uma das Três Pessoas comunga com a alma, pelo poder dessa

única Vontade, ela fica unida às Três Pessoas e é inundada pela beatude que

brota da Santíssima Trindade, dessa perfeita felicidade de que se alimentam

os Santos. A bem-aventurança que jorra da Santíssima Trindade torna feliz

a criação inteira; faz brotar a vida que vivifica e anima toda espécie de vida

que n’Ele tem a sua origem. Nestes momentos, a minha alma experimenta

tão grandes delícias divinas que me é difícil exprimir.

 

912. Depois ouvi pronunciar umas palavras, e foram estas: Quero

tomar-te como esposa. No entanto, o temor trespassou a minha alma, mas

serenamente reflectia sobre que esponsais seriam esses; no entanto, cada

vez que a minha alma se enchia de temor, uma força superior vinha nela

restabelecer a paz.

 

Na realidade, tenho os votos perpétuos e fi-los com vontade sincera e

total. E penso continuamente ¿que pode significar isto?; sinto e intuo que se

trata de uma graça excepcional. Quando a contemplo, sinto-me a desfalecer

por Deus, mas nesse desfalecimento a mente fica clara e penetrada de luz.

Quando estou unida a Ele, desmaio por excesso de felicidade, mas a minha

mente está clara e pura, sem confusões. Humilhas a Tua Majestade para

tratar com uma pobre criatura. Agradeço-Te, oh Senhor, por esta grande

graça que me faz capaz de comungar Contigo. Oh Jesus, o Teu nome é uma

delícia para mim; de longe já pressinto o meu Amado e a minha alma cheia

de anseio descansa nos seus braços, não sei viver sem Ele; prefiro estar com

Ele nos tormentos e nos sofrimentos que sem Ele entre as maiores delícias

do Céu.

 

 

913. 2 II 1937. Hoje, desde muito cedo, o recolhimento de Deus penetra

a minha alma; durante a Santa Missa pensava ver o pequeno Jesus, como

frequentemente o vejo, no entanto, hoje durante a Santa Missa, vi Jesus

crucificado. Jesus estava cravado na cruz e em grandes tormentos. A minha

alma foi penetrada pelos sofrimentos de Jesus, na minha alma e no meu

corpo, embora de modo invisível, mas igualmente doloroso. Oh, que

mistérios tão assombrosos se verificam durante a Santa Missa.

 

914. Um grande mistério se consuma durante a Santa Missa. Com que

devoção deveríamos escutar e participar nesta morte de Jesus. Um dia

saberemos o que Deus faz por nós em cada Santa Missa e que dom prepara

nela para nós. Só o Seu amor divino pode permitir que nos seja oferecida tal

dádiva. Oh Jesus, oh meu Jesus, que dor tão grande penetra a minha alma,

vendo uma fonte de vida que brota com tanta doçura e força para cada alma.

E, no entanto, vejo almas murchas e áridas por sua própria culpa. Oh meu

Jesus, faz que a força da Tua Misericórdia envolva estas almas.

 

915. Oh Maria, hoje uma espada terrível trespassou a Tua santa

alma. Ninguém sabe do Teu sofrimento, excepto Deus. A Tua alma não se

deixa abater, mas é corajosa porque está com Jesus. Doce Maria, une a

minha alma a Jesus, porque só então poderei resistir a todas as provações e

tribulações e só mediante a união com Jesus os meus pequenos sacrifícios

agradarão a Deus. Dulcíssima Mãe, continua a ensinar-me sobre a vida

interior. Que a espada do sofrimento não me abata jamais. Oh Virgem pura,

derrama coragem no meu coração e protege-o.

 

916. O dia de hoje é para mim excepcional, apesar de ter sofrido tanto, a

minha alma está inundada de uma grande alegria. No quarto isolado

contíguo ao meu, havia uma judia gravemente enferma; há três dias fui

visitá-la, senti uma dor na minha alma ao pensar que morreria em pouco

tempo e que a graça do baptismo não lavaria a sua alma. Falei com a irmã

enfermeira para que lhe fosse administrado o santo baptismo ao aproximarse o último momento. Mas existia a dificuldade de que havia sempre judeus

a seu lado. No entanto, senti na alma a inspiração de pedir diante da

imagem que Jesus me tinha ordenado que fosse pintada. Tenho um folheto

em cuja capa figura a reprodução da imagem da Divina Misericórdia. E

disse ao Senhor: Jesus, Tu Mesmo me disseste que concederás muitas

graças através desta imagem, por isso peço-Te a graça do santo baptismo

para esta judia; não importa quem a baptize, desde que seja baptizada.

Depois destas palavras fiquei extraordinariamente tranquila e tinha a certeza

absoluta de que a água do santo baptismo verteria sobre a sua alma apesar

das dificuldades.

 

Durante a noite, quando ela estava muito fraca, levantei-me três vezes

para estar com ela e esperar o momento oportuno para lhe alcançar essa

graça. De manhã dava a impressão de sentir-se melhor. À tarde começou a

aproximar-se o último momento; a irmã que a assistia disse que seria difícil

administrar-lhe aquela graça porque estavam outras pessoas junto dela. E

chegou o momento quando a doente começou a perder o conhecimento,

pois alguns começaram a correr para procurar o médico e os outros noutras

direcções para salvar a doente e sucedeu que a doente ficou só e a irmã que

tratava dela baptizou-a.

 

E antes de que todos voltassem, a sua alma tinha-se

tornado bela, adornada da graça de Deus e expirou imediatamente. A agonia

durou pouco tempo, foi como se tivesse adormecido. De repente vi a sua

alma de uma beleza admirável entrando no Céu. Oh, que bela é a alma com

a graça santificante; a alegria dominou a minha alma por ter obtido diante

da imagem uma graça tão grande para aquela alma.

 

917. Oh, que grande é a Divina Misericórdia. Que a exalte toda a

criatura. Oh meu Jesus, esta alma Te cantará o hino da Misericórdia por

toda a eternidade. Não esquecerei a impressão que tive na alma naquele dia.

É já a segunda grande graça obtida aqui para as almas diante desta imagem.

Oh, que bom é o Senhor e cheio de compaixão. Oh Jesus, agradeço-Te

tanto por estas graças.

 

918. 5 II 1937. Oh meu Jesus, apesar de tudo, desejo fervorosamente

unir-me a Ti. Oh Jesus, se é possível, leva-me a Ti, porque me parece que o

meu coração estala por tanto Te desejar.

Oh, quanto sinto estar neste desterro. ¿Quando estarei na casa de nosso

Pai e me encherei da felicidade que jorra da Santíssima Trindade? Mas se é

a Tua vontade que continue vivendo e sofrendo, então desejo o que me

destinaste; tem-me nesta Terra até quando Te agrade, mesmo até ao fim do

mundo. Oh, vontade do meu Senhor, sê a minha alegria e o encanto da

minha alma. Embora a Terra esteja tão povoada, eu sinto-me só e a Terra é

para mim um deserto espantoso, Oh Jesus, oh Jesus, Tu sabes e conheces o

ardor do meu coração, só Tu, oh Senhor, podes saciar-me.

 

919. Hoje, quando chamei a atenção a uma rapariga para que não

passasse horas inteiras no corredor com os homens, porque isso não

convinha a uma jovem decente, pediu-me perdão e prometeu corrigir-se;

pôs-se a chorar ao dar-se conta do seu pouco juízo. Enquanto lhe dizia essas

poucas palavras sobre a moral, os homens de toda a sala reuniram-se e

ouviram os meus conselhos. Os judeus também escutaram algumas coisas

que disse acerca deles. Uma pessoa disse-me depois que aproximaram os

ouvidos da parede e escutaram atentamente. Eu sentia estranhamente que

eles estavam a ouvir, mas disse o que tinha a dizer. Aqui as paredes são tão

delgadas que, mesmo que se fale em voz baixa, ouve-se tudo.

 

920. Está aqui uma pessoa que antes foi nossa aluna. Naturalmente põe à

prova a minha paciência, visita-me várias vezes ao dia; depois de cada

visita fico cansada, mas vejo que é o Senhor Jesus que me mandou esta

alma. Que em tudo sejas louvado, oh Senhor. A paciência dá glória a Deus.

Oh, que pobres são as almas.

 

921. 6 II [1937]. Hoje o Senhor disse-me: Minha filha, dizem-Me que

tens muita simplicidade, então ¿por que não Me falas de tudo o que te

respeita, ainda dos mais pequenos pormenores?

Fala-me de tudo. Deves saber que com isso Me causará grande

alegria. Respondi: Mas, Senhor, Tu sabes tudo. E Jesus respondeu-me:

Sim, Eu sei, mas não te desculpes dizendo que Eu sei mas, com a

simplicidade de uma criança, fala-me de tudo, porque tenho o ouvido e

o coração inclinados para ti e as tuas palavras são-Me agradáveis.

 

922. Ao começar essa grande novena por três intenções, vi na Terra um

pequeno insecto e pensei: ¿como é que ele apareceu aqui, em pleno

inverno? De repente ouvi na alma estas palavras: Vês, Eu penso nele e

mantenho-o ¿e que é ele em comparação contigo? ¿Por que se

atemorizou a tua alma durante um momento?

Pedi perdão ao Senhor por aquele momento; Jesus quer que eu seja

sempre uma criança e ponha n’Ele todos os cuidados e me submeta

cegamente à sua santa vontade; Ele toma conta de tudo.

 

923. 7 II [1937]. Hoje o Senhor disse-me: Exijo de ti um sacrifício

perfeito e, em holocausto, o sacrifício da vontade; nenhum outro

sacrifício é comparável a este. Eu Mesmo dirijo a tua vida e disponho

tudo de maneira que sejas para Mim uma oferenda contínua e faças

sempre a Minha vontade; para completar esta oferenda unir-te-ás a

Mim na cruz. Conheço as tuas capacidades. Eu Mesmo te ordenarei

directamente muitas coisas, atrasarei a possibilidade da execução e fá-

la-ei depender dos outros; aquilo que as Superioras não conseguirem

fazer, Eu Mesmo completarei directamente na tua alma. No recôndito

mais íntimo da tua alma haverá um sacrifício perfeito de holocausto, e

isto não por algum tempo, mas deves saber, Minha filha, que este

sacrifício durará até à morte. Mas virá o tempo em que Eu, o Senhor,

satisfarei todos os teus desejos. Sinto por ti uma especial predilecção,

como por uma Hóstia viva; não receies nada, Eu estou contigo.

 

924. Hoje recebi um recado confidencial da Superiora proibindome de ficar junto dos moribundos; assim, enviarei aos moribundos a

obediência, em meu lugar, e ela fortalecerá as almas agonizantes. Esta é a

vontade de Deus, isto me basta; aquilo que não entendo agora,

compreenderei depois.

 

925. 7 II 1937. Hoje, com mais fervor do que em qualquer outro

momento, rezei por intenção do Santo Padre e de três sacerdotes, para

que Deus os inspire no que exige de mim, porque disso depende a

realização desta Obra. Oh, quanto me alegrou saber que o Santo Padre está

melhor de saúde. Hoje ouvi o que disse no Congresso Eucarístico, [284] e,

em espírito, transportei-me para lá para receber a bênção apostólica.

 

926. 9 II 1937. Últimos dias de carnaval. Nestes dois últimos dias de

carnaval soube de uma enorme quantidade de castigos e de pecados. Num

instante o Senhor me fez saber os pecados cometidos estes dias no mundo

inteiro. Desfaleci de terror, e apesar de conhecer todo o abismo da Divina

Misericórdia, fiquei surpreendida por Deus permitir à Humanidade existir.

E o Senhor disse-me que quem sustenta a existência da humanidade são as

almas escolhidas. Quando se completar o número dos eleitos, o mundo

deixará de existir.

 

927. Durante estes dois dias recebi a Santa Comunhão como um acto de

reparação e disse ao Senhor Jesus: Oh Jesus, hoje ofereço tudo pelos

pecadores. Que os golpes da Tua justiça se abatam sobre mim, e o mar da

Misericórdia alcance os pobres pecadores. E o Senhor ouviu a minha prece.

Muitas almas voltaram ao Senhor enquanto eu agonizava sob o peso da

justiça de Deus. Sentia ser o alvo da ira do Altíssimo. À noite o meu

sofrimento alcançou um estado de abandono interior tão grande que os

gemidos saíam, sem querer, do meu peito. Fechei à chave a porta do meu

quarto e comecei a adoração, isto é a Hora Santa. A desolação interior e a

experiência da Justiça de Deus eram a minha oração; e os gemidos e a dor

tomaram na minha alma o lugar do doce colóquio com o Senhor.

 

928. De repente vi o Senhor que me estreitou ao seu Coração e me disse:

Minha filha, não chores, porque não posso suportar as tuas lágrimas;

concederei tudo o que pedes, mas deixa de chorar. Inundou-me uma

grande alegria e o meu espírito, como sempre, submergiu-se n’Ele como no

seu único tesouro. Hoje falei mais com Jesus, animada pela Sua bondade.

 

929. Quando descansei junto ao Seu Dulcíssimo Coração, disse-Lhe:

Jesus, tenho tantas coisas para Te dizer. E o Senhor disse-me com grande

doçura: Fala, Minha filha. E comecei a exprimir os sofrimentos do meu

coração, a saber: que me preocupo muito com toda a humanidade, que nem

todos Te conhecem e os que Te conhecem não Te amam como mereces ser

amado. Além disso, vejo que os pecadores Te ofendem terrivelmente e vejo

também a grande opressão e perseguição sobre os fiéis, especialmente dos

teus servos; e. mais ainda, vejo muitas almas que se precipitam cegamente

no terrível abismo infernal.

 

Vês, oh Jesus, este é o dor que penetra o meu

coração e os meus ossos, e embora me faças o dom do Teu especial amor, e

inundes o meu coração com as torrentes da Tua alegria, isso não atenua os

sofrimentos que acabo de mencionar-Te, e que acutilam o meu pobre

coração de modo mais vivo. Oh, que ardente é o meu desejo de que toda a

humanidade se volte com confiança para a Tua Misericórdia; então, terá

alívio o meu coração vendo a glória do Teu nome. Jesus ouviu, com atenção

e interesse, este desabafo do meu coração como se não soubesse de nada,

como que escondendo diante de mim o conhecimento daquelas coisas;

assim eu sentia-me mais à vontade para falar. E o Senhor disse-me: Minha

filha, são-Me agradáveis as palavras do teu coração, e ao recitares esta

coroinha aproximas de Mim a humanidade. Depois destas palavras

fiquei só, mas a presença de Deus está sempre na minha alma.

 

930. Oh meu Jesus, quando for para a Tua casa e me enchas de Ti

mesmo, isso será para mim a plenitude da felicidade, mas não esquecerei a

humanidade; desejo levantar as cortinas do Céu para que a Terra não duvide

da Divina Misericórdia. O meu descanso está em proclamar a Tua

Misericórdia. A alma dá maior glória ao seu Criador quando se dirige com

confiança à Divina Misericórdia.

 

931. 10 II [1937]. Hoje é Quarta-feira de Cinzas.

Durante a Santa Missa, por um breve momento experimentei a Paixão de

Jesus no meu corpo. A Quaresma é o período especial para o trabalho dos

sacerdotes, é necessário ajudá-los na salvação das almas.

 

932. Há alguns dias escrevi ao meu director espiritual pedindo

licença para certas pequenas práticas no tempo da Quaresma. Como não

tinha licença do médico para ir à cidade, tive que fazê-lo por carta. No

entanto, hoje é Quarta-feira de Cinzas e não tenho ainda resposta. De

manhã, depois da Santa Comunhão, comecei a pedir a Jesus que o inspire

com a sua luz para que me responda e soube, na alma, que o Padre não se

opunha às práticas que lhe pedi e que me concede a sua licença; com

tranquilidade comecei a exercitar-me nessas práticas que pedi. Nesse

mesmo dia, de tarde, recebi a carta do Padre, dizendo que me dá licença

para as práticas solicitadas. Fiquei muito contente por o meu conhecimento

interior estar em consonância com a opinião do director espiritual.

 

933. Depois ouvi na alma estas palavras: Obterás maior recompensa

pela obediência e dependência do confessor que pelas próprias práticas

em que te exercitares. Minha filha, deves comportar-te segundo isto:

embora se trate da coisa mais pequena, com o selo da obediência ao

Meu representante será uma coisa agradável e grande a Meus olhos.

 

934. Pequenas práticas para a Quaresma. Não posso exercitar-me em

grandes mortificações, como antes, apesar do meu ardente anseio e desejo,

já que estou sob a estrita vigilância do médico, mas posso exercitar-me em

coisas mais pequenas: primeiro, dormir sem almofada, sentir um pouco de

fome, rezar todos os dias a coroinha, que o Senhor me ensinou, com os

braços em cruz; de vez em quando rezar com os braços em cruz durante um

tempo indeterminado e rezando uma prece espontânea. A intenção: para

impetrar a Divina Misericórdia pelos pobres pecadores e para os sacerdotes

o poder de suscitar o arrependimento dos corações pecadores.

 

935. A minha união com as almas agonizantes continua a ser, como

antes, estreita. Muitas vezes acompanho a alma agonizante a grande

distância, mas experimento a maior alegria ao ver que nessas almas se

realiza a promessa da Misericórdia. O Senhor é fiel, o que diz uma vez,

cumpre.

 

936. Certa alma que estava no nosso pavilhão, estava a morrer, sofria

tremendamente e esteve agonizando três dias, recobrando o conhecimento

de vez em quando. Todos na sala pediam por ela.

Eu também desejava ir, mas a Madre Superiora tinha-me proibido visitar

os agonizantes, por isso pedia por essa querida alma na meu quarto. Mas ao

saber que ainda sofria e que não se sabia quanto tempo ia durar ainda,

repentinamente algo agitou a minha alma e disse ao Senhor: Oh Jesus, se

tudo o que faço Te é agradável, peço-Te, como uma prova disso, que essa

alma não sofra mais, mas que passe imediatamente à felicidade eterna.

Poucos minutos depois soube que aquela alma tinha adormecido tão serena

e rapidamente que nem sequer houve tempo para acender a vela.

 

937. Direi uma palavra mais sobre o director da minha alma. Uma coisa

estranha é que sejam tão poucos os sacerdotes que sabem infundir fortaleza

na alma, e ânimo, e coragem, de modo que a alma, sem se cansar, avance

sempre. Com uma direcção como esta, a alma, embora tendo pouca força,

pode fazer muito para a glória de Deus. Conheci com isto um segredo, isto

é, que o confessor, o director espiritual não deve menosprezar as coisas

pequenas que a alma lhe expõe.

 

E a alma, ao dar-se conta de que está

vigiada nisso, começa a exercitar-se e não omite a mais pequena ocasião de

virtude e evita também as mais pequenas faltas; a partir daqui, como de

pequenas pedras, surge o magnífico templo da alma. E pelo contrário: se a

alma percebe que o confessor não dá importância a essas pequenas coisas,

também ela começa a depreciá-las, deixará de dar conta delas ao confessor,

e ainda pior, começará a descuidar-se das coisas pequenas, e assim, em vez

de avançar, retrocede pouco a pouco. E a alma só se apercebe disso ao cair

já nas coisas mais graves. E agora surge uma pergunta ¿de quem é a culpa?

¿Dela ou do confessor, isto é, do director espiritual? Aqui refiro-me mais

directamente ao director espiritual. Parece-mne que toda a culpa deve ser

imputada ao director espiritual imprudente; à alma há que atribuir-lhe

somente o erro de ter escolhido mal o director espiritual. O director

espiritual bem podia guiar bem a alma nos caminhos da vontade de Deus

para a santidade.

 

938. A alma deve rogar fervorosamente pelo director espiritual durante

mais tempo, e pedir a Deus que se digne escolhê-lo Ele Próprio. O que se

começa com Deus, será de Deus, e o que se começa com meios puramente

humanos, será humano. Deus é tão misericordioso que, para ajudar a alma,

Ele Mesmo lhe escolhe um guia espiritual, e a ilumina de que é aquele

diante do qual ela deve revelar os rincões mais íntimos da sua alma, como

diante do Senhor Jesus. E quando a alma pondera e reconhece que tudo foi

dirigido por Deus, peça fervorosamente a Deus que lhe conceda muita luz

para conhecer a sua alma; e que não mude de director, a menos que, para

isso, haja uma razão séria.

 

Assim como, antes de escolher o director espiritual, pedia muito e

fervorosamente para conhecer a vontade de Deus, assim também quando

queira escolher um outro, peça muito e com fervor para saber se é

verdadeiramente a vontade de Deus de que o deixe em troca de outro. Se

não há uma evidente vontade de Deus a este respeito, não mude, porque a

alma por si só não chegará muito longe e Satanás quer precisamente que a

alma que procura a santidade se guie sozinha, já que então, nem falar de

que a alcançará.

 

939. Constitui uma excepção a alma que o próprio Deus guia

directamente, mas em tal caso o director espiritual imediatamente se dá

conta de que tal alma é dirigida pelo próprio Deus. Deus dá-o a conhecer de

modo claro e evidente; e tal alma, mais que outra, deveria estar sob uma

vigilância mais rigorosa do director espiritual. Em tal caso o director

espiritual não tem tanto o dever de dirigir e indicar os caminhos pelos quais

a alma deve caminhar, mas, melhor, o de julgar e confirmar que a alma

segue o caminho certo e que está guiada por um bom espírito.

 

Em tal caso o

director não somente deve ser santo, mas também experiente e prudente, e a

alma deve antepôr a sua opinião à do próprio Deus, já que então estará a

salvo das ilusões e desvios. A alma que não submeta tais inspirações ao

rigoroso controlo da Igreja, isto é, do director espiritual, com isso mesmo

daria a conhecer que a guia um mau espírito. Nisto o director espiritual

deve ser muito prudente e experimentar a alma na obediência. Satanás pode

pôr-se o manto da humildade, mas não é capaz de vestir o manto da

obediência, e é aqui onde se revela toda a sua maldade. Mas o confessor

não pode ter medo exagerado de tal alma, porque se Deus lhe confia uma

alma tão excepcional, também lhe dá uma grande luz divina, já que, de

outro modo ¿Como poderia julgar bem os mistérios tão grandes que

acontecem entre a alma e Deus?

 

940. Eu mesma sofri muito e fui muito provada nisto. Portanto o que

escrevo é somente o que experimentei pessoalmente. Fiz muitas novenas e

muitas preces e muitas penitências antes de que Deus me enviasse um

sacerdote que compreendesse a minha alma. Haveria muitas mais almas

santas se houvesse mais directores espirituais com experiência e santidade.

Mais de uma alma que procura sinceramente a santidade não consegue

singrar por si própria quando chegam os momentos de prova, e abandona o

caminho da perfeição. Oh Jesus, dá-nos sacerdotes zelosos e santos.

 

941. ¡Oh, como é grande a dignidade do sacerdote! Mas, também, como

é grande a sua responsabilidade!

Oh sacerdote, foi-te dado muito, mas de ti se exigirá também muito…

 

942. 11 II [1937]. Hoje é sexta-feira. Durante a Santa Missa senti dores

no corpo: nos pés, nas mãos e no lado. O Próprio Jesus permite estes

sofrimentos como reparação pelos pecadores. O momento é breve, mas o

sofrimento grande; não sofro mais que por um par de minutos, mas a

impressão fica muito tempo e é muito viva.

 

943. Hoje sinto-me tão abandonada na alma que não sei explicá-lo.

Esconder-me-ia das pessoas e choraria sem parar; ninguém compreende o

coração ferido por amor, e quando este experimenta abandonos interiores,

ninguém o consolará. Oh almas dos pecadores, que me retirastes o Senhor.

Mas, está bem, está bem, pois acabareis por conhecer como é doce o

Senhor; e todo um mar de amargura inunde o meu coração, pois entregueilhes todas as consolações divinas.

 

944. Há momentos em que não tenho confiança em mim mesma, estou

profundamente convencida da minha fraqueza e miséria, e compreendo que

em tais momentos posso perseverar somente confiando na infinita

Misericórdia de Deus. A paciência, a oração e o silêncio reforçam a alma.

Há momentos em que a alma deve silenciar e não convém que fale com as

criaturas; aqueles são os momentos de insatisfação de si própria, e a alma

sente-se frágil como uma criança; então agarra-se com toda a força a Deus.

Em tais momentos vivo exclusivamente da fé e, quando me sinto fortalecida

pela graça de Deus, então estou mais valente na conversação e nas relações

com o próximo.

 

945. À noite o Senhor disse-me: Descansa, Minha filha, junto ao Meu

Coração; vejo que te fatigaste muitíssimo na Minha vinha, e a minha

alma foi inundada do gozo divino.

 

946. 12 II [1937]. Hoje a presença de Deus penetra-me totalmente como

um raio de sol. O anseio da minha alma por Deus é tão grande que em cada

momento me produz um desfalecimento. Sinto que o Amor eterno toca o

meu coração, a minha pequenez não consegue suportá-Lo, fazendo-me

desmaiar; no entanto a força interior é muito grande. A alma deseja igualar

o Amor que a ama. Em tais momentos a alma tem um conhecimento muito

profundo de Deus e quanto mais o conhece, tanto mais ardente, mais puro é

o seu amor a Ele. Oh, que inconcebíveis são os mistérios da alma com

Deus.

 

947. Às vezes há horas inteiras quando a minha alma está submergida

em assombro vendo a Majestade infinita que se humilha tanto para a minha

alma. É incessante o meu assombro interior de que o Senhor Altíssimo

tenha em mim a Sua complacência e Ele Mesmo mo diga; e eu afundo-me

ainda mais no meu nada porque sei o que sou por mim mesma. No entanto,

devo dizer que amo igualmente o meu Criador até à loucura, com cada

batimento do coração, com cada nervo; inconscientemente, a minha alma

mergulha, mergulha… n’Ele. Sinto que nada me separará do Senhor, nem o

Céu, nem a Terra, nem o presente, nem o futuro, tudo pode mudar, mas o

amor nunca, nunca, ele permanece sempre o mesmo. Ele, o Soberano

Imortal, dá-me a conhecer a Sua vontade para que o ame de modo singular

e Ele Mesmo infunde na minha alma a capacidade para tal amor com o qual

deseja que o ame. Submerjo-me n’Ele cada vez mais e não tenho medo de

nada.

 

O amor ocupou tudo o meu coração e embora me falem da justiça de

Deus e de como tremem diante d'Ele até os espíritos puros e se cobrem o

rosto e sem cessar dizem: Santo, e que disso resulta que as minhas relações

familiares com o Senhor são uma falta de respeito para a sua honra e a sua

Majestade. Oh, não, não e uma vez mais não! O amor puro compreende

tudo.

 

O maior louvor e a mais profunda adoração, mas é na mais profunda

tranquilidade que a alma está submergida n’Ele pelo amor e tudo o que

dizem exteriormente as criaturas não tem influência nela. O que lhe dizem

de Deus, é uma pálida sombra em comparação com o que ela vive

interiormente com Deus e às vezes surpreende-se de que as almas fiquem

admiradas com o que se possa dizer de Deus: porque para ela é o pão de

todos os dias, porque ela sabe que o que se conseguee exprimir com

palavras, não é suficiente; aceita e escuta tudo com respeito, mas ela lá tem

a sua vida especial em Deus.

 

948. 13 II [1937]. Hoje, durante a Paixão, vi Jesus martirizado,

coroado de espinhos e com um pedaço de cana na mão. Jesus calava-se,

enquanto os soldadotes rivalizavam em torturá-Lo. Jesus não dizia nada,

somente me olhou; naquele olhar senti a sua tortura tão tremenda que nós

não temos nem sequer uma ideia do que Jesus sofreu por nós antes da

crucifixão. A minha alma está cheia de dor e de nostalgia: senti na alma um

grande ódio ao pecado, e a mais pequena infidelidade minha parece-me

uma alta montanha e reparo-a com mortificação e penitências. Quando vejo

Jesus martirizado, o coração faz-se-me em pedaços; penso no que será dos

pecadores se não aproveitarem a Paixão de Jesus. Na Sua Paixão vejo todo

o mar da Misericórdia.

 

949. JMJ 12 II 1937

+ O Amor de Deus é a flor e a Misericórdia é o fruto.

Que a alma que duvida leia estas considerações sobre a Divina

Misericórdia e se faça confiada.

Misericórdia Divina, que brota do seio do Padre, eu confio em Vós.

Misericórdia Divina, supremo atributo de Deus, eu confio em Vós.

Misericórdia Divina, mistério incomprensível, eu confio em Vós.

Misericórdia Divina, fonte que brota do mistério da Santíssima Trindade, eu

confio em Vós.

Misericórdia Divina, insondável para todo o entendimento humano ou

angélico, eu confio em Vós.

Misericórdia Divina, de onde brotam toda a vida e felicidade, eu confio em

Vós.

Misericórdia Divina, mais sublime que os Céus.

Misericórdia divina, fonte de milagres e de maravilhas.

Misericórdia Divina, que abarca todo o universo.

Misericórdia Divina, que baixa ao mundo na Pessoa do Verbo Encarnado.

Misericórdia Divina, que emanou da ferida aberta no Coração de Jesus.

Misericórdia Divina, encerrada no Coração de Jesus para nós e

especialmente para os pecadores.

Misericórdia Divina, impenetrável na institução da Sagrada Hóstia.

Misericórdia Divina, na institução da Santa Igreja.

Misericórdia Divina, no sacramento do Santo Baptismo.

Misericórdia Divina, em nossa justificação por Jesus Cristo.

Misericórdia Divina, que nos acompanha durante toda a vida.

Misericórdia Divina, que nos abraça especialmente na hora da morte.

Misericórdia Divina, que nos outorga a vida imortal.

Misericórdia Divina, que nos acompanha em cada momento da nossa vida.

Misericórdia Divina, que nos protege do fogo infernal.

Misericórdia Divina, na conversão dos pecadores empedernidos.

Misericórdia Divina, assombro para os Anjos, incompreensível para os

Santos.

Misericórdia Divina, insondável em todos os mistérios de Deus.

Misericórdia Divina, que nos resgata de toda a miséria.

Misericórdia Divina, fonte da nossa felicidade e deleite.

Misericórdia Divina, que do nada nos chamou à existência.

Misericórdia Divina, que abarca todas as obras das Suas mãos.

Misericórdia Divina, coroa de todas as obras de Deus.

Misericórdia Divina, em que estamos todos submergidos.

Misericórdia Divina, doce consolo para os corações angustiados.

Misericórdia Divina, única esperança das almas desesperadas.

Misericórdia Divina, remanso dos corações, paz diante do temor.

Misericórdia Divina, gozo e êxtase das almas santas.

Misericórdia Divina, que infunde esperança, perdida já toda a esperança.

 

950. Oh Deus Eterno, em quem a Misericórdia é infinita e o tesouro de

compaixão inesgotável, põe em nós o Teu olhar bondoso e aumenta a Tua

Misericórdia em nós, para que em momentos difíceis não nos desesperemos

nem nos desalentemos, mas que, com grande confiança, nos submetamos à

Tua santa vontade, que é o Amor e a própria Misericórdia.

 

 

951. Oh, incomprensível e impenetrável Misericórdia de Deus,

¿Quem pode glorificar-Te e adorar-Te dignamente? Oh, supremo atributo

de Deus Todopoderoso,

Tu és a doce esperança do pecador.

Oh estrelas, Terra e mar, unidos num só hino e unanimemente e em sinal

de agradecimento, cantai a incompreensível Misericórdia de Deus.

 

952. Oh meu Jesus, Tu vês que a Tua santa vontade é tudo para mim. Éme indiferente o que faças de mim: mandas-me pôr-me à obra, e faço-o com

tranquilidade, apesar de saber que não sou idónea para isso; fazes-me

esperar por meio dos Teus representantes e, assim, espero com paciência;

enches a minha alma de entusiasmo, e não me dás a possibilidade de agir;

atrais-me a Ti, para os Céus, e deixas-me na Terra; infundes na minha alma

o anseio por Ti, e escondes-Te de mim. Morro pelo desejo de me unir

Contigo pela eternidade, e não permites à morte aproximar-se de mim. Oh

vontade de Deus, Tu és o meu alimento e o deleite da minha alma; quando

me submeto à santa vontade do meu Deus, um abismo de paz inunda a

minha alma.

 

Oh meu Jesus, Tu não dás a recompensa pelo resultado da obra, mas pela

vontade sincera e o esforço empreendido; portanto estou completamente

tranquila, embora todas as minhas iniciativas e os meus esforços fiquem

frustrados e não sejam realizados jamais. Se faço tudo o que está nas

minhas mãos, o que falta não é da minha responsabilidade e, por isso, as

maiores tempestades não perturbam a profundidade da minha paz.

Na minha consciência reside a vontade de Deus.

 

953. 15 II 1937. Hoje os meus sofrimentos aumentaram um pouco; não

só experimento maiores dores nos pulmões, mas também umas estranhas

dores nos intestinos. Sofro tanto quanto a minha débil natureza consegue

suportar, tudo pelas almas imortais para suplicar a Misericórdia Divina para

os pobres pecadores, para pedir a fortaleza para os sacerdotes. Oh, que

grande veneração tenho pelos sacerdotes e peço a Jesus, Sumo Sacerdote,

muitas graças para eles.

 

954. Hoje, depois da Santa Comunhão o Senhor disse-me: Minha filha,

o Meu deleite é unir-Me contigo; Dás-Me a maior glória quando te

submetes à Minha vontade e com isto atrais sobre ti um mar de

bênçãos. Não teria por ti uma complacência especial se não vivesses

segundo a Minha vontade. Oh meu doce Hóspede, por Ti estou disposta a

todos os sacrifícios, no entanto Tu sabes que sou a debilidade em pessoa,

mas Contigo posso tudo. Oh meu Jesus, peço-Te, fica comigo em cada

momento.

 

955. 15 II 1937. Hoje ouvi na alma estas palavras: ¡Oh hóstia agradável

ao Meu Pai! Deves saber, Minha filha, que toda a Santíssima Trindade

tem em ti a sua especial complacência, porque vives exclusivamente da

vontade de Deus. Nenhum sacrifício é comparável a este.

 

956. Depois destas palavras surgiu-me na minha alma o conhecimento

da vontade de Deus, isto é, que olho tudo desde um ponto de vista superior,

e todos os acontecimentos e todas as coisas desagradáveis ou agradáveis, as

aceito com amor, como demonstração da especial predilecção do Pai

Celestial.

 

957. No altar do amor arderá a pura oferenda da minha vontade; para

que a minha oferenda seja perfeita uno-me estreitamente ao sacrifício de

Jesus na cruz. E quando, sob o peso dos grandes sofrimentos, a minha

natureza treme e as forças físicas e espirituais diminuem, então esconderme-ei profundamente na ferida aberta do Coração de Jesus, silenciosa como

uma pomba, sem me queixar. Que todas as minhas predilecções, até as mais

santas e as mais belas e as mais nobres, estejam sempre no último plano e

no primeiro lugar esteja a Tua santa vontade. O mais pequeno desejo Teu,

oh Senhor, me é mais querido que o Céu com todos os seus tesouros. Sei

bem que algumas pessoas não me compreendem, por isso a minha oferenda

será mais pura a Teus olhos.

 

958. Há alguns dias veio falar-me uma certa pessoa pedindo-me que

rezasse muito por sua intenção, porque tinha uns assuntos muito

importantes e urgentes. De repente senti na alma que isso não era agradável

a Deus e respondi-lhe que não pediria por essa intenção, mas que rezaria

por ela em geral. Uns dias depois essa senhora voltou a ver-me e agradeceume por não haver rezado pelas suas intenções mas por ela, pois tinha um

projecto de vingança sobre outra pessoa à qual devia honra e respeito em

virtude do quarto mandamento. O Senhor mudou-a interiormente e ela

mesma reconheceu a sua culpa; mas admirou-se de que eu tivesse

descoberto o seu segredo.

 

959. Hoje recebi a carta do Padre Sopocko com felicitações por motivo

do meu santo. Alegrei-me pelas felicitações, mas entristeceu-me

muito pela sua falta de saúde. Já sabia, por conhecimento interior, mas

custava-me a acreditar; mas como me informou que é assim, então também

as outras coisas, das quais não me escreveu, são verdadeiras, e o meu

conhecimento interior não me engana. Recomenda-me sublinhar tudo o que

sei que não procede de mim. Isto é, tudo o que Jesus me diz, o que oiço na

alma. Já me pediu mais de uma vez, mas não tive tempo, nem tampouco, a

dizer a verdade, estava muito impelida a isso. ¿ Mas como sabe ele que não

o fiz? Isso surpreendeu-me enormemente, mas agora vou dedicar-me a esse

trabalho com todo o coração. Oh meu Jesus, a vontade dos Teus

representantes é a Tua evidente santa vontade, sem sombra de dúvida.

 

960. 16 II 1937. Hoje, por equívoco entrei no quarto vizinho, e falei um

momento com aquela pessoa. Ao voltar ao meu quarto, pensei nela um

momento, então o Senhor Jesus apresentou-se junto a mim e disse-me:

Minha filha, ¿em que estás a pensar neste momento?

Sem pensar, estreitei-me ao Seu Coração, porque compreendi que tinha

pensado demasiado na criatura.

 

961. Esta manhã, depois de ter feito os meus exercícios espirituais, pusme imediatamente a fazer renda. Sentia o silêncio no meu coração e que

Jesus descansava nele. Este profundo e doce conhecimento da presença de

Deus levou-me a dizer ao Senhor: Oh Santíssima Trindade que vives no

meu coração, peço-Te a graça da conversão de tantas almas quantos pontos

farei hoje com esta agulha. De imediato ouvi na alma estas palavras: Minha

filha, as tuas petições são excessivamente grandes. Jesus, para Ti é mais

fácil dar muito que pouco. É verdade, é mais fácil para Mim dar muito à

alma que pouco, mas cada conversão de uma alma pecadora exige

sacrifício. E por isso, Jesus, ofereço-Te este meu simples trabalho; este

sacrifício não me parece demasiado pequeno por um número tão grande de

almas; pois, Tu, oh Jesus, durante trinta anos salvavas as almas com o

trabalho manual e como a santa obediência me proíbe penitências e grandes

mortificações, por isso peço-Te, oh Senhor, aceita estas ninharias com o

selo da obediência como coisas grandes. Então ouvi na alma a voz: Minha

filha, atendo o teu pedido.

 

962. Vejo, muitas vezes, certa pessoa agradável a Deus. O Senhor tem

nela uma grande complacência, não somente porque se interesa pelo culto

da Misericórdia Divina, mas também pelo amor que tem a Deus, embora

nem sempre sente este amor em seu coração de modo sensível, e permanece

quase sempre no Horto das Oliveiras. No entanto, é sempre agradável a

Deus e a sua grande paciência vencerá todas as adversidades.

 

963. Oh, se a alma que sofre soubesse quanto Deus a ama, morreria de

gozo e de excesso de felicidade. Um dia, conheceremos o valor do

sofrimento, mas então já não poderemos sofrer. O momento presente é que

é nosso.

 

964. 17 II 1937. Esta manhã, durante a Santa Missa, vi Jesus a sofrer. A

Sua Paixão reflectiu-se no meu corpo, embora de modo invisível, mas não

menos doloroso. Jesus olhou-me e disse:

 

965. As almas morrem, apesar da Minha amarga Paixão. Ofereçolhes a última tábua de salvação, isto é, a Festa da Minha Misericórdia. Se não adoram a Minha Misericórdia, morrerão para sempre.

Secretária da Minha Misericórdia, escreve, fala às almas desta grande

Minha Misericórdia, porque está próximo o dia terrível, o dia da

Minha Justiça.

 

966. Hoje ouvi na alma estas palavras: Minha filha, deves pôr-te à

obra, Eu estou contigo. Esperam-te grandes perseguições e sofrimentos,

mas que te console a ideia de que muitas almas se salvarão e se

santificarão por meio desta Obra.

 

967. Quando me pus à obra e sublinhava as palavras do Senhor e

voltei a olhar tudo, ao chegar à página em que tenho apontados os

conselhos e as indicações do Padre Andrasz, não sabia que fazer: sublinhar

ou não; de repente ouvi na alma estas palavras: Sublinha, porque essas

palavras são Minhas; pedi emprestada a boca do amigo do Meu

Coração para te falar para a tua tranquilidade e tens que estar ligada

áquelas indicações até à morte. Desagradar-Me-ia muito se te afastasses

dessas indicações; deves saber que Eu Mesmo as pus entre Mim [e] a

tua alma, e o faço para a tua tranquilidade e para que não cometas

erros.

 

968. Desde que te confiei a uma especial assistência dos sacerdotes,

ficas dispensada de dar conta de modo pormenorizado às Superioras de

como Eu trato contigo. Além disso, deves ser como uma criança com as

Superioras, mas do que exijo no fundo da tua alma fala sinceramente e

de tudo somente aos sacerdotes. Observei que desde o momento em que

Deus me deu o director espiritual, não exigia que falasse de tudo, como

dantes, às Superioras, com excepção do que se referia às coisas exteriores.

Fora disso, somente o director espiritual conhece a minha alma.

Ter um director espiritual é uma graça excepcional de Deus.

 

Oh, que poucas são as almas que têm esta graça. Entre as maiores dificuldades, a

alma vive continuamente em paz; todos os dias, depois da Santa Comunhão,

agradeço ao Senhor Jesus por esta graça e cada dia peço ao Espírito Santo a

luz para ele. Em verdade, eu mesma senti na alma que grande poder têm as

palavras do director espiritual. Que a Misericórdia de Deus seja adorada por

esta graça.

 

969. Hoje fui fazer a meditação diante do Santíssimo Sacramento.

Quando me aproximei ao altar, a presença de Deus penetrou a minha alma,

fui submergida no oceano da sua divindade e Jesus disse-me: Minha filha,

tudo o que existe é teu. E respondi ao Senhor: O meu coração não deseja

nada que não sejas Tu só, oh tesouro do meu coração. Agradeço-Te, Senhor,

por todos os dons que me ofereces, mas eu quero somente o Teu Coração.

Embora imensos os Céus, para mim nada são sem Ti; Tu sabes muito bem,

oh Jesus, que desfaleço continuamente por desejar-Te com veemência.

Deves saber, Minha filha, que o que outras almas alcançarão na

eternidade, tu o disfrutas já agora. E de repente a minha alma foi

inundada da luz do conhecimento de Deus.

 

970. Oh, se pudesse exprimir ao menos um pouco o que a minha alma

vive junto ao Coração da inconcebível Majestade. Não sei exprimi-lo. Esta

graça compreende-a somente a alma que a viveu ao menos uma vez na vida.

Ao voltar ao meu quarto, pareceu-me que voltei da verdadeira vida à morte.

Quando o médico veio para me tomar o pulso, ficou assombrado: ¿Que se

passou, irmã? Um pulso assim não o teve nunca. Queria saber, ¿o que lhe

provocou tal aceleração do pulso? ¿Que lhe podia dizer? Se eu mesma não

sabia que tinha o pulso tão acelerado. Sei somente que estou morrendo por

anseio de Deus, mas, naturalmente, não o disse já que ¿como o pode

remediar um medicamento?

 

971. 19 II 1937. A união com os agonizantes. Pedem-me orações; posso

rezar, o Senhor deu-me misteriosamente o espírito da prece, estou

continuamente unida a Ele. Sinto plenamente que vivo pelas almas, para as

conduzir à Tua Misericórdia, oh Senhor; para tal fim nenhum sacrifício é

excessivamente pequeno.

 

972. Hoje o doutor decidiu que devo ficar aqui até Abril; é a

vontade de Deus, embora eu desejasse regressar ao convívio com as irmãs.

 

973. Hoje soube da morte de uma das nossas irmãs que faleceu em

Plock, mas veio ver-me antes de que me anunciassem a sua morte.

 

974. 22 II 1937. Hoje, na capela do hospital, começaram os exercícios

espirituais para as mulheres de serviço, mas podem participar neles quem o

deseje. Há uma palestra por dia; o Padre Boaventura, religioso

escolápio, fala durante uma hora inteira, fala directamente às almas. Tomei

parte nestes exercícios espirituais porque desejo muito conhecer Deus mais

profundamente e amá-Lo com mais fervor, porque compreendi que quanto

maior é o conhecimento, tanto mais forte é o amor.

 

975. Hoje ouvi estas palavras: Reza pelas almas para que não tenham

medo de se aproximarem do tribunal da Minha Misericórdia. Não

deixes de rezar pelos pecadores. Tu sabes quanto as suas almas pesam

sobre o Meu coração. Alivia a Minha tristeza mortal; distribui com

largueza a Minha Misericórdia.

 

976. 24 II 1937. Hoje, durante a Santa Missa, vi Jesus agonizante; os

sofrimentos do Senhor trespassam a minha alma e o meu corpo, embora

invisivelmente; a dor é grande, mas dura muito pouco tempo.

 

977. Durante o cântico da Paixão compenetrei-me tão vivamente

dos Seus tormentos que não consegui reter as lágrimas. Desejaria esconderme em alguma parte para dar livre desafogo à dor que me envolve quando

medito sobre a Sua Paixão.

 

978. Quando pedia por intenção do Padre Andrasz, compreendi quanto

Deus o ama. Desde aquele momento tenho-lhe ainda maior respeito, como

para um santo. Estou muito contente disso, e agradeci fervorosamente a

Deus.

 

979. Hoje, durante a bênção, vi Jesus que me disse estas palavras:

Obedece em tudo ao teu director espiritual, a sua palavra é a Minha

vontade; confirma-te no íntimo da alma em que Eu falo pela sua boca e

desejo que tu lhe reveles o estado da tua alma com a mesma

simplicidade e sinceridade como o fazes diante de Mim. Repito uma vez

mais, Minha filha, fica a saber que a sua palavra é a Minha vontade

para ti.

 

980. Hoje vi o Senhor com uma grande beleza e disse-me: Oh Minha

querida hóstia, roga pelos sacerdotes, especialmente neste tempo de

colheita. O Meu Coração encontrou em ti a Sua complacência e

por ti abençoo a Terra.

 

981. Compreendi que estes dois anos de sofrimentos interiores que

suporto submetendo-me à vontade de Deus, para conhecer melhor a Sua

vontade, fizeram-me progredir na perfeição mais que os últimos dez anos.

Há dois anos que estou na cruz, entre o Céu e a Terra, isto é, estou

submetida ao voto de obediência, devo ouvir a Superiora como ao próprio

Deus; por outro lado, o próprio Deus dá-me a conhecer directamente a sua

vontade e por isso o meu tormento interior é tão grande que ninguém pode

imaginar nem compreender estes sofrimentos interiores.

 

Parece-me mais

fácil dar a vida que viver, às vezes, uma hora em tal tormento. Não vou

escrever muito sobre isto, porque é impossível descrever; conhecer

directamente a vontade de Deus, e ao mesmo tempo ser perfeitamente

obediente à vontade de Deus, conhecida indirectamente por meio das

Superioras. Agradeço ao Senhor por me ter dado um director espiritual,

porque de outro modo não teria dado nem um só passo para diante.

 

982. Nestes dias recebi uma carta muito grata da minha irmãzinha de 17

anos que me suplica encarecidamente que a ajude a entrar num convento

. Está disposta a todos os sacrifícios por Deus. Da sua carta

depreende-se que o Senhor Mesmo a guia. Alegro-me com a grande

Misericórdia de Deus.

 

983. Hoje a Majestade de Deus abraçou e penetrou a minha alma

totalmente. A grandeza de Deus afunda-me e inunda-me de modo que me

submerjo toda na sua grandeza; dissolvo-me e desapareço de todo n’Ele,

que é a minha vida e vida perfeita.

 

984. Oh meu Jesus, eu compreendo bem que a minha perfeição não

consiste em que me recomendas realizar estas grandes obras; oh não, a

grandeza da alma não consiste nisto, mas num grande amor por Ti.

Oh Jesus, entendo no fundo da minha alma que as maiores obras não

podem comparar-se com um acto de puro amor por Ti. Desejo ser-Te fiel e

cumprir os Teus desejos e aplico as forças e o intelecto em cumprir tudo o

que me mandes, oh Senhor, mas não tenho nenhuma sombra de apego.

Cumpro tudo isto, porque esta é a Tua vontade. Todo o meu amor está

mergulhado completamente não nas Tuas obras mas em Ti Mesmo, oh meu

Criador e Senhor.

 

985. 25 II 1937. Roguei fervorosamente por uma morte feliz para certa

pessoa que sofria muito. Esteve duas semanas entre a vida e a morte. Tinha

pena dela, e disse ao Senhor: Oh doce Jesus, se Te é agradável a Causa que

iniciei para a Tua glória, peço-Te, leva-a para a Tua casa, que descanse na

Tua Misericórdia. E estava estranhamente tranquila. Um momento depois

vieram dizer-me que essa pessoa que sofria tão terrivelmente, já tinha

expirado.

 

986. Vi certo sacerdote em dificuldades e pedi por ele até que Jesus o

olhou benignamente e lhe concedeu a sua força.

 

987. Hoje soube que uma pessoa da minha família ofende a Deus e que

está num grave perigo de morte. Este conhecimento trespassou a minha

alma com um sofrimento tão grande que pensava não poder suportar tal

ofensa a Deus. Pedi insistentemente perdão a Deus, mas vi a sua grande

indignação.

 

988. Rezei por intenção de um sacerdote para que Deus o ajudasse em

certos assuntos. De repente vi o Senhor Jesus crucificado; Jesus tinha os

olhos fechados e estava submergido em sofrimento. Fiz uma reverência às

suas cinco chagas, a cada uma por separado e pedi a bênção para ele. Jesus

fez-me conhecer no meu íntimo quanto lhe era querida essa alma e senti que

das chagas de Jesus fluiu a graça para essa alma que estava estendida na

cruz como Jesus.

 

989. Meu Senhor e meu Deus, Tu sabes que a minha alma só a Ti amou.

A minha alma inteira submergiu-se em Ti, oh Senhor. Embora não

cumprisse nada do que me deste a conhecer, oh Senhor, estaria

completamente tranquila, porque fiz o que estava ao meu alcance. Eu sei

bem que Tu, oh Senhor, não necessitas das nossas obras, Tu exiges o amor.

 

990. Amor, amor e uma vez mais amor de Deus, não há nada maior que

ele nem no Céu nem na Terra.

A maior grandeza é amar a Deus, a verdadeira grandeza está no amor de

Deus, a verdadeira sabedoria é amar a Deus. Todo o que é grande e belo

está em Deus; fora de Deus não há nem beleza nem grandeza.

Oh sábios do mundo e grandes intelectos reconheçam que a verdadeira

grandeza está em amar a Deus.

Oh, quanto me surpreendo que alguns homens se enganem a si mesmos

dizendo: não há eternidade.

 

991. 26 II 1937. Hoje vi que os sagrados mistérios eram celebrados sem

vestes litúrgicas e em casas particulares, pela passagem de uma tempestade,

e olhei o sol que saía do Santíssimo Sacramento; apagaram-se, isto é,

ficaram ofuscadas outras luzes, e todos tinham os olhos voltados para

aquela luz; mas, neste momento, não compreendo o significado.

 

992. Caminho pela vida entre arcos-íris e tempestades, mas com a

cabeça orgulhosamente erguida, porque sou filha do Rei, porque sinto que o

sangue de Jesus circula nas minhas veias e coloquei a minha confiança na

grande Misericórdia do Senhor.

 

993. Pedi ao Senhor que certa pessoa venha ver-me hoje, para que possa

estar com ela uma vez mais e isto será para mim um sinal de que ela é

chamada a entrar no convento que Jesus me manda fundar. E, coisa

estranha, aquela pessoa veio e eu procurei dar-lhe alguma formação

espiritual. Comecei a indicar-lhe o caminho de se negar a si mesma e do

sacrifício, que aceitou de boa vontade. Mas pus todo este assunto nas mãos

do Senhor, para que conduza tudo como Lhe agradar.

 

994. Hoje, ao ouvir pelo rádio a canção: “Boas noites, oh Sagrada

Cabeça do meu Jesus”, subitamente o meu espírito submergiu-se em Deus e

o amor de Deus inundou a minha alma; durante um momento convivi

intimamente com o Pai Celestial.

 

995. Embora não seja fácil viver numa contínua agonia,

Estar cravada numa cruz com vários sofrimentos,

No entanto, amando, ardo de amor,

E como um Serafim amo a Deus, embora seja fraca.

Oh, é grande a alma que em meio dos sofrimentos

Permanece fiel junto a Deus e cumpre a sua vontade,

E entre os maiores arcos-íris e tempestades está sem consolo,

Porque o puro amor de Deus suaviza a sua sorte.

Não é grande mérito amar a Deus na prosperidade

E agradecer-Lhe quando tudo nos vai bem,

Mas adorá-Lo entre as maiores adversidades,

E amá-Lo por Ele Mesmo e pôr a confiança n’Ele.

Quando a alma permanece nas sombras do Horto das Oliveiras,

Solitária entre a amargura e o dor,

Se eleva à altura de Jesus,

E embora beba continuamente a amargura, não está triste.

Quando a alma cumpre a vontade do Altíssimo,

Assim seja entre contínuas dores e torturas,

Aproximando os lábios do cálice que lhe entregam,

Permanece firme e nada a intimida.

Mesmo atormentada, repete: que se faça a Tua vontade,

Espera com paciência o momento em que será transformada,

Já que, embora nas trevas mais escuras, ouve a voz de Jesus: tu és minha,

E O conhecerá em toda a plenitude quando caia o véu.

 

996. 28 II 1937. Hoje, durante um longo momento, experimentei a

Paixão do Senhor Jesus e soube que são muitas as almas que necessitam de

oração. Sinto que me transformo toda em prece para impetrar a Divina

Misericórdia para cada alma. Oh meu Jesus, recebo-Te no meu coração

como penhor de Misericórdia para as almas.

 

997. Esta noite, ao ouvir pela rádio a canção: “Boas noites, oh Sagrada

Cabeça do meu Jesus", de repente o meu espírito foi raptado ao seio

misterioso de Deus e compreendi em que consiste a grandeza da alma e o

que tem importância diante de Deus: amor, amor e uma vez mais amor. E

conheci que o que existe está saturado de Deus e inundou-me um amor tão

grande por Deus que é impossível descrevê-lo.

Feliz a alma que sabe amar sem reservas, já que nisso está a sua

grandeza.

 

998. Hoje fiz um dia de retiro espiritual. Quando estava na última

palestra, o sacerdote falou de quanto o mundo necessita da

Misericórdia de Deus: [que] estes tempos parecem excepcionais, que a

humanidade necessita muito da Misericórdia de Deus e da oração. depois

ouvi na alma uma voz: Estas palavras são-te dirigidas, faz tudo o que

está ao teu alcance pela Obra da Minha Misericórdia. Desejo que a

Minha Misericórdia seja venerada; dou à humanidade a última tábua

de salvação, isto é, o refúgio na Minha Misericórdia. O Meu coração

rejubila nesta Festa. Depois destas palavras compreendi que nada pode

libertar-me deste dever que o Senhor exige de mim.

 

999. Esta noite sofri tanto que pensava que se aproximava já o fim da

minha vida. Os médicos não conseguiram diagnosticar que doença fosse.

Sentia como se tivesse arrancadas as entranhas, no entanto depois de umas

horas de tais sofrimentos estou bem. Todo isto pelos pecadores. Que a Tua

Misericórdia, oh Senhor, desça sobre eles.

 

1000. No terrível deserto da vida,

Oh meu dulcíssimo Jesus,

Protege as almas da perdição,

Já que és o manancial da Misericórdia.

Que o resplendor dos Teus raios,

Oh doce Guia das nossas almas,

Com a Misericórdia mude o mundo,

E ao receber esta graça, sirva a Jesus.

Devo percorrer um longo caminho escarpado

Mas não tenho medo de nada,

Porque para mim brota a fonte pura da Misericórdia,

E com ela flui a força para os humildes.

Estou esgotada e rendida,

Mas a consciência dá-me testemunho,

De que faço tudo para a maior glória de Deus,

O Senhor é o meu descanso e a minha herança.

 

Fim do segundo caderno

manuscrito do DIÁRIO

 

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