A CONTRIÇÃO PERFEITA

Tanto pela importância da matéria, certamente bem pouco conhecida da maioria dos cristãos, como pela abundância de doutrina e pelo interesse com que ela é tratada no que diz respeito à sua utilidade prática, pode se dizer que este livrinho comporta em suas poucas páginas o valor de muitos livros de maior volume.

 

O “grande meio de salvação” chamou Santo Afonso Maria de Ligório a um livrinho que, entre muitos outros, compôs sobre a oração. E diz dele que queria vê-lo nas mãos de todos, por tratar de um meio tão principal e de tanta eficácia para assegurar o Céu às almas. Pois, com não menos verdade, ainda que em sentido algum tanto distinto, devemos dizer outro tanto da prática do amor e contrição perfeita, como sendo o grande meio de salvação, pois que está em conexão ainda mais imediata com a consecução da vida eterna do que somente a oração.

 

Por isso, queria eu, como Santo Afonso com o seu, ver este livrinho nas mãos de todos, persuadido de que a sua atenta leitura e a execução prática das doutrinas que nele se ensinam, abrirão as portas do céu a muitíssimas almas, para quem, sem ele, estariam eternamente fechadas, e de que hão de acrescentar de uma maneira inesperada o direito ao Céu e à eterna bem-aventurança a muitas outras que, pela guarda da graça santificante, já são credores dele.

 

Não devia haver cristão algum que não estivesse solidamente instruído sobre a transcendência que tem um ato de contrição e caridade perfeita, pois que é de incalculável importância tanto para a hora da morte própria como para a dos outros, a quem talvez tenha de assistir.

 

Assim, pois, ninguém deveria esquecer-se desta verdade em tempo de saúde; porém, para o tempo de enfermidade e de perigo, sobretudo, é sumamente para se desejar que a conheçam a fundo e profundamente a gravem na alma os que a têm esquecido ou só imperfeitamente a conhecem.

 

Espero, pois, que se difunda o mais possível esta obrazinha, e não duvido de que a sua leitura será acompanhada de inumeráveis bênçãos do céu.

 

Pe. Agostinho Lehmkuhl, S.J.

Colégio de Santo Inácio,

Valkenburg, outubro de 1903.

 

Ao ver o título de Chave de ouro do Céu, parece-me, amado leitor, que estarás ansioso por ver se este livrinho corresponde por dentro ao que promete por fora. Mas, pode ser que te ocorram algumas suspeitas. Talvez que, nas práticas dominicais, o teu zeloso pároco te tenha prevenido contra certos escritos e publicações supersticiosas, contra as Chaves do Céu, os Ferrolhos do Inferno, as orações maravilhosas autênticas e contra todas as mercadorias parecidas, chamem-lhe como quiserem.

 

“Porém, se este livrinho é o que deve e promete ser — dirás, de ti para ti — seria venturoso, teria uma chave do Céu, de que poderia muito bem aproveitar-me”

 

E verdadeiramente de ouro e digna, portanto, de todo o apreço deve ser a chave que este autor me apresenta reluzente diante dos olhos.

 

Se é de verdadeiro ouro, e não só de aparência enganosa, estou feliz.

 

Sim, amado leitor, sólida e legítima é a chave, e por certo bem fácil de manejar: é a contrição perfeita. Ela te abrirá, em cada dia e a cada momento, o Céu se o fechaste com o ferrolho do pecado mortal. E sobretudo se, no fim da tua vida, como pode acontecer, não tiveres nem puderes ter a teu lado o sacerdote, que é o depositário das chaves da divina misericórdia, a contrição perfeita será a última e suprema chave com que, ajudado pela graça de Deus, poderás franquear-te o Céu. Porém, para isso, é preciso que te acostumes a manejá-la em vida.

 

Pela contrição perfeita, estão salvas no Céu inumeráveis almas que, de outro modo, se teriam perdido para sempre. Já vês, pois, que é importante, e sumamente importante, o que te recomendo neste livrinho. Por isso, dizia o douto e piedoso cardeal Franzelin:

 

“Se eu pudesse percorrer os campos pregando a palavra divina, nenhuma outra coisa pregaria com mais frequência do que a contrição perfeita ”

 

Mais adiante, no capítulo V, te direi como vim a escrever este livrinho e a percorrer assim os campos pregando a contrição perfeita. Deus Nosso Senhor, por Seu amor e misericórdia, te assista com Sua graça para que compreendas, e, sobretudo, para que pratiques, que é o que importa, conforme a Sua doutrina.

 

Posto isto, começo em nome do Senhor.

Cap. 1

O QUE É A CONTRIÇÃO PERFEITA?

Contrição é uma dor da alma e uma detestação dos pecados cometidos. Deve acompanhá-la o propósito, quer dizer, uma firme vontade de emendar a vida e de não mais pecar. Para que a contrição seja legítima, deve ser interna e estar na alma, isto é, que não seja uma mera expressão feita com os lábios e...

Cap. 2

COMO SE ESTIMULAR À CONTRIÇÃO PERFEITA?

Hás de pressupor que a contrição perfeita é graça e grande graça do amor e misericórdia de Deus; e, se assim é, hás, portanto, de pedi-la com instância. Porém, não te contentes com fazê-lo somente quanto trates de estimular a contrição, porque o desejo de alcançá-la deve ser um dos mais ardentes...

Cap. 3

É DIFÍCIL ESTIMULAR A CONTRIÇÃO PERFEITA?

  Antes de tudo, é verdade que, para a contrição perfeita, se requer mais do que para a imperfeita, que é a de que se necessita para a Confissão.   Contudo, porém, ajudado com a graça de Deus, pode qualquer um alcançar a contrição perfeita, bastando que verdadeiramente a deseje, porque a...

Cap. 4

QUE EFEITOS PRODUZ A CONTRIÇÃO PERFEITA?

Efeitos verdadeiramente admiráveis!   Se és pecador, perdoa-te imediatamente os pecados e isto de cada vez e ainda antes de receberes o sacramento da Confissão; necessário é, porém, que tenhas vontade de confessá-los mais tarde (vontade esta que já está incluída na contrição perfeita). E este...

Cap. 5

POR QUE É TÃO IMPORTANTE E ATÉ NECESSÁRIA A CONTRIÇÃO PERFEITA?

É importante na vida e na morte.   — É importante na vida Porque que precioso não é o estado de graça!   A graça não adorna somente a alma, mas invade-a e penetra-a toda, e transforma-a em uma nova criatura, em filha de Deus e herdeira do céu. Além disso, faz com que todas as obras e...

Cap. 6

QUANDO SE DEVE ESTIMULAR A CONTRIÇÃO PERFEITA?

  1. Se, com fidelidade e bom desejo, me tens seguido até aqui, cristão leitor, deixa que, olhando-te afetuosamente e apertando-te a mão, te diga de todo o coração e com a maior insistência: dá este prazer a Deus e à tua alma. Faze devotadamente todas as noites, com tuas orações, um ato de...

Cap. 7

AFETOS E SÚPLICAS PELA CONTRIÇÃO, POR SANTO AFONSO DE LIGÓRIO

I   Ó meu Deus! Destes-me a razão, a luz da fé e, contudo, portei-me como um irracional, preterindo Vossa divina graça aos vis prazeres mundanos, que se dissiparam como o fumo, deixando apenas remorsos de consciência e dívidas para com Vossa justiça. Ah, Senhor, não me julgueis pelo que mereço...

1. Senhor meu Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, Criador e Redentor meu, por serdes Vós quem Sois, e porque Vos amo sobre todas as coisas, pesa-me de todo o coração de Vos ter ofendido; proponho firmemente nunca mais pecar, confessar-me, cumprir a penitência que me for imposta, e afastar-me de todas as ocasiões de Vos ofender; ofereço-Vos a minha vida, obras e sofrimentos em satisfação de todos os meus pecados, e confio na Vossa bondade e misericórdia infinitas que os perdoareis pelos merecimentos do Vosso preciosíssimo Sangue, Paixão e Morte, e me dareis graça para emendar-me e perseverar em Vosso santo serviço até o fim da minha vida. Amém.

 

2. Senhor meu e Deus meu! Do íntimo do coração, me pesa de todos os pecados da minha vida. Pesa-me porque com eles mereci o purgatório ou o inferno; porque tenho desprezado o céu e porque tenho sido tão ingrato para conVosco, o meu maior benfeitor. Pesa-me, sobretudo, porque, com os meus pecados, Vos tenho açoitado e crucificado, a Vós meu amabilíssimo Salvador. Agora, porém, amo-Vos, meu maior benfeitor, meu pai amabilíssimo e misericordiosíssimo Redentor; amo-Vos de todo o coração e sobre todas as coisas, e, porque Vos amo, me pesa e me arrependo de Vos ter ofendido, Deus meu, que Sois infinitamente formoso, bom e digno de ser amado. Proponho firmemente emendar a minha vida e não mais pecar. Ó meu Jesus! Dai-me a Vossa graça para cumpri-lo. Amém.

 

3. Senhor meu Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, Vós me criastes à Vossa imagem e semelhança, Vós me remistes com infinito amor, morrendo na Cruz e me quereis levar ao Céu para me fazer eternamente feliz.

 

Eu, em troca, tenho-Vos ofendido tantas vezes com meus pecados e tenho merecido justos castigos nesta vida e na outra.

 

Sim, sou culpado do Vosso Sangue e de Vossas feridas; tenho afligido e amargurado o Vosso amantíssimo Coração de Redentor com meus pecados e minha ingratidão. Detesto esta ingratidão e, para compensá-la, amo-Vos com mais ardente amor, sobre todas as coisas. E, porque Vos amo, pesa-me de todo o coração e sobre todas as coisas, de Vos ter ofendido, Senhor meu e Deus meu.

 

Perdoai-me, eu Vos peço. Quero desde este momento emendar-me com fervor. Dai-me, Jesus misericordioso, a Vossa graça para isto. Amém.

 

Não me move meu Deus, para querer-Te,

O Céu que me tens prometido,

Nem me move o inferno, tão temido,

Para deixar por isso de ofender-Te.

Tu me moves, Deus meu, move-me o ver-Te

Cravado em uma cruz, escarnecido;

Move-me o ver teu Corpo tão ferido,

Movem-me Tuas afrontas e Tua morte;

Move-me, enfim, Teu amor e de tal maneira

Que, ainda que não houvesse Céu, Te amaria,

E, ainda que não houvesse inferno, Te temeria.

Nada tens que dar-me porque Te quero;

Porque, se não esperasse o que espero,

Te queria o mesmo que Te quero.

 

Eu, ruim e indigna criatura, me lanço a Vossos pés, Deus meu, e, com o coração contrito e aflito, reconheço e confesso diante de Vós, Redentor de minha alma, que, desde o instante em que nasci até agora, tenho cometido inumeráveis negligências e pecados.

 

Tenho-Vos ofendido, Deus meu! Pequei, Senhor! Porém, detesto os meus pecados e me arrependo do íntimo do coração. Por isso, prometo solenemente não mais pecar. Porém, se Vós, em Vossa altíssima sabedoria, preveis que posso novamente ofender-Vos e cair outra vez no Vosso desagrado, de todo o coração Vos peço que me leveis agora desta vida, em Vossa graça.

 

Quem dera a minha dor fosse tão grande que o propósito de não mais Vos ofender permanecesse sempre imutável! Porque Vos devo infinito agradecimento pela Vossa divina bondade e porque mereceis que Vos ame sobre todas as coisas, arrependo-me de meus pecados, não tanto para livrar-me dos tormentos eternos que por eles mereci, nem para gozar das delícias do Céu, que tão inconsideradamente desprezei, como porque Vos desagradam a Vós, Deus meu, que, por Vossa bondade e infinitas perfeições, Sois digno de infinito amor.

 

Tomara todas as criaturas Vos mostrem sem interrupção, amor, reverência e agradecimento. Amém.

 

Senhor meu Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, Criador e Redentor meu, por serdes Vós quem Sois, sumamente bom e digno de ser amado, e porque Vos amo e estimo sobre todas as coisas: pesa-me, Senhor, de todo o meu coração, de Vos ter ofendido; pesa-me, também, por ter perdido o Céu e merecido o inferno; e proponho firmemente, ajudado com os auxílios de Vossa divina graça, emendar-me e nunca mais Vos tornar a ofender. Espero alcançar o perdão de minhas culpas pela Vossa infinita misericórdia. Amém.

 

O QUE É O ATO DE CONTRIÇÃO?

 

O Ato de Contrição é uma oração católica de arrependimento sincero pelos pecados cometidos, acompanhada do firme propósito de mudança. Um exemplo de um ato de contrição tradicional é:

 

Senhor meu Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, Criador e Redentor meu, por serdes Vós quem Sois, sumamente bom e digno de ser amado sobre todas as coisas, e porque Vos amo e Vos estimo, pesa-me, Senhor, de Vos ter ofendido; e proponho firmemente, ajudado com os auxílios de Vossa divina graça, emendar-me e nunca mais tornar a Vos ofender; espero alcançar de Vossa infinita misericórdia o perdão de minhas culpas. Amém.

 

 

O QUE QUER DIZER CONTRIÇÃO?

 

A contrição é aquela dor que se tem do pecado, pelo motivo de com ele termos ofendido a bondade de Deus, como ensina Santo Afonso Maria de Ligório em seu Instrução ao povo, cap. V.

 

Também constata o mesmo Santo Doutor que os teólogos dizem que a contrição é um ato formal de perfeito amor a Deus; já que, quem tem contrição está sendo movido pelo amor que o leva à bondade de Deus, ao arrepender-se de tê-lo ofendido.

 

Padre Auguste Saudreau ensina que “a contrição é a retratação do pecado, a mudança da alma que renega o mal que procurara e volta para o bem a que renunciara. Por ela o culpado volta-se para Deus se, por uma falta mortal, dEle se houvesse desviado” (Manual de Espiritualidade, p. 242).

 

São Roberto Belarmino, em seu Doutrina Cristã, explica o que quer dizer contrição com as seguintes palavras:

 

“Que o coração do pecador, duro e empedernido pelo pecado, abrande-se e, em certo sentido, quebre de dor, por ter ofendido a Deus. Porém, em particular, duas coisas contém a contrição, das quais uma não basta sem a outra. A primeira é que o pecador, com todas as veras, tenha dor dos pecados cometidos depois do Batismo; por isso, é necessário examinar bem sua consciência, considerar todas as suas ações, e doer-se de o não ter feito, segundo a regra da Santa Lei de Deus. A segunda é que o pecador tenha um propósito firme de não pecar mais”.

 

Adverte-nos o Padre Leo J. Trese que “não há ato de contrição verdadeiro se não se fizer acompanhar do propósito de emenda. Este propósito não é outra coisa senão a simples e sincera determinação de evitar o pecado no futuro, bem como as ocasiões próximas de pecado, tanto quanto nos seja possível. Sem esse propósito, não pode haver perdão dos pecados, nem mesmo dos veniais” (A Fé Explicada, p. 404).

 

 

QUAL A DIFERENÇA ENTRE CONTRIÇÃO E ATRIÇÃO?

 

Para bem compreender tais distinções e com maior profundidade, recorrer-se-á ao manual de Doutrina Católica do Cônego Boulenger, em sua lição número 10 acerca do assunto, no qual disserta que:

 

Contrição (do latim conterere, esmagar, pulverizar).

 

A) Etimologicamente, esta palavra significa o ato pelo qual se reduz a partículas mínimas um corpo sólido.

 

B) Metaforicamente, indica a disposição de um coração, dantes empedernido pelo pecado e agora enternecido pelo arrependimento. É a compunção do coração, isto é, uma dor viva causada pelo pecado cometido.

 

Atrição (do latim attererer, quebrar). A alma penitente é despedaçada pela atrição, enquanto fica esmagada pela contrição.

 

A atrição é o termo teológico que designa a contrição imperfeita. No seu sentido etimológico, pouco diferem, na verdade, as duas palavras: contrição e atrição. Aliás, o coração tanto pode ser esmagado na atrição, como na contrição. O que constitui a diferença dos dois sentimentos é unicamente o motivo que provoca a dor.

 

Segundo o Padre Giuseppe Frassinetti, em seu Compêndio de Teologia Moral de Santo Afonso publicado pela nossa editora, explica tecnicamente que “a contrição, uma é

 

Perfeita: que procede propriamente do motivo da ofensa feita à divina bondade enquanto este atributo compreende todas as perfeições de Deus;

Imperfeita, chamada de Atrição: que se concebe por motivo, ou da perda do céu, ou da fealdade do pecado, conhecida pela luz da fé, ou do inferno merecido, a qual exclua a vontade de pecar e esteja junta com a esperança do perdão“.

 

Frei Benvindo Destéfani OFM, em seu livro sobre o Santo Sacramento da Penitência, explica em palavras mais fáceis desta maneira:

 

A dor perfeita ou contrição propriamente dita é o desgosto ou o pesar dos pecados cometidos, porque são uma ofensa a Deus, nosso Pai, infinitamente bom e amável, e a causa da Paixão e morte de Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro.

 

A dor imperfeita ou atrição é o desgosto ou o pesar dos pecados cometidos pelo temor aos castigos divinos, eternos ou temporais, ou ainda pela torpeza do pecado como ofensa ao Altíssimo.

 

 

 

Segundo Boulenger, a contrição perfeita remite os pecados por si mesma. Em se tratando, porém, de culpas mortais, requer sempre a vontade de receber o Sacramento da Penitência. Dois pontos a elucidar:

 

Tem a virtude de perdoar os pecados fora do Sacramento. Com efeito, a contrição perfeita sempre encerra, pelo menos virtualmente, a caridade perfeita. Logo, o que se diz desta, vale para aquela. Ora, vemos amiúde na Sagrada Escritura a caridade remitindo os pecados. No Antigo Testamento, por exemplo, diz-se: “Deus ama os que O amam” (Pr 8,17). “Os que se converterem a ele de todo o coração serão justificados” (Ez 18,30). E no Novo Testamento, Jesus Cristo, falando da mulher pecadora, diz que as suas muitas culpas lhe serão perdoadas, porque amou muito (Lc 7,47). Se a contrição perfeita já era suficiente para remitir os pecados antes da instituição do Sacramento da Penitência, é claro que conserva agora a mesma eficácia; do contrário, a Lei nova seria mais emaranhada e custosa do que a Lei antiga.

 

Todavia, a contrição perfeita, para que remita os pecados mortais, requer o voto do sacramento (Concílio de Trento, sess. XIV, cap. IV). A razão disto é que Nosso Senhor, instituindo o Sacramento da Penitência, tornou obrigatória a confissão de todos os pecados mortais cometidos depois do Batismo.

 

É indispensável, portanto, recorrer sempre à Confissão, até para pecados mortais que a contrição perfeita tivesse remitido.

 

 

 

Ainda apoiando-se em Boulenger, também existem dois pontos a esclarecer acerca da atrição:

 

Fora do Sacramento da Penitência, a atrição não chega para a remissão dos pecados mortais. Nem mesmo remite as faltas veniais numa alma despojada da graça santificante. Pode perdoá-las na alma em estado de graça.

 

No Sacramento da Penitência, a atrição é suficiente para remitir todos os pecados. Assim o declarou o Concílio de Trento, sess. XIV, cap. IV. De fato, se a contrição perfeita fosse requisito necessário, Nosso Senhor, instituindo o Sacramento da Penitência, teria estabelecido um rito inútil, supérfluo, desde que os pecados já estivessem remitidos pela contrição perfeita, antes da absolvição do padre.

 

 

 

Uma vez bem compreendido o que é a contrição, poder-se-ia questionar se, mesmo antes da instituição do Sacramento da Penitência por Nosso Senhor, a prática do ato de contrição existia. Existem alguns relatos bíblicos que demonstram tal ato tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento, a saber:

 

O rei Davi reconheceu seus delitos e detestou-os sinceramente, como se depreende de suas palavras que contém um ato de contrição perfeita: Pequei contra o Senhor!

 

O profeta Natã, em nome de Deus, certificou-o do perdão, assegurando-lhe: O Senhor tirou o teu pecado! (2Rs 12).

 

Além destes, recomenda-se as seguintes leituras:

 

A pecadora, perdoada por seu amor e arrependimento (Lc 7)

O filho pródigo, modelo de arrependimento (Lc 15)

Contrição do publicano (Lc 18)

Contrição de São Pedro (Mt 26,75)

 

Conta-se que São Carlos Borromeu, a fim de excitar a contrição, fazia três visitas antes da confissão: primeira, ao inferno, para ver as torturas que merece o pecado; a segunda, ao pé da cruz, para meditar nos padecimentos do Homem-Deus, vítima do pecado; e terceira, ao céu, para contemplar essa eternidade de delícias que o pecado nos rouba.

 

 

 

Existem diversas versões do Ato de Contrição, desde as mais tradicionais até orações mais curtas e simples. Assim como o modo de rezá-lo, podendo ser depois da Confissão ou mesmo no seu dia a dia. A seguir, apresentar-se-ão algumas formas de recitá-lo:

 

ATO DE CONTRIÇÃO TRADICIONAL

 

“Senhor meu Jesus Cristo, Deus e homem verdadeiro, Criador e Redentor meu, por serdes Vós quem sois, sumamente bom e digno de ser amado sobre todas as coisas, e porque Vos amo e Vos estimo, pesa-me, Senhor, de Vos ter ofendido; e proponho firmemente, ajudado com os auxílios de Vossa divina graça, emendar-me e nunca mais tornar a Vos ofender; espero alcançar de Vossa infinita misericórdia o perdão de minhas culpas. Amém.”

 

 

ATO DE CONTRIÇÃO SIMPLES

 

“Meu Deus, eu me arrependo de todo o coração de ter pecado, porque Vos amo e quero viver na Vossa graça. Com a Vossa ajuda, prometo evitar o pecado e tudo o que me afasta de Vós. Amém.”

 

 

 

ATO DE CONTRIÇÃO BASEADO NO SALMO 50 (MISERERE)

 

“Tende piedade de mim, ó Deus, segundo a Vossa misericórdia. Apagai a minha culpa e purificai-me do meu pecado. Criai em mim um coração puro, ó Deus, e renovai em mim um espírito reto. Não me afasteis da Vossa presença, nem retireis de mim o Vosso Santo Espírito. Devolvei-me a alegria da salvação e sustentai-me com um espírito generoso. Amém.”

 

 

ATO DE CONTRIÇÃO II

 

“Meu Deus, tenho grande pesar de Vos haver ofendido, porque Sois infinitamente bom, e o pecado Vos desagrada; faço o propósito firme, mediante a Vossa graça, de me penitenciar e nunca mais Vos ofender“.

 

 

ATO DE CONTRIÇÃO, POR SANTO AFONSO

 

“Meu Deus, porque Vós sois bondade infinita Vos amo acima de todas as coisas, e porque Vos amo, eu lamento e eu me arrependo de todas as ofensas que Vos fiz, ó Bem supremo, mais do que todos os outros males. Meu Deus, nunca mais! Quero antes morrer, do que voltar a Vos ofender“.

 

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