AMORIS LÆTITIA

AMORIS LÆTITIA

OPÇÃO DESTE SITE: 

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA PÓS-SINODAL
AMORIS LÆTITIA
DO SANTO PADRE
FRANCISCO
AOS BISPOS
AOS PRESBÍTEROS E AOS DIÁCONOS
ÀS PESSOAS CONSAGRADAS
AOS ESPOSOS CRISTÃOS
E A TODOS OS FIÉIS LEIGOS
SOBRE O AMOR NA FAMÍLIA

1. A ALEGRIA DO AMOR que se vive nas famílias é também o júbilo da Igreja. Apesar dos numerosos sinais de crise no matrimónio – como foi observado pelos Padres sinodais – «o desejo de família permanece vivo, especialmente entre os jovens, e isto incentiva a Igreja». Como resposta a este anseio, «o anúncio cristão sobre a família é verdadeiramente uma boa notícia».

 

2. O caminho sinodal permitiu analisar a situação das famílias no mundo actual, alargar a nossa perspectiva e reavivar a nossa consciência sobre a importância do matrimónio e da família. Ao mesmo tempo, a complexidade dos temas tratados mostrou-nos a necessidade de continuar a aprofundar, com liberdade, algumas questões doutrinais, morais, espirituais e pastorais. A reflexão dos pastores e teólogos, se for fiel à Igreja, honesta, realista e criativa, ajudar-nos-á a alcançar uma maior clareza. Os debates, que têm lugar nos meios de comunicação ou em publicações e mesmo entre ministros da Igreja, estendem-se desde o desejo desenfreado de mudar tudo sem suficiente reflexão ou fundamentação até à atitude que pretende resolver tudo através da aplicação de normas gerais ou deduzindo conclusões excessivas de algumas reflexões teológicas.

 

3. Recordando que o tempo é superior ao espaço, quero reiterar que nem todas as discussões doutrinais, morais ou pastorais devem ser resolvidas através de intervenções magisteriais. Naturalmente, na Igreja, é necessária uma unidade de doutrina e práxis, mas isto não impede que existam maneiras diferentes de interpretar alguns aspectos da doutrina ou algumas consequências que decorrem dela. Assim há-de acontecer até que o Espírito nos conduza à verdade completa (cf. Jo 16, 13), isto é, quando nos introduzir perfeitamente no mistério de Cristo e pudermos ver tudo com o seu olhar. Além disso, em cada país ou região, é possível buscar soluções mais inculturadas, atentas às tradições e aos desafios locais. De facto, «as culturas são muito diferentes entre si e cada princípio geral (...), se quiser ser observado e aplicado, precisa de ser inculturado».

 

4. Em todo o caso, devo dizer que o caminho sinodal se revestiu duma grande beleza e proporcionou muita luz. Agradeço tantas contribuições que me ajudaram a considerar, em toda a sua amplitude, os problemas das famílias do mundo inteiro. O conjunto das intervenções dos Padres, que ouvi com atenção constante, pareceu-me um precioso poliedro, formado por muitas preocupações legítimas e questões honestas e sinceras. Por isso, considerei oportuno redigir uma Exortação Apostólica pós-sinodal que recolha contribuições dos dois Sínodos recentes sobre a família, acrescentando outras considerações que possam orientara reflexão, o diálogo ou a práxis pastoral, e simultaneamente ofereçam coragem, estímulo e ajuda às famílias na sua doação e nas suas dificuldades.

 

5. Esta Exortação adquire um significado especial no contexto deste Ano Jubilar da Misericórdia, em primeiro lugar, porque a vejo como uma proposta para as famílias cristãs, que as estimule a apreciar os dons do matrimónio e da família e a manter um amor forte e cheio de valores como a generosidade, o compromisso, a fidelidade e a paciência; em segundo lugar, porque se propõe encorajar todos a serem sinais de misericórdia e proximidade para a vida familiar, onde esta não se realize perfeitamente ou não se desenrole em paz e alegria.

 

6. No desenvolvimento do texto, começarei por uma abertura inspirada na Sagrada Escritura, que lhe dê o tom adequado. A partir disso, considerarei a situação actual das famílias, para manter os pés assentes na terra. Depois lembrarei alguns elementos essenciais da doutrina da Igreja sobre o matrimónio e a família, seguindo-se os dois capítulos centrais, dedicados ao amor. Em seguida destacarei alguns caminhos pastorais que nos levem a construir famílias sólidas e fecundas segundo o plano de Deus, e dedicarei um capítulo à educação dos filhos. Depois deter-me-ei sobre um convite à misericórdia e ao discernimento pastoral perante situações que não correspondem plenamente ao que o Senhor nos propõe; e, finalmente, traçarei breves linhas de espiritualidade familiar.

 

7. Devido à riqueza que os dois anos de reflexão do caminho sinodal ofereceram, esta Exortação aborda, com diferentes estilos, muitos e variados temas. Isto explica a sua inevitável extensão. Por isso, não aconselho uma leitura geral apressada. Poderá ser de maior proveito, tanto para as famílias como para os agentes de pastoral familiar, aprofundar pacientemente uma parte de cada vez ou procurar nela aquilo de que precisam em cada circunstância concreta. É provável, por exemplo, que os esposos se identifiquem mais como quarto e quinto capítulo, que os agentes pastorais tenham especial interesse pelo capítulo sexto, e que todos se sintam muito interpelados pelo oitavo. Espero que cada um, através da leitura, se sinta chamado a cuidar com amor da vida das famílias, porque elas «não são um problema, são sobretudo uma oportunidade».

8. A Bíblia aparece cheia de famílias, gerações, histórias de amor e de crises familiares, desde as primeiras páginas onde entra em cena a família de Adão e Eva, como seu peso de violência mas também com a força da vida que continua (cf. Gn 4), até às últimas páginas onde aparecem as núpcias da Esposa e do Cordeiro (cf. Ap21, 2.9).As duas casas de que fala Jesus, construídas ora sobre a rocha ora sobre a areia (cf. Mt 7, 24-27), representam muitas situações familiares, criadas pela liberdade de quantos habitam nelas, porque – como escreve o poeta – «toda a casa é um candelabro». Agora entremos numa dessas casas, guiados pelo Salmista, através dum canto que ainda hoje se proclama nas liturgias nupciais quer judaica quer cristã:

 

«Felizes os que obedecem ao Senhor

e andam nos seus caminhos.

Comerás do fruto do teu próprio trabalho:

assim serás feliz e viverás contente.

A tua esposa será como videira fecunda

na intimidade do teu lar;

os teus filhos serão como rebentos de oliveira

ao redor da tua mesa.

Assim vai ser abençoado

o homem que obedece ao Senhor.

O Senhor te abençoe do monte Sião!

Possas contemplara prosperidade de Jerusalém

todos os dias da tua vida,

e chegues a ver os filhos dos teus filhos.

Paz a Israel!» (Sl 128/127, 1-6).

"""""""""""""""""""""

TU E A TUA ESPOSA

9. Cruzemos então o limiar desta casa serena, com a sua família sentada ao redor da mesa em dia de festa. No centro, encontramos o casal formado pelo pai e a mãe com toda a sua história de amor. Neles se realiza aquele desígnio primordial que o próprio Cristo evoca com decisão: «Não lestes que o...

OS TEUS FILHOS COMO REBENTOS DE OLIVEIRA

14. Retomemos o canto do Salmista. Lá, dentro da casa onde o homem e a sua esposa estão sentados à mesa, aparecem os filhos que os acompanham «como rebentos de oliveira» (Sl 128/127, 3), isto é, cheios de energia e vitalidade. Se os pais são como que os alicerces da casa, os filhos constituem as...

UM RASTO DE SOFRIMENTO E SANGUE

19. O idílio, que o Salmo128 apresenta, não nega uma amarga realidade que marca toda a Sagrada Escritura: é a presença do sofrimento, do mal, da violência, que dilaceram a vida da família e a sua comunhão íntima de vida e de amor. Não é de estranhar que o discurso de Cristo sobre o matrimónio...

O FRUTO DO TEU PRÓPRIO TRABALHO

23. No início do Salmo 128, o pai é apresentado como um trabalhador que pode, com a obradas suas mãos, manter o bem-estar físico e a serenidade da sua família: «Comerás do fruto do teu próprio trabalho: assim serás feliz e viverás contente» (v. 2). O facto de o trabalho ser uma parte fundamental da...

A TERNURA DO ABRAÇO

27. Como distintivo dos seus discípulos, Cristo pôs sobretudo a lei do amor e do dom de si mesmo aos outros (cf. Mt 22, 39; Jo 13, 34), e fê-lo através dum princípio que um pai ou uma mãe costumam testemunhar na sua própria vida: «Ninguém tem maior amor do que quem dá a vida pelos seus amigos» (Jo...

31. O bem da família é decisivo para o futuro do mundo e da Igreja. Inúmeras são as análises feitas sobre o matrimónio e a família, sobre as suas dificuldades e desafios actuais. É salutar prestar atenção à realidade concreta, porque «os pedidos e os apelos do Espírito ressoam também nos acontecimentos da história» através dos quais «a Igreja pode ser guiada para uma compreensão mais profunda do inexaurível mistério do matrimónio e da família». Não tenho a pretensão de apresentar aqui tudo aquilo que poderia ser dito sobre os vários temas relacionados coma família no contexto actual. Mas, dado que os Padres sinodais ofereceram um panorama da realidade das famílias de todo o mundo, considero oportuno recolher algumas das suas contribuições pastorais, acrescentando outras preocupações derivadas da minha própria visão.

""""""""""""""""""""""

A SITUAÇÃO ACTUAL DA FAMÍLIA

32. «Fiéis ao ensinamento de Cristo, olhamos a realidade actual da família em toda a sua complexidade, nas suas luzes e sombras. (...) Hoje, a mudança antropológico-cultural influencia todos os aspectos da vida e requer uma abordagem analítica e diversificada». Já no contexto de várias décadas...

ALGUNS DESAFIOS

50. As respostas recebidas nas duas consultações, efectuadas no caminho sinodal, mencionaram as mais diversas situações que colocam novos desafios. Além das situações já indicadas, muitos referiram-se à função educativa, que acaba dificultada porque, entre outras causas, os pais chegam a casa...

58. Diante das famílias e no meio delas, deve ressoar sempre de novo o primeiro anúncio, que é o «mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário» e «deve ocupar o centro da atividade evangelizadora». É o anúncio principal, «aquele que sempre se tem de voltar a ouvir de diferentes maneiras e aquele que sempre se tem de voltar a anunciar, duma forma ou doutra». Porque «nada há de mais sólido, mais profundo, mais seguro, mais consistente e mais sábio que esse anúncio» e «toda a formação cristã é, primariamente, o aprofundamento do querigma».

 

59. O nosso ensinamento sobre o matrimónio e a família não pode deixar de se inspirar e transfigurar à luz deste anúncio de amor e ternura, se não quiser tornar-se mera defesa duma doutrina fria e sem vida. Com efeito, o próprio mistério da família cristãs só se pode compreender plenamente à luz do amor infinito do Pai, que se manifestou em Cristo entregue até ao fim e vivo entre nós. Por isso, quero contemplar Cristo vivo que está presente em tantas histórias de amor e invocar o fogo do Espírito sobre todas as famílias do mundo.

 

60. Dentro deste quadro, o presente capítulo recolhe uma síntese da doutrina da Igreja sobre o matrimónio e a família. Também aqui citarei várias contribuições prestadas pelos Padres sinodais nas suas considerações acerca da luz que a fé nos oferece. Eles partiram do olhar de Jesus, dizendo que Ele «olhou para as mulheres e os homens que encontrou com amor e ternura, acompanhando os seus passos com verdade, paciência e misericórdia, ao anunciar as exigências do Reino de Deus». De igual modo nos acompanha, hoje, o Senhor no nosso compromisso de viver e transmitir o Evangelho da família.

"""""""""""""""""""""""

JESUS RECUPERA E REALIZA PLENAMENTE O PROJECTO DIVINO

61. Contrariamente àqueles que proibiam o matrimónio, o Novo Testamento ensina que «tudo o que Deus criou é bom e nada deve ser rejeitado» (1Tim 4, 4). O matrimónio é um «dom» do Senhor (cf. 1 Cor 7, 7). Ao mesmo tempo que se dá esta avaliação positiva, acentua-se fortemente a obrigação de cuidar...

A FAMÍLIA NOS DOCUMENTOS DA IGREJA

67. O Concílio Ecuménico Vaticano II ocupou-se, na Constituição pastoral Gaudium et spes, da promoção da dignidade do matrimónio e da família (cf. nn. 47-52). «Definiu o matrimónio como comunidade de vida e amor (cf. n. 48), colocando o amor no centro da família (...). O “verdadeiro amor entre...

O SACRAMENTO DO MATRIMÓNIO

71. «A Sagrada Escritura e a Tradição abrem-nos o acesso a um conhecimento da Trindade que Se revela com traços familiares. A família é imagem de Deus, que (…) é comunhão de pessoas. No baptismo, a voz do Pai chamou a Jesus Filho amado; e, neste amor, podemos reconhecer o Espírito Santo (cf. Mc 1,...

SEMENTES DO VERBO E SITUAÇÕES IMPERFEITAS

76. «O Evangelho da família nutre também as sementes ainda à espera de desenvolver-se e deve cuidar das árvores que perderam vitalidade e necessitam que não as transcurem», de modo que, partindo do dom de Cristo no sacramento, «sejam conduzidas pacientemente mais além, chegando a um conhecimento...

A TRANSMISSÃO DA VIDA E A EDUCAÇÃO DOS FILHOS

80. O matrimónio é, em primeiro lugar, uma «íntima comunidade da vida e do amor conjugal», que constitui um bem para os próprios esposos; e a sexualidade «ordena-se para o amor conjugal do homem e da mulher». Por isso, também «os esposos a quem Deus não concedeu a graça de ter filhos podem ter uma...

A FAMÍLIA E A IGREJA

86. «Com íntima alegria e profunda consolação, a Igreja olha para as famílias que permanecem fiéis aos ensinamentos do Evangelho, agradecendo-lhes pelo testemunho que dão e encorajando-as. Com efeito, graças a elas, torna-se credível a beleza do matrimónio indissolúvel e fiel para sempre. Na...

89. Tudo o que foi dito não é suficiente para exprimir o Evangelho do matrimónio e da família, se não nos detivermos particularmente a falar do amor. Com efeito, não poderemos encorajar um caminho de fidelidade e doação recíproca, se não estimularmos o crescimento, a consolidação e o aprofundamento do amor conjugal e familiar. De facto, a graça do sacramento do matrimónio destina-se, antes de mais nada, «a aperfeiçoar o amor dos cônjuges». Também aqui é verdade que, «ainda que eu tenha tão grande fé que transporte montanhas, se não tiver amor, nada sou. Ainda que eu distribua todos os meus bens e entregue o meu corpo para ser queimado, se não tiver amor de nada me vale» (1Cor 13, 2-3). Mas a palavra «amor», uma das mais usadas, muitas vezes aparece desfigurada.

 

""""""""""""""""""""""""

O NOSSO AMOR QUOTIDIANO

90. No chamado hino à caridade escrito por São Paulo, vemos algumas características do amor verdadeiro:   «O amor é paciente, o amor é prestável; não é invejoso, não é arrogante nem orgulhoso, nada faz de inconveniente, não procura o seu próprio interesse, não se irrita, nem guarda...

CRESCER NA CARIDADE CONJUGAL

120. O cântico de São Paulo, que acabámos de repassar, permite-nos avançar para a caridade conjugal. Esta é o amor que une os esposos, amor santificado, enriquecido e iluminado pela graça do sacramento do matrimónio. É uma «união afectiva», espiritual e oblativa, mas que reúne em si a ternura da...

AMOR APAIXONADO

142. O Concílio Vaticano II ensinou que este amor conjugal «compreende o bem de toda a pessoa e, por conseguinte, pode conferir especial dignidade às manifestações do corpo e do espírito, enobrecendo-as como elementos e sinais peculiares do amor conjugal». Deve haver qualquer motivo para um amor...

A TRANSFORMAÇÃO DO AMOR

163. O alongamento da vida provocou algo que não era comum noutros tempos: a relação íntima e a mútua pertença devem ser mantidas durante quatro, cinco ou seis décadas, e isto gera a necessidade de renovar repetidas vezes a recíproca escolha. Talvez o cônjuge já não esteja apaixonado com um desejo...

165. O amor sempre dá vida. Por isso, o amor conjugal «não se esgota no interior do próprio casal (...). Os cônjuges, enquanto se doam entre si, doam para além de si mesmos a realidade do filho, reflexo vivo do seu amor, sinal permanente da unidade conjugal e síntese viva e indissociável do ser pai e mãe».

 

"""""""""""""""""""""""""

ACOLHER UMA NOVA VIDA

166. A família é o âmbito não só da geração, mas também do acolhimento da vida que chega como um presente de Deus. Cada nova vida «permite-nos descobrir a dimensão mais gratuita do amor, que nunca cessa de nos surpreender. É a beleza de ser amado primeiro: os filhos são amados antes de chegar»....

FECUNDIDADE ALARGADA

178. Àqueles que não podem ter filhos, lembramos que «o matrimónio não foi instituído só em ordem à procriação (...). E por isso, mesmo que faltem os filhos, tantas vezes ardentemente desejados, o matrimónio conserva o seu valor e indissolubilidade, como comunidade e comunhão de toda a vida». Além...

A VIDA NA FAMÍLIA EM SENTIDO AMPLO

187. O núcleo familiar restrito não deveria isolar-se da família alargada, onde estão os pais, os tios, os primos e até os vizinhos. Nesta família ampla, pode haver pessoas necessitadas de ajuda, ou pelo menos de companhia e gestos de carinho, ou pode haver grandes sofrimentos que precisam de...

199. Os debates do caminho sinodal puseram a descoberto a necessidade de desenvolver novos caminhos pastorais, que procurarei agora resumir em geral. As diferentes comunidades é que deverão elaborar propostas mais práticas e eficazes, que tenham em conta tanto a doutrina da Igreja como as necessidades e desafios locais. Sem pretender apresentar aqui uma pastoral da família, limitar-me-ei a coligir alguns dos principais desafios pastorais.

 

""""""""""""""""""""""""""

ANUNCIAR HOJE O EVANGELHO DA FAMÍLIA

200. Os Padres sinodais insistiram no facto de que as famílias cristãs são, pela graça do sacramento nupcial, os sujeitos principais da pastoral familiar, sobretudo oferecendo «o testemunho jubiloso dos cônjuges e das famílias, igrejas domésticas». Para isso – sublinharam – é preciso fazer-lhes...

GUIAR OS NOIVOS NO CAMINHO DE PREPARAÇÃO PARA O MATRIMÓNIO

205. Os Padres sinodais afirmaram, de várias maneiras, que é preciso ajudar os jovens a descobrir o valor e a riqueza do matrimónio. Devem poder captar o fascínio duma união plena que eleva e aperfeiçoa a dimensão social da vida, confere à sexualidade o seu sentido maior, ao mesmo tempo que promove...

ACOMPANHAMENTO NOS PRIMEIROS ANOS DA VIDA MATRIMONIAL

217. Temos de reconhecer como um grande valor que se compreenda que o matrimónio é uma questão de amor: só se podem casar aqueles que se escolhem livremente e se amam. Apesar disso, se o amor se reduzir a mera atracção ou a uma vaga afectividade, isto faz com que os cônjuges sofram duma...

ILUMINAR CRISES, ANGÚSTIAS E DIFICULDADES

231. Deixo aqui uma palavra àqueles que, no amor, já envelheceram o vinho novo do noivado. Quando o vinho envelhece com esta experiência do caminho, então aparece, floresce em toda a sua plenitude a fidelidade dos momentos insignificantes da vida. É a fidelidade da espera e da paciência. Esta...

QUANDO A MORTE CRAVA O SEU AGUILHÃO

253. Às vezes, a vida familiar vê-se desafiada pela morte de um ente querido. Não podemos deixar de oferecer a luz da fé para acompanhar as famílias que sofrem em tais momentos. Abandonar uma família atribulada por uma morte seria uma falta de misericórdia, seria perder uma oportunidade pastoral, e...

259. Os pais incidem sempre, para bem ou para mal, no desenvolvimento moral dos seus filhos. Consequentemente, o melhor é aceitarem esta responsabilidade inevitável e realizarem-na de modo consciente, entusiasta, razoável e apropriado. Uma vez que esta função educativa das famílias é tão importante e se tornou muito complexa, quero deter-me de modo especial neste ponto.

"""""""""""""""""""""""""""

ONDE ESTÃO OS FILHOS?

260. A família não pode renunciar a ser lugar de apoio, acompanhamento, guia, embora tenha de reinventar os seus métodos e encontrar novos recursos. Precisa de considerar a que realidade quer expor os seus filhos. Para isso não deve deixar de se interrogar sobre quem se ocupa de lhes oferecer...

A FORMAÇÃO ÉTICA DOS FILHOS

263. Os pais necessitam também da escola para assegurar uma instrução de base aos seus filhos, mas a formação moral deles nunca a podem delegar totalmente. O desenvolvimento afectivo e ético duma pessoa requer uma experiência fundamental: crer que os próprios pais são dignos de confiança. Isto...

O VALOR DA SANÇÃO COMO ESTÍMULO

268. De igual modo, é indispensável sensibilizar a criança e o adolescente para se darem conta de que as más acções têm consequências. É preciso despertar a capacidade de colocar-se no lugar do outro e sentir pesar pelo seu sofrimento originado pelo mal que lhe fez. Algumas sanções – aos...

REALISMO PACIENTE

271. A educação moral implica pedir a uma criança ou a um jovem apenas aquelas coisas que não representem, para eles, um sacrifício desproporcionado, exigir-lhes apenas aquela dose de esforço que não provoque ressentimento ou acções puramente forçadas. O percurso normal é propor pequenos passos que...

A VIDA FAMILIAR COMO CONTEXTO EDUCATIVO

274. A família é a primeira escola dos valores humanos, onde se aprende o bom uso da liberdade. Há inclinações maturadas na infância, que impregnam o íntimo duma pessoa e permanecem toda a vida como uma inclinação favorável a um valor ou como uma rejeição espontânea de certos comportamentos. Muitas...

SIM À EDUCAÇÃO SEXUAL

280. O Concílio Vaticano II apresentava a necessidade de «uma educação sexual positiva e prudente» oferecida às crianças e adolescentes «à medida que vão crescendo» e «tendo em conta os progressos da psicologia, pedagogia e didáctica». Deveríamos perguntar-nos se as nossas instituições educativas...

TRANSMITIR A FÉ

287. A educação dos filhos deve estar marcada por um percurso de transmissão da fé, que se vê dificultado pelo estilo de vida actual, pelos horários de trabalho, pela complexidade do mundo actual, onde muitos têm um ritmo frenético para poder sobreviver. Apesar disso, a família deve continuar a ser...

291. Os Padres sinodais afirmaram que, embora a Igreja reconheça que toda a ruptura do vínculo matrimonial «é contra a vontade de Deus, está consciente também da fragilidade de muitos dos seus filhos». Iluminada pelo olhar de Cristo, a Igreja «dirige-se com amor àqueles que participam na sua vida de modo incompleto, reconhecendo que a graça de Deus também actua nas suas vidas, dando-lhes a coragem para fazer o bem, cuidar com amor um do outro e estar ao serviço da comunidade onde vivem e trabalham». Aliás esta atitude vê-se corroborada no contexto de um Ano Jubilar dedicado à misericórdia. Embora não cesse jamais de propor a perfeição e convidar a uma resposta mais plena a Deus, «a Igreja deve acompanhar, com atenção e solicitude, os seus filhos mais frágeis, marcados pelo amor ferido e extraviado, dando-lhes de novo confiança e esperança, como a luz do farol dum porto ou duma tocha acesa no meio do povo para iluminar aqueles que perderam a rota ou estão no meio da tempestade». Não esqueçamos que, muitas vezes, o trabalho da Igreja é semelhante ao de um hospital de campanha.

 

292. O matrimónio cristão, reflexo da união entre Cristo e a sua Igreja, realiza-se plenamente na união entre um homem e uma mulher, que se doam reciprocamente com um amor exclusivo e livre fidelidade, se pertencem até à morte e abrem à transmissão da vida, consagrados pelo sacramento que lhes confere a graça para se constituírem como igreja doméstica e serem fermento de vida nova para a sociedade. Algumas formas de união contradizem radicalmente este ideal, enquanto outras o realizam pelo menos de forma parcial e analógica. Os Padres sinodais afirmaram que a Igreja não deixa de valorizar os elementos construtivos nas situações que ainda não correspondem ou já não correspondem à sua doutrina sobre o matrimónio.

""""""""""""""""""""""""""""

A GRADUALIDADE NA PASTORAL

293. Os Padres consideraram também a situação particular de um matrimónio apenas civil ou mesmo, ressalvadas as distâncias, da mera convivência: «quando a união atinge uma notável estabilidade através dum vínculo público e se caracteriza por um afecto profundo, responsabilidade para com a prole,...

O DISCERNIMENTO DAS SITUAÇÕES CHAMADAS «IRREGULARES»

296. O Sínodo referiu-se a diferentes situações de fragilidade ou imperfeição. A este respeito, quero lembrar aqui uma coisa que pretendi propor, com clareza, a toda a Igreja para não nos equivocarmos no caminho: «Duas lógicas percorrem toda a história da Igreja: marginalizar e reintegrar. (...) O...

AS CIRCUNSTÂNCIAS ATENUANTES NO DISCERNIMENTO PASTORAL

301. Para se entender adequadamente por que é possível e necessário um discernimento especial nalgumas situações chamadas «irregulares», há uma questão que sempre se deve ter em conta, para nunca se pensar que se pretende diminuir as exigências do Evangelho. A Igreja possui uma sólida reflexão...

AS NORMAS E O DISCERNIMENTO

304. É mesquinho deter-se a considerar apenas se o agir duma pessoa corresponde ou não a uma lei ou norma geral, porque isto não basta para discernir e assegurar uma plena fidelidade a Deus na existência concreta dum ser humano. Peço encarecidamente que nos lembremos sempre de algo que ensina São...

A LÓGICA DA MISERICÓRDIA PASTORAL

307. Para evitar qualquer interpretação tendenciosa, lembro que, de modo algum, deve a Igreja renunciar a propor o ideal pleno do matrimónio, o projecto de Deus em toda a sua grandeza: «É preciso encorajar os jovens baptizados para não hesitarem perante a riqueza que o sacramento do matrimónio...

313. O amor assume matizes diferentes, segundo o estado de vida a que cada um foi chamado. Várias décadas atrás, o Concílio Vaticano II, a propósito do apostolado dos leigos, punha em realce a espiritualidade que brota da vida familiar. Dizia que a espiritualidade dos leigos «deverá assumir características especiais» próprias, nomeadamente a partir do «estado do matrimónio e da família», e que os cuidados familiares não devem ser alheios ao seu estilo de vida espiritual. Por isso, vale a pena deter-nos brevemente a descrever algumas características fundamentais desta espiritualidade específica que se desenrola no dinamismo das relações da vida familiar.

"""""""""""""""""""""""""""""

ESPIRITUALIDADE DA COMUNHÃO SOBRENATURAL

314. Sempre falamos da inabitação de Deus no coração da pessoa que vive na sua graça. Hoje podemos dizer também que a Trindade está presente no templo da comunhão matrimonial. Assim como habita nos louvores do seu povo (cf. Sl 22/21, 4), assim também vive intimamente no amor conjugal que Lhe dá...

UNIDOS EM ORAÇÃO À LUZ DA PÁSCOA

317. Se a família consegue concentrar-se em Cristo, Ele unifica e ilumina toda a vida familiar. Os sofrimentos e os problemas são vividos em comunhão com a Cruz do Senhor e, abraçados a Ele, pode-se suportar os piores momentos. Nos dias amargos da família, há uma união com Jesus abandonado, que...

ESPIRITUALIDADE DO AMOR EXCLUSIVO E LIBERTADOR

319. No matrimónio, vive-se também o sentido de pertencer completamente a uma única pessoa. Os esposos assumem o desafio e o anseio de envelhecer e gastar-se juntos, e assim reflectem a fidelidade de Deus. Esta firme decisão, que marca um estilo de vida, é uma «exigência interior do pacto de amor...

ESPIRITUALIDADE DA SOLICITUDE, DA CONSOLAÇÃO E DO ESTÍMULO

321. «Os esposos cristãos são cooperadores da graça e testemunhas da fé um para com o outro, para com os filhos e demais familiares». Deus convida-os a gerar e a cuidar. Por isso mesmo, a família «foi desde sempre o “hospital” mais próximo». Prestemo-nos cuidados, apoiemo-nos e estimulemo-nos...