O GRANDE SEGREDO DA SANTIDADE
CONDIÇÕES:
Eis aqui, ó alma predestinada, um segredo que me confiou o Altíssimo e que não pude encontrar em nenhum livro nem antigo nem moderno. Ensinar-to-ei com a graça do Espírito Santo, mas com estas condições:
1.ª) Que o não reveles senão aquelas pessoas que o mereçam pelo seu espírito de oração, mortificação, caridade, sofrimento, abnegação e zelo pelas almas.
2.ª) Que te aproveite para te tornares santa, visto que a preciosidade deste segredo mede-se pelo uso que se faz dele. Não julgues poder estar de braços cruzados, sem trabalhar, porque então o meu segredo mudar-se-ia em veneno e ser-te-ia de condenação.
3.ª) Que em todos os dias da tua vida agradeças ao Senhor o favor que te faz, declarando-te um segredo que não mereces conhecer.
À medida que o puseres em prática nas ações ordinárias da vida, compreenderás toda a sua beleza e importância; mas, de princípio, compreende-lo-ás só imperfeitamente, por causa dos muitos pecados e defeitos que te obstam conhecê-lo melhor.
Depois, não te deixes levar pelo precipitoso desejo de penetrar numa verdade que não pertence à ordem natural; recita, antes, primeiro, de joelhos, o Avé-Maria Stella e o Veni Creator, para pedir a Deus que compreendas e avalies este mistério divino.
E visto que não disponho de muito tempo para escrever e tu tens pouco para ler, tudo te esclarecei com brevidade.
Escondida por humildade: nem os Anjos conheciam Maria
Os verdadeiros cristãos são os filhos da Igreja e da Virgem Maria
E, para além de contemplar a face de Deus, podemos também louvá-Lo e glorificá-Lo como os pastores, que regressaram de Belém com um cântico de agradecimento depois de ter visto o Menino e a sua jovem mãe (cf. Lc 2, 16). Estavam juntos, como juntos estiveram no Calvário, porque Cristo e a sua Mãe são inseparáveis: há entre ambos uma relação estreitíssima, como aliás entre cada filho e sua mãe. A carne de Cristo – que é charneira da nossa salvação (Tertuliano) – foi tecida no ventre de Maria (cf. Sal 139/138, 13). Tal inseparabilidade é significada também pelo facto de Maria, escolhida para ser Mãe do Redentor, ter compartilhado intimamente toda a sua missão, permanecendo junto do Filho até ao fim no calvário.
Maria está assim tão unida a Jesus, porque recebeu d’Ele o conhecimento do coração, o conhecimento da fé, alimentada pela experiência materna e pela união íntima com o seu Filho. A Virgem Santa é a mulher de fé, que deu lugar a Deus no seu coração, nos seus projectos; é a crente capaz de individuar no dom do Filho a chegada daquela «plenitude do tempo» (Gl 4, 4) na qual Deus, escolhendo o caminho humilde da existência humana, entrou pessoalmente no sulco da história da salvação. Por isso, não se pode compreender Jesus sem a sua Mãe.
Igualmente inseparáveis são Cristo e a Igreja, porque a Igreja e Maria caminham sempre juntas, sendo isto exactamente o mistério da mulher na comunidade eclesial, e não se pode compreender a salvação realizada por Jesus sem considerar a maternidade da Igreja. Separar Jesus da Igreja seria querer introduzir uma «dicotomia absurda», como escreveu o Beato Paulo VI (cf. Exort. ap. Evangelii nuntiandi, 16). Não é possível «amar a Cristo, mas sem amar a Igreja, ouvir Cristo mas não a Igreja, ser de Cristo mas fora da Igreja» (Ibid., 16). Na verdade, é precisamente a Igreja, a grande família de Deus, que nos traz Cristo. A nossa fé não é uma doutrina abstracta nem uma filosofia, mas a relação vital e plena com uma pessoa: Jesus Cristo, o Filho unigénito de Deus que Se fez homem, morreu e ressuscitou para nos salvar e que está vivo no meio de nós. Onde podemos encontrá-Lo? Encontramo-Lo na Igreja, na nossa Santa Mãe Igreja hierárquica. É a Igreja que diz hoje: «Eis o Cordeiro de Deus»; é a Igreja que O anuncia; é na Igreja que Jesus continua a realizar os seus gestos de graça que são os sacramentos.
Esta acção e missão da Igreja exprimem a sua maternidade. Na verdade, ela é como uma mãe que guarda Jesus com ternura, e O dá a todos com alegria e generosidade. Nenhuma manifestação de Cristo, nem sequer a mais mística, pode jamais ser separada da carne e do sangue da Igreja, da realidade histórica concreta do Corpo de Cristo. Sem a Igreja, Jesus Cristo acaba por ficar reduzido a uma ideia, a uma moral, a um sentimento. Sem a Igreja, a nossa relação com Cristo ficaria à mercê da nossa imaginação, das nossas interpretações, dos nossos humores.