PONTIFÍCIO CONSELHO PARA A CULTURA

PONTIFÍCIO CONSELHO PARA O DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO

JESUS CRISTO, PORTADOR DA ÁGUA VIVA

UM REFLEXÃO CRISTÃ DA "NOVA ERA"

Este estudo aborda o complexo fenômeno da Nova Era , que influencia inúmeros aspectos da cultura contemporânea.

 

O estudo é um relatório preliminar . É resultado da reflexão conjunta do Grupo de Trabalho sobre Novos Movimentos Religiosos, composto por membros de diferentes dicastérios da Santa Sé: os Pontifícios Conselhos para a Cultura e para o Diálogo Inter-religioso, principais autores deste projeto; a Congregação para a Evangelização dos Povos; e o Pontifício Conselho para a Promoção da Unidade dos Cristãos.

 

Estas reflexões são dirigidas principalmente àqueles envolvidos no trabalho pastoral, para que possam explicar como o movimento da Nova Era difere da fé cristã. O estudo convida os leitores a considerarem a sede espiritual de muitas pessoas em nossa época, que a espiritualidade da Nova Era busca saciar. Deve-se reconhecer que o apelo da religiosidade da Nova Era para alguns cristãos pode dever-se, em parte, à falta de atenção séria, por parte das próprias comunidades cristãs, a questões que são, na verdade, elementos integrantes da síntese católica. Tais como, por exemplo, a importância da dimensão espiritual da humanidade, integrada à totalidade da existência; a busca por sentido na vida; a conexão entre os seres humanos e o restante da criação; o desejo de transformação pessoal e social; e a rejeição de uma visão racionalista e materialista da humanidade.

 

Esta publicação destaca a importância de compreender o movimento Nova Era como uma corrente cultural, bem como a necessidade de os católicos compreenderem a autêntica doutrina e espiritualidade católica para avaliarem adequadamente os temas da Nova Era. Os dois primeiros capítulos apresentam a Nova Era como uma tendência cultural multifacetada e oferecem uma análise das ideias fundamentais transmitidas nesse contexto. A partir do terceiro capítulo, são fornecidas algumas diretrizes para o estudo do movimento Nova Era, comparando-o com a mensagem cristã. Sugestões pastorais também são incluídas.

 

Aqueles que desejarem aprofundar-se no estudo da Nova Era encontrarão referências úteis nos apêndices. Espera-se que esta obra sirva de estímulo para estudos futuros, adaptados a diferentes contextos culturais. Seu objetivo é fomentar o discernimento naqueles que buscam pontos de referência sólidos para uma vida mais plena. Estamos convencidos de que, na busca de muitos de nossos contemporâneos, podemos descobrir uma sede genuína de Deus. Como disse o Papa João Paulo II a um grupo de bispos nos Estados Unidos: “Os pastores devem sinceramente perguntar-se se têm dado atenção suficiente à sede do coração humano pela ‘água viva’ que só Cristo, nosso Redentor, pode dar (cf. Jo 3,7-13)”. Como ele, desejamos confiar “na perene novidade da mensagem do Evangelho e em sua capacidade de transformar e renovar aqueles que a acolhem” (AAS 864, 330).

REFLEXÃO "NOVA ERA"

SOBRE A NOVA ERA - CAPITULO 1

1. QUE TIPO DE REFLEXÃO?   As reflexões a seguir visam orientar os responsáveis pela pregação do Evangelho e pelo ensino na Igreja em todos os níveis. Este documento não pretende oferecer um conjunto exaustivo de respostas às muitas questões levantadas pelo movimento Nova Era ou por outros...

2. A ESPIRITUALIDADE DA NOVA ERA: VISÃO GERAL

Em muitas sociedades ocidentais, e cada vez mais em outras partes do mundo também, os cristãos frequentemente entram em contato com vários aspectos do fenômeno conhecido como Nova Era. Muitos deles sentem a necessidade de compreender como podem abordar da melhor forma algo tão sedutor e, ao mesmo...

3 A NOVA ERA E A ESPIRITUALIDADE CRISTÃ

3.1. A NOVA ERA COMO ESPIRITUALIDADE   Os defensores da Nova Era a definem como uma "nova espiritualidade". Parece irônico chamá-la de "nova" quando tantas ideias são emprestadas de religiões e culturas antigas. O que é verdadeiramente novo na Nova Era é a busca consciente por uma alternativa...

4 NOVA ERA E FÉ CRISTÃ FACE A FACE

É difícil separar os elementos individuais da religiosidade da Nova Era , por mais inocentes que pareçam, da estrutura geral que permeia todo o universo conceitual do movimento. A natureza gnóstica desse movimento exige que ele seja julgado em sua totalidade. Da perspectiva da fé cristã, não é...

O único fundamento da Igreja é Jesus Cristo, o Senhor. Ele está no centro de cada ação e de cada mensagem cristã. Por isso, a Igreja retorna constantemente ao encontro do seu Senhor. Os Evangelhos narram muitos encontros de Jesus: dos pastores de Belém aos dois ladrões crucificados com ele, dos mestres que o ouviam no Templo aos discípulos que caminhavam cansados rumo a Emaús. Mas um episódio que indica com particular clareza o que ele nos oferece é o relato do seu encontro com a mulher samaritana junto ao poço de Jacó, no quarto capítulo do Evangelho de João. Esse encontro foi inclusive descrito como "um paradigma do nosso compromisso com a verdade". A experiência de encontrar um estranho que nos oferece a água da vida é fundamental para entendermos como podemos e devemos dialogar com alguém que não conhece Jesus.

 

Um dos elementos mais cativantes do relato de João ( Jo 4) é a hesitação inicial da mulher em compreender o que Jesus quer dizer com "a água da vida" ou água "viva" (v. 11). Mesmo assim, ela fica fascinada — não apenas pelo próprio estranho, mas também por sua mensagem — e isso a leva a ouvi-lo. Após o choque inicial, ao perceber o que Jesus sabe sobre ela ("Você tem razão ao dizer que não tem marido, pois já teve cinco maridos, e este com quem agora vive também não é seu marido. O que você disse é verdade", vv. 7-18), ela se abre completamente às suas palavras: "Senhor, percebo que o senhor é um profeta" (v. 19). O diálogo sobre a adoração a Deus começa: "Vocês adoram o que não conhecem; nós adoramos o que conhecemos, pois a salvação vem dos judeus" (v. 22). Jesus tocou o coração dela e a preparou para ouvir o que ele tinha a dizer sobre si mesmo como o Messias: “Sou eu, que falo contigo” (v. 26). Ele a capacitou a abrir o coração para a verdadeira adoração no Espírito e para a manifestação de Jesus como o Ungido de Deus.

 

A mulher “deixou o seu cântaro, voltou para a aldeia e contou aos vizinhos” sobre o homem (v. 28). O extraordinário efeito que esse encontro com o estranho teve sobre ela despertou a curiosidade deles, e eles também “foram ter com ele” (v. 30). Logo aceitaram a verdade sobre a sua identidade: “Agora cremos, pois, já não só por causa do que nos disseste; agora ouvimos com os nossos próprios olhos e sabemos que este homem é verdadeiramente o Salvador do mundo” (v. 42). Passaram de ouvir falar de Jesus a conhecê-lo pessoalmente, compreendendo assim o significado universal da sua identidade. E tudo isso porque se conectaram com ele em mente e coração.

 

O fato de a história se passar junto a um poço é significativo. Jesus oferece à mulher “uma fonte de água a jorrar para a vida eterna” (v. 14). A gentileza com que Jesus trata a mulher é um modelo de cuidado pastoral eficaz: ajudar os outros a serem honestos sem sofrer no doloroso processo de autodescoberta (“ela me contou tudo o que eu já fiz”, v. 39). Essa abordagem pode dar muitos frutos com aqueles atraídos pelo “portador de água” (Aquário) e que sinceramente continuam a buscar a verdade. Eles devem ser convidados a ouvir Jesus, que oferece não apenas água para saciar nossa sede, mas também as profundezas espirituais ocultas da “água viva”. É importante reconhecer a sinceridade daqueles que buscam a verdade; isso não é falsidade ou autoengano. Também é importante ser paciente, como todo bom educador sabe. Uma pessoa possuída pela verdade é subitamente preenchida com uma sensação completamente nova de liberdade, especialmente diante de erros e medos do passado. “Aqueles que se esforçam para conhecer a si mesmos, como a mulher junto ao poço, incutirão nos outros o desejo de conhecer a verdade que também poderá libertá-los.”

 

O convite para seguir a Cristo, o portador da água da vida, terá muito mais peso se quem o faz tiver sido profundamente impactado pelo seu próprio encontro com Jesus, pois não se trata de alguém que apenas ouviu falar dele, mas de alguém que tem certeza de que “ele é verdadeiramente o Salvador do mundo” (v. 42). Trata-se de deixar as pessoas reagirem à sua maneira, no seu próprio ritmo, e deixar que Deus faça o resto.

 

REFLEXÃO "NOVA ERA""

6 INSTRUÇÕES IMPORTANTES

  6.1. UMA NECESSIDADE: APOIO E TREINAMENTO SÓLIDO   Cristo ou Aquário? A Nova Era quase sempre lida com “alternativas”: uma visão alternativa da realidade ou uma maneira alternativa de melhorar a situação atual (magia). 88 As alternativas não oferecem duas possibilidades, mas apenas a...

7 APÊNDICE

7.1. ALGUMAS FORMULAÇÕES BREVES DE IDEIAS DA NOVA ERA   Formulação da Nova Era segundo William Bloom, 1992, citado em Heelas, p. 225 e seguintes:   • Toda a vida, toda a existência, é a manifestação do Espírito, do Incognoscível, a Consciência suprema conhecida por diferentes nomes em...

8 RECURSOS

8.1. DOCUMENTOS DO MAGISTÉRIO DA IGREJA CATÓLICA   João Paulo II, Discurso aos bispos norte-americanos do Kansas, Missouri e Nebraska por ocasião de sua visita “ad limina”, 28 de maio de 1993.   Congregação para a Doutrina da Fé, Carta aos Bispos da Igreja Católica sobre alguns aspectos...

9 BIBLIOGRAFIA GERAL

9.1. ALGUNS LIVROS DA NOVA ERA   William Bloom, A Nova Era. Uma Antologia de Escritos Essenciais, Londres (Rider) 1991.   Fritjof Capra, O Tao da Física: Uma Exploração dos Paralelos entre a Física Moderna e o Misticismo Oriental, Berkeley (Shambhala) 1975.   Fritjof Capra, O Ponto...