C´EST LA CONFIANCE
C’EST LA CONFIANCE
OPÇÃO DESTE SITE:

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA
C’EST LA CONFIANCE
DO SANTO PADRE
FRANCISCO
SOBRE A CONFIANÇA
NO AMOR MISERICORDIOSO DE DEUS
POR OCASIÃO DO 150º ANIVERSÁRIO
DO NASCIMENTO DE
SANTA TERESA DO MENINO JESUS E DA SANTA FACE
1. « C’EST LA CONFIANCE et rien que la confiance qui doit nous conduire à l’Amour – só a confiança e nada mais do que a confiança tem de conduzir-nos ao Amor».
2. Estas palavras tão incisivas de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face dizem tudo, sintetizam a genialidade da sua espiritualidade e seriam suficientes para justificar o facto de ter sido declarada Doutora da Igreja. Só a confiança e «nada mais»… Não há outra via que devamos percorrer para ser conduzidos ao Amor que tudo dá. Com a confiança, a fonte da graça transborda na nossa vida, o Evangelho faz-se carne em nós e transforma-nos em canais de misericórdia para os irmãos.
3. É a confiança que nos sustenta cada dia e nos manterá de pé diante do olhar do Senhor, quando nos chamar para junto de Si: «Na noite desta vida, aparecerei diante de Vós com as mãos vazias, pois não Vos peço, Senhor, que conteis as minhas obras. Todas as nossas justiças têm manchas aos vossos olhos. Quero, portanto, revestir-me com a vossa própria Justiça, e receber do vosso Amor a posse eterna de Vós mesmo».
4. Teresinha é uma das santas mais conhecidas e amadas em todo o mundo. Como sucede com São Francisco de Assis, é amada até por não-cristãos e não-crentes. Foi também reconhecida pela UNESCO entre as figuras mais significativas para a humanidade contemporânea. Far-nos-á bem aprofundar a sua mensagem, ao comemorarmos o 150º aniversário do seu nascimento que teve lugar em Alençon a 2 de janeiro de 1873 e o centenário da sua beatificação. Mas não quis publicar esta Exortação em nenhuma dessas datas, nem no dia da sua Memória, para que a mensagem se situe além das ocorrências e seja assumida como parte do tesouro espiritual da Igreja. A data da presente publicação, Memória de Santa Teresa de Ávila, quer apresentar Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face como fruto maduro da reforma do Carmelo e da espiritualidade da grande Santa espanhola.
5. A sua vida terrena foi breve (apenas vinte e quatro anos) e simples como qualquer outra, passada primeiro em família e depois no Carmelo de Lisieux. A extraordinária carga de luz e amor, que irradiava da sua pessoa, manifestou-se logo depois da sua morte, com a publicação dos seus escritos e as graças inumeráveis obtidas pelos fiéis que a invocavam.
6. A Igreja reconheceu, rapidamente, o valor extraordinário do seu testemunho e a originalidade da sua espiritualidade evangélica. Teresa encontrou o Papa Leão XIII, por ocasião da peregrinação a Roma em 1887, e pediu-lhe autorização para entrar no Carmelo com a idade de quinze anos. Pouco depois da sua morte, São Pio X apercebeu-se da sua enorme estatura espiritual, a ponto de afirmar que se tornaria a maior Santa dos tempos modernos. Declarada venerável em 1921 por Bento XV, que elogiou as suas virtudes focalizando-as no «caminhito» da infância espiritual, foi beatificada há cem anos e, depois, canonizada em 17 de maio de 1925 por Pio XI, que agradeceu ao Senhor ter-lhe permitido que Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face fosse «a primeira beata que elevou às honras dos altares e a primeira santa canonizada por ele». Em 1927, o mesmo Papa declarou-a padroeira das missões. Foi proclamada uma das padroeiras da França, em 1944, pelo venerável Pio XII, que em diversas ocasiões aprofundou o tema da infância espiritual. São Paulo VI gostava de recordar que recebera o Batismo em 30 de setembro de 1897, dia da morte de Santa Teresinha, escrevendo no centenário de seu nascimento uma carta sobre a sua doutrina, que dirigiu ao Bispo de Bayeux e Lisieux. Durante a sua primeira viagem apostólica à França, no mês de junho de 1980, São João Paulo II visitou a Basílica a ela dedicada e, em 1997, declarou-a Doutora da Igreja, contemplando-a depois em tal catálogo «como perita da scientia amoris». Bento XVI retomou o tema da sua « ciência do amor», propondo-a como «uma guia para todos, sobretudo para aqueles que, no Povo de Deus, desempenham o ministério de teólogos». Por fim, em 2015, tive eu a alegria de canonizar os seus pais Luís e Célia durante o Sínodo da família e, recentemente, dediquei-lhe uma Catequese na série sobre o zelo apostólico.
7. No nome que escolheu como religiosa, põe-se em evidência Jesus: o «Menino» que manifesta o mistério da Encarnação, e a «Santa Face», isto é, o rosto de Cristo que Se dá até ao fim na Cruz. O seu nome é «Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face».
8. O Nome de Jesus cadenciou continuamente a «respiração» de Teresa como ato de amor, até ao último respiro. Na sua cela, gravara estas palavras: «Jesus é o meu único amor». Foi a sua interpretação da afirmação culminante do Novo Testamento: «Deus é amor» (1 Jo 4, 8.16).
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ALMA MISSIONÁRIA
A GRAÇA QUE NOS LIBERTA DA AUTORREFERENCIALIDADE
14. Uma das descobertas mais importantes de Teresinha, para bem de todo o Povo de Deus, é o seu «caminhito», o caminho da confiança e do amor, conhecido também como o caminho da infância espiritual. Todos o podem seguir, em qualquer estado de vida, nos mais diversos momentos da existência. É o caminho que o Pai celeste revela aos pequeninos (cf. Mt 11, 25).
15. Teresinha conta a descoberta do caminhito na História de uma alma: «Posso, apesar da minha pequenez, aspirar à santidade. Fazer-me crescer a mim mesma é impossível; tenho de suportar-me tal como sou, com todas as minhas imperfeições. Mas quero procurar a maneira de ir para o Céu por um caminhito muito direito, muito curto; um caminhito completamente novo».
16. Para o descrever, recorre à imagem do elevador: «O ascensor que me há de elevar até ao Céu são os vossos braços, ó Jesus! Para isso não tenho necessidade de crescer; pelo contrário, é preciso que eu permaneça pequena, e que me torne cada vez mais pequena». Vê-se pequena, incapaz de fiar-se em si própria, embora firmemente certa da força amorosa dos braços do Senhor.
17. É o «doce caminho do amor», aberto por Jesus aos pequeninos e aos pobres, a todos. É o caminho da verdadeira alegria. Diversamente da ideia pelagiana de santidade, individualista e elitista, mais ascética do que mística, que põe o acento principalmente no esforço humano, Teresinha realça sempre o primado da ação de Deus, da sua graça. Assim chega a dizer: «Sinto sempre a mesma confiança audaciosa de me tornar uma grande Santa, pois não conto com os meus méritos, não tenho nenhum, mas espero n’Aquele que é a Virtude, a própria Santidade. Só Ele, contentando-Se com os meus fracos esforços, me elevará até Ele e, cobrindo-me dos seus méritos infinitos, me fará Santa».
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PARA ALÉM DE QUALQUER MÉRITO
O ABANDONO QUOTIDIANO
UM FOGO NO MEIO DA NOITE
UMA ESPERANÇA FIRMÍSSIMA
30. «Maior» do que a fé e a esperança, a caridade nunca acabará (cf. 1 Cor 13, 8-13). É o maior dom do Espírito Santo, sendo «mãe e raiz de todas as virtudes».
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A CARIDADE COMO ATITUDE PESSOAL DE AMOR
O MAIOR AMOR NA MAIOR SIMPLICIDADE
NO CORAÇÃO DA IGREJA
CHUVA DE ROSAS
46. Na Evangelii gaudium, insisti sobre o convite a regressar ao frescor da fonte, para dar relevo ao que é essencial e indispensável. Considero oportuno retomar e propor novamente aquele convite.
47. Esta Exortação sobre Santa Teresinha permite-me recordar que, numa Igreja missionária, «o anúncio concentra-se no essencial, no que é mais belo, mais importante, mais atraente e, ao mesmo tempo, mais necessário. A proposta acaba simplificada, sem com isso perder profundidade e verdade, e assim se torna mais convincente e radiosa». O núcleo luminoso é « a beleza do amor salvífico de Deus manifestado em Jesus Cristo morto e ressuscitado».
48. Nem tudo é igualmente central, porque há uma ordem ou hierarquia entre as verdades da Igreja, e «isto é válido tanto para os dogmas da fé como para o conjunto dos ensinamentos da Igreja, incluindo a doutrina moral». O centro da moral cristã é a caridade, que é a resposta ao amor incondicional da Trindade, de modo que «as obras de amor ao próximo são a manifestação externa mais perfeita da graça interior do Espírito». Em última análise, conta só o amor.
49. Precisamente, o contributo específico que Teresinha nos oferece como Santa e como Doutora da Igreja não é analítico, como poderia ser, por exemplo, o de São Tomás de Aquino. O seu contributo é sobretudo sintético, porque a sua genialidade consiste em levar-nos ao centro, àquilo que é essencial, àquilo que é indispensável. Com as suas palavras e com o seu percurso pessoal, mostra que, embora todos os ensinamentos e normas da Igreja tenham a sua importância, o seu valor, a sua luz, alguns são mais urgentes e mais constitutivos para a vida cristã. Foi nestes que Teresa fixou o olhar e o coração.
50. Como teólogos, moralistas, estudiosos de espiritualidade, como pastores e como crentes, cada qual no respetivo âmbito, temos ainda necessidade de acolher esta intuição genial de Teresinha e tirar as devidas consequências teóricas e práticas, doutrinais e pastorais, pessoais e comunitárias. São precisas audácia e liberdade interior para o poder fazer.
51. Às vezes, de Teresa, citam-se apenas expressões que são secundárias ou mencionam-se coisas que ela pode ter em comum com qualquer outro Santo: a oração, o sacrifício, a piedade eucarística e muitos outros belos testemunhos, mas assim poderíamos privar-nos daquilo que é mais específico do seu dom à Igreja, esquecendo que «cada santo é uma missão; é um projeto do Pai que visa refletir e encarnar, num momento determinado da história, um aspeto do Evangelho». Por isso, «para identificar qual seja essa palavra que o Senhor quer dizer através dum santo, não convém deter-se nos detalhes, porque nisso também pode haver erros e quedas. Nem tudo o que um santo diz é plenamente fiel ao Evangelho, nem tudo o que faz é autêntico ou perfeito. O que devemos contemplar é o conjunto da sua vida, o seu caminho inteiro de santificação, aquela figura que reflete algo de Jesus Cristo e que sobressai quando se consegue compor o sentido da totalidade da sua pessoa». E isto vale com maior força de razão para Santa Teresinha, senda ela uma «Doutora da síntese».
52. Do céu à terra, a atualidade de Santa Teresa do Menino Jesus e da Santa Face permanece em toda a sua «pequena grandeza».
Num tempo que nos convida a fechar-nos nos próprios interesses, Teresinha mostra a beleza de fazer da vida um dom.
Num período em que prevalecem as necessidades mais superficiais, ela é testemunha da radicalidade evangélica.
Numa época de individualismo, ela faz-nos descobrir o valor do amor que se torna intercessão.
Num momento em que o ser humano vive obcecado pela grandeza e por novas formas de poder, ela aponta a via da pequenez.
Num tempo em que se descartam tantos seres humanos, ela ensina-nos a beleza do cuidado, do ocupar-se do outro.
Num momento de complexidade, ela pode ajudar-nos a redescobrir a simplicidade, o primado absoluto do amor, da confiança e do abandono, superando uma lógica legalista e moralista que enche a vida cristã de obrigações e preceitos e congela a alegria do Evangelho.
Num tempo de entrincheiramento e reclusão, Teresinha convida-nos à saída missionária, conquistados pela atração de Jesus Cristo e do Evangelho.
53. Século e meio depois do seu nascimento, Teresa está mais viva do que nunca no meio da Igreja em caminho, no coração do Povo de Deus. Está a peregrinar connosco, fazendo o bem sobre a terra, como tanto desejou. O sinal mais belo da sua vitalidade espiritual são as inúmeras «rosas» que vai espalhando, isto é, as graças que Deus nos concede pela sua intercessão cheia de amor, para nos sustentar no percurso da vida.
Amada Santa Teresinha,
A Igreja precisa de fazer resplandecer
A cor, o perfume, a alegria do Evangelho.
Enviai-nos as vossas rosas!
Ajudai-nos a ter sempre confiança,
Como fizestes vós,
No grande amor que Deus tem por nós,
Para podermos imitar cada dia
O vosso caminhito de santidade.
Amen.
Dado em Roma, São João de Latrão, no dia 15 de outubro – Memória de Santa Teresa de Ávila – do ano 2023, décimo primeiro do meu Pontificado.
FRANCISCUS