Entretanto, amanhecia o dia 13 de Agosto. O povo chegava
	de todos os sítios, desde a véspera. Todos queriam ver-nos,
	interrogar-nos e fazer-nos os seus pedidos, para que os transmitissemos à Santíssima Virgem. Éramos, nas mãos daquela gente,
	como uma bola nas mãos da rapaziada. Cada um nos puxava para
	seu lado e nos perguntava a sua coisa, sem dar-nos tempo de
	responder a ninguém.
	Em meio desta lida, aparece uma ordem do Sr. Administrador, para ir a casa de minha tia, que lá me esperava. Meu pai é o
	intimado e lá me foi levar. Quando cheguei, estava ele em um quarto
	com meus primos. Aí nos interrogou e fez novas tentativas para
	nos obrigar a revelar o segredo e a prometer que não voltaríamos
	à Cova de Iria. Como nada conseguiu, deu ordem a meu pai e meu
	tio para nos levar a casa do Senhor Prior.
	Tudo mais que nesta prisão se passou, não me detenho, agora, a contá-lo, porque V. Ex.cia Rev.ma já sabe tudo. Como já disse a
	V. Ex.cia, o que nesta altura me foi mais sensível e que mais me fez
	sofrer, assim como a meus primos, foi o abandono completo da
	família.
	À volta desta viagem ou prisão, que não sei como Ihe hei-de
	chamar, que a meu ver foi no dia 15 de Agosto (21), como regozijo
	da minha chegada a casa, mandaram-me imediatamente abrir o
	meu rebanho e levá-lo a pastar. Meus tios quiseram ficar com os
	seus filhinhos em casa e por isso mandaram, na sua vez, seu
	irmão João. Como já era tarde, deixámo-nos ficar junto da nossa
	pequena aldeia, nos Valinhos.
	Como esta cena se passou, V. Ex.cia Rev.ma também já sabe e,
	por isso, também me não demoro a descrevê-la. A Santíssima Virgem recomendou-nos, de novo, a prática da mortificação, dizendo,
	no fim de tudo:
	– Rezai, rezai muito, e fazei sacrifícios pelos pecadores, que
	vão muitas almas para o inferno, por não haver quem se sacrifique
	e peça por elas.
	(21) Lúcia afirma aqui e também noutro lugar que a aparição nos Valinhos tinha
	sido em 15 de Agosto, i.e., no dia do regresso de Vila Nova de Ourém. Trata-
	-se dum erro: o dia de regresso foi, com certeza, o dia 15 de Agosto; mas a
	aparição terá sido no domingo seguinte, em 19 de Agosto.
		Entretanto, amanhecia o dia 13 de Agosto. O povo chegava
	
		de todos os sítios, desde a véspera. Todos queriam ver-nos,
	
		interrogar-nos e fazer-nos os seus pedidos, para que os transmitissemos à Santíssima Virgem. Éramos, nas mãos daquela gente,
	
		como uma bola nas mãos da rapaziada. Cada um nos puxava para
	
		seu lado e nos perguntava a sua coisa, sem dar-nos tempo de
	
		responder a ninguém.
	
		Em meio desta lida, aparece uma ordem do Sr. Administrador, para ir a casa de minha tia, que lá me esperava. Meu pai é o
	
		intimado e lá me foi levar. Quando cheguei, estava ele em um quarto
	
		com meus primos. Aí nos interrogou e fez novas tentativas para
	
		nos obrigar a revelar o segredo e a prometer que não voltaríamos
	
		à Cova de Iria. Como nada conseguiu, deu ordem a meu pai e meu
	
		tio para nos levar a casa do Senhor Prior.
	
		Tudo mais que nesta prisão se passou, não me detenho, agora, a contá-lo, porque V. Ex.cia Rev.ma já sabe tudo. Como já disse a
	
		V. Ex.cia, o que nesta altura me foi mais sensível e que mais me fez
	
		sofrer, assim como a meus primos, foi o abandono completo da
	
		família.
	
		À volta desta viagem ou prisão, que não sei como Ihe hei-de
	
		chamar, que a meu ver foi no dia 15 de Agosto (21), como regozijo
	
		da minha chegada a casa, mandaram-me imediatamente abrir o
	
		meu rebanho e levá-lo a pastar. Meus tios quiseram ficar com os
	
		seus filhinhos em casa e por isso mandaram, na sua vez, seu
	
		irmão João. Como já era tarde, deixámo-nos ficar junto da nossa
	
		pequena aldeia, nos Valinhos.
	
		Como esta cena se passou, V. Ex.cia Rev.ma também já sabe e,
	
		por isso, também me não demoro a descrevê-la. A Santíssima Virgem recomendou-nos, de novo, a prática da mortificação, dizendo,
	
		no fim de tudo:
	
		– Rezai, rezai muito, e fazei sacrifícios pelos pecadores, que
	
		vão muitas almas para o inferno, por não haver quem se sacrifique
	
		e peça por elas.
	
		(21) Lúcia afirma aqui e também noutro lugar que a aparição nos Valinhos tinha
	
		sido em 15 de Agosto, i.e., no dia do regresso de Vila Nova de Ourém. Trata-
	
		-se dum erro: o dia de regresso foi, com certeza, o dia 15 de Agosto; mas a
	
		aparição terá sido no domingo seguinte, em 19 de Agosto.
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