Este retiro conseguia-o poucas vezes, porque, além de ser
	encarregada da guarda das crianças que as vizinhas nos confiavam, como já disse a V. Ex.cia Rev.ma, minha mãe costumava também
	fazer por ali como que de enfermeira.
	Vinham consultar o seu parecer, quando tinham alguma coisa
	de menor importância e pediam-lhe para ir às suas casas, quando
	o doente não podia sair. Ela passava então os dias e às vezes as
	noites em casa dos doentes. E se as doenças se prolongavam e o
	estado dos enfermos assim o exigia, mandava as minhas irmãs
	passar também algumas noites junto deles, para que os membros
	das famílias pudessem descansar. E se o enfermo era alguma mãe
	de família que tivesse crianças, cujo barulho que fizessem estorvasse a doente, trazia essas crianças para nossa casa e eu era a
	encarregada de as entreter. Distraía-as, então, ensinando-as a dobar,
	com o desandar da dobadoura, com o rolar do caneleiro, com os
	movimentos do sarilho a formar as meadas e a guiar os novelos na
	urdideira. Disto tínhamos sempre muito que fazer, porque, por ordinário, havia sempre em nossa casa várias raparigas de fora que
	vinham aprender a tecedeiras ou costureiras. Estas raparigas pelo
	regular (regularmente) ficavam testemunhando sempre um grande
	afecto pela nossa família e costumavam dizer que os melhores dias
	da sua vida tinham sido os que tinham passado em nossa casa.
	Como minhas irmãs, em algumas épocas do ano, tinham que
	durante o dia trabalhar no campo, teciam e costuravam ao serão.
	Depois da ceia e da reza que se Ihe seguia, entoada por meu pai,
	começava-se a trabalhar. Todos tinham que fazer: minha irmã Maria ia para o tear; meu pai enchia-lhe as canelas; a Teresa e a
	Glória iam para a costura; minha mãe fiava; a Carolina e eu, depois
	de arrumar a cozinha, éramos empregadas a tirar alinhavos, pregar botões, etc.; meu irmão, para espalhar-nos o sono, tocava
	harmónio, ao som do qual cantávamos várias coisas. Os vizinhos
	vinham, não poucas vezes, fazer-nos companhia e costumavam
	dizer que, apesar de os não deixarmos dormir, se sentiam alegres
	e Ihes passavam todas as arrelias com ouvirem a festa que nós
	fazíamos. A várias mulheres ouvi dizerem a minha mãe:
	– Que feliz que tu és! Que encanto de filhos que Nosso Senhor te deu!
	Tínhamos ainda, no seu tempo, as escamisadas ao luar. Sentavam-me, então, no cimo do monte do milho e era a encarregada
	de dar a todos os assistentes o abraço-chi, quando aparecia alguma espiga carocha.
		Este retiro conseguia-o poucas vezes, porque, além de ser
	
		encarregada da guarda das crianças que as vizinhas nos confiavam, como já disse a V. Ex.cia Rev.ma, minha mãe costumava também
	
		fazer por ali como que de enfermeira.
	
		Vinham consultar o seu parecer, quando tinham alguma coisa
	
		de menor importância e pediam-lhe para ir às suas casas, quando
	
		o doente não podia sair. Ela passava então os dias e às vezes as
	
		noites em casa dos doentes. E se as doenças se prolongavam e o
	
		estado dos enfermos assim o exigia, mandava as minhas irmãs
	
		passar também algumas noites junto deles, para que os membros
	
		das famílias pudessem descansar. E se o enfermo era alguma mãe
	
		de família que tivesse crianças, cujo barulho que fizessem estorvasse a doente, trazia essas crianças para nossa casa e eu era a
	
		encarregada de as entreter. Distraía-as, então, ensinando-as a dobar,
	
		com o desandar da dobadoura, com o rolar do caneleiro, com os
	
		movimentos do sarilho a formar as meadas e a guiar os novelos na
	
		urdideira. Disto tínhamos sempre muito que fazer, porque, por ordinário, havia sempre em nossa casa várias raparigas de fora que
	
		vinham aprender a tecedeiras ou costureiras. Estas raparigas pelo
	
		regular (regularmente) ficavam testemunhando sempre um grande
	
		afecto pela nossa família e costumavam dizer que os melhores dias
	
		da sua vida tinham sido os que tinham passado em nossa casa.
	
		Como minhas irmãs, em algumas épocas do ano, tinham que
	
		durante o dia trabalhar no campo, teciam e costuravam ao serão.
	
		Depois da ceia e da reza que se Ihe seguia, entoada por meu pai,
	
		começava-se a trabalhar. Todos tinham que fazer: minha irmã Maria ia para o tear; meu pai enchia-lhe as canelas; a Teresa e a
	
		Glória iam para a costura; minha mãe fiava; a Carolina e eu, depois
	
		de arrumar a cozinha, éramos empregadas a tirar alinhavos, pregar botões, etc.; meu irmão, para espalhar-nos o sono, tocava
	
		harmónio, ao som do qual cantávamos várias coisas. Os vizinhos
	
		vinham, não poucas vezes, fazer-nos companhia e costumavam
	
		dizer que, apesar de os não deixarmos dormir, se sentiam alegres
	
		e Ihes passavam todas as arrelias com ouvirem a festa que nós
	
		fazíamos. A várias mulheres ouvi dizerem a minha mãe:
	
		– Que feliz que tu és! Que encanto de filhos que Nosso Senhor te deu!
	
		Tínhamos ainda, no seu tempo, as escamisadas ao luar. Sentavam-me, então, no cimo do monte do milho e era a encarregada
	
		de dar a todos os assistentes o abraço-chi, quando aparecia alguma espiga carocha.
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