31. A História de uma alma é um testemunho de caridade, no qual Teresa nos oferece um comentário sobre o mandamento novo de Jesus: «Que vos ameis uns aos outros como Eu vos amei» ( Jo 15, 12). Jesus tem sede desta resposta ao seu amor. De facto, «não receou mendigar um pouco de água à Samaritana. Tinha sede... Mas ao dizer: “Dá-me de beber”, era o amor da sua pobre criatura que o Criador do universo reclamava. Tinha sede de amor». Teresinha quer corresponder ao amor de Jesus, pagar-Lhe amor com amor.
32. A simbologia do amor esponsal expressa a reciprocidade do dom de si entre o noivo e a noiva. Assim, inspirada pelo Cântico dos Cânticos (2, 16), escreve: «Penso que o coração do meu Esposo é só meu como o meu é só d’Ele e então falo-Lhe na solidão desta deliciosa intimidade, esperando contemplá-Lo um dia face a face». Embora o Senhor nos ame em conjunto como povo, ao mesmo tempo a caridade atua, de modo muito pessoal, «de coração a coração».
33. Teresinha tem a viva certeza de que Jesus a amou e conheceu pessoalmente na sua Paixão: «Amou-me e a Si mesmo Se entregou por mim» ( Gl 2, 20). Contemplando Jesus em agonia, diz-Lhe ela: «Tu viste-me», como diz ao Menino Jesus nos braços de sua Mãe: «Com a tua mãozinha, que acariciava Maria, sustinhas o mundo e davas-lhe vida. E pensavas em mim». Assim, também no início da História de uma Alma, contempla o amor de Jesus por todos e por cada um como se fosse único no mundo.
34. O ato de amor «Jesus, amo-Te», vivido continuamente por Teresa ao ritmo da respiração, é a sua chave de leitura do Evangelho. Com este amor, mergulha em todos os mistérios da vida de Cristo, dos quais se faz contemporânea, habitando o Evangelho juntamente com Maria e José, Maria de Magdala e os Apóstolos. Juntamente com eles, penetra nas profundezas do amor do Coração de Jesus. Vejamos um exemplo: «Quando vejo Madalena avançar na presença de numerosos convidados, banhar com as suas lágrimas os pés do Mestre adorado que toca pela primeira vez, sinto que o coração dela compreendeu os abismos de amor e de misericórdia do Coração de Jesus e que, por muito pecadora que ela seja, este Coração de amor está não só disposto a perdoar-lhe, mas ainda a prodigalizar-lhe os benefícios da sua intimidade divina, e elevá-la até aos mais altos cumes da contemplação».