85. A transmissão da fé cristã é uma missão essencial para a Igreja. A fim de responder melhor aos desafios do mundo actual, convidei o conjunto dos fiéis da Igreja para uma nova evangelização. Mas, para produzir os seus frutos, deverá permanecer fiel à fé em Jesus Cristo. « Ai de mim, se eu não evangelizar! » (1 Cor 9, 16): exclamava São Paulo. Nas situações actuais em mudança, esta nova evangelização pretende consciencializar cada fiel de que o seu testemunho de vida dá força à palavra, quando ousa falar, aberta e corajosamente, de Deus para anunciar a Boa-Nova da salvação. E, com a Igreja universal, também a Igreja Católica do Médio Oriente, no seu conjunto, é convidada a empenhar-se nesta evangelização, tendo em conta e discernindo o actual contexto cultural e social para saber identificar as suas expectativas e limitações. Aquela é, antes de mais nada, um apelo a deixar-se novamente evangelizar por meio do encontro com Cristo; apelo este, que é dirigido tanto à comunidade eclesial inteira como a cada um dos seus membros; pois, como lembrava o Papa Paulo VI, « aquele que foi evangelizado, por sua vez, evangeliza. Está nisto o teste de verdade, a pedra de toque da evangelização: não se pode conceber uma pessoa que tenha acolhido a Palavra e se tenha entregado ao Reino sem se tornar alguém que testemunha e, por seu turno, anuncia esta Palavra ».
86. Uma tarefa importante é o aprofundamento do sentido teológico e pastoral desta evangelização, em que se procura « compartilhar o dom inestimável que Deus nos quis conceder, comunicando-nos a sua própria vida ». Tal reflexão deverá estar aberta às duas dimensões – ecuménica e inter-religiosa – inerentes à vocação e missão próprias da Igreja Católica no Médio Oriente.
87. Há vários anos que os movimentos eclesiais e as novas comunidades estão presentes no Médio Oriente. Constituem um dom do Espírito para o nosso tempo; não se deve apagar o Espírito (cf. 1 Ts 5, 19), mas compete a cada pessoa e comunidade colocar o seu carisma ao serviço do bem comum (cf. 1 Cor 12, 7). A Igreja Católica no Médio Oriente alegra-se com o testemunho de fé e comunhão fraterna destas comunidades, nas quais se reúnem cristãos de várias Igrejas, sem confusão nem proselitismo. Encorajo os membros destes movimentos e comunidades a serem artífices de comunhão e testemunhas da paz que vem de Deus, em união com o Bispo do lugar e de acordo com as suas directrizes pastorais, tendo em conta a história, a liturgia, a espiritualidade e a cultura da Igreja local. Assim darão provas da sua adesão generosa e do seu desejo de servir a Igreja local e a Igreja universal. Finalmente, a sua boa integração expressará a comunhão na diversidade e ajudará a nova evangelização.
88. Herdeira de um ardor apostólico que levou a Boa-Nova a terras distantes, cada uma das Igrejas católicas presentes no Médio Oriente é também convidada a renovar o seu espírito missionário com a formação e o envio de homens e mulheres orgulhosos da sua fé em Cristo morto e ressuscitado e capazes de anunciar corajosamente o Evangelho, tanto na região como nas terras da diáspora ou ainda noutros países do mundo. O Ano da Fé – que se coloca no contexto da nova evangelização –, se for vivido com intensa convicção, será um forte estímulo para promover uma evangelização das Igrejas da região e consolidar o testemunho cristão. Dar a conhecer o Filho de Deus morto e ressuscitado, único e exclusivo Salvador de todos, é um dever constitutivo da Igreja e uma imperiosa responsabilidade de todo o baptizado. Deus « quer que todos os homens sejam salvos e cheguem ao conhecimento da verdade » (1 Tm 2, 4). Para enfrentar esta urgente e exigente tarefa num contexto multicultural e multi-religioso, a Igreja goza da assistência do Espírito Santo, dom do Senhor ressuscitado que continua a sustentar os seus, e do tesouro das grandes tradições espirituais que ajudam a buscar a Deus. Encorajo as circunscrições eclesiásticas, os institutos religiosos e os movimentos a desenvolverem um autêntico ardor missionário, que será para eles penhor de renovação espiritual. Para esta tarefa, a Igreja Católica no Médio Oriente pode contar com o apoio da Igreja universal.
89. Desde há muito tempo que a Igreja Católica no Médio Oriente actua graças a uma rede de instituições educativas, sociais e caritativas. Deste modo assume o apelo de Jesus: « Sempre que fizerdes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes » (Mt 25, 40). Ela acompanha o anúncio do Evangelho com obras de caridade, de harmonia com a própria natureza da caridade cristã, que dão resposta às necessidades imediatas de todos, sem olhar à sua religião e independentemente dos partidos e ideologias, com o único objectivo de viver na terra o amor de Deus pelos homens. Através do testemunho da caridade, a Igreja dá a sua contribuição para a vida da sociedade e deseja contribuir para a paz de que a região precisa.
90. Jesus Cristo fez-Se próximo dos mais débeis. Guiada pelo seu exemplo, a Igreja ocupa-se no serviço de acolhimento das crianças nas maternidades e orfanatos, dos pobres, dos deficientes, dos doentes e de toda a pessoa necessitada, para que seja cada vez melhor inserida na comunidade humana. A Igreja crê na dignidade inalienável de cada pessoa humana, e adora a Deus, Criador e Pai, servindo a sua criatura que passa necessidade quer material quer espiritual. É por causa de Jesus, verdadeiro Deus e verdadeiro homem, que a Igreja cumpre o seu ministério de consolação, que busca apenas reflectir a caridade de Deus pela humanidade. Quero exprimir aqui o meu apreço e reconhecimento a todas as pessoas que consagram a sua vida a este nobre ideal, e certificá-las da bênção de Deus.
91. Os centros de educação, as escolas, os institutos superiores e as universidades católicas do Médio Oriente são numerosos. Os religiosos, as religiosas e os leigos neles empenhados realizam um trabalho impressionante que admiro e encorajo. Alheias a qualquer proselitismo, estas instituições educativas católicas acolhem alunos ou estudantes de outras Igrejas e religiões. Enquanto instrumentos de cultura inestimáveis para a formação dos jovens no conhecimento, demonstram de forma extraordinária a possibilidade que há, no Médio Oriente, de viver no respeito e colaboração, graças a uma educação para a tolerância e uma incessante busca de qualidade humana. As referidas instituições estão atentas também às culturas locais que pretendem promover, sublinhando os elementos positivos nelas contidos. Uma grande solidariedade entre os familiares, os estudantes, as universidades e as eparquias e dioceses, sustentada pela ajuda de Caixas de Crédito e Mútua Poupança, permitirá garantir a todos o acesso à educação, especialmente àqueles que não dispõem dos recursos necessários. A Igreja pede também aos diversos líderes políticos para apoiarem estas instituições, que, através da sua actividade, colaboram de maneira real e eficaz para o bem comum, para a construção e o futuro das diversas nações.