82. A Assembleia Especial para o Médio Oriente do Sínodo dos Bispos sublinhou, com vigor, a necessidade da oração na vida da Igreja, para que esta se deixe transformar pelo seu Senhor, e cada fiel deixe Cristo viver em si (cf. Gl 2, 20). Na verdade, como nos ensinou o próprio Jesus retirando-Se para rezar nos momentos decisivos da sua vida, a eficácia da missão evangelizadora e, consequentemente, do testemunho encontra a sua fonte na oração. Abrindo-se à acção do Espírito de Deus, o crente faz penetrar no mundo, por meio da sua oração pessoal e comunitária, a riqueza do amor e a luz da esperança que habitam nele (cf. Rm 5, 5). Oxalá cresça o desejo da oração nos pastores do povo de Deus e nos fiéis, para que a contemplação do rosto de Cristo inspire cada vez mais o seu testemunho e as suas acções. Jesus recomendou a seus discípulos que rezassem sempre, sem desfalecer (cf. Lc 18, 1). As situações humanas dolorosas geradas pelo egoísmo, a iniquidade ou a vontade de domínio podem suscitar cansaço e desânimo. Por isso, Jesus recomenda a oração contínua. Nela, temos a verdadeira « Tenda da Reunião » (cf. Ex 40, 34), o lugar privilegiado da comunhão com Deus e com os homens. Não esqueçamos o significado do nome do Menino Jesus, cujo nascimento foi anunciado por Isaías e que traz a salvação: Emanuel, « Deus connosco » (cf. Is 7, 14; Mt 1, 23). Jesus é o nosso Emanuel, verdadeiro Deus connosco. Invoquemo-Lo com fervor.
83. Terra da revelação bíblica, o Médio Oriente tornou-se muito cedo uma meta privilegiada de peregrinação para muitos cristãos, vindos de todo o mundo para consolidar a sua fé e viver uma experiência profundamente espiritual. Tratava-se então dum caminho penitencial, que exprimia uma sede autêntica de Deus. A peregrinação bíblica actual deve voltar a esta intuição inicial: concebida como penitência para a conversão e como busca de Deus e propondo-se palmilhar os passos históricos de Cristo e dos Apóstolos, a peregrinação aos lugares santos e apostólicos, se for vivida com fé profunda, pode constituir um autêntico seguimento de Cristo. Num segundo tempo, dá também aos fiéis a possibilidade de se impregnarem mais da riqueza visível da história bíblica que delineia a seus olhos os grandes momentos da economia da salvação. À peregrinação bíblica, convém associar também a peregrinação aos santuários dos mártires e dos santos, em quem a Igreja venera Cristo, fonte do seu martírio e da sua santidade.
84. Certamente, a Igreja vive em vigilante e confiante expectativa da vinda final do Esposo (cf. Mt 25, 1-13). Seguindo o seu Mestre, recorda que a verdadeira adoração é feita em espírito e verdade, não se limitando a um lugar santo, independentemente da importância simbólica e religiosa que possa ter na consciência dos crentes (cf. Jo 4, 21.23). Apesar disso, a Igreja, e nela cada baptizado, sente a necessidade legítima dum regresso às fontes. Nos lugares onde se desenrolaram os acontecimentos da salvação, cada peregrino poderá comprometer-se num caminho de conversão ao seu Senhor e encontrar um novo ardor apostólico. Espero que os fiéis do Médio Oriente possam, eles mesmos, fazer-se peregrinos a estes lugares santificados pelo próprio Senhor e ter acesso livre e sem qualquer restrição aos lugares santos. Além disso, as peregrinações a estes lugares farão descobrir aos cristãos não orientais a riqueza litúrgica e espiritual das Igrejas orientais; e, de igual modo, contribuirão para apoiar e encorajar as comunidades cristãs a permanecerem, fiel e resolutamente, nestas terras abençoadas.