A VIDA CONSAGRADA

A VIDA CONSAGRADA

51. O monaquismo, nas suas diversas formas, nasceu no Médio Oriente e está na origem de algumas das Igrejas que lá se encontram. Possam os monges e monjas – que consagram a sua vida à oração, santificando as horas do dia e da noite, apresentando a Deus em suas orações as preocupações e as necessidades da Igreja e da humanidade – ser para todos memória permanente da importância da oração na vida da Igreja e de cada fiel. De igual modo, os mosteiros sejam lugares onde os fiéis possam deixar-se guiar na iniciação à oração.

 

52. A vida consagrada, contemplativa e apostólica, é um aprofundamento da consagração baptismal. Com efeito, os religiosos e as religiosas procuram seguir Cristo, de forma mais radical, através da profissão dos conselhos evangélicos: a obediência, a castidade e a pobreza. O dom incondicional de si mesmo ao Senhor e o seu amor desinteressado por todo o homem dão testemunho de Deus, constituindo sinais palpáveis do seu amor pelo mundo. A vida consagrada, sentida como um dom precioso do Espírito Santo, é um apoio insubstituível para a vida e a pastoral da Igreja. Neste sentido, as comunidades religiosas serão sinais proféticos de comunhão nas suas Igrejas e no mundo inteiro, se estiverem realmente fundadas na Palavra de Deus, na comunhão fraterna e no testemunho do serviço (cf. Act 2, 42). Na vida cenobítica, a comunidade ou o mosteiro estão chamados a ser o espaço privilegiado da união com Deus e da comunhão com o próximo. É o lugar onde a pessoa consagrada aprende a recomeçar sempre de Cristo, para ser fiel à sua missão na oração e no recolhimento, tornando-se para todos os fiéis um sinal da vida eterna já principiada na terra (cf. 1 Pd 4, 7).

 

53. A todos vós que no Médio Oriente sois chamados a seguir Cristo na vida religiosa, convido a deixar-vos seduzir dia a dia pela Palavra de Deus, a exemplo do profeta Jeremias, guardando-a no vosso coração como um fogo devorador (cf. Jr 20, 7-9). Aquela é a razão de ser, o fundamento e a referência última e objectiva da vossa consagração. A Palavra de Deus é a verdade. Obedecendo à verdade, santificais as vossas almas para vos amardes sinceramente como irmãos e irmãs (cf. 1 Pd 1, 22). Seja qual for o estatuto canónico do vosso instituto religioso, mostrai-vos disponíveis para colaborar, num espírito de comunhão, com o Bispo na actividade pastoral e missionária. A vida religiosa é uma adesão pessoal a Cristo, Cabeça do Corpo (cf. Cl 1, 18; Ef 4, 15), reflectindo o vínculo indissolúvel entre Cristo e a sua Igreja. Neste sentido, apoiai as famílias na sua vocação cristã e encorajai as paróquias a abrir-se às várias vocações sacerdotais e religiosas; isto contribui para consolidar a vida de comunhão pelo testemunho, dentro da Igreja local. Não deixeis de dar resposta aos apelos dos homens e mulheres do nosso tempo, indicando-lhes o caminho e o sentido profundo da existência humana.

 

54. Quero acrescentar mais uma consideração que, ultrapassando os consagrados propriamente ditos, se dirige ao conjunto dos membros das Igrejas católicas orientais; tem a ver com os conselhos evangélicos, que caracterizam de maneira particular a vida monástica, sabendo que esta mesma vida religiosa foi determinante para a origem de numerosas Igrejas sui iuris, e continua a sê-lo na sua vida actual. Parece-me que seria conveniente meditar, prolongada e cuidadosamente, sobre os conselhos evangélicos – a obediência, a castidade e a pobreza – para descobrir hoje de novo a sua beleza, a força do seu testemunho e a sua dimensão pastoral. É que não pode haver renovação interior do fiel, da comunidade crente e da Igreja inteira, sem um decidido e inequívoco regresso de cada um, segundo a própria vocação, ao quaerere Deum, à busca de Deus que ajuda a definir e viver na verdade a relação com Deus, com o próximo e consigo mesmo. Isto diz respeito, sem dúvida, às Igrejas sui iuris, mas tem a ver também com a Igreja latina.

 

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