144. Esta projeção para o futuro, que se sonha, não significa que os jovens estejam totalmente lançados para diante, pois simultaneamente há neles um forte desejo de viver o presente, aproveitar ao máximo as possibilidades que esta vida lhes oferece. Este mundo está repleto de beleza! Como se pode desprezar os dons de Deus?
145. Ao contrário do que muitos pensam, o Senhor não quer atenuar esta vontade de viver. Faz-nos bem lembrar o que ensinava um sábio do Antigo Testamento: «Meu filho, se tens com quê, trata-te bem. (…) Não te prives da felicidade presente» (Sir 14, 11.14). O verdadeiro Deus, Aquele que te ama, quer-te feliz. Por isso, na Bíblia, encontramos também este conselho dirigido aos jovens: «Jovem, regozija-te na tua mocidade e alegra o teu coração na flor dos teus anos. (...) Lança fora do teu coração a tristeza» (Ecl 11, 9.10). Porque é «Deus que nos dá tudo com abundância para nosso usufruto» (1 Tim 6, 17).
146. Como poderá dizer-se agradecido a Deus quem não é capaz de usufruir dos seus pequenos presentes de cada dia, quem não sabe parar diante das coisas simples e agradáveis que encontra a cada passo? Com efeito, «não há pior do que aquele que é avaro para si mesmo» (Sir 14, 6). Não se trata de ser insaciáveis, sempre obcecados por prazeres sem fim; antes pelo contrário, pois isso impedir-te-á de viver o presente. Trata-se de saber abrir os olhos e parar a fim de viver plenamente e com gratidão cada um dos pequenos presentes da vida.
147. A Palavra de Deus convida-te claramente a viver o presente, e não só a preparar o amanhã: «Não vos preocupeis com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já terá as suas preocupações. Basta a cada dia o seu problema» (Mt 6, 34). Isto, porém, não significa abandonar-se a uma libertinagem irresponsável que nos deixa vazios e sempre insatisfeitos, mas convida-nos a viver plenamente o presente, usando as nossas energias para fazer coisas boas, cultivando a fraternidade, seguindo Jesus e apreciando cada pequena alegria da vida como um presente do amor de Deus.
148. A propósito, quero lembrar que o cardeal Francisco Xavier Nguyên van Thuân, quando foi preso num campo de concentração, não quis que os seus dias consistissem apenas em aguardar, esperar um futuro. Escolheu «viver o momento presente, cumulando-o de amor»; e a maneira como o realizava era esta: «Aproveito as oportunidades que me surgem cada dia para realizar ações ordinárias de maneira extraordinária». Enquanto lutas para realizar os teus sonhos, vive plenamente o dia de hoje, numa entrega total e cheia de amor em cada momento. A verdade é que este dia da tua juventude pode ser o último, e por isso vale a pena vivê-lo com toda a garra e profundidade possíveis.
149. Isto é válido também para os momentos difíceis, que devem ser vividos profundamente para conseguir aprender a sua mensagem. Como ensinam os bispos suíços, «Ele está lá no lugar onde pensávamos que nos tinha abandonado e que já não havia possibilidade alguma de salvação. É um paradoxo, mas o sofrimento, as trevas tornaram-se, para muitos cristãos, (...) lugares de encontro com Deus». Além disso, o desejo de viver e fazer novas experiências tem a ver especialmente com muitos jovens em condições de deficiência física, psíquica e sensorial. Embora nem sempre possam fazer as mesmas experiências dos coetâneos, possuem recursos surpreendentes, inimagináveis que às vezes superam os recursos comuns. O Senhor Jesus cumula-os doutros dons, que a comunidade é chamada a valorizar, para que possam descobrir o seu projeto de amor para cada um deles.