ACOMPANHAR OS MIGRANTES

ACOMPANHAR OS MIGRANTES

73. A experiência da migração acompanha a história do povo de Deus. Abraão parte sem saber para onde vai; Moisés conduz um povo peregrino pelo deserto; Maria e José fogem com o Menino para o Egito. O próprio Cristo, que «veio para o que era seu, e os seus não o receberam» (Jo 1, 11), viveu entre nós como estrangeiro. Por isso, a Igreja sempre reconheceu nos migrantes uma presença viva do Senhor que dirá, no dia do juízo, aos que estiverem à sua direita: «era peregrino e recolhestes-me» (Mt 25, 35).

 

74. No século XIX, quando milhões de europeus emigravam em busca de melhores condições de vida, dois grandes santos se destacaram no cuidado pastoral dos migrantes: São João Batista Scalabrini e Santa Francisca Xavier Cabrini. Scalabrini, bispo de Piacenza, fundou os Missionários de São Carlos para acompanhar os migrantes nas suas comunidades de destino, oferecendo-lhes assistência espiritual, jurídica e material. Nos migrantes viu destinatários de uma nova evangelização, alertando para os riscos da exploração e da perda da fé em terra estrangeira. Correspondendo com generosidade ao carisma que o Senhor lhe tinha concedido, «Scalabrini olhava mais além, olhava lá para diante, para um mundo e uma Igreja sem barreiras, sem estrangeiros». Santa Francisca Cabrini, nascida na Itália e naturalizada estadunidense, tornou-se a primeira cidadã dos Estados Unidos a ser canonizada. Para cumprir a sua missão de atender aos migrantes, cruzou o Atlântico diversas vezes, e «armada de singular audácia, partindo do nada iniciou escolas, hospitais, orfanatos para a multidão de deserdados que se aventuraram no novo mundo em busca de trabalho, desprovidos do conhecimento da língua e de meios capazes de lhes permitir uma decorosa inserção na sociedade americana, e muitas vezes vítimas de pessoas sem escrúpulos. O seu coração materno, irrequieto, ia ao encontro deles em todas as partes: nos tugúrios, nos cárceres, nas minas». No Ano Santo de 1950, o Papa Pio XII proclamou-a Padroeira de todos os migrantes.

 

75. A tradição da atividade da Igreja junto aos migrantes prosseguiu e hoje esse serviço expressa-se em iniciativas como os centros de acolhimento para refugiados, as missões nas fronteiras, e os esforços de Caritas Internationalis e de outras instituições. O Magistério contemporâneo reafirma com clareza este compromisso. O Papa Francisco recordava que a missão da Igreja junto aos migrantes e refugiados era ainda mais ampla, insistindo que «a resposta ao desafio colocado pelas migrações contemporâneas pode-se resumir em quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar. Mas estes verbos não valem apenas para os migrantes e os refugiados; exprimem a missão da Igreja a favor de todos os habitantes das periferias existenciais, que devem ser acolhidos, protegidos, promovidos e integrados». E acrescentava: «Todo ser humano é um filho de Deus! Nele está impressa a imagem de Cristo! Trata-se, então, de o vermos, nós, em primeiro lugar, e de ajudar os outros a verem no migrante e no refugiado não só um problema para lidar, mas um irmão e uma irmã a serem acolhidos, respeitados e amados; trata-se de uma oportunidade que a Providência nos oferece para contribuir na construção de uma sociedade mais justa, de uma democracia mais completa, de um país mais inclusivo, de um mundo mais fraterno e de uma comunidade cristã mais aberta, de acordo com o Evangelho». A Igreja, como mãe, caminha com os que caminham. Onde o mundo vê ameaça, ela vê filhos; onde se erguem muros, ela constrói pontes. Pois sabe que o Evangelho só é crível quando se traduz em gestos de proximidade e de acolhimento; e que em cada migrante rejeitado, é o próprio Cristo que bate às portas da comunidade.

 

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