AO LADO DOS ÚLTIMOS

AO LADO DOS ÚLTIMOS

76. A santidade cristã floresce, com frequência, nos lugares mais esquecidos e feridos da humanidade. Os mais pobres entre os pobres – que não apenas carecem de bens, mas também de voz e do reconhecimento da sua dignidade – ocupam um lugar especial no coração de Deus. São os preferidos do Evangelho, os herdeiros do Reino (cf. Lc 6, 20). É neles que Cristo continua a sofrer e a ressuscitar. É neles que a Igreja reencontra o chamamento a mostrar a sua realidade mais autêntica.

 

77. Santa Teresa de Calcutá, canonizada em 2016, tornou-se ícone universal da caridade vivida até o extremo em favor dos mais indigentes, descartados pela sociedade. Fundadora das Missionárias da Caridade, dedicou a sua vida aos moribundos abandonados nas ruas da Índia. Recolhia os rejeitados, lavava as suas feridas, acompanhava-os até ao momento da morte com uma ternura que era prece. O seu amor pelos mais pobres entre os pobres fazia com que se ocupasse não somente de os atender em suas necessidades materiais, mas também de lhes anunciar a boa nova do Evangelho: «Queremos proclamar a boa nova aos pobres de que Deus os ama, de que nós os amamos, de que eles são alguém para nós, de que eles foram criados pela mesma mão amorosa de Deus, para amar e ser amados. Os nossos pobres são ótimas pessoas, pessoas muito amáveis, eles não necessitam da nossa pena ou compaixão, eles precisam do nosso amor compreensivo. Eles precisam do nosso respeito; eles precisam que os tratemos com dignidade». Tudo isso nascia de uma profunda espiritualidade que via o serviço aos mais pobres como fruto da oração e do amor, gerador da verdadeira paz, como recordava o Papa João Paulo II aos peregrinos vindos a Roma para a sua beatificação: «Onde foi que Madre Teresa encontrou a força para se dedicar completamente ao serviço do próximo? Encontrou-a na oração e na contemplação silenciosa de Jesus Cristo, do seu Santo Rosto, do seu Sagrado Coração . Ela mesma o disse: “O fruto do silêncio é a oração; o fruto da oração é a fé; o fruto da fé é o amor; o fruto do amor é o serviço, o fruto do serviço é a paz” [...] Era uma oração que enchia o seu coração com a paz de Cristo e lhe permitia irradiar essa paz aos outros». Teresa não se considerava filantropa nem ativista, mas esposa de Cristo crucificado, a quem servia com amor total nos irmãos sofredores.

 

78. No Brasil, Santa Dulce dos Pobres – conhecida como o “anjo bom da Bahia” – encarnou o mesmo espírito evangélico com feições brasileiras. Referindo-se a ela e a outras duas religiosas canonizadas na mesma celebração, o Papa Francisco recordava o amor que professavam aos mais marginalizados da sociedade e afirmava que as novas Santas «mostram-nos que a vida religiosa é um caminho de amor nas periferias existenciais do mundo». Irmã Dulce enfrentou a precariedade com criatividade, os obstáculos com ternura, a carência com fé inabalável. Começou acolhendo doentes num galinheiro, e dali fundou uma das maiores obras sociais do país. Atendia milhares de pessoas por dia, sem jamais perder a doçura. Fez-se pobre com os pobres por amor ao sumamente Pobre. Vivia com pouco, rezava com fervor e servia com alegria. A sua fé não a retirava do mundo, mas lançava-a ainda mais profundamente nas dores dos últimos.

 

79. Poderiam ser lembrados também São Bento Menni e as Irmãs Hospitaleiras do Sagrado Coração de Jesus auxiliando as pessoas com deficiências de desenvolvimento; São Charles de Foucauld entre as comunidades do Saara; Santa Katharine Drexel junto dos grupos menos favorecidos na América do Norte; Irmã Emmanuelle com os catadores de lixo no bairro Ezbet El Nakhl na cidade do Cairo; e muitíssimos outros. Cada um, à sua maneira, descobriu que os mais pobres não são mero objeto da nossa compaixão, mas mestres do Evangelho. Não se trata de lhes “levar Deus”, mas de encontrá-Lo ali. Todos estes exemplos ensinam que servir aos pobres não é um gesto de cima para baixo, mas um encontro de igual para igual, onde Cristo é revelado e adorado. São João Paulo II recordava-nos que «há na pessoa dos pobres uma especial presença de Cristo, obrigando a Igreja a uma opção preferencial por eles». A Igreja, portanto, quando se curva até ao chão para cuidar dos pobres, assume a sua postura mais elevada.

 

VOLTAR PARA O ÍNDICE DE DILEXI TE