99. Amados filhos e filhas da Igreja, e de modo particular vós queridos fiéis da África, o amor de Deus cumulou-vos de toda a espécie de bênçãos e fez-vos capazes de agir como o sal da terra. Todos vós, como membros da Igreja, deveis estar conscientes de que a paz e a justiça nascem, em primeiro lugar, da reconciliação do ser humano consigo mesmo e com Deus. Cristo é o verdadeiro e único « Príncipe da paz ». O seu nascimento é o penhor da paz messiânica, tal como fora anunciada pelos profetas (cf. Is 9, 5-6; 57, 19; Miq 5, 4; Ef 2, 14-17). Esta paz não vem dos homens, mas de Deus; é o dom messiânico por excelência. Esta paz leva àquela justiça do Reino que é preciso procurar, em tempo propício e fora dele, em tudo o que se faz (cf. Mt 6, 33), para que em todas as circunstâncias seja dada glória a Deus (cf. Mt 5, 16). Ora nós sabemos que o justo é fiel à lei de Deus, porque se converteu
(cf. Lc 15, 7; 18, 14). Esta nova fidelidade é trazida por Cristo para nos tornar « irrepreensíveis e íntegros » (cf. Flp 2, 15).
I. OS BISPOS
100. Amados irmãos no episcopado, a santidade a que é chamado o bispo exige a prática das virtudes, a começar pelas teologais, e a prática dos conselhos evangélicos. A vossa santidade pessoal deve refulgir em benefício de quantos foram confiados ao vosso cuidado pastoral e que deveis servir. A vossa vida de oração irrigará, a partir de dentro, o vosso apostolado. Um bispo deve ser um enamorado de Cristo. A autoridade moral e a credibilidade, que sustentam o exercício do vosso poder jurídico, poderão derivar apenas da santidade da vossa vida.
101. Como dizia São Cipriano, a meados do século III em Cartago, « a Igreja assenta sobre os bispos, e toda a sua conduta obedece às indicações destes mesmos chefes ». A comunhão, a unidade e a colaboração com o presbyterium é que servirão de antídoto contra os germes de divisão e ajudarão a colocar-vos, todos juntos, à escuta do Espírito Santo. Ele conduzir-vos-á pelo justo caminho (cf. Sl 23/22, 3). Amai e respeitai os vossos sacerdotes, que são os colaboradores preciosos do vosso ministério episcopal. Imitai a Cristo, que criou ao seu redor um clima de amizade, estima fraterna e comunhão que Ele extraiu das profundezas do mistério trinitário. « Exorto-vos a perseverar com toda a solicitude na ajuda aos vossos sacerdotes para viverem em união íntima com Cristo. A sua vida espiritual é o fundamento da sua vida apostólica. Por isso haveis de exortá-los, com suavidade, à oração diária e a uma digna celebração dos sacramentos, sobretudo da Eucaristia e da Reconciliação, como fazia São Francisco de Sales com os seus sacerdotes. (…) Estes têm necessidade da vossa estima, encorajamento e solicitude ».
102. Permanecei unidos ao Sucessor de Pedro com os vossos sacerdotes e o conjunto dos vossos fiéis. Não desperdiceis as vossas energias humanas e pastorais na busca ilusória de respostas para questões que não são de vossa directa competência, ou nos meandros de um nacionalismo que pode cegar. Seguir este ídolo, tal como o da absolutização da cultura africana, é mais fácil do que seguir as exigências de Cristo. Estes ídolos são quimeras. Mais ainda, são uma tentação: a tentação de crer que se possa, com as simples forças humanas, estabelecer na terra o Reino da felicidade eterna.
103. O vosso primeiro dever é levar a Boa Nova da Salvação a todos, e dar aos fiéis uma catequese que contribua para um conhecimento mais profundo de Jesus Cristo. Preocupai-vos com dar aos leigos um verdadeiro conhecimento da sua missão eclesial e exortai-os a realizá-la com sentido de responsabilidade, procurando sempre o bem comum. Os programas de formação permanente dos leigos, particularmente responsáveis políticos e económicos, deverão insistir sobre a conversão como condição necessária para transformar o mundo. É bom começar sempre pela oração, prosseguindo com a catequese que deverá, por sua vez, conduzir à acção concreta. A criação de estruturas virá depois, se houver verdadeiramente necessidade, porque estas nunca substituem a força da oração.
104. No seguimento de Cristo Bom Pastor, sede, amados irmãos no episcopado, bons pastores e servidores do rebanho que vos está confiado, exemplares pela vossa vida e conduta. A boa administração das vossas dioceses requer a vossa presença. Para que a vossa mensagem seja credível, fazei com que as vossas dioceses se tornem modelos no comportamento das pessoas, na transparência e boa gestão financeira. Não temais recorrer à competência de peritos de contabilidade, para servir de exemplo tanto aos fiéis como à sociedade inteira. Favorecei o bom funcionamento dos organismos eclesiais diocesanos e paroquiais, tal como estão previstos pelo direito da Igreja. É a vós, em primeiro lugar, que compete a busca da unidade, da justiça e da paz, porque tendes a responsabilidade das Igrejas particulares.
105. O Sínodo lembrou que « a Igreja é uma comunhão que gera uma solidariedade pastoral orgânica. Os bispos, em união com o Bispo de Roma, são os primeiros promotores da comunhão e da colaboração no apostolado da Igreja ». As Conferências Episcopais nacionais e regionais têm a missão de consolidar esta comunhão eclesial e promover esta solidariedade pastoral.
106. Para uma maior visibilidade, coerência e eficácia na pastoral social da Igreja, o Sínodo sentiu a necessidade duma acção mais solidária a todos os níveis. Será bom que as Conferências Episcopais regionais e nacionais e também a Assembleia da Hierarquia Católica do Egipto (A.H.C.E.) renovem o seu compromisso de solidariedade colegial. Isto implica, concretamente, uma participação palpável nas actividades destas estruturas, tanto no que diz respeito ao pessoal como aos meios financeiros. Assim a Igreja dará testemunho daquela unidade pela qual Cristo rezou (cf. Jo 17, 20-21).
107. De igual modo parece-me desejável que os bispos se comprometam, antes de mais, a promover e sustentar, efectiva e afectivamente, o Simpósio das Conferências Episcopais da África e de Madagáscar (S.C.E.A.M.), enquanto estrutura continental de solidariedade e comunhão eclesial. Convém também cultivar boas relações com a Confederação das Conferências dos Superiores Maiores da África e de Madagáscar (CO.S.M.A.M.), as Associações das Universidades Católicas e outras estruturas eclesiais do continente.
II. OS SACERDOTES
108. Colaboradores estreitos e indispensáveis do bispo, os sacerdotes têm o encargo de continuar a obra de evangelização. A segunda Assembleia para a África do Sínodo dos Bispos foi celebrada durante o ano que eu dedicara ao sacerdócio, lançando um apelo particular à santidade. Amados sacerdotes, lembrai-vos de que o vosso testemunho de vida pacífica, ultrapassando fronteiras tribais e raciais, pode tocar os corações. O apelo à santidade é um convite para vos tornardes pastores segundo o coração de Deus, que apascentam o rebanho com justiça (cf. Ez 34, 16). Ceder à tentação de vos transformardes em guias políticos ou em agentes sociais seria trair a vossa missão sacerdotal e prestar um mau serviço à sociedade, que espera de vós palavras e gestos proféticos. Já dizia São Cipriano: « Aqueles que possuem a honra do sacerdócio divino (…), devem prestar o seu ministério somente no altar e no sacrifício, e dedicar-se unicamente à oração ».
109. Consagrando-vos sobretudo àqueles que o Senhor vos confia para os formar nas virtudes cristãs e conduzir à santidade, não só os ganhareis para a causa de Cristo mas fareis deles também os protagonistas duma sociedade africana renovada. Face à complexidade das situações com que vos defrontais, convido-vos a aprofundar a vida de oração e a formação permanente. Que isto se verifique tanto a nível espiritual como intelectual. Familiarizai-vos com a Sagrada Escritura, com a Palavra de Deus que meditais cada dia e explicais aos fiéis. Aprofundai também o vosso conhecimento do Catecismo, dos documentos do Magistério bem como da doutrina social da Igreja. Deste modo sereis capazes, por vossa vez, de formar os membros da comunidade cristã, de que sois os responsáveis imediatos, para que se tornem autênticos discípulos e testemunhas de Cristo.
110. Vivei, com simplicidade, humildade e amor filial, a obediência ao bispo da vossa diocese. « Por respeito Àquele que nos amou, convém obedecer sem qualquer hipocrisia; porque não é deste bispo visível que se abusa, mas é do Bispo invisível que se procura burlar. Porque, neste caso, não é de um ser de carne que se trata, mas de Deus que conhece as realidades ocultas ». No quadro da formação permanente dos sacerdotes, parece-me oportuno que sejam relidos e meditados determinados documentos, como o Decreto conciliar sobre o ministério e a vida dos sacerdotes Presbyterorum ordinis, a Exortação apostólica pós-sinodal Pastores dabo vobis, de 1992, o Directório para o Ministério e a Vida dos Presbíteros, de 1994, e ainda a Instrução O Presbítero, Pastor e Guia da Comunidade Paroquial, de 2002.
111. Edificai as comunidades cristãs por meio do vosso exemplo, vivendo com verdade e alegria os vossos compromissos sacerdotais: o celibato na castidade e o desapego dos bens materiais. Se vividos com maturidade e serenidade, estes sinais, que vos conformam particularmente com o estilo de vida de Jesus, exprimem a « dedicação total e exclusiva a Cristo, à Igreja e ao Reino de Deus ». Colocai todas as vossas forças na actuação da pastoral diocesana para a reconciliação, a justiça e a paz, sobretudo através da celebração dos sacramentos da Penitência e da Eucaristia, da catequese, da formação dos leigos e do acompanhamento dos responsáveis da sociedade. Cada sacerdote deve poder sentir-se feliz por servir a Igreja.
112. Seguir Cristo pelo caminho do sacerdócio exige fazer opções. Estas nem sempre são fáceis de viver. As exigências evangélicas, que o ensinamento do Magistério foi codificando ao longo dos séculos, apresentam-se como radicais aos olhos do mundo. Às vezes é difícil segui-las, mas não impossível. Cristo ensina-nos que não é possível servir a dois senhores (cf. Mt 6, 24). Nesta passagem bíblica aludia Ele, sem dúvida, ao dinheiro, aquele tesouro temporal que pode ocupar o nosso coração (cf. Lc 12, 34); mas, noutras passagens, faz referência também a muitos outros bens que possuímos, como, por exemplo, a nossa vida, a nossa família, a nossa educação, as nossas relações pessoais. Trata-se de bens preciosos e admiráveis que fazem parte de nós mesmos. Pois bem! Àquele que é chamado, Cristo exige que se abandone totalmente à Providência; pede uma opção radical (cf. Mt 7, 13-14), que por vezes se nos torna difícil de compreender e viver. Mas, se Deus é o nosso verdadeiro tesouro – aquela pérola rara que só se pode adquirir vendendo tudo o que se possui (cf. Mt 13, 45-46), ou seja, mesmo à custa de grandes sacrifícios – então desejaremos que o nosso coração e o nosso corpo, o nosso espírito e a nossa inteligência sejam reservados só para Ele. Este acto de fé permitir-nos-á ver, sob outra perspectiva, aquilo que nos parece importante e viver a relação com o nosso corpo e as nossas relações humanas de família ou de amizade à luz da vocação de Deus e da sua exigência ao serviço da Igreja. É preciso reflectir profundamente nisto; esta reflexão há-de começar nos Seminários e continuar durante toda a vida sacerdotal. De certo modo para nos encorajar, porque conhece as forças e as fraquezas do nosso coração, Cristo diz: « Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais ser-vos-á dado por acréscimo » (Mt 6, 33).
III. OS MISSIONÁRIOS
113. Os missionários não africanos, respondendo ao apelo do Senhor com generoso e ardente zelo apostólico, vieram partilhar a alegria da Revelação. Seguindo os seus passos, há hoje africanos que são missionários noutros continentes. Como não prestar-lhes aqui uma homenagem particular? Os missionários vindos para a África – sacerdotes, religiosos, religiosas e leigos – construíram igrejas, escolas e dispensários e contribuíram imenso para a visibilidade actual das culturas africanas, mas principalmente edificaram o Corpo de Cristo e enriqueceram a casa de Deus. Souberam partilhar o sabor do sal da Palavra e fizeram resplandecer a luz dos Sacramentos; e, acima de tudo, deram à África aquilo que possuíam de mais precioso: Cristo. Graças a eles, numerosas culturas tradicionais foram libertadas de medos ancestrais e dos espíritos imundos (cf. Mt 10, 1). Do bom grão por eles semeado (cf. Mt 13, 24), surgiram numerosos santos africanos, que aparecem agora como modelos aos quais é preciso inspirar-se mais largamente. Seria desejável que o seu culto fosse reavivado e promovido. O seu compromisso pela causa do Evangelho atingiu por vezes as raias do heroísmo, a preço da sua própria vida. Uma vez mais se verificou ser verdadeira a afirmação de Tertuliano: « O sangue dos mártires torna-se semente de cristãos ». Dou graças ao Senhor por estes santos e santas, sinais da vitalidade da Igreja na África.
114. Encorajo os Pastores das Igrejas particulares a individuar, entre os servidores africanos do Evangelho, aqueles que poderiam, segundo as normas da Igreja, ser canonizados, não só para aumentar o número dos santos africanos mas também para obter novos intercessores no Céu, que acompanhem a Igreja na sua peregrinação terrena e intercedam junto de Deus pelo continente africano. A Nossa Senhora da África e aos santos deste amado continente confio a Igreja que nele se encontra.
IV. OS DIÁCONOS PERMANENTES
115. A grandeza da vocação recebida pelos diáconos permanentes merece ser assinalada. Na fidelidade à missão que há séculos lhes é atribuída, convido-os a trabalhar em humilde e estreita colaboração com os bispos. Com amizade, peço-lhes para continuarem a propor aquilo que Jesus nos ensina no Evangelho: a seriedade no trabalho bem feito, a força moral no respeito dos valores, a honestidade, o respeito pela palavra dada, a alegria de contribuir com o próprio tijolo para a edificação da sociedade e da Igreja, a protecção da natureza, o sentido do bem comum. Ajudai a sociedade africana, em todas as suas componentes, a valorizar a responsabilidade dos homens como maridos e pais, a respeitar a mulher que é igual ao homem em dignidade, a cuidar das crianças abandonadas a si mesmas e sem educação.
116. Não deixeis de prestar uma atenção particular às pessoas mental ou fisicamente doentes, às pessoas mais frágeis e aos mais pobres das vossas comunidades. Que a vossa caridade se faça criativa! Na pastoral paroquial, recordai-vos de que uma sã espiritualidade permite ao Espírito de Cristo libertar o ser humano, para que este actue eficazmente na sociedade. Os bispos terão o cuidado de completar a vossa formação, o que não deixará de contribuir para o exercício do vosso carisma. Como Santo Estêvão, São Lourenço e São Vicente, diáconos e mártires, esforçai-vos por reconhecer e encontrar Cristo na Eucaristia e nos pobres. Este serviço do altar e da caridade levar-vos-á a amar o encontro com o Senhor presente no altar e nos pobres. Então estareis preparados para dar a vossa vida por Ele até à morte.
V. AS PESSOAS CONSAGRADAS
117. Através dos votos de castidade, pobreza e obediência, a vida das pessoas consagradas tornou-se um testemunho profético. Podem assim ser exemplos em matéria de reconciliação, justiça e paz, mesmo em circunstâncias de fortes tensões. A vida comunitária manifesta que é possível viver como irmãos ou como irmãs e permanecer unidos, mesmo quando as origens étnicas e raciais são diferentes (cf. Sl 133/132, 1). Aquela pode e deve fazer ver e crer que hoje, na África, quem segue Jesus Cristo encontra n’Ele o segredo da alegria de viver juntos: o amor mútuo e a comunhão fraterna, diariamente consolidados pela Eucaristia e a Liturgia das Horas.
118. Possais vós, amadas pessoas consagradas, continuar a viver o vosso carisma com zelo verdadeiramente apostólico nos diversos âmbitos indicados pelos vossos fundadores. Neste sentido, redobrai de cuidados em conservar acesa a vossa lâmpada. Os vossos fundadores quiseram seguir Cristo a sério, respondendo ao seu apelo. Diversas obras, que constituem os seus frutos, são jóias que adornam a Igreja; é preciso, pois, desenvolvê-las seguindo o mais fielmente possível o carisma dos fundadores, o seu pensamento e os seus projectos. Gostaria de sublinhar aqui o papel importante das pessoas consagradas na vida eclesial e missionária: não só constituem uma ajuda necessária e preciosa na actividade pastoral, mas são também uma manifestação da natureza íntima da vocação cristã. Por isso, convido-vos, amadas pessoas consagradas, a permanecer em estreita comunhão com a Igreja particular e com o seu primeiro responsável, o bispo. Convido-vos também a fortalecer a vossa união com o Bispo de Roma.
119. A África é o berço da vida contemplativa cristã. Esta, sempre presente no Norte da África, particularmente no Egipto e na Etiópia, lançou raízes na África subsariana no último século. O Senhor abençoe os homens e as mulheres que decidiram segui-Lo incondicionalmente! A sua vida escondida é como o fermento na massa. A sua oração contínua sustentará o esforço apostólico dos bispos, dos sacerdotes, das outras pessoas consagradas, dos catequistas e da Igreja inteira.
120. Os encontros das várias Conferências Nacionais dos Superiores Maiores e os da Confederação das Conferências dos Superiores Maiores da África e de Madagáscar (CO.S.M.A.M.) permitem unir as reflexões e as forças não só para assegurar as finalidades de cada um dos institutos, preservando sempre a sua autonomia, carácter e espírito próprios, mas também para tratar das questões comuns num clima de fraternidade e solidariedade. É bom cultivar um espírito eclesial, garantindo uma sã coordenação e uma recta cooperação com as Conferências dos Bispos.
VI. OS SEMINARISTAS
121. Os Padres sinodais prestaram uma atenção particular aos seminaristas. Sem menosprezar a formação teológica e espiritual, evidentemente prioritária, sublinharam a importância do crescimento psicológico e humano de cada candidato. Os futuros sacerdotes devem desenvolver em si mesmos uma recta compreensão das respectivas culturas, sem se fechar nas suas fronteiras étnicas e culturais. De igual forma, hão-de radicar-se nos valores evangélicos para reforçar, na fidelidade e lealdade, o seu compromisso com Cristo. A fecundidade da sua missão futura dependerá muito da sua profunda união com Cristo, da qualidade da vida de oração e da vida interior, dos valores humanos, espirituais e morais que tiverem assimilado durante a formação. Oxalá cada seminarista se torne um homem de Deus, procurando e vivendo « a justiça, a piedade, a fé, o amor, a perseverança, a mansidão » (1 Tm 6, 11).
122. « Os seminaristas devem aprender de tal modo a vida comunitária, que a vida fraterna entre eles se torne, sucessivamente, a fonte duma autêntica experiência de sacerdócio como íntima fraternidade sacerdotal ». Seguindo as indicações dos bispos, os directores e os formadores do Seminário trabalharão conjuntamente para garantir uma formação integral aos seminaristas que lhes estão confiados. Na selecção dos candidatos, será necessário realizar um cuidadoso discernimento e um qualificado acompanhamento, para que sejam verdadeiros discípulos de Cristo e autênticos servidores da Igreja aqueles que forem admitidos ao sacerdócio. Ter-se-á a peito introduzi-los nas inúmeras riquezas do património bíblico, teológico, espiritual, litúrgico, moral e jurídico da Igreja.
123. Dirigi-me aos seminaristas, escrevendo-lhes uma Carta depois do Ano Sacerdotal que terminou em Junho de 2010. Nela insisti sobre a identidade, a espiritualidade e o apostolado do sacerdote. Recomendo vivamente a cada seminarista que leia e medite este breve documento, que lhe é pessoalmente destinado e que os formadores hão-de colocar à sua disposição. O Seminário é um tempo de preparação para o sacerdócio, um tempo de estudo; é um tempo de discernimento, formação e amadurecimento humano e espiritual. Possam os seminaristas utilizar, sabiamente, este tempo que lhes é oferecido para acumular reservas espirituais e humanas, a que poderão recorrer durante a sua vida sacerdotal.
124. Amados seminaristas, sede apóstolos junto dos jovens da vossa geração, convidando-os a seguir Cristo na vida sacerdotal. Não tenhais medo! A oração de inúmeras pessoas vos acompanha e apoia (cf. Mt 9, 37-38).
VII. OS CATEQUISTAS
125. Os catequistas são preciosos agentes pastorais na missão evangelizadora. O seu papel foi muito importante na primeira evangelização, no acompanhamento catecumenal, na animação e apoio das comunidades. « Com naturalidade, realizaram uma eficaz inculturação, que deu maravilhosos frutos (cf. Mc 4, 20). São os catequistas que permitiram que “a luz brilhasse diante dos homens” (Mt 5, 16), para que, vendo o bem que faziam, populações inteiras pudessem dar glória ao nosso Pai que está nos céus. São africanos que evangelizaram africanos ». Importante no passado, o seu papel continua essencial para o presente e o futuro da Igreja. Agradeço-lhes o seu amor à Igreja.
126. Exorto os bispos e os sacerdotes a cuidarem com desvelo da formação humana, intelectual, doutrinal, moral, espiritual e pastoral dos catequistas, prestando grande atenção às suas condições de vida para que a sua dignidade seja salvaguardada. Não esqueçam as suas legítimas necessidades materiais, porque o trabalhador fiel da vinha do Senhor tem direito a uma justa retribuição (cf. Mt 20, 1-16), à espera daquela que lhe há-de dar de maneira equitativa o Senhor, porque só Ele é justo e conhece os corações.
127. Amados catequistas, lembrai-vos de que sois, para um grande número de comunidades, o rosto concreto e imediato do discípulo diligente e o modelo da vida cristã. Encorajo-vos a proclamar, com o exemplo, que a vida familiar merece uma consideração enorme, que a educação cristã prepara os filhos para serem, na sociedade, honestos e dignos de confiança nas suas relações com os outros. Acolhei a todos sem discriminação: pobres e ricos, naturais e estrangeiros, católicos e não católicos (cf. Tg 2, 1). Não façais acepção de pessoas (cf. Act 10, 34; Rm 2, 11;
Gl 2, 6; Ef 6, 9). Se vós próprios assimilardes a Sagrada Escritura e os ensinamentos do Magistério, conseguireis oferecer uma catequese sólida, animar grupos de oração e propor a lectio divina às comunidades que cuidais. Então a vossa acção tornar-se-á coerente, perseverante e fonte de inspiração. Ao mesmo tempo que evoco, com gratidão, a memória gloriosa dos vossos antecessores, saúdo-vos e encorajo-vos a trabalhar hoje com a mesma abnegação, coragem apostólica e fé. Procurando ser fiéis à vossa missão, não só crescereis na vossa santidade pessoal mas contribuireis também de modo eficaz para a edificação do Corpo Místico de Cristo, a Igreja.
VIII. OS LEIGOS
128. A Igreja torna-se presente e activa na vida do mundo através dos seus membros leigos. Estes têm uma grande função a desempenhar na Igreja e na sociedade. Para que possam assumir bem esta função, é preciso que se organizem, nas dioceses, escolas ou centros de formação bíblica, espiritual, litúrgica e pastoral. É meu vivo desejo que os leigos com responsabilidades de ordem política, económica e social sejam dotados dum sólido conhecimento da doutrina social da Igreja, que proporciona princípios de acção conformes com o Evangelho. De facto, os fiéis leigos são « embaixadores de Cristo » (2 Cor 5, 20) no espaço público, no coração do mundo. O seu testemunho cristão só será credível, se forem profissionais competentes e honestos.
129. Os leigos, homens e mulheres, são chamados antes de mais à santidade, e a viver esta santidade no mundo. Amados fiéis, cultivai com solicitude a vossa vida interior e a vossa relação com Deus, de modo que o Espírito Santo vos ilumine em todas as circunstâncias. Para que a pessoa humana e o bem comum estejam, efectivamente, no centro da acção humana, política, económica ou social, uni-vos profundamente a Cristo a fim de O conhecerdes e amardes, reservando tempo para Deus na oração e abeirando-vos dos Sacramentos. Deixai-vos iluminar e instruir por Deus e pela sua Palavra.
130. Queria deixar uma palavra mais sobre o carácter particular da vida profissional do cristão. Em suma, trata-se de testemunhar Cristo no mundo, mostrando, pelo exemplo, que o trabalho não é primariamente um meio de granjeio mas pode ser também um espaço muito positivo de realização pessoal. O trabalho consente que tomeis parte na obra da criação e estejais ao serviço dos vossos irmãos e irmãs. Agindo assim, sereis « o sal da terra » e « a luz do mundo », como nos pede o Senhor. Qualquer que seja a vossa posição na sociedade, na vida diária, praticai a opção preferencial pelos pobres, segundo o espírito das Bem-aventuranças (cf. Mt 5, 3-12), para verdes neles concretamente o rosto de Jesus que vos chama a servi-Lo (cf. Mt 25, 31-46).
131. Pode ser útil organizar-vos em associações para continuardes a formação da vossa consciência cristã e vos apoiardes mutuamente na luta pela justiça e a paz. As « pequenas comunidades cristãs » – small christian communities (S.C.C.) ou communautés ecclésiales vivantes (C.E.V.) – e as « Comunidades novas » são estruturas basilares para alimentar a chama viva do vosso Baptismo. Ponde as vossas capacidades a render também na animação das universidades católicas, que não cessam de desenvolver-se na linha das recomendações da Exortação apostólica Ecclesia in Africa. De igual modo queria encorajar-vos a ter uma presença activa e corajosa no mundo da política, da cultura, das artes, dos media e das diversas associações. Seja uma presença sem complexos nem acanhamento, mas pundonorosa e consciente da preciosa contribuição que pode prestar ao bem comum.