I. O ENSINAMENTO DE JESUS NA PISCINA DE BETZATÁ
147. Amados irmãos no episcopado, queridos filhos e filhas da África, depois de ter passado em revista as principais acções e alguns meios propostos pela Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos para a realização da missão da Igreja, desejo voltar a alguns pontos já abordados antes de modo genérico.
148. São João, no capítulo V do seu evangelho, apresenta-nos um episódio comovente. Passa-se na piscina de Betzatá, que tinha cinco pórticos. « Neles jaziam numerosos doentes, cegos, coxos e paralíticos » (v. 3), que esperavam a agitação da água, isto é, o momento da cura. Entre eles, encontrava-se « um homem que padecia da sua doença há trinta e oito anos » (v. 5), mas não tinha ninguém para o ajudar a mergulhar na piscina. Sucede então que Jesus entra na sua vida. Tudo muda, quando Jesus lhe diz: « Levanta-te, toma a tua enxerga e anda » (v. 8). « E, no mesmo instante – diz o evangelista –, aquele homem ficou são » (v. 9). Já não precisava da água da piscina.
149. O acolhimento de Jesus proporciona à África uma cura mais profunda e eficaz do que todas as outras. Como declarou o apóstolo Pedro nos Actos dos Apóstolos (3, 6), repito que não é de ouro nem de prata que a África tem primariamente necessidade; o que ela mais deseja é pôr-se de pé como o homem da piscina de Betzatá, deseja ter confiança em si mesma, na sua dignidade de povo amado pelo seu Deus. Por isso, é este encontro com Jesus que a Igreja deve oferecer aos seus corações dilacerados e feridos, ardentemente desejosos de reconciliação e de paz, sedentos de justiça. Devemos oferecer e anunciar a Palavra de Cristo que cura, liberta e reconcilia.
II. A PALAVRA DE DEUS E OS SACRAMENTOS
A. A SAGRADA ESCRITURA
150. Segundo São Jerónimo, « a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo ». A leitura e a meditação da Palavra de Deus não só nos proporcionam « a maravilha que é o conhecimento de Jesus Cristo » (Flp 3, 8), mas também nos radicam mais profundamente em Cristo e orientam o nosso serviço de reconciliação, de justiça e de paz. A celebração da Eucaristia, cuja primeira parte é a liturgia da Palavra, constitui a fonte e o ápice de tal leitura e meditação. Por isso recomendo que se promova o apostolado bíblico em cada comunidade cristã, na família e nos movimentos eclesiais.
151. Possa cada fiel de Cristo ganhar o hábito da leitura diária da Bíblia. Uma leitura atenta da recente Exortação apostólica Verbum Domini fornecerá úteis indicações pastorais. Ter-se-á, pois, o cuidado de iniciar os fiéis na venerável e frutuosa tradição da lectio divina. É a Palavra de Deus que pode contribuir para o conhecimento de Jesus Cristo e realizar as conversões que levam à reconciliação, pois aquela discerne « os sentimentos e as intenções do coração » (Heb 4, 12). Os Padres sinodais encorajam as paróquias, as pequenas comunidades cristãs (S.C.C./C.E.V.), as famílias, as associações e os movimentos eclesiais a terem momentos de partilha da Palavra de Deus. Assim tornar-se-ão antes de mais lugares onde a Palavra de Deus, que edifica a comunidade dos discípulos de Cristo, é lida em conjunto, meditada e celebrada. Esta Palavra regenera continuamente a comunhão fraterna (cf. 1 Ped 1, 22-25).
B. A EUCARISTIA
152. Para edificar uma sociedade reconciliada, justa e pacífica, o meio mais eficaz é uma vida de íntima comunhão com Deus e com os outros. Com efeito, ao redor da mesa do Senhor, reúnem-se homens e mulheres de origem, cultura, raça, língua e etnia diversas. Formam uma só e idêntica unidade, graças ao Corpo e Sangue de Cristo. Através de Cristo-Eucaristia, tornam-se consanguíneos e, por conseguinte, autenticamente irmãos e irmãs, graças à Palavra, ao Corpo e Sangue do próprio Jesus Cristo. Este vínculo de fraternidade é mais forte do que o das nossas famílias humanas, do que o das nossas tribos. « Porque àqueles que Ele de antemão conheceu, também os predestinou para serem uma imagem idêntica à do seu Filho, de tal modo que Ele é o primogénito de muitos irmãos » (Rm 8, 29). O exemplo de Jesus torna-os capazes de se amarem, de darem a vida uns pelos outros, pois o amor com que cada um é amado deve comunicar-se em obras e verdade. Por isso é indispensável celebrar em comunidade o domingo, Dia do Senhor, bem como as festas de preceito.
153. Não quero fazer aqui uma exposição teológica sobre a Eucaristia; na Exortação apostólica pós-sinodal Sacramentum caritatis, delineei as suas grandes linhas. Limito-me, aqui, a exortar toda a Igreja na África a cuidar de modo particular a celebração da Eucaristia, memorial do Sacrifício de Jesus Cristo, sinal de unidade e vínculo de caridade, banquete pascal e penhor da vida eterna. A Eucaristia deve ser celebrada com dignidade e beleza, seguindo as normas estabelecidas. A Adoração Eucarística, pessoal e comunitária, permitirá aprofundar este grande mistério. Nesta linha, poder-se-ia celebrar um Congresso Eucarístico Continental; este sustentaria o esforço dos cristãos na sua solicitude por testemunhar os valores fundamentais de comunhão em todas as sociedades africanas.
154. Para que o mistério eucarístico seja respeitado, os Padres sinodais recordam que as igrejas e as capelas são lugares sagrados que se hão-de reservar unicamente para as celebrações litúrgicas, evitando, na medida do possível, que se tornem simplesmente espaços de socialização ou espaços culturais. Convém promover a sua função primária: ser um lugar privilegiado de encontro entre Deus e o seu povo, entre Deus e a sua criatura fiel. Além disso convém velar para que a arquitectura dos edifícios de culto seja digna do mistério celebrado e de acordo com a legislação eclesial e o estilo local. Estas construções devem ser feitas sob a responsabilidade dos bispos, depois de terem ouvido o parecer de pessoas competentes em liturgia e arquitectura. Oxalá se possa dizer ao transpor o seu limiar: « O Senhor está realmente neste lugar (…). Aqui é a casa de Deus, aqui é a porta do céu » (Gn 28, 16.17). De igual forma se pode afirmar que estes lugares atingirão o seu objectivo, se forem uma ajuda para a comunidade – regenerada na Eucaristia e demais sacramentos – prolongar a celebração na vida social, perpetuando o exemplo do próprio Cristo (cf. Jo 13, 15). Esta « coerência eucarística » interpela toda a consciência cristã (cf. 1 Cor 11, 17-34).
C. A RECONCILIAÇÃO
155. Para ajudar as sociedades africanas a curarem-se das feridas da divisão e do ódio, os Padres sinodais convidam a Igreja a lembrar-se de que traz dentro de si as mesmas feridas e amarguras. Por isso precisa que o Senhor a cure a fim de testemunhar, de maneira credível, que o sacramento da Reconciliação restabelece e cura os corações feridos. Este sacramento renova os vínculos quebrados entre a pessoa humana e Deus, e restaura os laços na sociedade. Educa também os nossos corações e as nossas mentes para aprendermos a ter « o mesmo pensar e os mesmos sentimentos, o amor de irmãos, a misericórdia e a humildade » (1 Ped 3, 8).
156. Lembro a confissão individual, que é tão importante que nenhum outro acto de Reconciliação nem qualquer outra paraliturgia a podem substituir. Por isso encorajo todos os fiéis da Igreja – clero, pessoas consagradas e leigos – a darem de novo o verdadeiro lugar ao sacramento da Reconciliação, na sua dupla dimensão pessoal e comunitária. As comunidades, que não têm sacerdotes por causa das distâncias ou por outras razões, podem viver o carácter eclesial da penitência e da reconciliação através de formas não sacramentais. Também deste modo se podem unir ao caminho penitencial da Igreja os cristãos em situação irregular. Como indicaram os Padres sinodais, a forma não sacramental pode ser considerada como um meio de preparação dos fiéis para uma recepção frutuosa do sacramento, mas não poderá tornar-se uma norma habitual e menos ainda substituir o próprio sacramento. Com todo o coração exorto os sacerdotes a viverem pessoalmente este sacramento e a tornarem-se verdadeiramente disponíveis para a sua celebração.
157. Para encorajar a reconciliação, a nível comunitário, recomendo vivamente – como desejaram os Padres sinodais – que se celebre todos os anos, em cada país africano, « um dia ou uma semana de reconciliação, particularmente durante o Advento ou a Quaresma ». O Simpósio das Conferências Episcopais da África e de Madagáscar (S.C.E.A.M.) poderá contribuir para a sua realização e, de acordo com a Santa Sé, promover um Ano da Reconciliação a nível continental para pedir a Deus um perdão especial para todos os males e feridas que os seres humanos se infligiram uns aos outros na África, e para que se reconciliem as pessoas e os grupos que foram ofendidos na Igreja e no conjunto da sociedade. Tratar-se-á de um Ano Jubilar extraordinário « durante o qual a Igreja na África e nas ilhas adjacentes dá graças com a Igreja universal e pede para receber os dons do Espírito Santo », especialmente o dom da reconciliação, da justiça e da paz.
158. Para tais celebrações, será útil seguir este conselho dos Padres sinodais: « Oxalá a memória das grandes testemunhas que gastaram a sua vida ao serviço do Evangelho e do bem comum ou em defesa da verdade e dos direitos humanos seja guardada e recordada fielmente ». A este respeito, lembro que os santos são as verdadeiras estrelas da nossa vida, « as pessoas que souberam viver com rectidão. Elas são luzes de esperança. Certamente, Jesus Cristo é a luz por antonomásia, o sol erguido sobre todas as trevas da história. Mas, para chegar até Ele, precisamos também de luzes vizinhas, de pessoas que dão luz recebida da luz d’Ele e oferecem, assim, orientação para a nossa travessia ».
III. A NOVA EVANGELIZAÇÃO
159. Antes de concluir este documento, quero voltar uma vez mais à tarefa da Igreja na África que é a de se empenhar na evangelização, na missio ad gentes, e também na nova evangelização, para que a fisionomia do continente africano se modele cada vez mais pelo ensinamento sempre actual de Cristo, verdadeira « luz do mundo » e autêntico « sal da terra ».
A. PORTADORES DE CRISTO, « LUZ DO MUNDO »
160. A obra premente da evangelização realiza--se de maneira diversificada segundo a situação específica de cada país. « Em sentido próprio, temos a missio ad gentes dirigida àqueles que não conhecem Cristo. Em sentido lato, fala-se de “evangelização” para referir o aspecto ordinário da pastoral, e de “nova evangelização” para a pastoral com aqueles que abandonaram a praxis cristã ». Somente a evangelização que é animada pela força do Espírito Santo se torna a « lei nova do Evangelho » e produz frutos espirituais. O âmago de toda a actividade evangelizadora é o anúncio da Pessoa de Jesus, o Verbo de Deus encarnado (cf. Jo 1, 14), morto e ressuscitado, presente para sempre na comunidade dos fiéis, na sua Igreja (cf. Mt 28, 20). Trata-se duma tarefa urgente, e não só para a África mas para o mundo inteiro, porque a missão que Cristo redentor confiou à sua Igreja ainda não alcançou a plena realização.
161. O « Evangelho de Jesus Cristo, Filho de Deus » (Mc 1, 1) é o caminho seguro para encontrar a Pessoa do Senhor Jesus. Perscrutar as Escrituras permite-nos descobrir cada vez mais o verdadeiro rosto de Jesus, revelação de Deus Pai (cf. Jo 12, 45), e a sua obra de salvação. « Redescobrir a centralidade da Palavra de Deus na vida cristã faz-nos encontrar o sentido mais profundo daquilo que João Paulo II incansavelmente lembrou: continuar a missio ad gentes e empreender com todas as forças a nova evangelização ».
162. Guiada pelo Espírito Santo, a Igreja na África deve anunciar – vivendo-o – o mistério da salvação àqueles que ainda não o conhecem. O Espírito Santo, que os cristãos receberam no Baptismo, é o fogo de amor que impele à acção evangelizadora. Depois do Pentecostes, os discípulos, « cheios do Espírito Santo » (Act 2, 4), saíram do Cenáculo – onde, por medo, se tinham trancado – para proclamar a Boa Notícia de Jesus Cristo. O acontecimento do Pentecostes permite-nos compreender melhor a missão dos cristãos, « luz do mundo » e « sal da terra », no continente africano. É próprio da luz difundir-se e iluminar os numerosos irmãos e irmãs que ainda estão nas trevas. A missio ad gentes compromete todos os cristãos da África. Animados pelo Espírito, devem ser portadores de Jesus Cristo, « luz do mundo », ao continente inteiro, em todos os domínios da vida pessoal, familiar e social. Os Padres sinodais assinalaram « a urgência e a necessidade da evangelização, que é a missão e a verdadeira identidade da Igreja ».
B. TESTEMUNHAS DE CRISTO RESSUSCITADO
163. O Senhor Jesus continua hoje a exortar os cristãos da África a pregarem, em seu Nome, « a conversão para o perdão dos pecados a todos os povos » (Lc 24, 47). Por isso, são chamados a ser testemunhas do Senhor ressuscitado (cf. Lc 24, 48). Os Padres sinodais sublinharam que a evangelização « consiste essencialmente em dar testemunho de Cristo com a força do Espírito através da vida, e depois por meio da palavra, num espírito de abertura aos outros, de respeito e diálogo com eles, atendo-se aos valores do Evangelho ». No caso específico da Igreja na África, este testemunho deve estar ao serviço da reconciliação, da justiça e da paz.
164. O anúncio do Evangelho deve reencontrar o ardor dos primórdios da evangelização do continente africano, atribuída ao evangelista Marcos, ao qual se seguiu uma « falanje inumerável de santos, mártires, confessores, virgens ». Com gratidão, é preciso aprender o entusiasmo dos numerosos missionários que, durante vários séculos, sacrificaram a vida para levar a Boa Notícia aos seus irmãos e irmãs africanos. Ao longo destes últimos anos, a Igreja comemorou em diversos países significativas efemérides jubilares da evangelização, comprometendo-se, justamente, a difundir o Evangelho no meio daqueles que ainda não conhecem o nome de Jesus Cristo.
165. Para que este esforço se torne cada vez mais eficaz, a missio ad gentes deve caminhar lado a lado com a nova evangelização. Não são raras, mesmo na África, as situações que requerem uma nova apresentação do Evangelho, « nova no seu entusiasmo, nos seus métodos e nas suas expressões ». De modo particular, a nova evangelização deve integrar a dimensão intelectual da fé na experiência viva do encontro com Jesus Cristo presente e operante na comunidade eclesial, porque, na origem do facto de ser cristão, não está uma decisão ética nem uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa, que dá à vida um novo horizonte e consequentemente a sua orientação decisiva. Por isso a catequese deve integrar a parte teórica, constituída por noções aprendidas de memória, com a parte prática, vivida ao nível litúrgico, espiritual, eclesial, cultural e caritativo, a fim de que a semente da Palavra de Deus, caída num terreno fértil, lance profundas raízes e possa crescer e chegar à maturação.
166. Mas, para que isto aconteça, é indispensável empregar os novos métodos que hoje temos à nossa disposição. Quando se trata dos meios de comunicação social, de que já falei, é preciso não esquecer um ponto por mim sublinhado recentemente na Exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini: « São Tomás de Aquino, mencionando Santo Agostinho, insiste vigorosamente: “A letra do Evangelho também mata, se faltar a graça interior da fé que cura” ». Cientes desta exigência, é preciso ter sempre presente que nenhum meio pode nem deve substituir o contacto pessoal, o anúncio verbal, bem como o testemunho de uma vida cristã autêntica. Este contacto pessoal e este anúncio verbal devem exprimir a fé viva, que compromete e transforma a existência, e o amor de Deus, que alcança e toca cada um tal como é.
C. MISSIONÁRIOS SEGUINDO CRISTO
167. A Igreja que caminha na África é chamada a contribuir também para a nova evangelização dos países secularizados, donde outrora provinham numerosos missionários e que hoje, infelizmente, carecem de vocações sacerdotais e para a vida consagrada. Entretanto há já um grande número de africanos e africanas que acolheram o convite do Senhor da messe (cf. Mt 9, 37-38) para trabalhar na sua vinha (cf. Mt 20, 1-16). Sem diminuir o zelo missionário ad gentes nos respectivos países, e mesmo no continente inteiro, os bispos da África devem acolher com generosidade o apelo dos seus irmãos dos países que carecem de vocações e acudir aos fiéis privados de sacerdote. Esta colaboração, que deve ser regulada através de acordos entre a Igreja que envia e aquela que recebe, torna-se um sinal concreto de fecundidade da missio ad gentes. Esta, abençoada pelo Senhor, Bom Pastor (cf. Jo 10, 11-18), fornece assim um precioso apoio à nova evangelização nos países de antiga tradição cristã.
168. O anúncio da Boa Nova faz nascer na Igreja novas expressões, apropriadas às necessidades dos tempos, das culturas e às expectativas dos homens. O Espírito Santo não deixa de suscitar, também na África, homens e mulheres, que, reunidos em várias associações, movimentos e comunidades, consagram a sua vida à difusão do Evangelho de Jesus Cristo. Segundo a exortação do Apóstolo dos gentios – « não apagueis o Espírito; não desprezeis as profecias. Examinai tudo, guardai o que é bom. Afastai-vos de toda a espécie de mal » (1 Ts 5, 19-22) –, os Pastores têm o dever de velar para que estas novas expressões da perene fecundidade do Evangelho se integrem na acção pastoral das paróquias e dioceses.
169. Amados irmãos e irmãs, à luz do tema da segunda Assembleia Especial para a África, a nova evangelização diz respeito particularmente ao serviço da Igreja a favor da reconciliação, da justiça e da paz. Por conseguinte, é necessário acolher a graça do Espírito Santo, que nos convida: « Reconciliai-vos com Deus » (2 Cor 5, 20). Deste modo os cristãos são todos convidados a reconciliar-se com Deus; sereis então capazes de vos tornar obreiros da reconciliação dentro das comunidade eclesiais e sociais onde viveis e trabalhais. A nova evangelização supõe a reconciliação dos cristãos com Deus e consigo mesmo; aquela exige a reconciliação com o próximo, a superação de todo o tipo de barreiras, como por exemplo as da língua, da cultura e da raça. Somos todos filhos de um único Deus e Pai, que « faz com que o sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justos e os pecadores » (Mt 5, 45).
170. Deus abençoará um coração reconciliado, concedendo-lhe a sua paz. Assim o cristão tornar-se-á um obreiro da paz (cf. Mt 5, 9), na medida em que, radicado na graça divina, colabore com o seu Criador para a construção e a promoção do dom da paz. Reconciliado, o fiel tornar-se-á também promotor da justiça em toda a parte, sobretudo nas sociedades africanas divididas, à mercê da violência e da guerra, que têm fome e sede da verdadeira justiça. O Senhor convida-nos: « Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo » (Mt 6, 33).
171. A nova evangelização é uma tarefa urgente para os cristãos na África, porque também eles devem reavivar o seu entusiasmo de pertencer à Igreja. Sob a inspiração do Espírito do Senhor ressuscitado, são chamados a viver, a nível pessoal, familiar e social, a Boa Nova e a anunciá-
-la, com renovado zelo, às pessoas vizinhas e distantes, empregando para a sua difusão os novos métodos que Providência divina põe à nossa disposição. Louvando a Deus Pai pelas maravilhas que continua a realizar em cada um dos membros da sua Igreja, os fiéis são convidados a vivificar a sua vocação cristã na fidelidade à Tradição eclesial viva. Abertos à inspiração do Espírito Santo, que continua a suscitar diferentes carismas na Igreja, os cristãos devem continuar ou iniciar com determinação o caminho da santidade, para se tornarem cada dia mais apóstolos da reconciliação, da justiça e da paz.