91. A Eucaristia é também o grande sacramento que significa e realiza a unidade da Igreja, celebrando-se «para que, de estranhos, dispersos e indiferentes uns aos outros, nos tornemos unidos, iguais e amigos». Quem preside à Eucaristia deve ter a peito a comunhão, que, longe de ser uma unidade empobrecida, acolhe a múltipla riqueza de dons e carismas que o Espírito derrama na comunidade.
92. Ora a Eucaristia, como fonte e cume, exige que se desenvolva esta riqueza multiforme. São necessários sacerdotes, mas isto não exclui que ordinariamente os diáconos permanentes – deveriam ser muitos mais na Amazónia –, as religiosas e os próprios leigos assumam responsabilidades importantes em ordem ao crescimento das comunidades e maturem no exercício de tais funções, graças a um adequado acompanhamento.
93. Portanto não se trata apenas de facilitar uma presença maior de ministros ordenados que possam celebrar a Eucaristia. Isto seria um objetivo muito limitado, se não procurássemos também suscitar uma nova vida nas comunidades. Precisamos de promover o encontro com a Palavra e o amadurecimento na santidade por meio de vários serviços laicais, que supõem um processo de maturação – bíblica, doutrinal, espiritual e prática – e distintos percursos de formação permanente.
94. Uma Igreja de rostos amazónicos requer a presença estável de responsáveis leigos, maduros e dotados de autoridade, que conheçam as línguas, as culturas, a experiência espiritual e o modo de viver em comunidade de cada lugar, ao mesmo tempo que deixem espaço à multiplicidade dos dons que o Espírito Santo semeia em todos. Com efeito, onde houver uma necessidade peculiar, Ele já infundiu carismas que permitam dar-lhe resposta. Isto requer na Igreja capacidade para abrir estradas à audácia do Espírito, confiar e concretamente permitir o desenvolvimento duma cultura eclesial própria, marcadamente laical. Os desafios da Amazónia exigem da Igreja um esforço especial para conseguir uma presença capilar que só é possível com um incisivo protagonismo dos leigos.
95. Muitas pessoas consagradas gastaram as suas energias e grande parte da sua vida pelo Reino de Deus na Amazónia. A vida consagrada, capaz de diálogo, síntese, encarnação e profecia, ocupa um lugar especial nesta configuração plural e harmoniosa da Igreja amazónica. Mas faz-lhes falta um novo esforço de inculturação, que ponha em jogo a criatividade, a audácia missionária, a sensibilidade e a força peculiar da vida comunitária.
96. As comunidades de base, sempre que souberam integrar a defesa dos direitos sociais com o anúncio missionário e a espiritualidade, foram verdadeiras experiências de sinodalidade no caminho evangelizador da Igreja na Amazónia. Muitas vezes «têm ajudado a formar cristãos comprometidos com a sua fé, discípulos e missionários do Senhor, como o testemunha a entrega generosa, até derramar o sangue, de muitos dos seus membros».
97. Encorajo o aprofundamento do serviço conjunto que se realiza através da REPAM e outras associações com o objetivo de consolidar aquilo que solicitava Aparecida: «estabelecer, entre as Igrejas locais de diversos países sul-americanos que estão na bacia amazónica, uma pastoral de conjunto com prioridades diferenciadas». Isto vale especialmente para a relação entre as Igrejas confinantes.
98. Por fim, quero lembrar que nem sempre podemos pensar em projetos para comunidades estáveis, porque na Amazónia há uma grande mobilidade interna, uma migração constante, muitas vezes pendular, e «a região transformou-se efetivamente num corredor migratório». A «transumância amazónica não foi bem compreendida nem suficientemente elaborada do ponto de vista pastoral». Por isso devemos pensar em grupos missionários itinerantes e «apoiar a inserção e a itinerância dos consagrados e consagradas ao lado dos mais desfavorecidos e excluídos». Por outro lado, isto desafia as nossas comunidades urbanas, que deveriam cultivar com inteligência e generosidade, especialmente nas periferias, várias formas de proximidade e receção às famílias e jovens que chegam ao território.