172. Amados irmãos e irmãs, a última palavra do Sínodo foi um apelo à esperança, lançado à África. Mas tal apelo será vão, se não se radicar no amor trinitário. De Deus, Pai de todos, recebemos a missão de transmitir à África o amor com que Cristo, o Filho primogénito, nos amou, a fim de que a nossa acção, animada pelo seu Espírito Santo, seja sustentada pela esperança e, ao mesmo tempo, se torne fonte de esperança. No desejo de facilitar a concretização das orientações do Sínodo em assuntos tão incisivos como são a reconciliação, a justiça e a paz, peço que os « teólogos continuem a sondar a profundidade do mistério trinitário e o seu significado para o hoje africano ». Dado que é única a vocação de todo o homem, não deixemos apagar-se em nós o impulso vital da reconciliação da humanidade com Deus através do mistério da nossa salvação em Cristo. A redenção é a razão da credibilidade e firmeza da nossa esperança, « graças à qual podemos enfrentar o nosso tempo presente: o presente, ainda que custoso, pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar seguros desta meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do caminho ».
173. Volto a dizê-lo: « Levanta-te, Igreja na África, (…) porque te chama o Pai celeste que os teus antepassados invocavam como Criador, antes de conhecer a sua proximidade misericordiosa, revelada no seu Filho unigénito, Jesus Cristo. Empreende o caminho duma nova evangelização, com a coragem que provém do Espírito Santo ».
174. O rosto que assume hoje a evangelização é o da reconciliação, « condição indispensável para instaurar na África relações de justiça entre os homens e para construir uma paz equitativa e duradoura no respeito de cada indivíduo e de todos os povos; uma paz que (…) se abre à contribuição de todas as pessoas de boa vontade, independentemente das respectivas afiliações religiosas, étnicas, linguísticas culturais e sociais ». Que a Igreja Católica inteira acompanhe, com a sua amizade, os irmãos e irmãs do continente africano. Que os santos da África os amparem com a sua intercessão.
175. « São José, como bom dono de casa que pessoalmente conhece bem o que significa ponderar, em atitude de solicitude e de esperança, os caminhos futuros da família, [e que] amorosamente nos escutou e acompanhou até ao próprio Sínodo », proteja e acompanhe a Igreja na sua missão ao serviço da África, terra onde encontrou refúgio e protecção para a Sagrada Família (cf. Mt 2, 13-15). A bem-aventurada Virgem Maria, Mãe do Verbo de Deus e Nossa Senhora da África, continue a acompanhar toda a Igreja com a sua intercessão e os seus apelos a fazer tudo o que o seu Filho disser (cf. Jo 2, 5). Que a oração de Maria, Rainha da Paz, cujo coração está sempre orientado para a vontade de Deus, sustente todo o esforço de conversão, consolide toda a iniciativa de reconciliação e torne eficaz todo o esforço a favor da paz num mundo que tem fome e sede de justiça (cf. Mt 5, 6).
176. Amados irmãos e irmãs, o Senhor bom e misericordioso, através da segunda Assembleia Especial para a África do Sínodo dos Bispos, lembra de maneira premente que « vós sois o sal da terra (…), a luz do mundo » (Mt 5, 13.14). Que estas palavras vos recordem a dignidade da vossa vocação de filhos de Deus, membros da Igreja una, santa, católica e apostólica. Tal vocação consiste em difundir, num mundo muitas vezes tenebroso, a claridade do Evangelho, o esplendor de Jesus Cristo, verdadeira luz que « a todo o homem ilumina » (Jo 1, 9). Além disso, os cristãos devem oferecer aos homens o gosto de Deus Pai, a alegria da sua presença criadora no mundo. São chamados também a colaborar com a graça do Espírito Santo, para que continue o milagre do Pentecostes no continente africano, e cada um se torne sempre mais apóstolo da reconciliação, da justiça e da paz.
177. Possa a Igreja Católica na África ser sempre um dos pulmões espirituais da humanidade e tornar-se cada dia mais uma bênção para o nobre continente africano e para o mundo inteiro.
Dado em Ouidah, Benim, no dia 19 de Novembro do ano 2011, sétimo do meu Pontificado.
BENEDICTUS PP. XVI