16. O pensamento cristão considera as faculdades intelectuais no contexto de uma antropologia integral que concebe o ser humano como um ser essencialmente encarnado. Na pessoa humana, espírito e matéria “não são duas naturezas unidas, mas sua união forma uma única natureza” [23]. Em outras palavras, a alma não é a “parte” imaterial da pessoa contida no corpo, assim como o corpo não é o invólucro externo de um “núcleo” sutil e impalpável, mas o ser humano é, ao mesmo tempo, tanto material quanto espiritual. Esse modo de pensar reflete o ensino da Sagrada Escritura, que apresenta a pessoa humana como um ser que vive suas relações com Deus e com os outros – sua dimensão espiritual – dentro e por meio de sua existência corporal [24]. O significado profundo dessa condição ganha ainda mais luz com o mistério da Encarnação, por meio do qual o próprio Deus assumiu nossa carne, que “também em nós foi elevada a uma dignidade sublime” [25].
17. Embora profundamente enraizada em uma existência corporal, a pessoa humana transcende o mundo material por meio de sua alma, que “se encontra como que no horizonte da eternidade e do tempo” [26]. A capacidade de transcendência do intelecto e o autodomínio da vontade livre pertencem a essa dimensão, na qual o ser humano “participa da luz da mente de Deus” [27]. Apesar disso, o espírito humano não opera sua modalidade normal de conhecimento sem o corpo [28]. Assim, as capacidades intelectuais do ser humano são parte integrante de uma antropologia que reconhece sua “unidade de alma e corpo” [29]. Outros aspectos dessa visão serão desenvolvidos a seguir.