GESTOS QUE REFLETEM O CORAÇÃO

GESTOS QUE REFLETEM O CORAÇÃO

33. O modo como nos ama é algo que Cristo não quis explicar-nos exaustivamente. Mostra-o nos seus gestos. Observando-O, podemos descobrir como trata cada um de nós, mesmo que nos custe perceber isso. Procuremos, pois, onde a nossa fé pode reconhecê-Lo: no Evangelho.

 

34. O Evangelho diz que Jesus «veio para os seus» (Jo 1, 11). Os “seus” somos nós, pois não nos trata como algo estranho. Considera-nos como propriedade sua, que guarda com cuidado, com afeto. Trata-nos como seus. Isto não significa que sejamos seus escravos; Ele próprio o nega: «Não vos chamo servos» (Jo 15, 15). O que Ele propõe é a pertença mútua dos amigos. Veio, superou todas as distâncias, tornou-se próximo de nós, como as coisas mais simples e quotidianas da existência. Efetivamente, Ele tem outro nome, que é “Emanuel” e significa “Deus conosco”, Deus próximo à nossa vida, vivendo entre nós. O Filho de Deus encarnou e «esvaziou-se a si mesmo, tomando a condição de servo» (Fl 2, 7).

 

35. Isto se torna evidente quando vemos o modo como age. Está sempre à procura, sempre próximo, sempre aberto ao encontro. Contemplamos isto quando se detém a conversar com a Samaritana, junto do poço onde ela ia buscar água (cf. Jo 4, 5-7). Vemo-lo quando, no meio da noite escura, encontra Nicodemos, que tinha medo de ser visto perto d’Ele (cf. Jo 3, 1-2). Admiramo-lo quando, sem se envergonhar, deixa que uma prostituta lhe lave os pés (cf. Lc 7, 36-50); quando diz, olhos nos olhos, à mulher adúltera: “Não te condeno” (Jo 8, 11); ou quando, perante a indiferença dos discípulos, diz afetuosamente ao cego do caminho: “Que queres que te faça?” (Mc 10, 51). Cristo mostra que Deus é proximidade, compaixão e ternura.

 

36. Se curava alguém, preferia aproximar-se: «Jesus estendeu a mão e tocou-o» ( Mt 8, 3); «tocou-lhe na mão» ( Mt 8, 15); «tocou-lhes nos olhos» ( Mt 9, 29). E, como faz uma mãe, curou os doentes até com a própria saliva (cf. Mc 7, 33) para que não O sentissem alheio às suas vidas. Porque «o Senhor conhece a bela ciência das carícias. A ternura de Deus não nos ama com palavras; aproxima-se de nós e, estando perto, dá-nos o seu amor com toda a ternura possível».

 

37. Visto que nos custa confiar, porque fomos feridos por tantas falsidades, agressões e desilusões, ele sussurra-nos ao ouvido: «Filho, tem confiança» (Mt 9, 2); «Filha, tem confiança» (Mt 9, 22). Trata-se de vencer o medo e de tomar consciência de que, com Ele, não temos nada a perder. A Pedro, que estava desconfiado, «Jesus estendeu-lhe a mão, segurou-o e disse-lhe: […] “Porque duvidaste?”» (Mt 14, 31). Não tenhas medo. Deixa-O aproximar-se e sentar-se ao teu lado. Podemos duvidar de muitas pessoas, mas não d’Ele. E não te paralises por causa dos teus pecados.Recorda-te que muitos pecadores «sentaram-se com Ele» (Mt 9, 10) e Jesus não se escandalizou com nenhum deles. Os elitistas da religião queixavam-se e chamavam-Lhe «glutão e bebedor de vinho, amigo de cobradores de impostos e pecadores» (Mt 11, 19). Quando os fariseus criticavam esta sua proximidade com as pessoas consideradas humildes ou pecadoras, Jesus dizia-lhes: «Prefiro a misericórdia ao sacrifício» (Mt 9, 13).

 

38. Esse mesmo Jesus espera hoje que lhe dês a possibilidade de iluminar a tua existência, de erguer-te, de encher-te com a sua força. Porque, antes de morrer, disse aos seus discípulos: «Não vos deixarei órfãos; Eu voltarei a vós! Ainda um pouco e o mundo já não me verá; vós é que me vereis» (Jo 14, 18-19). Ele consegue sempre uma maneira para se manifestar na tua vida, para que tu O possas encontrar.

 

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