II. VIVER UNIDOS

II. VIVER UNIDOS

A. A FAMÍLIA

 

42. A família é o « santuário da vida » e célula vital da sociedade e da Igreja. É nela que « se plasma o rosto de um povo; é nela que os seus membros adquirem os ensinamentos fundamentais. Nela aprendem a amar, enquanto são amados gratuitamente; aprendem o respeito por qualquer outra pessoa, enquanto são respeitados; aprendem a conhecer o rosto de Deus, enquanto recebem a sua primeira revelação de um pai e de uma mãe cheios de atenção. Sempre que falham estas experiências basilares, a sociedade no seu conjunto sofre violência e torna-se, por sua vez, geradora de múltiplas violências ».

 

43. A família é, sem dúvida, o lugar propício para a aprendizagem e a prática da cultura do perdão, da paz e da reconciliação. « Numa vida familiar sã, experimentam-se algumas componentes fundamentais da paz: a justiça e o amor entre irmãos e irmãs, a função da autoridade manifestada pelos pais, o serviço carinhoso aos membros mais débeis porque pequenos, doentes ou idosos, a mútua ajuda nas necessidades da vida, a disponibilidade para acolher o outro e, se necessário, perdoá-lo. Por isso a família é a primeira e insubstituível educadora para a paz ». Em virtude desta sua importância capital e das ameaças que gravam sobre a instituição – a distorção do conceito de matrimónio e mesmo de família, a desvalorização da maternidade e a banalização do aborto, a facilitação do divórcio e o relativismo duma « nova ética » –, a família precisa de ser protegida e defendida, para poder prestar à sociedade o serviço que dela se espera, isto é, dar-lhe homens e mulheres capazes de construir um tecido social de paz e harmonia.

 

44. Por isso encorajo vivamente as famílias a haurirem inspiração e força no sacramento da Eucaristia, para viver a novidade radical trazida por Cristo ao coração das condições comuns da existência; novidade que leva cada pessoa a ser uma testemunha capaz de irradiar luz no seu ambiente de trabalho e na sociedade inteira. « O amor entre o homem e a mulher, o acolhimento da vida, a missão educadora aparecem como âmbitos privilegiados onde a Eucaristia pode mostrar a sua capacidade de transformar e encher de significado a existência ».[79] Vê-se claramente que a participação na Eucaristia dominical é exigida pela consciência cristã e, ao mesmo tempo, forma-a.

 

45. Aliás reservar na família o lugar devido à oração, pessoal e comunitária, significa respeitar um princípio essencial da visão cristã da vida: o primado da graça. A oração recorda-nos constantemente o primado de Cristo e, relacionado com ele, o primado da vida interior e da santidade. O diálogo com Deus abre o coração ao fluxo da graça e permite à Palavra de Cristo passar através de nós com toda a sua força! Para isso é necessária, no seio das famílias, a escuta assídua e a leitura atenta da Sagrada Escritura.

 

46. Além disso, « a missão educativa da família cristã é um verdadeiro ministério, através do qual é transmitido e irradiado o Evangelho, a tal ponto que toda a vida familiar se torna itinerário de fé e, em certa medida, iniciação cristã e escola de vida para seguir a Cristo. Na família consciente deste dom, como escreveu Paulo VI, “todos os membros evangelizam e são evangelizados”. Em virtude deste ministério da educação, os pais, através do seu testemunho de vida, são os primeiros anunciadores do Evangelho junto dos seus filhos. (…) Tornam-se plenamente pais, no sentido que geram não só para a vida segundo a carne mas também para aquela que, através do renascimento no Espírito, brota da Cruz e da Ressurreição de Cristo ».

 

B. AS PESSOAS IDOSAS

 

47. Na África, as pessoas idosas são rodeadas duma veneração particular. Não são banidas das famílias ou marginalizadas, como sucede noutras culturas; pelo contrário, são estimadas e perfeitamente integradas na sua própria família, da qual constituem o vértice. Esta bela realidade africana deveria inspirar as sociedades ocidentais para acolherem a velhice com maior dignidade. A Sagrada Escritura fala, com frequência, das pessoas idosas. « A experiência consumada é coroa dos anciãos, e o temor do Senhor é a sua glória » (Sir 25, 6). A velhice, apesar da fragilidade que parece caracterizá-la, é um dom que convém viver diariamente na serena disponibilidade para com Deus e o próximo. É também o tempo da sabedoria, porque o tempo vivido ensinou a grandeza e a precariedade da vida. E, enquanto homem de fé, o velho Simeão profere, com entusiasmo e sabedoria, não um adeus angustiado à vida mas uma acção de graças ao Salvador do mundo (cf. Lc 2, 25-32).

 

48. É por causa desta sabedoria, adquirida por vezes a caro preço, que as pessoas idosas podem agir de diversas maneiras sobre a família. A sua experiência leva-as, naturalmente, não só a preencher o fosso entre as gerações mas também a afirmar a necessidade da interdependência humana. São um tesouro para todos os componentes da família, sobretudo para os casais jovens e os filhos que neles encontram compreensão e amor. Não tendo transmitido apenas a vida, as pessoas idosas contribuem, pelo seu comportamento, para consolidar a sua família (cf. Tt 2, 2-5) e, pela sua oração e vida de fé, para enriquecer espiritualmente todos os membros da sua família e da comunidade.

 

49. Na África, muitas vezes a estabilidade e a ordem social estão ainda confiadas a um conselho de anciãos ou a chefes tradicionais. Através destas formas, as pessoas idosas podem contribuir de maneira eficaz para a edificação duma sociedade mais justa que progride, não em virtude de experiências talvez temerárias, mas gradualmente e com um equilíbrio prudente. As pessoas idosas poderão assim, pela sua sabedoria e experiência, participar na reconciliação das pessoas e das comunidades.

 

50. A Igreja considera com muita estima as pessoas idosas. Com o Beato João Paulo II, desejo reiterar-vos: « A Igreja precisa de vós. Mas também a sociedade civil tem necessidade de vós. (…) Sabei empregar com generosidade o tempo que tendes à disposição e os talentos que Deus vos concedeu (…). Contribuí para anunciar o Evangelho (…). Dedicai tempo e energias à oração ».

 

C. OS HOMENS

 

51. Na família, os homens têm uma missão particular a cumprir. Pela sua função de maridos e pais, desempenham a nobre responsabilidade de dar à sociedade os valores de que a mesma tem necessidade, através da relação conjugal e da educação dos filhos.

 

52. Com os Padres sinodais, encorajo os homens católicos a contribuírem verdadeiramente, nas suas famílias, para a educação humana e cristã dos filhos, o acolhimento e a protecção da vida desde o momento da sua concepção. Convido-os a estabelecer um estilo cristão de vida, enraizado e alicerçado no amor (cf. Ef 3, 17). Com São Paulo, repito-lhes: « Amai as vossas mulheres, como Cristo amou a Igreja e Se entregou por ela (…). Os maridos devem amar as suas mulheres, como o seu próprio corpo. Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. De facto, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo; pelo contrário (…) cuida dele, como Cristo faz à Igreja » (Ef 5, 25.28-29). Não tenhais medo de tornar visível e palpável que não há amor maior do que dar a própria vida por aqueles que se ama (cf. Jo 15, 13), isto é, em primeiro lugar a sua esposa e os seus filhos. Cultivai uma alegria serena no vosso lar! O matrimónio – dizia São Fulgêncio de Ruspas – é um « dom do Senhor ». O testemunho por vós prestado à dignidade inviolável de cada pessoa humana será um antídoto eficaz para lutar contra algumas práticas tradicionais que são contrárias ao Evangelho e que oprimem particularmente as mulheres.

 

53. Manifestando e vivendo na terra a própria paternidade de Deus (cf. Ef 3, 15), sois chamados a garantir o desenvolvimento pessoal de todos os membros da família, sendo esta o berço e o meio mais eficaz para humanizar a sociedade, o lugar de encontro de várias gerações. Por meio da dinâmica criadora da própria Palavra de Deus, cresça o vosso sentido da responsabilidade até vos empenhardes concretamente na Igreja. Esta tem necessidade de testemunhas convictas e eficazes da fé, que promovam a reconciliação, a justiça e a paz e prestem a sua contribuição entusiasta e corajosa para a transformação do ambiente de vida e da sociedade no seu conjunto. Vós sois estas testemunhas através do vosso trabalho, que permite assegurar regularmente a vossa subsistência e a da vossa família. Mais ainda, oferecendo a Deus este trabalho, sois associados à obra redentora de Jesus Cristo, que conferiu ao trabalho uma dignidade sublime, trabalhando com as suas próprias mãos em Nazaré.

 

54. A qualidade e a capacidade de irradiação da vossa vida cristã depende duma vida de oração profunda, alimentada pela Palavra de Deus e pelos Sacramentos. Por isso sede cuidadosos em manter viva esta dimensão essencial do vosso compromisso cristão; nela, encontram a fonte do seu dinamismo o vosso testemunho de fé nas tarefas diárias e a vossa participação nos movimentos eclesiais. Procedendo assim, tornar-vos-eis também exemplos que os jovens quererão imitar e, deste modo, podeis ajudá-los a entrar numa vida adulta responsável. Não tenhais medo de lhes falar de Deus e de os introduzir, com o vosso exemplo, na vida de fé e no compromisso com as actividades sociais ou caritativas, levando-os a descobrir verdadeiramente que são criados à imagem e semelhança de Deus: « Os sinais desta imagem divina no homem podem ser reconhecidos, não na forma do corpo que se corrompe, mas na prudência da inteligência, na justiça, na moderação, na coragem, na sabedoria e na instrução ».

 

D. AS MULHERES

 

55. Na África, as mulheres prestam um grande contributo à família, à sociedade e à Igreja com os seus numerosos talentos e os seus dons insubstituíveis. Como dizia João Paulo II, « a mulher é aquela na qual a ordem do amor no mundo criado das pessoas encontra um terreno para deitar a sua primeira raiz ». A Igreja e a sociedade precisam que as mulheres ocupem o lugar todo que lhes compete no mundo, « para o ser humano poder viver nele sem se desumanizar totalmente ».

 

56. Se é inegável que, em alguns países africanos, se realizaram progressos visando favorecer a promoção e a educação da mulher, no conjunto dos mesmos, porém, a sua dignidade, os seus direitos e também a sua contribuição essencial para a família e a sociedade ainda não são plenamente reconhecidos nem avaliados. Assim a promoção das jovens e das mulheres muitas vezes é menos favorecida do que a dos jovens e dos homens. São ainda demasiado numerosas as práticas que humilham as mulheres e as degradam em nome de antigas tradições. Com os Padres sinodais, convido veementemente os discípulos de Cristo a combaterem todo o acto de violência contra as mulheres, denunciando-o e condenando-o. A este propósito, convém que os comportamentos, no âmbito da própria Igreja, sejam um modelo para o conjunto da sociedade.

 

57. Por ocasião da minha visita ao solo africano, lembrei vigorosamente que é preciso « reconhecer, afirmar e defender a igual dignidade do homem e da mulher: ambos são pessoas, diversamente dos outros seres vivos do mundo que os rodeia ». Infelizmente a evolução das mentalidades neste campo é excessivamente lenta. A Igreja tem o dever de contribuir para este reconhecimento e esta libertação da mulher, seguindo o exemplo deixado por Cristo que a valorizava (cf. Mt 15, 21-28; Lc 7, 36-50; 8, 1-3; 10, 38-42; Jo 4, 7-42). Assim, criar para ela um espaço onde possa tomar a palavra e exprimir os seus talentos, através de iniciativas que reforcem o seu valor, a estima de si mesma e a sua especificidade, permitir-lhe-ia ocupar, na sociedade, um lugar igual ao do homem – sem confusão nem nivelamento da especificidade de cada um –, porque ambos são « imagem » do Criador (cf. Gn 1, 27). Possam os bispos encorajar e promover a formação das mulheres, para que estas assumam « a parte que lhes cabe de responsabilidade e participação na vida comunitária da sociedade e (…) da Igreja ». Contribuirão assim para a humanização da sociedade.

 

58. Vós, mulheres católicas, inseris-vos na tradição evangélica das mulheres que davam assistência a Jesus e aos apóstolos (cf. Lc 8, 3). Sois para as Igrejas locais como que a « espinha dorsal », porque o vosso elevado número, a vossa presença activa e as vossas organizações são de grande apoio para o apostolado da Igreja. Quando a paz está ameaçada e a justiça é denegrida, quando cresce a pobreza, estais prontas para defender a dignidade humana, a família e os valores da religião. Possa o Espírito Santo suscitar, incessantemente, na Igreja mulheres santas e corajosas que prestem a sua valiosa contribuição espiritual para o crescimento das nossas comunidades.

 

59. Amadas filhas da Igreja, frequentai com constância a escola de Cristo como Maria de Betânia, para saberdes reconhecer a sua Palavra (cf. Lc 10, 39). Instruí-vos no catecismo e na doutrina social da Igreja, para vos dotardes dos princípios que vos ajudarão a proceder como verdadeiras discípulas. Deste modo, podereis discernir melhor sobre o vosso empenhamento nos diversos projectos relativos às mulheres. Continuai a defender a vida, porque Deus vos constituiu receptáculos da mesma. A Igreja será sempre o vosso amparo. Ajudai as jovens com os vossos conselhos e exemplo, para que enfrentem serenamente a vida adulta. Apoiai-vos mutuamente. Tratai com veneração as mais idosas dentre vós. A Igreja conta convosco para criar uma « ecologia humana » através do amor e da ternura, do acolhimento e da delicadeza, e ainda da misericórdia, valores que sabeis inculcar nos filhos e de que o mundo tem tanta necessidade. Assim, com a riqueza dos vossos dons propriamente femininos, favorecereis a reconciliação dos homens e das comunidades.

 

E. OS JOVENS

 

60. Na África, os jovens constituem a maioria da população. Esta juventude é um dom e um tesouro de Deus, pelo qual a Igreja inteira se sente agradecida ao Senhor da vida. É preciso amar esta juventude, estimá-la e respeitá-la. « Não obstante possíveis ambiguidades, sente um anseio profundo daqueles valores autênticos que têm em Cristo a sua plenitude. Porventura não é Cristo o segredo da verdadeira liberdade e da alegria profunda do coração? Não é Cristo o maior amigo e, simultaneamente, o educador de toda a amizade autêntica? Se Cristo lhes for apresentado com o seu verdadeiro rosto, os jovens reconhecem-No como resposta convincente e conseguem acolher a sua mensagem, mesmo se exigente e marcada pela Cruz ».

 

61. Pensando nos jovens, escrevi na Exortação apostólica pós-sinodal Verbum Domini: « Na idade da juventude, surgem de modo irreprimível e sincero as questões sobre o sentido da própria vida e sobre a direcção que se deve dar à própria existência. A estas questões só Deus sabe dar verdadeira resposta. Esta solicitude pelo mundo juvenil implica a coragem de um anúncio claro; devemos ajudar os jovens a ganharem confidência e familiaridade com a Sagrada Escritura, para que seja como uma bússola que indica a estrada a seguir. Para isso, precisam de testemunhas e mestres, que caminhem com eles e os orientem para amarem e, por sua vez, comunicarem o Evangelho sobretudo aos da sua idade, tornando-se eles mesmos arautos autênticos e credíveis ».

 

62. São Bento, na sua Regra, pede ao Abade do Mosteiro que escute os mais jovens, dizendo: « Muitas vezes é a uma pessoa mais jovem que o Senhor inspira um parecer melhor ». Por isso não deixemos de envolver directamente a juventude na vida da sociedade e da Igreja, para que não se deixe cair em sentimentos de frustração e aversão, ao ver-se impossibilitada de tomar nas mãos o seu futuro, particularmente nas situações onde a juventude é vulnerável pela falta de formação, pelo desemprego, pela exploração política e por toda a espécie de dependência.

 

63. Queridos jovens, podem tentar-vos solicitações de todo o género: ideologias, seitas, dinheiro, droga, sexo fácil, violência…. Estai atentos! Aqueles que vos fazem estas propostas querem destruir o vosso futuro. Apesar das dificuldades, não vos deixeis desanimar nem renuncieis aos vossos ideais, à vossa assídua aplicação na formação humana, intelectual e espiritual. Para adquirirdes o discernimento, a força necessária e a liberdade para resistir a tais pressões, encorajo-vos a colocar Jesus Cristo no centro de toda a vossa vida, não só através da oração mas também por meio do estudo da Sagrada Escritura, da frequência dos Sacramentos, da formação na doutrina social da Igreja, bem como mediante a vossa participação activa e entusiasta nos grupos e nos movimentos eclesiais. Cultivai em vós a aspiração pela fraternidade, a justiça e a paz. O futuro está nas mãos de quem sabe encontrar razões fortes para viver e esperar. Se quiserdes, o futuro está nas vossas mãos, porque os dons que o Senhor distribuiu a cada um de vós, revigorados pelo encontro com Cristo, podem proporcionar uma esperança autêntica ao mundo.

 

64. Quando se trata da orientação a tomar na vossa escolha de vida, quando se vos coloca a questão duma consagração total – para o sacerdócio ministerial ou para a vida consagrada –, apoiai-vos em Cristo, tomai-O por modelo, escutai a sua Palavra meditando-a com regularidade. Na homilia da Eucaristia inaugural do meu Pontificado, exortei-vos com estas palavras que me parece oportuno repetir aqui, porque permanecem actuais: « Quem faz entrar Cristo na sua vida, nada perde, nada – absolutamente nada daquilo que torna a vida livre, bela e grande. Não! Só nesta amizade se abrem de par em par as portas da vida. Só nesta amizade desabrocham realmente as grandes potencialidades da condição humana. (…) Queridos jovens, não tenhais medo de Cristo! Ele não tira nada, Ele dá tudo. Quem se entrega a Ele, recebe o cêntuplo. Sim, abri de par em par as portas a Cristo e encontrareis a vida verdadeira ».

 

F. AS CRIANÇAS

 

65. Tal como os jovens, também as crianças são um dom de Deus à humanidade, pelo que devem ser objecto de um cuidado particular por parte das respectivas famílias, da Igreja, da sociedade e dos governantes, porque elas são fonte de esperança e de renovamento na vida. Deus vigia de forma particular por elas, cuja vida é preciosa aos seus olhos, mesmo quando as circunstâncias parecem desfavoráveis ou impossíveis (cf. Gn 17, 17-18; 18, 12; Mt 18, 10).

 

66. Com efeito, « no referente ao direito à vida, cada ser humano inocente é absolutamente igual a todos os demais. Esta igualdade é a base de todo o relacionamento social autêntico, o qual, para o ser verdadeiramente, não pode deixar de se fundar sobre a verdade e a justiça, reconhecendo e tutelando cada homem e cada mulher como pessoa, e não como uma coisa de que se possa dispor ».

 

67. À luz disto, como não deplorar e denunciar vigorosamente os intoleráveis maus tratos infligidos a tantas crianças na África?[ A Igreja é Mãe, e não poderia abandoná-las sejam elas quem for. Temos o dever de fazer brilhar sobre elas a luz de Cristo, oferecendo-lhes o seu amor para que O ouçam dizer: « Tu és preciosa aos meus olhos, estimo-te e amo-te » (Is 43, 4). Deus quer a felicidade e o sorriso de todas as crianças; estas gozam do seu favor, « porque o Reino de Deus pertence aos que são como elas » (Mc 10, 14).

 

68. Jesus Cristo sempre manifestou a sua preferência pelos mais pequeninos (cf. Mc 10, 13-16). O próprio Evangelho está profundamente permeado pela verdade da criança. De facto, que quer dizer « se não voltardes a ser como as criancinhas, não podereis entrar no Reino dos Céus » (Mt 18, 3)? Porventura não faz Jesus da criança um modelo também para os adultos? Na criança, há algo que nunca deveria faltar na pessoa que quer entrar no Reino dos Céus. O Céu é prometido a todos aqueles que são simples como as crianças, a quantos estão, como elas, cheios dum espírito de confiante abandono, são puros e ricos de bondade. Só esses podem encontrar em Deus um Pai e tornar-se, graças a Jesus, filhos de Deus. Filhos e filhas dos nossos pais, Deus quer que todos nós sejamos, por graça, seus filhos adoptivos.

 

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