72. Os Padres Sinodais assinalaram, com tristeza, que «muitos jovens vivem em contextos de guerra e padecem a violência numa variedade incontável de formas: raptos, extorsões, criminalidade organizada, tráfico de seres humanos, escravidão e exploração sexual, estupros de guerra, etc. Outros jovens, por causa da sua fé, têm dificuldade em encontrar um lugar nas suas sociedades e sofrem vários tipos de perseguição, que vai até à morte. Numerosos são os jovens que, por constrangimento ou falta de alternativas, vivem perpetrando crimes e violências: crianças-soldado, gangues armados e criminosos, tráfico de droga, terrorismo, etc. Esta violência destroça muitas vidas jovens. Abusos e dependências, bem como violência e extravio contam-se entre as razões que levam os jovens à prisão, com incidência particular nalguns grupos étnicos e sociais».
73. Muitos jovens são mentalizados, instrumentalizados e utilizados como carne de canhão ou como força de choque para destruir, intimidar ou ridicularizar outros. E o pior é que muitos se transformam em sujeitos individualistas, inimigos e difidentes para com todos, tornando-se assim presa fácil de propostas desumanizadoras e dos planos destrutivos elaborados por grupos políticos ou poderes económicos.
74. «Ainda mais numerosos no mundo são os jovens que padecem formas de marginalização e exclusão social, por razões religiosas, étnicas ou económicas. Lembramos a difícil situação de adolescentes e jovens que ficam grávidas e a praga do aborto, bem como a propagação do SIDA/HIV, as várias formas de dependência (drogas, jogos de azar, pornografia, etc.) e a situação dos meninos e adolescentes de rua, que carecem de casa, família e recursos económicos». E quando se trata de mulheres, estas situações de marginalização tornam-se duplamente dolorosas e difíceis.
75. Não podemos ser uma Igreja que não chora à vista destes dramas dos seus filhos jovens. Não devemos jamais habituar-nos a isto, porque, quem não sabe chorar, não é mãe. Queremos chorar para que a própria sociedade seja mais mãe, a fim de que, em vez de matar, aprenda a dar à luz, de modo que seja promessa de vida. Choramos ao recordar os jovens que morreram por causa da miséria e da violência e pedimos à sociedade que aprenda a ser uma mãe solidária. Esta dor não passa, acompanha-nos, porque não se pode esconder a realidade. A pior coisa que podemos fazer é aplicar a receita do espírito mundano, que consiste em anestesiar os jovens com outras notícias, com outras distrações, com banalidades.
76. Talvez «aqueles de nós que levamos uma vida sem grandes necessidades não saibamos chorar. Certas realidades da vida só se veem com os olhos limpos pelas lágrimas. Convido cada um de vós a perguntar-se: Aprendi eu a chorar, quando vejo uma criança faminta, uma criança drogada pela estrada, uma criança sem casa, uma criança abandonada, uma criança abusada, uma criança usada como escravo pela sociedade? Ou o meu não passa do pranto caprichoso de quem chora porque quereria ter mais alguma coisa?» Procura aprender a chorar pelos jovens que estão pior do que tu. A misericórdia e a compaixão também se manifestam chorando. Se o pranto não te vem, pede ao Senhor que te conceda derramar lágrimas pelo sofrimento dos outros. Quando souberes chorar, então serás capaz de fazer algo, do fundo do coração, pelos outros.
77. Às vezes o sofrimento dalguns jovens é lacerante, um sofrimento que não se pode expressar com palavras, um sofrimento que nos fere como um soco. Estes jovens só podem dizer a Deus que sofrem muito, que lhes custa imenso continuar para diante, que já não acreditam em ninguém. Mas, neste grito desolador, fazem-se ouvir as palavras de Jesus: «Felizes os que choram, porque serão consolados» (Mt 5, 4). Há jovens que conseguiram abrir caminho na vida, porque lhes chegou esta promessa divina. Junto dum jovem atribulado, possa haver sempre uma comunidade cristã para fazer ressoar aquelas palavras com gestos, abraços e ajuda concreta!
78. É verdade que os poderosos prestam alguma ajuda, mas muitas vezes por um alto preço. Em muitos países pobres, a ajuda económica dalguns países mais ricos ou dalguns organismos internacionais costuma estar vinculada à aceitação de propostas ocidentais relativas à sexualidade, ao matrimónio, à vida ou à justiça social. Esta colonização ideológica prejudica de forma especial os jovens. Ao mesmo tempo, vemos como certa publicidade ensina as pessoas a estar sempre insatisfeitas, contribuindo assim para a cultura do descarte, onde os próprios jovens acabam transformados em material descartável.
79. A cultura atual promove um modelo de pessoa estreitamente associado à imagem do jovem. Sente-se belo quem se apresenta jovem, quem realiza tratamentos para cancelar as marcas do tempo. Os corpos jovens são constantemente usados na publicidade comercial. O modelo de beleza é um modelo juvenil, mas estejamos atentos porque isto não é um elogio para os jovens. Significa apenas que os adultos querem roubar a juventude para si mesmos, e não que respeitam, amam e cuidam dos jovens.
80. Alguns jovens «sentem as tradições familiares como opressivas e abandonam-nas sob a pressão duma cultura globalizada que às vezes os deixa sem pontos de referência. Entretanto, noutras partes do mundo, entre jovens e adultos não há um verdadeiro e próprio conflito geracional, mas um alheamento recíproco. Por vezes, os adultos não procuram ou não conseguem transmitir os valores basilares da existência ou então assumem estilos próprios dos jovens, transtornando o relacionamento entre as gerações. Assim, a relação entre jovens e adultos corre o risco de se deter no plano afetivo, sem tocar a dimensão educativa e cultural». Quanto dano faz isto aos jovens, embora alguns não se deem conta! Os próprios jovens nos fizeram notar que isto dificulta imenso a transmissão da fé, «nalguns países, onde não há liberdade de expressão vendo-se impedidos de participar na vida da Igreja».