59. Desde os tempos apostólicos, a Igreja viu na libertação dos oprimidos um sinal do Reino de Deus. O próprio Jesus, ao iniciar a sua missão pública, proclamou: «O Espírito do Senhor está sobre mim, porque me ungiu para anunciar a Boa-Nova aos pobres; enviou-me a proclamar a libertação aos cativos» (Lc 4, 18). Os primeiros cristãos, mesmo em condições precárias, rezavam e assistiam os irmãos presos, como testemunham os Atos dos Apóstolos (cf. 12, 5; 24, 23) e diversos escritos dos Padres. Essa missão libertadora prolongou-se ao longo dos séculos por meio de ações concretas, especialmente quando o drama da escravidão e do cativeiro marcou sociedades inteiras.
60. Entre o final do século XII e os inícios do século XIII, quando muitos cristãos eram capturados no Mediterrâneo ou escravizados em guerras, surgiram duas ordens religiosas: a Ordem da Santíssima Trindade para a Redenção dos Cativos (Trinitários), fundada por São João de Matha e São Félix de Valois, e a Ordem da Bem-Aventurada Virgem Maria das Mercês (Mercedários), fundada por São Pedro Nolasco com o apoio de São Raimundo de Penhaforte, dominicano. Essas comunidades de consagrados nasceram com o carisma específico de libertar os cristãos escravizados, colocando os seus bens à disposição e, muitas vezes, oferecendo a própria vida em troca. Os Trinitários, com o lema Gloria Tibi Trinitas et captivis libertas (Glória a Ti, Trindade, e aos cativos liberdade), e os Mercedários, que acrescentam um quarto voto aos votos religiosos de pobreza, obediência e castidade, testemunharam que a caridade pode ser heroica. A libertação dos cativos era expressão do amor trinitário: um Deus que liberta não só da escravidão espiritual, mas também da opressão concreta. O gesto de resgatar da escravidão e do cárcere é visto como prolongamento do sacrifício redentor de Cristo, cujo sangue é o preço do nosso resgate (cf. 1Cor 6, 20).
61. A espiritualidade original destas Ordens estava profundamente enraizada na contemplação da Cruz. Cristo é por excelência o Redentor dos cativos, e a Igreja, seu Corpo, prolonga esse mistério no tempo. Os religiosos não viam no resgate uma ação política ou económica, mas um ato quase litúrgico, a oferenda sacramental de si mesmos. Muitos entregaram os seus próprios corpos para substituir prisioneiros, cumprindo literalmente o mandamento: «Ninguém tem mais amor do que quem dá a vida pelos seus amigos» ( Jo 15, 13). A tradição destas Ordens não cessou. Pelo contrário, inspirou novas formas de ação diante das escravidões modernas: o tráfico de pessoas, o trabalho forçado, a exploração sexual, as diversas formas de dependência. A caridade cristã, quando encarnada, torna-se libertadora. E a missão da Igreja, quando fiel ao seu Senhor, é sempre proclamar a libertação. Ainda em nossos dias, nos quais «milhões de pessoas – crianças, homens e mulheres de todas as idades – são privadas da liberdade e constrangidas a viver em condições semelhantes às da escravatura», esta herança é continuada por estas Ordens e por outras instituições e congregações que atuam em periferias urbanas, zonas de conflito e corredores de migração. Quando a Igreja se inclina para quebrar as novas correntes que prendem os pobres, ela torna-se sinal da Páscoa.
62. Não se pode concluir esta reflexão sobre os privados de liberdade sem fazer menção aos encarcerados nos diversos centros penitenciários e de detenção. A esse respeito, recordam-se as palavras que o Papa Francisco dirigiu a um grupo deles: «Para mim, entrar em uma penitenciária é sempre um momento importante, porque o presídio é um lugar de grande humanidade [...]. De uma humanidade provada, às vezes exausta pelas dificuldades, sentimentos de culpa, julgamentos, incompreensões e sofrimento, mas ao mesmo tempo repleta de força, de desejo de perdão, de vontade de redenção». Esta vontade que, entre outras, foi assumida também pelas Ordens redentoras como um serviço preferencial à Igreja. Como proclamava São Paulo: «Foi para a liberdade que Cristo nos libertou» ( Gl 5, 1). E esta liberdade não é apenas interior: ela manifesta-se na história como amor que cuida e liberta de todas as amarras.