O CUIDADO COM OS POBRES NA VIDA MONÁSTICA

O CUIDADO COM OS POBRES NA VIDA MONÁSTICA

53. A vida monástica, nascida no silêncio dos desertos, foi desde o início um testemunho de solidariedade. Os monges deixavam tudo – riqueza, prestígio, família – não só por desprezar as riquezas do mundo – contemptus mundi – mas para encontrar, neste despojamento radical, o Cristo pobre. São Basílio Magno, na sua Regra, não via contradição entre a vida de oração e recolhimento dos monges e a ação em favor dos pobres. Para ele, a hospitalidade e o cuidado com os necessitados eram parte integrante da espiritualidade monástica, e os monges, mesmo depois de terem deixado tudo para abraçar a pobreza, deveriam ajudar os mais pobres com o seu trabalho, pois «para se ter com que socorrer aos necessitados, evidencia-se que devemos trabalhar com diligência [...] este modo de viver é proveitoso não só para subjugar o corpo, mas ainda por causa da caridade para com o próximo, a fim de que, por nosso intermédio, Deus forneça o bastante aos irmãos mais fracos».

 

54. Construiu em Cesareia, onde era bispo, um lugar conhecido como Basilíades, que incluía alojamentos, hospitais e escolas para os pobres e doentes. O monge, portanto, não era apenas um asceta, mas um servidor. Basílio demonstrava assim que para estar perto de Deus é preciso estar próximo dos pobres. O amor concreto era critério de santidade. Orar e cuidar, contemplar e curar, escrever e acolher — tudo era expressão do mesmo amor a Cristo.

 

55. No Ocidente, São Bento de Núrsia elaborou uma Regra que se tornaria a espinha dorsal da espiritualidade monástica europeia. Nela, o acolhimento dos pobres e dos peregrinos ocupa lugar de honra: «Mostre-se principalmente um cuidado solícito na recepção dos pobres e peregrinos, porque sobretudo na pessoa desses, Cristo é recebido». Não se tratava apenas de palavras: os mosteiros beneditinos foram, por séculos, lugares de refúgio para viúvas, crianças abandonadas, peregrinos e mendigos. Para Bento, a vida comunitária era uma escola de caridade. O trabalho manual não tinha apenas função prática, mas formava o coração para o serviço. A partilha entre os monges, a atenção aos doentes, a escuta dos mais frágeis preparavam para acolher Cristo que chega na pessoa do pobre e do estrangeiro. A hospitalidade monástica beneditina permanece até hoje sinal de uma Igreja que abre portas, que acolhe sem interrogar, que cura sem cobrar.

 

56. Os mosteiros beneditinos, com o tempo, tornaram-se lugares que contrastavam a cultura da exclusão. Os monges cultivavam a terra, produziam alimentos, preparavam remédios e ofereciam-nos, com simplicidade, aos mais necessitados. O seu trabalho silencioso foi fermento de uma nova civilização, onde os pobres não eram um problema a resolver, mas irmãos e irmãs a acolher. A regra da partilha, do trabalho comum e da assistência aos vulneráveis estruturava uma economia solidária, em contraste com a lógica da acumulação. O testemunho dos monges mostrava que a pobreza voluntária, longe de ser miséria, é caminho de liberdade e comunhão. Eles não apenas ajudavam os pobres: tornavam-se próximos deles, irmãos no mesmo Senhor. Nas celas e nos claustros, formava-se uma mística da presença de Deus nos pequenos.

 

57. Além da assistência material, os mosteiros desempenharam um papel fundamental na formação cultural e espiritual dos mais humildes. Em tempos de peste, guerra e fome, eram lugares onde o necessitado encontrava pão e remédio, mas também dignidade e palavra. Era ali que os órfãos eram educados, os aprendizes recebiam formação, e os camponeses eram instruídos em técnicas de agricultura e leitura. O saber era partilhado como dom e responsabilidade. O abade era ao mesmo tempo mestre e pai, e a escola monástica lugar de libertação pela verdade. Pois, como escreve João Cassiano, o monge deve caracterizar-se pela «humildade de coração [...], que conduz não à ciência que incha, mas àquela que ilumina por meio da plenitude da caridade». Ao formar consciências e transmitir sabedoria, os monges contribuíram para uma pedagogia cristã da inclusão. A cultura, marcada pela fé, era partilhada com simplicidade. O saber, quando iluminado pela caridade, torna-se serviço. Assim, a vida monástica revelava-se estilo de santidade e forma concreta de transformação da sociedade.

 

58. A tradição monástica ensina, portanto, que oração e caridade, silêncio e serviço, celas e hospitais, formam um único tecido espiritual. O mosteiro é lugar de escuta e de ação, de adoração e de partilha. São Bernardo de Claraval, grande reformador do Cister, «recordou com decisão a necessidade de uma vida sóbria e comedida, tanto à mesa como no vestuário e nos edifícios monásticos, recomendando o sustento e a atenção aos pobres». Para ele, a compaixão não era uma escolha acessória, mas a estrada real do seguimento de Cristo. A vida monástica, portanto, quando fiel à sua vocação original, mostra que a Igreja só será plenamente esposa do Senhor quando for também irmã dos pobres. O claustro não é apenas refúgio do mundo, mas escola na qual se aprende a servi-lo melhor. Onde os monges abriram as suas portas aos pobres, a Igreja revelou com humildade e firmeza que a contemplação não exclui a misericórdia, mas exige-a como seu fruto mais puro.

 

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