O MUNDO PODE MUDAR A PARTIR DO CORAÇÃO

O MUNDO PODE MUDAR A PARTIR DO CORAÇÃO

28. Só a partir do coração é que as nossas comunidades serão capazes de unir e pacificar os diferentes intelectos e vontades, para que o Espírito nos possa guiar como uma rede de irmãos, porque a pacificação é também uma tarefa do coração. O Coração de Cristo é êxtase, é saída, é dom, é encontro. N’Ele tornamo-nos capazes de nos relacionarmos uns com os outros de forma saudável e feliz, e de construir neste mundo o Reino de amor e de justiça. O nosso coração unido ao de Cristo é capaz deste milagre social.

 

29. Levar o coração a sério tem consequências sociais. Como ensina o Concílio Vaticano II, «temos, com efeito, de reformar o nosso coração, com os olhos postos no mundo inteiro e naquelas tarefas que podemos realizar juntos para o progresso da humanidade». Porque «os desequilíbrios de que sofre o mundo atual estão ligados com aquele desequilíbrio fundamental que se radica no coração do homem». Perante os dramas do mundo, o Concílio convida-nos a regressar ao coração, explicando que o ser humano «pela sua interioridade, transcende o universo das coisas: tal é o conhecimento profundo que ele alcança quando reentra no seu interior, onde Deus, que perscruta os corações (cf. 1 Sm 16, 7; Jr 17, 10), o espera, e onde ele, sob o olhar do Senhor, decide da própria sorte».

 

30. Isto não significa confiar demasiado em nós próprios. Sejamos cautelosos: tenhamos consciência de que o nosso coração não é autossuficiente; é frágil e ferido. Tem dignidade ontológica, mas ao mesmo tempo deve procurar uma vida mais digna. O Concílio Vaticano II também diz que «o fermento evangélico despertou e desperta no coração humano uma irreprimível exigência de dignidade», ainda que não baste apenas conhecer o Evangelho, ou fazer mecanicamente o que ele nos manda, para viver de acordo com esta dignidade. Precisamos da ajuda do amor divino. Recorramos, pois, ao Coração de Cristo, o centro do seu ser, que é uma fornalha ardente de amor divino e humano, a mais alta plenitude que a humanidade pode atingir. É aí, nesse Coração, que finalmente nos reconhecemos e aprendemos a amar.

 

31. Por último, esse Coração Sagrado é o princípio unificador da realidade, porque «Cristo é o coração do mundo; a sua Páscoa de morte e ressurreição é o cerne da história que, graças a Ele, é história de salvação». Todas as criaturas avançam «juntamente conosco e através de nós, para a meta comum, que é Deus, numa plenitude transcendente onde Cristo ressuscitado tudo abraça e ilumina». Diante do Coração de Cristo, peço mais uma vez ao Senhor que tenha compaixão desta terra ferida, que Ele quis habitar como um de nós. Que derrame os tesouros da sua luz e do seu amor, para que o nosso mundo, que sobrevive entre guerras, desequilíbrios socioeconómicos, consumismo e o uso anti-humano da tecnologia, recupere o que é mais importante e necessário: o coração.

 

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