O VALOR DO DIÁLOGO INTER-RELIGIOSO
117. A Igreja reconhece como parte essencial do anúncio da Palavra o encontro, o diálogo e a colaboração com todos os homens de boa vontade, particularmente com as pessoas pertencentes às diversas tradições religiosas da humanidade, evitando formas de sincretismo e de relativismo e seguindo as linhas indicadas pela Declaração do Concílio Vaticano II Nostra aetate e desenvolvidas pelo Magistério sucessivo dos Sumos Pontífices. O processo veloz de globalização, característico da nossa época, permite viver em contacto mais estreito com pessoas de culturas e religiões diferentes. Trata-se de uma oportunidade providencial para manifestar como o autêntico sentido religioso pode promover entre os homens relações de fraternidade universal. É muito importante que as religiões possam favorecer, nas nossas sociedades frequentemente secularizadas, uma mentalidade que veja em Deus Omnipotente o fundamento de todo o bem, a fonte inexaurível da vida moral, o sustentáculo de um profundo sentido de fraternidade universal.
Na tradição judaico-cristã, por exemplo, encontra-se sugestivamente confirmado o amor de Deus por todos os povos, que Ele, já na Aliança estabelecida com Noé, reúne num único e grande abraço simbolizado pelo «arco nas nuvens» (Gn 9, 13.14.16) e que, segundo as palavras dos profetas, pretende congregar numa única família universal (cf. Is 2, 2ss; 42, 6; 66, 18-21; Jr 4, 2; Sl 47). Na realidade aparecem, em muitas das grandes tradições religiosas, testemunhos da ligação íntima que existe entre a relação com Deus e a ética do amor por todo o homem.
DIÁLOGO ENTRE CRISTÃOS E MUÇULMANOS
118. De entre as diversas religiões, a Igreja olha com estima os muçulmanos, que reconhecem a existência de um único Deus; fazem referimento a Abraão e prestam culto a Deus sobretudo com a oração, a esmola e o jejum. Reconhecemos que, na tradição do Islão, há muitas figuras, símbolos e temas bíblicos. Em continuidade com a importante acção empreendida pelo Venerável João Paulo II, desejo que as relações baseadas na confiança, que estão instauradas desde há diversos anos entre cristãos e muçulmanos, continuem e se desenvolvam num espírito de diálogo sincero e respeitoso. Neste diálogo, o Sínodo fez votos de que se possam aprofundar o respeito da vida como valor fundamental, os direitos inalienáveis do homem e da mulher e a sua igual dignidade. Tendo em conta a distinção entre a ordem sociopolítica e a ordem religiosa, as religiões devem dar a sua contribuição para o bem comum. O Sínodo pede às Conferências Episcopais que se favoreçam, onde for oportuno e profícuo, encontros para um conhecimento recíproco entre cristãos e muçulmanos a fim de se promoverem os valores de que a sociedade tem necessidade para uma convivência pacífica e positiva.
DIÁLOGO COM AS OUTRAS RELIGIÕES
119. Além disso, desejo aqui manifestar o respeito da Igreja pelas antigas religiões e tradições espirituais dos vários Continentes; contêm valores que podem favorecer imenso a compreensão entre as pessoas e os povos. Muitas vezes constatamos sintonias com valores expressos também nos seus livros religiosos, como, por exemplo, o respeito pela vida, a contemplação, o silêncio e a simplicidade, no Budismo; o sentido da sacralidade, do sacrifício e do jejum, no Hinduísmo; e ainda os valores familiares e sociais no Confucionismo. Vemos, ainda noutras experiências religiosas, uma sincera atenção à transcendência de Deus, reconhecido como Criador, e também ao respeito da vida, do matrimónio e da família e ainda um forte sentido da solidariedade.
DIÁLOGO E LIBERDADE RELIGIOSA
120. Todavia o diálogo não seria fecundo, se não incluísse também um verdadeiro respeito por toda a pessoa para que possa aderir livremente à sua própria religião. Por isso o Sínodo, ao mesmo tempo que promove a colaboração entre os expoentes das diversas religiões, recorda igualmente «a necessidade de que seja efectivamente assegurada a todos os crentes a liberdade de professar, privada e publicamente a sua própria religião, e também a liberdade de consciência»; de facto «o respeito e o diálogo exigem a reciprocidade em todos os campos, sobretudo no que diz respeito às liberdades fundamentais e, de modo muito particular, à liberdade religiosa. Tal respeito e diálogo favorecem a paz e a harmonia entre os povos».