18. Este modo de pensar não contrasta com a doutrina católica tradicional sobre o crescimento da graça, isto é, que, uma vez justificados gratuitamente pela graça santificante, ficamos transformados e capacitados para cooperar, com as nossas boas obras, num caminho de crescimento na santidade. E assim somos elevados de modo a poder obter méritos reais para o desenvolvimento da graça recebida.
19. Teresinha, porém, prefere sublinhar o primado da ação divina e convidar à plena confiança, tendo diante dos olhos o amor de Cristo que Se nos deu até ao fim. No fundo, é este o seu ensinamento: como não podemos ter qualquer certeza olhando para nós mesmos, é impossível estar seguros de possuir méritos próprios. Por conseguinte, não é possível confiar nestes esforços ou realizações. O Catecismo quis citar estas palavras de Santa Teresinha dirigidas ao Senhor: «Aparecerei diante de Vós com as mãos vazias», para exprimir que «os santos tiveram sempre uma consciência viva de que os seus méritos eram pura graça». Esta convicção suscita uma jubilosa e terna gratidão.
20. Por isso, a atitude mais adequada é depositar a confiança do coração fora de nós mesmos, ou seja, na infinita misericórdia de um Deus que ama sem limites e que deu tudo na Cruz de Jesus. Daí que Teresa nunca usa a expressão, frequente no seu tempo, «hei de fazer-me santa».
21. Todavia a sua confiança sem limites encoraja aqueles que se sentem frágeis, limitados, pecadores a deixarem-se conduzir e transformar para chegar ao alto: «Ah! se todas as almas débeis e imperfeitas sentissem o que sente a mais pequena de todas as almas – a alma da vossa Teresinha – nem uma única perderia a esperança de chegar à Montanha do Amor, uma vez que Jesus não pede grandes ações, mas apenas o abandono e a gratidão».
22. E esta mesma insistência de Teresinha na iniciativa divina faz com que, ao falar da Eucaristia, não coloque em primeiro lugar o seu desejo de receber Jesus na Sagrada Comunhão, mas o desejo de Jesus que quer unir-Se a nós e habitar nos nossos corações. No Oferecimento ao Amor Misericordioso, sofrendo por não poder comungar todos os dias, diz a Jesus: «Ficai em mim, como no Sacrário». O centro e o objeto do seu olhar não é ela própria com as suas necessidades, mas Cristo que ama, que procura, que deseja, que mora na alma.