PONTOS DE PARTIDA PARA UMA SANTIDADE AMAZÓNICA

PONTOS DE PARTIDA PARA UMA SANTIDADE AMAZÓNICA

77. Assim poderão nascer testemunhos de santidade com rosto amazónico, que não sejam cópias de modelos doutros lugares, santidade feita de encontro e dedicação, de contemplação e serviço, de solidão acolhedora e vida comum, de jubilosa sobriedade e luta pela justiça. Chega-se a esta santidade «cada um por seu caminho», e isto aplica-se também aos povos, onde a graça se encarna e brilha com traços distintivos. Imaginemos uma santidade com traços amazónicos, chamada a interpelar a Igreja universal.

 

78. Um processo de inculturação, que implica caminhos não só individuais, mas também comunitários, exige um amor ao povo cheio de respeito e compreensão. Em boa parte da Amazónia, este processo já começou. Há mais de quarenta anos, os bispos da Amazónia do Perú assinalavam que, em muitos dos grupos presentes naquela região, «o sujeito de evangelização, modelado por uma cultura própria, multiforme e mutável, está inicialmente evangelizado», pois possui «certos traços de catolicismo popular que, embora num primeiro tempo talvez tenham sido promovidos por agentes pastorais, atualmente são uma realidade que o povo assumiu e até mudou o seu significado transmitindo-os de geração em geração». Não nos apressemos a qualificar como superstição ou paganismo certas expressões religiosas que nascem, espontaneamente, da vida do povo. Antes, é necessário saber reconhecer o trigo que cresce no meio do joio, porque, «na piedade popular, pode-se captar a modalidade em que a fé recebida se encarnou numa cultura e continua a transmitir-se».

 

79. É possível receber, de alguma forma, um símbolo indígena sem o qualificar necessariamente como idolátrico. Um mito denso de sentido espiritual pode ser valorizado, sem continuar a considerá-lo um extravio pagão. Algumas festas religiosas contêm um significado sagrado e são espaços de reunião e fraternidade, embora se exija um lento processo de purificação e maturação. Um verdadeiro missionário procura descobrir as aspirações legítimas que passam através das manifestações religiosas, às vezes imperfeitas, parciais ou equivocadas, e tenta dar-lhes resposta a partir duma espiritualidade inculturada.

 

80. Será, sem dúvida, uma espiritualidade centrada no único Deus e Senhor, mas ao mesmo tempo capaz de entrar em contacto com as necessidades diárias das pessoas que procuram uma vida digna, querem gozar as coisas belas da existência, encontrar a paz e a harmonia, resolver as crises familiares, curar as suas doenças, ver os seus filhos crescerem felizes. O pior perigo seria afastá-los do encontro com Cristo, apresentando-O como um inimigo da alegria ou como alguém que é indiferente às aspirações e angústias humanas. Hoje é indispensável mostrar que a santidade não priva as pessoas de «forças, vida e alegria».

 

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