PRIMEIRO CADERNO DO DIÁRIO DE SANTA FAUSTINA

PRIMEIRO CADERNO DO DIÁRIO DE SANTA FAUSTINA

1. Eterno Amor, que mandas pintar a Tua Imagem

e nos revelas a fonte inconcebível da Misericórdia.

Abençoas quem se aproxima dos Teus raios,

E a alma negra converte-se em neve.

 

Oh doce Jesus, estabeleceste aqui o trono da Tua Misericórdia

Para dar alegria e ajudar o pecador,

Do Teu Coração aberto, como de um manancial puro,

Flui o consolo para a alma e coração contrito.

 

Que a honra e a glória para esta imagem

Não deixem de fluir nas almas dos homens,

Que cada coração glorifique a Divina Misericórdia

Agora e pelos séculos dos séculos e em cada hora.

Oh, meu Deus

 

2. Quando olho o futuro, atemorizo-me,

Mas ¿porque submergir-me no futuro?

Para mim, só o presente é de grande valor,

Já que talvez o futuro nunca chegue à minha alma.

O tempo passado não está no meu poder.

 

Mudar, corrigir ou juntar,

Não pode fazê-lo nenhum sábio ou profeta;

Assim devo confiar a Deus o que pertence ao passado.

Oh momento presente, tu pertences-me por completo,

Desejo aproveitar-te quanto possa,

E embora débil e pequena,

Concedes-me a graça da tua omnipotência.

 

Por isso, confiando na Tua Misericórdia,

Caminho na vida como um menino pequeno

E em cada dia ofereço-Te o meu coração

Inflamado de amor, para Tua maior glória.

 

JMJ

3. Deus e as almas. Oh, Rei de Misericórdia, guia a minha alma.

Ir. M. Faustina do Santíssimo Sacramento

Vilna, 28 VII 1934

 

4. Oh meu Jesus, ponho a minha confiança em Ti.

Teço mil coroas de flores e sei

Que todas florescerão.

E sei que florescerão quando as

Ilumine o Sol divino.

Oh grande e divino Sacramento

Que escondes o meu Deus.

 

Jesus acompanha-me em cada momento,

E nenhum temor invadirá o meu coração.

Vilna, 28 VII

1934

JMJ + Primeiro caderno

Deus e as almas

 

5. Que sejas adorada, oh Santíssima Trindade, agora e sempre, que sejas

louvada em todas as Tuas Obras e em todas as Tuas criaturas. Que a

grandeza da Tua Misericórdia, oh Deus, seja admirada e glorificada.

 

6. Devo tomar nota dos encontros da minha alma Contigo, oh Deus,

nos momentos íntimos das Tuas visitas. Devo escrever sobre Ti, oh

Inconcebível na Misericórdia com a minha pobre alma. A Tua santa

vontade é a vida da minha alma. Recebi este mandato de quem Te

representa para mim, oh Deus, aqui na Terra e me mostra a Tua santa

vontade: Jesus, Tu vês que difícil é para mim escrever, e que não sei

descrever claramente o que sinto na alma. Oh Deus, pode a caneta

descrever coisas para as quais, por vezes, não há palavras? Mas mandas-me

escrever, oh Deus, isso me basta.

Varsóvia, 1 VIII 1925

Entrada no convento

 

7. Desde os sete anos sentia a suprema chamada de Deus, a graça da

vocação e da vida consagrada. Aos sete anos pela primeira vez ouvi a voz

de Deus na minha alma, isto é, o convite a uma vida mais perfeita. Todavia,

nem sempre obedeci à voz da graça. Não encontrei ninguém que me

esclarecesse sobre essas coisas.

 

8. No décimo oitavo ano da minha vida, fiz um insistente pedido aos

meus pais para permitirem a minha entrada num convento; recebi uma

categórica negativa. Depois dessa negativa entreguei-me às vaidades da

vida sem fazer caso algum da voz da graça, embora a minha alma em

nada encontrasse satisfação. As contínuas chamadas da graça eram para

mim um grande tormento, no entanto procurei abafá-las com distrações.

Evitava interiormente a Deus e com toda a minha alma virava-me mais para

as criaturas. Mas foi a graça divina que venceu na minha alma.

 

9. Uma vez, juntamente com uma de minhas irmãs, fomos a um baile. Quando todos se divertiam muito, a minha alma sofria [tormentos]

interiores. No momento em que comecei a bailar, de repente vi Jesus junto a

mim. Jesus martirizado, despojado das Suas vestes, coberto de feridas,

dizendo-me estas palavras: ¿Até quando Me farás sofrer, até quando Me

enganarás? Naquele momento deixaram de soar os alegres sons da música,

desapareceu dos meus olhos a companhia em que me encontrava, ficámos

Jesus e eu. Sentei-me junto da minha querida irmã, dissimulando o que

tinha acontecido na minha alma com uma dor de cabeça. Um momento

depois abandonei discretamente a companhia e a minha irmã e fui à catedral

de São Estanislao Kostka. Estava anoitecendo, havia poucas pessoas na

catedral. Sem fazer caso do que se passava à minha volta, prostrei-me em

cruz diante do Santíssimo Sacramento, e pedi ao Senhor que se dignasse

fazer-me saber o que tinha de fazer imediatamente.

 

10. Então ouvi estas palavras: Vai imediatamente a Varsóvia, ali

entrarás num convento. Finda a oração, fui a casa e solucionei as coisas

necessárias.

Como pude, confessei à minha irmã o que tinha acontecido na minha

alma, disse-lhe que me despedisse dos meus pais e só com um vestido, sem

mais nada, cheguei a Varsóvia.

 

11. Quando saí do comboio e vi que cada pessoa seguia o seu caminho,

senti medo: ¿Que fazer? ¿A onde me dirigir, se não conhecia ninguém? E

disse à Mãe de Deus: Maria, dirige-me, guia-me. Imediatamente ouvi na

alma estas palavras: que saísse da cidade e fosse a uma aldeia onde iria

passar uma noite tranquila. Assim o fiz e encontrei tudo tal como a Mãe de

Deus me tinha dito.

 

12. No dia seguinte, na primeira hora regressei à cidade e entrei na

primeira igreja que encontrei e comecei a rezar para saber o que mais

queria de mim a vontade de Deus. As Santas Missas continuavam uma após

outra. Durante uma ouvi estas palavras: Vai falar com este sacerdote e

diz-lhe tudo, e ele te dirá o que deves fazer imediatamente. Terminada a

Santa Missa fui à sacristia e contei tudo o que tinha acontecido na minha

alma, pedindo que me indicasse a que convento deveria ir.

 

13. Ao princípio o sacerdote ficou surpreendido, mas recomendou-me

que confiasse muito em que Deus tudo resolveria. Entretanto mando-te

[disse] a casa de uma senhora piedosa, onde terás alojamento até que

entres num convento. Quando me apresentei na sua casa, a senhora recebeume com grande amabilidade. Comecei a procurar um convento, mas onde ia

não me aceitavam. A dor trespassou o meu coração e disse ao Senhor:

Ajuda-me, não me deixes sozinha. Por fim bati à nossa porta.

 

14. Quando [saiu] ao meu encontro, a Madre Superiora, a actual

Madre Geral Micaela, depois de uma breve conversa, mandou-me ir ao

Dono da casa e perguntar-lhe se me recebia. Logo compreendi que devia

perguntar ao Senhor Jesus.

Muito feliz fui à capela e perguntei a Jesus: Dono desta casa, ¿recebesme? Uma das irmãs desta casa disse-me para Te perguntar.

Em seguida ouvi esta voz: Recebo-te, estás no meu Coração. Quando

regressei da capela, a Madre Superiora, logo me perguntou: «Então, ¿o

Senhor recebeu-te?» Respondi que sim. «Se o Senhor te recebeu, eu

também te recebo.»

 

15. Assim foi a minha entrada. No entanto, por várias razões, tive de

permanecer no mundo mais de um ano, em casa desta piedosa senhora,

mas não regressei já à minha casa.

Naquela época tive que lutar contra muitas dificuldades, no entanto Deus

não me esquecia na sua graça. O meu anseio de Deus tornava-se cada vez

maior.

Esta senhora, embora muito piedosa, não compreendia a felicidade que

dá a vida consagrada e, na sua bondade, começou a projectar para mim

outros planos de vida, mas eu sentia que tinha um coração tão grande que

nada o podia preencher.

 

16. Então, dirigi-me a Deus com toda a minha alma sedenta d’Ele. Isso

[foi] durante a Oitava do Corpus Cristi. Deus encheu a minha alma

com a luz interior para que O conhecesse mais profundamente como o bem

e a beleza supremos. Compreendi quanto Deus me amava. É eterno o Seu

amor por mim. Isso foi durante as Vésperas.

Com palavras simples que brotavam do coração, fiz a Deus o voto de

castidade perpétua. Desde então senti maior intimidade com Deus, meu

Esposo. A partir daquele momento construí uma pequena cela no meu

coração, onde sempre me encontrava com Jesus.

 

17. Por fim, chegou o momento, quando se abriu para mim a porta do

convento. Isso foi no primeiro de Agosto, ao anoitecer, nas vésperas da

festa de Nossa Senhora dos Anjos. Sentia-me sumamente feliz, pareceu-me

que tinha entrado na vida do paraíso. Do meu coração brotou uma só

oração, a de acção de graças.

 

18. No entanto, três semanas depois, achei que aqui tinha muito pouco

tempo para a oração e que muitas outras coisas me empurravam

interiormente para entrar num convento de regra mais rigorosa. Esta ideia

gravou-se na minha alma, mas não era essa a vontade de Deus. No entanto,

essa ideia, ou melhor, essa tentação, tornava-se cada vez mais forte até que

um dia decidi falar com a Madre Superiora e sair decididamente. Mas Deus

guiou as circunstâncias de tal modo que não pude falar com a Madre

Superiora. Antes de deitar-me, entrei numa pequena capela e pedi

a Jesus luz para esta questão, mas não recebi nada na alma, só me invadiu

uma estranha inquietação que não conseguia compreender. Apesar de tudo

decidi que na manhã seguinte, depois da Santa Missa, comunicaria à Madre

Superiora a minha decisão.

 

19. Regressei à cela, as irmãs estavam já deitadas e a luz apagada. Não

sabia que fazer [comigo]. Prostrei-me no chão e comecei a rezar com fervor

para conhecer a vontade de Deus. Em todo o lado havia silêncio, como no

tabernáculo. Todas as irmãs, como hóstias brancas, descansavam encerradas

no cálice de Jesus e, somente na minha cela, Deus ouvia o gemido da minha

alma. Não sabia que depois das nove, sem autorização, não era permitido

rezar nas celas.

Depois de um momento, a minha cela encheu-se de claridade e na

cortina vi o rosto muito dorido do Senhor Jesus. Havia chagas abertas em

todo o rosto e duas grandes lágrimas cairam na colcha da cama. Sem saber

o que tudo isso significava, perguntei a Jesus: Jesus, ¿Quem te causou tanta

dor? E Jesus respondeu: Tu vais ferir-me dolorosamente se saíres deste

convento. Chamei-te para aqui e não para outro lugar e tenho

preparadas para ti muitas graças. Pedi perdão ao Senhor Jesus e

imediatamente alterei a decisão que tinha tomado.

No dia seguinte foi dia de confissão. Contei tudo o que tinha acontecido

na minha alma e o confessor respondeu-me que havia nisso uma clara

vontade de Deus que devia permanecer [em] esta Congregação e que nem

sequer podia pensar em outro convento. A partir daquele momento sinto-me

sempre feliz e contente.

 

20. Pouco depois adoeci. A querida Madre Superiora mandou-me

de férias juntamente com outras duas irmãs para Skolimów, muito

próximo de Varsóvia. Naquele tempo perguntei a Jesus: ¿Por quem mais

devo rezar? Respondeu-me que na noite seguinte me faria conhecer por

quem devia rezar.

Vi o Anjo da Guarda que me disse para o seguir. Num momento

encontrei-me num lugar nebuloso, cheio de fogo e havia ali uma multidão

de almas sofredoras. Estas almas estavam orando com grande fervor, mas

sem eficácia para elas próprias, só nós as podemos ajudar. As chamas que

as queimavam não me tocavam.

O meu Anjo da Guarda não me abandonou nem por um só momento.

Perguntei a estas almas ¿Qual era o seu maior tormento? E responderam-me

unanimemente que o seu maior tormento era o anseio de Deus, Vi a Mãe de

Deus que visitava as almas no Purgatório. As almas chamam a Maria “A

Estrela do Mar”. Ela traz-lhes alívio. Desejava falar mais com elas, no

entanto o meu Anjo da Guarda fez-me sinal para sair. Saímos desse cárcere

de sofrimento. [Ouvi uma voz interior] que me disse: A minha

Misericórdia não o deseja, mas exige-o a justiça. A partir daquele

momento uno-me mais estreitamente às almas sofredoras.

 

21. Fim do postulantado [29 IV 1926]. As Superioras enviaram-me

para o noviciado em Cracóvia. Uma alegria inimaginável reinava na minha

alma. Quando chegámos ao noviciado, a irmã … estava a morrer.

Uns dias depois vi a irmã … que me mandou ir à Madre Mestra e

dizer-lhe que o confessor, Padre Respond deveria celebrar por sua

intenção uma Santa Missa e três jaculatórias.

Ao princípio consenti, mas no dia seguinte pensei que não iria à Madre

Mestra, porque não entendia bem se tinha sido um sonho ou realidade. E

não fui. Na noite seguinte repetiu-se o mesmo, mas mais claramente, não

podia duvidar. No entanto na manhã seguinte decidi não dizer nada à

Mestra. Só lhe diria quando a visse durante o dia. Um momento depois

encontrei-a no corredor [aquela irmã falecida], que me reprovou por ainda

não ter ido e a minha alma encheu-se de grande inquietação. Então fui

imediatamente falar com a Madre Mestra e contei-lhe tudo o que tinha

sucedido. A Madre disse que trataria do assunto. Então a paz regressou à

minha alma e três dias depois aquela irmã apareceu-me e disse: «Deus lho

pague.»

 

22. Durante a tomada do hábito Deus deu-me a conhecer o muito

que ia sofrer. Vi claramente a que me estava a comprometer. Foi um minuto

desse sofrimento, após o que Deus inundou de novo a minha alma com

muitas consolações.

 

23. No fim do primeiro ano de noviciado, na minha alma começou a

fazer-se noite escura. Não sentia nenhuma consolação na oração, a

meditação exigia grande esforço, o temor começou a apoderar-se de mim.

Penetrei mais profundamente no meu interior e somente o que vi foi uma

grande miséria. Vi também claramente a grande santidade de Deus, não me

atrevia a erguer os olhos para Ele, mas prostrei-me como pó aos seus pés e

mendiguei a sua Misericórdia. Passaram quase seis meses e o estado da

minha alma não mudou nada. A nossa querida Madre Mestra dava-me

ânimo [em] esses momentos difíceis. No entanto este sofrimento aumentava

cada vez mais e mais.

 

Aproximava-se o segundo ano do noviciado. Quando pensava que devia

fazer os votos, a minha alma estremecia. Não entendia o que lia, não podia

meditar. Parecia-me que a minha oração não agradava a Deus. Quando me

aproximava dos santos sacramentos parecia-me que ofendia mais a Deus.

No entanto o confessor não me permitiu omitir uma só Santa

Comunhão. Deus actuava na minha alma de modo singular. Não entendia

absolutamente nada do que me dizia o confessor.

 

As simples verdades da fé tornavam-se incompreensíveis; a minha alma

sofria sem poder encontrar satisfação em nada. Houve um momento em que

me assaltou a obcessiva ideia de que era rejeitada por Deus. Esta terrível

ideia apossou-se completamente da minha alma. Neste sofrimento a minha

alma começou a agonizar. Queria morrer mas não podia. Surgiu-me o

pensamento ¿ porque procurar virtudes? ¿Porque mortificar-me se tudo é

desagradável a Deus? Ao dizê-lo à Madre Mestra, recebi a seguinte

resposta: «Deve saber, irmã, que Deus a destina para uma grande santidade.

É sinal de que Deus a quer ter no céu, muito próxima de Si. Irmã, confie

muito no Senhor Jesus».

 

Esta terrível ideia de sermos rejeitados por Deus, é um tormento que na

realidade sofrem os condenados. Recorria às chagas de Jesus, repetia

fórmulas de confiança, no entanto essas palavras tornavam-se um tormento

ainda maior. Apresentei-me diante do Santíssimo Sacramento e comecei a

dizer a Jesus: Jesus, Tu disseste que é mais fácil uma mãe esquecer-se do

seu filho recém-nascido do que Deus esquecer a sua criatura e, embora ela

esqueça, Eu, Deus, não esquecerei. Ouves, Jesus, ¿Como geme a minha

alma? Dígna-te ouvir os gemidos dolorosos da Tua filha. Em Ti confio, oh

Deus, porque o céu e a Terra passarão, mas a Tua Palavra perdurará

eternamente. No entanto, não encontrei alívio nem por um instante.

 

24. Um dia, ao despertar, enquanto me punha na presença de Deus,

começou a invadir-me o desespero. A escuridão total da alma. Lutei quanto

pude até ao meio dia. De tarde começaram a apoderar-se de mim temores

verdadeiramente mortais, as forças físicas começaram a abandonar-me.

Entrei apressadamente na cela e puz-me de joelhos diante do crucifixo e

comecei a implorar Misericórdia. No entanto, Jesus não escutava os meus

rogos. Senti-me completamente despojada das forças físicas, caí no chão, o

desespero apoderou-se de toda a minha alma, sofri realmente as penas

infernais, que não diferem em nada das do Inferno. Permaneci neste estado

durante três quartos de hora.

 

Quis ir à Mestra mas não tive forças. Quis chamar, faltou-me a voz, mas,

felizmente, entrou na cela uma das irmãs. Ao ver-me nesse estado tão

extranho, avisou imediatamente a Mestra. A Madre veio logo. Ao entrar na

cela disse estas palavras: «Em nome da santa obediência, levante-se do

chão». Imediatamente alguma força me ergueu do chão e puz-me de pé

junto à querida Mestra. De forma cordial explicou-me que era uma prova de

Deus. Irmã, tenha uma grande confiança, Deus é sempre Pai embora nos

submeta a provações. Regressei às minhas ocupações como se tivesse saído

da tumba.

 

Os sentidos ainda impregnados do que se tinha passado no meu íntimo.

Durante as devoções da tarde a minha alma começou a agonizar numa

terrível escuridão; senti que estava debaixo do poder do Deus Justo e que

era objecto do seu desdém. Nesses terríveis momentos disse a Deus: Jesus,

que no Evangelho Te comparas à mais terna das mães, confio nas Tuas

palavras, porque Tu és a Verdade e a Vida. Jesus, confio em Ti contra toda a

esperança, contra tudo o sentimento contrário à esperança que esteja dentro

de mim. Faz comigo o que quiseres, não me afastarei de Ti, porque Tu és a

fonte da minha vida. E, por terrível que seja este tormento da alma, somente

o pode entender quem experimentou semelhantes momentos.

 

25. Durante a noite visitou-me a Mãe de Deus com o Menino Jesus nos

braços. A alegria encheu a minha alma e disse: Maria, minha Mãe, ¿sabes

quanto sofro? E a Mãe de Deus respondeu-me: Eu sei quanto sofres, mas

não tenhas medo, porque eu compartilho contigo o teu sofrimento e sempre

o farei. Sorriu cordialmente e desapareceu. Em seguida a minha alma

encheu-se de força e de grande coragem. No entanto isso durou apenas um

dia. Como se o Inferno se tivesse conjurado contra mim. Um ódio terrível começou a irromper [em] a minha alma, ódio para tudo santo e divino.

 

Parecia-me que esses tormentos iam acompanhar a minha existência para

sempre. Dirigi-me ao Santíssimo Sacramento e disse a Jesus: Jesus, Amado

da minha alma, ¿não vês que a minha alma está a agonizar por Ti? ¿Como

podes esconder-Te tanto a um coração que Te ama com tanta sinceridade?

Perdoa-me, Jesus, que se faça em mim a Tua vontade. Vou sofrer em

silêncio como uma pomba, sem me queixar. Não permitirei ao meu coração

nem um só gemido.

 

26. Fim do noviciado. O sofrimento em nada diminuiu. A debilidade

física, dispensou-me de todos os exercícios espirituais, substituindo os

mesmos por jaculatórias.

Sexta Feira Santa: , Jesus arrebatou-me o coração para o próprio

fogo do seu amor. Isto deu-se durante a adoração vespertina. De repente

envolveu-me a presença de Deus. Esqueci-me de tudo. Jesus fez-me

conhecer quanto sofreu por mim. Isto durou muito pouco tempo. Um anseio

tremendo. A ânsia de amar a Deus.

 

27. Primeiros votos. Um ardente desejo de me aniquilar por Deus

mediante o amor activo, mas não perceptível mesmo para as irmãs mais

próximas.

Depois dos votos, porém, as trevas regressaram à minha alma durante

quase seis meses. Mas, uma vez durante a oração, Jesus penetrou totalmente

na minha alma. A escuridão dissipou-se e ouvi estas palavras: Tu és a

Minha alegria, tu és o deleite do Meu Coração. A partir daquele

momento senti no coração, isto é, no meu íntimo, a Santíssima Trindade. De

modo sensível, sentia-me inundada pela luz divina. Desde aquele momento

a minha alma está em comunhão com Deus, como a criança com o seu

querido pai.

 

28. Numa ocasião Jesus disse-me: Vai ter com a Madre Superiora

e diz-lhe que te permita levar o cilício durante sete dias e durante a

noite levantar-te-ás uma vez e virás à capela. Respondi que sim, mas tive

certa dificuldade em falar com a Superiora. De noite Jesus perguntou-me:

¿Até quando vais adiar? Decidi dizer à Madre Superiora durante o

primeiro encontro. No dia seguinte, antes do meio dia, vi que a Madre

Superiora ia para o refeitório e como a cozinha, o refeitório e o quarto da Ir.

Luisa são quase contíguos, então pedi à Madre Superiora que me

acompanhasse àquele quarto e comuniquei-lhe o que o Senhor Jesus tinha

solicitado. A Madre Superiora respondeu-me: «Não lhe permito levar

nenhum cilício. Em absoluto. Se o Senhor Jesus lhe der a força de um

gigante, eu permitirei essas mortificações». Pedi desculpa à Madre por lhe

ter ocupado tempo e saí do quarto. Então vi o Senhor Jesus na porta da

cozinha e disse-Lhe: Mandas-me pedir estas mortificações e a Madre

Superiora não quer permiti-las. Então Jesus disse-me: Estive aqui durante

a conversa com a Superiora e sei tudo. Não exijo as tuas mortificações,

mas a obediência. Com ela dás-Me uma grande glória e adquires

méritos para ti.

 

29. Ao saber, uma das Madres, da minha relação tão estreita com o

Senhor Jesus, disse que era uma ilusão. Disse-me: «Jesus mantém essas

relações com os santos e não com as almas pecadoras como a sua, irmã».

Desde aquele momento era como se eu desconfiasse de Jesus. Durante uma

conversa matutina disse a Jesus: Jesus, ¿não és Tu uma ilusão? Jesus

respondeu-me: O Meu amor não desilude ninguém.

 

30. Uma vez, estava eu a reflectir sobre a Santíssima Trindade, sobre a

essência divina. Queria penetrar e conhecer necessariamente, quem era este

Deus… Num instante o meu espírito foi levado como ao outro mundo, vi

um resplendor inacessível e nele como três fontes de claridade que não

chegava a compreender. Deste resplendor saíam palavras em forma de raios

e rodeavam o céu e a Terra. Não entendi nada, e entristeci-me muito. De

repente do mar do resplendor inacessível, saíu o nosso amado Salvador de

uma beleza inconcebível, com as chagas resplandecentes. E daquele

resplendor ouvi uma voz: Quem é Deus na sua essência, ninguém o

saberá, nem uma mente angélica nem humana. Jesus disse-me: Trata de

conhecer a Deus através da meditação dos seus atributos. Um instante

depois, Jesus traçou com a mão o sinal da cruz e desapareceu.

 

31. Uma vez vi uma multidão de pessoas na nossa capela e diante dela,

na rua, por não caber dentro. A capela estava enfeitada para uma

solenidade. Junto do altar havia muitos eclesiásticos, além de nossas irmãs e

de muitas outras Congregações. Todos estavam esperando a pessoa que

devia ocupar lugar no altar. De repente ouvi uma voz de que era eu quem ia

ocupar lugar no altar. Mas quando saí de casa, isto é, do corredor, para

cruzar o pátio e ir à capela seguindo a voz que me chamava, todas as

pessoas começaram a atirar contra mim o que podiam: lama, pedras, areia,

vassouras. No primeiro momento vacilei, se devia avançar ou não, mas a

voz chamava-me ainda com mais insistência e apesar de tudo comecei a

avançar com coragem. Quando cruzei o umbral da capela, as Superioras, as

irmãs e as alunas e inclusamente os Padres começaram a atingir-me

com o que podiam e então, querendo ou não, tive que subir rapidamente ao

lugar destinado no altar.

 

Quando ocupei o lugar destinado, as mesmas pessoas e as alunas, e as

irmãs, e as Superioras, e os Padres, todos começaram a estender as mãos e a

pedir graças. Eu não lhes guardava ressentimento por me terem atirado

todas essas coisas e, pelo contrário sentia um amor especial pelas pessoas

que me obrigaram a subir com mais pressa ao lugar do destino. Naquele

momento uma felicidade inconcebível inundou a minha alma e ouvi estas

palavras: Faz o que quiseres, distribui graças como quiseres, a quem

quiseres e quando quiseres. Depois a visão desapareceu.

 

32. Uma vez ouvi estas palavras: Vai ter com a Superiora e pede que

te permita fazer todos os dias uma hora de adoração durante 9 dias;

[em] esta adoração procura unir a tua oração à minha Mãe. Reza com

tudo o coração em união com Maria; trata também de fazer a Via

Sacra nesse tempo. Fui autorizada, mas não para uma hora inteira, apenas

para o tempo que me permitissem as minhas obrigações.

 

33. Devia fazer aquela novena por intenção da minha Pátria. No sétimo

dia da novena vi a Mãe de Deus entre o céu e a Terra, com uma túnica clara.

Rezava com as mãos junto ao peito, olhando para o céu. Do seu coração

saíam raios de fogo, alguns dirigiam-se para o céu e outros cobriam a Terra.

 

34. Quando contei algumas destas coisas ao confessor, disse-me que

podiam vir verdadeiramente de Deus, mas também podiam ser ilusões.

Como se mudava com frequência, não havia um confessor permanente, e

além disso tinha uma dificuldade incrível [em] explicar estas coisas. Rezava

com ardor que Deus me desse essa enorme graça de ter um director

espiritual. Só a recebi depois dos votos perpétuos, quando estava em Vilna.

É o Padre Sopocko. Deus permitiu-me conhecê-lo primeiro

interiormente, antes de vir para Vilna.

 

35. Oh, se tivesse tido um director espiritual desde o princípio, não teria

deperdiçado tantas graças de Deus. O confessor pode ajudar muito a alma,

mas também pode destruir muito. Oh, como os confessores devem prestar

atenção à actuação da graça de Deus nas almas dos seus penitentes. É uma

matéria de grande importância. Pelas graças recebidas na alma pode avaliarse-se a sua estreita relação com Deus.

 

36. Uma vez fui chamada ao Juízo de Deus. Apresentei-me diante do

Senhor, a sós. Jesus via-se como durante a Paixão. Depois de um momento,

as chagas desapareceram e ficaram só cinco: nas mãos, nos pés e no lado.

Imediatamente vi todo o estado da minha alma, tal como Deus a vê. Vi

claramente tudo o que não agrada a Deus. Não sabia que há que prestar

contas ao Senhor mesmo das faltas mais pequenas. ¡Que momento! ¿Quem

poderá descrevê-lo?

Estar na presença de Deus, três vezes Santo. Jesus perguntou-me:

¿Quem és?

Respondi: Sou uma Tua serva, Senhor. Tens a dívida de um dia de fogo

no Purgatório. Quereria lançar-me imediatamente às chamas do fogo do

Purgatório, mas Jesus deteve-me e disse: ¿Que preferes, sofrer agora

durante um dia ou por breve tempo na Terra? Respondi: Jesus, quero

sofrer no Purgatório e quero sofrer na Terra os maiores tormentos, embora

seja até o fim do mundo. Jesus disse: É suficiente uma só coisa. Ficarás

na Terra e sofrerás muito, mas durante pouco tempo e cumprirás a

Minha vontade e os Meus desejos. Um fiel servo Meu te ajudará a

cumpri-los.

 

Agora, põe a cabeça sobre o Meu peito, sobre o Meu Coração e dele

tira força e fortaleza para todos os sofrimentos, porque não

encontrarás alívio nem ajuda nem consolação em nenhuma outra

parte. Deves saber, que vais sofrer muito, muito, mas que isto não te

assuste. Eu estou contigo.

 

37. Pouco depois desse [acontecimento] adoeci. Os sofrimentos

físicos foram para mim uma escola de paciência. Só Jesus sabe quantos

esforços de vontade tive que fazer para cumprir as minhas obrigações.

38. Jesus, quando quer purificar uma alma, utiliza os instrumentos que

Ele quer. A minha alma sente-se completamente abandonada pelas

criaturas. Às vezes a intenção mais pura é mal interpretada pelas irmãs.

Este sofrimento é muito doloroso, mas Deus permite-o e há que aceitá-lo, já

que através deles nos tornamos mais semelhantes a Jesus. Durante muito

tempo não pude [compreender] uma coisa, a saber, ¿por que é que Jesus me

mandou contar tudo às Superioras? E as Superioras não acreditavam nas

minhas palavras, manifestando pena de mim, como se eu estivesse sob a

influência da ilusão ou da imaginação.

 

Por este motivo [temia] estar iludida e decidi evitar Deus no meu íntimo,

receando que fossem ilusões. No entanto a graça de Deus perseguia-me a

cada passo. E quando menos o esperava, Deus falava-me.

 

39. Um dia Jesus disse-me que ia castigar uma cidade, que é a mas

bonita de nossa Pátria. O castigo ia ser igual àquele com que Deus castigou

Sodoma e Gomorra. Vi a grande ira de Deus e um escalafrio trespassou o

meu coração. Rezei em silêncio. Um momento depois Jesus disse-me:

Minha filhinha, durante o Santo Sacrifício une-te estreitamente

Comigo e oferece ao Pai do Céu o Meu Sangue e as Minhas Chagas em

reparação dos pecados dessa cidade. Repete isso, sem cessar, durante

toda a Santa Missa. Faz isto durante sete dias.

 

Ao sétimo dia vi Jesus numa núvem clara e comecei a pedir que Jesus

olhasse por aquela cidade e por todo o nosso país. Jesus olhou com

bondade. Ao ver a benevolência de Jesus comecei a pedir-lhe a Sua bênção.

De repente Jesus disse: Por ti abençoo o país inteiro. E com a mão fez um

grande sinal da cruz sobre a nossa Pátria. Ao ver a bondade de Deus, uma

grande alegria encheu a minha alma.

 

40. Ano 1929. Uma vez durante a Santa Missa senti a proximidade de

Deus de um modo muito intenso, apesar de que me defendia de Deus e de

Lhe voltar as costas. Às vezes fugia de Deus porque não queria ser vítima

do espírito maligno, dado que mais de uma vez me tinham dito que o era.

Esta incerteza durou muito tempo.

 

Durante a Santa Missa, antes da Santa Comunhão, teve lugar a

renovação dos votos. Ao levantar-nos dos genuflexórios começámos a

repetir a fórmula dos votos e, de repente, o Senhor Jesus pôs-se ao meu

lado, vestido com uma túnica branca, cingido com um cinto de ouro e disseme: Concedo-te o eterno Amor para que a tua pureza seja sem mácula

e como prova de que nunca experimentarás tentações impuras. Jesus

tirou o cinto de ouro e, com ele, envolveu a minha cintura.

Desde então não experimento nenhumas perturbações contrárias à

virtude, nem no coração nem na mente. Depois compreendi que era uma

das maiores graças que a Santíssima Virgem Maria obteve para mim, já que

durante muitos anos lhe tinha suplicado recebê-la. A partir daquele

momento tenho maior devoção à Mãe de Deus. Ela ensinou-me a amar

interiormente a Deus e como cumprir a Sua santa vontade em tudo. Maria,

Tu és a [verdadeira] alegria, porque por meio de Ti, Deus desceu à Terra [e]

ao meu coração.

 

41. Uma vez vi um servo de Deus em perigo de pecado grave, que seria

cometido um momento depois. Comecei a pedir a Deus que me enviasse

todos os tormentos do Inferno, todos os sofrimentos que quisesse, mas que

libertasse esse sacerdote e o afastasse do perigo de cometer o pecado. Jesus

ouviu a minha súplica e, num momento, senti na cabeça a coroa de

espinhos. Os espinhos da coroa penetraram-me até ao cérebro. Isto durou

três horas. O servo de Deus foi libertado daquele pecado e Deus fortaleceu

a sua alma com uma graça especial.

 

42. Uma vez, num dia de Natal, comecei a sentir-me envolvida pela

omnipotência e presença de Deus. Mas, de novo, evitei interiormente o

encontro com o Senhor. Pedi licença à Madre Superiora para ir a

“Józefimek”, [para] visitar as irmãs.

 

A Madre Superiora autorizou e, uma vez terminado o almoço,

começámos a preparar-nos. As irmãs já estavam à minha espera na porta.

Fui a correr à cela procurar uma capa e, no umbral, vi o Senhor Jesus

que me disse estas palavras: Vai, mas Eu retiro-te o coração. De imediato

senti que não tinha coração no peito. Como as irmãs me chamaram a

atenção de que devia apressar-me porque já era tarde, fui com elas. Mas

comecei a sentir uma grande tristeza, que penetrou a minha alma; no

entanto, ninguém, excepto Deus, sabia o que se tinha passado na minha

alma.

 

Depois de passar apenas um momento em “Józefimek”, disse às irmãs:

Regressemos a casa. As irmãs pediram para descansar mais um pouco, mas

o meu espírito não conseguia acalmar-se. Expliquei-lhes que tinhamos de

voltar a casa antes que escurecesse e havia um bom trecho de caminho a

percorrer; e, assim, regressámos imediatamente. Quando a Madre Superiora

nos encontrou no corredor, perguntou-me: ¿Ainda não saíram ou já estão de

volta? Respondi que já tinhamos regressado porque não queríamos voltar de

noite. Tirei a capa e imediatamente fui à capela. Quando entrei, Jesus disse-

me: Vai dizer à Madre Superiora que não regressaste para estar em

casa antes do anoitecer, mas porque te tirei o coração. Embora me

tivesse custado muito, fui ter com a Madre Superiora e expliquei-lhe

sinceramente o motivo pelo qual tinha regressado tão depressa e pedi

perdão ao Senhor por tudo o que não Lhe agradava. Naquele momento

Jesus inundou a minha alma com grande alegria. Entendi que não há

satisfação fora de Deus.

 

43. Uma vez vi duas irmãs que estavam prestes a entrar no Inferno. Uma

dor indizível oprimiu a minha alma; pedi a Deus por elas, e Jesus disse-me:

Vai dizer à Madre Superiora que estas duas irmãs estão em ocasião de

cometer um pecado grave. No dia seguinte disse-o à Superiora. Uma delas

já se tinha arrependido e encontrava-se em estado de fervor e a outra estava

[em] grande luta.

 

44. Um dia Jesus disse-me: Abandonarei esta casa… porque nela há

coisas que não Me agradam. E a Hóstia do tabernáculo descansou nas

minhas mãos e eu [com] alegria coloquei-a no tabernáculo. Isto repetiu-se

de novo e eu fiz com Ela o mesmo; no entanto [isso] repetiu-se terceira vez

e a Hóstia transformou-se no Senhor Jesus, que me disse: Não ficarei aqui

mais tempo. De repente, na minha alma despertou um imenso amor a Jesus

e disse: Eu não Te deixarei sair desta casa, Jesus. E Jesus desapareceu

novamente e a Hóstia descansou nas minhas mãos. De novo A pus no cálice

e A encerrei no tabernáculo. E Jesus ficou connosco. Durante três dias tratei

de fazer a adoração reparadora.

 

45. Uma vez disse-me Jesus: Diz à A Madre Geral que nesta casa

sucedem tais coisas, que não Me agradam e Me ofendem muito. Não lhe

disse imediatamente, mas a inquietação que Deus me infundiu não me

permitiu adiar por mais tempo e não demorei em escrever à Madre Geral; e

a paz voltou à minha alma.

 

46. Muitas vezes vivi a Paixão do Senhor Jesus no meu corpo; embora

isso fosse invisível, alegrava-me com isso, porque Jesus quer que seja

assim. Isso deu-se durante muito pouco tempo.

Estes sofrimentos incendiavam a minha alma com um fogo de amor a

Deus e às almas imortais. O amor suportará tudo, o amor continuará depois

da morte, o amor nada teme…

1931, 22 de Fevereiro

 

47. Ao anoitecer, estando na minha cela, vi o Senhor Jesus vestido com

uma túnica branca.

Tinha uma mão levantada para abençoar e com a outra tocava a túnica

sobre o peito. Da abertura da túnica no peito, saíam dois grandes raios: um

vermelho e outro pálido. Em silêncio, atentamente olhava o Senhor, a

minha alma estava cheia de temor, mas também de uma grande alegria.

Depois de um momento, Jesus disse-me: Pinta uma imagem segundo o

modelo que vês, com a inscrição: Jesus, eu confio em Vós. Desejo que

esta imagem seja venerada primeiro na vossa capela e [depois] em tudo

o mundo.

 

48. Prometo que a alma que venera esta imagem não se perderá.

Também prometo, aqui na Terra, a vitória sobre os inimigos e,

especialmente, à hora da morte. Eu Mesmo a defenderei como a Minha

própria glória.

 

49. Quando disse ao confessor recebi como resposta que isso se

referia à minha alma. Disse: «pinta a imagem de Deus na tua alma».

Quando saí do confessionário, ouvi novamente estas palavras: A Minha

imagem já está na tua alma. Desejo que haja uma Festa da

Misericórdia. Quero que esta imagem, que pintarás com o pincel, seja

benzida com solenidade no primeiro domingo depois da Páscoa da

Ressurreição; esse domingo deve ser a Festa da Misericórdia.

 

50. Desejo que os sacerdotes proclamem esta grande Misericórdia

que tenho para com as almas pecadoras. Que o pecador não tenha

medo de se aproximar de Mim. Queimam-me as chamas da

Misericórdia, desejo derramá-las sobre as almas.

Jesus lamentou-se com estas palavras: A desconfiança das almas

dilacera as Minhas entranhas. Ainda mais Me dói a desconfiança das

almas escolhidas; apesar do Meu amor inesgotável não confiam em

Mim. Nem sequer a Minha morte foi suficiente para elas. ¡Ai das almas

que abusem dela!

 

51. Quando disse à Madre Superiora o que Deus me pedia,

respondeu-me que Jesus devia explicar mais claramente o que pretendia

através de algum sinal.

Quando pedi ao Senhor Jesus um sinal como prova de que

verdadeiramente Ele era Deus e meu Senhor e de que d’Ele vinham estas

petições, então ouvi interiormente esta voz: Dá-lo-ei a conhecer às

Superioras através das graças que concederei por meio desta imagem.

 

52. Quando quis libertar-me destas inspirações, Deus disse-me que no

dia do juízo exigiria de mim um grande número de almas.

Uma vez, cansadíssima pelas múltiplas dificuldades que tinha por Jesus

me falar e exigir que fosse pintada a imagem, decidi firmemente, antes dos

votos perpétuos, pedir ao Padre Andrasz que me dispensasse destas

inspirações interiores e da obrigação de pintar a imagem. Ao escutar a

confissão, o Padre Andrasz deu-me a seguinte resposta: «Não a dispenso de

nada, irmã e não lhe está permitido subtrair-se a estas inspirações interiores,

mas deve dizer tudo ao confessor; isso é necessário, absolutamente

necessário, porque de contrário se desviará, apesar destas grandes graças do

Senhor. De momento a Irmã confessa-se comigo, mas há de saber que deve

ter um confessor permanente, isto é, um director espiritual».

 

53. Afligi-me muitíssimo. Pensava poder libertar-me de tudo e tudo

aconteceu ao contrário: uma ordem clara de seguir as exigências de Jesus. E

agora o tormento de não ter confessor permanente. Se durante algum tempo

me confessava [com algum], não era capaz de revelar a minha alma quanto

às graças, o que me causava um sofrimento indizível. Peço a Jesus que

conceda estas graças a outra pessoa, porque eu não sei aproveitá-las e

somente as desperdiço. Jesus, tem compaixão de mim, não me peças coisas

tão grandes, vês que sou um monte de pó inútil. No entanto, a bondade de

Jesus não tem limites, prometeu-me uma ajuda visível na Terra e [a] recebi

pouco depois em Vilna. Reconheci no Padre Sopocko essa ajuda de Deus.

Tinha-o conhecido numa visão interior antes de chegar a Vilna. Um dia vi-o

na nossa capela entre o altar e o confessionário. De repente, na minha alma,

ouvi uma voz: Eis a ajuda visível para ti, na Terra. Ele te ajudará a

cumprir a Minha vontade na Terra.

 

54. Um dia cansada dessas incertezas, perguntei a Jesus: Jesus, és Tu o

meu Deus ou és um fantasma? As Superioras dizem-me que existem ilusões

e toda a espécie de fantasmagorias. Se és o meu Senhor, peço-Te, abençoame. De repente, Jesus fez um grande sinal da cruz sobre mim, e eu

persignei-me. Quando pedi perdão a Jesus por Lhe ter feito essa pergunta,

Jesus respondeu que com esta pergunta não lhe causei nenhum desgosto e o

Senhor disse-me que a minha confiança Lhe agradava muito.

 

55. 1933 Conselhos espirituais que me deu o Padre Andrasz, S.J.

 

Primeiro:«A Irmã não deve evitar essas inspirações interiores, mas deve

contar sempre tudo ao confessor. Se reconhece que essas inspirações

interiores se revelam proveitosas para a sua alma ou para outras almas, sigaas e não as despreze, mas sempre de acordo com o seu confessor.

 

Segundo: Se essas inspirações não concordam com a fé e com o espírito

da Igreja, deve afastá-las imediatamente, porque vêm do espírito maligno.

 

Terceiro: Se essas inspirações não se referem às almas em geral, nem

especialmente ao seu bem, não se preocupe muito com elas, irmã, e não

lhes faça caso em absoluto.

 

Todavia, não decida por si própria nesta matéria, neste sentido ou noutro,

porque pode desviar-se apesar destas grandes graças do Senhor. Humildade,

humildade e sempre humildade, porque por nós mesmos não podemos fazer

nada. Todo isto é somente graça de Deus.

Disse-me que Deus exige muita confiança das almas; pois seja a

primeira a mostrar essa confiança. Uma palavra mais: Aceite tudo isto com

serenidade».

As palavras de um dos confessores: «Irmã, Deus está a preparar-lhe

muitas graças especiais, mas procure que a sua vida seja pura como uma

lágrima diante do Senhor, sem fazer caso do que possam pensar de si. Que

lhe baste Deus, e só Ele».

No final do noviciado o confessor disse-me estas palavras:

«Caminhe pela vida fazendo o bem para que se possa escrever nas páginas

de sua vida: viveu fazendo o bem; que Deus realize isto em si, irmã».

Noutra oportunidade o confessor disse-me: «Porte-se diante do Senhor

como a viúva do Evangelho que pôs na caixa das esmolas uma moedinha de

pouco valor; mas, para Deus, esta valeu mais que as grandes ofertas dos

outros».

Outro dia recebi este ensinamento: «Procure que quem trate consigo, se

afaste feliz. Difunda à sua volta o odor da felicidade, porque recebeu muito

de Deus e por isso seja generosa com os outros. Que todos possam

despedir-se de si felizes, embora tenham apenas roçado a borda da sua

túnica. Recorde bem as palavras que lhe estou dizendo agora».

Outra vez disse-me estas palavras: «Permita que o Senhor conduza a

barca da sua vida para a profundidade insondável da vida interior».

Algumas palavras da conversa com a Madre Mestra ao final do

noviciado: «Que a sua alma, irmã, se distinga especialmente pela

simplicidade e humildade. Caminhe pela vida como uma criança, sempre

confiada, sempre cheia de simplicidade e humildade, contente com tudo,

feliz com tudo. Onde outras almas se assustam a irmã deve passar

tranquilamente graças à simplicidade e à humildade. Recorde para toda a

vida que como as águas descem das montanhas aos vales, as graças do

Senhor descem só sobre as almas humildes».

 

56. Oh meu Deus, entendo bem que exiges de mim a infância espiritual,

porque ma pedes continuamente através dos Teus representantes.

Os sofrimentos e contrariedades no início da vida religiosa tinham-me

assustado, tinham-me tirado a coragem. Por isso pedia continuamente que

Jesus me fizesse mais forte e me concedesse a força do seu Santo Espírito,

para poder cumprir em tudo a Sua santa vontade, já que desde o começo

conhecia e conheço a minha debilidade. Sei bem o que sou por mim mesma,

porque Jesus revelou aos olhos da minha alma todo o abismo da minha

miséria e portanto dou-me conta perfeitamente que tudo o que há de bom na

minha alma é unicamente a Sua santa graça.

Mas o conhecimento da minha miséria permite-me, ao mesmo tempo,

conhecer o abismo da Tua Misericórdia. Na minha vida interior, com um

olho fito o abismo de nulidade e de baixeza que sou, e com o outro o

abismo da Tua Misericórdia, oh Deus.

 

57. Oh, meu Jesus, Tu és a vida da minha vida, Tu sabes bem que a

única coisa que desejo é a glória do Teu nome e que as almas conheçam a

Tua bondade. ¿Por que é que as almas Te evitam, oh Jesus?, não o entendo.

Oh se pudesse dividir o meu coração em partículas pequeninas e oferecerte, oh Jesus, cada partícula como um coração inteiro para compensar-te,

embora parcialmente, pelos corações que não Te amam. Amo-Te, Jesus,

com cada gota do meu sangue e derramá-lo-ia voluntariamente por Ti para

te dar a prova do meu amor sincero. Oh Deus, quanto mais Te conheço

tanto menos Te posso entender, mas essa incapacidade de compreender-Te

permite-me conhecer o grande que és, oh Deus. E essa incapacidade de

compreender-Te incendeia o meu coração por Ti como uma nova chama, oh

Senhor. Desde o momento em que permitiste, oh Jesus, submergir o olhar

da minha alma em Ti, descanso e não desejo nada mais. Encontrei o meu

destino no momento em que a minha alma se submergiu em Ti, no único

objecto do meu amor. Tudo é nada em comparação Contigo. Os

sofrimentos, as contrariedades, as humilhações, os fracassos, as suspeitas

que enfrento, são espinhos que incendeiam o meu amor por Ti, Jesus.

Loucos e inatingíveis são os meus anseios. Desejo ocultar-Te o meu

sofrimento. Não quero ser recompensada jamais pelos meus esforços e

pelas minhas boas obras. Oh Jesus, Tu Mesmo és a minha recompensa. Tu

me bastas, oh Tesouro do meu coração.

 

Desejo compartilhar os sofrimentos do próximo, esconder os meus

sofrimentos no meu coração não só diante do próximo, mas também diante

de Ti, oh Jesus. O sofrimento é uma grande graça. Através do sofrimento a

alma torna-se semelhante ao Salvador, o amor cristaliza-se no sofrimento.

Quanto maior é o sofrimento, tanto mais puro se torna o amor.

58. Uma noite veio visitar-me uma de nossas irmãs que tinha falecido

dois meses antes. Era uma das irmãs do primeiro coro. Vi-a num estado

terrível. Toda em chamas, a cara dolorosamente torcida. [A visão] durou um

breve instante e desapareceu. Um escalafrio trespassou a minha alma e

embora não soubesse onde sofria, se no Purgatório, se no Inferno, no

entanto redobrei as minhas preces por ela. Na noite seguinte veio de novo,

mas vi-a num estado ainda mais espantoso, entre chamas mais terríveis, na

sua cara notava-se o desespero. Surpreendi-me muito que depois das preces

que tinha oferecido por ela a vi num estado ainda mais terrível e perguntei:

¿Não te ajudaram nada as minhas orações? Respondeu-me que não a

ajudaram nada as minhas preces e que não a iam ajudar. Perguntei: ¿E as

orações que toda a Congregação ofereceu por ti, tampouco te ajudaram?

Respondeu-me que nada. Aquelas orações foram em proveito de outras

almas. Então disse-lhe: Se as minhas preces não te ajudam nada, irmã,

peço-te que não venhas ver-me. E desapareceu imediatamente. No entanto

eu não deixei de rezar. Depois de algum tempo voltou a visitar-me de noite,

mas num estado distinto. Não estava entre chamas como antes e o seu rosto

estava radiante, os olhos brilhavam de alegria e disse-me que eu tinha

verdadeiro amor ao próximo, que muitas almas se aproveitaram das minhas

preces; animou-me a não deixar de [interceder] pelas almas que sofriam no

Purgatório e disse-me que ela não ia permanecer já por muito tempo no

Purgatório. ¡Os juízos de Deus são verdadeiramente misteriosos!

 

59. 1933 Uma vez ouvi na minha alma esta voz: Faz uma novena pela

Pátria. A novena consistirá na Ladainha de Todos os Santos. Pede

autorização ao confessor.

Durante a confissão seguinte obtive a licença e à noite comecei

imediatamente a novena.

 

60. Terminando a Ladainha vi uma grande claridade e nela Deus Pai.

Entre a luz e a Terra vi Jesus cravado na cruz de tal forma que Deus,

desejando olhar para a Terra, tinha que olhar através das chagas de Jesus. E

entendi que Deus abençoava a Terra em consideração a Jesus.

 

61. Jesus, agradeço-Te por esta grande graça, isto é, pelo confessor que

Tu Mesmo Te dignaste escolher-me e que me fizeste observar numa visão,

antes de conhecê-lo [pessoalmente]. Quando ia confessar-me com o

Padre Andrasz, pensava que ia ser dispensada destas inspirações interiores.

O Padre respondeu-me que não podia libertar-me delas, e disse: «Peça irmã

para [vir a ter] um director espiritual».

Depois de uma breve e ferverosa prece vi de novo o Padre Sopocko na

nossa capela, entre o confessionário e o altar. Naquele tempo encontravame em Cracóvia. Foram estas duas visões que me fortaleceram o espírito,

tanto mais que o encontrei, tal qual o tinha visto nas visões, em Varsóvia

durante a terceira provação, e depois em Cracóvia. Agradeço-Te, Jesus,

por esta grande graça.

Agora tremo quando oiço, às vezes, uma alma dizer que não tem

confessor, isto é, director espiritual, porque sei que graves danos sofri

quando não tinha esta ajuda. Sem o director espiritual é fácil desviar-se do

caminho.

 

62. ¡Oh vida cinzenta e monótona, quantos tesouros encerras! Nenhuma

hora se parece com outra, pois a tristeza e a monotonia desaparecem quando

olho tudo com os olhos da fé. A graça que há para mim nesta hora não se

repetirá na hora seguinte. Poderá ser-me dada na hora seguinte, mas não

será já a mesma. O tempo passa e nunca mais volta. Mas o que contém em

si, não mudará nunca; fica selado para toda a eternidade.

 

63. O Padre Sopocko deve ser muito amado pelo Senhor. Digo isto

porque pude comprovar quanto Deus se preocupa por ele em certos

momentos; ao ver isto estou enormemente contente por o Senhor ter tais

eleitos.

 

64. 1928 Excursão a Kalwaria. Tinha vindo para Vilna por dois

meses, para substituir uma irmã que tinha ido para a terceira provação,

mas permaneci um pouco mais de dois meses. Um dia a Madre Superiora, desejando agradar-me, deu-me licença para ir, em companhia de outra

irmã, a Kalwaria para fazer o chamado “passeio dos caminhitos”.

 

Alegrei-me muito. Devíamos ir de barco, apesar de que estava tão próximo,

mas tal foi o desejo da Madre Superiora. À noite disse-me Jesus: Eu desejo

que fiques em casa. Respondi: Jesus, está tudo preparado, devemos sair de

manhã, ¿Que vou fazer agora? E o Senhor respondeu-me: Esta excursão

causará dano à tua alma. Respondi a Jesus: Tu podes sempre remediar,

dispõe as circunstâncias de tal forma que se faça a Tua vontade. Nesse

momento ouviu-se a campainha para o descanso. Com um olhar despedi-me

de Jesus e fui para a cela.

De manhã estava um dia esplêndido e a minha companheira estava

contente [pensando] que teríamos uma grande satisfação, que poderíamos

visitar tudo; mas eu estava segura de que não sairíamos, embora até ao

momento não houvesse nenhum obstáculo que nos impedisse.

Em primeiro lugar deveríamos receber a Sagrada Comunhão e sair

imediatamente, depois da accão de graças. De repente, durante a Santa

Comunhão, a esplêndida manhã mudou completamente. Sem saber de onde,

vieram as núvens e cobriram todo o céu, e começou uma chuva torrencial.

Todos estranhavam, já que num dia tão belo ¿Quem poderia esperar chuva,

e que mudasse assim em tão pouco tempo?

 

A Madre Superiora disse-me: «Sinto muito que as irmãs, não possam

ir». Respondi: Querida Madre, não importa que não possamos ir, já que a

vontade de Deus é que fiquemos em casa. No entanto ninguém sabia que

era um claro desejo de Jesus que eu ficasse em casa. Passei todo o dia em

recolhimento e em meditação; agradeci ao Senhor por nos ter retido em

casa. Naquele dia Deus concedeu-me muitas consolações celestiais.

 

65. Um dia, no noviciado, quando a Madre Mestra me tinha destinado à

cozinha das meninas, afligi-me muito por não estar em condições de

carregar com as panelas, que eram enormes. O mais difícil para mim era

escoar a água das batatas; às vezes caía para fora metade delas. Quando o

disse à Madre Mestra respondeu-me que pouco a pouco me acostumaria e

adquiriria prática. Mas esta dificuldade não desaparecia já que as minhas

forças iam diminuindo cada dia e, devido à falta de forças, afastava-me

quando chegava o momento de escorrer as batatas. As irmãs deram-se conta

de que evitava esse trabalho e estranharam muitíssimo; não sabiam que não

podia ajudá-las apesar de me empenhar com todo o fervor e sem nenhum

cuidado para comigo mesma. Ao meio dia, durante o exame de conciência,

queixei-me ao Senhor da falta de forças. De repente ouvi na alma estas

palavras: A partir de hoje ficará muito fácil. Aumentarei as tuas forças.

De noite, quando chegou o momento de escoar as batatas apressei-me a ser

a primeira, confiada nas palavras do Senhor.

 

Peguei na panela com facilidade e escorri bastante bem. Mas quando

tirei a tampa para fazer sair o vapor, em vez de batatas vi na panela ramos

de rosas vermelhas, tão belas que é difícil descrevê-las. Nunca tinha visto

semelhantes. Fiquei surpreendida sem entender o seu significado, mas

naquele momento ouvi uma voz na minha alma: Transformo o teu pesado

trabalho em ramos das flores mais belas e o seu perfume sobe até ao

Meu trono. Desde esse momento procurei escoar as batatas não somente

durante a semana para mim designada na cozinha mas procurava

substituir outras irmãs neste trabalho, no seu turno. Mas não somente [em]

este trabalho, mas em cada trabalho pesado tratava de ser a primeira em

ajudar, porque tinha experimentado quanto isso agradava a Deus.

 

66. ¡Oh tesouro inesgotável da pureza de intenção que fazes perfeitas e

tão agradáveis a Deus todas as nossas acções!

Oh Jesus, Tu sabes que débil sou, por isso fica sempre comigo, guia as

minhas acções, todo o meu ser. Tu, o meu melhor Mestre. De verdade, oh

Jesus, invade-me o temor quando vejo a minha miséria, mas ao mesmo

tempo tranquilizo-me vendo a Tua Misericórdia insondável que, desde toda

a eternidade, é maior do que a minha miséria. E esta disposição de ânimo

reveste-me do Teu poder. Oh gozo que se deriva do conhecimento de mim

mesma, Oh verdade imutável. Eterna é a Tua constância.

 

67. Quando, pouco tempo depois dos meus primeiros votos, adoeci

e apesar do cordial e carinhoso cuidado das Superioras, apesar dos

tratamentos médicos, não estava nem melhor nem pior, então começaram a

chegar-me aos ouvidos insinuações de que eu estava a fingir. E assim

começou o meu sofrimento, que durou bastante tempo. Um dia queixei-me

a Jesus de que eu era um peso para as irmãs. Respondeu-me Jesus: Não

vives para ti, mas para as almas. Outras almas se beneficiarão com os

teus sofrimentos. Os teus prolongados sofrimentos dar-lhes-ão luz e

força para aceitar a minha Vontade.

 

68. O meu maior sofrimento consistia na impressão de que as minhas

orações e as minhas boas obras não agradavam ao Senhor. Não me atrevia a

olhar para o Céu. Isso produzia-me um sofrimento tão grande que quando

estava na capela para os exercícios espirituais comunitários, terminados

aqueles, a Madre Superiora chamou-me e me disse: «Peça a Deus,

irmã, graça e consolação, porque eu mesma vejo e mo dizem outras irmãs,

que só ao vê-la, mete dó. Em verdade, não sei que fazer consigo. Ordenolhe que não se aflija por nada». No entanto, todas essas conversas com a

Madre Superiora não me deram alívio, nem me ajudaram nada. Uma

escuridão ainda mais densa me ocultava Deus.

 

Procurei ajuda no confessionário, mas tampouco ali a encontrei. Um sacerdote virtuoso quis

ajudar-me, mas eu estava tão preocupada que nem sequer soube explicar os

meus tormentos e isso causou-me sofrimentos ainda maiores. Uma tristeza

mortal se apoderou da minha alma até tal ponto que não conseguia ocultá-la

e manifestava-se também exteriormente. Perdi a esperança. A noite cada

vez mais escura. O sacerdote com quem me confessava disse-me: «Eu vejo

em si, irmã, umas graças especiais e estou completamente tranquilo por si.

¿Porquê, pois, atormentar-se tanto?» Mas, naquela altura, eu não o entendia,

e estranhava-me imensamente quando me dava por penitência rezar o Te

Deum ou o Magnificat, ou às vezes, ao entardecer, devia correr rapidamente

pelo jardim, ou rir-me a bom rir dez vezes por dia. Essas penitências

espantavam-me bastante, mas apesar disso esse sacerdote não me ajudou

muito. O Senhor queria, talvez, que eu O louvasse com o sofrimento. O

sacerdote consolava-me [dizendo] que encontrar-me nesse estado agradava

mais a Deus que se estivesse inundada das maiores consolações. «Que

graça tão grande de Deus, irmã, que no seu actual estado de tormentos

espirituais em que se encontra, não ofenda a Deus, e ainda procure

exercitar-se nas virtudes. Eu observo a sua alma, vejo nela grandes planos

de Deus e graças especiais, e vendo isto em si, irmã, dou graças ao Senhor».

No entanto, e apesar de tudo, a minha alma encontrava-se em suplícios e

tormentos indizíveis. Imitava o cego que confia no seu guia e agarra com

força a sua mão, e nem por um momento me afastava da obediência, que

era a minha tábua de salvação na prova de fogo.

 

69. Jesus, Verdade Eterna, fortalece as minhas fracas forças! Tu, oh

Senhor, tudo podes. Sei que sem Ti os meus esforços não valem nada. Oh

Jesus, não Te ocultes de mim, porque não posso viver sem Ti. Escuta o

chamamento da minha alma. Não se esgotou, Senhor, a Tua Misericórdia;

tem piedade da minha miséria. A Tua Misericórdia excede o entendimento

dos Anjos e homens juntos e, embora me pareça que não me escutas,

depositei a minha confiança no mar da Tua Misericórdia e sei que a minha

esperança não será defraudada.

 

70. Só Jesus sabe como é pesado e difícil cumprir as obrigações quando

a alma se encontra nesse estado de tormentos interiores, as forças físicas

debilitadas e a mente ofuscada. No silêncio do meu coração repetia: Oh

Cristo, para Ti as delícias a honra e a glória, e para mim o sofrimento. Não

atrasarei nem um só passo para Te seguir, embora os espinhos firam os

meus pés.

 

71. Quando me enviaram, para tratamento, para a casa de Plock, tive a

sorte de enfeitar a capela com flores. Isso foi em Biala. A Irmã Tecla

nem sempre tinha tempo, por isso eu enfeitava a capela muitas vezes. Um

dia recolhi as mais belas rosas para enfeitar o quarto de certa pessoa. Ao

aproximar-me do pórtico, vi o Senhor Jesus que estava de pé nesse pórtico e

me perguntou amavelmente: Minha filha, ¿para quem levas essas flores?

O meu silêncio foi a resposta ao Senhor, porque naquele momento me dei

conta de que tinha um subtil apego a essa pessoa, do que antes não dera

conta. Jesus desapareceu imediatamente. No mesmo instante atirei as flores

para o chão e fui diante do Santíssimo Sacramento com o coração cheio de

agradecimento pela graça de me ter conhecido a mim mesma. Oh Sol

divino, nos Teus raios a alma vê ainda os mais pequenos grãozinhos de pó

que não Te agradam.

 

72. Jesus, Verdade Eterna, Vida nossa, suplico e imploro a Tua

Misericórdia para os pobres pecadores. Oh Sacratíssimo Coração, Fonte de

Misericórdia de onde brotam raios de graças inconcebíveis sobre toda a raça

humana. Peço-Te luz para os pobres pecadores. Oh Jesus, recorda a Tua

amarga Paixão e não permitas que se percam almas redimidas com o Teu

tão Precioso, Santíssimo Sangue. Oh Jesus, quando considero o alto preço

do Teu Sangue, regozijo-me na sua imensidade porque uma só gota teria

bastado para salvar todos os pecadores. Embora o pecado seja um abismo

de maldade e ingratidão, o preço pago por nós jamais poderá ser

comparável. Portanto, faz que cada alma confie na Paixão do Senhor e que

ponha a sua esperança na Sua Misericórdia. Deus não negará a sua

Misericórdia a ninguém. O Céu e a Terra poderão mudar, mas nunca se

esgotará a Misericórdia de Deus. ¡Oh, que alegria arde no meu coração,

quando contemplo a Tua bondade inconcebível, oh meu Jesus! Desejo

trazer todos os pecadores a Teus pés para que glorifiquem a Tua

Misericórdia pelos séculos dos séculos.

 

73. Oh meu Jesus, apesar da noite escura à minha volta e das núvens

sombrias que me escondem o horizonte, sei que o sol não se apaga. Oh

Senhor, embora não Te possa compreender nem entenda a Tua actuação,

confio na Tua Misericórdia. Se é Tua vontade, Senhor, que eu viva sempre

em tal escuridão que sejas bendito. Peço-Te uma só coisa, não deixes que

Te ofenda de nenhum modo. Oh meu Jesus, só Tu conheces os anseios e os

sofrimentos do meu coração. Alegro-me por poder sofrer, mesmo que seja

só um pouco, por Ti. Quando sinto que o sofrimento supera as minhas

forças, então refugio-me no Senhor no Santíssimo Sacramento e um

profundo silêncio é então a minha oração ao Senhor.

Confissão de uma das nossas alunas.

 

74. Desde o momento em que uma força misteriosa me convenceu a

conseguir a Festa da Misericórdia e que fosse pintada a imagem, não podia

encontrar a paz.

Alguma coisa me trespassava por completo e, no entanto, invadia-me o

temor de que fosse uma ilusão. Estas dúvidas sempre vinham do exterior,

porque no fundo da minha alma sentia que era o Senhor quem penetrava a

minha alma. O confessor, com quem me confessava então, dizia-me que

existiam casos de ilusões, e eu sentia que aquele confessor parecia ter medo

de me confessar. Era para mim um tormento. Ao ter-me dado conta de que

tinha pouco apoio por parte dos homens, refugiei-me ainda mais no Senhor

Jesus, no melhor Mestre. Em dado momento, quando me invadiu a dúvida

da voz que ouvia ser do Senhor, dirigi-me a Jesus num colóquio interior,

sem pronunciar uma palavra. De repente uma força penetrou a minha alma

e disse: Se Tu és verdadeiramente o meu Deus, que estás em comunhão

comigo e me falas, Peço-Te, Senhor, que essa aluna se confesse hoje

mesmo e esse sinal me fortalecerá. Nesse mesmo instante aquela menina

pediu a confissão.

 

75. A Madre da classe, surpreendida pela sua mudança repentina, não

tardou em procurar um sacerdote e essa pessoa confessou-se muito

arrependida. De imediato ouvi na minha alma a seguinte voz: ¿Crês-Me

agora? Outra vez uma força estranha encheu a minha alma, me reforçou e

me fortaleceu até tal ponto que eu mesma me assombrei de ter podido

duvidar por um momento. No entanto estas dúvidas sempre vinham de fora

e isso levou-me a fechar-me ainda mais em mim mesma. Ao sentir durante

a confissão a incerteza do confessor, não descubro a minha alma a fundo

mas só me acuso dos meus pecados. Se o sacerdote não tem serenidade em

si mesmo, não a dá a outras almas.

Oh sacerdotes, círios acesos que alumiam as almas, que a vossa

claridade não oscureça jamais. Compreendi que não era vontade de Deus

que descobrisse então o fundo da minha alma. Deus concedeu-me esta

graça mais tarde.

 

76. Meu Jesus, guia a minha mente, toma posse absoluta de todo o meu

ser, encerra-me no fundo do Teu Coração e protege-me do assalto do

inimigo. Em Ti está toda a minha esperança. Fala através da minha boca

quando eu, miséria absoluta, estiver com os poderosos e os sábios para que

reconheçam que esta causa é Tua e de Ti provém.

Trevas e tentações.

 

77. A minha mente estava estranhamente obscurecida, nenhuma verdade

me parecia clara.

Quando me falavam de Deus, o meu coração era como uma pedra. Não

conseguia tirar do coração nem um só sentimento de amor para com Ele.

Quando, com um acto de vontade, tratava de permanecer junto a Deus,

experimentava grandes tormentos e parecia-me que com isso causava uma

ira maior a Deus. Não podia absolutamente meditar como meditava

anteriormente. Sentia um grande vazio na minha alma e não conseguia

enchê-la com nada. Comecei a sentir o fome e o anseio de Deus, mas vi

toda a minha impotência. Tratava de ler devagar, frase por frase e meditar

do mesmo modo, mas em vão. Não compreendia nada do que lia. Diante

dos olhos da minha alma estava constantemente todo o abismo da minha

miséria. Quando ia à capela para fazer alguns exercícios espirituais, sempre

experimentava ainda mais tormentos e tentações. Às vezes, durante toda a

Santa Missa lutava com pensamentos blasfemos que tratavam de sair dos

meus lábios. Sentia aversão pelos santos sacramentos. Parecia-me que não

conseguia nenhum dos benefícios que os santos sacramentos oferecem.

Aproximava-me [deles] somente por obediência ao confessor e essa cega

obediência era para mim o único caminho que devia seguir e [a minha]

tábua de salvação. Quando o sacerdote me explicou que essas eram

provações enviadas por Deus e que, «com o estado em que te encontras não

só não ofendes a Deus, mas agradas-Lhe muito, é um sinal que Deus te ama

imensamente e que confia em ti, porque te visita com estas provações». No

entanto essas palavras não me consolaram, parecia-me que não se referiam

em nada a mim. Uma coisa estranhava. Às vezes, quando sofria

enormemente, no momento de me aproximar da confissão, de repente todos

estes terríveis tormentos cessavam; mas quando me afastava do

confessionário, todos esses tormentos voltavam a assaltar-me [com] maior

fúria.

 

Então postrava-me diante do Santíssimo Sacramento e repetia estas

palavras: Embora me mates, eu confiarei em Ti. Parecia-me que

agonizava naqueles sofrimentos. O pensamento que mais me atormentava

era de que eu era rejeitada por Deus. Logo vinham outros pensamentos:

¿Para quê empenhar-me nas virtudes e em boas obras? ¿Para quê mortificarme e despojar-me? ¿Para quê fazer votos? ¿Para quê rezar? ¿Para quê

sacrificar-me como vítima? ¿Para quê oferecer-me como vítima em cada

passo? ¿Para quê, se já sou rejeitada por Deus? ¿Para que servem estes

esforços? Em tudo isto somente Deus sabe o que ocorria no meu coração.

 

78. Terrivelmente atormentada por estes sofrimentos entrei na capela e

da profundidade da minha alma disse estas palavras: Faz comigo, Jesus, o

que Te agrade.

Em tudo Te hei de adorar. E que se faça em mim a Tua vontade, oh

Senhor e Deus meu, e eu glorificarei a Tua infinita Misericórdia. Depois

deste acto de submissão cessaram estes terríveis tormentos. De repente vi

Jesus que me disse: Eu estou sempre no teu coração. Um gozo

inconcebível inundou a minha alma e [a encheu] de grande amor de Deus

que inflamou o meu pobre coração. Vejo que Deus nunca permite

[sofrimentos] maiores dos que podemos suportar. Oh, já nada temo; pois se

Ele manda às almas maiores tribulações, sustenta-as com uma graça ainda

maior, embora não o percebamos. Um só acto de confiança em tal

momento, dá mais glória a Deus que muitas horas passadas no gozo de

consolações durante a oração.

Agora vejo que se Deus quer manter uma alma na escuridão, não a

iluminará nenhum livro nem nenhum confessor.

 

79. Oh Maria, Mãe e Senhora minha. Ofereço-Te a minha alma e o meu

corpo, a minha vida e a minha morte e tudo o que virá depois dela. Ponho

tudo nas tuas mãos oh minha Mãe. Cobre a minha alma com o Teu manto

virginal e concede-me a graça da pureza de coração, alma e corpo. Com o

Teu poder defende-me de todo o inimigo, especialmente daqueles que

escondem a sua malícia debaixo de uma máscara de virtude. Oh Espléndida

Açucena, Tu és o meu espelho, oh minha Mãe.

 

80. Jesus, divino prisioneiro do amor, quando considero o Teu amor e

como Te aniquilaste por mim, os meus sentidos desfalecem. Escondes a Tua

Majestade inconcebível e humilhas-Te rebaixando-Te a mim, um ser

miserável. Oh Rei da Glória, embora ocultes a Tua formosura, o olhar da

minha alma rasga esse véu. Vejo os coros dos Anjos que te honram

incessantemente e todas as potências celestiais que Te louvam sem cessar e

que Te dizem continuamente: Santo, Santo, Santo.

Oh ¿Quem compreenderá o Teu amor e a Tua Misericórdia insondável

para nós?

Oh prisionero do amor, encerro o meu pobre coração neste tabernáculo

para adorar-Te sem cessar dia e noite. Não conheço nenhum impedimento a

esta adoração, e embora esteja fisicamente longe de Ti, o meu coração está

sempre Contigo. Nada pode impedir o meu amor por Ti. Não existe nenhum

obstáculo para mim. Oh Jesus, consolar-Te-ei por todas as ingratidões, pelas

blasfémias, pela tibieza, pelo ódio dos ímpíos, pelos sacrilégios. Oh Jesus,

desejo arder como vítima pura e aniquilada diante do trono onde estás

oculto. Rogo-Te incessantemente pelos pecadores agonizantes.

 

81. Oh Santa Trindade, Deus Uno e Indivisível, bendito sejas por este

grande dom e testamento da Misericórdia. Oh meu Jesus, para compensar-te

pelos blasfemos, calar-me-ei quando me repreenderem injustamente, para

Te retribuir, embora seja numa pequena parte. Na minha alma estou

cantando para Ti um hino sem fim sem ninguém se aperceber ou entender.

O canto da minha alma só Tu o conheces, oh meu Criador e Senhor.

 

82. Não me deixarei absorver pelo trabalho até ao ponto de me esquecer

de Deus.

Passarei todos os momentos livres aos pés do Mestre oculto no

Santíssimo Sacramento. É Ele quem me ensina desde os mais tenros anos.

 

83 Escreve isto: antes de vir como Justo Juiz, venho como o Rei da

Misericórdia. Antes que chegue o dia da justiça, será dado aos homems

este sinal no Céu:

Apagar-se-á toda a luz no Céu e haverá uma grande escuridão em

toda a Terra.

Então, no Céu, aparecerá o sinal da Cruz, e dos orifícios onde foram

pregadas as mãos e os pés do Salvador sairão grandes luzes que,

durante algum tempo, iluminarão a Terra. Isso sucederá pouco tempo

antes do último dia.

 

84. Oh Sangue e Água, que brotastes do Coração de Jesus, como Fonte

de Misericórdia para nós, eu confio em Vós.

Vilna, 2 VIII 1934

 

85. Na sexta-feira, depois da Santa Comunhão fui transportada em

espírito diante do trono de Deus. Diante do trono de Deus vi as Potências

Celestiais que adoram a Deus sem cessar. Mais além do trono vi uma

claridade inacessível às criaturas; ali entra somente o Verbo Encarnado

como Intercessor. Quando Jesus entrou nessa claridade, ouvi estas palavras:

Escreve imediatamente o que vais ouvir: Sou Senhor pela Minha

Essência e não conheço mandatos nem necessidades. Se chamo as

criaturas à vida, é pelo abismo da Minha Misericórdia. Naquele mesmo

momento vi-me na nossa capela, como antes, no meu genuflexório. A Santa

Missa terminou. Já tinha escrito estas palavras.

 

86. Quando vi quanto o meu confessor devia sofrer por causa da

Obra que Deus realizava através dele, admirei-me durante um momento e

disse ao Senhor: Jesus, depois de tudo esta Obra é Tua; então ¿porque Te

portas com ele de tal modo que parece que a dificultas, enquanto exiges que

a leve por diante?

Escreve que dia e noite o Meu olhar descansa sobre ele e permito

estas contrariedades para multiplicar os seus méritos. Eu não

recompenso pelo resultado positivo mas pela paciência e trabalho

emprendido por Minha causa.

Vilna, 26 X 1934, Sexta-feira

 

87. Quando vinha do jardim com as alunas, para jantar, eram seis

menos dez, vi o Senhor Jesus sobre a nossa capela com a mesma forma que

o tinha visto pela primeira vez, tal como está pintado naquela imagem. Vi

os dois raios que saíam do Coração de Jesus envolverem a nossa capela e a

enfermaria e depois toda a cidade e estenderem-se sobre o mundo inteiro.

Isto durou talvez uns quatro minutos e desapareceu. Uma das jovenzinhas

que estava junto a mim, um pouco detrás das outras, também viu esses

raios, mas não viu Jesus nem viu de onde os raios saíam. Ficou muito

impressionada e contou [o] às outras meninas.

 

As meninas começaram a rir-se dela, [dizendo] que foi uma alucinação

ou talvez a luz de um aeroplano, mas ela obstinava-se fortemente na sua

opinião e dizia que nunca na sua vida tinha visto tais raios. Quando as

jovenzinhas lhe sugeriram que seria um reflector, ela contestou que

conhecia a luz do reflector. Raios como aqueles nunca os tinha visto.

Depois do jantar essa educanda veio falar comigo e disse-me que esses

raios a tinham impressionado tanto que não conseguia acalmar-se; falava

continuamente disso, no entanto não viu o Senhor Jesus. E recordava-me

esses raios sem cessar pondo-me assim em certa dificuldade, dado que eu

não lhe podia dizer que tinha visto o Senhor Jesus. Orei por essa querida

alma pedindo que o Senhor lhe concedesse as graças de que ela tanto

necessitava. O meu coração alegrou-se porque Jesus Mesmo se faz

conhecer na Sua Obra. Por este motivo sofri bastantes dissabores, mas, por

Jesus, tudo se pode suportar.

 

88. Quando estava em adoração, senti a proximidade de Deus. Depois de

um momento vi Jesus e Maria. Esta visão encheu a minha alma de alegria e

perguntei ao Senhor: ¿ Qual é a tua vontade, Jesus, nesta questão que o

confessor me mandou perguntar? Jesus respondeu-me: É Minha vontade

que permaneça aqui e que não se demita. E perguntei a Jesus se estava

bem a inscrição: “Cristo, rei de Misericórdia”, Jesus respondeu-me: Sou o

Rei da Misericórdia, mas não disse “Cristo”. Desejo que esta imagem

seja exposta em público no primeiro domingo depois da Páscoa da

Ressurreição. Esse domingo é a Festa da Misericórdia. Através do

Verbo Encarnado dou a conhecer o abismo da Minha Misericórdia.

 

89. Sucedeu que, tal como o Senhor tinha pedido, o primeiro acto de

veneração a esta imagem por parte do público teve lugar no primeiro

domingo depois de Páscoa. Durante três dias a imagem esteve exposta em

público, e recebeu a veneração pública porque foi colocada em Ostra

Brama, por cima duma janela, e por isso podia ver-se desde muito longe.

Durante esses três dias em Ostra Brama foi celebrada com solenidade a

clausura do Jubileu da Redenção do Mundo, o 19º centenário da Paixão do

Salvador. Agora vejo que a Obra da Redenção está ligada à Obra da

Misericórdia que o Senhor exige.

 

90. Um dia vi interiormente o muito que ia sofrer o meu confessor. Será

abandonado pelos amigos e todos se lhe oporão; as forças físicas sofrerão

um abalo. Vi-o como um cacho de uvas escolhido pelo Senhor e atirado ao

lagar dos sofrimentos. “A sua alma, em alguns momentos estará cheia de

dúvidas por causa desta Obra e de mim”. E vi como se o próprio Deus lhe

fosse contrário, e perguntei ao Senhor ¿por que se portava assim com ele?,

como se lhe dificultasse o que lhe encomendava. E o Senhor disse: Procedo

assim com ele para dar testemunho de que esta Obra é Minha. Diz-lhe

que não tenha medo de nada, o Meu olhar está posto nele, noite e dia.

Na sua coroa haverá tantas palmas quantas almas se salvarem através

desta Obra. Eu não recompenso pelo êxito do trabalho, mas pelo

sofrimento.

 

91. Oh meu Jesus, só Tu sabes quantas perseguições sofro, e somente

porque Te sou completamente fiel, a Ti e às Tuas ordens. Tu és a minha

força; apoia-me para que sempre cumpra com fidelidade tudo o que exiges

de mim. Eu, por mim mesma, não posso fazer nada, mas se Tu me apoiares,

todas as dificuldades nada serão para mim.

 

Oh Senhor, vejo que desde o primeiro momento em que a minha alma

recebeu a capacidade de conhecer-te, a minha vida é uma luta contínua e

cada vez mais violenta. Todas as manhãs, durante a meditação, preparo-me

para a luta de todo o dia, e a Santa Comunhão é a minha garantia de que

vencerei, e assim sucede. Temo o dia em que não possa receber a Santa

Comunhão. Este Pão dos Fortes dá-me toda a força para continuar esta Obra

e a coragem para cumprir tudo o que o Senhor exige. A coragem e a

fortaleza que estão em mim não são minhas mas de quem habita em mim, a

Eucaristia. Oh meu Jesus, ¡que grandes são as incompreensões! Às vezes,

se não fosse a Eucaristia, não teria coragem para seguir o caminho que me

indicaste.

 

92. A humilhação é [o meu] alimento quotidiano. Compreendo que a

esposa deve aceitar tudo o que respeite ao seu Esposo, por isso a veste do

desprezo que O cobre deve cobrir-me a mim também. Nos momentos em

que sofro muito, trato de calar-me, porque desconfio da língua que nesses

momentos é propensa a falar de si mesma, em lugar de servir para louvar a

Deus por todos os benefícios e dons que me foram proporcionados. Quando

recebo Jesus na Santa Comunhão, rogo-Lhe, com fervor, que se digne curar

a minha língua para que, com ela, não ofenda nem a Deus nem ao próximo.

Desejo que a minha língua louve a Deus sem cessar. Grandes erros se

cometem com a língua. Uma alma não chegará à santidade se não tiver

cuidado com a sua língua.

 

93. Resumo do Catecismo dos votos religiosos.

P. ¿O que é um voto?

R. O voto é uma promessa feita a Deus, voluntariamente, de realizar

actos cada vez mais perfeitos.

 

P. ¿Obriga o voto na matéria prescrita pelos mandamentos?

R. Sim. Realizar um acto na matéria prescrita pelos mandamentos tem

duplo valor e mérito, enquanto que descuidá-lo é um delito duplo e uma

maldade, porque se se quebra um voto, então ao pecado contra o

mandamento se agrega o pecado de sacrilégio.

 

P. ¿Porque têm os votos religiosos valor tão elevado?

R. Porque constituem o fundamento da vida religiosa, aprovada pela

Igreja, na qual os membros unidos numa Comunidade religiosa, se

comprometem a procurar incessantemente a perfeição por meio dos três

votos religiosos de pobreza, castidade e obediência, segundo a Regra da

Congregação.

 

P. ¿Que significa procurar a perfeição?

R. Procurar a perfeição significa que o estado religioso, por si só, não

exige a perfeição já adquirida, mas que obriga, sob pena de pecado, a um

trabalho diário para a alcançar. Portanto, um religioso que não quer

aperfeiçoar-se, descuida a principal obrigação do seu estado.

 

P. ¿Que são os votos religiosos (solenes)?

R. Os votos religiosos (solenes) são tão absolutos que só o Santo Padre

pode dispensar deles e somente em casos excepcionais.

 

P. ¿Que são os votos simples?

R. São votos menos rigorosos. Os votos perpétuos e anuais são

dispensados pela Santa Sé.

 

P. ¿Que diferença há entre o voto e a virtude?

R. O voto abrange somente o que é mandado pela Regra, sob pena de

pecado, enquanto que a virtude se eleva mais alto e facilita o cumprimento

do voto. Ao contrário, ao quebrar o voto falta-se à virtude e fere-se a

mesma.

 

P. ¿A que obrigam os votos religiosos?

R. Os votos religiosos obrigam a pretender alcançar as virtudes e à

submissão total aos Superiores e à Regra, com o qual o religioso entrega a

sua pessoa à Congregação, renunciando a todos os direitos sobre si própria

e sobre as suas actividades que dedica ao serviço de Deus.

 

O voto de pobreza

 

O voto de pobreza é uma renúncia voluntária ao direito de propriedade

ou de seu uso, para agradar a Deus.

P. ¿A que bens se refere o voto de pobreza?

R. A todos os bens e objectos pertencentes à Congregação. Já não se tem

direito ao que entregou, objectos ou dinheiro, desde que tenham sido

aceites. Todas as esmolas ou donativos, recebidos a título de agradecimento

ou outro, pertencem à Congregação. Todos os ganhos por trabalho ou outros

rendimentos, não podem ser usados sem violar o voto.

 

P. ¿Quando se infringe ou viola o voto respeitante ao sétimo

mandamento?

R. Infringe-se quando, sem licença, se toma para si ou para alguém uma

coisa pertencente à casa; quando sem licença se guarda alguma coisa com a

finalidade de apropriar-se dela; quando sem autorização se vende ou troca

alguma coisa pertencente à Congregação; quando se usa uma coisa com

outra finalidade à estipulada pelo Superior; quando se dá ou se recebe de

alguém qualquer coisa sem licença; quando se destrói ou estraga alguma

coisa, por negligência; quando ao mudar-se de uma casa a outra se leva

alguma coisa sem licença. Em caso de infringir o voto de pobreza o

religioso deve igualmente a restitução à Congregação.

 

A virtude da pobreza

 

É uma virtude evangélica que compromete o coração a desprender-se

dos bens temporais a à qual o religioso está obrigado estritamente em

virtude da sua profissão.

 

P.?Quando se peca contra a virtude da pobreza?

R. Quando se desejam coisas contrárias a esta virtude: quando se toma

apego a alguma coisa, quando sa usam coisas supérfluas.

 

P. ¿Quantos e quais são os graus de pobreza?

R. Na prática da profissão há quatro graus de pobreza: não dispôr de

nada sem depender dos Superiores (estrita matéria do voto); evitar o

supérfluo, conformar-se com o indispensável (constitui a virtude); procurar

de boa vontada as piores coisas e isto com satisfação interior; tais como a

cela, o vestuário, a comida, etc.; alegrar-se com a escassez.

 

O voto de castidade

 

P. ¿A que obriga este voto?

R. A renunciar ao matrimónio e a evitar tudo o que está proibido pelo

sexto e o nono mandamentos.

 

P. ¿A falta contra a virtude é uma transgressão do voto?

R. Qualquer falta contra a virtude é ao mesmo tempo uma violação do

voto, porque nisto não há diferença entre o voto e a virtude, como na

pobreza e na obediência.

 

P. ¿Todo o mau pensamento é pecado?

R. Nem todo o mau pensamento é pecado, mas chega a sê-lo se houver

consentimento da mente e adesão da vontade.

 

P. ¿Além dos pecados contra a castidade há algo mais que prejudique a

virtude?

R. A virtude vê-se prejudicada por falta de controle dos sentidos, da

imaginação e dos sentimentos, a familiariedade e as amizades sentimentais.

 

P. ¿Quais são os métodos para preservar a virtude?

R. Combater as tentações interiores com a presença de Deus e, além

disso, lutar sem temor. Quanto às tentações exteriores, evitando as ocasiões.

No geral há sete métodos principais. O primeiro, a guarda dos sentidos, e

[imediatamente] evitar as ocasiões, evitar o ócio, afastar prontamente as

tentações, evitar qualquer amizade e especialmente as especiais, [cultivar] o

espírito de mortificação, revelar as tentações ao confessor.

Além disso há cinco meios para conservar a virtude: a humildade, o

espírito de oração, a observância da modéstia, a fidelidade à Regra, a

devoção sincera à Santíssima Virgem Maria.

 

O voto da obediência

 

O voto da obediência é superior aos dois primeiros, já que na realidade é

o que constitui o holocausto, e é o mais necessário porque forma e mantém

em vida toda a estrutura religiosa.

 

P. ¿A que obriga o voto de obediência?

R. Com o voto de obediência o religioso promete a Deus obedecer aos

seus legítimos superiores em tudo o que lhe mandem em virtude da Regra.

O voto de obediência faz o religioso dependente do seu Superior em virtude

da Regra durante toda a sua vida e em todos os assuntos. O religioso comete

um pecado grave contra o voto cada vez que não obedece a uma ordem

recebida em virtude da obediência ou da Regra.

 

A virtude da obediência

 

A virtude da obediência vai mais além do voto, abarca a Regra, os

decretos, e inclusivamente os conselhos dos Superiores.

 

P. ¿É necessária ao religioso a virtude da obediência?

R. A virtude da obediência é tão necessária ao religioso que embora

actuasse bem [mas] contra a obediência, (os seus actos) converter-se-iam

em maus ou sem mérito.

 

P. ¿Pode pecar-se gravemente contra a virtude da obediência?

R. Peca-se gravemente se se desprezar a autoridade ou a ordem do

Superior e sempre que da desobediência resulta um dano espiritual ou

temporal para a Congregação.

 

P. ¿Que faltas pôem em perigo o voto?

R. Os preconceitos e antipatias pelo Superior, murmurações e críticas,

lentidão e negligência.

 

Os graus de obediência

 

Execução pronta e total. A obediência da vontade, quando a vontade

leva a mente a submeter-se à opinião do Superior. Santo Inácio apresentou

três meios que facilitam [a obediência]: sempre ver Deus no Superior,

qualquer que seja; justificar interiormente a ordem ou a opinião do

Superior; aceitar cada ordem como se fosse de Deus, sem discutir e sem

analisar. O meio mais geral – a humildade. Não há nada difícil para uma

pessoa humilde.

 

94. Oh Senhor meu, incendeia o meu amor por Ti, para que entre

tormentas, sofrimentos e provações, não desfaleça o meu espírito. Tu vês

como sou fraca. O amor tudo pode.

 

95. Um conhecimento mais profundo de Deus e o terror da alma. Ao

princípio Deus faz-se conhecer como santidade, Justiça, Bondade, isto é,

Misericórdia. A alma não se apercebe de tudo isto de uma só vez, mas por

graduais iluminações, isto é, por sucessivas aproximações de Deus. Isto não

dura muito tempo, porque a alma não poderia suportar essa luz. Durante a

oração a alma recebe um raio desta luz, que lhe impossibilita orar como até

então. Pode esforçar-se quanto queira, e tentar orar como antes, tudo em

vão, é absolutamente impossível continuar a rezar como antes de receber

esta luz. Esta lucidez que tocou a alma, é vida nela e nada a pode extinguir

nem obscurecer. Este relâmpago de conhecimento de Deus arrasta a alma e

inflama-a de amor por Ele. Mas, às vezes, este mesmo fulgor permite à

alma conhecer-se interiormente, e ela vê tudo no seu íntimo numa luz

superior e fica espantada e atemorizada.

 

No entanto não permanece naquele

estado, mas começa a purificar-se e a humilhar-se, a postrar-se diante do

Senhor, e estas luzes tornam-se mais fortes e mais frequentes; quanto mais

cristalina for a alma tanto mais penetrantes são estas luzes. No entanto, se a

alma respondeu fiel e firmemente a estas primeiras graças, Deus enche-a

com as suas consolações e entrega-se a ela de modo sensível. Então a alma

entra quase em relação de intimidade com Deus e sente-se em imensa

beatitude; pensa que já alcançou o grau de perfeição que lhe fora destinado,

já que os erros e os defeitos estão nela adormecidos e acha que já não os

tem. Nada lhe parece difícil, está preparada para tudo. Começa a submergirse em Deus e a disfrutar das Suas delícias. É levada pela graça e não se dá

conta em absoluto de que pode chegar o momento da prova e da luta. E, na

realidade, este estado não dura muito tempo. Virão outros momentos, mas

devo mencionar que a alma responde com mais fidelidade à graça de Deus

se tem um confessor experimentado a quem confia tudo.

 

96. Provas enviadas por Deus a uma alma especialmente amada.

Tentações e trevas: Satanás.

O amor da alma não é ainda como Deus o deseja. De repente a alma

perde a percepção da presença de Deus. Manifestam-se nela distintas faltas

e erros com os quais tem que levar a cabo uma luta encarniçada. Todos os

defeitos se avivam, apesar da sua vigilância ser grande. Em vez da anterior

presença de Deus surge a tibieza e a aridez espiritual, não encontra

satisfação nos exercícios espirituais, não pode rezar, nem como antes, nem

como orava últimamente. Luta por todos os lados e não encontra satisfação.

Deus escondeu-se e ela não encontra satisfação nas criaturas, nem nenhuma

criatura sabe consolá-la. A alma deseja Deus apaixonadamente, mas vê a

sua própria miséria e começa a sentir a justiça de Deus. Parece-lhe ter

perdido todos os dons de Deus, a sua mente está como obscurecida, a

escuridão envolve toda a sua alma, começa um tormento inconcebível. A

alma tenta apresentar o seu estado ao confessor, mas sem ser compreendida.

Assaltam-na inquietações ainda maiores. Satanás começa a sua obra.

 

97. A fé fica exposta ao fogo, a luta é dura, a alma faz esforços,

persevera junto a Deus com um acto de vontade. Com a permissão de Deus,

Satanás avança ainda mais, a esperança e o amor são postos à prova. Estas

tentações são terríveis, Deus sustém a alma em segredo. Ela não sabe, mas

de outra forma não poderia resistir. E Deus sabe o que pode permitir à alma.

A alma [é] tentada por incredulidade em relação às verdades reveladas, à

falta de sinceridade com o confessor. Satanás diz-lhe: «Vê, ninguém te

compreenderá ¿para que falar de tudo isto?» Nos ouvidos ressoam palavras

com as quais ela fica aterrorizada e parece-lhe que as pronuncia contra

Deus. Vê o que não quereria ver. Ouve o que não quereria ouvir, e é terrível

não ter em tais momentos um confessor experiente. Ela suporta sozinha

tudo isso; mas, tanto quanto lhe for possível, deve procurar um confessor

lúcido, não vá cair sob esse fardo e, ocorre com frequência, está à beira do

abismo.

 

Todas estas provações são duras e difíceis. Deus não as dá a uma alma

que anteriormente não tenha sido admitida a uma comunhão mais profunda

com Ele, que não disfrutou das doçuras do Senhor, e também Deus tem

nisso os seus fims insondáveis para nós. Muitas vezes Deus prepara de

modo semelhante a alma aos desígnios futuros e a grandes obras. E quer

prová-la como ouro puro, mas este não é ainda o fim da prova. Existe ainda

a provação das provações, isto é [sentir] o completo abandono por parte de

Deus.

 

A provação das provações.

 

O abandono absoluto – o desespero.

 

98. Quando a alma sai vitoriosa das provações anteriores, embora talvez

tropeçando, mas continua lutando com profunda humildade, clama ao

Senhor: Salva-me porque pereço. Mas está ainda em condições de lutar.

Agora uma terrível escuridão envolve a alma. A alma vê dentro de si

somente pecados. O que sente é terrível. Vê-se completamente abandonada

por Deus, sente como se fosse objecto do seu ódio e encontra-se à beira do

desespero.

 

Defende-se como pode, tenta despertar a confiança, mas a oração é para

ela um tormento ainda maior, parece-lhe que provoca em Deus uma mais

intensa ira. Está colocada num altíssimo cume que se encontra sobre um

precipício.

 

A alma deseja fervorosamente a Deus, mas sente-se rejeitada. Todos os

tormentos e suplícios do mundo nada são em comparação com a sensação

em que se encontra mergulhada, isto é, a rejeição por parte de Deus.

Ninguém a pode alíviar. Vê que se encontra sozinha, não tem ninguém que

a defenda. Levanta os olhos ao Céu, mas está convencida que o Céu não é

para ela, tudo está perdido para ela. De uma escuridão cai numa escuridão

ainda maior, parece-lhe que perdeu Deus para sempre, a esse Deus que

tanto amava. Este pensamento produz-lhe um tormento indescritível. No

entanto não se conforma com isso, procura olhar para o Céu, mas em vão;

isso causa-lhe um tormento ainda maior.

 

99. Ninguém pode iluminar tal alma se Deus quer mantê-la nas trevas.

Esta rejeição por parte de Deus ela sente-o muito vivamente, de modo

terrível. Do seu coração brotam gemidos dolorosos, tão dolorosos que

nenhum sacerdote os pode compreender se não passou pelo mesmo. Nisto a

alma padece ainda sofrimentos por parte do espírito maligno. Satanás

escarnece dela: «Vês, ¿continuarás a ser fiel? Eis a recompensa, já estás no

nosso poder». Mas Satanás só tem poder sobre aquelas almas quanto Deus

permite: Deus sabe quanto podemos resistir. «¿E que ganhaste por te ter

mortificado? ¿E que conseguiste sendo fiel à Regra? ¿Para quê todos estes

esforços? Estás rejeitada por Deus». A palavra “rejeitada” converte-se num

fogo que penetra cada nervo até à medula dos ossos.

 

Trespassa todo o seu ser por completo. Vem o momento supremo da prova. A alma já não

procura ajuda em nenhuma parte, fecha-se em si mesma e perde de vista

tudo, e é como se aceitasse este tormento de rejeição. É um momento que

não sei definir. É a agonia da alma. Quando esse momento começou a

aproximar-se de mim pela primeira vez, fui libertada dele em virtude da

santa obediência. A Mestra das noviças ao ver-me assustou-se e mandoume confessar-me; mas o confessor não me entendeu, não experimentei

sequer uma sombra de alívio. Oh Jesus, dá-nos sacerdotes com experiência.

Quando disse que experimentava na minha alma tormentos do Inferno,

respondeu-me que ele [o confessor] estava tranquilo pela minha alma,

porque via na minha alma uma grande graça de Deus. No entanto eu não

compreendia nada e nem um pequeno raio de luz penetrou na [minha] alma.

 

100. Agora já começo a sentir a falta de forças físicas e já não consigo

cumprir as minhas tarefas. Já não posso ocultar os sofrimentos: embora não

diga uma palavra do que sofro, no entanto a dor que se reflecte no meu

rosto denuncia-me; a Superiora disse que as irmãs lhe dizem que quando

me vêm na capela, sentem pena de mim, tão terrível é o meu aspecto. No

entanto, apesar dos esforços, a alma não é capaz de ocultar tal sofrimento.

 

101. Jesus, só Tu sabes como a alma geme nestes tormentos, submergida

na escuridão e, juntamente com tudo isso, tem fome e sede de Deus, como

os lábios queimados [têm sede] de água. Morre e definha; morre de uma

morte sem morrer, isto é, não pode morrer. Os seus esforços nada são; está

debaixo de uma mão poderosa. Agora a sua alma está sob o poder do Justo.

Cessam todas as tentações externas, emudece tudo o que a rodeia, como um

moribundo perde a noção do que tem à sua volta, toda a sua alma está

recolhida sob o poder do Justo e três vezes santo Deus. Rejeitada pela

eternidade. Este é o momento supremo e somente Deus pode submeter uma

alma a tal prova, porque só Ele sabe se a alma é capaz de a suportar.

 

Quando a alma foi penetrada totalmente por este fogo infernal, cai no

desespero. A minha alma experimentou esse momento quando estava

sozinha na cela. Quando a alma começou a consumir-se no desespero, senti

que estava a entrar em agonia; então agarrei num pequeno crucifixo e

apertei-o na mão com muita força; senti que o meu corpo ia separar-se da

alma e embora desejasse ir falar com as Superioras, já não tinha forças

físicas; pronunciei as últimas palavras, «confio na Tua Misericórdia», e

pareceu-me que tinha levado Deus a uma cólera ainda maior, e mergulhei

no desespero, e somente de vez em quando da minha alma irrompia um

gemido doloroso, um gemido sem consolo. A alma na agonia. E parecia-me

que ficaria nesse estado, porque não poderia sair dele com as minhas

próprias forças. Cada lembrança de Deus era um mar indescritível de

tormentos e, no entanto, havia alguma coisa na alma que aspirava

fervorosamente por Deus, embora parecesse que isso era só para sofrer

ainda mais.

 

A recordação do amor com que Deus a rodeava antes era, para ela, um

novo tormento. O Seu olhar trespassa-a totalmente e tudo é queimado

interiormente por esse Seu olhar.

 

102. Depois de um longo momento, ao entrar na cela uma das irmãs

encontrou-me quase morta. Assustou-se e foi chamar a Mestra que, em

virtude da santa obediência, me ordenou que me levantasse do chão;

imediatamente senti voltarem as forças físicas e levantei-me tremendo toda.

A Mestra deu-se conta imediatamente do estado da minha alma, falou-me

da inconcebível Misericórdia de Deus e disse: «Não se preocupe por nada,

irmã, ordeno-lhe em nome da santa obediência». E continuou: «Agora vejo

que Deus a chama a uma grande santidade, o Senhor deseja-a ter próximo

de si, permitindo estas coisas tão cedo. Seja fiel a Deus, irmã, porque isto é

um sinal de que a quer ter num lugar elevado do Céu». Mas eu não entendi

nada destas palavras.

 

103. Ao entrar na capela, senti como se tudo se tivesse libertado na

minha alma; como se eu tivesse saído recentemente da mão de Deus, senti

que a minha alma era intangível, que eu era uma criança pequena. De

repente vi interiormente o Senhor que me disse: Não tenhas medo, Minha

filha, Eu estou contigo. Naquele mesmo momento desapareceram todas as

trevas e os tormentos, os sentidos [foram] inundados de uma alegria

inconcebível, as faculdades da alma cheias de luz.

 

104 Quero dizer também que, embora a minha alma já estivesse sob os

raios do Seu amor, as marcas do suplício suportado ficaram no meu corpo

dois dias mais. O rosto pálido como de uma morta e os olhos injectados de

sangue. Só Jesus sabe o que sofri. Comparado com a realidade, o que

escrevi só dá uma pequena ideia. Não sei explicá-lo, parece-me que tinha

voltado do outro mundo. Sinto aversão a tudo o que está criado e apego-me

ao Coração de Deus, como o menino recém-nascido ao peito da sua mãe.

Vejo tudo com olhos distintos. Estou consciente do que o Senhor fez na

minha alma com uma só palavra e vivo disso. A recordação do martírio

sofrido dá-me escalafrios. Nunca teria acreditado que é possível sofrer tanto

se eu mesma não o tivesse experimentado. É um sofrimento totalmente

espiritual.

 

105 No entanto, em todos estes sofrimentos e combates não abandonei a

Santa Comunhão. Quando me parecia que não devia recebê-la, então ia ter

com a Mestra e dizia-lhe que não podia ir à Santa Comunhão, que me

parecia que não devia recebê-la. No entanto ela não me permitia abandonar

a Santa Comunhão; e eu ia recebê-la, e dava-me conta de que só a

obediência me tinha salvado. A própria Mestra me disse depois que «estas

experiências tinham passado depressa somente porque a irmã foi obediente.

[Foi pelo] poder da obediência que passou tão corajosamente [a prova]». É

verdade que o Senhor mesmo me libertou deste suplício, pois a fidelidade à

obediência agradou-Lhe.

 

106. Embora estas coisas sejam espantosas, no entanto nenhuma alma

deveria assustar-se demasiado, porque Deus nunca exige mais do que

podemos suportar. E, por outro lado, talvez nunca nos dê tais suplícios.

Escrevo isto porque se o Senhor quer conduzir uma alma através de tais

sofrimentos, não deve ter medo, mas seja fiel a Deus em tudo o que dela

depende. Deus não fará mal à alma, porque é o Próprio Amor e foi por este

amor inconcebível que a chamou à existência.

Mas quando eu me encontrava angustiada, não o compreendia.

 

107. Oh meu Deus, vim a saber que não sou desta Terra, o Senhor mo

infundiu na minha alma, [em] alto grau. Estou mais em comunhão com o

Céu do que com a Terra, embora não descuide em nada as minhas

obrigações.

 

108. Nessa época não tinha director espiritual e estava sem nenhuma

orientação.

Bem pedia ao Senhor, mas Ele não me dava nenhum director. O próprio

Jesus foi o meu Mestre desde a infância até agora. Conduziu-me através de

todos os desertos e de todos os perigos; vejo claramente que somente Deus

pôde levar-me por um perigo tão grande sem nenhum dano nem prejuízo e a

minha alma ficou intacta e venceu sempre todas as dificuldades, por

maiores que fossem. Saía […]. No entanto o Senhor deu-me um

director, mas mais tarde.

 

109. Depois desses sofrimentos a alma encontra-se em grande pureza de

espírito e numa grande proximidade com Deus, embora tenha que dizer que,

durante os tormentos espirituais, ela está próxima de Deus, mas está cega. O

olhar da sua alma está envolto em trevas e Deus está muito próximo desta

alma sofredora, mas todo o segredo está precisamente em que ela não o

sabe. Não só afirma que Deus a abandonou, mas também que é o objecto do

seu desprezo. ¡Que cegueira tão grave no olhar da alma que, deslumbrada

pela luz de Deus, afirma que Ele está ausente, enquanto é tão forte que a

cega!. No entanto, saberá depois que Deus está mais próximo dela naqueles

momentos do que em quaisquer outras ocasiões, já que só com a ajuda da

graça habitual não poderia suportar tais provações. É a omnipotência de

Deus e uma graça extraordinária que actuam porque, a não ser assim,

sucumbiria ao primeiro golpe.

 

110. Oh divino Mestre, isto [é] somente a Tua obra na minha alma. Tu,

oh Senhor, não temes pôr a alma à beira de um abismo terrível, onde ela se

assusta e tem medo e Tu depois voltas a chamá-la. Estes são os Teus

mistérios insondáveis.

 

111. Quando nestes tormentos da alma tentava acusar-me na confissão

dos mais pequenos defeitos, aquele sacerdote estranhava por eu não

cometer faltas mais graves e disse-me as seguintes palavras: «Se no meio

destes tormentos a irmã é tão fiel a Deus, isso dá-me a prova de que Deus a

ampara com uma graça especial e se a irmã não percebe, não se preocupe».

É estranho, no entanto, que nestas coisas os confessores não me pudessem

compreender, nem tranquilizar, até ao encontro com o Padre Andrasz e mais

tarde com o Padre Sopocko.

 

112 + Algumas palavras sobre a confissão e os confessores. Recordarei

somente o que experimentei e vivi na minha própria alma. Há três coisas

que impedem que a alma não tire proveito da confissão, naqueles momentos

excepcionais.

 

A primeira é se o confessor pouco conhece dos caminhos extraordinários

e se mostra surpreendido quando a alma lhe revela os grandes mistérios que

Deus nela realiza. Esta perplexidade assusta uma alma sensível, e percebe

que o confessor está indeciso em exprimir a sua opinião; e se a alma nota

isto, não se tranquiliza, mas fica com mais dúvidas depois da confissão das

que tinha antes, porque pressente que o confessor a tranquiliza, [mas] ele

mesmo não está seguro. Ou então, o que já me aconteceu, o confessor, sem

conseguir penetrar nalgums mistérios da alma, recusa a confissão,

mostrando um certo temor ao aproximar-se essa alma do confessionário.

 

¡Como pode uma alma em tal estado, adquirir tranquilidade no

confessionário, visto que é tão sensível a cada palavra do confessor!

Segundo o meu parecer, nestes momentos de visitas especiais de Deus na

alma, se [o sacerdote] não a entende deveria dirigi-la a um confessor com

experiência e conhecimento, e ele mesmo adquirir luzes para dar à alma o

que ela necessita e não recusar-lhe simplesmente a confissão, porque deste

modo a expõe a um grande perigo e mais de uma alma pode abandonar o

caminho no qual Deus queria que seguisse de modo especial. É uma coisa

de grande importância, porque eu mesma o experimentei, [isto é] já

começava a vacilar apesar destes especiais dons de Deus; embora o próprio

Deus me tranquilizasse, eu desejava sempre ter o selo da Igreja.

 

A segunda coisa é se o confessor não permite expressar-se sinceramente

e manifesta impaciência. A alma então cala-se, não diz tudo e portanto não

tira proveito; quando sucede que o confessor começa a submeter a alma a

provações, e sem conhecê-la, em vez da ajudar faz-lhe dano. E isto porque

ela sabe que o confessor não a conhece, dado que não lhe permitiu abrir-se

completamente quanto às graças, nem tampouco quanto à [sua] miséria. E,

assim, a provação não é adequada. Fui submetida a algumas provações das

quais me ria. Explicarei melhor isto da seguinte maneira: o confessor é o

médico da alma, e ¿Como o médico, sem conhecer a doença, pode dar um

medicamento apropriado? Nunca. Porque não terá o efeito desejado, ou lhe

receitará um remédio demasiado forte, e agravará a doença, ou até, Deus

não o permita, pode provocar-lhe a morte. Digo isto por experiência

própria, pois em certas ocasiões foi o próprio Deus que me acudiu.

 

A terceira coisa é que, às vezes, o confessor dá pouca importância às

coisas pequenas. Na vida espiritual não há nada pequeno. Às vezes, uma

coisa aparentemente insignificante pode ter consequências de grande

importância, e para o confessor é um raio de luz para ajudar a conhecer a

alma. Muitas cambiantes espirituais se escondem nas mais pequenas coisas.

 

Não se erguerá nunca um magnífico edifício se rejeitarmos os pequenos

tijolos. Deus exige a certas almas uma grande pureza e, por isso, conferelhes um conhecimento mais profundo da sua miséria. Iluminadas com a luz

[que vem] do alto, conhecem melhor o que agrada a Deus e o que não Lhe

agrada. O pecado depende do grau de consciência e lucidez da alma, e o

mesmo sucede com as meras imperfeições. Embora a alma saiba que o que

se refere estritamente ao sacramento da penitência é o pecado, mesmo

assim esses pequenos defeitos têm grande importância no caminho para a

santidade e o confessor não os pode menosprezar.

 

A paciência e a benevolência do confessor abrem o caminho aos mais recônditos segredos

da alma. A alma quase inconscientemente revela a sua profundidade mais

íntima e sente-se mais forte e mais resistente; luta com mais coragem e faz

mais esforços, porque sabe que de tudo há de prestar contas.

 

Mencionarei ainda mais uma coisa a respeito do confessor. Ele deve, por

vezes, experimentar, pôr à prova, exercitar, para saber se está tratando com

palha, com ferro, ou com ouro puro. Cada uma destas três almas necessita

exercitar-se de um modo diferente. O confessor deve necessariamente

formar uma opinião clara de cada uma, para saber o que pode suportar em

determinados momentos, circunstâncias e casos. Quanto a mim, depois de

muitas experiências, quando me dei conta de não ser compreendida não

revelava a minha alma e não perturbava a minha tranquilidade. Mas isto só

sucedeu, a partir do momento em que todas estas graças estavam sob o

juízo do confessor com discernimento, instruído e com experiência. Sei

agora como devo proceder em certos casos.

 

113. E desejo novamente recomendar três palavras à alma que deseja

decididamente procurar a santidade e dar fruto, isto é, tirar proveito da

confissão.

 

Em primeiro lugar, total sinceridade e abertura. O mais santo e mais

sábio confessor não consegue infundir na alma, pela força, o que deseja, se

a alma não for sincera e transparente.

 

A alma reservada, fechada, expõe-se a grandes perigos na vida

espiritual, e o próprio Senhor Jesus não se comunica a tal alma de modo

superior, porque sabe que ela não tiraria nenhum proveito dessas graças

especiais.

 

A segunda palavra, humildade. A alma não tira o devido proveito do

sacramento da confissão se não é humilde. A soberba mantém a alma na

escuridão. Ela não sabe e não quer penetrar totalmente na profundidade da

sua miséria, dissimula-se sob uma máscara e evita tudo o que a possa curar.

A terceira palavra, obediência. A alma desobediente não conseguirá

nenhuma vitória, embora o próprio Senhor Jesus a confessasse

directamente. Mesmo o mais experiente confessor não poderá ajudar tal

alma. A alma desobediente expõe-se a grandes perigos, não progredirá na

perfeição e não será bem sucedida na vida espiritual. Deus cumula

generosamente a alma com graças, mas a alma obediente.

 

114. Oh, ¡que agradáveis são os hinos que brotam de uma alma

sofredora! Todo o Céu fica admirado por tal alma, especialmente se é

provada por Deus. [Ela] dirige para Ele os seus saudosos lamentos. Grande

é a sua beleza, porque provém de Deus. Caminha pela selva da vida ferida

pelo amor divino. Mal toca a Terra com os pés…

 

115. A alma, ao sair daqueles tormentos, é profundamente humilde. É

grande a sua pureza. Sem reflectir, de certo modo ela sabe melhor o que

convém fazer em cada momento e ao que [convém] renunciar. Sente o mais

delicado toque da graça e é muito fiel a Deus.

 

Mesmo de longe O reconhece e goza de Deus incessantemente. Em

muito pouco tempo descobre Deus nas almas de outras pessoas e, em geral,

nas que a rodeiam.

 

A alma é purificada pelo próprio Deus. Deus, como puro Espírito,

introduz a alma na vida puramente espiritual. Foi o próprio Deus primeiro

quem preparou e purificou esta alma, isto é, fê-la capaz para uma estreita

comunhão com Ele. De modo espiritual ela está em comunhão com o

Senhor num repouso de amor. Fala com o Senhor sem uso dos sentidos.

Deus enche a alma com a Sua luz e a razão, iluminada, contempla

claramente e distingue os vários graus nesta vida espiritual. Vê como se

unia a Deus de um modo imperfeito, quando participavam os sentidos e a

espiritualidade estava unida aos sentidos, embora de uma maneira já

superior e especial, no entanto imperfeita. Há uma mais elevada e perfeita

união com o Senhor - a intelectual. Aqui a alma está mais protegida das

ilusões, a sua espiritualidade é mais profunda e mais pura.

 

Numa vida onde

intervêm os sentidos, está mais exposta às ilusões, devendo ser maior a

prudência dela mesma [da alma] e dos confessores. Há momentos, nos

quais Deus introduz a alma num estado puramente espiritual. Os sentidos

suspendem-se e ficam como mortos. A alma está unida a Deus da maneira

mais íntima possível, está submergida na divindade, o seu conhecimento é

total e perfeito, não parcial, como antes, mas universal e absoluto. Deleitase nele. Mas quero referir-me, ainda, aos momentos de provação. Em tais

momentos é necessário que os confessores tenham paciência com essa

alma. Mas a maior paciência, deve ter a alma consigo mesma.

 

116 Oh meu Jesus, Tu sabes o que experimenta a minha alma ao

recordar aqueles tormentos. Mais de uma vez me surpreendi por que os

Anjos e os santos permaneçam em silêncio quando uma alma suporta

semelhantes sofrimentos. No entanto eles amam-nos, muito especialmente

em tais momentos. Mais de uma vez a minha alma clamou por Deus, como

um menino pequeno grita com todas as suas forças quando a mãe lhe

esconde o seu rosto e ele não a pode reconhecer. Oh meu Jesus, por essas

provações de amor, glória e honra a Ti. A Tua Misericórdia é grande e

inconcebível. Oh Senhor, todos os Teus projectos para a minha alma estão

repletos da Tua Misericórdia.

 

117. Farei notar aqui que os que convivem com tal pessoa não devem

acrescentar sofrimentos externos, já que de verdade quando a alma tem o

cálice cheio até cima, por vezes a gota que agregamos ao seu cálice, poderá

ser aquela que faça transbordar esse cálice da amargura. ¿E quem poderá

responder por aquela alma? Evitemos, portanto, avolumar sofrimentos aos

outros, porque isso não agrada ao Senhor.

 

Se as irmãs ou as Superioras souberem ou suspeitarem que uma alma

está suportando essas provações, e apesar disso lhe acrescentassem

sofrimentos, pecariam mortalmente e o próprio Deus lhes pediria contas por

essa alma. Não falo aqui dos casos que pela [sua] própria natureza são

pecados, mas de outros que noutras circunstâncias não seriam pecaminosos.

Guardemo-nos de ter um peso na consciência por actuarmos mal com essas

almas. É um grande defeito da vida religiosa e da vida em geral que, ao ver

uma alma em sofrimento, se tenha vontade de aumentá-lo ainda mais. Não

falo de todos, mas existem pessoas assim. Permitimo-nos fazer juízos de

todo o tipo e comentamo-los, quando faríamos melhor em ficar calados.

 

118. A língua é um pequeno orgão, mas faz coisas grandes. Uma

religiosa que não é calada, nunca chegará à santidade, isto é, não será santa.

Não haja ilusões; a não ser que o Espírito de Deus fale por ela, pois em tal

caso não deve calar. Mas para poder ouvir a voz de Deus, há que ter a

serenidade na alma e observar o silêncio, não um silêncio triste, mas um

silêncio na alma, isto é, um recolhimento em Deus. Podem dizer-se muitas

coisas sem interromper o silêncio e, ao contrário, pode falar-se pouco e

perturbar continuamente o silêncio. Oh, que danos irreparáveis causa não

guardar o silêncio. Faz muitos danos ao próximo, mas principalmente à

própria alma.

 

119. Segundo a minha opinião e a minha experiência, a Regra do

silêncio deveria estar no primeiro lugar. Deus não se entrega a uma alma

tagarela, que como um zangão na colmeia, zumbe muito mas não produz

mel. A alma faladora está interiormente vazia. Não há nela nem virtudes

fundamentais, nem intimidade com Deus. Nem presta atenção a uma vida

mais profunda, nem de uma paz doce, nem do silêncio em que mora Deus.

A alma que não saboreia a doçura do silêncio interior, é um espírito

inquieto e perturba este silêncio nos outros. Vi muitas almas nos abismos

infernais por não terem observado o silêncio. Elas mesmas mo disseram

quando lhes perguntei qual tinha sido a causa da sua perdição. Eram almas

consagradas. Oh meu Deus, que dor ao pensar que poderiam estar não

somente no paraíso, mas até ser santas. Oh Jesus, Misericórdia, tremo ao

pensar que devo prestar contas da língua; na língua está a vida, mas também

a morte, às vezes com a língua matamos, cometemos um verdadeiro

assassinato ¿E podemos considerar isto como uma coisa pequena? De

verdade, não entendo essas consciências. Conheci uma pessoa que, ao

inteirar-se por outra de certa coisa que se dizia dela… adoeceu gravemente,

perdeu muito sangue e derramou muitas lágrimas. E esta triste

consequência, não foi causada por uma espada, mas apenas pela língua. Oh

meu Jesus!

 

120. Enveredei pelo tema do silêncio, mas não era disso que eu queria

falar, mas da vida da alma com Deus e da sua resposta à graça. Quando a

alma foi purificada e o Senhor está numa relação de intimidade com ela,

agora concentra toda a sua força em lutar por Deus. Mas ela, por si própria,

nada pode. Somente Deus tudo dispõe, a alma bem o sabe e está consciente

disso. No entanto ela vive no exílio e compreende perfeitamente que [pode]

haver ainda dias nublados e chuvosos, mas ela deve olhar tudo isso com

uma atitude diferente da que tinha anteriormente. Não se refugia numa paz

enganosa, mas dispõe-se a lutar. Ela sabe que é de estirpe guerreira. Agora

está mais consciente de todas as coisas.

 

121. Deus derrama numerosas graças sobre a alma depois daquelas

provações de fogo. Goza de uma estreita união com Deus. Tem muitas

visões sensíveis e intelectuais, ouve muitas palavras sobrenaturais e, às

vezes, ordens precisas; mas apesar destas graças, não se basta a sim mesma.

Por isso Deus visita-a com estas graças, por estar exposta a vários perigos e

poder fácilmente cair na ilusão. Deveria pedir a Deus um guia espiritual,

mas não somente pedir um guia, mas solicitar e procurar um director que

entenda as coisas como o comandante, que tem de conhecer os caminhos

que conduzem [os seus soldados] à batalha.

 

A uma alma que está unida a

Deus, é necessário prepará-la para grandes e encarniçados combates.

Depois destas purificações e provações, Deus trata com a alma de modo

especial, mas a alma nem sempre colabora com estas graças. Não por ela

não querer colaborar, mas por enfrentar tão grandes dificuldades interiores e

exteriores que, na verdade, é preciso um milagre para que essa alma se

mantenha nessas alturas. Nessas circunstâncias necessita obrigatoriamente

de um director. Muitas vezes a minha alma ficava cheia de dúvidas e

algumas vezes assustava-me, ao pensar que afinal eu era uma ignorante, não

entendia muitas coisas e menos ainda as espirituais. No entanto, quando as

dúvidas aumentavam, procurava luz num confessor ou nas Superioras. Mas

não obtinha o que desejava.

 

122. Quando me abri com as Superioras, uma delas compreendeu a

minha alma e o caminho pelo qual Deus queria conduzir-me. Seguindo as

suas indicações, comecei a avançar rapidamente no caminho da perfeição.

No entanto isso não durou muito tempo. Ao descobrir a minha alma mais a

fundo, não recebi o que desejava e a Superiora achou que essas graças lhe

pareciam inverosímeis e, assim, já não pude obter dela mais ajuda. Diziame não ser possível que Deus convivesse tão íntimamente com uma

criatura. «Temo por si, irmã, porque talvez seja alguma ilusão».

 

Procurei aconselhar-me com um sacerdote. Mas o confessor não me entendeu e

disse: «É melhor que a irmã, fale destas coisas com as Superioras». E assim

andava das Superioras para o confessor, do confessor para as Superioras,

sem encontrar a paz. Estas graças de Deus começaram a ser, para mim,

causa de grande sofrimento. Mais de uma vez disse directamente ao Senhor:

Jesus, tenho medo de Ti, ¿não és algum fantasma?

Jesus sempre me tranquilizava, mas eu continuava incrédula. Uma coisa

estranha, quanto mais eu desconfiava, mais provas me dava Jesus de que

era Ele o autor dessas graças.

 

123. Ao dar-me conta de que não obtinha nenhuma tranquilidade das

Superioras, decidi não lhes falar mais dessas coisas puramente interiores.

Exteriormente procurava, como uma boa religiosa, falar de tudo com as

Superioras, mas das necessidades da alma falaria somente no

confessionário. Por muitas e muito boas razões entendi que a mulher não foi

vocacionada para discernir tais mistérios. Expuz-me a muitos sofrimentos

inúteis. Durante muito tempo fui considerada como possuída pelo espírito

maligno e olhavam-me com lástima e a Superiora tomou precauções a meu

respeito. Chegava aos meus ouvidos que as irmãs me olhavam como se eu

fosse assim. E à minha volta o horizonte tornou-se negro. Comecei a tentar

evitar estas graças de Deus, mas isso não estava eu meu poder. De repente

invadia-me um recolhimento tão grande, que contra a minha vontade me

submergia em Deus e o Senhor tinha-me a Seu lado.

 

124. Nos primeiros momentos a minha alma estava sempre um pouco

assustada, mas depois uma paz e uma força estranhas enchiam a minha

alma.

 

125. Até aqui pode suportar-se tudo. Mas quando o Senhor me pediu que

pintasse esta imagem, então, de verdade, começaram a falar e a olhar-me

como se eu fosse uma histérica ou uma fantasista, e isso começou a

propagar-se ainda mais. Uma das irmãs veio falar comigo em privado.

 

Começou por manifestar pena de mim e depois disse-me: «oiço dizer que a

irmã, é uma imaginativa, que tem algumas visões. Pobre irmã, defenda-se

disso». Foi sincera, aquela alma, e o que tinha ouvido mo disse com

sinceridade. Mas tinha que ouvir coisas semelhantes todos os dias. Somente

Deus sabe quanto isso me atormentava.

 

126. No entanto decidi suportar tudo em silêncio e não dar explicações

às perguntas que me faziam. Algumas irritavam-se com o meu silêncio,

especialmente as mais curiosas.

Outras, as que pensavam com mais profundidade, diziam que

seguramente a Ir. Faustina estaria muito próxima de Deus, visto que tinha a

força de suportar tantos sofrimentos.

 

Via diante de mim como dois grupos de juízes. Esforcei-me por

conseguir o silêncio interior e exterior. Não dizia nada referente à minha

pessoa, embora fosse interrogada directamente por algumas irmãs. A minha

boca calou-se. Sofria como uma pomba, sem me queixar. No entanto

algumas irmãs encontravam certo prazer em inquietar-me de qualquer

forma. Irritava-as a minha paciência, no entanto Deus deu-me tanta força

interior, que suportava tudo isso com serenidade.

 

127. Dei-me conta de que, naqueles momentos, não teria a ajuda de

ninguém e comecei a rezar e a pedir ao Senhor um confessor. Ansiava que

algum confessor me dissesse esta simples palavra: fica tranquila, estás no

bom caminho; ou, então, afasta tudo isso porque não vem de Deus. No

entanto não encontrava um sacerdote suficientemente decidido que dissesse

estas palavras claras em nome do Senhor. E, assim, continuava na incerteza.

Oh Jesus, se é da Tua vontade que viva em tal dúvida, que seja bendito o

Teu Nome. Peço-Te, Senhor, Tu Mesmo guia a minha alma e fica comigo,

porque por mim mesma nada sou.

 

128. Sou julgada por todos os lados, já não fica nada do que há em mim

que escape ao juízo das irmãs; mas, a certa altura, pareceu-me que já tudo

se esgotara e começaram a deixar-me em paz. A minha alma atormentada

descansou um pouco, mas reconheci que naquelas perseguições o Senhor

esteve muito próximo de mim. Mas isto foi sol de pouca dura. Estalou

novamente uma violenta tempestade. Agora as suspeitas anteriores

tornaram-se certas, para elas, e tive que escutar novamente a mesma

cantilena. Assim o dispôs o Senhor. Mas o estranho é que, até nas situações

exteriores da minha vida, me começaram a acontecer diversos dissabores.

 

Isso provocou distintos sofrimentos, conhecidos somente por Deus.

No entanto tentava, como podia, fazer tudo com a intenção mais pura

possível. Vejo que sou vigiada em toda a parte como se fosse uma ladra: na

capela, quando faço as minhas obrigações, na cela. Agora já sabia que,

além da presença de Deus, tinha sempre a presença humana; na verdade,

mais de uma vez esta presença humana me incomodava muito. Houve

momentos em que pensava se me devia vestir ou não para me lavar. Até a

minha pobre cama foi frequentemente revistada. Às vezes dava-me vontade

de rir saber que não deixavam em paz nem sequer a cama. Uma irmã disseme que cada noite me espiava na cela, para ver como eu me comportava.

 

No entanto as Superioras são sempre Superioras e embora me humilhassem

pessoalmente e mais de uma vez me insinuassem dúvidas, no entanto

sempre me permitiram o que exigia o Senhor, não exactamente como eu

pedia mas, mesmo assim, consentiam nessas penitências e mortificações.

 

129 Um dia, uma das Madres zangou-se tanto comigo e humilhou-me

tanto, que pensei que não conseguiria suportar. Disse-me: «Sua excêntrica,

sua histérica e visionária, desapareça do meu quarto, não quero vê-la mais».

Tudo o que podia caíu sobre a minha cabeça. A voltar à cela, caí prostrada

diante da cruz e olhei Jesus sem poder pronunciar uma única palavra. E, no

entanto, disfarçava diante das outras, como se não se tivesse passado nada

entre nós. Satanás aproveita sempre estes momentos e começaram a

assaltar-me pensamentos de desânimo: «Eis aqui o teu prémio pela

fidelidade e sinceridade.

 

¿Para que ser sincera, se se é tão incompreendida?» Oh Jesus, Jesus, já não aguento mais. De novo caí prostada e comecei a suar e o medo começou a dominar-me. Não tenho em

quem me apoiar interiormente. De repente ouvi na minha alma uma voz:

Não tenhas medo, Eu estou contigo, e uma luz estranha iluminou a minha

mente e compreendi que não devia submeter-me a essas tristezas e senti-me

novamente com forças; saí da cela com um novo ânimo para enfrentar os

sofrimentos.

 

130. No entanto comecei a descuidar-me um pouco. Não fazia caso

das inspirações interiores, tratava de distrair-me. Mas apesar da confusão e

das distracções, consegui aperceber-me do que se passava na minha alma. A

Palavra divina é muito eloquente e nada pode sufocá-la. Comecei a evitar o

encontro do Senhor na minha própria alma, porque não queria ser vítima de

ilusão. No entanto o Senhor perseguia-me com os seus dons e, realmente,

experimentava por turnos, sofrimentos e alegrias. Não menciono aqui

diferentes visões e graças que naquele tempo Deus me concedeu, porque as

tenho apontadas noutro lugar, mas direi que aqueles distintos

sofrimentos chegaram ao cúmulo e decidi acabar com estas dúvidas antes

dos votos perpétuos.

 

Durante tudo o tempo da provação pedi a luz de um sacerdote, a quem

deveria revelar a minha alma até ao grau mais profundo. E roguei a Deus

que Ele mesmo me ajudasse nisto e me desse a graça de contar as coisas

mais secretas que havia entre a minha alma e o Senhor, e que me

predispusesse a considerar o que aquele sacerdote decidisse como decidido

pelo próprio Jesus. Não importa qual será o juízo sobre mim, eu desejo

somente a verdade e uma resposta decidida a certas perguntas. Encomendeime a Deus completamente, a minha alma a desejar a verdade. Não posso

prosseguir vivendo em dúvidas; embora tivesse na alma uma enorme

certeza de que essas coisas procediam de Deus, que até ofereceria a minha

vida por elas, no entanto por cima de tudo isso quis pôr a opinião do

confessor, decidindo comportar-me de acordo com o que ele considerasse

justo e segundo as suas indicações.

 

Considerei aquele momento [como] o que decidiria como deveria

comportar-me durante toda a vida. Sabia que dele [aquele momento]

dependeria tudo. Não tem importância se o que me disser está de acordo

com as minhas inspirações ou o contrário, isso já não me importa. Eu desejo

conhecer a verdade e segui-la.

 

131. Oh Jesus, Tu podes ajudar-me. E a partir daquele [momento]

comecei de novo a esconder todas as graças na alma e a esperar quem o

Senhor me enviaria. Sem duvidar em nada no meu coração, roguei ao

Senhor que Ele Mesmo se dignasse ajudar-me nestes momentos e o ânimo

entrou na minha alma.

 

132. Devo ainda mencionar que há alguns confessores que ajudam a

alma e são, assim parece, pais espirituais, mas só enquanto tudo vai bem;

mas quando a alma tem maiores necessidades, então são indecisos e não

podem, ou antes, não querem entender a alma. Procuram livrar-se dela o

mais depressa possível, mas se a alma é humilde sempre tira algum pequeno

proveito. Às vezes, o próprio Deus envia um raio de luz na profundidade da

alma, pela sua humildade e sua fé. Às vezes, o confessor diz o que não

pensava dizer em absoluto, e ele mesmo não se dá conta disso. Oh, que a

alma creia que são palavras do próprio Senhor, que temos de crer que cada

palavra no confessionário é de Deus, mas o que mencionei acima, é algo

que vem directamente de Deus. A alma sente que o sacerdote não depende

de si mesmo mas que diz o que não quereria pronunciar. Assim, deste

modo, Deus recompensa a fé. Experimentei isso muitas vezes. Aconteceu

uma vez, ao confessar-me com certo sacerdote, muito douto e muito

estimado. Era sempre severo e contrário nessas coisas, mas uma vez disseme: «Deve saber, irmã, que se Deus quer que faça isso, então não deve

opor-se; às vezes, Deus quer ser louvado deste modo.

 

Fique tranquila, se Deus começou, terminará, mas recomendo-lhe fidelidade a Deus e

humildade, e uma vez mais humildade. Recorde o que lhe disse hoje».

Alegrei-me e pensei que talvez aquele sacerdote me tivesse entendido. Mas

as circunstâncias foram tais que não me confessei nunca mais com ele.

 

133. Uma vez, chamou-me uma das Madres mais idosas e foi como se

de um Céu sereno começassem [a cair] raios de fogo, de tal modo que eu

nem sequer sabia do que se tratava. Mas pouco depois entendi que se

tratava de um motivo que não dependia de mim. Disse-me: «Tire da cabeça,

irmã, que o Senhor Jesus trate consigo tão familiarmente, com uma pessoa

tão miserável, tão imperfeita. O Senhor Jesus trata somente com as almas

santas, lembre-se disso». Reconheci que tinha toda a razão, porque eu sou

de facto bem indigna, no entanto confio na Misericórdia de Deus.

Quando me encontrei com o Senhor, humilhei-me e disse: Jesus,

segundo dizem, ¿Tu não tratas com as pessoas miseráveis? Fica tranquila,

Minha filha, precisamente através de tal miséria quero mostrar o poder

da Minha Misericórdia. Entendi que a Madre pretendeu apenas humilharme.

 

134. Oh meu Jesus, submeteste-me a muitas provações na minha curta

vida, entendi muitas coisas, tantas e tais coisas que fico surpreendida. Oh,

que bom é submeter-se em tudo a Deus e permitir-Lhe agir na alma com

toda a plenitude.

 

135. Na terceira provação o Senhor deu-me a entender que me devia

oferecer a Ele para que pudesse fazer comigo o que Lhe agradasse. Deveria

estar sempre diante d’Ele como vítima. Num primeiro momento assusteime, sentindo-me infinitamente miserável e, conhecendo o que sou, repondi

ao Senhor uma vez mais: Sou a miséria em pessoa, ¿De que servirei como

vítima? Hoje não o podes compreender. Amanhã dar-te-ei a conhecer

durante a adoração. O coração e a alma tremiam. Estas palavras calaram

profundamente na minha alma. A Palavra de Deus é vida. Quando cheguei

à adoração, senti na alma que tinha entrado no santuário de Deus vivo, cuja

Majestade é grande e inconcebível. E o Senhor deu-me a conhecer o que

são frente a Ele inclusivamente os espíritos mais puros. Embora

exteriormente não visse nada, a presença de Deus envolveu-me por

completo. Naquele momento a minha mente foi iluminada de modo

singular. Diante dos olhos da minha alma passou uma visão, como aquela

que o Senhor Jesus teve no Horto das Oliveiras. Primeiro sofrimentos

físicos e todas as circunstâncias que os iam agravando, depois sofrimentos

espirituais em toda a sua profundidade, e outros que ninguém poderá

imaginar. Aquela visão englobava tudo: suspeitas injustas, perda do próprio

bom nome. Descrevo de modo resumido, mas o conhecimento de tudo isso

foi tão claro que o que vivi depois não diferia em nada do que passei

naquele momento. O meu nome deve ser “vítima”. Quando a visão

terminou, um suor frio cobria-me a testa.

 

136. Jesus deu-me a conhecer que, mesmo não aceitando, poderia salvarme; Ele não diminuiria as graças que me tinha concedido e continuaria na

mesma intimidade comigo, isto é, mesmo que não aceitasse este sacrifício,

a generosidade de Deus não diminuiria. O Senhor deu-me a conhecer que

todo o mistério dependia de mim, do meu consentimento voluntário a esse

sacrifício com plena consciência do meu espírito. Neste acto voluntário e

consciente está tudo o poder e valor diante de sua Majestade.

Embora não sucedesse nada de tudo aquilo a que me tinha oferecido,

diante do Senhor é como se já tudo se tivesse realizado. Naquele momento

entendi que entrava em união com a Majestade inconcebível. Senti que

Deus esperava a minha palavra, o meu consentimento. De repente a minha

alma submergiu-se no Senhor e disse: Faz comigo o que Te agrade,

submeto-me à Tua vontade. Desde hoje a Tua santa vontade é o meu

sustento. Serei fiel aos Teus desejos, com a ajuda da Tua graça. Faz de mim

o que quiseres. Suplico-Te, Senhor, fica comigo em cada momento da

minha vida.

 

137. Subitamente, quando aceitei este sacrifício com a vontade e o

coração, a presença de Deus trespassou-me inteiramente. A minha alma foi

submergida em Deus e inundada de uma felicidade tão grande que não

consigo descrevê-la, nem sequer em parte. Sentia que a Sua Majestade me

envolvia. Fui unida a Deus de modo singular. Senti uma grande

complacência de Deus para comigo e, igualmente, o meu espírito

submergiu-se n’Ele.

 

Consciente de me ter unido com Deus, sinto que sou amada de modo

especial e, reciprocamente, amo-O com toda a força da minha alma.

Realizou-se um grande mistério durante aquela adoração, um mistério entre

mim e o Senhor; e parecia-me que ia morrer de amor debaixo do Seu olhar.

Falei muito com o Senhor, mas sem palavras. E o Senhor disse: És um

deleite para o Meu Coração, desde hoje cada acção tua, a mais

pequena, encontra complacência a Meus olhos, qualquer coisa que

faças. Naquele momento senti-me inteiramente consagrada. O exterior do

corpo é o mesmo, mas a alma é outra, nela mora Deus com toda a sua

predilecção. Não é um sentimento, mas uma realidade consciente que nada

pode ofuscar. Um grande mistério se celebrou entre Deus e eu. A coragem e

a força ficaram na minha alma. Ao acabar a adoração, enfrentei com

serenidade tudo o que antes tanto temia.

 

138. Quando saí para o corredor, deparou-se-me um grande sofrimento e

humilhação por parte de certa pessoa. Aceitei submetendo-me a uma

vontade superior e recolhi-me profundamente no Sacratíssimo Coração de

Jesus, o Senhor, dando a conhecer que estava disposta a aceitar aquilo a que

me tinha oferecido. O sofrimento brotava como de debaixo da Terra, a

própria Madre Margarita admirou-se. Às outras irmãs perdoavam-se muitas

coisas porque, realmente, não valia a pena prestar-lhes atenção, mas a mim

não se me perdoava nada, cada palavra era analisada, cada passo

controlado. Uma das irmãs disse-me: «Prepare-se, irmã, para aceitar uma

pequena cruz que a espera da parte da Madre Superiora, ¡quanto o sinto por

si!» E eu na minha alma fiquei contente por isso e desde há muito tempo

estou preparada para isso. Ao ver a minha coragem, surpreendeu-se. Agora

vejo que a alma, por si própria, não pode muito, mas com Deus pode tudo.

Eis o que pode a graça de Deus. São poucas as almas que estão sempre

atentas à inspiração de Deus, mas ainda menos numerosas são as almas que

estejam dispostas a segui-la fielmente.

 

139. No entanto, a alma fiel a Deus não pode confirmar por si só essas

inspirações, tem que submetê-las à direcção de um sacerdote muito culto e

experimentado e, até não ter a certeza, deve manter uma atitude de

incredulidade. Que não confie por si só nestas inspirações e em todas as

graças superiores, porque pode expôr-se a muitos danos.

Embora a alma logo distinga as inspirações falsas das que procedem de

Deus, deve ser prudente, porque há muitas coisas duvidosas. A Deus agrada

e alegra-Se quando a alma não confia n’Ele Próprio e, por Seu amor, é

prudente e procura ajuda para saber se quem está a agir nela é realmente

Deus. E ao asegurar-se por um confessor instruído, fica tranquila e entregase a Deus segundo as suas indicações, isto é, segundo as indicações do

confessor.

 

140. O amor puro é capaz de grandes obras e não se deixa abater por

dificuldades ou contrariedades; se o amor [é] forte [apesar] de grandes

dificuldades, também é perseverante na vida quotidiana, cinzenta,

monótona. Sabe que para agradar a Deus, uma coisa é necessária: fazer as

mínimas coisas com grande amor, amor e sempre amor.

O amor puro não se engana, tem singularmente muita luz e não fará nada

que não agrade a Deus. É hábil em fazer o que é mais agradável a Deus e

não há ninguém que o iguale; é feliz quando pode aniquilar-se e consumirse como um sacrifício puro. Quanto mais se entrega, tanto mais feliz é.

Além disso, ninguém sabe pressentir os perigos ao longe como ele; sabe

desmascarar e sabe com quem tem de lidar.

 

141. Mas os meus tormentos estão a chegar ao fim. O Senhor está a darme a ajuda prometida, e vejo-a em dois sacerdotes, os Padres Andrasz e

Sopocko. Durante os exercícios espirituais antes dos votos perpétuos, [76]

pela primeira vez fui tranquilizada profundamente [77] e depois fui

conduzida na mesma direcção pelo Padre Sopocko. Assim se cumpriu a

promessa do Senhor.

 

142. Quando fui tranquilizada e instruída sobre como avançar por estes

caminhos de Deus, o meu espírito regozijou-se no Senhor e parecia-me que

não caminhava, mas corria; foram-me desatadas as asas para o vôo e

comecei a voar até ao ardor do sol e não pararei até descansar n’Aquele no

qual a minha alma se submergiu até à eternidade. E entreguei-me

completamente à influência da graça. São grandiosas as visitas divinas à

minha alma. Não me retiro, nem me desculpo, mas afogo-me n’Ele, como

meu único tesouro. Sou uma só coisa com o Senhor, de certo modo

desapareceu o abismo entre nós, o Criador e a criatura. Durante uns dias a

minha alma estava em êxtase quase contínuo. A presença de Deus não me

abandonava nem por um momento. E a minha alma permanecia numa

contínua união amorosa com o Senhor.

No entanto isso não me impedia de cumprir as minhas obrigações. Sentia

que era transformada no amor, ardia toda, mas sem [dano]. Submergia-me

continuamente em Deus, Deus atraía-me para Si com tanta força e fortaleza,

que nalguns momentos não dava conta de estar na Terra. Durante muito

tempo tinha reprimido a graça de Deus e tinha-a temido, agora o próprio

Deus, por meio do Padre Andrasz eliminou todas as dificuldades. O meu

espírito foi dirigido para o sol e floresceu nos seus raios apenas para Ele. Já

não entendo [aqui há uma interrupção e, num parágrafo novo, começa uma

nova ideia.]

 

143. Desperdicei muitas graças de Deus, porque tinha sempre medo de

que fosse ilusão. E embora Deus me atraísse a Si com tanta força que

muitas das vezes não estava em condições de me opor à sua graça, quando

de repente fui submergida n’Ele e, naqueles momentos, Jesus enchia-me

tanto com a sua paz que, depois, embora quisesse inquietar-me não podia.

Então ouvi na minha alma estas palavras: Para que estejas tranquila de

que sou Eu o autor de todas estas exigências dar-te-ei uma

tranquilidade tão profunda que, embora quisesses inquietar-te e

assustar-te, já não estaria em teu poder, pois o amor inundará a tua

alma até ao esquecimento de ti própria.

 

144. Mais tarde Jesus deu-me outro sacerdote, diante do qual me

ordenou abrir a minha alma. No primeiro momento tive certa hesitação, mas

uma severa admoestação de Jesus conferiu à minha alma uma profunda

humildade. Sob a sua direcção, a minha alma avançou rapidamente no amor

de Deus e muitas exigências do Senhor foram exactamente cumpridas.

Muitas vezes a sua coragem e a profundidade da sua humildade me fizeram

reflectir.

 

145. Oh, que mísera é a minha alma, que desperdicei tantas graças.

Fugia de Deus e Ele perseguia-me com as suas graças. Muitas vezes recebia

as graças de Deus quando menos as esperava. Desde o momento em que o

Senhor me deu um director espiritual, sou mais fiel à graça. Graças ao

director e à sua vigilância sobre a minha alma percebi o que é a direcção

espiritual e como a vê Jesus. Jesus admoestava-me pelo menor descuido e

acentuava que os assuntos que eu confiava ao confessor Ele próprio os

julgava e, qualquer desobediência feita a ele, atinge-Me a Mim mesmo.

Debaixo da sua direcção, a minha alma começou a gozar de profundo

recolhimento e paz, e frequentemente ouvia na alma estas palavras:

Fortalece-te para a luta, às vezes repetidas mais de uma vez.

Muitas vezes Jesus dá-me a conhecer o que não lhe agrada na minha

alma, e mais de uma vez me admoestou por coisas que pareciam

insignificantes, mas que na realidade tinham grande importância.

Censurava-me e corrigia-me como um Mestre. Durante muitos anos

educou-me Ele próprio, até ao momento em que me deu um director

espiritual.

 

Antes, Ele próprio me dava a conhecer o que não entendia, e agora fazme perguntar tudo ao confessor e às vezes diz-me assim: Eu te responderei

pela sua boca, fica tranquila. Nunca me aconteceu receber uma resposta

contrária ao que exigia o Senhor e que eu apresentei ao director espiritual. Às vezes, sucede que Jesus me recomenda algumas coisas das quais

ninguém tem conhecimento, e quando me aproximo do confessionário o

confessor recomenda-me o mesmo; mas isso não é frequente.

 

Quando a alma recebeu muita luz e muitas inspirações durante longo

tempo e quando os confessores lhe confirmam, na paz, a procedência delas,

se o seu amor é grande Jesus dá-lhe a entender que é tempo de pôr em

prática o que recebeu. A alma sabe que o Senhor conta com ela e este

conhecimento dá-lhe mais força; ela sabe que, para ser fiel, terá de se expôr

a várias dificuldades mais de uma vez, mas ela confia em Deus e graças a

esta confiança chega onde Deus a quer. As dificuldades não a espantam, são

para ela como o pão de cada dia, não a espantam nada, nem assustam, como

ao soldado que continuamente está em combate não o espanta o troar dos

canhões. [Está] longe de se assustar, mas aguça os ouvidos, sabendo de que

lado ataca o inimigo, para o vencer. Não faz nada cegamente, mas examina,

reflecte profundamente e sem contar consigo, reza fervorosamente e pede o

conselho de oficiais experientes e com discernimento; e, procedendo assim,

vence quase sempre.

 

Há ataques, quando a alma não tem tempo para reflectir, nem para pedir

conselho, nem para nada; então tem de se travar uma luta de vida ou morte;

às vezes é bom recorrer à Chaga do Coração de Jesus, sem sequer dizer uma

só palavra. Só por isto o inimigo fica derrotado.

 

Mesmo durante o tempo da paz a alma tem de fazer esforços, como no

tempo da luta. Tem que exercitar-se muito porque, de contrário, nem falar

de vitória. Considero o tempo de paz como de preparação para a vitória.

Tem que vigiar continuamente, vigilância e, uma vez mais, vigilância. A

alma que reflecte recebe muita luz. A alma dissipada arrisca-se a cair e não

deve admirar-se por isso acontecer. Oh Espírito divino, Guia da alma, é

sábio aquele a quem Tu adestras. Mas, para que o Espírito divino possa

obrar na alma, é necessário silêncio e recolhimento.

 

146. A oração. Através da oração a alma prepara-se para travar qualquer

batalha. Em qualquer condição em que se encontre uma alma, deve orar.

Tem que rezar a alma pura e bela, porque de contrário perderia a sua beleza;

tem que implorar a alma que procura a pureza, porque de contrário não a

alcançaria; tem que suplicar a alma recém-convertida, porque de contrário

cairia novamente; tem que orar a alma pecadora, submersa nos pecados,

para poder levantar-se. E não há alma que não tenha o dever de orar, porque

toda a graça flui por meio da oração.

 

147. Recordo que recebia a maior luz durante a adoração de meia hora

que fazia todos os dias no tempo da Quaresma, prostrando-me em cruz

diante do Santíssimo Sacramento. Naquele tempo conheci-me mais

profundamente a mim própria e a Deus. Para fazer aquela oração encontrei

muitos obstáculos, apesar de ter licença das Superioras. A alma deve saber

que, para orar e perseverar na oração, tem que armar-se de paciência e com

esforço superar as dificuldades exteriores e interiores. Dificuldades

interiores: o desalento, a aridez, a preguiça, as tentações. As exteriores: o

respeito humano e a necessidade de respeitar os momentos destinados à

oração.

 

Eu mesma experimentei que se não ia à oração no momento

estabelecido, depois tão-pouco rezava, porque não mo permitiam as

obrigações e, se conseguia rezar, era com grande dificuldade, porque o

pensamento fugia para outras obrigações. Sucedeu-me também esta

dificuldade: se a alma tinha rezado bem a oração e tinha saído dela com um

profundo recolhimento interior, outras pessoas perturbavam esse

recolhimento. Assim, pois, é necessária paciência para perseverar na

oração. Aconteceu-me, mais de uma vez, que quando a minha alma estava

submergida em Deus mais profundamente e tirava maior proveito da

oração, a presença de Deus acompanhava-me durante o dia, e no trabalho

tinha mais concentração, mais perfeição e mais empenho; no entanto

sucedia-me que justamente então recebia o maior número de admoestações

por negligência por ser indiferente a tudo, porque as almas menos

recolhidas querem que as outras se lhes assemelhem, já que constituem para

elas um contínuo remorso.

 

148. Uma alma nobre e delicada pode ser também a mais simples, mas

de sentimentos delicados; tal alma em tudo vê a Deus, encontra-o em todo o

lado, sabe encontrar Deus até nas coisas mais insignificantes. Para ela tudo

tem algum significado, aprecia muito tudo, agradece a Deus por cada coisa,

de cada coisa tira proveito para a alma e dirige a Deus todo o louvor. Confia

n’Ele e não se impressiona quando chega o momento da prova. Sabe que

Deus sempre é o melhor Pai e dá pouca importância às considerações

humanas. Segue fielmente o mais pequeno sopro do Espírito Santo, goza

por este Hóspede espiritual e agarra-se a Ele como uma criança à sua mãe.

Ali outras almas se detêm e assustam. Ela segue adiante sem temor e sem

dificuldade.

 

149. Quando o Senhor quer estar ao lado de uma alma e guiá-la, afasta

tudo o que é exterior. Quando adoeci e fui mudada para a enfermaria, tive

muitos desgostos por este motivo. Éramos duas as internadas na enfermaria.

A Ir. N. recebia visitas de outras irmãs, a mim ninguém me visitava. É

verdade que a enfermaria é uma só, mas cada uma tem a sua própria cela.

As noites de inverno eram longas, a Ir. N. tinha luz e auriculares da rádio;

eu nem sequer podia preparar as meditações, por falta de luz.

Assim passaram quase duas semanas; uma noite queixei-me ao Senhor

de ter muitos tormentos, de não poder sequer preparar as meditações por

não ter luz; disse-me o Senhor que viria todas as noites e me indicaria os

temas para a meditação do dia seguinte. Os temas referiam-se sempre à sua

dolorosa Paixão. Dizia-me: Contempla o Meu tormento diante de

Pilatos. E assim, ponto por ponto, durante toda a semana contemplei a sua

dolorosa Paixão. Desde aquele momento entrou uma grande alegria na

minha alma e já não desejava nem visitas, nem luz. Bastava-me Jesus para

cada coisa. As Superioras, cuidavam muitíssimo das enfermas, no entanto o

Senhor dispôs as coisas de tal forma que eu me sentia abandonada. Mas este

melhor Mestre, afasta tudo o que é criado para ser Ele próprio a poder agir.

Mais de uma vez sofri tantas e tão distintas perseguições e tormentos, que

até a Madre M. me disse: «No seu caminho, irmã, os sofrimentos

brotam directamente debaixo dos pés. Eu olho-a, irmã, como se estivesse

crucificada, mas tenho visto que Jesus tem alguma coisa a ver com isso.

Seja fiel ao Senhor, irmã».

 

150. Desejo anotar um sonho que tive sobre Santa Teresa do Menino

Jesus. Era ainda noviça e tinha certas dificuldades que não conseguia

resolver. Eram dificuldades interiores relacionadas com as exteriores. Fiz

muitas novenas a vários santos, no entanto a situação tornava-se cada vez

mais pesada. Os meus sofrimentos, devido a isso eram tão grandes que já

não sabia como seguir vivendo; mas de repente veio-me à ideia pedir a

Santa Teresa do Menino Jesus. Comecei a novena a esta Santa, porque antes

de entrar [no convento] tinha-lhe uma grande devoção. Depois tinha-a

descuidado um pouco mas, nesta necessidade, comecei a rogar-lhe

novamente com todo o fervor. No quinto dia da novena sonhei com Santa

Teresa, mas como se estivesse ainda na Terra. Encobriu-me que era santa e

começou a consolar-me, dizendo que não me entristecesse por esse assunto,

mas que confiasse mais em Deus. Disse-me: Eu também sofri muitíssimo.

Mas eu não estava muito convencida de que ela tivesse sofrido muito e

disse-lhe que me parecia que não tinha sofrido nada.

 

Mas Santa Teresa respondeu, asegurando-me que tinha sofrido muito e

disse-me: Saiba irmã, que dentro de três dias este assunto se resolverá da

melhor maneira.

 

Como eu não estava muito disposta a crer, ela deu-se-me a conhecer

como santa.

 

Então a alegria encheu a minha alma e disse-lhe: Tu és santa. E ela

respondeu-me: Sim, sou santa e tu tem confiança em que resolverás este

assunto dentro de três dias. E disse-lhe: Santa Teresinha, diz-me se vou para

o Céu. Respondeu: Irás para o Céu, irmã. ¿E serei santa? Respondeu: Serás

tão santa como eu, mas tens que confiar no Senhor Jesus. Perguntei se [o

meu] pai e [a minha] mãe iriam para o Céu, se … [a frase sem terminar]

Respondeu-me: Irão. E perguntei ainda: E os meus irmãs e irmãos,

¿também irão para o Céu? Respondeu-me que rezasse muito por isso, sem

dar uma resposta clara. Entendi que necessitavam de muitas orações.

Foi um sonho e segundo diz o proverbio [polaco]: o sonho é uma ilusão,

enquanto Deus é certeza; mas tal e qual como me tinha dito, ao terceiro dia

resolvi esse difícil problema com grande facilidade. Segundo me tinha dito,

cumpriu-se com todos os detalhes o que se referia ao assunto. Foi um

sonho, mas teve o seu significado.

 

151. Uma vez, estava na cozinha com a Ir. N. e ela enfadou-se um

pouco comigo e como castigo mandou que me sentasse na mesa, enquanto

ela se pôs muito atarefada a limpar, a esfregar, e eu sentada sobre a mesa.

Outras irmãs vinham e surpreendiam-se por eu estar sentada na mesa, cada

uma dizia o que lhe apetecia. Uma, que eu era preguiçosa, outra que eu era

mesmo extravagante. Naquela altura eu era postulante. Outras diziam ¿Que

espécie de freira será esta? Mas eu não podia levantar-me, porque aquela

irmã me mandou, por obediência, ficar sentada até que me permitisse

levantar-me. De verdade, somente Deus sabe quantos actos de mortificação

fiz então.

 

Pensei que ia morrer de vergonha. O próprio Deus o permitia às vezes

para a minha formação interior, mas o Senhor recompensou-me por aquela

humilhação com um grande consolo. Durante a bênção vi-O com um

aspecto de grande beleza. Jesus olhou-me amavelmente e disse: Minha

filha, não tenhas medo dos sofrimentos. Eu estou contigo.

 

152. Uma noite estava eu de guarda e sofria tanto na alma por esta

imagem que devia pintar, que já não sabia o que fazer. Os contínuos

intentos de fazer-me crer que era uma ilusão, mas por outro lado, um

sacerdote disse-me que talvez através desta imagem, Deus quisesse ser

adorado, por isso devia procurar pintá-la. Mas a minha alma estava muito

cansada. Ao entrar na pequena capela, aproximei a minha cabeça do

tabernáculo e chamei, e disse: Jesus, vê que grandes dificuldades tenho por

causa desta imagem; então ouvi uma voz que saía do tabernáculo: Minha

filha, os teus sofrimentos já não durarão por muito tempo.

 

153. Um dia vi dois caminhos: um caminho largo, coberto de areia e

flores, cheio de alegria e de música e de outras diversões. As pessoa iam

por este caminho bailando e divertindo-se, mas chegava ao fim sem

saberem que já era o fim. E no fim do caminho havia um espantoso

precipício, ou seja, o abismo infernal. Aquelas almas caíam cegamente

nesse abismo; à medida que chegavam, caíam. E eram tão numerosas que

era impossível contá-las. E vi também outra estrada, ou melhor uma vereda,

porque era estreita e coberta de espinhos e de pedras, e as pessoas que por

ela caminhavam [tinham] lágrimas nos olhos e sofriam diversas dores.

Algumas caíam sobre as pedras, mas imediatamente se levantavam e

continuavam a andar. E no fim do caminho havia um esplêndido jardim,

cheio de todo o tipo de felicidade e ali entravam todas aquelas almas.

Imediatamente, desde o primeiro momento, esqueciam-se dos seus

sofrimentos.

 

154. Quando havia a adoração das Irmãs da Familia de Maria, ao

anoitecer, fui com uma das irmãs a essa adoração. Quando entrei na capela,

a presença de Deus envolveu imediatamente a minha alma. Orava assim

como em certos momentos, sem dizer uma palavra. De repente vi o Senhor

que me disse: Fica a saber que se descuidas a pintura dessa imagem e de

toda a Obra da Misericórdia, no dia do juízo responderás por um

grande número de almas. Depois destas palavras do Senhor entrou na

minha alma um certo receio e [até] temor. Não conseguia tranquilizar-me.

Ressoavam-me aos ouvidos estas palavras: Sim, no dia do juízo divino

deverei responder não só por mim, mas também por outras almas. Estas

palavras gravaram-se profundamente no meu coração. Quando voltei a casa,

entrei no pequeno Jesus, prostrei-me diante do Santíssimo Sacramento

e disse ao Senhor: Farei tudo o que estiver ao meu alcance, mas peço-Te,

fica sempre comigo e dá-me fortaleza para cumprir a Tua santa vontade,

porque Tu podes tudo e eu, por mim mesma, não posso nada.

 

155. Desde há algum tempo acontece sentir na alma quando alguém reza

por mim; sinto-o imediatamente na minha alma. E, também, quando alguma

alma me pede oração, embora não mo diga, eu sinto-o igualmente na alma.

Sinto como uma inquietação, como se alguém me chamasse; quando rezo,

reencontro a paz.

 

156. Uma vez desejava muito aproximar-me da Santa Comunhão, mas

tinha certa dúvida e não comunguei. Sofri terrivelmente por causa disso.

Parecia-me que o coração se me partia de dor. Quando regressei às minhas

tarefas, com o coração cheio de amargura, de repente Jesus, pôs-se a meu

lado e disse-me: Minha filha, não deixes a Santa Comunhão, a não ser

que saibas bem ter caído gravemente. Afora isso não te devem deter

quaisquer dúvidas em unir-te a Mim, no Meu mistério de amor. Os teus

pequenos defeitos desaparecerão no Meu amor como uma palhinha

lançada a um grande fogo. Deves saber que Me entristeces muito,

quando não Me recebes na Santa Comunhão.

 

157. Já noite, ao entrar na pequena capela, ouvi na alma estas palavras:

Minha filha, considera estas palavras: e estando em agonia, orava mais

intensamente. Quando comecei a reflectir mais profundamente sobre elas,

muita luz se derramou sobre a minha alma. Da perseverança na oração

depende às vezes a nossa salvação.

 

158. Quando estava em Kiekrz, a substituir durante algum tempo

uma das irmãs, [88] uma tarde atravessei o jardim e parei à beira do lago a

pensar longamente sobre aquele elemento da natureza. De repente vi a meu

lado o Senhor Jesus que me disse amavelmente: Tudo isto criei para ti,

esposa Minha, e fica a saber que todas as belezas nada são em

comparação com o que te preparei na eternidade. A minha alma foi

inundada de um consolo tão grande que fiquei ali até à noite e pareceu-me

que só estive um breve instante. Naquele dia estava disponível, destinado ao

retiro espiritual de um dia. Assim tinha plena liberdade para me

dedicar à oração. Oh, que infinitamente bom é Deus, perseguindo-nos com

a sua bondade. Com muita frequência o Senhor concede-me as maiores

graças quando nem as espero.

 

159. Oh, Hóstia Santa, Tu estás encerrada para mim

num cálice de ouro,

para que na grande selva do exílio

eu caminhe pura, imaculada, intacta,

e que assim o faça o poder do Teu amor.

 

Oh, Hóstia Santa, habita na minha alma,

Puríssimo Amor do meu coração;

Que a Tua luz dissipe as trevas;

Tu não negas a graça a um coração humilde.

 

Oh, Hóstia Santa, Delícia do Paraíso,

Embora ocultes a Tua beleza

e Te apresentes a mim num pedaço de pão

a fé forte rasga esse véu.

 

160. O dia da cruzada - que é o quinto dia de cada mês, caíu na

primeira sexta-feira.

Hoje é o meu dia para estar de vigília diante de Jesus. Nessa altura cabeme desagravar o Senhor por todos os insultos e faltas de respeito, rogar para

que neste dia não se cometa nenhum sacrilégio. Naquele dia o meu espírito

estava inflamado de especial amor para com a Eucaristia. Parecia-me que

estava transformada em fogo ardente. Quando, para tomar a Santa

Comunhão, me aproximei do sacerdote que me dava Jesus, outra Hóstia

prendeu-se à sua manga e eu não sabia qual receber. Quando estava

deliberando assim um momento, o sacerdote, impaciente, fez sinal com a

mão para que eu comungasse.

 

Quando tomei a Hóstia que me entregava, a outra caíu-me nas mãos.

Enquanto o sacerdote distribuia a Santa Comunhão eu tive o Senhor Jesus

nas mãos durante todo esse tempo. Quando o sacerdote se aproximou outra

vez, dei-lhe a Hóstia para que a pusesse no cálice, pois no momento em que

recebi o Senhor não pude dizer que a outra se tinha desprendido, antes de

ter consumido. Quando tinha a Hóstia nas mãos, senti tanta fortaleza de

Amor que durante o dia inteiro não pude comer nada, nem voltar bem a

mim mesma. Da Hóstia ouvi estas palavras: Desejava descansar nas tuas

mãos e não só em teu coração, e de repente naquele momento vi o Menino

Jesus. Mas ao aproximar-se o sacerdote, vi outra vez apenas a Hóstia.

 

161. Oh Maria, Virgem Imaculada,

Puro cristal para o meu coração,

Tu és a minha força, oh âncora poderosa,

Tu és o escudo e a defesa para o coração débil.

 

Oh Maria, Tu és pura e incomparável,

Virgem e Mãe ao mesmo tempo

Tu és bela como o sol, sem mancha alguma,

Nada se pode comparar com a imagem da Tua alma

 

A Tua beleza encantou o olhar do três vezes Santo,

E baixou do Céu, abandonando o trono da morada eterna,

E tomou o corpo e o sangue do Teu Coração,

Durante nove meses escondido no Coração da Virgem

 

Oh Mãe, Virgem, ninguém compreenderá,

Que o imenso Deus se faz homem,

Só por amor e pela sua insondável Misericórdia,

Através de Ti, oh Mãe, viveremos com Ele eternamente.

 

Oh Maria, Virgem Mãe e Porta Celestial,

Através de Ti chegou-nos a salvação

Todas as graças brotam para nós

através das Tuas mãos

Santificar-me-ei somente em fiel seguimento de Ti.

 

Oh Maria, Virgem, Açucena mais bela,

O Teu coração foi o primeiro tabernáculo de Jesus na Terra,

E isso porque foi profunda a Tua humildade,

E por isso foste elevada acima dos coros dos Anjos e dos santos.

Oh Maria, doce Mãe minha,

 

Entrego-Te a alma, o corpo e o meu pobre coração,

Sê [tu] a guardiã da minha vida,

E especialmente na hora da morte,

No último combate.

 

162. JMJ. Jesus, eu confio em Vós. Ano 1937, mês I, dia 1

Anotação para o controle interior da alma. Exame especial – unir-me a

Cristo misericordioso. Prática: o silêncio interior, estrita observância do

silêncio.

 

A consciência

 

Janeiro

Deus e a alma, silêncio.

Vitórias - 41, caídas - 4.

Jaculatória: E Jesus calava-se.

 

Fevereiro

Deus e a alma, silêncio.

Vitórias - 36, caídas - 3

Jaculatória: Jesus, eu confio em Vós.

 

Março

Deus e a alma, silêncio.

Vitórias - 51, caídas - 2.

Jaculatória: Jesus, incendeia o meu coração com amor.

 

Abril

Deus e a alma, silêncio.

Vitórias - 61, caídas - 4.

Jaculatória: Com Deus posso tudo.

 

Maio

Deus e a alma, silêncio.

Vitórias - 92, caídas – 3.

Jaculatória: No seu Nome está a minha força.

 

Junho

Deus e a alma, silêncio.

Vitórias - 64, caídas - 1

Jaculatória: Tudo para Jesus.

 

Julho

Deus e a alma, silêncio.

Vitórias - 62, caídas - 8

Jaculatória: Jesus, descansa no meu coração.

 

Agosto

Deus e a alma, silêncio.

Vitórias - 88, caídas - 7

Jaculatória: Jesus, Tu sabes …

 

Setembro

Deus e a alma, silêncio.

Vitórias – 99, caídas 1

Jaculatória: Jesus, escondo-me no Teu Coração.

 

Outubro

Deus e a alma, silêncio.

Vitórias – 41, caídas – 3

Jaculatória: Maria, une-me a Jesus.

[Aqui noutra anotação – retiro].

 

Novembro

Deus e a alma, silêncio. Vitórias, caídas.

Jaculatória: Oh meu Jesus, Misericórdia.

 

Dezembro

Deus e a alma, silêncio. Vitórias, caídas.

Jaculatória: Saúdo-Te, Hóstia viva.

 

163. JMJ Ano 1937

 

Exercício geral

 

Quantas vezes respira o meu peito, quantas vezes bate o meu coração,

quantas vezes pulsa o sangue no meu corpo, essa quantidade vezes mil, é o

número de vezes que desejo glorificar a Tua Misericórdia, oh Santíssima

Trindade.

 

Desejo transformar-me toda na Tua Misericórdia e ser um vivo reflexo

de Ti, oh Senhor. Que este maior atributo de Deus, isto é a Sua insondável

Misericórdia, passe para o próximo através do meu coração.

Ajuda-me, oh Senhor, que os meus olhos sejam misericordiosos, para

que eu jamais suspeite ou julgue segundo as aparências, mas que eu procure

o belo na alma do meu próximo e acuda a ajudá-la.

Ajuda-me a que os meus ouvidos sejam misericordiosos para que tome

em conta as necessidades do meu próximo e não seja indiferente às suas

dores e gemidos.

 

Ajuda-me, oh Senhor, a que a minha língua seja misericordiosa para que

jamais fale negativamente do meu próximo mas que tenha uma palavra de

consolo e perdão para todos.

 

Ajuda-me, oh Senhor, a que as minhas mãos sejam misericordiosas e

cheias de boas obras, para que saiba fazer só o bem ao meu próximo e que

caiam sobre mim as tarefas mais difíceis e mais penosas.

Ajuda-me a que os meus pés sejam misericordiosos para que sempre me

apresse a socorrer o meu próximo, dominando a minha própria fadiga e o

meu cansaço. Que o meu verdadeiro repouso esteja no serviço ao meu

próximo.

 

Ajuda-me, oh Senhor, a que o meu coração seja misericordioso para que

eu sinta todos os sofrimentos do meu próximo. A ninguém recusarei o meu

coração. Serei sincera mesmo com aqueles que sei que abusarão da minha

bondade. E eu mesma me encerrarei no Misericordiosíssimo Coração de

Jesus. Suportarei os meus próprios sofrimentos em silêncio. Que a tua

Misericórdia, oh meu Senhor, repouse dentro de mim.

 

Tu próprio me mandas exercitar os três graus da Misericórdia. O

primeiro: a Obra de Misericórdia, de qualquer tipo que seja. O segundo: a

palavra de Misericórdia; se não posso levar a cabo uma obra de

Misericórdia, ajudarei com as minhas palavras. O terceiro: a oração. Se não

posso mostrar Misericórdia por meio de obras ou palavras, sempre posso

mostrá-la por meio da oração. Que a minha oração chegue até onde

fisicamente não posso chegar.

 

Oh meu Jesus, transforma-me em Ti, porque Tu podes fazer tudo.

[Neste lugar há quatro páginas em branco].

 

164. JMJ Varsóvia, ano 1933

A provação antes dos votos perpétuos

Quando soube que devia fazer a provação, a alegria encheu o meu

coração frente à graça tão inconcebível, como é o voto perpétuo. Fui onde

estava o Santíssimo Sacramento e quando me submergi numa oração de

graças, ouvi na alma estas palavras: Minha Filha, tu és o Meu deleite, tu

és a frescura do Meu Coração. Concedo-te tantas graças, quantas

possas levar. Sempre que quiseres agradar-me, fala ao mundo da

Minha grande e insondável Misericórdia.

 

165. Algumas semanas antes de que me anunciassem a provação, ao ter

entrado num momento na capela, Jesus tinha-me dito: Neste momento as

Superioras estão decidindo quais das irmãs terão os votos perpétuos.

Nem todas obterão essa graça, mas são elas mesmas que têm a culpa.

Quem não aproveita as pequenas graças – não receberá as maiores.

Mas a ti, Minha filha, é concedida esta graça. Um assombro gozoso

envolveu a minha alma e isto porque, uns dias antes, uma das irmãs me

tinha dito: «a irmã, não terá a terceira provação. Eu mesma procurarei que

não seja admitida aos votos». Não tinha respondido àquela irmã, mas isso

foi muito desagradável para mim; no entanto procurei, quanto pude,

esconder a minha dor.

Oh, Jesus, que admirável é o Teu proceder. Agora vejo que os homens

por si sós podem muito pouco, porque tive a provação, como me tinha dito

Jesus.

 

166. Na oração sempre encontro luz e fortaleza de espírito, embora às

vezes há momentos pesados e muito desagradáveis, até tal ponto que nem

sempre se consegue compreender que tais coisas possam suceder num

convento. Por razões misteriosas Deus permite-o às vezes, mas isso sucede

sempre para que na alma se destaque uma virtude, ou para que se

aperfeiçoe. Para isso servem os desgostos.

 

167. Hoje [Novembro de 1932] cheguei a Varsóvia para a terceira

provação. Depois de cumprimentar afectuosamente as queridas Madres,

entrei um momento na pequena capela. A presença de Deus inundou a

minha alma e ouvi estas palavras: Minha filha, desejo que o teu coração

seja formado à semelhança do Meu Coração misericordioso. Deves ser

impregnada completamente com a Minha Misericórdia.

A querida Madre Mestra imediatamente me perguntou se este ano

tinha feito os exercícios espirituais. Respondi que não. «Pois então, em

primeiro lugar, tem que fazer pelo menos três dias de exercícios

espirituais».

 

Graças a Deus, em Walendów havia exercícios espirituais de oito

dias, assim podia aproveitá-los. No entanto começaram as dificuldades

quando se tratou de ir a esses exercícios. Certa pessoa opunha-se com

veemência, e estive a ponto de não ir. Depois da refeição fui a uma

adoração de cinco minutos. Então vi Jesus que me disse: Minha filha,

estou a preparar-te muitas graças que receberás durante os exercícios

espirituais que começarão manhã. Respondi: Jesus, os exercícios já

começaram e eu não vou. Ele disse-me: Prepara-te, porque amanhã

começarás os exercícios espirituais; Eu resolverei a tua partida com as

tuas Superioras. E Jesus desapareceu repentinamente. Comecei a pensar

em como sucederia isso Mas num só instante deixei de pensar, dedicando

esse tempo à oração, pedindo ao Espírito Santo que me desse luz para

conhecer toda a miséria que sou. Depois de um instante saí da capela e fui

às minhas obrigações.

 

Pouco depois a Madre Geral chamou-me e

disse: «A irmã vai hoje mesmo para Walendów com a Madre Valeria, para

que já amanhã possa começar os exercícios espirituais. Afortunadamente

está [aqui] a Madre Valeria, e então vão juntas». Não tinham passado duas

horas e já estava em Walendów. Recolhi-me por momentos e tomei

consciência de que somente Jesus pode solucionar as coisas desta maneira.

 

168. Quando vi aquela pessoa que se opunha muito a que eu fizesse os

exercícios espirituais, mostrou surpresa e descontentamento. No entanto eu,

sem reparar em nada, cumprimentei-a cordialmente e fui fazer uma visita ao

Senhor, para pedir instruções de como comportar-me durante os exercícios

espirituais.

 

169. A minha conversa com o Senhor Jesus antes de começar os

exercícios espirituais. Jesus disse-me que esses exercícios seriam um pouco

diferentes dos outros. Ao tratar Comigo procurarás alcançar uma

profunda paz. Eliminarei todas as incertezas a esse respeito. Eu sei que

agora estás tranquila, enquanto te estou a falar; mas quando acabar de

falar, começarás a ter dúvidas, mas fica a saber que fortalecerei a tua

alma a tal ponto que embora quisesses inquietar-te não conseguirias. E

como prova de que sou Eu quem te fala, no segundo dia dos exercícios

espirituais irás confessar-te com o sacerdote que dirige os exercícios.

Vais falar-lhe logo que termine a meditação e apresentas-lhe os temores

que tens a Meu respeito; Eu te responderei pela sua boca e então

acabarão as tuas dúvidas. Durante esses exercícios espirituais

observarás um silêncio tão rigoroso como se à tua volta não existisse

nada. Falarás somente Comigo e com o confessor; às Superioras pedeslhes apenas as penitências. Senti imensa alegria por o Senhor Jesus me ter mostrado tanta benevolência e de tanto se haver inclinado para mim.

 

 

170. Primeiro dia dos exercícios espirituais. De manhã procurei ser a

primeira a chegar à capela; antes da meditação tive, ainda, um momento

para a oração ao Espírito Santo e à Mãe Santíssima. Pedi fervorosamente à

Virgem que me obtivesse a graça de ser fiel a essas inspirações interiores e

que eu cumprisse fielmente toda a vontade de Deus. Iniciei esses exercícios

com um ânimo muito especial.

 

171. Luta por manter o silêncio. Como sucede normalmente nos

exercícios espirituais vêm irmãs de várias casas. Uma das irmãs que eu não

via há muito tempo, veio à minha cela e disse que tinha algo que dizer-me.

Não lhe respondi nada e ela deu-se conta de que eu não queria romper o

silêncio. Respondeu-me: «Não sabia, irmã, que fosse tão esquisita», e

foi~se embora. Entendi que essa pessoa não tinha outro assunto que não

fosse satisfazer o seu curioso amor próprio. Oh Deus mantém-me na

fidelidade.

 

172. O Padre que dirigia os exercícios espirituais, era da América.

Veio à Polónia por pouco tempo e coincidiu que nos pregasse os exercícios.

Nesse homem reflectia-se uma profunda vida interior. O seu aspecto

revelava a grandeza do espírito; a mortificação e o recolhimento

caracterizavam aquele sacerdote. No entanto, apesar das grandes virtudes

que aquele sacerdote posssuía, experimentei enormes dificuldades em

revelar-lhe a minha alma quanto às graças, porque quanto aos pecados é

sempre fácil, mas no que se refere às graças, na verdade tenho que exigirme um grande esforço e mesmo assim receava não ter coragem para dizer

tudo.

 

173. Tentações de Satanás durante as meditações. Invadiu-me

estranhamente o temor de que o sacerdote não me entendesse ou não tivesse

tempo para que eu pudesse expor-lhe tudo. ¿Como lhe falarei de tudo isto?

Se fosse o Padre Bukowski, para mim seria mais fácil, mas a este jesuíta

vejo-o pela primeira vez. Nesse momento veio-me à mente o conselho do

Padre Bukowski, que me tinha dito que quando fizesse os exercícios

espirituais, deveria tomar nota, embora brevemente, da luz que Deus me

mandasse e dar-lhe conta disso, embora brevemente. Oh meu Deus, um dia

e meio já passaram tão rapidamente: agora estou começando a luta de vida

ou morte. Dentro de meia hora deve haver a meditação e depois tenho que ir

confessar-me. Satanás faz-me crer que se as Superioras disseram que a

minha vida é uma ilusão, ¿porque ainda perguntar e molestar o confessor?

Depois de tudo, a M. X disse-te que Jesus não tem esse tipo de relações

com almas tão miseráveis; o mesmo te dirá este confessor. ¿Porquê falar

disto? Ao fim e ao cabo não são pecados, e a Madre X disse-te

explícitamente que todos esses contactos com o Senhor Jesus são um sonho,

pura histeria, portanto, ¿para que falar disso a esse sacerdote? O melhor é

considerares tudo isso como uma ilusão. Vê, quantas humilhações sofreste e

quantas sofrerás ainda; repara que as irmãs te consideram uma histérica.

¡Oh Jesus!, gritei com toda a força da minha alma. Justamente naquele

momento o Padre entrou para dar a meditação.

Falou com brevidade, como se tivesse pressa. Terminada a meditação

sentou-se no confessionário.

 

174. Olhei em redor, nenhuma irmã se aproximava. Levantei-me

rapidamente do meu genuflexório e num momento estava junto ao

confessionário. Não tive tempo para nenhuma reflexão.

Em vez de falar ao Padre de minhas dúvidas que me foram infundidas

em relação a Jesus, comecei a relatar-lhe todas as tentações que descrevi

acima. No entanto o confessor compreendeu logo a minha situação e disse:

«A irmã não confia em Jesus, porque se comporta consigo com tanta

benevolência. Pois, irmã, esteja completamente tranquila. Jesus é o seu

Mestre e a sua comunhão com Jesus não é nenhuma histeria, nem um

sonho, nem uma ilusão. Saiba irmã, que está no bom caminho. Trate de ser

fiel a essas graças e não deve evitá-las. Não é necessário que fale dessas

graças interiores às Superioras, a não ser por ordem clara de Jesus, e antes

consulte o confessor. Mas se Jesus pedir alguma coisa exterior, então,

depois de consultar o confessor, deve cumprir o que o Senhor pede, embora

isso lhe custe muitíssimo. E, sempre, a irmã tem que contar tudo ao

confessor. Não há absolutamente outro caminho para si. Ore, irmã, para

obter um director espiritual, porque em caso contrário, desperdiçará estes

grandes dons de Deus. Repito-lhe, esteja tranquila, está no bom caminho.

Ignore tudo e sempre seja fiel ao Senhor Jesus, sem se preocupar com o que

digam de si, irmã. Precisamente com tais almas miseráveis é que o Senhor

Jesus trata dessa maneira e quanto mais a irmã se humilhe, tanto mais Jesus

se unirá a si».

 

175. Quando me afastei do confessionário, uma alegria inconcebível

inundou a minha alma até tal ponto que me dirigi a um lugar isolado no

jardim para, às escondidas das irmãs, permitir que o meu coração se

derramasse inteiramente em Deus. A presença de Deus penetrou-me por

completo e, de súbito, tudo o meu nada se submergiu em Deus e naquele

momento senti, isto é distingui, as Três Pessoas Divinas que habitavam em

mim, e a paz que tinha na alma era tão grande que me assombrava eu

mesma, de como tinha sido possível estar intranquila.

 

176. +Propósito: Fidelidade às inspirações interiores, por mais que isso

me custe. Não fazer nada por mim só, sem antes me aconselhar com o

confessor.

 

177. Renovação dos votos. De manhã cedo, quando acordei, logo a

minha alma se submergiu completamente em Deus, nesse oceano de amor.

Sentia que estava toda imersa n’Ele.

Durante a Santa Missa o meu amor para com Ele atingiu uma maior

intensidade. Depois de renovar os votos e da Santa Comunhão, de repente

vi o Senhor Jesus que me disse com benevolência: Minha filha, olha para

o Meu Coração misericordioso. Quando fixei o meu olhar nesse Coração

Santíssimo, saíram os mesmos raios que estão na imagem, como Sangue e

Água, e entendi como é grande a Misericórdia do Senhor.

 

E Jesus voltou a dizer muito amavelmente: Minha filha, fala aos sacerdotes desta Minha

inconcebível Misericórdia. Queimam-me as chamas da Misericórdia,

quero derramá-las sobre as almas, [e] as almas não querem crer na

Minha bondade. De repente Jesus desapareceu. No entanto, durante tudo o

dia o meu espírito esteve submergido na sensível presença de Deus, apesar

do ruído e da conversação que costuma haver depois dos exercícios

espirituais. A mim isso não me incomodou nada. O meu espírito estava em

Deus, apesar de que exteriormente eu tomava parte nas conversas e até

tenha ido visitar Derdy.

 

178. Hoje começámos a terceira provação. Reunimo-nos as três

junto à M. Margarita, porque as outras irmãs tinham a terceira provação no

noviciado. A Madre Margarita começou com uma prece e uma explicação

sobre o que consiste a terceira provação, e recordou a grande graça que é a

dos votos perpétuos. De repente comecei a chorar. Num só momento, diante

do olhar da minha alma apareceram todas as graças de Deus e vi-me tão

miserável e ingrata perante Deus. As irmãs começaram a repreender-me

¿por que se pôs a chorar tanto? Mas a Madre Mestra defendeu-me e disse

que isso não a admirava.

 

Terminada a hora fui diante do Santíssimo Sacramento e com a minha

miséria e o meu nada, supliquei-Lhe, pela Sua Misericórdia, que se

dignasse curar e purificar a minha pobre alma. De repente ouvi estas

palavras: Minha filha, todas as tuas misérias foram queimadas no fogo

do Meu amor, como uma palhinha lançada numas chamas enormes. E

com esta humilhação atrais para ti e para outras almas todo o mar da

Minha Misericórdia. E Respondi: Jesus, forma o meu pobre coração

segundo a Tua divina complacência.

 

179. Durante todo o período da provação a minha tarefa foi a de ajudar

uma irmã no vestiário

Esta tarefa deu-me muitas ocasiões para me exercitar nas virtudes. Mais

de uma vez, ia três vezes [seguidas] levar roupa interior a certas irmãs e não

era suficiente para as satisfazer. Mas verifiquei também grandes virtudes de

algumas irmãs, que pediam sempre para lhes trazer o pior de todo o

vestiário. Admirava esse espírito de humildade e de mortificação.

 

180. Durante o Advento despertou na minha alma um vivo desejo de

Deus. O meu espírito anelava por Deus com toda a força do meu ser.

Naquele tempo o Senhor deu-me muita luz para que conhecesse os seus

atributos.

 

O primeiro atributo que o Senhor me deu a conhecer, foi a sua santidade.

Esta santidade é tão grande que diante d’Ele tremem todas as Potências e

todas as forças. Os espíritos puros cobrem os seus rostos e se submergem

em adoração permanente, e a única expressão da sua adoração sem limites é

Santo … A santidade de Deus é derramada sobre a Igreja de Deus e sobre

cada alma que nela vive, mas não em igual grau. Há almas completamente

divinizadas, mas há também almas apenas vivas.

 

O segundo atributo que o Senhor me deu a conhecer, foi a sua Justiça. A

Sua Justiça é tão grande e penetrante que chega até o fundo da essência das

coisas e diante d’Ele tudo se apresenta na verdade nua, e nada poderia

continuar subsistindo.

 

O terceiro atributo foi o Amor e a Misericórdia. E entendi que o maior

atributo é o Amor e a Misericórdia. Une a criatura ao Criador. O maior

amor e o abismo da Misericórdia reconheço-os na Encarnação do Verbo, na

sua redenção, e daí entendi que este é o maior atributo de Deus.

 

181. Hoje limpava o quarto de uma das irmãs. Apesar de que eu tratava

de limpá-lo com o maior cuidado, ela seguia-me dizendo durante tudo o

tempo: «aqui há pó, ali uma manchinha no chão». A cada reparo seu eu

passava e repassava o mesmo, até dez vezes, para que ficasse contente. Não

é o trabalho que cansa, mas a resmunguice e as desmedidas exigências.

Não a satisfez o meu martírio de um dia inteiro, mas foi à Mestra para

queixar-se. «Digo-lhe, Madre, ¡que irmã tão descuidada!, não sabe

despachar-se». No dia seguinte fui fazer o mesmo trabalho sem uma palavra

de queixume. Quando recomeçou com os seus reparos, pensei: Jesus, é

possível ser um mártir silencioso; as forças diminuem, não pelo trabalho,

mas por este martírio.
 

182. Compreendi que algumas pessoas têm um dom especial de

atormentar os outros. E exercitam-no o mais que podem. Pobre daquela

alma que caia nas suas mãos. Não conseguirá fazer nada bem, pois as suas

melhores intenções nunca serão apreciadas.

Vigília de Natal

Hoje uni-me estreitamente à Santíssima Virgem e revivi as suas moções

mais íntimas. À noite, antes de partir o “oplatek”, entrei na capela, para

o partilhar espiritualmente com as pessoas queridas e pedi à Virgem muitas

graças para elas. O meu espírito estava mergulhado completamente em

Deus. Durante a Santa Missa da meia-noite vi o Menino Jesus na Hóstia; o

meu Espírito submergiu-se n’Ele. Mesmo sendo uma criancinha, a sua

Majestade penetrou na minha alma. Impressionou-me profundamente este

mistério, esta grande humilhação de Deus, esta Sua inconcebível anulação.

Durante toda a festa de Natal tive-o impresso na minha alma. Oh, nós nunca

compreenderemos esta grande humilhação de Deus; quanto mais o medito

[aqui a frase ficou interrompida].

 

183. Uma manhã, depois da Santa Comunhão, ouvi esta voz: Desejo que

Me acompanhes quando Eu for aos doentes. Respondi que estava de

acordo, mas um momento depois pensei:

¿Como posso fazê-lo? Dado que as irmãs do segundo coro não

acompanham o Santíssimo Sacramento; vão sempre as Irmãs Directoras.

Achei que Jesus resolveria o assunto. Poucos minutos depois, a Madre

Rafaela mandou chamar-me e disse-me: «A irmã vai acompanhar o Senhor

Jesus, quando o sacerdote visitar os doentes». E durante tudo o tempo da

provação, ia sempre com a candeia, acompanhando Jesus e como um

cavaleiro de Jesus procurava sempre cingir-me com um pequeno cinto de

ferro, porque não estaria bem acompanhar o Rei vestida como de

costume. Oferecia essa mortificação pelos doentes.

 

184. A Hora Santa. Durante esta hora procurava meditar a Paixão do

Senhor. No entanto a minha alma foi inundada de alegria e de repente vi o

pequeno Menino Jesus. A Sua Majestade impressionou-me e disse: Jesus,

Tu és tão pequeno, mas eu sei que Tu és o meu Criador e Senhor. E Jesus

respondeu-me: Sou, e trato contigo como um menino para ensinar-te a

humildade e a simplicidade.

 

Todos os sofrimentos e dificuldades as oferecia a Jesus como uma

oferenda de flores para o dia das nossas núpcias perpétuas. Nada me

custava, ao recordar que o fazia pelo meu Esposo, como uma prova do meu

amor por Ele.

 

185. O meu silêncio por Jesus. Procurava manter um grande silêncio por

Jesus. Em meio do maior ruído, Jesus sempre encontrava silêncio no meu

coração, embora às vezes isso me custasse muito.

Mas por Jesus, ¿que pode parecer difícil por Aquele a quem amo com

toda a força da minha alma?

 

186. Desejo que conheças mais profundamente o amor que arde no

Meu Coração pelas almas e compreendê-lo-ás quando meditares na

Minha Paixão. Invoca a Minha Misericórdia para com os pecadores,

pois desejo a sua salvação. Quando, de coração contrito e confiante,

rezares essa oração por algum pecador, conceder-lhe-ei a graça da

conversão. Esta oração é a seguinte:

 

187. Oh Sangue e Água que brotastes do Coração de Jesus como

fonte de Misericórdia para nós, eu confio em Vós.

 

188. Nos últimos dias de carnaval, enquanto celebrava a Hora Santa, vi o

Senhor Jesus sofrendo a flagelação. ¡Oh, que suplício inimaginável! Como

Jesus sofreu terrivelmente durante a flagelação! Oh pobres pecadores,

¿Como se encontrarão, no dia do juízo, com este Jesus a quem agora estão

torturando tanto? O Seu Sangue escorria pelo chão e em alguns pontos a

carne começava a separar-se. E reparei nas Suas costas, com alguns ossos à

vista…

Jesus emitia um gemido baixo e um suspiro.

 

189. Em certa ocasião Jesus deu-me a conhecer o muito que lhe agrada a

alma que observa fielmente a Regra. A alma obtém maior recompensa por

ser fiel à Regra do que pelas penitências e por grandes mortificações. Se

estas forem emprendidas fora do âmbito da Regra, embora também recebam

recompensa ela não será superior à da Regra.

 

190. Durante uma adoração o Senhor pediu-me que me oferecesse a Ele

como vítima por um certo sofrimento, que serviria de reparação na causa de

Deus e não somente em geral pelos pecados do mundo, mas em especial

pelas faltas cometidas nesta casa. Disse imediatamente que sim, que estava

disposta. No entanto, Jesus deu-me a conhecer o que devia sofrer e, num só

momento, apresentou-se e passou diante dos olhos da minha alma todo o

martírio. Primeiro, as minhas intenções não seriam reconhecidas, várias

suspeitas e desconfianças, toda a classe de humilhações e contrariedades,

não as enumero todas. Diante dos olhos da minha alma tudo se apresentou

como uma tempestade sombria prestes a rebentar de raios, que estavam

esperando somente o meu consentimento. A minha alma ficou espantada

durante um momento. De repente tocou a campainha para o almoço. Saí da

capela temerosa e indecisa. Mas aquele sacrifício estava continuamente

diante de mim, porque nem tinha decidido aceitá-lo nem tão-pouco tinha

dito que não ao Senhor. Queria submeter-me à sua vontade. Se Jesus

Mesmo me impusesse o sacrifício eu estava preparada. Mas Jesus deu-me a

conhecer que era eu quem devia aceitar voluntariamente e com plena

consciência porque, não sendo assim, não teria qualquer significado. Todo o

seu poder consistia no meu acto voluntário perante Ele. Mas, ao mesmo

tempo, o Senhor deu-me a conhecer que isso dependia de mim. Podia

aceitar, ou [podia] também não aceitar. Naquele momento respondi: Jesus,

aceito tudo, qualquer coisa que queiras mandar-me; confio na Tua bondade.

Num instante senti que com este acto dei uma grande glória a Deus. Enchime de paciência. Ao sair da capela, enfrentei-me logo com a realidade. Não

quero descrevê-lo com detalhes, mas tive tanto quanto podia suportar, não

teria podido suportar nem mais uma gota.

 

191. Uma manhã, ouvi na alma estas palavras: Vai falar com a Madre

Geral e diz-lhe que não me agrada determinada coisa, em tal

casa. Não posso dizer que coisa nem em que casa, mas disse à Madre Geral,

embora me tenha custado muitíssimo.

 

192. Uma vez tomei sobre mim uma espantosa tentação que atormentava

uma de nossas alunas na casa de Varsóvia. Era a tentação do suicídio. Sofri

durante sete dias e depois de sete dias Jesus concedeu-lhe a graça que eu

tinha pedido e então terminou o meu sofrimento. Foi um grande sofrimento.

Com frequência assumo os tormentos das nossas alunas. Jesus permite-mo,

e os confessores [também].

 

193. O meu coração é morada permanente de Jesus. Além de Jesus

ninguém tem acesso a ele. De Jesus recobro forças para lutar contra todas as

dificuldades e contrariedades. Desejo transformar-me em Jesus para poder

dedicar-me perfeitamente às almas. Sem Jesus não me aproximaria das

almas, porque sei o que sou eu por mim mesma. Absorvo Deus em mim,

para entregá-lo às almas.

 

194. Desejo cansar-me, trabalhar, aniquilar-me pela nossa obra de

salvação das almas imortais. Não importa se estes esforços vierem a

encurtar a minha vida, dado que ela já não me pertence, porque é

propriedade da Congregação. Por fidelidade à Congregação desejo ser útil a

toda a Igreja.

 

195. Oh Jesus, hoje a minha alma está como que paralisada pelo

sofrimento. Nem um só raio de luz.

A tormenta enfurece-se e Jesus está dormindo. Oh meu Mestre, não vou

despertar-Te, não vou interromper o Teu doce sonho. Eu creio que Tu me

estás fortalecendo, sem eu me aperceber.

Há horas inteiras em que Te adoro, oh Pão Vivo, com uma grande aridez

da alma. Oh Jesus, Amor Puro, não necessito consolações, alimento-me da

Tua vontade, oh Soberano. A Tua vontade é o fim da minha existência.

Parece-me que o mundo inteiro está ao meu serviço e depende de mim. Tu,

oh Senhor compreendes a minha alma em todas as suas aspirações.

Jesus, quando eu não posso cantar-Te o hino do amor, admiro o canto

dos Serafins, tão amados por Ti. Desejo, como eles fazem, abismar-me em

Ti. A tal amor nada pode deter, porque nenhuma força tem poder sobre ele.

É como o relâmpago que ilumina a escuridão, mas não se enreda nela. Oh

meu Mestre, Tu Mesmo modela a minha alma segundo a Tua vontade e os

Teus projectos eternos.

 

196. Uma certa pessoa propôs-me como tarefa exercitar-me de distintos

modos na virtude. Um dia deteve-me no corredor e começou por dizer que

não tinha autoridade para me fazer observações, no entanto mandou-me

ficar de pé durante meia hora em frente da pequena capela e esperar a

Madre Superiora, e quando aquela regressasse, depois do recreio,

acusar-me de diversas coisas, que ela própria enumerou. Embora não

tivesse a menor ideia a respeito dessas coisas, obedeci e esperei meia hora

pela Superiora. Cada irmã que passava ao meu lado, olhava sorrindo. Ao

ter-me acusado à Madre Superiora, mandou-me ao confessor. Quando

fiz a confissão, o sacerdote logo percebeu que isso era algo que não

procedia da minha alma, e que eu não tinha a menor ideia daquelas coisas e

estranhou que aquela pessoa tivesse podido decidir-se a dar tais ordens.

 

197 Oh Igreja de Deus, tu és a melhor mãe, só tu sabes educar e fazer

crescer a alma. Oh, quanto amor e quanta veneração tenho à Igreja, a

melhor das mães.

 

198. Uma vez o Senhor disse-me: Minha filha, a tua confiança e o teu

amor retêm a Minha Justiça e não posso castigar porque tu Mo

impedes. Oh, quanta força tem a alma cheia de confiança.

 

199. Quando penso nos votos perpétuos e quem é Aquele a quem desejo

unir-me, este pensamento leva-me a meditar sobre Ele durante horas

inteiras. ¿Como pode ser isto? Tu és Deus e eu uma Tua criatura, Tu és o

Rei Imortal e eu uma mendiga e a miséria em pessoa.

Mas agora já vejo tudo mais claramente, pois este abismo, Senhor, é

cheio pela Tua graça e amor. Este amor elimina o abismo que há entre Tu,

Jesus, e eu.

 

200. Oh Jesus, que profundamente ferida fica uma alma quando procura

sempre ser sincera e a acusam de hipocrisia e a tratam com desconfiança.

Oh Jesus, Tu também passaste por isto, para desagravar o Teu Pai.

 

201. Desejo esconder-me de maneira que nenhuma criatura conheça o

meu coração; Oh Jesus, só Tu conheces o meu coração e o possuis

totalmente. Ninguém conhece o nosso segredo; com um olhar nos

entendemos mutuamente. Desde o momento em que nos conhecemos, sou

feliz. A Tua grandeza enche-me plenamente. Oh Jesus, quando estou no

último lugar e até abaixo das mais jovens postulantes, então sinto-me no

lugar apropriado para mim.

 

Não sabia que naqueles recantos mais escusos o Senhor tenha colocado

tanta felicidade. Agora entendo que, até na prisão, de um coração puro pode

irromper uma abundância de amor por Ti, Senhor. As coisas exteriores não

têm importância para um amor puro, ele penetra tudo. Nem os portões da

prisão, nem as portas do Céu apresentam alguma dificuldade para ele. Ele

chega ao próprio Deus e nada é capaz de o apagar. Para ele não existem

barreiras, é livre como um rei e tem a entrada livre em toda a parte. A

própria morte tem que baixar a cabeça diante dele…

 

202. Hoje veio visitar-me uma minha irmã de sangue. Quando me

contou as suas intenções, tremi de medo, ¿é possível isto? Ela que era uma

bela alma perante Deus, estava numa situação de grandes trevas e não sabia

defender-se. Via tudo escuro. O bom Deus ma confiou, durante duas

semanas pude trabalhar com ela. No entanto, quantos sacrifícios me custou,

somente Deus o sabe. Por nenhuma outra alma levei ao trono de Deus

tantos sacrifícios, sofrimentos e orações, como por ela. Sentia que tinha

forçado Deus a conceder-lhe a graça. Quando penso em tudo isto, vejo um

verdadeiro milagre. Agora vejo quanto poder tem a prece de intercessão

diante de Deus.

 

203. Agora, nesta Quaresma, sinto muitas vezes a Paixão do Senhor no

meu corpo; tudo o que sofreu Jesus, vivo-o profundamente no meu coração,

embora exteriormente os meus sofrimentos não sejam notados por ninguém,

só o confessor sabe deles.

 

204. Uma breve conversação com a Madre Mestra. Quando lhe

perguntei por alguns pormenores para progredir na vida interior, esta santa

Madre respondeu-me a tudo com muita clareza. Disse-me: «Se a irmã,

continuar a cooperar assim com a graça de Deus, estará a um passo de uma

estreita união com Deus. Compreende em que sentido o digo. Que a

fidelidade à graça do Senhor seja a sua característica. Nem a todas as almas

Deus conduz por este caminho».

 

205. Páscoa da Resurreição. Hoje durante a cerimónia pascal, vi o

Senhor Jesus [em] um grande esplendor; aproximou-se de mim e disse-me:

A Paz esteja convosco, Meus filhos, e levantou a mão e abençoou-nos. As

chagas das mãos, dos pés e do lado não estavam apagadas mas

resplandecentes. Depois olhou-me e com tanta benevolência e amor, que a

minha alma submergiu-se totalmente n’Ele, e disse-me: Muito participaste

na Minha Paixão, por isso dou-te também uma grande participação na

Minha glória e na Minha alegria. Toda a ceremónia pascal me pareceu

um minuto. Um extraordinário recolhimento envolveu a minha alma e

manteve-se durante toda a festa. A amabilidade de Jesus é tão grande que é

impossível descrevê-la.

 

206 No dia seguinte, depois da Santa Comunhão, ouvi a voz: Minha

filha, olha para o abismo da Minha Misericórdia e dá-lhe louvor e

glória; e procede deste modo: Reune todos os pecadores do mundo

inteiro e submerge-os no abismo da Minha Misericórdia. Desejo darme às almas, desejo as almas, Minha filha. No dia da Minha Festa, a

Festa da Misericórdia – percorrerás o mundo inteiro e trarás as almas

desfalecidas à fonte da Minha Misericórdia. Eu as curarei e as

fortificarei.

 

207 Hoje rezei por uma alma agonizante que estava a morrer sem os

santos sacramentos, embora os desejasse fervorosamente. Mas já era

demasiado tarde. Era uma minha parente, a esposa de um tio paterno. Era

uma alma querida por Deus. Naquele momento não havia distância para

nós.

 

208. Oh pequenos, insignificantes, sacrifícios do dia a dia, sois para mim

como flores do campo com as quais cubro os pés do amado Jesus. Às vezes

comparo estas insignificâncias com as virtudes heróicas, porque para a sua

incessante continuidade exigem heroísmo.

 

209. Durante os sofrimentos não procuro ajuda das criaturas, mas de

Deus que é tudo para mim, embora às vezes me pareça que o Senhor não

me escuta. Armo-me de paciência e de silêncio, como a pomba que não se

queixa nem mostra dor quando lhe tiram os seus filhinhos.

Desejo voar para o ardor mesmo do sol e não quero deter-me entre o

fumo e a neblina.

Não me cansarei, porque me apoio em Ti, minha força!

 

210. Rogo fervorosamente ao Senhor que se digne reforçar a minha fé

para que na minha cinzenta vida quotidiana não me guie segundo as

considerações humanas, mas segundo o espírito. Oh, como tudo atrai o

homem para a Terra, mas uma fé viva mantém a alma numa esfera mais alta

e ao amor próprio atribui-lhe o lugar que lhe compete, isto é, o último.

 

211. Uma escuridão terrível cai novamente sobre a minha alma. Parece

que estou sob a influência de ilusões. Quando fui confessar-me para obter

luz e serenidade, não as encontrei. O confessor criou ainda mais

dúvidas das que tinha antes. Disse-me: «Não consigo entender que poder

actua em si, irmã; talvez Deus ou, talvez, o espírito maligno».

Ao afastar-me do confessionário, comecei a considerar as suas palavras.

Quanto mais as considerava, tanto mais a minha alma se fundia na

escuridão. ¿Que fazer, Jesus? Quando Jesus se aproximava de mim

bondosamente, eu tinha medo. ¿És verdadeiramente Tu, Jesus?

Por um lado atrai-me o amor, por outro, o medo. Que tormento; não sei

descrevê-lo.

 

212. Quando fui confessar-me de novo, recebi a resposta: «Eu não a

entendo, irmã, é melhor que não se confesse comigo». Deus meu, eu tenho

que fazer-me tanto esforço para contar qualquer coisa sobre a minha vida

interior e eis a resposta que obtenho ¡eu não a entendo!

 

213 Quando me afastei do confessionário fui assaltada por inúmeros

tormentos. Fui diante do Santíssimo Sacramento e disse: Jesus, salva-me.

Tu vês que sou fraca. Então ouvi estas palavras: Durante os exercícios

espirituais, antes dos votos perpétuos, dar-te-ei uma ajuda. Fortalecida

por estas palavras, comecei a avançar sem pedir conselho a ninguém; no

entanto sentia tanta desconfiança comigo mesma, que decidi acabar com

essas dúvidas uma vez por todas. Assim, pois, esperava ansiosamente esses

exercícios espirituais que deviam preceder os votos perpétuos; já uns dias

antes pedia incessantemente ao Senhor luz para o sacerdote que iria

confessar-me, para que ele decidisse de uma vez, categóricamente, sim ou

não; e pensava: Ficarei tranquila uma vez por todas. Mas estava

preocupada, por não saber se alguém estaria disposto a escutar todas essas

coisas. No entanto, decidi não pensar mais nisso, e depositar toda a

confiança no Senhor. Ressoavam dentro de mim essas palavras: “Durante os

exercícios espirituais.”

 

214. Tudo já está preparado. Amanhã de manhã temos de ir para

Cracóvia, para os exercícios espirituais. Hoje entrei na capela para

agradecer a Deus as inumeráveis graças que me tinha concedido durante

esses cinco meses. O meu coração estava profundamente comovido por

tantas graças e pelo cuidado das Superioras.

 

215. Minha filha, fica tranquila, Encarrego-me de todos os assuntos.

Eu Mesmo os resolverei com as Superioras e com o confessor. Fala com

o Padre Andrasz com a mesma simplicidade e confiança como falas

Comigo.

 

216 Hoje [18 IV 1933] chegámos a Cracóvia. Que alegria encontrar-me

novamente aqui, onde aprendi a dar os primeiros passos na vida espiritual.

A querida Madre Mestra, sempre a mesma, alegre e cheia de amor ao

próximo. Entrei um momento na capela; a alegria inundou a minha alma.

Num momento recordei todo um mar de graças que tinha recebido aqui

sendo noviça.

 

217. E hoje começamos a reunir-nos todas para ir por uma hora ao

noviciado. A Madre Mestra M. Josefa dirigiu-nos algumas palavras e

preparou o plano dos exercícios espirituais.

Quando nos dizia essas poucas palavras, vi diante dos meus olhos todo o

bem que essa querida Madre tinha feito por nós. Senti na alma um grande

agradecimento por ela.

A pena de estar no noviciado pela última vez, estreitou o meu coração.

Já devo lutar com Jesus, trabalhar com Jesus, sofrer com Jesus; numa

palavra, viver e morrer com Jesus. A Mestra já não seguirá os meus passos

para instruir-me, avisar-me, admoestar-me, encorajar-me ou repreender-me.

Sozinha, sinto um certo medo. Oh Jesus, dá-me remédio para isto. Sim,

terei a Superiora, é verdade, mas desde agora estarei mais só.

Cracóvia 21 IV 1933

Para a maior glória de Deus.

Exercícios espirituais de oito dias antes dos votos perpétuos.

 

218. Hoje começo os exercícios espirituais. Jesus, meu Mestre, guia-me,

dispõe de mim segundo a Tua vontade, purifica o meu amor para que seja

digna de Ti, faz de mim o que deseja o Teu Misericordiosíssimo Coração.

Jesus, nestes dias estaremos sós, até ao momento da nossa união; mantémme, Jesus, em recolhimento do espírito.

 

219. À noite o Senhor disse-me: Minha filha, que nada te assuste nem

te perturbe; mantém uma profunda tranquilidade, tudo está nas

Minhas mãos, far-te-ei entender tudo pela boca do Padre Andrasz. Sê

como uma criança diante dele.

Un momento diante do Santíssimo Sacramento.

 

220. Oh Senhor e meu eterno Criador, ¿Como poderei agradecer-Te por

esta grande graça de que Te dignaste escolher-me a mim, miserável, como

Tua esposa e me unes a Ti com um vínculo eterno?

Amabilíssimo tesouro do meu coração, ofereço-Te todos os actos de

adoração e de agradecimento das almas santas, dos coros angélicos e unome especialmente à Tua Mãe. Oh Maria, minha Mãe, rogo-Te

humildemente, cobre a minha alma com o Teu manto virginal neste

momento tão importante da minha vida, para que, assim, me faça mais

agradável a Teu Filho e possa glorificar dignamente a Misericórdia de Teu

Filho diante do mundo inteiro e durante toda a eternidade.

 

221. Hoje não pude entender a meditação. O meu espírito estava

admiravelmente submergido em Deus. Não pude forçar-me a pensar no que

o Padre dizia durante os exercícios espirituais. Muitas vezes não sou capaz

de pensar segundo determinados esquemas, o meu espírito está com o

Senhor e é essa a minha meditação.

 

222. Algumas palavras da minha conversa com a Madre Mestra Maria

Josefa. Esclareceu-me sobre muitas coisas e tranquilizou-me a respeito da

vida interior, [dizendo] que estou no bom caminho. Agradeci ao Senhor

Jesus por esta grande graça, já que ela era a primeira entre as Superioras

que não engendrava dúvidas neste aspecto. Oh, como Deus é infinitamente

bom.

 

223. Oh Hóstia Viva, minha única Fortaleza, Fonte de Amor e de

Misericórdia, envolve o mundo inteiro, fortifica as almas débeis. Oh,

bendito seja o instante e o momento em que Jesus [nos] deixou o Seu

Misericordiosíssimo Coração.

 

224. Sofrer sem se queixar, consolar os outros e mergulhar os seus

próprios sofrimentos no Sacratíssimo Coração de Jesus. Todos os

momentos livres das minhas obrigações passarei aos pés do Santíssimo

Sacramento. Aos pés do Senhor procurarei luz, consolo e força.

Incessantemente mostrarei o agradecimento a Deus pela grande

Misericórdia por mim, sem esquecer jamais os benefícios [que] me ofereceu

e especialmente a graça da vocação.

Esconder-me-ei entre as irmãs como uma violeta pequena entre as

açucenas. Desejo florescer para o meu Criador e Senhor, esquecer-me de

mim mesma, aniquilar-me completamente a favor das almas imortais é um

deleite para mim.

 

225. Alguns dos meus propósitos.

No que respeita à confissão, escolherei o que mais me humilha e custa.

Às vezes uma coisa pequena custa mais que outra maior. Antes de cada

confissão recordarei a Paixão do Senhor Jesus e com isto despertarei a

contrição do coração. Se for possível, com a graça de Deus, exercitar-me

sempre na dor perfeita. A esta contrição dedicar-lhe-ei mais tempo.

Antes de me aproximar do confessionário, entrarei no Coração Aberto e

Misericordiosíssimo do Salvador. Quando me afastar do confessionário,

despertarei na minha alma uma grande gratidão à Santíssima Trindade por

este extraordinário e inconcebível milagre da Misericórdia que se produz na

alma; e quanto mais miserável é a minha alma, tanto mais sinto que o mar

da Misericórdia de Deus me absorve e me dá uma enorme força e poder.

 

226. As Regras a que desobedeço com mais frequência: às vezes

interrompo o silêncio, não obedeço ao chamamento da campainha, por

vezes meto-me nas obrigações dos outros; farei os maiores esforços para me

corrigir.

 

Evitar as irmãs que murmuram e, se não for possível evitá-las, pelo

menos ficar calada na presença delas, dando a entender o penoso que é para

nós escutar semelhantes coisas.

Não fazer caso dos respeitos humanos, mas ter em conta a minha própria

consciência, que nos dá sinal. Ter a Deus como testemunha de todos os

actos. Comportar-me agora e resolver cada assunto de tal modo como

quereria fazer e agir na hora da morte. Por isso, em cada assunto, ter sempre

Deus presente.

 

Evitar as supostas autorizações. Relatar às Superioras mesmo as

coisas pequenas, se for possível detalhadamente. Fidelidade nas práticas de

piedade; não pedir com facilidade excepções das práticas de piedade; calar,

excepto durante o recreio; evitar gracejos e ditos espirituosos que façam as

outras rir e quebrar o silêncio; dar grande importância às mais pequenas

prescrições; não me deixar levar pelo frenesi do trabalho e saber

interrompê-lo um momento para olhar para o Céu; falar pouco com as

pessoas, mas muito com Deus; evitar a familiaridade; prestar pouca atenção

a quem é contra ou a meu favor; não compartilhar com as outras o que tive

que suportar; evitar falar em voz alta durante o trabalho; nos sofrimentos

conservar a serenidade e o equilibrio; nos momentos difíceis recorrer às

Chagas de Jesus - É nas Chagas de Jesus que hei de procurar consolo,

alívio, luz e força.

 

227. Nas provações procurarei ver a mão amorosa de Deus. Não há nada

tão constante como o sofrimento; é ele que sempre acompanha fielmente a

alma. Oh Jesus, no amor por Ti não deixarei que ninguém me ultrapasse.

 

228. Oh Jesus, escondido no Santíssimo Sacramento, vês que hoje saio

do noviciado, fazendo os votos perpétuos. Jesus, Tu conheces a minha

debilidade e a minha pequenez, portanto desde hoje de modo mais especial

passo ao Teu noviciado. Continuo a ser uma noviça, mas noviça Tua, Jesus,

e Tu serás o meu Mestre até ao último dia. Todos os dias irei a Teus pés

para receber lições. Não começarei a mais pequena coisa sem te consultar

antes, como meu Mestre. Oh Jesus, estou tão contente de que Tu mesmo me

tenhas atraído e recebido no Teu noviciado, isto é, no Tabernáculo.

Pronunciando os votos perpétuos não me transformo em absoluto numa

religiosa perfeita, não, não. Continuo a ser uma pequena e débil noviça de

Jesus e tratarei de alcançar a perfeição como nos primeiros dias do

noviciado, procurando ter a disposição da alma que tinha no primeiro dia,

em que se abriu para mim a porta do convento.

 

Com a confiança e a simplicidade de um menino pequeno, entrego-me a

Ti, Senhor Jesus, meu Mestre; deixo-Te uma liberdade absoluta de guiar a

minha alma. Guia-me pelos caminhos que Tu queiras; não vou dicuti-los.

Seguir-Te-ei confiada. O Teu Coração misericordioso tudo pode.

 

A pequena noviça de Jesus – Ir. Faustina

 

229. No começo dos exercícios espirituais Jesus disse-me: Nestes

exercícios espirituais, serei Eu Mesmo quem dirije a tua alma; quero

confirmar-te na tranquilidade e no amor. E assim se passaram os

primeiros dias. No quarto dia começaram a atormentar-me grandes dúvidas

de que ¿não me encontrava, talvez, numa falsa tranquilidade? Logo ouvi

estas palavras: Minha filha, imagina que és a rainha de toda a Terra e

que tens a possibilidade de dispôr de tudo conforme te pareça; tens

toda a possibilidade de fazer o bem que te agrade e de repente, à tua

porta, chama um menino muito pequeno, todo temeroso, com lágrimas

nos olhos, mas com grande confiança na tua bondade e te pede um

pedaço de pão para não morrer de fome. ¿Como te comportarias com

este menino? Responde-me, Minha filha. E disse: Jesus, dar-lhe-ia tudo o

que me pedisse, e mil vezes mais. E o Senhor disse-me: Assim Me

comporto Eu com a tua alma. Durante estes exercícios espirituais não

somente te darei tranquilidade mas, também, tal disposição de ânimo

que, embora queiras inquietar-te, não poderás. O Meu amor tomou

posse da tua alma e quero que te confirmes nele. Aproxima o teu

ouvido do Meu Coração e esquece-te de tudo, e considera a Minha

inconcebível Misericórdia. O Meu amor te dará a força e o ânimo que

te são necessários nesta Obra.

 

230. Oh Jesus, Hóstia Viva, Tu és a minha mãe, Tu és tudo para mim.

Virei a Ti, oh Jesus, com simplicidade e com amor, com fé e com confiança.

Repartirei tudo Contigo, como um menino com a sua amada mãe, os gozos

e os sofrimentos, numa palavra tudo.

 

231. Quando penso em que Deus se une a mim por meio dos votos, ou

melhor, eu a Ele, ninguém pode compreender o que experimenta o meu

coração. Já agora Deus dá-me a conhecer toda a imensidade do Seu amor

com que me amou já antes dos séculos, enquanto eu só comecei a amá-Lo

no tempo. O Seu amor é grande, puro e desinteressado e o meu amor é para

O conhecer. Quanto mais O conheço, tanto mais ardente e fortemente O

amo e as minhas acções são mais perfeitas. No entanto quando penso que

dentro de poucos dias vou fazer-me uma só coisa com o Senhor por meio do

voto perpétuo, um gozo tão inconcebível inunda a minha alma que não

consigo descrevê-lo em absoluto. Desde a primeira vez que conheci o

Senhor, o olhar da minha alma une-se a Ele pela eternidade. Cada vez que o

Senhor se aproxima de mim, e se produz em mim um conhecimento mais

profundo, cresce na minha alma um amor mais perfeito.

 

232. Antes da confissão ouvi na alma estas palavras: Minha filha, dizlhe tudo e descobre a tua alma diante dele como o fazes diante de Mim.

Não tenhas medo de nada; para tua tranquilidade ponho esse sacerdote

entre Mim e a tua alma, e as palavras que te dirá são Minhas. Descobre

diante dele as coisas mais secretas que tens na alma. Eu lhe darei luz

para que conheça a tua alma.

 

233. Ao aproximar-me do confessionário senti na alma uma facilidade

tão grande para falar de tudo, que mais tarde eu mesma me admirei. As suas

respostas deram à minha alma uma tranquilidade muito profunda. As suas

palavras foram, são e ficaram para sempre como colunas de fogo que

iluminaram e seguirão iluminando a minha alma na sua aspiração à máxima

santidade.

As indicações que recebi do Padre Andrasz, tenho-as apontadas noutra

página deste caderno.

 

234. Terminada a confissão, o meu espírito submergiu-se em Deus e

permaneci orando durante três horas, e pareceram-me uns poucos minutos.

Desde então não ponho obstáculos à graça que actua na minha alma. Jesus

sabia por que eu tinha medo de tratar com Ele e não se ofendia em

absoluto. Desde o momento em que o Padre me assegurou que não se

tratava de nenhumas ilusões, mas da graça de Deus, trato de ser fiel a Deus

em tudo. Agora vejo que são poucos os sacerdotes que compreendem toda a

profundidade da acção de Deus na alma. Desde aquele momento tenho as

asas desatadas para o voo e desejo voar mesmo para o ardor do sol. O meu

voo não se deterá até que não descanse n’Ele pela eternidade. Se voamos

muito alto, toda a escuridão, a névoa e as núvens ficam debaixo dos pés e

toda a parte sensitiva do nosso ser tem que submeter-se ao espírito.

 

235. Jesus, desejo a salvação das almas, almas imortais. No sacrifício

desafogarei o meu coração, no sacrifício que nem sequer alguém suspeite;

aniquilar-me-ei e queimar-me-ei, sem ser notada, no sagrado fogo do amor

de Deus. A presença de Deus é a ajuda para que o meu sacrifício seja

perfeito e puro.

 

236. Oh, que equívocas são as aparências e os juízos injustos. Oh,

quantas vezes a virtude é espezinhada só porque é silenciosa. Conviver

sinceramente com quem nos molesta continuamente, isso requer um grande

espírito de sacrifício. Sente-se que sangra, mas as feridas não se vêem. Oh

Jesus, quantas coisas nos revelará somente o último dia. ¡Que alegria! Dos

nossos esforços nada se perde.

 

237. A Hora Santa. Nesta hora de adoração conheci todo o abismo da

minha miséria. Tudo o que há de bom em mim, é Teu, Senhor, mas como

sou tão miserável e pequena, tenho o direito de contar com a Tua infinita

Misericórdia.

 

238 Ao anoitecer. Jesus, amanhã cedo vou pronunciar os votos perpétuos. Pedi a todo o Céu e à Terra, e tudo o que existe chamei para

agradecer a Deus por esta grande e inconcebível graça.

De repente ouvi estas palavras: Minha filha, o teu coração é o Céu

para Mim. Ainda um momento de oração e depois há que sair correndo já

que nos mandam embora de todo o lado, porque preparam tudo para

amanhã: a capela, o refeitório, a sala, e a cozinha, e nós devemos deitar-nos.

Mas dormir, nem falar. A alegria tirou o sono. Pensava ¿como será no Céu

se já aqui, neste desterro, Deus enche a minha alma deste modo?

 

239. A oração durante a Santa Missa no dia dos votos perpétuos. Hoje

deixo o meu coração na patena onde está colocado o Teu Coração, Jesus, e

hoje ofereço-me juntamente Contigo, a Deus, Teu e meu Pai, como vítima

de amor e de adoração. Pai de Misericórdia, vê a oferenda do meu coração,

mas através da ferida do Coração de Jesus.

1933 ano V. 1 dia.

 

A união com Jesus no dia dos votos perpétuos. Oh Jesus, o Teu Coração

desde hoje é minha propriedade e o meu coração é Tua propriedade

exclusiva. A simples recordação do Teu Nome, Jesus, é uma delícia para o

meu coração. De verdade, não poderia viver nem um instante sem Ti, oh

Jesus. Hoje a minha alma está perdida em Ti, como em seu único tesouro. O

meu amor não conhece obstáculos em dar provas ao meu Amado.

As palavras do Senhor Jesus durante os votos perpétuos: Esposa Minha,

os nossos corações estão unidos pela eternidade. Recorda a quem [te]

consagraste… não é possível referir tudo.

 

O meu pedido quando me prostrei em cruz sob o pano fúnebre.

Roguei ao Senhor que me concedesse a graça de nunca o ofender,

voluntária e conscientemente, com nenhum pecado, nem o mais pequeno,

nem mesmo com uma imperfeição.

 

Jesus, eu confio em Vós, Jesus, eu amo-Te com todo o coração.

Nos momentos mais difíceis Tu és a minha Mãe.

Por amor de Ti, oh Jesus, quero morrer completamente para mim mesma

e começar a viver para a maior glória do Teu Santo Nome.

O amor. Por amor, oh Santíssima Trindade, me ofereço a Ti como vítima

de adoração, como holocausto da minha total imolação e com esta imolação

de mim mesma, desejo a exaltação do Teu Nome, oh Senhor. Como um

pequenino botão de rosa me lanço a Teus pés, oh Senhor; que o perfume

desta flor seja conhecido somente por Ti.

 

240. Três pedidos no dia dos votos perpétuos. Jesus, eu sei que no dia de

hoje não me negarás nada.

 

Primeiro pedido. - Oh Jesus, meu amadíssimo Esposo, rogo-Te pelo

triunfo da Igreja, sobretudo na Rússia e em Espanha; a bênção para o Santo

Padre Pio XI e todo o clero; a graça da conversão para os pecadores

empedernidos. Peço-Te, oh Jesus, uma bênção especial e luz para os

sacerdotes ante os quais me confessarei durante toda a minha vida.

 

Segundo pedido. - Uma bênção para a nossa Congregação, para que nela

haja sempre grande fervor. Bendiz, oh Jesus, a Madre Geral e a Madre

Mestra e tudo o noviciado, e todas as Superioras e os meus queridíssimos

pais; concede, oh Jesus, a Tua graça às nossas alunas, fortalece-as

firmemente com a Tua graça para que as que deixam as nossas casas não Te

ofendam com mais nenhum pecado. Oh Jesus, peço-Te pela Pátria, defendea dos ataque dos inimigos.

 

Terceiro pedido. - Oh Jesus, peço-Te pelas almas que mais necessitam de

oração. Peço-Te pelos agonizantes, sê misericordioso com eles. Rogo-Te

também, oh Jesus, pela libertação de todas as almas do Purgatório.

Oh, Jesus, recomendo-Te as seguintes pessoas: os meus confessores,

outras pessoas recomendadas às minhas orações, certas pessoa…, o Padre

Andrasz, o Padre Czaputa e aquele sacerdote que conheci em Vilna [118],

que há de ser o meu confessor, certa alma… e certo sacerdote, certo

religioso a quem – Tu o sabes, Jesus – devo muitíssimo, e todas as pessoas

que são recomendadas à minha oração.

 

Oh Jesus, neste dia Tu podes fazer tudo por aqueles pelos quais Te rogo.

Para mim, peço-Te, Senhor, transforma-me completamente em Ti, mantémme sempre no santo fervor para Tua glória, dá-me a graça e a força do

espírito para cumprir em tudo a Tua santa vontade. Agradeço-Te, oh meu

amadíssimo Esposo, pela dignidade que me ofereceste e especialmente

pelas insígnias reais que desde hoje me adornam, e que nem sequer os

Anjos têm, que são; a cruz, a espada e a coroa de espinhos. Mas

principalmente, oh meu Jesus, agradeço-Te pelo Teu Coração: Só Ele me

basta.

 

Oh Mãe de Deus, Santíssima Maria, minha Mãe, Tu agora és a minha

Mãe de modo mais especial e isto porque o Teu amado Filho é o meu

Esposo, pois os dois somos Teus filhos. Por consideração a Teu Filho, deves

amar-me; Oh Maria, minha Mãe amadíssima, dirige a minha vida interior

de modo que seja agradável a Teu Filho.

 

Oh Santo, Omnipotente Deus, neste momento da enorme graça com a

qual me unes a Ti para sempre, eu, pequena nulidade, lanço-me a Teus pés

com o maior agradecimento, como uma pequena, desconhecida florzinha e

a fragância desta flor de amor subirá todos os dias ao Teu trono.

Nos momentos da luta e dos sofrimentos, das trevas e das tempestades,

de anseio e de tristeza, nos momentos das provações difíceis, nos momentos

nos quais não serei compreendida por nenhuma criatura e mais facilmente

serei condenada e desprezada por todos, recordarei o dia dos votos

perpétuos, o dia desta inconcebível graça de Deus.

1 V 1933

 

241. JMJ. Propósitos especiais dos exercícios espirituais. O amor ao

próximo - primeiro: ser serviçal com as irmãs; segundo: não falar dos

ausentes e defender o bom nome do próximo; terceiro: alegrar-se com os

êxitos do próximo.

 

242. Oh Deus, quanto desejo ser uma criança pequena. Tu és o meu Pai,

Tu sabes a pequenina e débil que sou, assim peço-Te, tem-me próxima de Ti

em todos os momentos da minha vida e especialmente na hora da morte. Oh

Jesus, eu sei que a Tua bondade está acima da bondade da mais terna das

mães.

 

243. Agradecerei ao Senhor Jesus por cada humilhação, rogarei

especialmente pela pessoa que me der a oportunidade de humilhar-me.

Imolar-me-ei a favor das almas. Não reparar em nenhum sacrifício, pondome debaixo dos pés das irmãs como um pequeno tapete, sobre o qual

podem não só caminhar, mas a que podem também limpar os pés. O meu

lugar está debaixo dos pés das irmãs e hei-de procurá-lo, na prática, de

maneira imperceptível para os olhos humanos. Basta que Deus o veja.

 

244. Já começaram os dias cinzentos, quotidianos. Já passaram os

momentos solenes dos votos perpétuos, mas na alma ficou muita graça de

Deus. Sinto que sou toda de Deus, sinto que sou sua filha, sinto que sou

totalmente propriedade de Deus. Noto isso até física e sensivelmente.

Estou completamente tranquila por tudo, porque sei que o dever do

Esposo é pensar em mim. Esqueci-me completamente de mim mesma. A

minha confiança está posta sem limites no Seu Misericordiosíssimo

Coração. Estou continuamente unida a Ele. Vejo como se Jesus não pudesse

ser feliz sem mim e eu sem Ele.

Sei bem que, sendo Deus, é feliz em Si mesmo, e para ser feliz não

necessita absolutamente de nenhuma criatura; no entanto a sua bondade

força-O a dar-se às criaturas, e isto com uma generosidade inconcebível.

 

245. Oh meu Jesus, agora procurarei a honra e a glória do Teu Nome,

lutando até o dia em que Tu Mesmo me digas: Basta! A cada alma que me

for confiada, oh Jesus, procurarei ajudá-la com a oração e o sacrifício, para

que a Tua graça possa actuar nela. Oh grande Amante das almas, oh meu

Jesus, agradeço-Te por esta grande confiança, já que Te dignaste confiar

estas almas ao nosso cuidado.

 

Oh dias cinzentos de trabalho, para mim não são tão cinzentos em

absoluto, porque cada momento me traz novas graças e a oportunidade de

fazer o bem.

 

246. 25 IV 1933

Autorizações mensais

Passando, entrar na capela.

Nos momentos livres das obrigações, rezar.

Aceitar, dar, emprestar alguns pequenos objectos.

Tomar pequenas refeições e merendar.

Às vezes não poder participar no recreio.

Às vezes também não poder participar nos exercícios comuns.

Às vezes não poder participar nas preces da noite nem da manhã.

Às vezes continuar com as minhas ocupações um momento depois das nove

horas e outras vezes fazer as práticas de piedade depois das nove horas.

Se tiver um momento livre, escrever ou anotar algo.

Falar pelo telefone.

Sair de casa.

Quando estiver na cidade, entrar numa igreja.

Visitar as irmãs doentes.

Entrar nas celas de outras irmãs em caso de necessidade.

Às vezes beber água fora do horário.

Fazer pequenas mortificações.

Rezar a coroinha da Divina Misericórdia com os braços em cruz.

Aos sábados, rezar uma parte do rosário com os braços em cruz.

Às vezes rezar alguma prece prostrando-me em cruz.

Às quinta-feiras, fazer a Hora Santa.

Às sexta-feira fazer uma maior mortificação pelos pecadores moribundos.

 

247. Oh Jesus, Amigo do Coração solitário, Tu és o meu porto, Tu és a

minha paz, Tu és a minha Única salvação. Tu és a serenidade nos momentos

de luta e no mar de dúvidas. Tu és o raio brilhante que ilumina o caminho

da minha vida. Tu és tudo para a alma solitária. Tu compreendes a alma,

embora ela permaneça em silêncio. Tu conheces as nossas debilidades e

como bom médico consolas e curas, poupando-nos sofrimentos.

 

248. Palavras do Rev.mo Bispo dirigidas às irmãs na cerimónia dos

votos perpétuos: «Recebe esta vela, em sinal de Luz celeste e de amor

ardente».

Ao entregar o anel: «Desposo-te com Jesus Cristo, Filho do Pai

Altíssimo, que Ele te guarde sem mancha. Recebe este anel como sinal da

eterna aliança que contrais com Cristo, Esposo das virgens. Que este seja

para ti o anel da fidelidade, o sinal do Espírito Santo para que te chames

esposa de Cristo e, se O servires fielmente, sejas coroada pela eternidade».

 

249. Jesus, confio em Ti, confio no mar da Tua Misericórdia, Tu és mãe

para mim.

 

250. Este ano de 1933 é para mim especialmente solene, porque neste

ano do Jubileu da Paixão do Senhor fiz os votos perpétuos. Uni o meu

sacrifício de um modo especial ao sacrifício de Jesus Crucificado, para

assim ser mais agradável a Deus. Tudo faço com Jesus, por Jesus e em

Jesus.

 

251. Depois dos votos perpétuos, ainda fiquei em Cracóvia durante todo

o mês de Maio, porque o meu destino oscilava entre Rabka e Vilna. Quando

uma vez a Madre Geral me perguntou: ¿Por que é que irmã fica tão

sossegada e não se prepara para ir para outro lugar? Respondi: Eu quero só

a vontade de Deus. Para onde a Madre me mandar, sem a minha

intervenção, será para mim a pura vontade de Deus.

 

A Madre Geral respondeu-me: «Muito bem». Mas no dia seguinte

chamou-me e disse: «Como desejava fazer a pura vontade de Deus, pois

então a irmã, vai para Vilna». Agradeci-lhe e esperava o dia em que

dissessem para partir. No entanto uma alegria e um temor invadiram, ao

mesmo tempo, a minha alma. Sentia que ali Deus me preparava grandes

graças, mas também grandes sofrimentos. De qualquer forma, até ao dia 27

de Maio mantive-me em Cracóvia. Como não tinha uma tarefa fixa e ia

somente ajudar no jardim, e como coincidiu que trabalhava sozinha, durante

tudo o mês tive a possibilidade de fazer os exercícios espirituais segundo o

sistema dos jesuítas, recebendo muita luz de Deus.

 

252. Passaram quatro dias depois dos votos perpétuos. Tratei de fazer a

Hora Santa. Era a primeira quinta-feira do mês. Quando entrei na capela, a

presença de Deus envolveu-me. Sentia claramente que o Senhor estava ao

meu lado. Um momento depois vi o Senhor tudo coberto de chagas, e disseme: Olha Aquele que tu desposaste. Compreendi o significado dessas

palavras e respondi ao Senhor: Jesus, amo-Te mais vendo-te tão ferido e

aniquilado do que se Te visse na Tua Majestade. Jesus perguntou: ¿Por

qué? Respondi: Uma grande Majestade dá-me medo, a esta pequenina

nulidade que eu sou, enquanto que as Tuas chagas atraiem-me ao Teu

Coração e falam-me do Teu grande amor por mim. Depois desta conversa

fez-se silêncio. Olhava atentamente as suas santas chagas e sentia-me feliz

sofrendo com Ele. Sofrendo não sofria, porque senti-me feliz conhecendo a

profundidade do Seu amor e passou uma hora como se fosse um minuto.

 

253. Não julgar nunca ninguém, para os outros ter um olhar indulgente e

para mim severo. Relacionar tudo com Deus e a meus próprios olhos sentirme o que sou, isto é a maior miséria e a nulidade. Nos sofrimentos estar

paciente e tranquila, sabendo que com o tempo tudo passará.

 

254. Dos momentos que vivi durante os votos perpétuos, é preferível não

falar.

Estou n’Ele e Ele está em mim. No momento em que o Rev.mo Bispo me

colocou o anel, Deus penetrou tudo o meu ser e como não sei expressá-lo,

deixo este momento em silêncio. Desde os votos perpétuos a minha relação

com Deus tornou-se tão íntima como nunca fora antes. Sinto que amo a

Deus e sinto também que Ele me ama. A minha alma, tendo experimentado

Deus, não saberia viver sem Ele. Para mim é mais agradável uma hora aos

pés do altar, passada na maior aridez de espírito, que cem anos de prazeres

no mundo.

Prefiro ser uma moça de recados no convento, do que uma rainha no

mundo.

 

255. Esconderei aos olhos das pessoas qualquer acção boa que faça, para

que só Deus seja a minha recompensa; e como uma pequena violeta

escondida entre a erva não fere o pé da pessoa que a pisa, mas ainda emana

perfume, [e] esquecendo-se completamente de si mesma, quer ser gentil

com a pessoa que a pisou. Embora para a natureza isto seja muito difícil, a

graça de Deus vem ajudar.

 

256. Agradeço-Te, oh Jesus, esta grande graça de me permitires

conhecer todo o abismo da minha miséria; eu sei que sou um abismo de

nulidade e se a Tua santa graça não me sustivesse, num só momento eu

volveria ao nada. Por isso, com cada batimento do coração Te agradeço, oh

Deus, a Tua grande Misericórdia para comigo.

 

257. Amanhã devo partir para Vilna. Hoje fui confessar-me com o Padre

Andrasz, este sacerdote que tem um profundo espírito de Deus e que me

abriu as asas para o voo para maiores alturas.

Tranquilizou-me em tudo e fez-me crer na Divina Providência: «Tenha

confiança e prossiga com coragem».

Depois desta confissão senti uma extraordinária força divina. O Padre

insistiu em que eu seja fiel à graça de Deus e disse: «Se continuar no

caminho da simplicidade e da obediência, não lhe acontecerá nada de mau.

Confie em Deus, está no bom caminho e em boas mãos. Está nas mãos de

Deus».

 

258. À noite fiquei mais tempo na capela. Falava com o Senhor de certa

alma. Animada pela sua bondade, disse: Jesus, deste-me este Padre que

compreendeu as minhas inspirações e tornas a tirar-mo. ¿ Que vou fazer em

Vilna? Não conheço ninguém, até o dialecto daquelas pessoas me é

estranho. E disse-me o Senhor: Não tenhas medo, não te deixarei só. A

minha alma submergiu-se em oração de agradecimento por todas as graças

que o Senhor me concedeu por intermédio do Padre Andrasz.

De súbito recordei aquela visão em que tinha visto um sacerdote entre o

confessionário e o altar, confiando em conhecê-lo algum dia e ficaram bem

claras as palavras que tinha escutado: Ele te ajudará a cumprir a Minha

vontade na Terra.

 

259. Hoje, 27 de [Maio de 1933] vou para Vilna. Ao sair, diante de casa,

lancei um olhar ao jardim e à casa; ao recordar o noviciado, de repente os

meus olhos encheram-se de lágrimas. Recordei todos os benefícios e as

graças que o Senhor me tinha concedido. Inesperadamente vi o Senhor,

junto a um canteiro, que me disse: Não chores, Eu estou sempre contigo.

A presença de Deus que me envolveu enquanto o Senhor Jesus estava a

falar, acompanhou-me durante tudo o tempo da viagem.

 

260. Tinha licença para visitar Czestochowa. Pela primeira vez vi a

Santíssima Virgem, quando às cinco da madrugada fui para assistir à

exposição da imagem. Estive a orar, sem interrupção, até as onze horas e

parecia-me que acabava de chegar. A Madre Superiora do lugar

mandou uma irmã chamar-me para tomar o pequeno almoço e porque

estava receosa que eu perdesse o comboio. A Virgem disse-me muitas

coisas. Ofereci-Lhe os meus votos perpétuos, sentia que era sua filha e Ela

minha Mãe. Não me recusou nada do que eu lhe pedi.

 

261. Hoje já estou em Vilna. Pequenas casinhas, dispersas, formam o

convento. Parecem um pouco estranhas, em comparação com os grandes

edifícios de Józefów. Há somente dezoito irmãs. A casa é pequena, mas a

harmonia nesta Comunidade é grande. Todas as irmãs me receberam muito

cordialmente, o que me deu muito ânimo antes de enfrentar as fadigas que

me esperavam. A Ir. Justina até tinha lavado o soalho por motivo da

minha chegada.

 

262. Quando fui à Bênção, Jesus iluminou-me sobre como me comportar

com certas pessoas. Com todas as minhas forças abracei-me ao Dulcíssimo

Coração de Jesus ao ver que exteriormente seria exposta a distracções

devido à tarefa que ia ter no jardim e pela qual tinha que manter contactos

com leigos.

 

263. Chegou a semana da confissão e com alegria vi aquele sacerdote

que tinha conhecido antes de vir para Vilna. Tinha-o conhecido numa visão.

Nesse momento, ouvi na alma estas palavras: Eis o Meu servo fiel, ele te

ajudará a cumprir a Minha vontade aqui na Terra. No entanto eu não

me abri logo a ele, como desejava o Senhor. E durante algum tempo lutei

com a graça. Em cada confissão a graça de Deus envolvia-me

misteriosamente, mas eu não lhe revelava a minha alma e pensava não me

confessar a este sacerdote. Depois deste propósito, uma inquietação terrível

apoderou-se da minha alma. Deus repreendeu-me energicamente. Logo que

revelei toda a minha alma a este sacerdote, Jesus derramou sobre a minha

alma tudo um mar de graças. Agora compreendo o que é a fidelidade a uma

simple graça e como ela atrai toda uma série de outras graças.

 

264. Oh Jesus, mantém-me a Teu lado, olha a minha debilidade que, por

mim mesma não avançarei nem um passo, por isso Tu, oh Jesus, tens que

estar continuamente comigo, como a mãe próxima do seu menino pequeno,

e ainda mais.

 

265. Chegaram os dias de trabalho, de luta e de sofrimentos. Tudo vai

com o seu ritmo de convento. Fica-se sempre noviça, tem que se aprender e

conhecer muitas coisas, porque embora a Regra seja a mesma, cada casa

tem os seus próprias costumes, por isso cada mudança é um pequeno

noviciado.

 

266. 5 VIII 1933, festa de Nossa Senhora da Misericórdia [124].

Hoje recebi uma grande e inestimável graça, puramente interior, pela

qual agradecerei a Deus nesta vida e pela eternidade….

 

267. Jesus disse-me que eu lhe agradaria mais meditando a sua dolorosa

Paixão, e através desta meditação muita luz se derramaria sobre a minha

alma. Quem quiser aprender a verdadeira humildade, medite a Paixão de

Jesus. Quando medito a Paixão de Jesus, aclaram-se-me muitas coisas que

antes não conseguia compreender. Eu quero parecer-me Contigo, oh Jesus,

Contigo crucificado, maltratado, humilhado. Oh Jesus, imprime na minha

alma e no meu coração a Tua humildade. Amo-Te, Jesus, com loucura. Te

[amo] aniquilado, como Te descreve o profeta, que pelos grandes

sofrimentos não conseguia ver em Ti o aspecto humano. Nesse estado amoTe, Jesus, com loucura. Deus Eterno e Imenso, ¿que fez de Ti o amor…?

 

268. 11 X 1933 – Quinta-feira. Procurei fazer a Hora Santa, mas

comecei com grande dificuldade. Alguma ansiedade começou a lacerar o

meu coração. A minha mente ficou ofuscada de maneira que não conseguia

entender as formas simples das preces. E assim passou uma hora de oração,

ou melhor, de luta. Decidi orar outra hora, mas os sofrimentos interiores

aumentaram. Uma grande aridez e um grande desgosto. Decidi orar durante

a terceira hora. Nessa terceira hora de prece que decidi fazer ajoelhada sem

nenhum apoio, o meu corpo começou a reclamar descanso. No entanto eu

não cedi nada. Abri os braços em cruz e sem pronunciar uma palavra, segui

assim com um acto de vontade. Um momento depois tirei o anel do dedo e

pedi a Jesus que olhasse esse anel, que é o símbolo da nossa união eterna e

ofereci ao Senhor Jesus os sentimentos do dia dos votos perpétuos. Um

momento depois senti que uma onda de amor começava a inundar o meu

coração. Um repentino recolhimento do espírito, o silêncio dos sentidos, a

presença de Deus penetra a alma. Só uma coisa, que estamos Jesus e eu. ViO, com a mesma aparência que [tinha] quando O vi no primeiro momento

depois dos votos perpétuos, quando o vi também para a Hora Santa. Jesus

apresentou-se diante de mim inesperadamente, despojado das vestes,

coberto de chagas em todo o corpo, com os olhos cheios de sangue e de

lágrimas, a cara desfigurada, coberta de escarros. De repente o Senhor

disse-me: A esposa deve assemelhar-se ao seu Esposo. Entendi estas

palavras em profundidade. Aqui não há lugar para nenhuma dúvida. A

minha semelhança a Jesus deve realizar-se através do sofrimento e da

humildade. Vê o que fez Comigo o amor pelas almas humanas, Minha

filha; no teu coração encontro tudo o que Me nega um número tão

grande de almas. O teu coração é um descanso para Mim, muitas vezes

guardo as graças grandes para o fim da prece.

 

269. Uma vez, enquanto fazia uma novena ao Espírito Santo pelo meu

confessor, o Senhor respondeu-me: Dei-to a conhecer antes que as

Superioras te enviassem para aqui; como tu te comportares com o

confessor, assim Eu Me comportarei contigo. Se esconderes dele,

embora seja a mais pequena das Minhas graças, Eu também Me

esconderei de ti e ficarás só. E eu fiz segundo o desejo de Deus e uma

profunda paz reinou na minha alma. Agora entendo quanto Deus defende os

confessores e como toma o seu partido.

 

270. Um conselho do Rev. Sopocko.

 

«Sem humildade não podemos agradar a Deus. Exercite-se no terceiro

grau da humildade, isto é, não somente não recorra a explicações e

justificações quando a repreenderem por alguma coisa, mas alegre-se pela

humilhação. Se as coisas de que me fala procedem verdadeiramente de

Deus, então prepare a sua alma para grandes sofrimentos. Encontrará

desaprovações e perseguições. Vão olhá-la como uma histérica, uma

extravagante, mas Deus não faltará com a sua graça. As verdadeiras obras

de Deus sempre enfrentam dificuldades e caracterizam-se pelo sofrimento.

Se Deus quer realizar alguma coisa tarde ou cedo o fará, realizá-lo-á apesar

das dificuldades e a irmã, entretanto, arme-se de grande paciência».

 

271. Quando o Rev. Sopocko foi à Terra Santa, confessava a

Comunidade o Padre jesuíta, Dabrowski. Durante uma confissão

perguntou-me se estava consciente da vida superior que tinha na minha

alma e que era de um grau sumamente elevado. Respondi que estava

consciente disso e do que sucedia no meu interior. A isto o Padre

respondeu-me: «Não lhe está permitido, irmã, destruí-lo na sua alma nem

[pode] modificar nada por si mesma. Nem em todas as almas é evidente

esta grande felicidade da vida superior; em si, irmã, é visível, porque é de

um grau altíssimo. Tenha cuidado, irmã, de não malgastar estas

grandíssimas graças de Deus, grandes pela sua … » [a frase interrompida].

 

272. Anteriormente, no entanto, este Padre tinha-me exposto a muitas

provações. E quando lhe disse que o Senhor queria de mim aquelas coisas, riu-se e fez-me ir confessar-me às oito da noite.

E quando fui às oito, um irmão estava já a fechar a igreja. E quando lhe

disse que informasse o Padre de que eu tinha chegado e que tinha sido o

Padre que me tinha dito para vir a essa hora, o bom fredezinho foi e avisou

o Padre, que o mandou dizer-me que a essa hora os Padres não

confessavam. E voltei a casa de mãos vazias e não me voltei a confessar

com ele. Mas fiz por ele uma hora de adoração e certas mortificações, para

implorar a luz de Deus, para que ele pudesse entender as almas.

Todavia, quando o Rev. Sopocko saía e ele o substituía, era obrigada a

confessar-me com ele. No entanto, se bem antes não queria reconhecê-las,

agora obriga-me a uma grande fidelidade a estas inspirações interiores. Às

vezes Deus permite que sucedam estas coisas, mas que seja adorado em

tudo. Mas é necessária, no entanto, uma grande graça para não vacilar.

 

273. Exercícios espirituais anuais 10 I 1934.

Oh meu Jesus, aproxima-se novamente o momento em que ficarei

Contigo a sós. Oh Jesus, rogo-Te com todo o meu coração, permite-me

conhecer o que não Te agrada em mim e ao mesmo tempo dá-me a conhecer

o que tenho que fazer para Te agradar mais. Não me negues esta graça e fica

comigo.

Eu sei que sem Ti, oh Senhor, os meus esforços valem pouco. Oh,

quanto me alegro da Tua grandeza, oh Senhor. Quanto mais Te conheço

tanto mais fervorosamente Te desejo e anseio.

 

274. Jesus concedeu-me o conhecimento de mim mesma. Nesta luz de

Deus vejo o meu defeito principal, que é a soberba; a sua característica é o

fechar-me em mim mesma, a falta de simplicidade nas relações com a

Madre Superiora.

 

A segunda iluminação, foi sobre o falar. Às vezes falo demais. Para um

assunto que poderia ser solucionado com duas ou três palavras, eu gasto

demasiado tempo. Mas Jesus deseja que esse tempo eu o empregue em

pequenas preces com indulgências pelas almas do Purgatório. E, disse-me o

Senhor, que cada palavra será pesada no Dia do Juizo.

 

A terceira iluminação, respeita à nossa Regra. Evito pouco as ocasiões

que levam a infringir a Regra e, especialmente, no que se refere ao silêncio.

Hei-de comportar-me como se a Regra tivesse sido escrita somente para

mim e não é da minha conta ver como se comportam os outros, contanto

que eu me comporte como Deus deseja.

 

Propósito. Qualquer coisa que Jesus deseje de mim e que se refira a

coisas exteriores, ir logo dizê-lo às Superioras; no relacionamento com a

Superiora procurarei ser aberta e sincera como uma criança.

 

275. Jesus ama as almas ocultas. Uma flor oculta é a que mais perfume

tem dentro de si.

Procurar um retiro para o Coração de Jesus no meu próprio interior. Nos

momentos difíceis e dolorosos entoo-Te, oh Criador, um hino da confiança,

porque é incomensurável o abismo da minha confiança em Ti, na Tua

Misericórdia.

 

276. Desde o momento em que comecei a amar o sofrimento, este

mesmo deixou de ser sofrimento para mim.

O sofrimento é o alimento contínuo da minha alma.

 

277. Não falarei com certa pessoa, porque sei que não agrada a Jesus e

ela não tira disso nenhum proveito.

 

278. Aos pés do Senhor, Oh Jesus escondido, Amor eterno, Vida nossa,

divino Insensato que Te esqueceste de Ti Mesmo e nos vês somente a nós.

Ainda antes de criar o Céu e a Terra, já nos levavas no Teu Coração. Oh

Amor, oh abismo da Tua humilhação, oh mistério de felicidade, ¿por que é

tão pequeno o número dos que Te conhecem? ¿Por que não encontras

reciprocidade? Oh Amor divino, ¿por que ocultas a Tua beleza? Oh

Inconcebível e Infinito, quanto mais Te conheço menos Te compreendo;

mas como não consigo entender-Te, mais compreendo a Tua grandeza. Não

invejo o fogo aos Serafins, porque no meu coração tenho depositado um

dom maior. Eles admiram-Te em êxtase, mas o Teu Sangue une-se ao meu.

 

O amor, é o Céu que nos está dado já aqui na Terra.

Oh, ¿por que Te escondes atrás da fé? O amor rasga o véu. Não há véu

diante dos olhos da minha alma, porque Tu Mesmo me atraíste desde a

eternidade ao seio de um amor misterioso. Oh indivisível Trindade, único

Deus, a Ti honra e glória por todos os séculos.

 

279. Deus deu-me a conhecer em que consiste o verdadeiro amor e

concedeu-me luz para saber como demonstrá-lo na prática. O verdadeiro

amor a Deus consiste em cumprir a vontade de Deus. Para demonstrar a

Deus o amor, na acção, é necessário que todas os nossos actos, ainda os

mais pequenos, provenham do amor a Deus. Disse-me o Senhor: Minha

Filha, acima de tudo agradas-Me pelo sofrimento. Nos teus sofrimentos

físicos, e também morais, Minha filha, não procures a compaixão das

criaturas. Desejo que a fragância dos teus sofrimentos seja pura, sem

nenhuma mistura. Exijo que te distancies não somente das criaturas,

mas também de ti mesma. Minha filha, quero deleitar-me com o amor

do teu coração: amor puro, virginal, intacto, sem nenhuma sombra.

Minha filha, quanto mais amares o sofrimento, tanto mais puro será o

teu amor por Mim.

 

280. Jesus manda-me celebrar a Festa da Divina Misericórdia no

primeiro domingo depois da Páscoa da Ressurreição, pelo recolhimento

interior e por mortificação exterior. Durante três horas usei um cinto [de

ferro], orando incessantemente pelos pecadores e para obter Misericórdia

para o mundo inteiro; e Jesus disse-me: Hoje o Meu olhar repousa com

complacência sobre esta casa.

 

 

281. Sinto muito bem que a minha missão não termina com a minha

morte, mas que começará. Oh almas que duvidam, descerrarei as cortinas

do Céu para vos convencer da bondade de Deus, para que já não firam mais

o Dulcíssimo Coração de Jesus com a desconfiança. Deus é Amor e

Misericórdia.

 

282. Uma vez o Senhor disse-me: O Meu Coração foi movido por uma

grande compaixão por ti, Minha filha queridíssima, quando te vi feita

em pedaços pela grande dor que sofrias ao chorar os teus pecados. Eu

vejo o teu amor tão puro e sincero que te dou a prioridade entre as

virgens, tu és a honra e a glória da Minha Paixão. Vejo cada

humilhação da tua alma e nada escapa à Minha atenção; elevo os

humildes até ao Meu trono, porque assim é a Minha vontade.

 

283. Oh Deus único na Santíssima Trindade, desejo amar-Te como até

agora nenhuma alma humana Te amou; e embora seja especialmente mísera

e pequenina, lancei muito profundamente a âncora da minha confiança no

abismo da Tua Misericórdia, oh meu Deus e meu Criador. Apesar da minha

grande miséria não tenho medo de nada, mas espero cantar eternamente o

hino da glória. Que não duvide nenhuma alma, embora seja a mais

miserável; enquanto viver cada uma pode ser uma grande santa, porque é

grande o poder da graça de Deus. De nós depende somente não nos

opormos à acção de Deus.

 

284. Oh Jesus, oxalá pudesse transformar-me numa neblina diante de Ti

para cobrir a Terra com o fim de que o Teu santo olhar não visse tão

terríveis ofensas. Oh Jesus, quando olho o mundo e a sua indiferença para

Contigo, sempre me vêm lágrimas aos olhos; mas quando vejo uma alma

consagrada que é tíbia, então o meu coração sangra.

 

285. 1934. Uma vez fui para a minha cela e estava tão cansada que antes

de começar a despir-me tive que descansar um momento, e quando já tinha

acabado de me despir, uma das irmãs pediu-me que lhe trouxesse um copo

de água quente. Apesar do cansaço, vesti-me rapidamente e trouxe-lhe a

água que desejava, embora da cozinha à cela seja um bom trecho de

caminho e o barro chegasse aos tornozelos. Ao regressar à minha cela vi um

cibório com o Santíssimo Sacramento e ouvi esta voz: Toma este cibório e

leva-o ao tabernáculo. Num primeiro momento vacilei, mas aproximei-me

e quando toquei o cibório, ouvi estas palavras: Com o mesmo amor com

que te aproximas de Mim, aproxima-te de cada uma das irmãs e tudo o

que a elas fizeres a Mim o fazes. Depois de um momento dei-me conta de

que estava só.

 

286. Uma vez, quando se fazia a adoração pela nossa Pátria, uma dor

estreitou a minha alma e comecei a orar do seguinte modo: Jesus

Misericordiosíssimo, peço-Te pela intercessão dos Teu Santos e,

especialmente, pela intercessão da Tua Amadíssima Mãe, que Te criou

desde a infância, rogo-Te que abençoes a minha Pátria. Jesus, não olhes

para os nossos pecados, mas para as lágrimas dos meninos pequenos, a

fome e o frio que sofrem. Jesus, em nome destes inocentes, concede-me a

graça que Te peço para a minha Pátria. Naquele instante vi o Senhor Jesus

com os olhos cheios de lágrimas e disse-me: Vês, Minha filha, quanta

compaixão tenho por eles; deves saber que são eles os que sustentam o

mundo.

 

287. Oh meu Jesus, quando observo a vida das almas, vejo que muitas

Te servem com certa desconfiança. E em certos momentos, especialmente

quando há ocasião para demonstrar o amor a Deus, então vejo como estas

almas fogem do campo de batalha. Então disse-me Jesus: ¿Tu também,

Minha filha, queres comportar-te assim? Respondi-Lhe: Oh não, meu

Jesus, não me retirarei do campo de batalha embora o suor da morte banhe a

minha fronte, não deixarei cair da mão a espada até que não descanse aos

pés da Santíssima Trindade. Para qualquer coisa que faço, não conto com as

minhas próprias forças, mas com a graça de Deus. Com a graça de Deus a

alma pode ultrapassar vitoriosamente as maiores dificuldades.

 

288. Uma vez, falei com Jesus muito tempo sobre as nossas alunas, e

animada pela sua bondade perguntei-Lhe se também entre as nossas alunas

havia almas que eram um consolo para o seu Coração. E o Senhor

respondeu-me que havia, mas o seu amor é fraco e, por isso, confio-as ao

teu especial cuidado; roga por elas.

 

Oh Deus Imenso, admiro a Tua bondade. Tu és o Senhor das hostes

celestiais e inclinas-Te até à mais miserável criatura. Oh, com que ardor

desejo amar-Te com cada batimento do meu coração.

 

Não me basta toda a superfície da Terra, o Céu é demasiado pequeno e o

espaço celeste é nada. Só Tu me bastas, Deus Eterno. Só Tu podes encher a

profundidade da minha alma.

 

289. Os momentos mais felizes para mim são aqueles em que fico a sós

com o meu Senhor. Naqueles momentos conheço a grandeza de Deus e a

minha própria miséria.

Uma vez Jesus disse-me: Não te admires se às vezes suspeitam de ti

injustamente. Eu, por amor a ti, fui o primeiro a beber esse cálice de

sofrimentos injustos.

 

290. Um dia, quando estava muito impressionada pela eternidade e seus

mistérios, a minha alma começou a ter medo e, depois de reflectir um

momento mais, começaram a atormentar-me várias dúvidas. Então Jesus

disse-me: Minha Filha, não tenhas medo da casa do teu Pai. Deixa aos

sábios deste mundo as investigações inúteis. Eu quero ver-te sempre

como uma criança pequena. Pergunta tudo com simplicidade ao teu

confessor e Eu te responderei pela sua boca.

 

291. Em certa ocasião conheci uma pessoa que premeditava cometer um

pecado grave. Pedi ao Senhor que me enviasse os piores tormentos, para

que aquela alma fosse preservada. De repente senti na cabeça a dor atroz da

coroa de espinhos. Isso durou bastante tempo, mas aquela pessoa

permaneceu na graça de Deus. Oh Jesus, que fácil é santificar-se; é

necessário, somente, um pouco de boa vontade. Se Jesus descobre na alma

esse pouquito de boa vontade, então apressa-Se a entregar-Se a essa alma e

nada pode detê-Lo, nem os erros, nem as quedas, nada em absoluto. Jesus

tem pressa em ajudar essa alma, e se a alma é fiel a esta graça de Deus,

então em muito pouco tempo pode chegar à máxima santidade a que uma

criatura pode chegar aqui na Terra. Deus é muito generoso e não recusa a

ninguém a sua graça, e até dá mais do que nós lhe pedimos. A fidelidade às

inspirações do Espírito Santo, eis o caminho mais curto.

 

292. Quando uma alma ama sinceramente a Deus, não deve recear nada

na sua vida espiritual. Que se submeta à influência da graça e que não

ponha limites à união com o Senhor.

 

293. Quando Jesus me fascinou com a sua beleza e me atraíu a si, então

vi o que não lhe agradava na minha alma; decidi eliminá-lo a tudo o custo e

com a ajuda da graça logo o consegui. Esta generosidade agradou ao Senhor

e desde aquele momento Deus começou a conceder-me maiores graças. Não

faço quaisquer congeminações na vida interior, não analiso por que

caminhos me leva o Espírito divino; basta-me saber que sou amada e que

amo. O amor puro permite-me conhecer a Deus e compreender muitos

mistérios. O confessor é para mim um oráculo, a sua palavra é sacrossanta

para mim, estou a referir-me ao meu director espiritual.

 

294. Uma vez o Senhor disse-me: Comporta-te como um mendigo que

quando recebe uma esmola grande não a recusa, mas antes a agradece

com mais cordialidade; e tu também, se te concedo maiores graças, não

as recuses dizendo que és indigna. Eu sei isso; mas alegra-te e goza, e

tira tantos tesouros do Meu Coração quantos puderes levar, já que

fazendo assim agradas-Me mais. Digo-te mais: não tomes estas graças

só para ti, mas também para o próximo; isto é, encoraja as almas com

as quais convives a confiar na Minha Misericórdia infinita. Oh quanto

amo as almas que confiam totalmente em Mim. Tudo farei por elas.

 

295. Nesse momento Jesus perguntou-me: Minha Filha, ¿Como vão os

teus exercícios espirituais? Respondi: Jesus, Tu bem sabes como vão. Sim,

eu sei, mas quero ouvi-lo [da] tua boca e [do] teu coração. Oh, meu

Mestre, quando Tu me guias tudo vai com facilidade e peço-Te, Senhor, não

Te afastes nunca de mim.

 

Disse-me Jesus: Sim, estarei sempre junto a ti se fores sempre uma

criança pequena e não tiveres medo de nada; como fui aqui o teu

princípio, assim serei também o teu fim. Não contes com nenhuma

criatura, nem sequer na coisa mais pequena, já que isso não Me

agrada. Eu quero estar só na tua alma. Fortificarei a tua alma e dar-teei luz, e conhecerás pela boca do Meu representante que estou em ti, e a

inquietação desvanecer-se-á como névoa aos raios do sol.

 

296. Oh Bem Supremo, desejo amar-Te como até agora ninguém Te

amou na Terra. Desejo adorar-Te com cada momento da minha vida e unir

estreitamente a minha vontade à Tua santa vontade. A minha vida não é

monótona nem cinzenta, mas variada como um jardim de flores

perfumadas, onde não sei que flor recolher primeiro; o lírio do sofrimento

ou a rosa do amor do próximo ou a violeta da humildade. Não vou

enumerar estes tesouros que cada dia tenho em abundância. É uma grande

coisa saber aproveitar o momento presente.

 

297. Oh Jesus, Luz Suprema, faz que eu me conheça e penetre com a

Tua luz a minha alma escura, e encha de Ti o abismo da minha alma, já que

somente Tu… [frase interrompida].

 

298. Oh meu Jesus, Vida, Caminho e Verdade, Rogo-Te, tem-me

próximo de Ti, como a mãe estreita ao peito o seu menino pequeno, já que

eu não sou somente uma criança incapaz, mas um cúmulo de miséria e de

nulidade.

 

299. Um segredo da alma. Vilna 1934

Uma vez, quando o confessor me mandou perguntar ao Senhor Jesus

pelo significado dos raios que estão nesta imagem, respondi que sim,

que perguntaria ao Senhor.

 

Durante a oração ouvi interiormente estas palavras: Os dois raios

significam o Sangue e a Água. O raio pálido simboliza a Água que

justifica as almas. O raio vermelho simboliza o Sangue que é a vida das

almas ……

 

Ambos os raios brotaram das entranhas mais profundas da Minha

Misericórdia, quando o Meu Coração agonizante foi aberto na cruz

pela lança.

 

Estes raios protegem as almas da indignação do Meu Pai. Bem

aventurado quem viva à sombra disso, porque não o alcançará a justa

mão de Deus. Desejo que o primeiro domingo depois da Páscoa da

Ressurreição seja a Festa da Misericórdia.

 

300. Pede ao Meu servo fiel que naquele dia fale ao mundo

inteiro desta grande Minha Misericórdia; que quem se aproximar esse

dia da Fonte da Vida, receberá o perdão total das culpas e dos castigos.

 

+ A humanidade não conseguirá a paz até que se dirija com

confiança à Minha Misericórdia.

+ Oh, quanto Me fere a desconfiança da alma. Essa alma reconhece

que sou santo e justo, e não crê que Eu sou a Misericórdia, não confia

na Minha bondade. Também os demónios admiram a Minha justiça,

mas não crêem na Minha bondade.

 

O Meu Coração alegra-se com este título de Misericórdia.

 

 

301. Proclama que a Misericórdia é o maior atributo de Deus. Todas

as obras das Minhas mãos são coroadas pela Misericórdia.

 

302. Oh Amor Eterno, desejo que Te conheçam todas as almas que

criaste. Desejaria fazer-me sacerdote, para falar incessantemente da Tua

Misericórdia com as almas pecadoras, afundadas no desespero. Desejaria

ser missionário e levar a luz da fé aos países selvagens para Te dar a

conhecer às almas e morrer no martírio, sacrificada por elas como Tu

morreste por mim e por elas. Oh Jesus, sei perfeitamente que posso ser

sacerdote, missionário e pregador, posso morrer no martírio aniquilando-me

totalmente e negando-me a mim mesma por Teu amor, Jesus, e pelas almas

imortais. Um grande amor sabe transformar as coisas pequenas em coisas

grandes e só ele dá valor às nossas acções; e quanto mais puro se tornar o

nosso amor, tanto menos o fogo do sofrimento nos terá de consumir, e o

sofrimento deixará de sê-lo para nós. Converter-se-á em delícia. Com a

graça de Deus recebi agora esta disposição do coração, de que nunca estou

tão feliz como quando sofro por Jesus, a Quem amo em cada batimento do

coração.

 

303. Uma vez, ao passar um grande sofrimento, deixei o meu trabalho

para correr a Jesus e pedir-Lhe que me ajudasse. Depois de uma curta prece

regressei ao trabalho cheia de entusiasmo e de alegria. Nesse momento uma

irmã disse-me: «Sem dúvida, a irmã tem hoje muitas consolações, dado que

está tão radiante. Deus seguramente não lhe dá nenhum sofrimento, mas

exclusivamente consolações».

 

Respondi: A irmã, está enganada, já que justamente quando sofro muito

a minha alegria é maior, enquanto que quando sofro pouco, também a

minha alegria é mais pequena. Mas aquela alma mostrou que não me

compreendia. Tratei de lhe explicar: Quando sofremos muito, temos uma

grande oportunidade de provar a Deus que o amamos, enquanto quando

sofremos pouco, temos pouca possibilidade de mostrar a Deus o nosso amor

e quando não sofremos nada, então o nosso amor não é grande nem puro.

Com a graça de Deus podemos chegar [ao ponto] em que o sofrimento se

transformará para nós em deleite, porque o amor sabe fazer tais coisas nas

almas puras.

 

304. Oh meu Jesus, minha única esperança, agradeço-Te este grande

livro que abriste diante dos olhos da minha alma. Este grande livro é a Tua

Paixão, que aceitaste por meu amor. Dele aprendi como amar a Deus e as

almas. Nele estão encerrados inesgotáveis tesouros para nós. Oh Jesus, que

poucas são as almas que Te entendem no Teu martírio de amor. Oh, que

grande é o fogo do amor puríssimo que arde no Teu Sacratíssimo Coração.

Feliz a alma que entendeu o amor do Coração de Jesus.

 

305. O meu maior desejo é que as almas Te conheçam, que saibam que

és a sua eterna felicidade, que creiam na Tua bondade e que louvem a Tua

infinita Misericórdia.

 

306. Pedi a Deus que me conceda a graça de que a minha natureza seja

forte e resistente às influências que às vezes querem distrair-me do espírito

da Regra e das mínimas normas, já que estas são como pequenas traças que

querem destruir em nós a vida interior e sem dúvida a destruiriam se a alma

fosse consciente destas pequenas transgressões e, apesar disso, as

desprezasse como coisas de pouco importância. Numa ordem religiosa eu

não vejo nada de pouca importância.

 

Não me importo se às vezes me exponho a desgostos e ironias, o

importante é que o meu espírito esteja em boa harmonia com o espírito das

Regras, dos votos e das normas religiosas.

 

Oh meu Jesus, deleite do meu coração, Tu conheces os meus desejos.

Quisera esconder-me aos olhos humanos, vivendo de modo como se não

vivesse. Quero viver pura como uma flor do campo; quero que o meu amor

esteja sempre dirigido para Ti, como a flor que se volta sempre para o sol.

Desejo que o perfume e a frescura da flor do meu coração estejam sempre

guardados exclusivamente para Ti.

 

Quero viver sob o Teu divino olhar, porque quero que só Tu me bastes.

Quando estou Contigo, oh Jesus, não tenho medo de nada, porque nada

pode fazer-me mal.

 

307. 1934. Uma vez, durante a Quaresma, e por cima da nossa capela e

da nossa casa, vi uma grande claridade e uma grande escuridão. Vi a luta

destas duas potências….

 

308. 1934. Quinta-feira Santa. Jesus disse-me: Desejo que te ofereças

como vítima pelos pecadores e, especialmente, pelas almas que

perderam a esperança na Divina Misericórdia.

Deus e as almas. – Acto de oferecimento.

 

309. Diante do Céu e da Terra, diante de todos os coros dos anjos, diante

da Santíssima Virgem Maria, diante de todas as Potências Celestes, declaro

a Deus, Uno e Trino, que, hoje, em união com Jesus Cristo, Redentor das

almas, me ofereço voluntariamente como vítima pela conversão dos

pecadores e especialmente pelas almas que perderam a esperança na Divina

Misericórdia. Este oferecimento consiste em que aceito [com] total

submissão à vontade de Deus, todos os sofrimentos, os temores, os medos

dos pecadores e em troca cedo-lhes todas as consolações que tenho na alma,

que provêm da minha comunhão com Deus. Numa palavra, ofereço-lhes

tudo: as Santas Missas, as Santas Comunhões, as penitências, as

mortificações, as preces. Não temo os golpes, os golpes da Justiça de Deus,

porque estou unida a Jesus. Oh meu Deus, com isto desejo desagravar-Te

pelas almas que não confiam na Tua bondade. Contra toda [a esperança]

confio no mar da Tua Misericórdia.

 

Oh meu Senhor e meu Deus, o meu destino… o meu destino para a

eternidade, não pronuncio este acto de oferecimento baseando-me nas

minhas próprias forças, mas no poder que deriva dos méritos de Jesus

Cristo. Este acto de oferecimento repeti-lo-ei todos os dias com a seguinte

prece que Tu Mesmo me ensinaste, oh Jesus: Oh Sangue e Água que

brotaste do Coração de Jesus, como Fonte de Misericórdia para nós, eu

confio em Vós..

 

Ir. M. Faustina do Santíssimo Sacramento

Quinta-feira Santa, durante a Santa Missa,

29 d., 3 m., 1934 ano (29 de Março de 1934).

 

310. Dou-te uma pequena parte na Redenção do género humano. Tu

és o alívio no momento da Minha Agonia.

 

311. Ao ter recebido licença do meu confessor; para fazer este acto

de oferecimento, em pouco tempo soube que este acto foi agradável a Deus,

já que comecei a sentir as suas consequências. Num momento a minha alma

tornou-se como uma pedra: árida, cheia de tormentos e de inquietação.

Várias blasfémias e imprecações retumbavam nos meus ouvidos. A

desconfiança e o desespero albergaram-se no meu coração. É esta a

condição dos miseráveis que eu tinha tomado sobre mim. Num primeiro

momento assustei-me muito com estes horrores, mas com a primeira

confissão fui tranquilizada.

 

312. Uma vez, quando fui confessar-me fora do convento, sucedeu que o

meu confessor estava a celebrar a Santa Missa. Um momento depois

vi sobre o altar o Menino Jesus que carinhosamente e com alegria estendia

as suas mãozinhas para ele, mas aquele sacerdote, um momento depois,

pegou naquela linda Criança, partiu-A e comeu-A viva. Num primeiro

momento senti aversão a este sacerdote por comportar-se assim com Jesus,

mas imediatamente fui esclarecida sobre este assunto e soube que o

sacerdote era muito agradável a Deus.

 

313. Uma vez, quando estava em [o atelier] daquele pintor que

pintava essa imagem, vi que não era tão bela como é Jesus. Afligi-me muito

por isso, no entanto ocultei-o profundamente no meu coração.

Quando saímos do atelier do pintor, a Madre Superiora ficou na

cidade para solucionar diferentes assuntos e eu regressei só a casa. Em

seguida fui à capela e chorei muitíssimo. ¿Quem Te pintará tão belo como

Tu és? Como resposta ouvi estas palavras: A grandeza desta imagem não

está nem na beleza da cor, nem do pincel, mas na Minha graça.

 

314. Em certa ocasião, quando pela tarde fui ao jardim, o Anjo da

Guarda disse-me: Roga pelos agonizantes. Comecei imediatamente a rezar

o terço pelos agonizantes juntamente com as jovenzinhas que ajudavam no

jardim. Terminado o terço rezámos várias invocações pelos agonizantes.

Terminadas as preces, as alunas puzeram-se a falar alegremente. Apesar do

ruído que faziam ouvi na alma estas palavras: «Roga por mim». Como não

conseguia compreender bem estas palavras, afastei-me uns passos das

alunas, pensando em quem seria a pessoa que me pedia para rezar? De

repente ouvi estas palavras: «Sou a Ir.» … Essa irmã estava em

Varsóvia, enquanto eu estava então em Vilna.

 

«Pede por mim até que te diga para parar. Estou a agonizar». Logo

comecei a rezar com fervor por ela ao Coração agonizante de Jesus e, sem

descansar, pedi assim desde as três até às cinco da tarde. Às cinco ouvi esta

palavra: «Obrigado». Entendi que já tinha falecido. No entanto, no dia

seguinte, durante a Santa Missa rezei com fervor pela sua alma. De tarde

chegou um bilhete a avisar que a irmã … tinha falecido a tal hora.

Verifiquei que era a mesma hora a que me disse reza por mim.

 

315. Oh Mãe de Deus, a Tua alma esteve submergida no mar de

amargura, olha a Tua filhinha e ensina-a a sofrer e a amar no sofrimento.

Fortalece a minha alma, para que a dor não a quebre. Mãe da graça, ensiname a viver em Deus.

 

316. Uma vez visitou-me a Virgem Santíssima. Estava triste com os

olhos cravados no chão; deu-me a entender que tinha alguma coisa para me

dizer mas, por outro lado, parecia que não mo queria dizer. Ao dar-me conta

disso, comecei a pedir à Virgem que mo dissesse e que olhasse para mim.

Num momento Maria olhou-me, sorrindo cordialmente e disse: Vais

padecer certos sofrimentos por causa de uma doença e dos médicos;

também padecerás muito por causa desta imagem, mas não tenhas medo de

nada. No dia seguinte adoeci e sofri muito, tal como mo tinha dito a

Virgem, mas a minha alma está preparada para os sofrimentos. O

sofrimento é o permanente companheiro da minha vida.

 

317. Oh meu Deus, minha única esperança, em Ti pus toda a minha

confiança e sei que não serei confundida.

 

318. Às vezes, depois da Santa Comunhão, sinto a presença de Deus de

modo especial, sensível. Sinto que Deus está no meu coração. E o facto de

sentir Deus na alma, não me impede em absoluto de cumprir as minhas

tarefas; mesmo quando realizo os mais importantes assuntos que requerem

atenção, não perco a presença de Deus na alma e fico estreitamente unida a

Ele. Com Ele vou ao trabalho, com Ele vou ao recreio, com Ele sofro, com

Ele gozo, vivo n’Ele e Ele em mim. Não estou nunca só, já que Ele é o meu

permanente companheiro. Sinto a sua presença em cada momento. A nossa

convivência é íntima pela união do sangue e da vida.

 

319. 9 VIII 1934. A adoração nocturna do quinta-feira. Fiz a

adoração desde as onze até as doze.

Fiz esta adoração pela conversão dos pecadores empedernidos e

especialmente pelos que perderam a esperança na Divina Misericórdia.

Meditava sobre o muito que Deus sofreu e no grande amor que nos

demonstrou, e nós não cremos que Deus nos ama tanto. Oh Jesus, ¿Quem O

compreenderá? ¡Que dor para o nosso Salvador! E ¿Como pode convencernos do seu amor se [a sua] morte não foi suficiente para nos convencer?

Convidei todo o Céu a unir-se a mim para compensar o Senhor da

ingratidão de algumas almas.

 

320. Jesus fez-me saber quanto lhe agrada a prece reparadora; disse-me:

A prece de uma alma humilde e amante desarma a ira do Meu Pai e

atrai um mar de bênçãos. Depois da adoração, a meio caminho para a

minha cela, fui cercada por uma grande matilha de enormes cães negros,

que saltavam e uivavam com intenção de me fazer em pedaços. Percebi que

não eram cães, mas demónios. Um deles disse com raiva: «Como esta noite

nos arrebataste muitas almas, nós te desgarraremos em pedaços». Respondi:

Se for essa a vontade de Deus Misericordiosíssimo, desfaçam-me em

pedaços, porque o mereci justamente, sendo a mais miserável entre os

pecadores e porque Deus é sempre santo, justo e infinitamente

misericordioso. A estas palavras, os demónios todos juntos responderam:

«Fujamos porque não está só, mas o Todopoderoso está com ela». E

desapareceram do caminho como pó, com ruído, enquanto eu tranquila,

terminado o Te Deum, voltei à cela contemplando a infinita e insondável

Misericórdia Divina.

12 VIII 1934

 

321. Um desmaio repentino, sofrimento quase letal. Não era a morte,

isto é, a passagem para a verdadeira vida, mas uma amostra dos sofrimentos

da mesma. A morte é espantosa apesar de nos dar a vida eterna. De repente

senti-me mal, com dificuldade em respirar, a escuridão diante dos olhos, a

sensação de enfraquecimento dos membros. Esta sofocação é atroz, um

instante desta sofocação já pareceria demasiadamente longo… A pesar da

confiança, vem também um estranho medo.

 

Desejei receber os últimos santos sacramentos. No entanto a Confissão

seria muito difícil apesar do desejo de confessar-me. Não sabemos o que

dizemos; começamos a dizer uma coisa, fica a outra por terminar.

Oh, que Deus preserve cada alma de deixar a confissão para a última

hora. Conheci o grande poder das palavras do sacerdote que descem sobre a

alma do doente. Quando perguntei ao director espiritual se estava preparada

para me apresentar diante de Deus e se podia estar tranquila, recebi a

resposta: «Pode estar completamente tranquila não somente agora, mas

depois de cada confissão semanal». Grande é a graça de Deus que

acompanha estas palavras do sacerdote. A alma sente fortaleza e coragem

para a luta.

 

322. Oh Congregação, minha mãe, ¡que doce é viver em ti, mas ainda

melhor é morrer!

 

323. Recebidos os últimos santos sacramentos, senti-me muito melhor.

Fiquei sozinha; isso durou uma meia hora e o ataque repetiu-se, mas já não

foi tão forte, porque o tratamento médico o impediu.

Uni os meus sofrimentos aos sofrimentos de Jesus e ofereci-os por mim

e pela conversão das almas que não confiam na bondade de Deus. De

repente a minha cela encheu-se de figuras negras, cheias de fúria e de ódio

por mim. Uma delas disse: «Maldita sejas tu e Aquele que está em ti,

porque já começas a atormentar-nos no Inferno». Quando pronunciei as

palavras: E o Verbo se fez carne e habitou entre nós, imediatamente essas

figuras desapareceram ruídosamente.

 

324. No dia seguinte sentia-me muito fraca, mas já não experimentava

qualquer dor. Depois da Santa Comunhão vi o Senhor Jesus com a

aparência que já tinha visto durante uma das adorações. O olhar do Senhor

trespassou a minha alma por completo e nem sequer o mais pequeno grão

de pó escapou à sua atenção. Eu disse a Jesus: Jesus, pensei que me ias

levar. E Jesus respondeu-me: Ainda não se cumpriu plenamente a Minha

vontade em ti; ficarás ainda na Terra, mas não por muito tempo.

Agrada-Me muito a tua confiança, mas o teu amor deve ser mais

ardente. O amor puro é que dá força à alma no momento da agonia.

Quando agonizava na cruz, não pensava em Mim, mas nos pobres

pecadores e pedia ao Pai por eles. Quero que também os teus últimos

momentos sejam completamente semelhantes aos Meus na cruz. Há um

só preço com o qual se compram as almas, e este é o sofrimento unido

ao Meu sofrimento na cruz. O amor puro compreende estas palavras, o

amor carnal não as compreenderá jamais.

 

325. Ano 1934. No dia da Assunção da Santíssima Virgem não fui à

Santa Missa. A médica não mo permitiu, mas rezei com fervor na

cela. Pouco depois vi a Virgem, que era de uma beleza indescritível e que

me disse: Minha filha, exijo de ti oração, oração e uma vez mais oração

pelo mundo, e especialmente pela tua Pátria. Durante nove dias recebe a

Santa Comunhão reparadora e une-te intimamente ao sacrifício da Santa

Missa. Durante estes nove dias estarás diante de Deus como uma oferenda.

Sempre e em toda a parte, continuamente, em cada lugar e em cada

momento, de dia e de noite, cada vez que acordares, reza interiormente. É

possível orar interiormente sem cessar.

 

326. Uma vez Jesus disse-me: O Meu olhar, nesta imagem, é igual ao

que Eu tinha na cruz.

 

327. Uma vez o confessor perguntou-me como devia ser colocada

a inscrição, já que não estava contida na imagem.

Respondi que rezaria e que daria a resposta na semana seguinte. Ao

afastar-me do confessionário, e passando próximo do Santíssimo

Sacramento, recebi o conhecimento interior de como devia ser a inscrição.

Jesus recordou-me o que me tinha dito a primeira vez, isto é, que estas três

palavras deviam ser postas em evidência. As palavras são estas: Jesus, eu

confio em Vós. Entendi que Jesus desejava que fosse colocada essa frase,

mas além destas palavras não dava outras ordens precisas.

Ofereço aos homens um vaso, com o qual devem vir à Fonte da

Misericórdia para recolher graças. Esse vaso é esta imagem com a

inscrição: Jesus, eu confio em Vós.

 

328. Oh, Amor puríssimo, reina totalmente no meu coração e ajuda-me a

cumprir a Tua santa vontade do modo mais fiel possível.

 

329. No final do retiro espiritual de três dias, dei-me conta que estava a

andar por um caminho acidentado, tropeçando a cada passo, e vi que detrás

de mim ia outra figura que me agarrava continuamente. Eu não estava

contente por isto e pedi a essa figura que se afastasse de mim, porque eu

queria andar só. No entanto, essa figura que eu não conseguia reconhecer,

não me deixou nem por um instante. Isso impacientou-me, voltei-me para

ela e afastei-a de mim. Naquele instante reconheci nessa figura a Madre

Superiora e no mesmo momento vi que não era a Madre Superiora,

mas o Senhor Jesus que me olhou profundamente e deu-me a conhecer o

muito que lhe devia quando, nas mais pequenas coisas, eu não tratava de

cumprir a vontade da Superiora - que é a Minha vontade. Pedi então

perdão ao Senhor e tomei essa advertência muito a peito.

 

330. Uma vez disse-me o confessor que rezasse por sua intenção, e

comecei uma novena à Santíssima Virgem. Essa novena consistia em rezar

nove vezes a Salve Regina. No final da novena vi a Virgem com o Menino

Jesus nos braços e vi também o meu confessor que estava ajoelhado a seus

pés e falava com Ela. Não entendia do que falava com a Virgem porque

estava ocupada em falar com o Menino Jesus que tinha descido dos braços

da Santíssima Mãe e se aproximou de mim. Não me cansava de admirar a

Sua beleza. Captei algumas palavras que a Virgem lhe dizia, embora não

ouvisse tudo. As palavras são estas: Eu não sou só a Rainha do Céu, mas

também a Mãe da Misericórdia e tua Mãe. Nesse momento estendeu a mão

direita com que segurava o manto e cobriu com ele o sacerdote. Nesse

momento a visão desapareceu.

 

331. Oh, que grande é a graça de ter um director espiritual. Progride-se

mais rapidamente nas virtudes, conhece-se mais claramente a vontade de

Deus, cumpre-se mais fielmente essa vontade, avança-se num caminho

certo e seguro. O director espiritual sabe evitar os escolhos contra as quais

[a alma] poderia esmagar-se. Deus concedeu-me esta graça bastante tarde,

mas muito aproveito dela, vendo como Deus consente nos desejos do

director espiritual. Menciono um só facto entre mil que me acontecem.

Como de costume, uma noite pedi ao Senhor Jesus que me indicasse os

pontos para a meditação do dia seguinte. Recebi a resposta: Medita

sobre o profeta Jonas e sobre a sua missão.

 

Agradeci ao Senhor, mas interiormente comecei a pensar: Que

meditação tão diferente de outras. No entanto, com toda a força da minha

alma procurava meditar, e naquele profeta descobri-me a mim própria, no

sentido de que eu também com frequência me desculpava diante de Deus

[dizendo] que outra pessoa poderia cumprir melhor a sua santa vontade,

sem entender que Deus tudo pode, que tanto mais evidencia todo o seu

poder, quanto mais inapto é o instrumento que utiliza. Deus iria esclarecer-

me. De tarde houve confissão da Comunidade.

 

Quando apresentei ao director espiritual o temor que me envolve por causa desta missão

para a qual Deus me utiliza, sendo eu como um instrumento sem préstimo,

o director espiritual respondeu-me que quer queiramos ou não, devemos

cumprir a vontade de Deus, e deu-me o exemplo do profeta Jonas.

Terminada a confissão, perguntava a mim própria como o confessor sabia

que Deus me tinha mandado meditar sobre Jonas, já que eu não lhe tinha

falado disso. Então ouvi estas palavras: O sacerdote, quando Me

substitui, não é ele quem actua, mas Eu através dele, os seus desejos são

os Meus desejos. Vejo como Jesus defende os seus representantes. Ele

Próprio intervém na sua actuação.

 

332. Quinta-feira. Ao começar a Hora Santa, queria concentrar-me na

agonia de Jesus no Horto das Oliveiras. De repente ouvi na alma a voz:

Medita os mistérios da Encarnação. E imediatamente, diante de mim

apareceu o Menino Jesus de uma beleza resplandecente. Disse-me quanto

agradava a Deus a simplicidade da alma. Embora a Minha grandeza seja

inconcebível, convivo somente com os pequeninos, exijo de ti a infância

espiritual.

 

333. Agora vejo claramente como Deus actua através do confessor e

como é fiel às suas promessas. Há duas semanas o confessor mandou-me

meditar sobre a infância espiritual. Ao princípio tive alguma dificuldade, no

entanto, o confessor sem fazer caso disso, mandou-me continuar com essa

meditação. Na prática esta infância deve manifestar-se assim: «A criança

não se ocupa do passado nem do futuro, mas aproveita o momento presente.

Desejo estimular esta infância espiritual em si, irmã, e dou a isso muita

importância».

 

334. Vejo como [o Senhor Jesus] atende os desejos do confessor, já que

neste período não se me apresenta como um Mestre, na plenitude da sua

força e humanidade, como adulto, mas aparece-me como um menino

pequeno. Este Deus infinito, inclina-se até mim sob a aparência de uma

criancinha pequena. Mas o olhar da minha alma não se detém na superfície.

 

Embora sob a aparência de um menininho pequeno, eu vejo em Ti o

Imortal, o Infinito Senhor dos senhores, adorado dia e noite pelos espíritos

puros, pelo qual ardem os corações dos Serafins com o fogo do amor

puríssimo. Oh Cristo, oh Jesus, desejo superá-los no amor por Ti. Peço-vos

perdão, oh espíritos puros, por ter ousado comparar-me convosco. Eu, um

abismo de miséria, a voragem do nada, mas Tu, oh Deus, que és um abismo

inconcebível de Misericórdia, absorves-me como o ardor do sol evapora

uma gota de orvalho. O Teu olhar amoroso enche todos os abismos. Sinto-me sumamente feliz pela grandeza de Deus. Ver a grandeza de Deus é, para

mim, suficiente para sentir-me feliz por toda a eternidade.

 

335. Um dia, ao ver Jesus debaixo da aparência de uma criancinha,

perguntei: Jesus, ¿Porque é que agora tratas comigo tomando o aspecto de

um menininho pequeno? Apesar disso, eu vejo em Ti o Deus Infinito, o

Criador e o meu Senhor. Jesus respondeu-me que até que eu aprendesse a

simplicidade e a humildade, trataria comigo como uma criancinha.

 

336. 1934. Durante a Santa Missa na qual Jesus estava exposto no

Santíssimo Sacramento, antes da Santa Comunhão vi dois raios que saíam

da Hóstia Santíssima, tal como estão pintados na imagem; um vermelho e

outro pálido. Refletiam-se sobre cada uma das irmãs e sobre as alunas, mas

não sobre todas de igual modo. Sobre algumas estavam apenas esboçados.

Era o dia em que terminávamos os exercícios espirituais das jovenzinhas.

 

337. 22 XI 1934 + Uma vez, o director espiritual mandou que me

observasse profundamente a mim própria, e me examinasse bem, para ver

se tinha algum apego a alguma coisa ou criatura ou a mim mesma, e se

tinha inclinação para falar um inútil falatório, já que tudo isso impedia o

Senhor Jesus de administrar livremente a minha alma. Deus é cioso dos

nossos corações e quer que o amemos exclusivamente a Ele.

 

338. Quando comecei a reflectir profundamente sobre mim própria e não

notei estar apegada a alguma coisa, mas, como em todas as minhas coisas,

também neste assunto tinha receio e não podia confiar em mim mesma.

Cansada deste minucioso exame, fui diante do Santíssimo Sacramento e

pedi a Jesus com toda a força da minha alma: Jesus, meu Esposo, Tesouro

do meu coração, Tu sabes que Te conheço somente a Ti e que não conheço

outro amor fora de Ti; mas, Jesus, se houver de me apegar a qualquer coisa

sem ser a Ti, peço-Te e suplico-Te, Jesus, pelo poder de Tua Misericórdia,

faz-me morrer imediatamente, porque prefiro morrer mil vezes, a ser-Te

infiel embora na mínima coisa.

 

339. Naquele momento, Jesus apresentou-Se subitamente diante de mim,

não sei de onde, resplandecente de uma beleza indescritível, com uma

túnica branca, com as mãos levantadas, e disse-me estas palavras: Minha

filha, o teu coração é o Meu descanso, é a Minha complacência. Nele

encontro tudo o que um grande número de almas Me nega. Di-lo ao

Meu representante. E repentinamente não vi mais nada mas, somente,

todo um mar de consolações desceu sobre a minha alma.

 

 

340. Agora compreendo que nada pode pôr-me barreiras no amor de Ti,

Jesus, nem o sofrimento, nem as contrariedades, nem o fogo, nem a espada,

nem a própria morte. Sinto-me mais forte que tudo isso. Nada pode

comparar-se com o amor. Vejo que as coisas mais pequenas, cumpridas por

uma alma que ama sinceramente a Deus, têm um valor inestimável aos

olhos dos Seus Santos.

 

341. 11 V 1934. Uma manhã, depois de ter aberto a porta para deixar

sair as nossas pessoas que traziam o pão, entrei um momento na

pequena capela, para fazer a Jesus uma visita de um minuto e para renovar

as intenções do dia. Oh Jesus, hoje todos os sofrimentos, as mortificações,

as preces, as ofereço pelo Santo Padre para que aprove esta Festa da

Misericórdia. Mas, Jesus, devo dizer-te ainda uma palavra. Estou muito

surpreendida por me mandares falar desta Festa da Misericórdia, pois esta

Festa, segundo me dizem, já existe. Então ¿para que hei de falar dela?

E Jesus respondeu-me: ¿Quem é que, de entre os homens, sabe dela?

Ninguém. E até aqueles que devem proclamá-la e ensinar as pessoas

sobre esta Misericórdia, muitas vezes eles mesmos não o sabem; por

isso quero que a imagem seja benzida solenemente no primeiro

domingo depois da Páscoa e que seja venerada publicamente, para que

cada alma o possa vir a saber.

 

Faz uma novena por intenção do Santo Padre, que deve constar de

trinta e três actos, isto é, repetir este mesmo número de vezes a oração

à Misericórdia que te ensinei.

 

342. O sofrimento é o maior tesouro que há na Terra, purifica a alma. No

sofrimento conhecemos quem é nosso verdadeiro amigo. O amor

verdadeiro mede-se com o termómetro da dor.

 

343. Oh Jesus, dou-Te graças pelas pequenas cruzes quotidianas, pelas

contrariedades com que tropeçam os meus propósitos, pelo peso da vida

comunitária, por uma má interpretação das [minhas] intenções, pelas

humilhações vindas dos outros, pelo rude comportamento para comigo,

pelas suspeitas injustas, pela saúde frágil e pelo esgotamento físico, pelo

repúdio da minha própria vontade, pelo aniquilamento de mim própria, pela

falta de reconhecimento em tudo, pelos impedimentos feitos a todos [os

meus] planos.

 

Dou-Te graças, Jesus, pelos sofrimentos interiores, pela aridez do

espírito, pelos medos, os temores e incertezas, pelas trevas e pela densa

escuridão interior, pelas tentações e distintas provações, pelas angústias que

são difíceis de exprimir e, especialmente, por aquelas em que ninguém nos

pode compreender, como pela hora da morte e pelo duro combate durante

ela e por toda a sua amargura.

 

Agradeço-Te, Jesus, que bebeste o cálice da amargura antes de,

suavizado, mo entregares. Aproximei os lábios a este cálice da Tua santa

vontade; faça-se em mim segundo a Tua vontade, que se faça de mim o que

a Tua sabedoria estabeleceu desde a eternidade. Desejo beber até à última

gotita o cálice do meu destino, sem desejar vir a conhecê-lo na sua

predestinação; na amargura a minha alegria, no desespero a minha

confiança. Em Ti, oh Senhor, tudo o que provém do Teu Coração paterno é

bom; não ponho as consolações acima das amarguras, nem as amarguras

por cima das consolações, mas agradeço-Te tudo, oh Jesus. O meu deleite

consiste em contemplar-Te, oh Deus Inconcebível. Nestas existências

misteriosas está a minha alma, é ali onde sinto que estou na minha casa.

Conheço bem a morada do meu Esposo. Sinto que em mim não há uma gota

de sangue que não arda de amor por Ti.

Oh Beleza Eterna, quem Te conhece uma vez não pode vir a amar

qualquer outra coisa. Sinto a voragem insondável da minha alma e que nada

a pode encher, senão o próprio Deus. Sinto que me afundo n’Ele como um

grãozito de areia num oceano sem fundo.

20 XII 1934

 

344. Uma noite, ao entrar na cela, vi o Senhor Jesus exposto na custódia,

como se estivesse a Céu aberto. Aos pés do Senhor Jesus vi o meu

confessor e detrás dele um grande número de eclesiásticos de alta

responsabilidade, com vestes que, salvo nesta visão, nunca tinha visto. E,

atrás deles, várias classes de eclesiásticos; mais além vi uma multidão tão

grande de pessoas que não pude abarcá-la com a vista. Vi, saindo da Hóstia,

os dois raios que estão na imagem, que se uniram estreitamente, mas não se

confundiram e passaram às mãos do meu confessor, e depois às mãos dos

eclesiásticos e das suas mãos passaram às mãos das pessoas, e voltaram à

Hóstia… e naquele momento vi-me a entrar na cela.

 

345. 22 XII 1934. Quando, durante a semana, tive oportunidade de me ir

confessar, cheguei quando o meu confessor estava a celebrar a Santa Missa.

Na terceira parte da Santa Missa vi o Menino Jesus, um pouco mais

pequeno que de costume e com a diferença de que tinha uma tunicazinha de

cor violeta, quando habitualmente era branca.

 

346. 24 XII 1934. A Vigília de Natal. De manhã, durante a Santa Missa,

senti a proximidade de Deus, o meu espírito submergiu-se em Deus

inconscientemente. De repente ouvi estas palavras: Tu és uma morada

agradável para Mim, em ti descansa o Meu Espírito.

Depois destas palavras senti o olhar do Senhor dirigido ao fundo do meu

coração e vendo a minha miséria humilhei-me em espírito e admirei a

grande Misericórdia de Deus, e que este Altíssimo Senhor se aproximava de

tal miséria.

 

Durante a Santa Comunhão a alegria inundou a minha alma, sentia que

estava unida estreitamente à Divindade; a sua omnipotência absorveu todo

o meu ser, durante o dia inteiro senti a proximidade de Deus de modo

especial e, embora as obrigações não me permitissem ir à capela nem por

um momento durante todo o dia, não houve nem um instante em que não

estivesse unida a Deus; sentia-O dentro de mim de uma maneira mais

sensível que qualquer outra vez. Invocava sem cessar a Santíssima Virgem,

procurando penetrar no seu Espírito. Pedia que me ensinasse o verdadeiro

amor a Deus. De repente ouvi estas palavras: Esta noite, durante a Santa

Missa. revelar-te-ei o segredo da minha felicidade.

 

A ceia foi antes das seis; apesar da alegria e do ruído exterior que há

quando se parte o “oplatek” [e durante] as felicitações mútuas, nem por um

instante fui privada da presença de Deus.

Depois da ceia apressámo-nos com o trabalho e às nove pude ir à

adoração na capela.

Tinha obtido licença de não me deitar, mas esperar a Missa da meianoite. Alegrei-me muitíssimo; desde as nove até às doze tinha tempo livre.

Das nove às dez fiz a adoração pelos meus pais e por toda a minha família;

das dez às onze fiz a adoração pelo meu director espiritual; primeiro

agradeci a Deus que se dignou dar-me aqui na Terra esta grande ajuda

visível, como me tinha prometido, e, por outro lado, pedi a Deus que lhe

desse luz para que pudesse conhecer a minha alma e guiar-me segundo os

desejos de Deus. Desde as onze até às doze pedi pela Santa Igreja e pelo

clero, pelos pecadores, pelas missões, pelas nossas casas e ofereci as

indulgências pelas almas do Purgatório.

 

347. Às doze, 25 XII 1934.

Missa do Galo. Quando começou a Santa Missa, o recolhimento interior

começou a apropriar-se de mim, a alegria inundou a minha alma. Durante o

ofertório vi Jesus no altar; [era] de uma beleza incomparável. Durante tudo

o tempo o Menininho olhou para todos, estendendo as mãozinhas. Durante

a elevação o Menino não olhava para a capela, mas para o Céu; depois da

elevação voltou a olhar-nos, mas por muito pouco tempo, porque, como

sempre, foi partido e comido pelo sacerdote. Mas a tunicazinha já era

branca. No dia seguinte vi o mesmo e, igualmente, no terceiro dia. É difícil

exprimir a alegria que tinha na alma. Esta visão repetiu-se durante três

Santas Missas, exactamente como nas primeiras.

 

348. Ano 1934.

Primeira quinta-feira depois do Natal. Esqueci-me completamente que

hoje é quinta-feira, por isso não fiz a adoração. Junto com outras [irmãs] fui

para o dormitório às nove. Estranhamente não conseguia dormir.

Parecia-me que não tinha cumprido qualquer coisa. Mentalmente passei

em revista as minhas obrigações e não pude recordar nada; isto durou até as

dez. Às dez vi o rosto martirizado de Jesus. Então Jesus disse-me estas

palavras: Esperei-te para compartilhar contigo o sofrimento, já que

¿quem pode compreender os Meus sofrimentos melhor do que a Minha

esposa? Pedi perdão a Jesus por ser tíbia.

 

Envergonhada, sem me atrever a olhar para Jesus mas com o coração

contrito, pedi que Jesus se dignasse dar-me um espinho da sua coroa. Jesus

respondeu que me daria essa graça, mas no dia seguinte, e imediatamente a

visão desapareceu.

 

349. De manhã, durante a meditação, senti um espinho doloroso na parte

esquerda da cabeça; a dor durou o dia inteiro, pensei continuamente como

Jesus tinha conseguido suportar a dor de tantos espinhos que há na coroa.

Uni os meus sofrimentos aos sofrimentos de Jesus e ofereci-os pelos

pecadores. Às quatro, ao vir à adoração, vi uma das nossas alunas

ofendendo terrivelmente a Deus com pensamentos impuros. Vi também a

pessoa pela qual pecava. O receio atravessou a minha alma e pedi a Deus,

pelas dores de Jesus, que se dignasse tirá-la [de] essa horrível miséria. Jesus

respondeu-me que lhe concederia a graça não por ela, mas pela minha

prece; então compreendi quanto deveríamos rogar pelos pecadores e

especialmente pelas nossas alunas.

 

350. A nossa vida é verdadeiramente apostólica, não consigo imaginar

uma religiosa que viva em nossas Casas, isto é na nossa Congregação, que

não tenha espírito apostólico; o zelo pela salvação das almas deveria arder

nos nossos corações.

 

351. Oh meu Deus, como é doce sofrer por Ti, sofrer nos recônditos

mais secretos do coração, muito ocultamente, arder como uma vítima sem

ser vista por ninguém, pura como o cristal, sem consolo algum nem

compaixão. O meu espírito arde em amor, não perco tempo em devaneios,

aproveito cada momento, já que isto está no meu poder; o passado não me

pertence, o futuro não [é] meu, o tempo presente trato de aproveitá-lo com

toda a alma.

 

352. 4 I 1935. Primeiro capítulo da Madre Borgia.

Durante este capítulo a Madre salientou a vida de fé e a fidelidade

nas coisas pequenas. A meio do capítulo ouvi estas palavras: Desejo que,

no momento actual, haja em vós mais fé; que grande alegria Me dá a

fidelidade da Minha esposa nas mais pequenas coisas! De repente olhei o

crucifixo e vi que Jesus tinha a cabeça virada para o refeitório e que os seus

lábios não se moviam.

 

353. Quando o disse à Madre Superiora, respondeu-me: «Veja, irmã,

como Jesus exige que as nossas vidas sejam de fé». Quando a Madre foi

para a capela e eu fiquei para limpar a sala logo ouvi estas palavras: Diz a

todas as irmãs que exijo que, no momento actual, vivam com espírito

de fé no que respeita às Superioras. Pedi ao confessor para me libertar

desta obrigação.

 

354. Quando estava falando com certa pessoa que devia pintar a

imagem, mas que por certas razões não a pintava, durante a conversa com

ela ouvi esta voz na alma: Desejo que seja mais obediente.

Compreendi que os esforços, embora sejam os maiores, mas não têm o

selo da obediência, não são agradáveis a Deus; estou a falar de uma alma

consagrada. Oh Deus, que fácil é conhecer a Tua vontade no convento. Nós,

almas consagradas, desde a manhã até a noite temos claramente indicada a

vontade de Deus, e nos momentos de incerteza temos as Superioras, através

das quais fala Deus.

 

355. 1934 – 1935. Véspera do Ano Novo. Recebi licença para não me

deitar, mas de orar na capela. Uma das irmãs pediu-me para oferecer por ela

uma hora de adoração. Respondi-Lhe que sim e pedi por ela uma hora

inteira. Durante a oração Deus deu-me a conhecer quanto esta pequena

alma lhe era agradável.

 

A segunda hora da adoração ofereci-a pela conversão dos pecadores e,

especialmente, estive a desagravar a Deus pelas ofensas no momento actual:

¡quanto Deus é ofendido!

 

A terceira hora ofereci-a por intenção da meu director espiritual, pedindo

com fervor luz para ele num assunto especial. Por fim deram as doze, a

última hora do ano; terminei-a em nome da Santíssima Trindade e também

em nome da Santíssima Trindade comecei a primeira hora do Ano Novo.

Pedi a cada Pessoa a bênção e com grande confiança olhei para o Ano

Novo, que seguramente não será isento de sofrimentos.

 

356. Oh Santa Hóstia, onde está encerrado o testamento da Divina

Misericórdia para nós e, especialmente para os pobres pecadores.

Oh Santa Hóstia, em [que] está oculto o Corpo e o Sangue do Senhor

Jesus como testemunho da infinita Misericórdia para nós e, especialmente,

para os pobres pecadores.

 

Oh Santa Hóstia, que contém a vida eterna [de] a infinita Misericórdia,

dispensada em abundância para nós e, especialmente, para os pobres

pecadores.

 

Oh Santa Hóstia, onde está a Misericórdia do Pai, do Filho e do Espírito

Santo para nós e, especialmente, para os pobres pecadores.

 

Oh Santa Hóstia, onde está encerrado o preço infinito da Misericórdia,

que compensará todas as nossas dívidas e, especialmente, as dos pobres

pecadores.

 

Oh Santa Hóstia, que encerra a fonte de água viva que brota da infinita

Misericórdia para nós e, especialmente, para os pobres pecadores.

 

Oh Santa Hóstia, na qual está encerrado o fogo do amor puríssimo que

arde no seio do Pai Eterno, como do abismo de infinita Misericórdia para

nós e, especialmente, para os pobres pecadores.

 

Oh Santa Hóstia, na qual está guardado o remédio para todas as nossas

debilidades, [remédio] que mana da infinita Misericórdia, como de uma

fonte para nós e, especialmente, para os pobres pecadores.

 

Oh Santa Hóstia, na qual está encerrado o vínculo de união entre Deus e

nós, graças à infinita Misericórdia para nós e, especialmente, para os pobres

pecadores.

 

Oh Santa Hóstia, onde estão encerrados todos os sentimentos do

dulcíssimo Coração de Jesus para nós e, especialmente, para os pobres

pecadores.

 

Oh Santa Hóstia, nossa única esperança em todos os sofrimentos e

contrariedades da vida.

 

Oh Santa Hóstia, nossa única esperança entre as trevas e as tormentas

interiores e exteriores.

 

Oh Santa Hóstia, nossa única esperança na vida e na hora da morte.

 

Oh Santa Hóstia, nossa única esperança entre os fracassos e o abismo do

desespero.

 

Oh Santa Hóstia, nossa única esperança entre as mentiras e as traições.

 

Oh Santa Hóstia, nossa única esperança entre as trevas e a impiedade

que submergem a Terra.

 

Oh Santa Hóstia, nossa única esperança entre a nostalgia e a dor, em que

ninguém nos compreende.

 

Oh Santa Hóstia, nossa única esperança entre as fadigas e a vida

cinzenta de todos os dias.

 

Oh Santa Hóstia, nossa única esperança quando as nossas ilusões e os

nossos esforços se esfumam.

 

Oh Santa Hóstia, nossa única esperança entre os golpes dos inimigos e

os esforços do Inferno.

 

Oh Santa Hóstia, confiarei em Ti quando as dificuldades excederem as

minhas forças e quando os meus esforços forem inúteis.

 

Oh Santa Hóstia, confiarei em Ti quando as tormentas agitarem o meu

coração e o espírito amedrontado comece a inclinar-se para o desespero.

 

Oh Santa Hóstia, confiarei em Ti quando o meu coração comece a

vacilar e o suor mortal nos banhe a fronte.

 

Oh Santa Hóstia, confiarei em Ti quando tudo se conjure contra mim e o

negro desespero comece a introduzir-se na minha alma.

 

Oh Santa Hóstia, confiarei em Ti quando a minha vista se apagar para

tudo o que é temporal e o meu espírito captar pela primeira vez os mundos

desconhecidos.

 

Oh Santa Hóstia, confiarei em Ti quando as minhas obrigações

estiveram acima das minhas forças e o fracasso me acompanhar

habitualmente.

 

Oh Santa Hóstia, confiarei em Ti quando o cumprimento das virtudes me

parecer difícil e a minha natureza se rebele.

 

Oh Santa Hóstia, confiarei em Ti quando os golpes dos inimigos forem

dirigidos contra mim.

 

Oh Santa Hóstia, confiarei em Ti quando as minhas fadigas e esforços

sejam erradamente julgados pela pessoas.

 

Oh Santa Hóstia, confiarei em Ti quando soar sobre mim o Teu Juízo e

naquele momento confiarei no mar da Tua Misericórdia.

 

357. Oh Santíssima Trindade, confio na Tua infinita Misericórdia. Deus

é meu Pai, então eu, sua filha, tenho todo o direito sobre o seu Coração

divino e quanto maiores forem as trevas, tanto mais plena deve ser a nossa

confiança.

 

358. Não compreendo como é possível não ter confiança em Aquele que

pode tudo; com Ele tudo e sem Ele nada. Ele, o Senhor, não permitirá nem

deixará que fiquem confundidos aqueles que puseram n’Ele toda a sua

confiança.

 

359. 10 I 1935. Quinta-feira. À noite, durante a Bênção,

começaram a atormentar-me pensamentos deste tipo: Tudo o que tenho dito

sobre esta grande Misericórdia de Deus ¿não será talvez uma mentira ou

uma ilusão?… e queria reflectir sobre isto durante um momento; de repente

ouvi uma voz interior clara e forte: Tudo o que dizes sobre a Minha

bondade é verdade e não há expressões suficientes para exaltar a

Minha bondade. Estas palavras foram tão cheias de força e tão claras que

daria a vida por elas, de que procediam do Senhor. Reconheço-as por uma

profunda serenidade que me acompanhou naqueles momentos e que ficou

depois. Esta serenidade dá-me uma fortaleza e um poder tão grandes que

nada são todas as dificuldades, as contrariedades, os sofrimentos e a própria

morte. Esta luz levantou o véu do mistério de que todos os esforços que

emprendo para que as almas conheçam a Misericórdia do Senhor, são muito

agradáveis a Deus e disso vem à minha alma tanta alegria que não sei se no

paraíso pode haver maior. ¡Oh, se as almas quisessem escutar ao menos um

pouco a voz da consciência e a voz, isto é, a inspiração do Espírito Santo!

Digo: ao menos um pouco, já que se uma vez nos deixarmos conduzir pelo

Espírito de Deus, Ele Mesmo completará o que nos faltar.

 

360. Ano Novo 1935

A Jesus agrada-Lhe participar nos mais pequenos detalhes da nossa vida

e, às vezes, cumpre os meus desejos secretos, aqueles que mais de uma vez

lhe oculto a Ele mesmo, embora saiba que para Ele não pode haver nada

secreto.

No dia do Ano Novo há entre nós o costume de tirar por sorte o patrono

especial para todo o ano. De manhã, durante a meditação, despertouse na minha alma um destes desejos secretos: que Jesus Eucarístico fosse o

meu patrono pessoal também neste ano, como anteriormente. No entanto,

ocultando ao meu Dilecto esse desejo, falei com Ele de tudo, excepto de

que desejava tê-lo como patrono. Ao vir para o refeitório, para tomar o

pequeno almoço, depois de fazer o sinal da cruz, começou o sorteio dos

patronos. Ao aproximar-me das estampas com os nomes dos patronos,

agarrei numa, sem reflectir, sem ler imediatamente; quis mortificar-me

alguns minutos.

 

De repente ouvi uma voz na alma: Sou teu patrono, lê. Naquele mesmo

momento olhei a inscrição e li: “Patrono para o ano 1935, a Santíssima

Eucaristia.” O meu coração estremeceu de alegria e afastei-me

discretamente do grupo das irmãs e fui diante do Santíssimo Sacramento, ao

menos por um breve instante, e ali desafoguei os sentimentos do meu

coração. No entanto, Jesus chamou-me docemente a atenção para que

estivesse naquele momento junto com as outras irmãs; fui imediatamente,

obedecendo à Regra.

 

361. Oh Santa Trindade, Único Deus, inconcebível na grandeza da

Misericórdia para as criaturas e especialmente para os pobres pecadores.

Revelaste o abismo da Tua Misericórdia inconcebível, impenetrável para

toda a mente humana ou angélica. A nossa nulidade e a nossa miséria

fundem-se na Tua grandeza. Oh Bondade infinita, ¿Quem pode adorar-Te

dignamente? ¿há alguma alma que entenda o teu amor? Oh Jesus, tais almas

existem, mas são poucas.

 

362. Um dia, durante a meditação matutina, ouvi esta voz: Eu Mesmo

sou o teu guia, fui, sou e serei; mas como Me pediste uma ajuda visível,

dei-ta. Tinha-o escolhido antes de que Me pedisses, porque assim o

requer a Minha causa. Hás de saber que as faltas que cometes contra

ele, ferem o Meu Coração; evita especialmente actuar a teu gosto, que

em cada coisa mais pequena haja um selo da obediência.

 

Com o coração humilhado e aniquilado pedi perdão ao Senhor Jesus por

aquelas faltas. Pedi perdão também ao director espiritual e decidi antes não

fazer nada que fazer muito e mal.

 

363. Oh Jesus bom, agradeço-Te por esta grande graça, isto é, de dar-me

a conhecer o que sou por mim mesma, miséria e pecado, nada mais. Por

mim mesma posso fazer uma coisa somente, isto é, ofender-Te, oh meu

Deus, porque a miséria por si mesma não pode fazer nada mais que ofenderTe, oh Bondade infinita.

 

364. Um dia pediram-me para rezar por certa alma. Decidi fazer

imediatamente uma novena à Misericórdia do Senhor e a essa novena

agreguei uma mortificação que consistia em levar em ambas as pernas uma

correntezinha durante a Santa Missa. Há três dias que me exercitava

nessa mortificação; quando fui confessar-me disse ao director espiritual que

tinha começado aquela mortificação com a suposta licença. Pensava que o

director espiritual não teria nada contra, no entanto ouvi algo contrário, isto

é, que não fizesse nada sem licença.

 

Oh meu Jesus, outra vez o arbítrio, mas

não me desanimam as minhas caídas, sei perfeitamente que sou a miséria.

Por causa da minha saúde não recebi a licença e o director espiritual ficou

surpreendido por ter decidido fazer maiores mortificações sem a sua

licença. Pedi-lhe perdão pelo meu comportamento arbitrário, ou melhor, por

me ter guiado por supostas licenças e pedi que mudasse [essas

mortificações] por outras. O director espiritual trocou-as por uma

mortificação interior que consistia em meditar durante a Santa Missa

¿Porque é que o Senhor Jesus se baptizou? Esta meditação não era para

mim nenhuma mortificação, mas houve nisso uma mortificação da vontade,

visto que eu não fiz o que me agradava, mas o que me tinha sido indicado, e

nisso consiste a mortificação interior.

 

365. Ao afastar-me do confessionário e começar a fazer a penitência,

ouvi estas palavras: Concedi a graça à alma, como Me tinhas pedido

para ela, mas não pela tua mortificação que tinhas escolhido tu mesma,

mas somente pelo acto de obediência total frente ao Meu representante

dei a graça a essa alma, pela qual intercedeste e mendigaste

Misericórdia. Hás de saber que quando aniquilas a tua própria

vontade, então a Minha vontade reina em ti.

 

366. Oh meu Jesus, tem paciência comigo. Estarei mais atenta no futuro;

não por mérito meu, mas pela Tua graça e Tua bondade que são tão grandes

para mim, uma miserável.

 

367. Em certa ocasião Jesus fez-me conhecer que quando lhe rogo por

alguma intenção que às vezes me recomendam, está sempre disposto a

conceder as suas graças, mas as almas nem sempre querem aceitá-las. O

Meu Coração está cheio de grande Misericórdia para as almas e

especialmente para os pobres pecadores. Oh, se pudessem compreender

que Eu sou para elas o melhor Pai, que do Meu Coração brotaram

para elas Sangue e Água como de uma fonte desbordante de

Misericórdia; para elas vivo no tabernáculo; como Rei de Misericórdia

desejo encher as almas de graças, mas não querem aceitá-las.

 

Pelo menos tu vem a Mim o maior número de vezes possível e toma estas

graças que elas não querem aceitar e com isto consolas o Meu Coração.

Oh, que grande é a indiferença das almas por tanta bondade, por

tantas provações de amor. O Meu Coração é recompensado somente

com ingratidão, com esquecimento por parte das almas que vivem no

mundo. Têm tempo para tudo, mas não têm tempo para vir até Mim

para receber as graças.

 

Então, dirijo-Me a vós, almas escolhidas, ¿será que não entendem o

amor do Meu Coração? E aqui também se tem decepcionado o Meu

Coração: não encontro o abandono total no Meu amor. Tantas reservas,

tanta desconfiança, tanta precaução. Para teu consolo digo-te que há

almas que vivem no mundo, que Me querem sinceramente, nos seus

corações permaneço com delícia, mas são poucas. Também nos

conventos há almas que enchem de alegria o Meu Coração. Nelas estão

gravados os Meus traços e por isso o Pai Celestial olha-as com uma

complacência especial. Elas serão a maravilha dos Anjos e dos homens.

O seu número é muito pequeno, elas constituem uma defesa ante a

Justiça do Pai Celestial e imploram a Misericórdia para o mundo. O

amor e o sacrifício destas almas sustêm a existência do mundo. O que

mais dolorosamente fere o Meu Coração é a infidelidade da alma eleita

por mim especialmente; essas infidelidades são como espadas que

trespassam o Meu Coração.

 

368. 29 I 1935. Na manhã desta terça-feira, durante a meditação vi

interiormente o Santo Padre celebrando a Santa Missa. Depois do Pater

Noster conversou com Jesus sobre o assunto que Jesus me tinha ordenado

dizer-lhe. Embora eu não o tenha dito pessoalmente ao Santo Padre, pois

esses assuntos são tratados por outra pessoa, no entanto eu sei, por

conhecimento interior, que neste momento o Santo Padre está a reflectir

sobre esta questão que em pouco tempo se cumprirá segundo o desejo de

Jesus.

 

369. Antes dos exercícios espirituais de oito dias fui ao meu director

espiritual e pedi-lhe algumas mortificações para o tempo dos exercícios,

mas não obtive licença para tudo o que tinha pedido, mas só para algumas

coisas. Recebi licença para uma hora de meditação sobre a Paixão do

Senhor Jesus e para certa humilhação. Mas estava um pouco descontente de

não ter recebido autorização para tudo o que tinha pedido. Quando

regressámos a casa, entrei um momento na capela; de repente ouvi na alma

uma voz: Uma hora de meditação sobre a Minha dolorosa Paixão tem

maior mérito que um ano inteiro de sangrentas flagelações; a

meditação sobre as Minhas dolorosas chagas é de grande proveito para

ti e a Mim dá-Me uma grande alegria. Estranha-Me que ainda não

tenhas renunciado completamente à tua própria vontade, mas muito

Me alegro porque essa alteração se vai realizar durante os exercícios

espirituais.

 

370. Nesse mesmo dia, enquanto estava na igreja esperando a confissão,

vi os mesmos raios que saíram da custódia e se estenderam por toda a

igreja. Isso durou tudo o tempo do ofício; depois da bênção [projectaramse] sobre ambos os lados e voltaram à custódia. Eram claros e transparentes

como o cristal. Pedi a Jesus que se dignasse incendiar o fogo do Seu amor

em todas as almas tíbias.

Sob estes raios há-de aquecer-se o coração, embora esteja frio como um

pedaço de gelo e, mesmo que seja duro como uma pedra, ficará em pó.

 

371. JMJ Vilna 4 II 1935

Exercícios espirituais de oito dias.

Oh Jesus, Rei de Misericórdia, eis de novo o momento em que estou

contigo a sós. Por isso Te suplico por todo o amor em que arde o Teu

Coração Divino, aniquila em mim completamente o amor próprio e em

troca incendeia o meu coração com o fogo do Teu amor puríssimo.

 

372. Ao anoitecer, terminada a palestra, ouvi estas palavras: Eu estou

contigo. Durante estes exercícios espirituais consolidarei a tua paz e o

teu ânimo, para que não desfaleçam as tuas forças para o cumprimento

dos Meus propósitos. Portanto, durante estes exercícios, apagarás

absolutamente a tua própria vontade e cumprir-se-á em ti toda a

Minha vontade. Hás de saber que isto te custará muito, por isso escreve

numa página em branco estas palavras: Desde hoje não existe em mim

vontade própria, e traça essa página com uma cruz. Noutra página

escreve estas palavras: Desde hoje cumpro a vontade de Deus em todo o

lado, sempre, em tudo. Não te assustes com nada, o amor te dará forças

e facilitará o seu cumprimento.

 

373. Na meditação fundamental sobre o fim, isto é, sobre a eleição do

Amor, a alma tem que amar, tem a necessidade de amar; a alma tem que

derramar o seu amor, mas não na lama, nem no vazio, mas em Deus.

Quanto me alegro a meditar isto, já que sinto claramente que no meu

coração está somente Ele, unicamente o próprio Jesus; e amo as criaturas

tanto quanto me ajudam a unir-me a Deus.

Amo todos os homens porque vejo neles a imagem de Deus.

 

374. JMJ Vilna 4 II 1935

Desde hoje não existe em mim vontade própria

No momento em que me ajoelhei para riscar a minha própria vontade,

como me tinha mandado o Senhor, ouvi na alma esta voz: Desde hoje não

tenhas medo do juízo de Deus, já que não serás julgada.

Vilna, 4 II 1935

Desde hoje cumpro a vontade de Deus em todo o lado, sempre, em tudo

[153].

JMJ

Vilna, 8 II 1935

 

375. Trabalho interior especial, isto é, exame de consciência. Sobre

negar-me a mim mesma e a minha própria vontade.

 

I. Negação da razão, isto é, submetê-la à razão daqueles que, aqui na

Terra, para mim substituem Deus

 

II. Negação da vontade, isto é, cumprir a vontade de Deus que se me

revela através da vontade daqueles que aqui substituem Deus para mim, e

que está indicada nas Regras da nossa Congregação.

 

III. Negação do juízo, isto é, aceitar imediatamente sem pensar, sem

analisar, sem argumentar, qualquer ordem que recebo daqueles que para

mim substituem Deus.

 

IV. Negação da língua. Não lhe darei a mais pequena liberdade; num só

caso a darei totalmente, em proclamar a glória de Deus. Sempre que recebo

a Santa Comunhão, peço que Jesus se digne reforçar e purificar a minha

língua, para que eu não fira o próximo com ela. Por essa razão terei o maior

respeito pela Regra que fala do silêncio.

 

376. Oh meu Jesus, tenho confiança em que a Tua graça me ajude a

cumprir estes propósitos. Apesar de que os pontos mencionados acima estão

incluídos no voto de obediência, desejo exercitar-me nisso de modo mais

especial, já que é a essência da vida consagrada. Oh Jesus Misericordioso,

rogo-Te fervorosamente, ilumina a minha mente para que possa conhecerTe melhor a Ti que és o Ser Infinito e para que possa conhecer-me melhor a

mim, que não sou mais que o nada.

 

377. Sobre a confissão. Da confissão deveríamos obter dois benefícios:

1. confessamo-nos para ser curados;

2. para ser educados; as nossas almas

necessitam de uma contínua educação, como os meninos pequenos.

Oh meu Jesus, entendo profundamente estas palavras e sei por

experiência que uma alma com as suas próprias forças não chegará longe,

cansar-se-á muito sem fazer nada para a glória de Deus; desvia-se

constantemente porque a nossa mente é escura e não sabe distinguir os seus

próprios motivos. Darei uma atenção especial a duas coisas: primeiro,

escolherei para a confissão o que mais me humilha, embora seja algo muito

pequeno, mas que me custa e por isso o confessarei; segundo, exercitar-meei na contrição; não somente no momento da confissão, mas em cada exame

de consciência suscitarei em mim a contrição perfeita e, especialmente,

antes de ir descansar. Uma palavras mais: a alma que deseja sinceramente

progredir na perfeição deve seguir estritamente os conselhos do director

espiritual. Tanta santidade quanta dependência.

 

378. Uma vez, enquanto falava com o director da minha alma, num

relâmpago mais veloz que o de um raio, vi interiormente a sua alma em

grande sofrimento, em tal tormento que são poucas as almas às quais Deus

prova com este fogo. Este sofrimento deve-se a esta Obra. Chegará um

momento em que esta Obra que Deus recomenda tanto, parecerá ser

completamente destruída, e de repente Deus intervirá com grande força, o

que dará o testemunho da veracidade. Ela [a Obra] será um novo esplendor

para a Igreja, apesar de estar nela desde há muito tempo. Ninguém pode

negar que Deus é infinitamente misericordioso; Ele deseja que todos o

saibam; antes de se revelar como Juiz, deseja que as almas o conheçam

como Rei da Misericórdia. Quando vier este triunfo, nós estaremos já na

nova vida, na qual não há sofrimentos; mas antes a tua alma será saturada

de amargura ao ver a destruição dos teus esforços.

 

No entanto esta destruição é só aparente, já que Deus não muda o que estabeleceu uma vez.

Mais ainda, a destruição será aparente, o sofrimento será real.

¿Quando sucederá isto? não sei; ¿Quanto tempo durará? Não sei.

Mas Deus prometeu uma grande graça, especialmente a ti e a todos

que proclamem esta grande Minha Misericórdia. Eu Próprio os

defenderei na hora da morte como Minha glória embora os pecados das

almas sejam negros como a noite; quando um pecador se dirige à

Minha Misericórdia, rende-Me a maior glória e é uma honra para a

Minha Paixão. Quando uma alma exalta a Minha bondade, então

Satanás treme e foge mesmo para o fundo do Inferno.

 

379. Durante uma adoração Jesus prometeu-me: Com as almas que

recorram a Minha Misericórdia e com as almas que glorifiquem e

proclamem a Minha grande Misericórdia aos outros, na hora da morte

Me comportarei segundo a Minha infinita Misericórdia.

O Meu Coração sofre, continuava Jesus, por causa de que nem as

almas escolhidas entendem o grande que é a Minha Misericórdia; na

sua relação [comigo] de certo modo há desconfiança. Oh, quanto isto

fere o meu Coração. Recordem a Minha Paixão, e se não acreditais nas

Minhas palavras, acreditai ao menos nas Minhas chagas.

 

380. Não faço nenhum movimento, nenhum gesto a meu gosto, porque

estou vinculada à graça; sempre estou atenta ao que é mais agradável a

Jesus.

 

381. Durante uma meditação sobre a obediência ouvi estas palavras:

Nesta meditação, o sacerdote fala de modo especial para ti, hás de

saber que Eu Me sirvo da sua boca. Procurei escutar com a maior atenção

e tudo se aplicava ao meu coração, tal como em cada meditação. Quando o

sacerdote afirmou que a alma obediente se enche da força de Deus… Sim,

quando és obediente, tiro-te a tua debilidade e dou-te a Minha

fortaleza.

 

Surpreende-Me muito que as almas não queiram fazer esta

troca Comigo. Disse ao Senhor: Jesus, ilumina Tu a minha alma, já que de

contrário também eu entenderei muito pouco destas palavras.

 

382. Sei que não vivo para mim, mas para um grande número de almas.

Sei que as graças a mim concedidas não são somente para mim, mas para as

almas. Oh Jesus, o abismo da Tua Misericórdia derramou-se na minha alma

que é o abismo da própria miséria. Agradeço-Te, Jesus, pelas graças e os

pedacitos de cruz que me dás para cada momento da vida.

 

383. No início dos exercícios espirituais vi o Senhor Jesus cravado na

cruz no teto da capela, olhando com grande amor as irmãs, mas não todas.

Havia três irmãs às quais dirigiu um olhar severo. Não sei, não sei porque

razão, sei somente que é uma coisa terrível ver tal olhar, que é um olhar de

Juiz severo. Aquele olhar não era dirigido para mim, no entanto paralizeime de medo; quando o escrevo, tremo toda. Não me atrevi a dizer a Jesus

uma só palavra, as forças físicas abandonaram-me e pensei que não

resistiria até ao fim da palestra. No dia seguinte voltei a ver o mesmo que

da primeira vez e atrevi-me a dizer estas palavras: Oh Jesus, que grande é a

Tua Misericórdia.

 

No terceiro dia repetiu-se outra vez a mesmo olhar sobre todas as irmãs

com grande benevolência, excepto essas três irmãs. Então, enchi-me de

atrevimento que provinha do amor para com o próximo e disse ao Senhor:

Tu és a própria Misericórdia, como Tu Mesmo me tens dito, assim rogo-Te

pelo poder da Tua Misericórdia, lança o Teu olhar bondoso também para

estas três irmãs e se isto não for segundo a Tua Sabedoria, peço-Te para

fazeres uma troca: Que o Teu olhar bondoso para a minha alma seja para

elas e que o Teu olhar severo para as suas almas seja para mim. De súbito

Jesus disse-me estas palavras: Minha filha, pelo teu amor sincero e

generoso concedo-lhes muitas graças, embora elas não Mas peçam, mas

pela promessa que te fiz. E, naquele momento, envolveu também essas

três irmãs com um olhar misericordioso. O meu coração palpitou de grande

gozo ao ver a bondade de Deus.

 

 

384. Enquanto estive na adoração entre as 9 e as 10, ficaram também

mais quatro irmãs. Ao aproximar-me do altar e começar a meditar a Paixão

do Senhor Jesus, uma terrível dor inundou a minha alma, por causa da

ingratidão de tão grande número de almas que vivem no mundo, mas doíame especialmente a ingratidão das almas escolhidas especialmente por

Deus. Não se pode fazer ideia nem sequer de compará-la. Ao ver esta mais

negra ingratidão senti como se o coração se me partisse, abandonaram-me

completamente as forças físicas e caí com a cara no chão sem reprimir um

pranto imparável. Cada vez que recordava a grande Misericórdia de Deus e

a ingratidão das almas, a dor trespassava o meu coração e entendi quanto

isso feria o Coração dulcíssimo de Jesus. Com um coração ardente renovei

o meu acto de oferecimento pelos pecadores.

 

385. Com alegria e ânsia aproximei os lábios da amargura do cálice que

tomo da Santa Missa todos os dias. A pequena porção que Jesus me

destinou para cada momento, a qual não cederei a ninguém.

Consolarei incessantemente o dulcíssimo Coração Eucarístico, tocarei

cânticos de agradecimento nas cordas do meu coração, o sofrimento é o tom

mais harmonioso. Estarei muito atenta para pressentir ¿como posso alegrar

o Teu Coração?

 

386. Sinto que Deus me permitirá levantar o véu para que a Terra não

duvide da Sua bondade. Deus não está sujeito a eclipses nem a mudanças; é,

pela eternidade, Um e [sempre] Ele Mesmo; nada pode opor-se à Sua

vontade. Sinto em mim uma força sobre-humana, sinto coragem e fortaleza

devido à graça que vive em mim. Compreendo as almas que sofrem contra

toda a esperança, porque experimentei em mim mesma esse fogo. No

entanto Deus não dá [sofrimentos] por cima das nossas forças. Muitas vezes

vivi com esperança contra [toda] a esperança, e levei a minha esperança até

à total confiança em Deus. Que se faça comigo o que foi estabelecido desde

a eternidade.

 

387. Seria muito impróprio que uma irmã religiosa procurasse alívio no

sofrimento.

 

388. Veja-se o que a graça e a meditação fizeram do maior criminoso.

Esse moribundo tem um grande amor. “Lembra-te de mim quando estiveres

no Paraíso.” O arrependimento sincero transforma imediatamente uma

alma. A vida espiritual deve ser levada a sério e com sinceridade.

 

389. O amor deve ser recíproco. Como o Senhor Jesus bebeu o fel por

mim, então eu, sua esposa, para dar prova do meu amor por Ele, aceitarei

toda a amargura.

 

390. Quem sabe perdoar, prepare-se para muitas graças da parte de Deus.

Sempre que olhar a cruz, perdoarei sinceramente.

 

391. A união com as almas recebemo-la com o santo baptismo. A morte

reforça o amor. Devo ser sempre uma ajuda para os outros. Se sou uma boa

religiosa, serei útil não somente à Congregação mas também à [minha]

Pátria.

 

392. Deus concede as graças de duas maneiras: através das inspirações e

das iluminações. Se pedirmos uma graça, Deus dá-la-á, mas devemos

querer aceitá-la; para a aceitar é necessária a renúncia a si próprio.

O amor não consiste em palavras nem em sentimentos, mas na acção. É

um acto da vontade, é um dom, isto é, um oferecimento; a razão, a vontade,

o coração - três faculdades que devemos exercitar durante a oração.

Ressucitarei em Jesus, mas primeiro tenho que viver n’Ele. Se não me

separo da cruz, então há de manifestar-se em mim o Evangelho. Todas as

minhas incapacidades ultrapassadas por Jesus, mediante a incessante acção

da sua graça. A Santíssima Trindade comunica-me abundantemente a sua

vida, pelo dom do Espírito Santo. As Três pessoas divinas vivem em mim.

Quando Deus ama, [ama] com todo o seu Ser, com todo o poder da Sua

Essência. Se Deus me amou assim, ¿Como [devo corresponder] a isto, eu,

Sua esposa?

 

393. Durante uma palestra Jesus disse-me: Tu és a uva doce num

pequeno cacho escolhido; desejo que o sumo que circula em ti se

transmita a outras almas.

 

394. Durante a renovação vi o Senhor Jesus ao lado da epístola,

com uma túnica branca e um cinto de ouro, e na mão tinha uma espada

terrível. Isto durou até ao momento em que as irmãs começaran a renovar

os votos. Subitamente vi uma claridade inconcebível, diante dessa claridade

vi uma núvem branca em forma de balança. Naquele momento o Senhor

Jesus aproximou-se e colocou a espada sobre um dos pratos e este, com

todo aquele peso, baixou até ao chão e pouco faltou para que o tocasse

completamente. Nesse momento as irmãs acabaram de renovar os votos. De

repente vi Anjos que tiravam algo de cada uma das irmãs, colocando-o num

recipiente de ouro, em forma como de um incensário. Quando terminaram a

recolha de todas as irmãs e colocaram o recipiente no segundo prato, este

pesou mais do que o primeiro, no qual tinha sido posta a espada. Naquele

momento, do incensário saíu uma chama que se elevou até à claridade.

Então ouvi uma voz vinda dessa luz: Guardai a espada no seu lugar, a

oferenda é de maior peso. Naquele momento Jesus deu-nos a todas uma

bênção e tudo o que eu vi desapareceu. As irmãs começaram a receber a

Santa Comunhão; a minha alma foi inundada de um gozo tão grande que

não consigo descrevê-lo.

 

395. 15 II 1935. Viagem por alguns dias à casa de família para ver a

minha mãe moribunda.

Ao saber que a minha mãe estava gravemente doente e já próxima da

morte, e que pedia a minha presença porque desejava ver-me uma vez mais

antes de morrer, naquele momento despertaram-se todos os mais íntimos

sentimentos do meu coração. Como uma criança que ama sinceramente a

sua mãe, desejava fervorosamente cumprir o seu desejo, mas deixei a Deus

a decisão e abandonei-me plenamente à Sua vontade; sem me importar com

a dor do meu coração, seguia a vontade de Deus. Na manhã do dia do meu

onomástico, 15 de Fevereiro, a Madre Superiora entregou-me outra carta da

minha família e deu-me licença para ir a casa, para cumprir o desejo e o

pedido da minha mãe, que estava a morrer. Comecei logo a preparar-me

para a viagem e já ao anoitecer saí de Vilna. Toda a noite a ofereci pela

minha mãe, tão gravemente doente, para que Deus lhe concedesse a graça

de que os sofrimentos que estava a passar em nada perdessem os seus

méritos.

 

396. Durante a viagem tive uma companhia muito agradável, já que no

mesmo compartimento viajavam algumas senhoras pertencentes [a uma

associação religiosa mariana]; senti que uma delas sofria muito e que na sua

alma se travava uma luta encarniçada. Comecei a rezar mentalmente por

ela. Às onze as outras senhoras passaram ao outro compartimento para

conversar, enquanto nós ficámos sós. Sentia que a minha prece tinha

provocado nela uma luta ainda maior. Eu não a consolava mas rezava ainda

com mais fervor. Por fim, essa alma dirigiu-se a mim e pediu-me que lhe

dissesse se ela tinha a obrigação de cumprir certa promessa feita a Deus.

Naquele momento conheci dentro de mim que promessa era e respondi-lhe:

A Senhora tem o absoluto dever de cumprir essa promessa, porque de

contrário será infeliz durante toda a sua vida. Este pensamento não a

deixará em paz. Surpreendida com esta resposta abriu diante de mim toda a

sua alma.

 

Era uma professora que, antes do seu exame, fez a Deus a promessa de

que, se passasse, se dedicaria ao serviço de Deus, isto é, entraria num

convento. Mas disse: «Depois dos exames terem corrido da melhor forma,

deixei-me levar pelo torvelinho do mundo e não quis entrar no convento;

mas a consciência não me deixa em paz, e apesar das distracções sinto-me

sempre insatisfeita».

 

Depois de uma longa conversa essa pessoa foi completamente mudada e

disse que imediatamente tomaria as necessárias providências para ser

recebida num convento. Pediu-me que rezasse por ela; senti que Deus não

lhe faltaria com as Suas graças.

397. De manhã cheguei a Varsóvia e, às 8 da noite, já estava em casa. É

difícil descrever a alegria dos meus pais e de toda a família. A minha mãe

melhorou um pouco, mas o médico não dava nenhuma esperança para o seu

completo restabelecimento. Depois de nos cumprimentar-nos, ajoelhámonos todos para agradecer a Deus a graça de nos podermos ver todos uma

vez mais em vida.

 

398. Ao ver como rezava o meu pai envergonhei-me muito porque eu,

depois de tantos anos no convento, não sabia rezar com tanta sinceridade e

tanto fervor. Não deixo de agradecer a Deus pelos pais que tenho.

 

399. Oh, como mudou tudo nestes 10 anos, tudo é desconhecido: o

jardim era tão pequeno e agora é irreconhecível, os meus irmãos e as

minhas irmãs eram ainda pequenos e agora não os posso reconhecer, todos

grandes, e surpreendi-me de não os ter encontrado tal como eram quando

nos tinhamos separado.

 

400. Stassimo acompanhava-me à igreja todos os dias. Sentia que aquela

querida alma era muito agradável a Deus. No último dia, quando já não

havia ninguém na igreja, fui com ele diante do Santíssimo Sacramento e

rezámos juntos o Te Deum. Depois de um instante de silêncio ofereci esta

querida alma ao dulcíssimo Coração de Jesus. ¡Quanto pude rezar nesta

igreja! Recordei todas as graças que neste lugar tinha recebido e que

naquele tempo não compreendia e muitas vezes abusava delas; e

surpreendi-me de como tinha podido ser tão cega. Enquanto recordava e

lamentava a minha cegueira, de súbito vi o Senhor Jesus resplandecente de

uma beleza indizível que me disse com benevolência: Oh Minha eleita,

dar-te-ei graças ainda maiores para que sejas testemunha da Minha

infinita Misericórdia por toda a eternidade.

 

401. Aqueles dias em casa passaram com muita companhia porque todos

queriam ver-me e dizer-me algumas palavras. Muitas vezes contei até 25

pessoas. Interessavam-lhes as minhas descrições sobre a vida dos santos.

Imaginava que a nossa casa era uma verdadeira casa de Deus, porque cada

noite se falava só de Deus. Quando, cansada de relatar, e desejosa de

solidão e de silêncio, me afastei de noite para o jardim, para poder falar

com Deus a sós, nem sequer consegui isto, já que vieram imediatamente os

meus irmãos e as minhas irmãs e me levaram para casa e tive que

prosseguir falando, todos os olhos cravados em mim. Mas consegui

encontrar o modo de tomar alento, pedindo aos meus irmãos que cantassem

para mim, porque tinham belas vozes e além disso um tocava violino e

outro bandolim, e assim nesse tempo pude dedicar-me à oração interior sem

evitar a sua companhia.

 

Custou-me muito ter de beijar as crianças. Vinham

as vizinhas com meninos e pediam que os tomasse nos braços, ao menos

por um momento, e lhes desse um beijo. Consideravam isso como um

grande favor e para mim era uma ocasião para exercitar-me na virtude,

porque mais de uma vez estavam bastante sujos, mas para vencer-me e não

mostrar aversão àqueles meninos sujos dava-lhes dois beijos. Uma vizinha

trouxe o seu menino doente dos olhos, os quais estavam cheios de pus e

disse-me: Irmã, tome-o nos braços um momento. A natureza sentia aversão,

mas sem reparar em nada, tomei nos braços e beijei duas vezes os olhos

purulentos do menino e pedi a Deus pelas suas melhoras. Tive muitas

ocasiões para me exercitar na virtude.

 

Escutei todos que faziam as suas queixas e verifiquei que não tinham

corações alegres, porque não tinham corações que amassem sinceramente a

Deus, e não me surpreendia nada. Afligi-me muito por não poder ver as

minhas duas irmãs. Senti interiormente em que grande perigo se

encontravam as suas almas. A dor estreitou o meu coração só ao pensar

nelas. Uma vez, ao sentir-me muito próximo de Deus, pedi fervorosamente

ao Senhor a graça para elas e o Senhor respondeu-me: Concedo-lhes não

só as graças necessárias, mas também graças especiais. Compreendi que

o Senhor as chamaria a uma mais estreita união Consigo. Alegro-me

enormemente de que na nossa família reine um amor tão grande.

 

402. Quando me despedi dos meus pais e lhes pedi a sua bênção, senti o

poder da graça de Deus que fluiu sobre a minha alma. O meu pai, a minha

mãe e a minha madrinha, entre lágrimas, abençoaram-me e desejaram-me a

maior fidelidade à graça de Deus, e pediram que nunca esquecesse as

numerosas graças que Deus me tinha concedido chamando-me à vida

consagrada.

 

Pediram as minhas orações. Apesar de que choravam todos, eu

não derramei uma só lagrimita; tratei de ser valente e consolei-os a todos

como pude, recordando-lhes o Céu e que ali não haveria mais separações.

Stassimo acompanhou-me ao automóvel; disse-lhe quanto Deus ama as

almas puras; assegurei-lhe que Deus estava contente com ele. Enquanto lhe

falava da bondade de Deus e de como [Deus] pensa em nós, pôs-se a chorar

como uma criança pequena e eu não me surpreendi porque é uma alma

pura, que conhece a Deus facilmente.

 

403. Quando subi para o automóvel, desafoguei o coração e também me

pus a chorar de alegria como uma criança, porque Deus concedia tantas

graças à nossa família e submergi-me numa oração de agradecimento.

 

404. Pela noite estava já em Varsóvia. Primeiro saudei o Dono de casa

e depois saudei toda a Comunidade. Quando, antes de ir descansar, fui

dizer boas noites ao Senhor e lhe pedi perdão por ter falado tão pouco com

Ele durante a minha estadia em casa, ouvi na alma uma voz: Estou muito

contente de que não tenhas falado Comigo, e que tenhas dado a

conhecer a Minha bondade às almas e as tenhas convidado a amar-Me.

 

405. A Madre Superiora disse-me que no dia seguinte iríamos a

Józefimek as duas e que eu teria a oportunidade de falar com a Madre

Geral. Alegrei-me muitíssimo com isso. A Madre Geral como

sempre, a mesma, cheia de bondade, serenidade e espírito de Deus; falei

com ela muito tempo. Assistimos a um ofício da tarde. Cantaram a Letania

do Sagrado Coração de Jesus.

O Senhor Jesus estava exposto na custódia, um momento depois vi o

pequeno Senhor Jesus que saíu da Hóstia e Ele Próprio descansou nos meus

braços.

 

 

406. Isso durou um breve momento, uma enorme alegria inundou a

minha alma. O Menino Jesus tinha o mesmo aspecto que quando entrei na

pequena capela junto com a Madre Superiora, anteriormente a minha

Mestra, Maria Josefima.

 

407. No dia seguinte estava já na minha querida Vilna. Oh, como me

sentia feliz por ter voltado ao nosso convento. Parecia-me como se entrasse

outra vez, não deixava de me alegrar com o silêncio e a serenidade graças

às quais a alma se submerge em Deus tão fácilmente; todos a isso ajudam e

ninguém perturba.

 

A Quaresma.

 

408. Quando me recolho na Paixão do Senhor, muitas vezes, na

adoração, vejo o Senhor Jesus com este aspecto: depois da flagelação os

verdugos tomaram o Senhor e tiraram-Lhe a túnica, que já se tinha pegado

às chagas; enquanto a tiravam voltaram a abrir-se as chagas. Depois

vestiram o Senhor com um manto vermelho, sujo e rasgado, sobre as chagas

abertas. O manto mal Lhe chegava aos joelhos.

 

Mandaram o Senhor sentarse num cepo e então trançaram uma coroa de espinhos e cingiram com ela a Sagrada Cabeça; puseram-Lhe uma cana na mão, e zombando d’Ele

prestavam-Lhe homenagem como a um rei. Cuspiam-Lhe na Cara e outros

tomavam a cana e batiam-Lhe com ela na Cabeça; outros infligiam-Lhe

dores esbofeteando-O e outros, tapando-Lhe o rosto, davam-Lhe murros.

Jesus tudo suportava em silêncio. ¿Quem pode entender a sua dor?

Jesus tinha os olhos baixados para o chão. Senti o que se passava no

Dulcíssimo Coração de Jesus. Que cada alma medite o que Jesus sofria

naquele momento. Rivalizavam em insultar o Senhor.

Eu pensava ¿de onde poderia porvir tanta maldade no homem? A causa é

o pecado. Encontraram-se o Amor e o pecado.

 

409. Quando, junto com uma irmã, estávamos numa igreja durante a

Santa Missa, senti a grandeza e a Majestade de Deus; sentia que aquele

templo estava impregnado de Deus. A Sua Majestade envolvia-me e, apesar

de me atemorizar, enchia-me de serenidade e alegria; tive a consciência que

nada pode opor-se à Sua vontade.

Oh, se todas as almas [soubessem] quem vive nos nossos templos, não

haveria tantos insultos e tantas faltas de respeito naqueles santos lugares.

 

410. Oh Amor eterno e inconcebível, peço-Te uma graça, ilumina a

minha mente com a luz do alto, permite-me conhecer e apreciar todas as

coisas segundo o seu real valor. Ao conhecer a verdade, a minha alma

enche-se da maior alegria.

 

411. 21 III 1935. Muitas vezes durante a Santa Missa vejo o Senhor na

minha alma, sinto a Sua presença que me invade por completo. Sinto o Seu

divino olhar, falo muito com Ele sem dizer uma só palavra.

 

Conheço o que deseja o Seu Coração Divino e sempre faço o que Ele

prefere. Amo até à loucura e sinto que sou amada por Deus. Nesses

momentos, quando me encontro com Deus na profundidade do meu íntimo,

sinto-me tão feliz que não sei exprimi-lo. Estes momentos são breves,

porque a alma não suportaria mais sem que se verificasse a separação da

alma e do corpo. Embora estes momentos sejam muito breves, no entanto o

seu poder transmite-se à alma e permanece nela muitíssimo tempo. Sem o

menor esforço sinto um profundo recolhimento que então me envolve e que

não diminui embora converse com as pessoas, nem me perturba no

cumprimento das minhas obrigações.

 

Sinto a Sua constante presença sem nenhum esforço da alma, sinto que estou unida a Deus tão estreitamente como uma gota de água com o oceano sem fundo.

Esta quinta-feira senti esta graça no final das orações; durou

excepcionalmente muito tempo, isto é, toda a Santa Missa; pensava que

morreria de alegria. Nesses momentos conheço melhor Deus e os Seus

atributos, e também me conheço melhor a mim e à minha miséria, e

surpreende-me que Deus se incline tanto para uma alma tão miserável como

a minha. Depois da Santa Missa sentia-me totalmente mergulhada em Deus

e tinha presente cada olhar Seu à profundidade do meu coração.

 

412. Cerca do meio dia entrei um momento na capela e outra vez o

poder da graça golpeou o meu coração. Enquanto permanecia em

recolhimento, Satanás agarrou num vaso com flores e, com raiva, atirou-o

ao chão com toda a força. Vi toda a sua fúria e a sua inveja. Não havia

ninguém na capela; assim, levantei-me e apanhei o vaso partido, colocando

as flores noutra jarra.

 

Quis colocá-lo rapidamente no seu lugar antes que

alguém entrasse na capela. No entanto não consegui, porque entraram

imediatamente a Madre Superiora, a irmã sacristã e algumas

outras irmãs. A Madre Superiora ficou admirada de que eu tivesse mexido

no pequeno altar e que o vaso tivesse caído; a irmã sacristã mostrou o seu

desagrado; eu resolvi não me desculpar nem justificar-me. Mas, ao

anoitecer, sentia-me esgotada e não pude fazer a Hora Santa, pedindo à

Madre Superiora licença para me deitar mais cedo.

 

Uma vez deitada adormeci imediatamente; mas, próximo das onze, Satanás sacudiu a minha

cama. Acordei imediatamente e comecei a rezar com calma ao meu Anjo da

Guarda. De súbito vi as almas que estavam fazendo penitência no

Purgatório; o seu aspecto era como de uma sombra e entre elas vi muitos

demónios; um deles procurou molestar-me atirando-se em forma de gato

sobre a minha cama e os meus pés, e era tão pesado como se [pesasse]

alguns pud [É uma antiga medida de peso russa, equivalemte a 40 libras].

Durante tudo aquele tempo rezava o rosário; de madrugada aquelas

figuras foram-se embora e pude dormir.

 

De manhã, quando fui à capela,

ouvi na alma a voz: Estás unida a Mim e não tenhas medo de nada, mas

hás de saber, Minha filha, que Satanás te odeia; ele odeia muitas almas,

mas arde de um especial ódio por ti, porque arrancaste muitas almas

do seu poder.

 

413. Quinta-feira Santa, 18 IV

Pela manhã ouvi estas palavras: Desde hoje até à [celebração da]

Ressurreição não sentirás a Minha presença, mas a tua alma ficará

cheia de um grande anseio, e imediatamente um grande desejo inundou a

minha alma; sentia a separação do amado Jesus e ao aproximar-se o

momento da Santa Comunhão, vi no cálice, em cada Hóstia o Rosto

sofredor de Jesus. A partir daquele momento senti no meu coração um

anseio ainda maior.

 

414. Sexta-feira Santa. Às três da tarde, quando entrei na capela, ouvi

estas palavras: Desejo que esta imagem seja publicamente venerada.

depois vi o Senhor Jesus que agonizava na cruz entre terríveis tormentos e

do Coração de Jesus saíam os dois raios que estão na imagem.

 

415. Sábado. Durante as vésperas vi o Senhor Jesus resplandecente

como o sol, com uma túnica clara, e disse-me: Que se alegre o teu

coração. E inundou-me uma grande alegria e fui totalmente penetrada pela

presença de Deus que, para a alma, é um tesouro inefável.

 

416. Quando esta imagem foi exposta, observei um vivo

movimento da mão de Jesus que traçou um grande sinal da cruz. Na noite

do mesmo dia, ao deitar-me, vi que a imagem estava a passar sobre uma

cidade e aquela cidade estava coberta de teias e de redes. Jesus, ao passar,

cortou todas as redes e, por fim, traçou uma grande sinal da santa cruz e

desapareceu. E eu vi-me rodeada de muitas figuras malignas inflamadas de

um grande ódio contra mim. Das suas bocas saíam diferentes ameaças, mas

nenhuma me tocou. Depois de um momento essa visão desapareceu, mas

não pude dormir durante muito tempo.

 

417. 26 IV. Na sexta-feira, quando estava em Ostra Brama durante as

solenidades, nas quais foi exposta esta imagem, estive presente na homilia

pronunciada pelo meu confessor; a homilia foi sobre a Divina

Misericórdia e foi a primeira das que exigia o Senhor Jesus desde há muito

tempo. Quando começou a falar desta grande Misericórdia do Senhor, a

imagem tomou um aspecto vivo e os raios penetraram nos corações das

pessoas reunidas, mas não em grau igual, uns receberam mais e outros

menos. Uma grande alegria inundou a minha alma ao ver a graça de Deus.

Então ouvi estas palavras: Tu és testemunha da Minha Misericórdia,

pelos séculos estarás diante do Meu trono como testemunha viva da

Minha Misericórdia.

 

418. Terminada a homilia, não esperei o final do ofício, por que tinha

pressa para regressar a casa. Ao dar alguns passos, cercaram-me no

caminho toda uma multidão de demónios que me ameaçaram com terríveis

tormentos, e ouviram-se as vozes: «Tiraste-nos tudo por que tinhamos

trabalhado tantos anos».

Quando lhes perguntei: ¿De onde vindes em tal multidão? Estas figuras

malignas responderam-me: «Dos corações dos homens; não nos

atormentes».

 

419. Vendo o seu tremendo ódio para mim, então pedi ajuda ao Anjo da

Guarda e num só momento apareceu a figura luminosa e radiante do Anjo

da Guarda que me disse: «Não tenhas medo, esposa do meu Senhor, estes

espíritos não te vão fazer nenhum mal sem a Sua licença». Os espíritos

malignos desapareceram imediatamente e o fiel Anjo da Guarda

acompanhou-me de modo visível mesmo até casa. O seu olhar era modesto

e sereno, e da fronte brotava um raio de fogo.

Oh Jesus, desejaria fatigar-me e cansar-me, e sofrer durante toda a vida

por este único momento em que vi a Tua glória, Senhor, e os benefícios das

almas.

 

Domingo, 28 IV 1935

 

420. Primeiro domingo depois da Páscoa da Ressurreição, isto é, Festa

da Misericórdia do Senhor, clausura do Jubileu de Redenção. Quando

fomos a esta solenidade o coração pulsava-me de alegria por estas duas

solenidades estarem tão estreitamente unidas. Pedi a Deus Misericórdia

para as almas pecadoras. Quando terminou o ofício, e o sacerdote tomou o

Santíssimo Sacramento para dar a bênção e, súbitamente, vi o Senhor Jesus

com o mesmo aspecto que tem nesta imagem.

 

O Senhor deu a Sua bênção e os raios espalharam-se por todo o mundo.

De repente vi uma claridade

inacessível em forma de uma morada de cristal, tecida de ondas de luz,

impenetrável a qualquer criatura ou espírito. Para entrar na claridade [havia]

três portas e nesse instante Jesus, com o mesmo aspecto que tem na

imagem, entrou naquele resplendor através da segunda porta, até o interior

da Unidade. É a Unidade Trinitária que é inconcebível, infinita. Ouvi a voz:

Esta Festa saíu do mais íntimo da Minha Misericórdia e confirma-se no

abismo das Minhas graças. Toda a alma que crê e tem confiança na

Minha Misericórdia, alcançá-la-á. Alegrei-me enormemente da bondade e

da grandeza do meu Deus.

 

29 IV 1935

 

421. Na véspera da exposição da imagem fui com a nossa Madre

Superiora ver o nosso confessor. Quando na conversa foi abordado o

tema desta imagem, o confessor pediu que uma das irmãs ajudasse a trançar

grinaldas. A Madre Superiora disse que a Ir. Faustina ajudaria. Isso alegroume muitíssimo.

Quando regressámos a casa dediquei-me imediatamente a

preparar os ramos verdes e com a ajuda de uma das alunas levámo-los.

Ajudou também uma pessoa que trabalha próximo da igreja. Às sete da

tarde estava já tudo pronto, a imagem estava já colocada no seu lugar; no

entanto algumas senhoras notaram que eu ia e vinha por ali, já que

seguramente mais estorvava que ajudava, pois no dia seguinte

perguntaram às irmãs ¿que era aquela bela imagem e que significado tinha?

Vós, irmãs, sabeis seguramente, porque ontem uma das irmãs a estava a

enfeitar. As irmãs ficaram muito surpreendidas porque não sabiam de nada,

todas quiseram vê-la e imediatamente suspeitaram de mim. Diziam: A Ir.

Faustina com certeza sabe de tudo.

 

Quando começaram a perguntar-me, calava-me, porque não podia dizer

a verdade. O meu silêncio incitou a sua curiosidade; redobrei a minha

vigilância para não mentir nem dizer a verdade, porque não tinha licença.

Então começaram a mostrar-me o seu descontentamento e a censurar-me

abertamente: ¿Como é possível que as pessoas de fora o saibam e nós não?

Começaram a emitir diferentes juízos sobre mim. Sofri muito durante três

dias, mas uma estranha força amparava a minha alma.

 

Alegrei-me de poder sofrer por Deus e pelas almas que nesses dias conseguiram a Sua

Misericórdia. Ao ver tantas almas que tinham obtido a Misericórdia de

Deus nesses dias, considero como nada as fadigas e o sofrimento, embora

sejam os maiores e embora durem até ao fim do mundo, porque eles têm

fim enquanto as almas que se converteram [são salvas] dos tormentos que

nunca têm fim.

Experimentava uma grande alegria vendo outros voltar à fonte da

felicidade, ao seio da Divina Misericórdia.

 

422. Vendo a dedicação e o empenho do Padre Sopocko neste assunto,

admirava nele a sua paciência e a sua humildade; tudo isto custou não só

muito empenho e vários desgostos, mas também muito dinheiro, e tudo o

suportou o Padre Sopocko. Vejo que a Providência Divina o tinha preparado

a cumprir esta Obra da Misericórdia antes que eu o pedisse a Deus. Oh, que

misteriosos são os Teus caminhos, Deus, e felizes as almas que seguem o

chamamento da graça de Deus.

 

423. Oh alma minha, adora o Senhor por tudo e glorifica a Sua

Misericórdia, porque a Sua bondade não tem limites.

Tudo passará, mas a Sua Misericórdia não tem limites nem fim; embora

a maldade chegue a atingir o seu limite, na Misericórdia não há medida.

Oh meu Deus, ainda nos castigos com que feres a Terra vejo o abismo da

Tua Misericórdia, porque castigando-nos aqui na Terra, nos libertas do

castigo eterno. Alegrem-se todas as criaturas, porque estão mais próximas

de Deus na Sua infinita Misericórdia que o menino recém-nascido do

coração da sua mãe. Oh Deus, que és a própria Piedade para os maiores

pecadores arrependidos sinceramente; quanto maior é o pecador, tanto

maior é o direito que tem à Divina Misericórdia.

 

424. Em certo momento, 12 V 1935.

À noite, mal me tinha deitado, adormeci, mas se adormeci rapidamente,

mais depressa ainda fui despertada. Veio ter comigo um Menino pequeno e

acordou-me. Este Menino teria cerca de um ano e surpreendi-me de que

falasse muito bem, pois os meninos dessa idade ainda não falam, ou falam

de maneira pouco compreensível. Era indescritivelmente belo, parecido

com o Menino Jesus e disse-me estas palavras: Repara no Céu. E quando

olhei para o Céu, vi as estrelas brilhantes e a lua.

 

O Menino perguntou-me: ¿Vês a lua e as estrelas? Respondi que as via e Ele replicou-me com estas

palavras: Aquelas estrelas são as almas dos cristãos fiéis e a lua são as

almas consagradas. Vês a grande diferença de luz que há entre a lua e

as estrelas, assim também no Céu é a diferença entre a alma de um

religioso e a de um cristão fiel. E continuou que a verdadeira grandeza

está em amar a Deus e na humildade.

 

425. Então vi certa alma que está a separar-se do corpo em terríveis

tormentos. Oh Jesus, quando o escrevo tremo toda, vendo as atrocidades

que testemunham contra ela… Vi, como de um abismo lamacento saíam

almas de meninos pequenos e mais crescidos, de uns nove anos. Estas

almas eram repugnantes e asquerosas, semelhantes aos monstros mais

espantosos, aos cadáveres em decomposição, mas esses cadáveres estavam

vivos e testemunhavam em voz alta contra aquela alma agonizante. Esta

alma, no mundo tinha recebido muitas honras e aplausos, mas o seu fim é o

vazio e o pecado. Finalmente saíu uma mulher que numa espécie de avental

colhia lágrimas e que testemunhava muito contra ele.

 

426. Oh hora terrível, na qual se nos apresentam todas as nossas obras na

sua completa nudez e [miséria]; nenhuma delas se perde, acompanham-nos

fielmente até ao Juízo de Deus. Não tenho palavras nem termos de

comparação para exprimir coisas tão terríveis e embora me parecesse que

esta alma não está condenada, no entanto os seus tormentos não diferem em

nada dos tormentos infernais, com a única diferença de que um dia

terminarão.

 

427. Um momento depois vi novamente esse mesmo Menino que me

tinha despertado, e que era de uma beleza esplêndida, e me repetiu estas

palavras: A verdadeira grandeza da alma está em amar a Deus e na

humildade. Perguntei a esse Menino: ¿Como sabes que a verdadeira

grandeza da alma está em amar a Deus e na humildade?, estas coisas só as

sabem os teólogos, enquanto Tu nem sequer estudaste o catecismo e ¿Como

o sabes? E Ele respondeu-me: Sei e sei tudo; e naquele momento

desapareceu.

 

428. Mas eu já não consegui dormir mais, a minha mente estava cansada

pelo que tinha visto e comecei a reflectir sobre essas coisas. Oh, almas

humanas, que só tarde demais conhecem a verdade. Oh, abismo da Divina

Misericórdia, derrama-Te quanto antes sobre o mundo inteiro, segundo o

que Tu Mesmo afirmaste.

 

429. Maio de 1935. Num momento, quando me dei conta dos grandes

desígnios de Deus sobre mim, assustei-me com a sua grandeza e senti-me

completamente incapaz de cumpri-los e comecei a evitar interiormente as

conversas com Ele, e substituía esse tempo por oração oral. Fazia-o para ser

humilde, mas depressa reconheci que não era uma verdadeira humildade,

mas uma grande tentação de Satanás.

 

Certo dia, quando em lugar da oração interior comecei a ler um livro

espiritual, ouvi na alma estas palavras, explícitas e fortes: Prepararás o

mundo para a Minha última vinda. Estas palavras comoverem-me

profundamente e embora fingisse que não as tinha ouvido, compreendi-as

bem e não tinha nenhuma dúvida a esse respeito.

 

Uma vez, cansada desta luta de amor com Deus e de desculpar-me constantemente por ser incapaz

de cumprir esta Obra, quis sair da capela, mas uma força deteve-me, sentiame imobilizada. Então ouvi estas palavras: Pensas sair da capela, mas não

te conseguirás afastar de Mim, porque estou em toda a parte; sozinha

nada poderás fazer, mas Comigo tudo podes.

 

430. Durante a semana, quando fui ao meu confessor e descobri o

estado da minha alma e especialmente que evitava a conversação interior

com Deus, recebi a resposta que não devia evitar a conversação interior

com Deus, mas que tinha que escutar as palavras que me dizia.

 

431. Actuei segundo as indicações do confessor e, no primeiro encontro

com o Senhor, caí aos pés de Jesus e com o coração destroçado pedi perdão

por tudo. Depois Jesus levantou-me do chão, sentou-me a Seu lado e

permitiu-me pôr a cabeça sobre o seu peito para que pudesse compreender e

perceber melhor os desejos do seu dulcíssimo Coração. depois Jesus disseme estas palavras: Minha filha, não tenhas medo de nada, Eu estou

sempre contigo; qualquer adversário só te pode fazer mal se Eu o

permitir. Tu és Minha morada e Meu estável descanso, por ti detenho a

mão que castiga, por ti abençoo a Terra.

 

432. No mesmo instante senti fogo no meu coração, senti que ia perder

os sentidos, não sei o que se passa à minha volta, sinto que me trespassa o

olhar do Senhor, conheço bem a sua grandeza e a minha miséria, um

estranho sofrimento penetra a minha alma e uma alegria que não consigo

comparar com nada, sinto-me inerte nos braços de Deus, sinto que estou

com Ele e me dissolvo como uma gota de água no oceano. Não sei exprimir

o que experimento; depois de tal prece interior sinto força e fortaleza para

cumprir as mais difíceis virtudes, sinto aversão a todas as coisas que o

mundo aprecia, com toda a minha alma desejo a solidão e o silêncio.

 

433. V [Maio] de 1935. Durante o ofício de quarenta horas vi o

rosto do Senhor Jesus na Santa Hóstia que estava exposta na custódia; Jesus

olhava amavelmente para todos.

 

434. Muitas vezes vejo o Menino Jesus durante a Santa Missa. É

sumamente belo, quanto à idade parece que tem cerca de um ano. Uma vez,

ao ver o mesmo Menino na nossa capela durante a Santa Missa, invadiu-me

um fortíssimo desejo e ânsia irresistível de me aproximar do altar e de

tomar nos braços o Menino Jesus. No mesmo instante o Menino Jesus pôsse junto a mim, ao lado do genuflexório, e com as duas mãozinhas agarrouse ao meu braço, encantador e alegre, o seu olhar penetrante e cheio de profundidade. Mas quando o sacerdote partiu a Hóstia, Jesus estava no altar

e foi partido e consumido por aquele sacerdote.

 

Depois da Santa Comunhão vi um idêntico Jesus no meu coração e

durante tudo o dia o senti física e realmente no meu coração. Um

recolhimento muito profundo se apoderou de mim inconscientemente e não

disse a ninguém nenhuma palavra, evitava no que era possível a presença de

pessoas, respondia sempre às perguntas relacionadas com as minhas tarefas

e, fora disso, nenhuma palavra.

 

435. 9 VI 1935. A vinda do Espírito Santo. Ao anoitecer, quando

passava pela jardim, ouvi estas palavras: Juntamente com as tuas

companheiras implorarás a Misericórdia para vós e para o mundo.

Compreendi que não estarei na Congregação na que estou actualmente.

Vejo claramente que a vontade de Deus a meu respeito é outra; no

entanto, desculpo-me constantemente diante de Deus de que sou incapaz de

cumprir essa Obra. Jesus, Tu sabes perfeitamente o que sou, e pus-me a

enumerar diante do Senhor as minhas insuficiências e escondia-me atrás

delas para que aceitasse as minhas desculpas de que era incapaz de cumprir

os seus projectos. Depois ouvi estas palavras: Não tenhas medo, Eu

Mesmo completarei o que te falta. Estas palavras penetraram-me

profundamente e conheci ainda melhor a minha miséria, conheci que a

Palavra do Senhor é vida e penetra até ao fundo. Entendi que Deus exigia

de mim um modo de vida mais perfeito, no entanto desculpava-me

continuamente com a minha incapacidade.

 

436. 29 VI 1935. Quando falava com o director da minha alma

sobre os diferentes assuntos que o Senhor exigia de mim, pensava que me

responderia que eu era incapaz de cumprir essas coisas e que o Senhor Jesus

não se servia de almas tão miseráveis como a minha, para as obras que

desejava realizar. No entanto ouvi as palavras de que na maioria dos casos

Deus escolhia justamente tais almas para realizar os seus projectos. Mas

este sacerdote era guiado pelo Espírito de Deus, penetrou no interior da

minha alma e nos mais escondidos segredos que tinha entre mim e Deus,

dos quais nunca lhe tinha falado antes; não os tinha contado porque eu

mesmo não os entendia bem e o Senhor não me tinha dado uma ordem clara

para que o dissesse. O segredo era este: que Deus exigia que houvesse uma

congregação que proclamasse a Divina Misericórdia e a implorase para o

mundo.

 

437. Quando aquele sacerdote me perguntou se não tinha tido tais

inspirações, respondi que não tinha tido ordens precisas, mas naquele

instante uma luz penetrou na minha alma e compreendi que o Senhor falava

por meio dele; defendia-me inútilmente dizendo que não tinha uma ordem

precisa, mas no final da conversa vi o Senhor Jesus no umbral, com o

mesmo aspecto como está pintado na imagem, que me disse: Desejo que

haja essa Congregação. Isso durou um momento. Mas não falei

disso imediatamente, tinha pressa de voltar para casa e repetia

continuamente ao Senhor: Eu sou incapaz de cumprir os Teus projectos, oh

Deus. Mas, o curioso é que Jesus, sem reparar neste meu lamento, deu-me

luz e fez-me conhecer quanto lhe agradava esta Obra e não tomou em

consideração a minha debilidade, mas deu-me a conhecer quantas

dificuldades tinha que superar. E eu, Sua pobre criatura, não sabia dizer

outra coisa mais que era incapaz, oh Deus.

 

438. 30 VI 1935. No dia seguinte, uma vez começada a Santa Missa, vi o

senhor Jesus de uma beleza indizível. Disse-me que exige que essa

Congregação seja fundada quanto antes possível, e tu viverás nela com

as tuas companheiras. O Meu Espírito será a regra da vossa vida. A

vossa vida deve modelar-se pela Minha, desde o presépio até à morte na

cruz. Penetra nos Meus segredos e conhecerás o abismo da Minha

Misericórdia para com as criaturas e a Minha bondade insondável, e

farás conhecer esta ao mundo. Através da oração intermediarás entre a

Terra e o Céu.

 

439. Era tempo de aproximar-me da Santa Comunhão. Jesus desapareceu

e vi um grande resplendor. Depois ouvi estas palavras: Concedemos-te a

nossa bênção, e naquele momento desse resplendor saíu um raio claro e

trespassou o meu coração, um estranho fogo incendiou a minha alma,

pensava que morreria de gozo e de felicidade; senti a separação do espírito

e do corpo, senti uma imersão total em Deus, senti que era raptada pelo

Omnipotente, como um grãozito de pó, aos espaços desconhecidos.

Tremendo de felicidade nos braços do Criador, sentia que Ele Mesmo

me sustinha para que pudesse suportar a grande felicidade e olhar a sua

Majestade. Agora sei que se Ele Mesmo não me tivesse fortalecido antes

com a graça, a minha alma não teria sobrevivido à morte. A Santa Missa

terminou não sei quando, porque não estava em meu poder notar o que

sucedia na capela. No entanto, ao voltar a mim, senti fortaleza e coragem

para cumprir a vontade de Deus, nada me parecia difícil e se, antes, me

desculpava diante do Senhor, agora sentia o ânimo e a força do Senhor que

estavam em mim e disse ao Senhor: estou preparada para cada sinal da Tua

vontade. Interiormente experimentei tudo o que se ia passar no futuro.

 

440. Oh Criador e Senhor meu, aqui tens todo o meu ser. Dispõe de mim

segundo a Tua divina complacência e segundo os Teus desígnios eternos e a

Tua Misericórdia insondável. Que cada alma conheça como é bom o

Senhor; que nenhuma alma tenha medo de tratar com o Senhor, e que não se

excuse de ser indigna e que nunca adie para depois os convites de Deus, já

que isso não agrada a Deus. Não há alma mais miserável que a minha,

como verdadeiramente me considero, e estou surpreendida de que a

Majestade Divina se incline tanto. Oh eternidade, parece-me que és

demasiado breve para glorificar a infinita Misericórdia do Senhor.

 

441. Uma vez, quando a imagem estava exposta no altar, durante a

procissão de Corpus Cristi, quando o sacerdote expôs o Santíssimo

Sacramento e o coro começou a cantar, os raios da imagem trespassaram a

Santa Hóstia e espalharam-se sobre o mundo inteiro. Então ouvi estas

palavras: Através de ti, como através desta Hóstia, os raios da

Misericórdia passarão para o mundo. Depois destas palavras um grande

gozo penetrou na minha alma.

 

442. Numa ocasião, quando o meu confessor celebrava a Santa

Missa, como sempre vi o Menino Jesus no altar desde o momento do

ofertório. Mas um momento antes da elevação o sacerdote desapareceu e só

ficou Jesus e quando chegou o momento da elevação Jesus tomou em suas

mãozinhas a Hóstia e o Cáliz, levantou-os juntos e olhou para o Céu e um

momento depois vi outra vez o meu confessor e perguntei ao Menino Jesus

onde estava o sacerdote enquanto não o via. E Jesus respondeu-me: No

Meu Coração. No entanto não pude compreender nada mais daquelas

palavras de Jesus.

 

443. Uma vez ouvi estas palavras: Desejo que vivas segundo a Minha

vontade nos mais secretos recônditos da tua alma. Comecei a meditar

estas palavras que chegaram até o mais profundo do meu coração. Naquele

dia havia confissão da Comunidade. Quando fui confessar-me, depois

de acusar-me dos pecados, o sacerdote repetiu as palavras que antes me

tinha dito o Senhor.

 

444. O sacerdote disse-me estas palavras profundas: «Há três graus no

cumprimento da vontade de Deus. O primeiro: é quando a alma cumpre

tudo o que está notoriamente compreendido nas Regras e nos estatutos da

observância exterior. O segundo grau consiste em que a alma segue as

inspirações interiores e cumpre-as. O terceiro grau é aquele em que a alma,

entregando-se à vontade de Deus, deixa-Lhe a liberdade de dispôr dela, e

Deus faz com ela o que Lhe agrada, porque é um instrumento dócil nas suas

mãos». E disse-me esse sacerdote que eu estava no segundo grau do

cumprimento da vontade de Deus, e que não tinha ainda o terceiro grau do

cumprimento da vontade de Deus; no entanto devia empenhar-me para

cumprir esse terceiro grau da vontade divina.

 

Essas palavras penetraram na minha alma por completo. Vejo claramente

que muitas vezes Deus dá a conhecer ao sacerdote o que se passa no fundo

da minha alma; isso não me surpreende nada, mas bem agradeço ao Senhor

que tem estes eleitos.

 

445. Ao vir à adoração, imediatamente me envolveu um recolhimento

interior e vi o Senhor Jesus atado a uma coluna, despojado das suas vestes e

imediatamente começou a flagelação. Vi quatro homens que, por turno,

açoitavam o Senhor com disciplinas. O coração deixava de bater ao ver

estes tormentos. Depois o Senhor disse-me estas palavras: Estou sofrendo

uma dor ainda maior da que estás vendo.

 

E Jesus deu-me a conhecer por quais pecados se submeteu à flagelação, são os pecados impuros. Oh, quanto sofreu Jesus moralmente ao submeter-se à flagelação. Então Jesus

disse-me: Olha e vê o género humano no estado actual. Num momento vi

coisas terríveis: Os verdugos afastaram-se de Jesus, e outros homens se

aproximaram para flagelar, os quais agarraram os látegos e açoitavam o

Senhor sem piedade.

 

Eram sacerdotes, religiosos e religiosas e maiores

dignitários da Igreja, o que me surpreendeu muito, eram laicos de diversas

idades e condições, todos descarregavam a sua ira no inocente Jesus. Ao vêlo o meu coração entrou numa espécie de agonia; e enquanto os verdugos o

flagelavam, Jesus calava-se com olhar longínquo, mas quando o flagelavam

aquelas almas que mencionei acima, Jesus cerrou os olhos e um gemido

surdo, mas terrivelmente doloroso, saíu do seu Coração. E o Senhor deu-me

a conhecer detalhadamente o peso da maldade daquelas almas ingratas:

Vês, sofro aqui um suplício maior do que o da Minha morte. Então os

meus lábios calaram-se e comecei a provar em mim a agonia da morte e

sentia que ninguém me consolaria nem me tiraria desse estado, a não ser

Aquele que a isso me tinha levado.

 

Então o Senhor disse-me: Vejo a dor sincera do teu coração que deu

um imenso alívio ao Meu Coração, vê e consola-te.

 

446. Então vi Jesus cravado na cruz. Depois de Jesus estar cravado nela

um momento, vi toda uma multidão de almas crucificadas como Jesus. Vi

uma segunda e ainda uma terceira multidão de almas. A segunda infinidade

de almas não estava cravada na cruz, mas as almas agarravam com força a

cruz na mão; enquanto a terceira multidão de almas não estava cravada nem

agarrava a cruz fortemente, mas essas almas arrastavam a cruz atrás de si e

estavam descontentes. Então Jesus disse-me: Vê, essas almas que se

parecem Comigo no sofrimento e no desprezo, também se parecerão

Comigo na glória; e aquelas que menos se assemelham a Mim no

sofrimento e no desprezo, serão menos semelhantes a Mim também na

glória.

A maior parte das almas crucificadas pertenciam ao estado eclesiástico;

vi também almas crucificadas que conheço e isso deu-me muita alegria. De

repente Jesus disse-me: Na meditação de amanhã reflectirás sobre o que

viste hoje. E imediatamente o Senhor Jesus desapareceu.

 

447. Sexta-feira. Estava doente e não pude ir à Santa Missa. Às sete da

manhã vi o meu confessor celebrando a Santa Missa durante a qual vi o

Menino Jesus. No fim da Santa Missa a visão desapareceu e vi-me como

antes, na cela. Envolveu-me uma alegria indizível; embora não pudesse

assistir à Santa Missa na nossa capela, ouvi-a numa igreja muito afastada.

Jesus pode solucionar todo.

 

30 de Julho de 1935

 

448. Dia de Santo Inácio. Rezei fervorosamente a este Santo

censurando-o ¿Como podia olhar-me e não me ajudava em assuntos tão

importantes, como o cumprimento da vontade de Deus?

Dizia a este Santo: Oh nosso Patrono, que foste inflamado pelo fogo do

amor e do zelo para maior glória de Deus, peço-te humildemente, ajuda-me

a cumprir os desígnios de Deus. Foi durante a Santa Missa. Então, ao lado

esquerdo do altar vi Santo Inácio com um grande livro na mão, dizendo-me

estas palavras: «Minha filha, não sou indiferente à tua causa. Esta Regra

pode aplicar-se também a esta Congregação»; indicando o livro com a mão

desapareceu. Alegrei-me muitíssimo vendo quanto os santos pensam em

nós e que estreita é a união com eles. Oh bondade de Deus, que belo é o

mundo interior porque já aqui na Terra nos relacionamos com os santos.

Durante o dia inteiro senti a proximidade deste meu querido Patrono.

 

449. 5 de Agosto de 1935: Festa de Nossa Senhora da Misericórdia.

Preparei-me para esta festa com maior fervor que nos anos anteriores. Na

manhã desse dia experimentei a luta interior ao pensar que devia abandonar

esta congregação que goza da protecção especial de Maria. Esta luta

demorou a meditação e ainda a primeira Santa Missa; durante a segunda

Santa Missa rezava à Santíssima Mãe, dizendo-lhe: çomo me é difícil

separar-me da Congregação que está sob a Tua protecção especial, oh

Maria. Então vi a Santíssima Virgem, indescritivelmente bela, que se

aproximou de mim, vinda do altar até ao meu genuflexório e me abraçou

dizendo estas palavras: Sou Mãe de todos, graças à insondável

Misericórdia de Deus. A alma mais querida para mim é aquela que cumpre

fielmente a vontade de Deus. Deu-me a entender que cumpro fielmente

todos os desejos de Deus e assim encontrei favor a seus olhos. Sê valente,

não tenhas medo dos obstáculos enganosos, mas contempla atentamente a

Paixão do meu Filho e deste modo vencerás.

 

450. Adoração nocturna.

Sentia-me muito sofredora e parecia-me que não poderia ir à adoração,

no entanto reuni toda a força da minha vontade e apesar de ter caído na

cela, não ligava ao que me doía tendo diante dos olhos a Paixão de Jesus.

Ao chegar à capela entendi interiormente o grande que é a recompensa que

Deus nos prepara, não somente pelas boas obras, mas também pelo sincero

desejo de cumpri-las. Que graça de Deus tão grande é esta.

Oh, que doce é trabalhar por Deus e para as almas. Não quero descansar

no combate, mas lutarei até o último sopro de vida pela glória do meu Rei e

Senhor. Não hei de depor a espada até que me chame diante de seu trono;

não temo os golpes porque Deus é o meu escudo. O inimigo deve ter medo

de nós e não nós do inimigo. Satanás vence somente os soberbos e os

cobardes, porque os humildes têm fortaleza. Nada confunde e assusta uma

alma humilde. Dirigi o meu voo para o ardor mesmo do sol e nada

conseguirá baixá-lo. O amor não se deixa aprisionar, é livre como um rei, o

amor chega até Deus.

 

451. Uma vez, depois da Santa Comunhão, ouvi estas palavras: Tu és a

nossa morada. Naquele momento senti na alma a presença da Santíssima

Trindade: Pai, Filho e Espírito Santo; senti-me templo de Deus, senti que

era filha do Pai; não sei explicar tudo, mas o espírito entende bem. Oh

bondade infinita, quanto Te inclinas até uma miserável criatura.

 

452. Se as almas quisessem viver no recolhimento, Deus lhes falaria

imediatamente, já que a distracção sofoca a voz de Deus.

 

453. Uma vez o Senhor disse-me: ¿Por que tens medo e tremes

quando estás unida a Mim? Não Me agrada a alma que se deixa levar

por inúteis temores. ¿Quem se atreverá a tocar-te quando estás

Comigo? A alma mais querida para Mim é a que crê fortemente na

Minha bondade e a que tem plena confiança em Mim; ofereço-lhe a

Minha confiança e dou-lhe tudo o que pede.

 

454. Em certa ocasião o Senhor disse-me: Minha filha, aceita as graças

que as pessoas desprezam; aceita quantas possas levar. Naquele instante

a minha alma foi inundada pelo amor de Deus. Sinto que estou unida ao

Senhor tão estreitamente que não encontro palavras para exprimir bem esta

união; sinto que tudo o que Deus tem, todos os bens e tesouros, são meus,

embora pouco me preocupo com isso, pois basta-me somente Ele. N’Ele

vejo tudo, fora d’Ele, nada.

 

Não procuro a felicidade fora do meu íntimo, onde mora Deus. Gozo de

Deus no meu interior, aqui vivo continuamente com Ele, aqui existe a

minha relação mais íntima com Ele, aqui vivo com Ele segura, aqui não

chega o olhar humano. A Santíssima Virgem anima-me a relacionar-me

assim com Ele.

 

455. Agora já não sinto amargura quando padeço um sofrimento, nem

tampouco as grandes consolações me exaltam; reina em mim a paz e o

equilibrio do espírito, que provêm do conhecimento da verdade.

¿Que me importa viver rodeada de corações mal querentes, se tenho a

plenitude da felicidade na minha alma? E também ¿que me ajudará a

bondade de outros corações, se não tenho Deus no meu interior? Tendo

Deus no meu íntimo ¿Quem pode prejudicar-me de algum modo?

 

JMJ Vilna, 12 VIII 1935

 

456. Exercícios espirituais de três dias.

Ao anoitecer do dia anterior aos exercícios espirituais, nos pontos [da

meditação] nocturna, ouvi estas palavras: Durante estes exercícios

espirituais falar-te-ei pela boca deste sacerdote para te assegurar e

fortalecer sobre a veracidade das Minhas palavras que pronuncio no

fundo da tua alma. Embora estes exercícios espirituais sejam feitos por

todas as irmãs, no entanto tenho uma atenção especial por ti para

fortalecer-te e fazer-te intrépida diante de todas as contrariedades que

te esperam; por isso escuta atentamente as suas palavras e medita-as no

fundo da tua alma.

 

457. Oh, como fiquei surpreendida, porque tudo o que o Padre dizia

sobre a união com Deus e sobre os impedimentos a esta estreita união, eu o

experimentava exactamente na alma e o ouvia de Jesus que falava no fundo

dela. A perfeição consiste em [esta] estreita união com Deus.

 

458. Na meditação das dez, o sacerdote falou da Misericórdia de

Deus e da bondade de Deus para connosco. Disse que quando examinamos

a história da humanidade, a cada passo vemos esta grande bondade de

Deus. Todos os atributos de Deus, tais como a omnipotência, e a sabedoria

contribuiem para nos revelar este maior atributo, isto é, a bondade de Deus.

A bondade divina é o maior atributo de Deus. No entanto, muitas almas que

tendem à perfeição, não conhecem esta grande bondade de Deus. Todo o

que o sacerdote disse nessa meditação sobre a bondade de Deus,

correspondia ao que Jesus me tinha dito [e] referia-se exactamente à Festa

da Misericórdia. Agora de verdade [compreendi] claramente o que o Senhor

me prometeu e não tenho nenhuma dúvida, a Palavra de Deus é clara e

explícita.

 

459. Durante toda a meditação vi o Senhor Jesus sobre o altar, com uma

túnica branca, tendo na mão o meu caderno em que estou a escrever estas

coisas. Durante toda a meditação Jesus folheava as páginas do caderno e

calava-se, mas o meu coração não conseguia suportar o ardor que se tinha

incendiado na minha alma. Apesar dos esforços da vontade para me

dominar e para não deixar conhecer aos que me rodeavam o que se passava

na minha alma, no final da meditação senti que não dependia de mim em

absoluto. De repente Jesus disse-me: Não escreveste neste caderno tudo

sobre a Minha bondade para os homens; desejo que não omitas nada;

desejo que o teu coração esteja confirmado numa completa

tranquilidade.

 

460. Oh Jesus, o meu coração deixa de bater quando contemplo tudo o

que fazes por mim. Admiro-Te, Senhor, por te inclinares tanto até à minha

alma miserável. Que métodos inexplicáveis usas para me convencer.

 

461. Pela primeira vez na minha vida tenho os exercícios espirituais

deste tipo: cada palavra do sacerdote a entendo de modo singular e claro, já

que tudo isso o vivi antes na minha alma. Agora vejo que Jesus não deixa

na incerteza uma alma que o ama sinceramente. Jesus deseja que uma alma

que se relaciona com Ele estreitamente, esteja plenamente tranquila, apesar

dos sofrimentos e contrariedades.

 

462. Agora compreendo bem que o que une mais estreitamente a alma a

Deus é negar-se a si mesma, isto é, unir a sua vontade à vontade de Deus.

Isto torna a alma verdadeiramente livre e ajuda ao profundo recolhimento

do espírito, faz divinas todas as penas da vida e doce a morte.

 

463. Jesus disse-me que se tenho alguma dúvida relacionada com esta

Festa ou com a fundação desta Congregação, ou a respeito a qualquer

coisa de que te tenha falado no fundo da tua alma, te responderei

imediatamente pela boca deste sacerdote.

 

464. Durante uma meditação sobre a humildade de novo me ocorreu a

dúvida de que uma alma tão miserável como a minha, não seria capaz de

cumprir a tarefa que o Senhor exigia. No mesmo momento em que eu

pensava nessa dúvida, o sacerdote que dirigia os exercícios espirituais

interrompeu o tema da palestra e disse justamente o que eu tinha em dúvida,

isto é, que Deus escolhe geralmente as almas mais débeis e mais simples

como instrumentos para realizar as suas maiores obras, e esta é uma

verdade incontestável. Vejamos quem escolheu como Apóstolos, ou

vejamos a história da Igreja, que obras tão grandes realizaram as almas que

eram as menos aptas para o fazer, porque justamente dessa forma as obras

de Deus se revelam como tais. Quando a minha dúvida cedeu

completamente, o sacerdote voltou ao tema sobre a humildade.

Jesus, como sempre durante cada palestra, estava no altar e não me dizia

nada, mas com o seu olhar penetrava amavelmente na minha pobre alma

que [já] não tinha nenhuma escusa.

 

465. Jesus, Vida minha, sinto bem que me estás transformando em Ti, no

segredo da alma onde os sentidos percebem muito pouco. Oh Salvador meu,

esconde-me inteira no profundo do Teu coração e protege-me com os Teus

raios de tudo o que me afasta de Ti; suplico-Te, oh Jesus, que estes dois

raios que saíram do Teu Misericordiosíssimo coração alimentem

continuamente a minha alma.

 

466. O momento da confissão.

O confessor perguntou-me se naquele momento Jesus estava

presente e se eu o via. Sim, está e vejo-o. Pediu-me para perguntar por

certas pessoas, Jesus não me respondeu nada, mas olhou-o. Terminada a

confissão, enquanto rezava a penitência, Jesus, disse-me estas palavras: Vai

e consola-o da Minha parte. Sem entender o significado destas palavras,

imediatamente repeti o que Jesus me tinha ordenado.

 

467. Durante tudo o tempo dos exercícios espirituais estive sempre em

contacto com Jesus e uni-me a Ele com toda a força do meu coração.

 

468. O dia da renovação dos votos. No começo da Santa Missa como

sempre vi Jesus que nos abençoou e entrou no tabernáculo. Depois vi a

Santíssima Virgem com uma túnica branca, um manto azul e a cabeça

descoberta, que desde o altar se aproximou de mim, me tocou com as suas

mãos, me cobriu com o seu manto e me disse: Oferece estes votos pela

Polónia. Reza por ela. 15 VIII.

 

469. Na noite do mesmo dia senti na alma uma grande nostalgia de

Deus; não o vejo com os olhos do corpo como antes, mas sinto-O e não

compreendo; isso produz-me um anseio e um tormento indescritíveis.

Morro do desejo de O possuir para me afundar n’Ele para sempre. O meu

espírito tende para Ele com todas as forças, não há nada no mundo que me

possa consolar.

Oh Amor Eterno, agora entendo em que estreitas relações de intimidade

estava o meu coração Contigo. ¿Que poderá satisfazer-me no Céu o na

Terra além de Ti?, oh meu Deus, em Quem se afogou a minha alma.

 

 

470. Uma noite, quando da minha cela olhei para o Céu e vi um

esplêndido firmamento semeado de estrelas e a lua, de repente entrou na

minha alma o fogo do amor inconcebível pelo meu Criador, e sem saber

suportar o desejo que tinha crescido na minha alma para Ele, caí de cara ao

chão humilhando-me no pó. Adorei-O por todas as suas obras e quando o

meu coração não pôde suportar o que nele se passava, irrompi em pranto.

Então tocou-me o Anjo da Guarda e disse-me estas palavras: O Senhor

manda-me dizer-te que te levantes do chão. Fi-lo imediatamente, mas a

minha alma não teve consolo. O anseio de Deus invadiu-me ainda mais.

 

471. Um dia em que estava na adoração, e o meu espírito como se

estivesse em agonia [aniquilando-me] a Ele e não conseguia reter as

lágrimas, vi um espírito de grande beleza, que me disse estas palavras: Não

chores, diz o Senhor. Um momento depois perguntei: ¿Quem és? E ele

respondeu-me: Sou um dos sete espíritos que dia e noite estão diante do

trono de Deus e O adoram sem cessar. No entanto este espírito não aliviou

o meu anseio, mas suscitou ainda, em mim, um anseio maior de Deus. Este

espírito é muito belo e a sua beleza deve-se a uma estreita união com Deus.

Este espírito não me deixa nem por um momento, acompanha-me para todo

o lado.

 

472. No dia seguinte, durante a Santa Missa, antes da elevação, aquele

espírito começou a cantar estas palavras: Santo, Santo, Santo. A sua voz era

como milhares de vozes, impossível descrevê-lo. De repente o meu espírito

uniu-se a Deus, num momento vi a grandeza e a santidade inconcebíveis de

Deus e ao mesmo tempo conheci a nulidade que sou por mim. Conheci

mais claramente do que em qualquer outro momento do passado, as Três

Pessoas Divinas: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. No entanto a sua

essência é Una, como também a igualdade e a Majestade. A minha alma

relaciona-se com as Três Pessoas, mas não consigo explicar por palavras,

mas a alma entende bem. Qualquer que esteja unido com uma destas Três

Pessoas, por este mesmo facto está unido com toda a Santíssima Trindade,

porque a sua unidade é indivisível. Essa visão, isto é, esse conhecimento

inundou a minha alma de uma felicidade inimaginável, por ser Deus tão

grande. O que descrevi acima, não o vi com os olhos, como anteriormente,

mas dentro de mim, de modo puramente espiritual e independente dos

sentidos.

Isso durou até o fim da Santa Missa.

Agora, isto sucede-me muitas vezes e não somente na capela, mas

também durante o trabalho e quando menos o espero.

 

473. Quando o nosso confessor estava ausente, eu confessava-me

com o Arcebispo. Ao descobrir-lhe a minha alma, recebi esta

resposta: «Minha filha, arme-se de muita paciência, se estas coisas são de

Deus tarde ou cedo se realizarão e digo-lhe para estar completamente

tranquila. Eu, minha filha, entendo-a bem nessas coisas; mas, quanto ao

abandono da Congregação e a ideia de [fundar] outra, nem sequer pense

nisso, já que seria uma grave tentação interior». Terminada a confissão,

disse a Jesus: ¿Por que me mandas fazer estas coisas e não me dás a

possibilidade de as cumprir? De repente, depois da Santa Comunhão vi o

Senhor Jesus na mesma capela em que me tinha confessado, com o mesmo

aspecto com o que está pintado nesta imagem; o Senhor disse-me: Não

estejas triste, fá-lo-ei compreender as coisas que exijo de ti. Quando

saíamos, o Arcebispo estava muito ocupado mas disse-nos para voltar e

esperar um momento. Quando entrámos outra vez na capela, ouvi na alma

estas palavras: Diz-lhe o que viste nesta capela. Naquele momento entrou

o Arcebispo e perguntou se não tinhamos nada que lhe dizer. No entanto,

embora tinha a ordem de falar, não pude porque estava em companhia de

uma das irmãs. Ainda outra palavra ouvida na confissão: «Impetrar a

Misericórdia para o mundo, é uma ideia grande e bela, rogue muito, irmã,

pela Misericórdia para os pecadores, mas faça-o no seu próprio convento».

 

474. No dia seguinte, sexta-feira 13 XI 1935.

À tarde, estando eu na minha cela, vi o Anjo, executor da ira de Deus.

Tinha uma túnica clara, o rosto resplandecente; uma núvem debaixo dos

pés; da núvem saíam raios e relâmpagos e iam às mãos e das mão saíam e

alcançavam a Terra. Ao ver esta sinal da ira divina que ia castigar a Terra e

especialmente certo lugar, por justos motivos que não posso indicar,

comecei a pedir ao Anjo que se contivesse por algum tempo e o mundo

faria penitência. Mas a minha súplica nada era comparada com a ira de

Deus. Naquele momento vi a Santíssima Trindade. A grandeza da sua

Majestade penetrou-me profundamente e não me atrevi a repetir a prece.

Naquele mesmo instante senti na minha alma a força da graça de Jesus que

mora na minha alma; ao dar-me conta desta graça, no mesmo momento fui

raptada diante do trono de Deus. Oh, que grande é o Senhor e Deus nosso e

inconcebível a sua santidade. Não tentarei descrever esta grandeza porque

dentro de pouco a veremos todos, tal como é. Pus-ma a rogar a Deus pelo

mundo com as palavras que ouvi dentro de mim.

 

475. Quando assim rezava, vi a impotência do Anjo que não podia

cumprir o justo castigo que correspondia aos pecados. Nunca antes tinha

rogado com tal potência interior como então. As palavras com as quais

suplicava a Deus são as seguintes: Eterno Pai, eu Vos ofereço o Corpo e

Sangue, a Alma e Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso Senhor

Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e do mundo inteiro. Pela

Sua dolorosa Paixão, tem Misericórdia de nós.

 

476. Na manhã seguinte, quando entrei na nossa capela, ouvi esta voz

interior: Sempre que entrares na capela reza imediatamente esta oração

que te ensinei ontem. Quando rezei esta prece, ouvi na alma estas palavras:

Esta oração é para aplacar a Minha ira, rezá-la-ás durante nove dias

como um terço do rosário, do modo seguinte: primeiro rezarás uma vez

o Pai nosso, a Ave Maria e o Credo, depois, nas contas correspondentes

ao Pai nosso, dirás as seguintes palavras: Eterno Pai, eu Vos ofereço o

Corpo e Sangue, a Alma e Divindade de Vosso diletíssimo Filho, Nosso

Senhor Jesus Cristo, em expiação dos nossos pecados e do mundo

inteiro.. Nas contas das Ave Maria, dirás as seguintes palavras: Pela

Sua dolorosa Paixão, tende misericórdia de nós e do mundo inteiro..

Para terminar, dirás três vezes estas palavras: Deus Santo, Deus Forte,

Deus Imortal, tende piedade de nós e do mundo inteiro.

 

477. O silêncio é uma espada na luta espiritual; uma alma tagarela nunca

alcançará a santidade. Esta espada do silêncio cortará tudo o que queira

pegar-se à alma. Somos sensíveis às palavras e queremos responder de

imediato, sem reparar se é vontade de Deus que falemos. A alma silenciosa

é forte; nenhuma contrariedade lhe fará dano se perseverar no silêncio. A

alma silenciosa é capaz da mais profunda união com Deus; vive quase

sempre sob a inspiração do Espírito Santo. Na alma silenciosa Deus actua

sem obstáculos.

 

478. Oh meu Jesus, Tu sabes, somente Tu sabes bem que o meu coração

não conhece outro amor fora de Ti. Todo o meu amor virginal é mergulhado

em ti, oh Jesus, pela eternidade. Sinto bem que o Teu Sangue divino circula

no meu coração; não há dúvida alguma que com o Teu preciosíssimo

Sangue entrou no meu coração o Teu puríssimo Amor. Sinto que habitas em

mim com o Pai e o Espírito Santo, ou melhor, sinto que eu vivo em Ti, oh

Deus inimaginável. Sinto que me dissolvo em Ti como uma gota no oceano.

Sinto que estás em mim e no meu íntimo, sinto que estás em tudo o que me

rodeia, em tudo o que me sucede. Oh meu Deus, conheci-Te dentro do meu

coração e amei-Te acima de qualquer coisa que exista na Terra ou no Céu.

Os nossos corações entendem-se mutuamente, mas ninguém o

compreenderá.

 

479. A segunda confissão com o Arcebispo. «Hás de saber, minha

filha, que se esta é a vontade de Deus, tarde ou cedo, se realizará, porque a

vontade de Deus tem que cumprir-se. Ama a Deus no teu coração, ten …

»[a frase ficou interrompida].

 

480. 29 IX Festa de São Miguel Arcanjo. Fiquei unida

intimamente a Deus. A sua presença penetra-me profundamente e enche-me

de serenidade, de alegria e de assombro. Depois desses momentos de prece

estou cheia de força, de uma valentia misteriosa para afrontar sofrimentos e

luta; nada me espanta, embora o mundo inteiro esteja contra mim; todas as

contrariedades tocam a superfície, mas não têm acesso ao meu íntimo,

porque ali mora Deus que me dá força, que me enche de Si.

 

É junto do seu escabelo que se desfazem todas as emboscadas do

inimigo. Nestes momentos de união Deus sustenta-me com o seu poder; dáme o seu poder e capacita-me para O amar. A alma nunca o alcança com os

seus próprios esforços. Ao começo desta graça interior, enchia-me de medo

e comecei a guiar-me, isto é, a deixar-me levar pelo temor, mas pouco

depois o Senhor deu-me a conhecer quanto isso lhe desagradava. Mas

também isto - a minha tranquilidade - foi Ele Mesmo que o decidiu.

 

481. Quase todas as solenidades da Santa Igreja me proporcionam um

conhecimento mais profundo de Deus e uma graça especial; por isso me

preparo para cada solenidade e me uno estreitamente ao espírito da Igreja.

Que alegria ser uma filha fiel da Igreja. Oh, quanto amo a Santa Igreja e

todos que vivem nela. Vejo-os como membros vivos de Cristo que é a sua

Cabeça. Inflamo-me de amor com os que amam, sofro com os que sofrem, a

dor me consome olhando os tíbios e os ingratos; então procuro um amor tão

grande a Deus que compense por aqueles que não o amam, que cumulam o

seu Salvador com negra ingratidão.

 

482. Oh meu Deus, estou consciente da minha missão na Santa Igreja. O

meu contínuo empenho é impetrar a Misericórdia para o mundo. Uno-me

estreitamente a Jesus e apresento-me como vítima que implora pelo mundo.

Deus não me recusará nada quando lhe suplico pela voz do Seu Filho. O

meu sacrifício é nada por si mesmo, mas quando o uno ao sacrifício de

Jesus, faz-se omnipotente e tem força para aplacar a ira divina. Deus amanos em Seu Filho, a dolorosa Paixão do Filho de Deus é um contínuo

aplacamento da ira de Deus.

 

483. Oh Deus, quanto desejo que as almas Te conheçam, que saibam que

as creaste por Teu amor inconcebível; oh Criador e Senhor, sinto que

descerrarei as cortinas do Céu para que a Terra não duvide da Tua bondade.

Faz de mim, oh Jesus, uma vítima agradável e pura diante do Rosto do

Teu Pai. Oh Jesus, transforma-me miserável e pecadora, em Ti, já que Tu

podes e entrega-me a Teu Pai Eterno. Desejo transformar-me na hóstia

expiatória diante de Ti, mas numa hóstia não consagrada diante dos

homens; desejo que a fragância do meu sacrifício seja conhecida só por Ti.

Oh Deus Eterno, ateia em mim um fogo inextinguível de súplica pela Tua

Misericórdia; sinto e compreendo que esta é a minha tarefa, aqui e na

eternidade. Tu Mesmo me mandaste falar desta grande Misericórdia Tua e

da Tua bondade.

 

484. Em certa ocasião compreendi, quanto desagrada a Deus a acção,

embora seja a mais louvável, sem o selo da intenção pura; tais acções

incitam a Deus mais ao castigo do que à recompensa. Que na nossa vida as

haja o menos possível, enquanto na vida religiosa não deveriam existir em

absoluto.

 

485. Com igual disposição recebo a alegria e o sofrimento, o louvor e a

humilhação; recordo que uns e outros são passageiros. ¿Que me importa o

que digam de mim? Já há muito que renunciei a tudo o que respeita à minha

pessoa. O meu nome é hóstia, isto é, vítima, não na palavra mas na acção,

no aniquilamento de mim própria, assemelhar-me a Ti na cruz, oh Bom

Jesus e meu Mestre.

 

486. Oh Jesus, quando vens a mim na Santa Comunhão, Tu que Te

dignaste habitar com o Pai e o Espírito Santo no pequeno Céu do meu

coração, procuro acompanhar-te durante o dia inteiro, não Te deixo só nem

um momento. Mesmo que esteja em companhia de outras pessoas ou com

as alunas, o meu coração está sempre unido a Ele. Quando adormeço,

ofereço-Lhe cada batimento do meu coração, quando acordo mergulho

n’Ele sem dizer uma palavra. Ao despertar, adoro por um momento a

Santíssima Trindade e agradeço-Lhe por me ter oferecido mais um dia, por

uma vez mais se repetir em mim o mistério da Encarnação de Seu Filho, por

uma vez mais, diante dos meus olhos, se repetir a sua dolorosa Paixão.

Trato então de facilitar a Jesus que alcance, através de mim, outras almas.

Com Jesus vou a todo o lado, a sua presença acompanha-me sempre.

 

487. Nos sofrimentos da alma ou do corpo trato de ficar calada, porque

então o meu espírito adquire a fortaleza que vem da Paixão de Jesus. Diante

dos meus olhos tenho sempre o Seu Rosto doloroso, insultado e

desfigurado, o Seu Divino Coração, trespassado pelos nossos pecados e,

especialmente, pela ingratidão das almas escolhidas.

 

488.Por duas vezes fui avisada para que me preparasse para os

sofrimentos que me esperavam [em] Varsóvia; a primeira advertência foi

interior, através de uma voz escutada, a segunda foi durante a Santa Missa.

Antes da elevação vi Jesus crucificado que me disse: Prepara-te para

sofrimentos. Agradeci ao Senhor esta graça de me ter advertido e disse-Lhe

que seguramente não sofrerei mais que Tu, meu Salvador. No entanto fiquei

impressionada e tentei fortalecer-me com a oração e com pequenos

sofrimentos, para poder suportar os maiores quando chegassem.

 

19 X 1935

 

489. Viagem de Vilna para Cracóvia, para os exercícios espirituais de

oito dias.

Na sexta-feira à noite, durante o rosário, quando pensava na viagem do

dia seguinte e na importância do assunto que ia apresentar ao Padre

Andrasz, envolveu-me o temor vendo claramente a minha miséria e a

minha incapacidade face à grandeza da Obra de Deus. Abatida por esse

sofrimento, confiei-me à vontade de Deus. Naquele instante vi Jesus junto

ao meu genuflexório, com uma túnica clara, e disse-me estas palavras:

¿Porque tens medo de cumprir a Minha vontade? ¿Crês que não te

ajudarei como até agora? Repete cada uma das Minhas exigências

diante daqueles que Me substituem na Terra e faz somente o que te

mandem. Naquele momento uma [grande] força entrou na minha alma.

 

490. Na manhã seguinte vi o Anjo da Guarda que me acompanhou na

viagem até Varsóvia. Quando entrámos no convento desapareceu. Quando

passávamos junto a uma pequena capelinha para cumprimentar as

Superioras, num momento envolveu-me a presença de Deus e o Senhor

encheu-me do fogo do Seu amor. Em tais momentos sempre conheço

melhor a grandeza da Sua Majestade.

 

Ao subirmos para o comboio de Varsóvia a Cracóvia, vi novamente o

meu Anjo da Guarda junto a mim, que rezava contemplando a Deus, e o

meu pensamento seguiu-o; quando entrámos na porta do convento,

desapareceu.

 

491. Ao entrar na capela, a Majestade de Deus envolveu-me outra vez,

senti-me submergida totalmente em Deus, toda mergulhada n’Ele e

impregnada, vendo quanto o Pai Celestial nos ama. Oh, que grande

felicidade encheu a minha alma pelo conhecimento de Deus, da vida de

Deus. Desejo compartilhar esta felicidade com todos os homens, não posso

encerrar esta felicidade no meu coração somente, porque os seus raios me

queimam e fazem dilacerar o meu peito e as minhas entranhas. Desejo

percorrer o mundo inteiro e falar às almas da grande Misericórdia de Deus.

Oh sacerdotes, ajudem-me nisto, usem as palavras mais convincentes sobre

a Sua Misericórdia, porque toda a expressão é muito débil para exprimir

quanto é misericordioso.

 

492. Exercícios espirituais de oito dias.

 

Oh Deus Eterno, a própria Bondade, inconcebível na Tua Misericórdia

por nenhuma mente humana nem angélica, ajuda-me, que sou uma simples

criança, a cumprir a Tua santa vontade, como ma dás a conhecer. Não

desejo outra coisa que cumprir os desejos de Deus. Eis aqui, Senhor, a

minha alma e o meu corpo, a minha mente e a minha vontade, o meu

coração e tudo o meu amor e dispõe de mim segundo os Teus eternos

desígnios.

 

493. Depois da Santa Comunhão a minha alma foi inundada novamente

pelo amor de Deus. Gozo com a Sua grandeza; vejo claramente a Sua

vontade, a qual devo cumprir, e ao mesmo tempo vejo a minha debilidade e

a minha miséria, vejo que sem a Sua ajuda não posso fazer nada.

 

494. No segundo dia dos exercícios espirituais.

Antes de ir ao locutório falar com o Padre Andrasz, senti receio devido a

que, acima de tudo, o segredo existe somente no confessionário; foi um

temor infundado. A madre Superiora tranquilizou-me com uma só palavra.

Mas quando entrei na capela, ouvi na alma estas palavras: Desejo que sejas

tão sincera e simples com o Meu representante como uma criança,

assim como és Comigo; do contrário abandonar-te-ei e não Me

relacionarei contigo.

De facto, Deus concedeu-me esta grande graça da confiança absoluta e,

terminada a conversa, Deus concedeu-me a graça de uma profunda

serenidade e de luz em relação a estas coisas.

 

495. Oh Jesus, Luz eterna, ilumina a minha mente, fortalece a minha

vontade e incendeia o meu coração. Fica comigo como me prometeste,

porque sem Ti não sou nada. Tu sabes, oh meu Jesus, como sou fraca; afinal

nem preciso de falar disto, já que Tu és quem sabe melhor quão miserável

sou. Em Ti, apenas, está toda a minha força.

 

496. O dia da confissão.

Desde manhã cedo comecei a sentir a luta interior tão forte como nunca

antes tinha experimentado. Num abandono total de parte de Deus senti toda

a fraqueza que sou, os pensamentos sufocavam-me: ¿Por que deveria

abandonar este convento onde me querem as irmãs e as Superioras?, a vida

[é] tão tranquila; ligada pelos votos perpétuos, cumpro as minhas

obrigações com facilidade; ¿por que escutar a voz da consciência? ¿por que

seguir fielmente a inspiração? quem sabe de quem provém? ¿não é melhor

comportar-me como todas as irmãs? Talvez possa abafar as palavras do

Senhor, sem fazer caso delas. Talvez Deus não me venha pedir conta delas

no dia do juízo. ¿Aonde me levará esta voz interior? Se a sigo, esperam-me

terríveis tribulações, sofrimentos e contrariedades; temo o futuro e já estou

agonizando no presente.

 

Este sofrimento durou o dia inteiro com igual intensidade. Ao anoitecer,

ao aproximar-me da confissão, apesar de me ter preparado, não pude

confessar-me por inteiro; recebi a absolvição e afastei-me sem saber o que

se passava comigo. Ao deitar-me, o sofrimento atingiu o máximo grau, ou

melhor dito, transformou-se num fogo que como um relâmpago penetrou

todas as faculdades da alma, até à medula dos ossos, até à mais íntima

célula do coração. Nesse sofrimento não conseguia fazer nada: Que se faça

a Tua vontade, Senhor; mas nalgums momentos nem sequer pude pensar

nisso; de verdade, angustiava-me um pavor mortal e atingia-me o fogo

infernal. De madrugada reinou o silêncio e os sofrimentos desapareceram

num abrir e fechar de olhos, mas sentia um esgotamento tão tremendo que

não podia fazer o mais pequeno movimento; pouco a pouco voltavam-me as

forças enquanto falava com a Madre Superiora, mas somente Deus sabe

como me senti durante todo o dia.

 

497. Oh Verdade eterna, Palavra encarnada que cumpriste a vontade do

Teu Pai da maneira mais fiel, hoje torno-me mártir das Tuas inspirações por

não poder realizá-las, visto que careço da minha própria vontade; apesar de

conhecer claramente a Tua santa vontade dentro de mim, submeto-me em

tudo à vontade das Superioras e do confessor; eu cumprirei na medida em

que Tu mo permitas por meio do Teu representante. Oh meu Jesus,

anteponho a voz da Igreja à voz com a qual Tu me falas.

 

498. Depois da Santa Comunhão.

Vi Jesus, como sempre, dizendo-me estas palavras: Apoia a tua cabeça

no Meu ombro e descansa e fortalece-te. Eu estou sempre contigo. Diz

ao amigo do Meu Coração, diz-lhe que Me sirvo de tão débeis criaturas

para realizar as Minhas obras. Depois o meu espírito foi fortalecido com

uma estranha força. Diz-lhe que, na confissão, permiti-lhe conhecer a tua

fraqueza, o que és por ti mesma.

 

499. Cada luta mantida com valentia traz-me alegria e paz, luz e

experiência, ânimo para o futuro, honra e glória a Deus e para mim a

recompensa final.

Hoje é a festa de Cristo Rei.

 

500. Durante a Santa Missa pedi com fervor que Jesus seja o Rei de

todos os corações, que a graça de Deus resplandeça em cada alma. Então vi

Jesus, como está pintado nesta imagem, dizendo-me estas palavras: Minha

filha, rendes-Me a maior glória cumprindo fielmente os Meus desejos.

 

501. Oh, que grande é a Tua beleza, Jesus, Esposo meu, Flor vivaz e

viçosa, na qual está encerrado o orvalho que dá a vida á alma sedenta. Em

Ti submergiu-se a minha alma. Tu somente és o objecto das minhas

aspirações e dos meus desejos; une-me a Ti o mais estreitamente que é

possível e ao Pai e ao Espírito Santo para que viva e morra em Ti.

 

502. Só o amor tem importância, é ele que eleva as nossas mais

pequenas acções até ao infinito.

 

503. Oh meu Jesus, de verdade, eu não saberia viver sem Ti, o meu

espírito fundiu-se com o Teu. Ninguém o compreenderá bem, primeiro há

que viver de Ti para conhecer-Te nos outros.

 

Cracóvia 25 X 1935

 

504. Propósitos depois dos exercícios espirituais.

Não fazer nada sem licença do confessor e a concordância das

Superioras em tudo, especialmente nas inspirações e nas exigências do

Senhor.

Todos os momentos livres passá-los-ei com o Hóspede divino dentro de

mim; procurarei manter o silêncio interior e exterior para que Jesus

descanse no meu coração.

 

O meu descanso mais grato será servir e estar disponível para as irmãs.

Esquecer-me de mim mesma e pensar em agradar às irmãs.

Não me justificarei nem me desculparei de nenhuma censura que me

façam; permitirei que me julguem como quiserem.

Tenho um único Confidente a quem revelo tudo e ele é Jesus na

Eucaristia e, em Sua substitução, o confessor.

 

Em todos os sofrimentos da alma ou do corpo, nas trevas ou no

abandono ficarei silenciosa como uma pomba, sem me queixar.

Imolar-me-ei em cada momento como uma vítima [postrando-se] a Seus

pés para impetrar Misericórdia pelas pobres almas.

 

505. Toda a minha nulidade se afoga no mar da Tua Misericórdia; com a

confiança de criança acolho-me nos Teus braços, Pai de Misericórdia, para

compensar-Te da desconfiança de tantas almas que têm medo de confiar em

Ti. Oh, que pequeno é o número de almas que Te conhecem

verdadeiramente.

Oh, como desejo que a Festa da Misericórdia seja conhecida pelas

almas. A Misericórdia é a coroa das Tuas obras; Tu dispões tudo com o

carinho da mãe mais terna.

 

506. JMJ Cracóvia 27 X 1935

 

Padre Andrasz – conselho espiritual.

«Não fazer nada sem o consentimento das Superioras. Esta questão há

que reflecti-la bem e rezar muito. Nestas matérias há que ser muito

prudente, já que a irmã tem aqui a vontade de Deus certa e clara, porque

está unida a esta ordem pelos votos, e sobretudo pelos perpétuos; pois não

deve haver dúvidas, o que tem dentro de si são apenas relâmpagos de algo

que se está a gerar.

 

Deus pode fazer alterações, mas estas coisas sucedem muito raramente.

Até que não receba um conhecimento mais evidente, não tenha pressa. As

obras de Deus desenvolvem-se lentamente; se são de Deus, conhecerá

claramente, e se não forem esfumar-se-ão e a irmã, obedecendo, não se

extraviará. Mas deve falar de tudo sinceramente com o confessor e ouvi-lo

cegamente.

 

Por agora, irmã, não lhe resta outra coisa que aceitar o sofrimento até

que isto se esclareça, isto é, até à solução deste problema. A sua disposição

a respeito destas coisas é boa e siga assim, cheia de simplicidade e de

espírito de obediência, o que é um bom sinal. Se a irmã, prosseguir nesta

disposição, Deus não lhe permitirá extraviar-se; na medida em que é

possível, deve manter-se afastada destas coisas e se, apesar disso,

acontecerem, olhá-las com tranquilidade, não ter medo de nada. Está nas

boas mãos de um Deus tão bom. Em tudo o que me disse, não vejo

nenhuma ilusão nem contradição com a fé: estas são por si coisas boas e até

seria bom que houvesse um grupo de almas que pedissem a Deus pelo

mundo, porque todos necessitamos orações. Tem um bom director

espiritual, deixe-se guiar por ele e esteja tranquila. Seja fiel à vontade de

Deus e cumpra-a. Quanto às suas obrigações, faça o que lhe mandam, como

o mandam, embora seja uma coisa humilhante e penosa. Escolha sempre o

último lugar e então lhe dirão: Senta-te mais acima. Na alma e no

comportamento deve considerar-se a última de toda a casa e de toda a

Congregação. Em tudo e sempre a máxima fidelidade a Deus».

 

507. Desejo, meu Jesus, sofrer e arder com o fogo do amor em todos os

acontecimentos da vida.

Pertenço-Te a Ti inteira, desejo absorver-me em Ti, oh Jesus, desejo

perder-me na Tua divina beleza. Tu persegues-me, Senhor, com o Teu amor,

como um raio do sol penetras dentro de mim e transformas a escuridão da

minha alma na Tua claridade. Sinto bem que vivo em Ti como uma chama

pequenina absorvida por um fogo incrível, em que Tu ardes, oh Trindade

impenetrável. Não existe uma alegria maior do que o amor de Deus. Já aqui

na Terra podemos saborear a vida dos habitantes do Céu por meio de uma

estreita união com Deus, misteriosa e às vezes inconcebível para nós. Pode

obter-se a mesma graça com a simples fidelidade da alma.

 

508. Quando se apodera de mim uma certa má disposição e de

aborrecimento pelas minhas obrigações, então recordarei a mim mesma que

estou na casa do Senhor onde não há nada pequeno, onde da pequena acção,

levada a cabo com a intenção dirigida ao Céu, pode depender a glória da

Igreja e o progresso de mais de uma alma, pois não há nada pequeno no

convento.

 

509. Nas contrariedades que experimento, recordo que o tempo de luta

não terminou, encho-me de paciência e deste modo venço o inimigo.

 

510. Não procuro de forma interesseira a perfeição em nenhuma parte,

mas tento sondar o espírito de Jesus e contemplo as suas acções relatadas no

Evangelho e embora vivesse mil anos, não esgotaria o que nele está

contido.

 

511. Quando as minhas intenções não são aceites e [até] condenadas, não

me surpreendo muito, já que sei que só Deus vê no meu coração. A verdade

não se perde, o coração ferido virá a curar-se com o tempo e o meu espírito

fortalece-se na adversidade. Nem sempre escuto o que me diz o coração,

mas peço a Deus luz; quando sinto que recuperei o equilibrio, então é que

falo mais.

 

512. O dia da renovação dos votos. A presença de Deus inundou a minha

alma. Durante a Santa Missa vi Jesus que me disse estas palavras: Tu és a

Minha grande alegria; o teu amor e a tua humildade fazem que deixe o

trono do Céu e Me una a ti. O amor preenche o abismo que há entre a

Minha Grandeza e o teu nada.

 

513. O amor inunda a minha alma, estou submergida no oceano do amor,

sinto que desfaleço e me perco completamente n’Ele.

 

514. Oh Jesus, faz o meu coração semelhante ao Teu, ou melhor

transforma-o no Teu próprio [Coração] para que possa sentir as

necessidades dos outros corações e, especialmente, dos que sofrem e estão

tristes.

Que os raios da Misericórdia descansem no meu coração.

 

515. Uma vez, ao anoitecer, quando passeava pela jardim rezando o

rosário, cheguei ao cemitério, entreabri a porta e comecei a rezar um

momento e perguntei interiormente: ¿Sois muito felizes, não é verdade? De

repente ouvi estas palavras: «Somos felizes na medida em que cumprirmos

a vontade de Deus…» e depois, o silêncio como antes. Recolhi-me e pensei

muito tempo como cumpro a vontade de Deus e como aproveito o tempo

que Deus me concede.

 

516. Nesse mesmo dia, quando fui descansar, durante a noite veio

visitar-me uma alminha que, batendo na mesa de cabeceira, me acordou e

pediu oração. Quis perguntar-lhe quem era, mas mortifiquei a minha

curiosidade e uni essa pequena mortificação à oração que por ela ofereci.

 

517. Uma vez, quando fui visitar uma irmã doente que tinha já

oitenta e quatro anos e se distinguia por muitas virtudes, perguntei-lhe: ¿Por

certo a irmã já estará preparada para se apresentar diante do Senhor?

Respondeu-me que durante toda a vida se vinha preparando para esta última

hora e acrescentou que a idade não dispensa da luta.

 

518. Na véspera do dia de Fiéis Defuntos quando, ao entardecer, fui ao

cemitério que estava fechado, mas entreabri um pouco a porta e disse: Se

desejarem alguma coisa, queridas almas, fá-la-ei com gosto, dentro do que

me permite a Regra. Então ouvi estas palavras: «Cumpre a vontade de

Deus. Nós somos felizes na medida em que cumprirmos a vontade de

Deus».

 

519. Durante a noite aquelas almas vieram e pediram-me as minhas

preces; rezei muito por elas. Enquanto a procissão voltava do cemitério, vi

uma multidão de almas que rezavam juntamente connosco e iam para a

capela. Rezei muito porque tinha licença das Superioras.

 

520. De noite voltou a visitar-me uma alma que já tinha visto

anteriormente, mas essa alma não me pediu orações, mas antes me censurou

porque eu era muito vaidosa e soberba, e intercedia tanto por outros tendo

eu ainda alguns defeitos. Respondi que tinha sido muito soberba e vaidosa,

mas que já me confessei e fiz penitência pela minha estupidez e confio na

bondade do meu Deus, e se agora caio é involuntariamente e nunca com

premeditação, embora seja na coisa mais pequena. No entanto aquela alma

continuou a censurar-me: «¿Por que não queres reconhecer a minha

grandeza? Todos me reconhecem pelas minhas grandes obras, ¿por que só

tu não me dás glória?» Então vi que naquela figura estava Satanás e disse:

Só a Deus é devida glória, ¡Arreda, Satanás! E de imediato essa alma caiu

num abismo horrível, inconcebível, indescritível; e disse àquela miserável

alma que eu o haveria de contar a toda a Igreja.

 

521. No sábado voltámos já de Cracóvia para Vilna. De passagem

passámos por Czestochowa. Quando rezei diante da imagem milagrosa,

senti que eram agradáveis [a frase foi interrompida].

 

Fim do primeiro caderno manuscrito do DIÁRIO

 

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