TESTEMUNHAS DA POBREZA EVANGÉLICA

TESTEMUNHAS DA POBREZA EVANGÉLICA

63. No século XIII, diante do crescimento das cidades, da concentração de riquezas e do surgimento de novas formas de pobreza, o Espírito Santo suscitou na Igreja um novo tipo de consagração: as Ordens mendicantes. Ao contrário do modelo monástico estável, os mendicantes adotaram uma vida itinerante, sem propriedade pessoal ou comunitária, inteiramente confiada à Providência. Não apenas serviam os pobres: tornavam-se pobres com eles. Encaravam a cidade como novo deserto, e os marginalizados como novos mestres espirituais. Essas Ordens, como os Franciscanos, os Dominicanos, os Agostinianos e os Carmelitas, representaram uma revolução evangélica, na qual o estilo de vida simples e pobre se converte em sinal profético para a missão, revivendo a experiência da primeira comunidade cristã (cf. Act 4, 32). O testemunho dos mendicantes desafiava tanto a opulência clerical quanto a frieza da sociedade urbana.

 

64. São Francisco de Assis tornou-se o ícone dessa primavera espiritual. Tomando por esposa a pobreza, quis imitar Cristo pobre, nu e crucificado. Em sua Regra, pede aos irmãos que «não tenham propriedade sobre coisa alguma, nem sobre casa, nem lugar, nem outra coisa qualquer; mas, como peregrinos e viandantes que neste mundo servem ao Senhor em pobreza e humildade, peçam esmolas com confiança; disso não se devem envergonhar, porque o Senhor se fez pobre por nós, neste mundo». A sua vida foi um contínuo despojamento: do palácio ao leproso, da eloquência ao silêncio, da posse ao dom total. Francisco não fundou um serviço social, mas uma fraternidade evangélica. Entre os pobres, via irmãos e imagens vivas do Senhor. A sua missão era estar com eles, por uma solidariedade que superava as distâncias, por um amor compassivo. A sua pobreza era relacional: levava-o a fazer-se próximo, igual, na verdade, menor. A sua santidade brotava da convicção de que só se recebe verdadeiramente a Cristo na entrega generosa de si mesmo aos irmãos.

 

65. Santa Clara de Assis, inspirada por Francisco, fundou a Ordem das Damas Pobres, depois chamadas Clarissas. A sua luta espiritual consistiu em manter fielmente o ideal da pobreza radical. Recusou privilégios pontifícios que poderiam proporcionar segurança material ao seu mosteiro e, com firmeza, obteve do Papa Gregório IX o chamado Privilegium Paupertatis, garantindo o direito de viver sem a posse de qualquer bem material. Esta opção expressava a confiança total em Deus, e a consciência de que a pobreza voluntária era forma de liberdade e profecia. Clara ensinava às suas irmãs que Cristo era a sua única herança e que nada devia obscurecer a comunhão com Ele. A sua vida orante e escondida foi um grito contra o mundanismo e uma defesa silenciosa dos pobres e esquecidos.

 

66. São Domingos de Gusmão, contemporâneo de Francisco, fundou a Ordem dos Pregadores com outro carisma, mas a mesma radicalidade. Desejava anunciar o Evangelho com a autoridade que brota duma vida pobre, convencido de que a Verdade precisa de testemunhas coerentes. O exemplo da pobreza de vida acompanhava a Palavra pregada. Livres do peso dos bens terrenos, os frades dominicanos podiam dedicar-se melhor à sua obra principal, ou seja, a pregação. Dirigiam-se às cidades, sobretudo àquelas universitárias, para ensinar a verdade de Deus. Ao dependerem dos outros, demonstravam que a fé não se impõe, mas se oferece. E, ao viverem entre os pobres, aprendiam a verdade do Evangelho “de baixo”, como discípulos do Cristo humilhado.

 

67. As Ordens mendicantes foram, assim, resposta viva à exclusão e à indiferença. Não propuseram expressamente reformas sociais, mas uma conversão pessoal e comunitária à lógica do Reino. A pobreza, nelas, não era resultado da escassez de bens, mas uma escolha livre: fazer-se pequeno para acolher o pequeno. Como disse Tomás de Celano sobre Francisco: «Passou a ser o maior amigo dos pobres [...] despiu-se para vestir os pobres, procurando assemelhar-se a eles». Os mendicantes tornaram-se sinal de uma Igreja peregrina, humilde e fraterna, que vive entre os pobres não por estratégia proselitista, mas por identidade. Eles ensinam que a Igreja é luz quando se despoja de tudo e que a santidade passa por um coração humilde e dedicado aos pequenos.

 

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