UM FOGO NO MEIO DA NOITE

UM FOGO NO MEIO DA NOITE

25. Teresinha experimentava a fé mais forte e segura no meio da escuridão da noite e até na escuridão do Calvário. O seu testemunho atingiu o ponto culminante no último período da vida, na grande «provação contra a fé», que começou na Páscoa de 1896. Na sua narração, coloca esta provação em relação direta com a dolorosa realidade do ateísmo do seu tempo. De facto, viveu no final do século XIX, isto é, na «idade de ouro» do ateísmo moderno como sistema filosófico e ideológico. Quando escrevia que Jesus permitira que a sua alma «fosse invadida pelas mais espessas trevas», pensava na obscuridade do ateísmo e na rejeição da fé cristã. Em união com Jesus, que acolheu em Si toda a obscuridade do pecado do mundo quando aceitou beber o cálice da Paixão, Teresinha prova, naquela escuridão tenebrosa, o desespero, o vazio do nada.

 

26. Mas a obscuridade não pode extinguir a luz: a obscuridade foi vencida por Aquele que, como Luz, veio ao mundo (cf. Jo 12, 46). A narração de Teresinha manifesta o caráter heroico da sua fé, a sua vitória no combate espiritual contra as mais fortes tentações. Sente-se irmã dos ateus e sentada, como Jesus, à mesa com os pecadores (cf. Mt 9, 10-13). Intercede por eles, ao mesmo tempo que renova continuamente o seu ato de fé, sempre em comunhão amorosa com o Senhor: «Corro para o meu Jesus, e digo-Lhe que estou pronta a derramar o sangue até à última gota para confessar que o Céu existe. Digo-Lhe que estou contente por não gozar esse belo Céu sobre a terra, para que Ele o abra por toda a eternidade aos pobres incrédulos».

 

27. Juntamente com a fé, Teresa vive intensamente uma confiança ilimitada na misericórdia infinita de Deus, «a confiança [que] tem de conduzir-nos ao Amor». Vive, mesmo na escuridão, a confiança total da criança que se abandona sem medo nos braços do pai e da mãe. De facto, para Teresinha, Deus resplandece antes de mais nada através da sua misericórdia, chave de compreensão para qualquer outra coisa que se diga d’Ele: «A mim deu-me a sua Misericórdia infinita, e é através dela que contemplo e adoro as demais perfeições divinas. Assim, todas se me apresentam resplandecentes de amor. A própria Justiça (e talvez mais ainda que qualquer outra) me parece revestida de amor». Esta é uma das descobertas mais importantes de Teresinha, um dos maiores contributos que prestou a todo o Povo de Deus. De modo extraordinário, penetrou nas profundezas da misericórdia divina e, de lá, retirou a luz da sua ilimitada esperança.

 

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