148. A devoção ao Coração de Cristo reaparece no caminho espiritual de vários santos muito diferentes entre si e, em cada um deles, esta devoção assume novos aspectos. São Vicente de Paulo, para dar um exemplo, dizia que o que Deus quer é o coração: «Deus pede principalmente o coração, o coração, que é o principal. Por que razão quem não tem bens merece mais do que quem, tendo grandes posses, renuncia a elas? Porque quem não tem nada, vai a Ele com mais afeto; e é isso que Deus quer de modo especial». Isto implica aceitar que o próprio coração se una ao de Cristo: «Uma Irmã que faz todo o possível para predispor o seu coração a estar unido ao de Nosso Senhor […] quantas bênçãos não receberá de Deus!».
149. Por vezes, somos tentados a considerar este mistério de amor como um admirável feito do passado, como uma bela espiritualidade de outros tempos, mas devemos recordar sempre de novo, como dizia um santo missionário, que «este Coração divino, que suportou ser trespassado por uma lança inimiga para poder derramar por aquela ferida sagrada os Sacramentos, onde se formou a Igreja, jamais deixou de amar». Santos mais recentes, como São Pio de Pietrelcina, Santa Teresa de Calcutá e tantos outros, falam com sincera devoção do Coração de Cristo. Mas gostaria de recordar também as experiências de Santa Faustina Kowalska, que repropõem a devoção ao Coração de Cristo colocando uma forte ênfase na vida gloriosa do Ressuscitado e na misericórdia divina. Com efeito, motivado pelas experiências desta santa e bebendo da herança espiritual do bispo São Józef Sebastian Pelczar (1842-1924), São João Paulo II relacionou intimamente a sua reflexão sobre a misericórdia com a devoção ao Coração de Cristo: «A Igreja parece professar de modo particular a misericórdia de Deus e venerá-la, voltando-se para o Coração de Cristo. Com efeito, a aproximação de Cristo, no mistério do seu Coração, permite deter-nos neste ponto da revelação do amor misericordioso do Pai, que constituiu, em certo sentido, o núcleo central […] da missão messiânica do Filho do Homem». O próprio São João Paulo II, referindo-se ao Sagrado Coração, reconheceu de modo muito pessoal: «Ele falou-me desde a idade juvenil».
150. A atualidade da devoção ao Coração de Cristo é particularmente evidente na ação evangelizadora e educativa de numerosas congregações religiosas femininas e masculinas, marcadas desde as suas origens por esta experiência espiritual cristológica. Mencioná-las todas seria uma tarefa interminável. Vejamos apenas dois exemplos escolhidos ao acaso: «O Fundador [São Daniel Comboni] encontrou no mistério do Coração de Jesus a força para o seu empenho missionário». «Impelidas pelo amor do Coração de Jesus, procuramos o crescimento das pessoas na sua dignidade humana e como filhos e filhas de Deus, com base no Evangelho e nas suas exigências de amor, perdão, justiça e solidariedade para com os pobres e marginalizados». Do mesmo modo, os Santuários consagrados ao Coração de Cristo, espalhados por todo o mundo, são uma atraente fonte de espiritualidade e fervor. A todos aqueles que, de algum modo, colaboram nestes lugares de fé e de caridade, dirijo a minha bênção paterna.