EXERCICIOS ESPIRITUAIS PARA A CONSAGRAÇÃO MARIANA DE SÃO LUIS MARIA MONTFORT
I
DOZE DIAS PRELIMINARES PARA QUE NOS ESVAZIEMOS DO ESPÍRITO DO MUNDO
ORAÇÕES
Veni Sacte Spiritus e Ave Maria Stella
LEITURAS
Evangelho segundo São Mateus, capítulos 5,6 e 7.
Imitação de Cristo: Livro I, capítulos 13, 18 e 25, Livro III, capítulos 10, 40
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS
Exame de consciência, prática de mortificação.
ORAÇÕES
Veni Sacte Spiritus
VENI CREATOR
Vinde, Espírito criador ,
visitai as almas dos vossos fiéis
e enchei da graça do alto os corações
que criastes.
Vós que sois chamado o consolador,
dom de Deus Altíssimo, fonte de vida
fonte de caridade e unção espiritual.
Vós que espalhais os sete dons nas almas,
sois o dedo da direita do Pai,
solenemente prometido aos homens
e que colocais nos seus lábios a Vossa palavra.
Fazei brilhar a Vossa luz aos nossos olhos,
infundi o Vosso amor nos nossos corações,
sustentai a fraqueza da nossa carne pela
Vossa virtude.
Repeli para longe os nossos inimigos,
dai-nos prontamente a paz
e sob a Vossa guia evitaremos todo o mal.
Por Vós conheçamos o Pai e também o Filho;
acreditemos sempre em Vós, Espírito que
procedeis de Um e de Outro.
Seja dada glória ao Pai, ao Filho que ressuscitou
dos mortos e ao Paráclito, por todos
os séculos dos séculos.
VENI CREATOR (latim)
Veni, creator Spiritus, mentes tuorum visita
Imple superna gratia Qua tu creasti pectora.
Qui diceris Paraclitus, Altissimi donum Dei
Fons vivus, ignis charitas
Et spiritualis unctio
Tu septiformis munere,
Tu rite promissum Patris
Sermone ditans guttura.
Accende lumen sensibus,
Infude amorem cordibus,
Infirma nostri corporis
Virtute firmans perpeti
Hostem repelas longius,
Pacemque dones protinus
Ductore sic te praevio
Vitemus omne noxium.
Per te sciamus da Patrem,
Noscamus atque Filium.
Teque utriusque Spiritum
Credamus omni tempore.
Deo Patri sit glória,
Et Filio, qui a mortuis
Surrexit, ac Paraclito,
In saeculorum saecula,
Amen
Ave Maria Stella
Salve, Estrela do mar,
Mãe fecunda de Deus,
Ficando sempre Virgem;
Feliz porta do Céu.
Vós que de Gabriel
Ouviste aquele Ave,
Estabelecei-nos na paz,
Mudando o nome de Eva.
Rompei as cadeias dos cativos,
Iluminai os cegos, Expulsai os nossos males,
Pedi para nós todos bens.
Mostrai-Vos nossa Mãe;
Receba por Vós as nossas preces
Aquele que por nós nasceu e quis ser Vosso.
Virgem singular, Doce entre todas,
Livres das nossas culpas, torna-nos doces e castos.
Dá-nos uma vida pura,
Prepara-nos caminho seguro
Para que, vendo Jesus, Eternamente nos alegremos.
Louvor seja dado a Deus Pai, Honra ao grande Cristo
E ao Espírito Santo; Aos três a mesma honra. Amen.
Ave Maria Stella (latim)
Ave, Maria Stella,
Dei Mater alma,
Atque semper Virgo,
Felix coeli porta.
Sumens illud Ave
Gabrielis ore,
Funda nos in pace,
Mutans Evae nomen.
Salve vinvla reis,
Profer lumen coecis,
Mala nostra pelle,
Bona cuncta posce.
Monstra te esse Matrem,
Sumat per te preces,
Qui pro novis natus
Tulit esse tuus.
Virgo singularis,
Inter omnes mitis,
Nos culpis solutos,
Mites fac et castos.
Vitam praesta uram
Iter para tutum
Ut videntes Jesum,
Semper colaetemur.
Sit laus Deo Patri,
Summo Christo decus,
Spiritui Sancto,
Tribus honor unus.
Amen.
LEITURAS
Evangelho segundo São Mateus capítulo 5
As Bem Aventuranças
Ao ver a multidão, Jesus subiu a um monte. Depois de se ter sentado, os discípulos aproximaram-se dele. Então tomou a palavra e começou a ensiná-los, dizendo:
«Felizes os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céu.
Felizes os que choram porque serão consolados.
Felizes os mansos, porque possuirão a terra.
Felizes os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados.
Felizes os misericordiosos, porque alcançarão misericórdia.
Felizes os puros de coração, porque verão a Deus.
Felizes os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus.
Felizes os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino do Céu.
Felizes sereis, quando vos insultarem e perseguirem e, mentindo, disserem todo o género de calúnias contra vós, por minha causa. Exultai e alegrai-vos, porque grande será a vossa recompensa no Céu; pois também assim perseguiram os profetas que vos procederam. »
Sal da Terra, luz do mundo
« Vós sois o sal da terra, Ora se o sal se corromper, com que há-de salgar? Não serve para mais nada, senão para ser lançado fora e ser pisado pelos homens.
Vós sois a luz do mundo. Não se pode esconder numa cidade situada sobre o monte; nem se acende a candeia para a colocar debaixo do alqueire, mas sim em cima do candelabro, e assim alumia a todos os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, de modo que, vendo as vossas boas obras, glorifiquem o vosso Pai, que está no Céu.»
Jesus e a Lei
«Não penseis que vim revogar a Lei ou os profetas, Não vim revogá-los, mas levá-los à perfeição. Porque em verdade vos digo: Até que passem o céu e a terra, não passará um só jota ou um só ápice da Lei, sem que tudo se cumpra.
Portanto, se alguém violar um destes preceitos mais pequenos, e ensinar assim aos homens, será o menor no Reino do Céu. Mas aquele que os praticar e ensinar, esse será grande no Reino do Céu. Porque eu vos digo: Se a vossa justiça não superar a dos doutores da Lei e dos fariseus, não entrareis no Reino do Céu.
Homicídio e reconciliação
«Ouvistes o que foi dito aos antigos: Não matarás. Aquele que matar terá que responder em juízo. Eu, porém, digo-vos: Quem se irritar contra o seu irmão será réu perante o tribunal; quem lhe chamar 'imbecil' será réu diante do Conselho; e quem lhe chamar 'louco' será réu da Geena do fogo.
Se fores, portanto, apresentar uma oferta sobre o altar e ali te recordares de que o teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa lá a tua oferta diante do altar, e vai primeiro reconciliar-te com o teu irmão; depois volta para apresentar a tua oferta. Com o teu adversário mostra-te conciliador, enquanto caminhardes, para não acontecer que ele te entregue ao juiz e este à guarda e te mandem para a prisão. Em verdade te digo: não sairás de lá até que pagues o último centavo.»
Adultério e escândalo
«Ouvistes o que foi dito: Não cometerás adultério. Eu porém, digo-vos que todo aquele que olhar para uma mulher, desejando-a, já cometeu adultério com ela no seu coração.
Portanto, se a tua vista direita for para ti ocasião de pecado, arranca-a e lança-a fora, pois é melhor perder-se um dos teus órgãos do que todo o corpo ser lançado à Geena. E se a tua mão direita for para ti origem de pecado, corta-a e lança-a fora, porque é melhor perder-se um só dos teus membros do que todo o teu corpo ser lançado à Geena.»
Jesus e o divórcio
«Também foi dito: Aquele que se divorciar da sua mulher, dê-lhe documento de divórcio. Eu, porém, digo-vos: Aquele que se divorciar da sua mulher – excepto em caso de união ilegal – expôe-na a adultério e quem casar com a divorciada comete adultério.»
Linguagem e juramentos
«Do mesmo modo, ouvistes o que foi dito aos antigos: Não perjurarás, mas cumprirás diante do Senhor os teus juramentos. Eu, porém, digo-vos: Não jureis de maneira nenhuma: Nem pelo Céu que é o trono de Deus, nem pela Terra, que é o estrado dos seus pés, nem por Jerusalém, que é a cidade do grande Rei. Não jures pela tua cabeça, porque não tens poder de tornar um só dos teus cabelos branco ou preto. Seja este o vosso modo de falar: Sim, sim: não, não. Tudo o que for além disto procede do espírito do mal.»
Lei de Talião
«Ouvistes o que foi dito: Olho por olho e dente por dente. Eu, porém, digo-vos: Não oponhais resistência ao mau. Mas, se alguém te bater na face direita, oferece-lhe também a outra. Se alguém quiser litigar contigo para te tirar a túnica, dá-lhe também a capa. E se alguém te obrigar a acompanhá-lo durante uma milha, caminha com ele duas. Dá a quem te pede e não voltes as costas a quem te pedir emprestado.»
Amor aos inimigos
« Ouvistes o que foi dito: Amarás o teu próximo e odiarás o teu inimigo. Eu, porém, digo-vos: Amai os vossos inimigos e orai pelos que vos perseguem. Fazendo assim, tornar-vos-eis filhos do vosso Pai que está no Céu, pois Ele faz com que o Sol se levante sobre os bons e os maus e faz cair a chuva sobre os justo e os pecadores. Porque, se amais os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem já isso os cobradores de impostos? E, se saudais somente os vossos irmãos, que fazeis de extraordinário? Não o fazem também os pagãos? Portanto, sede perfeitos como é perfeito o vosso Pai celeste.»
Evangelho segundo São Mateus capítulo 6
A esmola
«Guardai-vos de fazer as vossas boas obras diante dos homens, para vos tornardes notados por eles; de outro modo , não tereis nenhuma recompensa do vosso Pai que está no Céu.
Quando, pois, deres esmola, não permitais que toquem trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas, nas sinagogas e nas ruas, a fim de serem louvados pelos homens. Em verdade vos digo: Já receberam a sua recompensa. Quando deres esmola, que a tua mão esquerda não saiba o que faz a tua direita, a fim de que a tua esmola permaneça em segredo; e teu Pai, que vê no oculto, há-de premiar-te.»
A oração
« Quando orardes, não sejais como os hipócritas, que gostam de rezar de pé nas sinagogas e nos cantos das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa. Tu, porém, quando orardes, entra no quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai, pois Ele, que vê no oculto, há-de recompensar-te.
Nas vossas orações, não sejam como os gentios, que usam de vãs repetições, porque pensam que por muito falarem, serão atendidos. Não façais como eles, porque o vosso Pai celeste sabe do que necessitais antes de vós lho pedirdes.»
O Pai-Nosso
«Rezai, pois, assim:
'Pai nosso, que estás no Céu, santificado seja o teu nome, venha o teu Reino; faça-se a tua vontade, como no Céu, assim também na terra. Dai-nos hoje o nosso pão de cada dia; perdoa as nossas ofensas, como nós perdoamos a quem nos tem ofendido; e não nos deixeis cair em tentação, mas livrai-nos do Mal.'
Porque, se perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai celeste vos perdoará a vós. Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também o vosso Pai vos não perdoará as vossas.»
O Jejum
«E, quando jejuardes, não mostreis um ar sombrio, como os hipócritas, que desfiguram o rosto para que os outros vejam que eles jejuam. Em verdade vos digo: já receberam a sua recompensa.
Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto, para que o teu jejum não seja conhecido dos homens, mas apenas do teu Pai que está presente no oculto; e o teu Pai, que vê no oculto, há-de recompensar-te.
O tesouro no céu
«Não acomules tesouros na terra, onde a traça e a ferrugem os corroem e os ladrões arrombam os muros, a fim de os roubar. Acumulai tesouros no Céu, onde a traça e a ferrugem não corroem e onde os ladrões não arrombam nem furtam. Pois, onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração.
A lâmpada do corpo são os olhos; se os teus olhos estiverem sãos, todo o teu corpo andará iluminado. Se, porém, os teus olhos estiverem doentes, todo o teu corpo andará em trevas. Portanto, se a luz que há em ti são trevas, quão grandes serão essas trevas! Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro.»
Confiança na Providência
«Por isso vos digo: Não vos inquieteis quanto à vossa vida, com o que haveis de comer ou beber, nem quanto ao vosso corpo, com o que haveis de vestir. Porventura não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestido? Olhai as aves do céu: não semeiam nem ceifam nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai celeste alimenta-as. Não valeis vós mais do que elas?
Qual de vós, por mais que se preocupe, pode acrescentar um só côvado à duração de sua vida? Porque vos preocupais com o vestuário? Olhai como crescem os lírios do campo: não trabalham nem fiam!
Pois Eu vos digo: Nem Salomão, em toda a sua magnificência, se vestiu como qualquer deles. Ora, se Deus veste assim a erva do campo, que hoje existe e amanhã será lançada ao fogo, como não fará muito mais por vós, homens de pouca fé?
Não vos preocupeis, dizendo: 'Que comeremos, que beberemos, ou que vestiremos?’
Os pagãos, esses sim, afadigam-se com tais coisas; porém, o vosso Pai celeste bem sabe que tendes necessidade de tudo isso. Procurai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo o mais se vos dará por acréscimo. Não vos preocupeis, portanto, com o dia de amanhã, pois o dia de amanhã já terá as suas preocupações. Basta a cada dia o seu problema.»
Evangelho segundo São Mateus capítulo 7
Não Julgar os outros
«Não julgueis, para não serdes julgados; pois, conforme o juízo com que julgardes, assim sereis julgados; e, com a medida com que medirdes, assim sereis medidos. Porque reparas no argueiro que está na vista do teu irmão e não vês a trave que está na tua vista? Como ousas dizer ao teu irmão: 'Deixa-me tirar o argueiro da tua vista', tendo tu uma trave na tua? Hipócrita, tira primeiro a trave da tua vista e, então, verás melhor para tirar o argueiro da vista do teu irmão.»
Responsabilidade da fé
«Não deis as coisas santas aos cães nem lanceis as vossas pérolas aos porcos, para não acontecer que as pisem aos pés, e acometendo-vos, vos despedacem.»
Confiança na oração
«Pedi e ser-vos-á dado; procurai e encontrareis; batei, e hão-de abrir-vos. Pois quem pede, recebe; e quem procura, encontra; e ao que bate hão-de abrir abrir. Qual de vós, se o filho lhe pedir um pão, lhe dará uma pedra? Ou, se lhe pedir peixe, lhe dará uma serpente? Ora bem, se vós, sendo maus, sabeis dar coisas boas aos vossos filhos, quanto mais o vosso Pai que está no Céu dará coisas boas àqueles que lhas pedirem.»
A “regra de ouro”
«Portanto, o que quiserdes que vos façam os homens, fazei-o também a eles, porque isto é a Lei e os Profetas.»
A porta estreita
«Entrai pela porta estreita; porque larga é a porta e espaçoso o caminho que conduz à perdição, e muitos são os que seguem por ele. Como é estreita a porta e quão apertado é o caminho que conduz à vida, e como são poucos os que o encontram!»
Os falsos profetas
«Acautelai-vos dos falsos profetas, que se vos apresentam disfarçados de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes. Pelos seus frutos os conhecereis. Porventura podem colher-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Toda a árvore boa dá bons frutos e toda a árvore má dá maus frutos. A árvore boa não pode dar maus frutos nem a árvore má, dar bons frutos. Toda a árvore que não dá bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Pelos frutos, pois, os conhecereis.»
O verdadeiro discípulo
«Nem todo o que me diz: 'Senhor, Senhor' entrará no Reino do Céu, mas sim aquele que faz a vontade de meu Pai que está no Céu. Muitos me dirão naquele dia: Senhor, Senhor, não foi em teu nome que profetizámos, em teu nome que expulsámos os demónios e em teu nome que fizemos muitos milagres? E então, dir-lhes-ei: 'Nunca vos conheci, afastai-vos de mim, vós que praticais a iniquidade'.»
Edificar a rocha
«Todo aquele que escuta estas minhas palavras e as pôe em prática é como o homem prudente que edificou a sua casa sobre a rocha. Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; mas não caiu, porque estava fundada sobre a rocha. Porém, todo aquele que escuta estas minhas palavras e não as pôe em prática poderá comparar-se ao insensato que edificou a sua casa sobre a areia. Caiu a chuva, engrossaram os rios, sopraram os ventos contra aquela casa; ela desmoronou-se, e grande foi a sua ruina.»
Autoridade de Jesus
Quando acabou de falar, a multidão ficou vivamente impressionada com os seus ensinamentos, porque Ele ensinava-os como quem possui autoridade e não como os doutores da Lei.
Imitação de Cristo
Livro I, capítulos 13, 18 e 25, Livro III, capítulos 10, 40
Imitação de Cristo - Livro I, capítulo 13
Como se há-de resistir às tentações
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Enquanto vivemos no mundo, não podemos estar isentos de trabalhos e tentações.
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Por isso, diz Job: «Tentação é a vida do homem sobre a terra» (Job 7, 1)
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Portanto, cada qual deveria andar muito acautelado acerca das suas tentações, e orar continuamente, a fim de não ser vencido pelo demónio, que nunca dorme e «busca por todos os lados a quem tragar» (1Pd 5,8).
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Ninguém há tão perfeito e santo que não padeça, algumas vezes, tentações, pois não podemos viver sem elas.
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Mas as tentações, ainda que molestas e pesadas, podem ser-nos de grande utilidade, porque nelas somos humilhados, purificados e instruídos.
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Todos os santos passaram por muitas tentações e tribulações e souberam delas tirar proveito.
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E os que não as quiseram suportar com paciência, caíram e perderam-se.
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Não há Ordem religiosa, por mais santa, nem lugar, por mais apartado, aonde não cheguem as tentações e adversidades.
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Não podemos na vida presente ser totalmente isentos de tentações, porque em nós mesmos reside a causa delas, por termos sido concebidos em pecado.
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Passada uma tentação ou tribulação, vem logo outra, e sempre teremos que sofrer, porque perdemos o bem da nossa primitiva felicidade.
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Muitos, querendo fugir das tentações, nelas caem mais gravemente.
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Não basta fugir para as vencer; só com paciência e verdadeira humildade triunfaremos de todos os nossos inimigos.
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Pouco adianta quem apenas evita as tentações exteriores e não remove a causa de onde procedem, porque depressa voltarão, e mais embaraçado se sentirá.
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A pouco e pouco, e com muita calma e paciência, vencerás melhor, com o auxílio de Deus, do que com violência e fadiga da tua parte.
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Toma muitas vezes conselho na tentação, e não sejas desabrido com o que está tentado, antes deves consolá-lo, como desejarias que te consolassem.
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O princípio de toda a má tentação é a incostância de ânimo e a falta de confiança em Deus.
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Porque, como o navio sem leme é levado de uma parte para a outra pelas ondas, assim o homem remisso e inconstante em seus propósitos é tentado de diversas maneiras.
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«O fogo prova o ferro» (Ecl 31,31), e a tentação o homem justo.
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Muitas vezes não sabemos quanto podemos, mas a tentação mostra-nos o que somos.
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Devemos, pois, vigiar, sobretudo no começo da tentação, porque mais fácil é vencer o inimigo, quando o não deixamos entrar na alma e o acometemos logo que o vemos aproximar-se.
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Pelo que, disse um poeta: «Resiste desde o princípio; se o mal chega a lançar raíz, tarde se cura» (Ovid. Remed, 91).
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Porque, primeiramente acode ao espírito o simples pesamento, transforma-se logo em viva representação, segue-se o deleite e o movimento torpe e, por fim, o consentimento.
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E assim, pouco a pouco, consegue o inimigo maligno apoderar-se completamente de nós, por não lhe havermos resistido ao princípio.
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E quanto mais tempo se descuidar o homem em resistir, tanto mais fraco se tornará cada dia, e o inimigo mais forte contra ele.
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Uns padecem as mais graves tentações no princípio da sua conversão, outros no fim.
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E há quem seja molestado quase toda a vida.
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Alguns são pouco tentados, segundo a sabedoria e o juízo da divina Providência, que pondera o estado e os méritos dos homens, e tudo ordena, para salvação dos seus eleitos.
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Por isso, não devemos desanimar, quando formos tentados, mas roguemos a Deus com muito fervor que nos assista em toda a tribulação, e Ele, segundo diz São Paulo, sem dúvida, nos dará com a tentação o auxílio com que possamos resistir.
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«Humilhemos, pois, as nossas almas debaixo da mão de Deus»(1Pd) em todas as tentações e adversidades, porque Ele «salvará e exaltará os humildes de coração» (SL 33,5).
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É nas tentações e adversidades que se vê quanto o homem tem aproveitado; são elas que dão maior merecimento e realçam melhor a virtude.
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Não é muito ser o homem devoto e piedoso, quando nada o penaliza; mas dá esperança de grande aproveitamento se, no tempo da provação, sabe ter paciência.
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Alguns há que triunfam das graves tentações, e caem nas pequenas de cada dia, para que, humilhados por se verem tão fracos nas coisas pequenas, não presumam nunca de si mesmos nas grandes.
Imitação de Cristo - Livro I, capítulo 18
Do exemplo dos Santos Padres
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Considera bem os heróicos exemplos dos Santos Padres, que foram modelo de perfeição e de vida religiosa, e verás quão pouco ou quase nada é o que fazemos.
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Ai de nós! Que é a nossa vida comparada com a deles?
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Os santos e amigos de Cristo serviram ao Senhor em fome e sede, em frio e desnudez, em trabalhos e fadigas, em vigílias e jejuns, em orações e fervorosas meditações, em perseguições e opróbrios sem conta.
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Oh! quantas e quão graves tribulações padeceram os apóstolos, os mártires, os confessores, as virgens, e todos os quanto quiseram seguir as pisadas de Cristo!
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Na verdade, «aborreceram as suas almas neste mundo, para as possuir na vida eterna» (Jo 12, 25).
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Que vida austera e abnegada não fizeram os Santos Padres no deserto! Que contínuas e duras tentações não suportaram! Como foram a cada passo atormentados do inimigo! Que frequentes e inflamadas orações não ofereceram a Deus!
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Que rigorosa abstinência não guardavam! Que zelo e fervor não tinham no seu aproveitamento espiritual! Que lutas não tiveram de sustentar para vencer os seus vícios! Que pura e recta intenção não tinha diante de Deus!
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De dia trabalhavam e durante a noite entregavam-se a longas vigílias, se bem que, mesmo trabalhando, não interrompiam a comunicação com Deus.
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Aproveitavam bem o tempo; as horas consagradas ao Senhor pareciam-lhes demasiado escassas, e pela grande doçura que sentiam na contemplação, esqueciam-se até da necessária alimentação corporal.
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Renunciavam a todas as riquezas, honras e dignidades, a seus amigos e parentes, e nada queriam do mundo.
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Apenas tomavam o necessário para a vida. Era-lhes penoso terem de servir o corpo, ainda nas coisas mais indespensáveis.
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Eram pobres dos bens da terra, mas, em compensação, muito ricos de graças e virtudes.
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Exteriormente tudo lhes faltava, mas no íntimo da alma gozavam da divina consolação.
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Eram peregrinos no mundo, mas íntimos e particulares amigos de Deus.
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Tinham-se em conta de nada, e o mundo tratava-os com desprezo; porém aos olhos do Senhor, eram queridos e amados.
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Conservavam-se em verdadeira humildade e viviam em simples obediência.
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Eram cheios de caridade e de paciência, e por isso progrediam constantemente na virtude e alcançavam muita graça aos olhos de Deus.
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São estes os modelos para todos os religiosos; a eles devemos imitar, e não a multidão dos tíbios, que afrouxaram em seus exercícios.
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Oh! quão grande era o fervor de espírito que animava todos os religiosos, no começo de seus sagrados institutos!
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Quanto amor à oração! Quanto zelo da virtude! Como eram observantíssimos da sua regra! Que reverência e obediência para com os superiores em todos reluzia!
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Os vestígios que nos deixaram ainda atestam que foram verdadeiramente santos e perfeitos aqueles varões que, pelejando corajosamente, souberam calcar o mundo aos pés.
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Mas agora já se considera coisa grande, quando alguém não transgride a regra e se, com paciência, sofre o estado que voluntariamente abraçou.
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Oh! a tibieza e negligência do nosso estado, que tão depressa declinamos do primeiro fervor, que de pura frouxidão e moleza, até a vida nos causa tédio!
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Praza a Deus que, tendo visto tantos exemplos de varões santos, de todo não esmoreça em ti o desejo de adientar na virtude.
Imitação de Cristo - Livro I, capítulo 25
Da séria reforma de toda a nossa vida
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Sê diligente e fervoroso no serviço de Deus, e considera muitas vezes no motivo porque vieste para a religião e deixas-te o mundo.
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Não foi, porventura, com o fim de melhor amar a Deus, e ser homem espiritual?
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Esforça-te pois, por adiantar, no caminho da perfeição, porque em breve receberás o galardão dos teus trabalhos; e então já não haverá daí por diante nem temor nem dor para ti.
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Trabalha agora um pouco, e acharás depois grande descanço ou antes perpétua alegria.
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Se permaneceres fiel e fervoroso em trabalhar, Deus, sem dúvida, será fiel e generoso em retribuir.
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Deves ter a firme esperança de alcançares a vitória, mas não convém que tenhas a certeza, para que não afrouxes e te ensoberbeças.
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Certo homem, que flutuava com frequência, cheio de ansiedade, entre o temor e a esperança, estando um dia oprimido de tristeza, entrou na igreja, e, prostrando-se diante do altar para fazer a sua oração, dizia e repetia consigo mesmo: oh! Se eu soubera que havia de perseverar na virtude até ao fim!
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E logo ouviu no seu interior esta divina resposta: E que farias, se tal soubesses?
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Pois faz agora o que então farias, e poderás estar muito seguro.
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Consolado e fortalecido no mesmo instante com esta inspiração, abandonou-se inteiramente à vontade de Deus, e desapareceu toda a sua angustiosa perplexidade.
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Não querendo mais indagar o que lhe havia de acontecer, esmerava-se em conhecer qual fosse o querer e perfeito agrado de Deus, para empreender e levar a cabo toda a boa obra.
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Diz o profeta: «Espera no Senhor e pratica o bem; então habitarás na terra e gozarás das suas riquezas» (Sl, 36,3).
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Há uma coisa que a muitos impede de progredir na vida espiritual, e vem a ser o receio das dificuldades ou o trabalho de peleja.
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Certo é que aos outros, se avantajam na virtude e os que mais varonilmente afrontam as coisas mais pesadas e repugnantes.
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Porque o homem tanto mais aproveita e tanto maior graça alcança, quanto mais se vence a si mesmo e se mortifica no espírito.
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Mas nem todos têm igualmente paixões a vencer e a mortificar.
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Todavia, o que for diligente e zeloso, ainda que tenha de combater paixões mui violentas, mais adianta na virtude do que outro de melhor índole, se é menos fervoroso.
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Duas coisas particularmente ajudam a nossa reforma interior: apartarmos-nos radicalmente de tudo aquilo a que mais se inclina a natureza desordenada, e trabalhar com fervor por alcançar a virtude de que mais carecemos.
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Procura também evitar e vencer especialmente aquilo que nos outros mais te desagrada.
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Aproveita-te de tudo, para o teu adientamento espiritual; se vires ou ouvires contar algum bom exemplo, cuida logo de o imitar.
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Mas se vires alguma coisa digna de repreensão, guarda-te de nela caíres; se, porém, já te aconteceu, trata de te emendar quanto antes.
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Assim como observas o outros, assim os outros te observam a ti.
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Que agradável e suave coisa é ver irmãos cheios de fervor e piedade, muito bem comportados e observantes! Porém, que triste e lamentável é vê-los negligentes e esquecidos dos exercícios da sua vocação!
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Como é nocivo descurar os deveres da própria vocação, e aplicarmo-nos ao que não nos incumbe!
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Lembra-te do compromisso que tomaste, e tem sempre a imagem de Jesus Crucificado.
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Bem te podes envergonhar, se meditares na vida de Cristo, pois até agora não procuraste conformar a tua com a d'Ele, andando à tanto tempo no caminho de Deus.
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O religioso que séria e devotamente se aplica a meditar na santíssima vida e paixão do Senhor, nela encontra com abundância tudo o que lhe é útil e necessário; nem há mister buscar outro modelo fora de Jesus.
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Oh! quão depressa seríamos bastante instruídos, se em nosso coração entrasse Jesus crucificado!
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O religioso fervoroso aceita bem o que lhe mandam, e submete-se a tudo sem dificuldade.
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Porém, o religioso negligente e tíbio experimenta tribulação sobre tribulação, e de todas as partes padece angústias, porque carece da consolação interior e não lhe deixam buscar a exterior.
-
O que vive fora da disciplina religiosa anda exposto a grave ruína.
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O que busca folgas e mitigações viverá em perpétua inquietação, porque sempre uma ou outra coisa o desgostará.
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Vê como fazem tantos outros religiosos que guardam a austera disciplina do claustro.
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Rara vez saem fora, vivem retirados do mundo, a sua comida é pobre, o seu vestido grosseiro, trabalham muito, falam pouco, deitam-se tarde, madrugam cedo, têm oração prolongada, fazem leituras frequentes e observam em tudo a disciplina religiosa.
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Olha como os Cartuxos, os Cistercienses, e monges e freiras de diversas Ordens se levantam todas as noites para cantar hinos ao Senhor!
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Portanto, vergonhoso seria que te deixasses vencer pela perguiça, em tempo tão sagrado, quando tantos religiosos entoam jubilosamente a divina salmodia.
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Oh! se mais não tivesses que fazer senão louvar a Deus Senhor Nosso, com todo o coração e com palavras!
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Oh! se nunca precisaras de comer ou beber ou dormir, e pudesses glorificar a Deus em contínuo exercício da vida espiritual!
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Muito mais ditoso serias do que assim, sujeito a tantas exigências do corpo.
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Prouvera a Deus que não tivéssemos semelhantes necessidades e, que só pensássemos nas refeições espirituais da alma, as quais, infelizmente, tão raras vezes saboreamos.
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Quando o homem chega ao estado de não buscar consolação nas criaturas, então começa a saborear perfeitamente a Deus, e anda contente com tudo quanto lhe acontece.
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Então não o exalta a abundância, nem o abate a penúria, mas entrega-se inteira e confiadamente a Deus, que é para ele tudo em todas as coisas, para quem não acaba nem morre, mas para quem tudo vive e a cujo aceno tudo obedece com prontidão.
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Lembra-te sempre do teu último fim, e de que o tempo perdido não volta mais.
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Sem cuidado e diligência, nunca alcançarás a virtude.
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Se começas a ser desleixado e tíbio, logo começas a sentir-te mal.
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Mas, se te dás ao fervor, encontrarás muita paz, e o trabalho torna-se mais leve com a assistência da graça divina e o amor da virtude.
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O homem fervoroso e deligente para tudo está preparado.
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Maior trabalho é resistir aos vícios e às paixões, do que suar nos trabalhos corporais.
- Quem não evita as faltas pequenas, pouco a pouco cairá nas grandes.
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Alegrar-te-às sempre à noite, se bem tiveres empregado o dia.
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Vigia sobre ti, desperta-te, admoesta-te e, aconteça aos outros o que acontecer, não te descuides de ti.
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Tanto será o teu aproveitamento, quanta for a violência que te fizeres a ti mesmo.
Imitação de Cristo - Livro 3, capítulo 10
Como é bom desprezar o mundo para servir a Deus
1. A ALMA - Falarei ainda, Senhor, e não me calarei.
2. Direi ao ouvido do meu Deus, do meu Senhor e Rei, que está nos altos céus:
«Quão grande é, Senhor, a abundância da vossa doçura, que reservais para os que vos temem!» (SL 30,20).
4. E que não sereis vós para os que vos amam e servem de todo o coração?
5. São verdadeiramente inefáveis as delícias da contemplação que concedeis aos que vos amam.
6. Manifestastes-me as finezas do vosso amor criando-me do nada, chamando-me ao vosso serviço, quando andava afastado de vós, e impondo-me o doce preceito de vos amar.
7. Ó fonte de eterno amor, que direi de vós?
8. Como poderei esquecer-me de vós, que vos dignastes lembrar-vos de mim. ainda depois que me degradei e perdi?
9. A vossa misericórdia para comigo foi acima de toda a esperança, e a vossa graça e amizade, além de todo o merecimento.
10. E como poderei eu retribuir-vos semelhante merçê?
11. Porque nem a todos foi concedido deixar tudo, abandonar o mundo e abraçar a vida religiosa.
12. Porventura, será muito que eu vos sirva, quando todas as criaturas são obrigadas a servir-vos?
13. Não me deve parecer coisa extraordinária o facto de eu vos servir; antes o que me enche de profunda admiração é que vos digneis receber-me, indigno e pobre como sou, em vosso serviço, ente os vossos queridos servos.
14. Vosso é tudo o que tenho, e tudo com que vos sirvo.
15. Posso dizer que mais me servis vós a mim do que eu a vós.
16. Para o serviço do homem criastes o céu e a terra, que obedecem à vossa vontade e cumprem cada dia as vossas determinações.
17. Mais ainda: até haveis destinado os anjos para o serviço do homem.
18. Mas não para aqui a vossa bondade, porquanto vós mesmos vos dignastes servir o homem e lhe prometestes que vos daríeis a ele.
19. Que vos darei por tão inumeráveis benefícios?
20. Pudera eu servir-vos todos os dias da minha vida!
21. Pudera eu, ao menos um só dia, seguir-vos dignamente!
22. Vós sois verdadeiramente digno de todo o serviço, de toda a honra e de eterno louvor.
23. Vós sois o meu verdadeiro Senhor, e eu o vosso pobre servo, obrigado a servir-vos com todas as minhas forças, sem jamais me cansar de vos louvar.
24. Assim o quero, assim o desejo; dignai-vos suprir o que me falta.
25. Grande honra e grande glória é servir-vos e desprezar tudo por amor de vós.
26. Grande cópia de graças receberão aqueles que voluntariamente se sujeitarem ao vosso santíssimo serviço.
27. Acharão suavíssima consolação do Espírito Santo os que por vosso amor desprezaram todos os atractivos da carne.
28. Alcançarão grande liberdade de espírito os que, pelo vosso nome, entrarem no caminho estreito da perfeição e se desfizerem de toda a solicitude mundana.
29. Ó deliciosa e jucunda servidão de Deus, qual torna o homem verdadeiramente livre e Santo!
30. Ó sagrada sujeição do estado religioso, que fazes o homem igual aos anjos, grato a Deus, terrível aos demónios e respeitado de todos os fiéis!
31 Oh! quão digna é de ser abraçada e sempre desejada esta servidão, na qual se merece o sumo bem e se adquire o gozo que dura eternamente!
Imitação de Cristo - Livro 3, capítulo 40
O homem de si nada tem de bom, nem de coisa alguma se pode gloriar
1. A AlMA - Senhor, «que é o homem para que dele vos lembreis?»
1. Ou «que é o filho do homem para que o visiteis?» (SL 8,5)
3. Que merecimento tinha o homem para lhe dardes a vossa graça?
4. Senhor, de que poderei queixar-me, se me desamparardes? Ou com que direito poderei contender convosco, se não fizerdes o que vos peço?
5. Por certo, que não posso pensar nem dizer com verdade senão isto: Senhor, nada sou, nada valho, nada de bom tenho de meu; falta-me tudo e pendo sempre para o nada.
6. E, se não for ajudado e fortalecido interiormente por vós, caio logo na tibieza e dissipação.
7. Mas vós, Senhor, sempre sois o mesmo e permaneceis etarnamente bom, justo e santo, fazendo bem, justa e santamente todas as coisas e dispondo tudo com sabedoria.
8. Porém, eu, que sou mais inclinado para o mal do que para o bem, não persevero sempre no mesmo estado, porque mudo de parecer muitas vezes no dia.
9. Contudo, logo me sinto menos fraco, quando vos dignais estender-me a vossa mão protectora, porque só vós, sem humano auxílio, me podeis socorrer e fortificar, de tal sorte que não esteja sujeito a todas estas mudanças, e o meu coração só em vós se fixe e descanse.
10. Pelo que, se bem soubera desprezar toda a consolação humana, já para adquirir o santo fervor, já pela necessidade que me obriga a buscar em vós o verdadeiro conforto que homem algum pode dar-me, então teria eu grande motivo de esperar a vossa graça e de me alegrar com o novo favor da vossa consolação.
11. Graças vos dou, Senhor, de quem procede tudo quanto de bom me acontece.
12. Eu, homem fraco e inconstante, não sou na vossa presença mais do que uma criatura vã e e um puro nada.
13. Portanto, de que posso eu gloriar-me, ou por que motivo desejo ser estimado? Porventura, pelo meu nada? Mas isso é rematada loucura.
14. A vanglória é, na realidade, uma peste detestável e a maior de todas as vaidades, porque nos afasta da verdadeira glória e nos despoja da graça celestial.
15. Porque, logo que o homem se compraz em si mesmo, desagrada-vos a vós; e, desde que aspira aos lovores humanos, priva-se das verdadeiras virtudes.
16. A verdadeira glória e a alegria santa consiste em se gloriar cada um em vós, e não em si; em se regozijar no vosso nome e não na própria virtude, e em não achar prazer em criatura alguma senão por amor a vós.
17. Seja louvado o vosso nome, e não o meu; engradecidas sejam as vossas obras, e não as minhas. Louvem e bendigam os homens o vosso santo nome, e nada se me atribua a mim de seus louvores.
18. Vós sois a minha glória, vós a alegria do meu coração.
19. Em todos os momentos do dia sempre me gloriarei e alegrarei em vós. Quanto a mim, nada tenho que gloriar-me «senão das minhas fraquezas» (2COR 12,5)
20. Busquem os homens a glória que eles se dão uns aos outros, que eu buscarei a que só vem de Deus.
21. Porque toda a glória humana, toda a honra temporal e toda a grandeza do mundo, comparadas com a vossa eterna glória, não passam de vaidade e loucura.
22. Ó verdade minha e mesericórdia minha, Deus meu, Trindade Beatíssima! só a vós seja dado louvor, honra, virtude e glória por séculos sem fim!
EXERCÍCIOS ESPIRITUAIS
Exame de consciência, práticas de mortificação.
DURANTE OS DOZE DIAS PRELIMINARES
realizar todas as orações, leituras, exame de consciência e práticas de mortificação.